quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

José Feldman (A História de uma Cadela)

Olá, humanos! Meu nome é Laila, e sou uma cadela que tem muito a contar. Minha vida começou em uma manhã ensolarada, mas, como vocês sabem, nem sempre o sol brilha para todos. Eu nasci em uma caixa de papelão, em um canto esquecido de uma rua movimentada. Minha mãe, uma cadela corajosa, tentou me proteger, mas o mundo lá fora era difícil, e logo ela se foi nem sei porquê, deixando eu e meus irmãos sozinhos.

Os primeiros dias da minha vida foram cheios de barulhos estranhos e cheiros intensos. Havia pessoas passando, mas ninguém parecia notar a gente. Eu e meus irmãos nos aconchegávamos juntos, tentando manter o calor e a esperança. Mas, ao longo do tempo, um a um, eles foram desaparecendo. O medo e a solidão começaram a ser meus companheiros.

Eu ainda me lembro do dia em que a caixa foi descoberta. Um grupo de crianças a abriu, e eu, com meu pequeno corpo trêmulo, tentei abanar o rabo. 

“Olha! Um filhote!” gritou uma delas. 

Mas logo as risadas se transformaram em gritos de desespero. As crianças começaram a chorar quando perceberam que não podíamos ficar. E assim, eu fui deixada para trás, sozinha novamente.

A vida na rua era dura. Eu procurava comida entre os restos dos lanches e tentava me esconder do frio à noite. Aprendi a evitar os humanos que passavam apressados, e a me manter distante dos carros que zuniam. A cada dia, eu me tornava mais cautelosa, mas a esperança de um lar nunca me abandonou. Sonhava com um lugar quentinho, onde pudesse dormir em paz.

Certa vez, enquanto procurava comida, conheci outros cães. Eles eram mais velhos e tinham histórias próprias. Um deles, um vira-lata chamado Rufus, me ensinou a caçar migalhas e a encontrar abrigo. 

“Você precisa ter cuidado”, dizia ele, com seu olhar sábio. “A vida na rua pode ser cruel, mas somos sobreviventes.”

Foi em um dia qualquer, em que o sol brilhava intensamente, que tudo mudou. Eu estava encolhida em um canto, quando um homem apareceu. Ele não parecia apressado como os outros. Ele tinha uma expressão gentil e um olhar que transmitia calma. Quando se aproximou, meu coração disparou. 

“Oi, pequena”, disse ele, agachando-se. “Você está sozinha?”

Naquele momento, algo dentro de mim despertou. Eu sabia que ele era diferente. Ele me ofereceu um pedaço de pão e, com a barriga roncando, não consegui resistir. Depois de comer, eu me aproximei dele, hesitante, mas ele estendeu a mão e acariciou minha orelha. Era o toque mais suave que eu já havia sentido.

Ele decidiu me levar para casa. O caminho foi uma mistura de emoções: medo, alegria e incredulidade. Quando cheguei ao seu apartamento, percebi que era um lugar acolhedor, cheio de cheiros que pareciam prometer conforto. Ele me deu um nome: Laila, e desde então, minha vida começou a mudar.

Nos primeiros dias, eu era tímida e desconfiada. Mas ele, com muita paciência, foi me mostrando que eu estava a salvo. Ele me chamava de “irmã”, e isso fez meu coração se aquecer. “Você é parte da minha família agora”, dizia ele, enquanto me oferecia carinho e um cobertor quentinho para dormir.

Os dias se passaram, e eu fui descobrindo o que era ser amada. Ele me levava para passear no parque, onde eu corria livre, sentindo a grama fresca sob minhas patas. O cheiro das flores e o canto dos pássaros eram um verdadeiro banquete para os sentidos. Eu nunca havia experimentado tanta alegria.

Ele sempre falava comigo, contando suas histórias, e eu me sentia como se estivesse entendendo tudo. “Hoje, irmã, vamos fazer um piquenique!”, ele dizia, e eu pulava de felicidade. Eu adorava quando ele preparava sanduíches e levava biscoitos para mim.

Às vezes, enquanto observava os outros cães brincando, eu me lembrava da vida na rua. O medo, a solidão e o desamparo. Mas agora, eu tinha um lar, e isso me fazia sentir que tudo tinha valido a pena. Cada dificuldade que enfrentei me trouxe até ele, e eu não trocaria isso por nada.

“Você sabe, Laila”, ele dizia em um tom contemplativo, “a vida é cheia de altos e baixos, mas sempre devemos olhar para frente.” 

E eu, com a cabeça apoiada nas pernas dele, sentia que, ao seu lado, eu poderia enfrentar qualquer coisa.

Hoje, continuo a viver com meu humano, que se tornou meu melhor amigo e protetor. Ele cuida de mim com tanto amor, e eu retribuo com minha lealdade e carinho. Juntos, exploramos novos lugares, vivemos aventuras e criamos memórias que ficarão para sempre em nossos corações.

A cada dia, agradeço por ter encontrado um lar e uma família. A vida pode ser cheia de surpresas, e a minha, que começou com abandono, agora é uma história de amor e superação. 

Eu sou Laila, a cadela que encontrou seu lugar no mundo, e sempre vou lembrar que, por mais difícil que seja a jornada, o amor pode transformar tudo.
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Fontes:
 José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat.Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

Vereda da Poesia = 202


Trova de
GÉRSON CESAR SOUZA
São Leopoldo/RS

Nas mãos de Deus tudo entrego
fazendo um pedido assim:
que estes sonhos que carrego
não morram antes de mim!
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Poema de
MACHADO DE ASSIS 
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908

Lindóia

Vem, vem das águas, mísera Moema,
Senta-te aqui. As vozes lastimosas
Troca pelas cantigas deleitosas,
Ao pé da doce e pálida Coema.

Vós, sombras de Iguaçu e de Iracema,
Trazei nas mãos, trazei no colo as rosas
Que amor desabrochou e fez viçosas
Nas laudas de um poema e outro poema.

Chegai, folgai, cantai. É esta, é esta
De Lindóia, que a voz suave e forte
Do vate celebrou, a alegre festa.

Além do amável, gracioso porte,
Vede o mimo, a ternura que lhe resta.
"Tanto inda é bela no seu rosto a morte!"
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Gélidos caminhos

Apaixona-se o tempo
Ao olhar os veios do mármore
Gélidos caminhos...

Apaixona-se o vento
Ao desenhar círculos no lago,
Movendo a breve bolha de sabão-

Apaixonam-se os ramos
De camomila à caneca de ágata
Ao sentirem a água desaguando,

Contidos no tempo, no vento
E no aroma de camomila
Momentos de amor –
Sincronicidade,

Poemas ao alcance
Das pontas dos dedos...
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Poetrix de
THOMAZ RAMALHO 
Angola

melancolia

Os cotovelos no parapeito da sacada
e o pensamento apoiado
na linha do horizonte…
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Estão paradas como nos vitrais
(Mário Quintana, in “Rua dos Cataventos”)

Estão paradas como nos vitrais
Essas horas de risos e de folguedos
Éramos pardais violando os arvoredos
E que, em bandos, comiam pelos trigais.

A correr, não parávamos nos sinais
Chilrando como indomáveis passaredos
Rijos, iguais ao mais forte dos rochedos
Sem conhecer as urgências de hospitais.

Foi-se o tempo que em nós pôs uns pares de anos
E deixou tantos males e tantos danos
Quebrando a força dos juvenis assomos,

Asas frouxas de penas desalinhadas
Já não largamos mais nessas debandadas;
Somos só a saudade do que já fomos.
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Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Tédio

Sobre minh’alma, como sobre um trono,
Senhor brutal, pesa o aborrecimento.
Como tardes em vir, último outono,
Lançar-me a folhas últimas ao vento!

Oh! dormir no silêncio e no abandono,
Só, sem um sonho, sem um pensamento,
E, no letargo do aniquilamento,
Ter, ó pedra, a quietude do teu sono!

Oh! deixar de sonhar o que não vejo!
Ter o sangue gelado, e a carne fria!
E, de uma luz crepuscular velada,

Deixar a alma dormir sem um desejo,
Ampla, fúnebre, vazia
Como uma catedral abandonada!...
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Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Após causar desencantos 
e nos fazer peregrinos, 
a seca fez chover prantos 
nos olhos dos nordestinos!
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Poema de
ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE
São Francisco de Itapaoana/RJ

Favela

Favela
Aquarela
Vida Amarela
No Morro ou na Periferia
Ora é alegria
Ora e tristeza,
Fome, pobreza...
Ora é realeza!

Gente que com esperteza
Dribla a sorte
Escapa da Morte
Tem que ser forte
Faz carnaval!
Favela
Festival...
De sonhos e esperança
Mesmo quando não alcança
Vencer o carnaval.

Favela...
Do bem e do mal
Onde se faz poesia
Da pobreza e da tristeza
Transformando em alegria
A triste realidade
Com tanta verdade

Que aonde ninguém queria viver
E vive sem querer
Precisa viver
Pra vida vencer
E não deixar morrer
Os sonhos, a esperança,
E como tal
O Carnaval.
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Haicai de
GUILHERME DE ALMEIDA
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP

Histórias de Algumas Vidas

Noite. Um silvo no ar.
Ninguém na estação. E o trem
passa sem parar.
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Poema de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

Canção do Amor Imprevisto

Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E minha poesia é um vicio triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com tua boca fresca de madrugada,
Com teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
nada, numa alegria atônita...
A súbita alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos!
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Hino de
ÂNGULO/ PR

No planalto majestoso, imponente. 
Que ornamenta esta linda região 
Braços fortes e o brio desta gente 
Fizeram um gigante do antigo rincão. 

Nosso preito de eterno louvor 
À Maria Caçadeira e demais pioneiros 
Seu exemplo de audácia e valor 
Espelha a fibra de heróis verdadeiros.

Estribilho
Tens ó Ângulo a santa proteção 
E o amparo do glorioso São João 
És a joia mais linda que há 
Ornamentando o querido Paraná .

Pirapó irrigando este chão 
Num cenário de rara beleza 
Onde o milho, a soja, o algodão,
Simbolizam a nossa riqueza. 

Eu que sou filho deste recanto 
Com orgulho hei de sempre dizer 
És ó Ângulo, colmeia de encanto, 
Onde sempre eu hei de viver.

Tens ó Ângulo a santa proteção 
E o amparo do glorioso São João 
És a joia mais linda que há 
Ornamentando o querido Paraná.
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

Gestos de anjo

A tarde vai chegando docemente,
e nós dois a falar de amor eterno,
e tudo que sonhamos neste inverno,
é aquecer com nosso amor o ambiente.

E ao som desse trinado tão moderno,
que veio no relógio de presente,
teremos uma orquestra diferente
a embalar-me os anseios sem governo.

A noite vai chegando e eu nem percebo,
com todo esse carinho que recebo,
envolvida em teus braços amorosos.

E através da vidraça e o céu brilhando,
vejo esta lua cheia observando,
estes teus gestos de anjo poderosos.
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Trova de
CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/ SP, 1945 – 2021, Santos/ SP

O delegado Pereira…
Êta Pereira bacana,
- É de pouca brincadeira,
não dá pera, só dá “cana”!…
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Uma Lengalenga de Portugal
LENGALENGAS DOS DEDOS
  
(Várias versões)
  
Estas lengalengas são ditas segurando a mão de alguém, apontado para os dedos, à vez, enquanto é dita.
 
  Pequenino (o dedo mindinho)
  Seu vizinho (o anelar)
 Pai de todos (o dedo médio)
 Fura bolos (o indicador)
 E mata piolhos. (o polegar)
  ***
 
 Este diz: quero pão
 Este diz: que não há
 Este diz: que Deus dará
 Este diz: que furtará
 E este diz: alto lá

***
 
 O dedo mindinho quer pão
 O vizinho diz que não
 O pai diz que dará
 Este o furtará
 E o polegar: «Alto lá!»
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Quadra Humorística de
IDEL BECKER
Porto Casares/ Argentina, 1910 – 1994, São Paulo/SP

Eu já fui à sua casa
e já sei o que ela é.
A fartura que vi nela
foi pulga e bicho de pé.
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Soneto de
MARIA JOSÉ FRAQUEZA
Fuseta/Algarve/Portugal

Há poesia no céu

O Céu abriu as portas par em par…
Florbela, recebeu-te com Amor…
A Poesia cantada num altar…
Cada poema é benção do Criador

Florbela e Marilena, vou louvar,
Que o meu poema seja como flor…
Meus olhos já cansados de chorar
Por andar a carpir a minha dor!

A dor, esta saudade tão sentida…
Com a mágoa dolorosa da partida,
Que se sofre,  num elo de Amizade!

Vosso corpo desceu à terra fria,
Mas na Terra ficou a Poesia…
Que falará por Vós Eternamente

(Marilena Gomes Ribeiro foi Presidente da Associação de Escritores de Niterói)
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Nilto Maciel (O Sonho do Meliante Guimarães)

Acordo sempre suado, o coração fogoso, gritando pela mulher, como se ela pudesse me acudir e evitar minha queda. Ela se revira, me chama de danado, foge de minhas mãos trêmulas, pula da cama, acende a luz, chora e berra. É sempre madrugada, tem chovido fininho e faz um frio bom para se dormir.

– Como foi o sonho? Você sonhou comigo, Guimarães?

Perco o medo, sento-me, olho para aquela mulher comum e enjoada, e conto tintim por tintim o sonho.

Da primeira vez fiz um barulho medonho. Gritei feito um doido e ela só começou a entender o desastre depois que me viu estatelado no chão.

– Caiu da cama?

Nunca fui besta para dormir junto ao penico. E por que caí? Ela era burra, uma pedra. Ainda tive coragem de medir as frases, escolher as palavras, essa mania de querer ser mais inteligente do que ela, humilhá-la, deixá-la de queixo caído, fazendo perguntas.

Muito alto, quase os píncaros do céu. Meus cabelos se confundiam com as nuvens e as fumaças das fábricas. De repente, anoiteceu e meus olhos brilharam como estrelas e em minha boca despontou uma lua negra e do fundo da goela saltou uma labareda, que só faltava queimar o caixão onde você dormia desgrenhada. Besteira sua, pois a subida era íngreme e por pouco a cama não despencou lá de cima com você e tudo, apesar de minhas patas peludas se agarrarem aos buraquinhos da parede. Embaixo, multidões berravam e erguiam os braços, à moda muçulmana, como querendo nos aparar. Eu não entendia tanto delírio e ora chamava aquela malta de fascistas, ora me apiedava deles, crente de que nos invejavam, impossibilitados de deixar o chão.

Não sei mais direito a ideologia da história, mas posso ainda engendrá-la à custa de uns apontamentos feitos horas após o sonho. Além disso, no momento em que o narrava à mulher, perdi o fio da meada e, para não demonstrar incapacidade, inventei outros enredos. Eu era uma enorme aranha que carregava às costas um caixão e dentro dele a mulher nua e dormida, fugia de uma catástrofe, os prédios ruíam, o povo arribava para as montanhas e, ao ver a aranha abalando no rumo dos cimos gelados, além de onde voavam as espaçonaves, punha-se a jogar grandes anzóis para o alto, picaretas que feriam o calcário, na tentativa de salvação. No entanto, a pedra poucas vezes agarrava a isca, e a maioria daquele povo desesperado deixava de lançar seus instrumentos, embora continuasse a olhar na direção do inseto, a erguer os braços e a blasfemar, rogando a Deus que escorregássemos e caíssemos em seus tentáculos. Queriam meu sacrifício, para depois me sepultar aos pés da parede.

Na segunda noite, o sonho se encheu de detalhes e simbologias. Eu via a aranha escalando o muro e ao mesmo tempo eu era o bicho.

– Homem-aranha – arengou a mulher.

– Muito horrível, você entende?

Ela não entendia. Apenas me achava para lá de doente, mais feio, sujo e cabeludo.

– Essa sua barba suja de baba vai me emporcalhar toda.

Eu pedia: traga o médico, e ela me falava de dificuldades. Onde iria procurá-lo? Melhor irmos os dois aos hospitais, às clínicas, aos apartamentos, aos clubes, aos estádios, às ruas. Impossível achá-lo por acaso. Ao me virem naquele estado, os moleques iriam me atirar pedras, laranjas podres, ovos de galinha. No tumulto, a polícia terminaria me levando preso, me espancando, talvez me assassinando.

Passava os dias enfurnado em casa, procurando aranhas pelos quatro cantos, para matá-las e queimá-las com cigarro aceso.

Agravava-se meu estado e terminei procurando o psiquiatra. Toquei com as pontas dos dedos peludos a maciez do divã e me arrepiei. Melhor ficar de pé.

– Aranha não se senta em divã, doutor.

Fez-me contar um a um os sonhos. Queria tudo detalhado, límpido. E tomava notas com a mãozinha vermelha. Ao final, achou-me perfeitamente são, normal, pronto para voltar ao trabalho e ao convívio social.

– Eu mesmo sonho sempre fazendo amor com uma egípcia, no alto da Torre Eiffel.

Procurei um padre. Só não suportava ouvir histórias bíblicas. Ele sorriu, benzeu-se e quis me tocar. Tive medo e me afastei.

– Qual é o seu pecado, filho?

Fez-me perguntas e mais perguntas. O que eu sonhava, se eram imoralidades, se com outra mulher ou algum homem. Perdoava-me, se reconhecesse que o muro alcançava a Casa Eterna.

Não sei quem deu início ao processo. A prisão será o pior, porque estarei sonhando perpetuamente. Melhor a pena de morte. Assim, não mais sonharei, nem chegarei ao fim da escalada.

– Punição para o meliante Guimarães – estão gritando.
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NILTO MACIEL nasceu em Baturité/CE em 1945. Formou-se na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará. Em parceria com outros escritores, no ano de 1976 criou a revista Saco. Transferiu-se no ano seguinte para Brasília, trabalhando na Câmara dos Deputados, Supremo Tribunal Federal e Tribunal de Justiça do DF. Em 2002 foi para Fortaleza/CE onde residiu até a sua morte em 2014. Venceu inúmeros concursos literários, e escreveu diversos livros, tendo contos e poemas publicados em esperanto, espanhol, italiano e francês. Além de contos e romances publicados, também Panorama do Conto Cearense, Contistas do Ceará, Literatura Fantástica no Brasil. Alguns livros publicados: Contos Reunidos vol. I, são os 66 contos escritos por Nilto em seus livros Itinerário (1974 a 1990), Tempos de Mula Preta (1981 a 2000) e Punhalzinho cravado de ódio (1986). O volume II conta com 122 contos dos livros As Insolentes patas do cão (1991), Babel (1997) e Pescoço de Girafa na Poeira (1999). 
“Nilto possui esta capacidade de fazer com que nossas almas percorram desde um estado de profunda tristeza ao de êxtase. Não é apenas um escritor, são muitos escritores dentro de um só. A cada conto terminado, aflora o anseio pelo próximo. Aonde Nilto nos conduzirá agora? Cada conto é um conto, que faz com que nossa imaginação nos leve às vezes a adentrar dentro dele e participar, deixando que nos levemos pelo seu encanto, pela sua linguagem simples e deliciosa.” (José Feldman, em Nilto Maciel, o mago das almas, 18/12/2010)

Fontes:
Nilto Maciel. Punhalzinho Cravado de Ódio, contos. Secretaria da Cultura do Ceará, 1986.
Enviado pelo autor.
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Aparecido Raimundo de Souza (Cardápio difícil)

NA LANCHONETE a garota pede a lista com a relação das guloseimas disponíveis para serem oferecidas aos clientes. A garçonete imediatamente a atende com um sorriso largo no rosto de princesa:

— Boa noite. Seja bem-vinda. — O que vai ser?

— Antes, me responda algumas perguntas. 

— Pois não. 

— O que vem no hambúrguer simples?

— A garçonete mostra o cardápio sobre a mesa. 

— Veja aqui. Leia junto comigo. No hambúrguer simples: pão, duas carnes, alface, tomate, batata palha e molho... 

— Legal. E no cachorro quente na chapa?

— Pão, salsicha, queijo, milho, batata palha e molho...

— Sério?

A garota não parece satisfeita. Insiste:

— E na porção de batatas fritas vem alguma coisa?

— Sim.

— E no filé mignon? 

— Nesse filé mignon vem cebola, pimentão, farofa e se a senhorita quiser podemos acrescentar tomates.

— Cá entre nós. É filé mignon mesmo?

— Pode ter certeza. Fazemos com todo gosto e carinho.

— Tem certeza de que não é carne de segunda?

— De forma alguma.

— Nem de lombo de cavalo?

— Senhorita, nossa lanchonete é honesta e séria.

— Acredito.

— Então, o que vai ser?

— Sem querer ser desagradável. E a omelete de frango?

— O que tem minha jovem?

— É de frango mesmo?

— Claro.

— E o frango é novo ou velho?

A garçonete ri, embora por dentro esteja com vontade de explodir e mandar a cliente para o raio que a parta: 

— Novo. Nossos frangos são de primeira. Saem direto da granja do meu patrão. Então, posso fazer o pedido?

— Pode.

— E o que vai ser?

— Me traga um copo vazio e um palito...

— Fala sério, moça. Tenho outros clientes para atender...

— Ok. Me prepara um cachorro quente simples, com duas salsichas.

Vinte minutos depois o lanche chega no capricho. 

— Aqui, senhorita. Bebe alguma coisa?

— Sim. 

— E o que você tem geladinho?

— Todos os refrigerantes que imaginar. 

— Você tem Coca ou guaraná? 

— Sim. 

— Tem aquela coca sem açúcar?

— Claro. Posso lhe trazer uma?

— Tem cerveja? 

— Da marca que escolher.

— Não, agradeço. Eu não bebo. 

— E o que vai querer para acompanhar seu cachorro quente?

— Como você me atendeu bem, deixo a seu critério. 

— Iria sugerir um guaraná.

— Não.

— Suco. Temos suco.

— De quê? 

— Manga, uva, laranja, abacate, melancia, limão...

—Tem de graviola?

—Também... posso mandar vir o de graviola?

— Calma. Estou pensando... 

A pior parte foi terrível.  Final de alguns minutos, a inoportuna, no maior deboche, se abre numa cara de poucos amigos e manda bala:

— Olha, minha fofa. Me traga urgente um copo de água natural sem açúcar. Água natural, em garrafa. Por favor, não é da torneira. E com muito gelo. Estou faminta e seca de sede.
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Aparecido Raimundo de Souza, natural de Andirá/PR, 1953. Aos doze anos, deu vida ao livro “O menino de Andirá,” onde contava a sua vida desde os primórdios de seu nascimento, o qual nunca chegou a ser publicado. Em Osasco, foi responsável, de 1973 a 1981, pela coluna Social no jornal “Municípios em Marcha” (hoje “Diário de Osasco”). Neste jornal, além de sua coluna social, escrevia também crônicas, embora seu foco fosse viver e trazer à público as efervescências apenas em prol da sociedade local. Aos vinte anos, ingressou na Faculdade de Direito de Itu, formando-se bacharel em direito. Após este curso, matriculou-se na Faculdade da Fundação Cásper Líbero, diplomando-se em jornalismo. Colaborou como cronista, para diversos jornais do Rio de Janeiro e Minas Gerais, como A Gazeta do Rio de Janeiro, A Tribuna de Vitória e Jornal A Gazeta, entre outras.  Hoje, é free lancer da Revista ”QUEM” (da Rede Globo de Televisão), onde se dedica a publicar diariamente fofocas.  Escreve crônicas sobre os mais diversos temas as quintas-feiras para o jornal “O Dia, no Rio de Janeiro.” Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Reside atualmente em Vila Velha/ES.

Fontes:
Texto enviado pelo autor.
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terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Jerson Brito (Asas da poesia) 07

  
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Jerson Lima de Brito, nasceu em Porto Velho/RO, em 1973, onde reside. Graduado em Administração e Direito pela Fundação Universidade Federal de Rondônia. Sonetista, trovador e cordelista, é membro fundador da Academia Brasileira de Sonetistas (Abrasso), integrante do Fórum do Soneto e Delegado da União Brasileira de Trovadores (UBT) em Porto Velho. Exerce o cargo de Técnico Federal de Controle Externo na SECEX-RO, tendo participado de algumas Mostras de Talentos do TCU. Neto de nordestinos, na infância teve os primeiros contatos com os versos, lendo os folhetos de cordel que seu pai comprava. Já na fase adulta, depois dos 30 anos, deu os primeiros passos na literatura escrevendo sobretudo cordéis. Posteriormente, aderiu aos sonetos e outras modalidades poéticas. Premiado em diversos concursos de trovas, sonetos e cordéis.

José Feldman (Trovas & Textos) Mais um adeus

Texto construído tendo por base a trova de Eliana Palma (Maringá/PR)

Adeus com dores combina,
adeus inspira piedade.
Adeus de amor, triste sina
de quem vive de saudade!

O sol estava se pondo em Maringá, tingindo o céu de laranja e rosa, como se o próprio dia estivesse se despindo para dar lugar à noite. As ruas começavam a se esvaziar, e o movimento frenético do centro da cidade diminuía, dando espaço a um silêncio que parecia carregar a melancolia de tantos “adeus” que haviam sido ditos ao longo dos anos. Em cada esquina, um pedaço de história, um resquício de amor ou amizade, ecoava na memória dos que por ali passavam.

Naquela tarde, Maria, uma jovem de cabelos cacheados e olhos brilhantes, caminhava pela Avenida XV de Novembro. Seu coração pulsava descompassado. Ela sabia que estava prestes a se despedir de Humberto, seu primeiro amor, que decidira se mudar para outra cidade em busca de novas oportunidades. O anúncio da partida havia caído sobre ela como uma tempestade de verão: repentino e avassalador.

"Quando você vai embora mesmo?", ela perguntou, tentando esconder a tristeza na voz. Humberto, com um sorriso nostálgico, respondeu que partiria na manhã seguinte. O que era uma nova chance para ele, tornava-se um abismo para ela. O amor, que havia sido uma doce melodia, agora era um lamento que ecoava pelas ruas de Maringá.

Enquanto Maria caminhava, lembranças dançavam em sua mente. O primeiro encontro no Parque do Ingá, com suas árvores majestosas e o perfume das flores. As tardes passadas em um banco à sombra, onde eles trocavam promessas e risadas, como se o mundo ao redor não existisse. E agora, todas aquelas memórias pareciam pesadas, como se cada risada carregasse um peso insuportável.

O "adeus" que se aproximava era uma verdadeira sina. Maria sentia o coração apertar ao pensar nas despedidas que já havia vivido — a partida do pai para o exterior, a saída da melhor amiga que se mudara para a capital, as idas e vindas da vida. Cada adeus trazia consigo um rastro de saudade, e ela se perguntava se um dia aprenderia a lidar com isso.

Na esquina da Avenida XV com a Avenida São Paulo, um grupo de amigos se despedia. Riam e se abraçavam, mas Maria percebia que, por trás das risadas, havia um fundo de tristeza. O “adeus” sempre vinha acompanhado de uma sombra. "Adeus com dores combina, adeus inspira piedade", pensou. As despedidas em Maringá eram como melodias que se repetiam, sempre com a mesma harmonia triste.

Com o coração pesado, ela decidiu encontrar Humberto uma última vez. Dirigiu-se ao café onde costumavam ir, um pequeno lugar aconchegante, com mesas de madeira e um cheiro inconfundível de café fresco. Ao entrar, avistou Humberto na mesa do canto, olhando pela janela. Ele parecia distante, perdido em pensamentos, e Maria percebeu que ele também estava sentindo o peso da partida.

— Oi, você veio! — Ele sorriu, mas a alegria não alcançou seus olhos.

— Precisamos conversar — disse Maria, sentando-se à sua frente. 

O clima estava carregado, e as palavras pareciam não querer sair. O garçom trouxe os pedidos, mas o café esfriou enquanto eles trocavam olhares que falavam mais do que mil palavras.

— Eu não sei como vou lidar com isso — ela finalmente desabafou. — Vai ser tão difícil te ver partir.

— Eu também não sei, Maria. É como se estivéssemos vivendo um sonho e agora temos que acordar. — ele hesitou. — Mas isso não significa que o que tivemos não foi real.

A conversa fluiu entre risos nervosos, lembranças e promessas de que tudo ficaria bem. Mas, no fundo, ambos sabiam que a vida os levaria por caminhos diferentes. O café esvaziou-se em suas xícaras enquanto as horas passavam, e o sol começava a se esconder, deixando uma sombra sobre a cidade.

Quando finalmente se levantaram para sair, Maria sentiu que aquele momento se tornaria mais uma memória, mais um “adeus” a ser guardado na caixa de saudades. Eles caminharam lado a lado, sem saber se deveriam se abraçar ou apenas se despedir com um aceno. O medo da dor os impedia de se aproximar.

Na porta do café, Humberto parou e, em um gesto inesperado, puxou Maria para perto. O abraço foi apertado, cheio de sentimentos não ditos. Era um “adeus” que transbordava dor, mas também gratidão. Um “adeus” que, mesmo triste, celebrava o que haviam vivido juntos.

— Adeus, Maria. Cuide-se! — ele disse, com a voz embargada.

— Adeus. E não se esqueça de mim — respondeu ela, enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto. 

O “adeus” ecoou, pesado e doce como um canto de despedida, deixando no ar a promessa de que, apesar da distância, as memórias permaneceriam.

Enquanto ele se afastava, Maria ficou ali, observando o homem que um dia fora seu amor. O céu estava agora escuro, e as luzes da cidade começavam a brilhar. Em cada ponto luminoso, ela via uma lembrança, uma risada, um abraço.

E, assim, em Maringá, onde os adeus são sempre acompanhados de saudade, Maria aprendeu que a vida segue, mesmo entre dores e despedidas. O amor se transforma, mas nunca desaparece completamente. E, ao final, cada “adeus” traz consigo a semente de um novo “olá”, mesmo que, por ora, a saudade seja a única companhia.
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Fontes:
 José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat.Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

José Deolindo Albuquerque da Silva “Caiçara” (A Lenda do Sol e da Lua)

Certa vez, há muito tempo atrás, num lugar muito distante onde só havia os verdadeiros brasileiros habitando o Brasil, e ali por muito tempo permaneceram até que com a colonização apareceram os homens brancos, que a todo custo queriam dominar as riquezas do país e, sem escrúpulos, iam se embrenhando e dominando os habitantes que ali viviam.

Chegando nesse lugar, que vou chamar de lugar desconhecido, e que era habitado por muitas tribos o homem branco, que se dizia civilizado, começou o conflito com as tribos que sempre  habitaram naquele lindo lugar, preservando a natureza, os animais, os pássaros, os peixes, as caças, os minerais, enfim, preservando tudo que Deus havia lhes deixado. Mas o homem branco, sem escrúpulos, começou a destruir as árvores, a tirar os minérios, a depredar os rios e igarapés, afugentando e matando a caça e o peixe que era a fonte de sobrevivência dos índios. Então, o tuxaua da tribo Pauxis muito triste com aquela situação, chamou dois habitantes da tribo que eram um menino e uma menina e lhes deu uma missão dizendo: “Olhem meus dois jovens, vocês estão vendo a situação em que estamos vivendo. O homem branco destruindo o nosso habitat desordenadamente, e nós que, por todos esses anos, vínhamos a preservar. Pois bem, o que lhes devo dizer, é que nós aqui ficaremos e lutaremos pelo que é nosso, mas não sabemos o que pode acontecer, por isso a missão que lhes confio é bastante difícil, mas não impossível de realizar. Eu quero que vocês saiam daqui e escolham um lugar, não importa a distância, mas quero que sigam o nosso lema. Esse lugar tem que ser preservado a todo custo, pois só assim vocês estarão cumprindo a missão que lhes confio.”

Então, os dois jovens Pauxis despediram-se do tuxaua, prometendo a ele que fariam tudo para cumprir com o que lhes era determinado, e saíram em sua canoa rio abaixo, rio acima, e, durante muitas luas, seguiram em busca desse lugar tão sonhado e sempre cantando assim:

Trá-lá-lá-lá-lá-lá-lá vamos juntos viajar;
Rumo à terra prometida, onde tem muita beleza;
Onde a preservação, nós iremos encontrar;
Onde o lema é plantar e cuidar da natureza;
Onde o Uirapuru encanta, onde canta o sabiá;
Trá-lá-lá-lá-lá-lá-lá.

Em uma bela manhã, quando eles seguiam em um lindo rio, hoje denominado Rio Amazonas, ficaram deslumbrados com um dos mais belos amanheceres de suas vidas! O sol vinha raiando por de trás de uma montanha, e seus raios dourados refletiam um brilho encantador, os dois olharam-se  e falaram: - Ali está a terra prometida o lugar que iremos zelar e ficar eternamente.

A montanha que eles avistaram hoje é chamada de Serra da Escama. E ao chegarem mais próximos, depararam também com um maravilhoso lago onde encontraram muitos peixes e pássaros das mais variadas espécies, onde havia  com abundância a vitória-régia, o murerú, os belos anhingais, enfim; tudo o que eles precisavam para sobreviver. Esse lago recebeu o nome de lago Pauxis em homenagem aos primeiros habitantes deste lugar, que aqui formaram família e povoaram esta terra e que por muitos anos foi habitada por eles, sempre acreditando e cumprindo a missão que lhes foi confiada que era somente trabalhar na terra com respeito e usar os lagos e a mata para tirar apenas o seu sustento, não derrubando árvores desordenadamente, não fazendo queimadas, não poluindo os rios, lagos e igarapés, sempre preservando a natureza.

Mas com a chegada do homem branco, eles, reviveram o pesadelo de seus antepassados e aí o homem branco, que sempre se diz civilizado, invadiu o espaço dos Pauxis, e, com o seu espírito de destruição, começou a devastar a floresta desordenadamente, afugentando e até matando muitos índios que eram os verdadeiros habitantes desse lugar. Mas mesmo muito tristes, o Sol e a Lua como eram chamados os dois primeiros habitantes da tribo Pauxis, resolveram ficar e lutar pela preservação, principalmente da Serra e do Lago, e, por muitos anos, ali permaneceram, até que em um determinado tempo o homem não conformado só com a destruição da mata e da caça, resolveram  a acabar com que lhes era mais precioso; o belo Lago, o qual foi cruelmente destruído, ficando assim sem os aningais, sem os pássaros, sem os peixes, sem os animais que dele sobreviviam. O belo Lago foi transformado apenas numa lagoa a céu aberto, onde a vida já não mais existia, e além disso, o próprio homem começou a poluí-lo desordenadamente.

Então o Sol e a Lua inconformados com tanta destruição, só faziam chorar, e em uma noite de lua, eles saíram meio que enlouquecidos de tanta tristeza e caminharam até onde hoje é o porto de cima, e ao chegarem bem no alto da barreira, olhando para o céu e pediram: - Ho mãe Lua nós te imploramos que nos liberte desse sofrimento, pois não queremos sair deste lugar, mas não aguentamos ver tanta destruição, por isso, gostaríamos que acabasse com o nosso sofrimento. 

Então, a mãe lua, compadecida  e ouvindo o clamor dos dois, os encantou no alto da barreira, e ali eles permanecem para sempre, preservando assim a raiz de origem dos Pauxis. Diz a lenda que no local do encante, próximo ao pingo d’água no porto de cima, as pessoas que por ali passam sempre percebem umas gotas de água que surgem cristalinas do alto da barreira, e que são as lágrimas dos dois que continuam a chorar por ver tanta destruição da natureza.

Segundo os sábios, dizem que quem passar no local onde a água fica pingando, e pegar alguns desses pingos e fizer uma cruz do lado esquerdo do peito, é tocado pelo espirito do Sol e da Lua, e para sempre será um preservador da Natureza.
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JOSÉ DEOLINDO ALBUQUERQUE DA SILVA "Caiçara" nasceu em 1958, em Óbidos/PA. Formado em administração. Durante a sua vida de estudante já gostava de escrever. Em 2003, escreveu uma biografia do saudoso pai que faleceu em Setembro de 2000, e junto com a biografia escreveu algumas “presepadas” dele, muito conhecidas pelos os obidenses,  como: O Homem de Fibra. O Carrinho de Mão, Plainada Brasileira,  Piranhas Buxudas, Paulada Escabriativa, as quais foram divulgadas em Óbidos para alguns amigos. Em junho de 2004, ano do Sesquicentenário, escreveu sobre Óbidos, como diz ele, “ minha terra tão amada”, então escreveu poesias que  falam de pontos históricos e culturais. Escreveu como uma forma de demonstrar a sua gratidão e o seu amor a terra  que lhe serviu de berço.

Fontes:
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Luiz Poeta (Nuvens de Sonhos) 07

     
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Luiz Gilberto de Barros, registrado como Luiz Poeta, nasceu em 1950, no Rio de Janeiro/RJ. Escritor, Poeta, Contista, Cronista, Ensaísta, Trovador, Aldravianista, Sonetista, Músico, Compositor, Produtor Musical, Artista Plástico, Gestor Educacional e Docente Aposentado  de Língua Portuguesa e Literaturas Brasileira e Portuguesa. Destacou-se no meio artístico como produtor fonográfico, violonista, guitarrista, compositor, poeta e artista plástico. Acadêmico da AVLBL membro da UBT, é Verbete do Dicionário de Música Popular Brasileira Antônio Houaiss e detentor de  relevantes títulos acadêmicos. Fundador de diversas entidades culturais Nacionais e internacionais. Autor premiadíssimo em inúmeros concursos no Brasil e no Exterior. Foi Presidente da Academia Pan-Americana de Letras e Artes; do Centro Cultural Leopoldina de Souza Marques, da Faculdade Souza Marques, e Diretor Presidente do Jornal “O Coruja“, de circulação universitária. Membro da Confraria Brasileira de Letras, Academia Luso-Brasileira de Letras; Academia Paulista de Letras; Cerc Universal des Ambasssadeurs de la Paix; Divine Academie Française de Letters y Arts; Associação dos Acadêmicos da Academia Brasileira de Letras; Diretor Cultural da Associação Cultural Encontros Musicais; Inbrasci (Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais, entre outros. Sua obra artística é eclética e engloba mais de 10.000 trabalhos (músicas, poesias, ensaios contos, novelas, textos dramáticos e crônicas – além de telas e trabalhos artesanais ). Tem CDs e DVDs gravados, tendo publicado mais de 100 obras publicadas entre livros-solo, antologias, CDs, DVDs, jornais e revistas.