domingo, 10 de setembro de 2017

Virgínia Woolf (Objetos Sólidos)

A única coisa a se mover no vasto semicírculo da praia era um pontinho preto. Quando ele chegou mais perto das vértebras e espinha do barco de sardinhas na areia, tornou-se visível, por certa tenuidade em seu pretume, que o ponto tinha quatro pernas; e tornou-se mais claro, de momento a momento, que era composto pelas pessoas de dois jovens. Mesmo assim, em contorno contra a areia, havia neles uma vitalidade inconfundível; um vigor indescritível na aproximação e no retraimento dos corpos a indicar, malgrado sua insuficiência, alguma discussão violenta que saía das bocas diminutas das cabecinhas redondas. O que era confirmado, a uma inspeção mais atenta, pelas repetidas estocadas que uma bengala vinha dando pelo lado direito. “Você então quer me dizer… Você de fato acredita…”, assim, do lado direito, perto das ondas, parecia sustentar a bengala, enquanto cortava pela areia tiras retas e longas.

“Que se dane a política!”, adveio claramente do corpo à esquerda e, ao serem pronunciadas tais palavras, as bocas, narizes, queixos, bigodinhos, gorros de lã, botas grosseiras, capotes de caça e meias axadrezadas dos dois falantes tornaram-se cada vez mais distintos; a fumaça dos seus cachimbos subia pelo ar; nada era tão sólido, tão vivo, tão rijo, rubro, viril e hirsuto quanto esses corpos por quilômetros e mais quilômetros de mar e dunas de areia. Lançaram-se os dois ao fundo das seis vértebras e espinha dorsal do barco negro de sardinhas. Sabe-se como o corpo parece sacudir-se para livrar-se de uma discussão e desculpar-se por uma exaltação de ânimo; lançando-se ao fundo e exprimindo em seu afrouxamento de atitude a presteza para se ocupar de algo novo — seja o que for que a seguir venha à mão. Assim Charles, cuja bengala estivera, por quase um quilômetro, a retalhar a praia, começou a atirar pedaços planos de lousa para ricochetear sobre a água; e John, que havia exclamado

“Que se dane a política!”, começou a meter seus dedos na areia, cada vez mais fundo. Quanto mais ele enfiava a mão, que ao chegar além do pulso forçou-o a puxar a manga um pouco mais para cima, mais seus olhos perdiam em intensidade, ou melhor, o substrato de pensamento e experiência que dá profundidade inescrutável aos olhos das pessoas adultas desaparecia, para deixar apenas a clara superfície transparente, nada expressando além do espanto que os olhos das crianças demonstram. Sem dúvida o ato de cavar na areia tinha alguma coisa a ver com isso. Lembrava-se ele como, depois de cavar um pouco, a água escorre pelas pontas dos dedos; o buraco então se torna um fosso; um poço; uma nascente; um canal secreto para o mar. Enquanto ele decidia qual dessas coisas fazer, seus dedos, ainda se movendo na água, enroscaram-se em torno de algo duro — toda uma gota de matéria sólida — para desentocar pouco a pouco, trazendo-o à superfície, um grande e irregular fragmento. Ao ser lavada a areia que o cobria, surgiu um verde desmaiado. Era um caco de vidro, tão grosso a ponto de se tornar opaco; tudo o que fosse forma ou gume já se gastara por completo com o alisamento do mar, sendo impossível dizer assim se havia sido de garrafa, vidraça ou copo; não era nada, a não ser vidro; era quase uma pedra preciosa. Bastaria circundá-lo de uma borda de ouro, ou perfurá-lo com um arame, para que se tornasse uma joia; parte de um colar, ou uma luz verde e fosca sobre um dedo. Afinal, talvez fosse realmente uma gema; alguma coisa usada por uma princesa negra que, sentada na popa da embarcação, ia arrastando o dedo pela água enquanto ouvia os escravos que cantavam ao conduzi-la a remo através da baía. Ou então as tábuas de carvalho de uma arca do tesouro elizabetana é que se haviam despregado, tendo suas esmeraldas, ao sabor das ondas, para cá e para lá, finalmente chegado à praia. John se pôs a revirá-lo nas mãos; e o ergueu na luz; ergueu-o de tal modo que sua massa irregular eclipsou o corpo e o braço direito esticado de seu amigo. O verde se atenuava e turvava ligeiramente ao ser mantido contra o céu ou o corpo.

Causava-lhe prazer; intrigava-o; comparado ao vago mar e à costa tão imersa em brumas, era um objeto bem duro, bem concentrado, bem definido. Uma visão o perturbava agora — decisiva e profunda, tornando-o consciente de que seu amigo Charles havia jogado todas as pedras planas ao alcance da mão, ou chegado à conclusão de que não valia a pena fazê-lo. Lado a lado eles comeram seus sanduíches. Tendo-o feito, já se punham de pé e sacudiam-se quando John pegou o caco de vidro para o olhar em silêncio.

Charles olhou também. Mas imediatamente viu que ele não era achatado e, enchendo seu cachimbo, disse com a energia que rejeita um descabido esforço de pensamento: “Para voltar ao que eu estava falando…”.

Ele não tinha visto ou, se visse, mal teria notado que John, após examinar por um momento o vidro, como que em hesitação, o enfiara no bolso. Tal impulso poderia também ter sido o impulso que leva uma criança a apanhar uma pedrinha num caminho no qual elas se esparramam, prometendo-lhe uma vida em segurança e quentura sobre a lareira do quarto, deleitando-se com a sensação de poder e benignidade que uma ação como essa propicia e acreditando que o coração da pedra pula de alegria quando se vê escolhido, dentre um milhão de iguais, para gozar de tal felicidade, não de uma vida de umidade e frio na estrada. “Bem que poderia ter sido qualquer outra dos milhões de pedras, mas fui eu, eu, eu!”

Estivesse ou não essa ideia na cabeça de John, o fato é que o pedaço de vidro encontrou seu lugar em cima da lareira, onde solidamente se plantou sobre uma pequena pilha de cartas e contas, servindo não só como excelente peso de papéis, mas também como ponto natural de parada para o olhar do rapaz, quando ele se desviava do livro. Visto repetidas vezes e de modo semiconsciente por uma cabeça que pensa noutra coisa, qualquer objeto se mescla tão profundamente à substância do pensar que perde sua forma verdadeira e se recompõe com alguma diferença numa feição ideal que obseca o cérebro, quando menos se espera. John se via assim atraído, quando saía para andar, pelas vitrines das lojas de raridades, simplesmente por ter visto alguma coisa que o lembrava daquele caco de vidro. Qualquer coisa, desde que fosse algum tipo de objeto, mais ou menos redondo, talvez com uma chama agonizante imersa a fundo em sua massa, qualquer coisa — porcelana, vidro, âmbar, rocha, mármore — até mesmo o ovo liso e oval de uma ave pré-histórica serviria.

Habituou-se ele também a andar de olhos no chão, especialmente nas adjacências dos terrenos baldios onde são jogados fora os refugos das casas. Tais objetos ocorriam lá com frequência — jogados fora, de nenhuma utilidade para ninguém, disformes, descartados. Em poucos meses ele fez uma coleção de quatro ou cinco espécimes que foram para o mesmo lugar, parando em cima da lareira. Eram úteis também, pois um homem que concorre ao parlamento, no limiar de uma brilhante carreira, tem uma boa quantidade de papéis para manter em ordem — comunicados a eleitores, plataformas políticas, apelos a subscrições, convites para jantares e assim por diante.

Um dia, saindo de seus aposentos no Temple para pegar um trem, a fim de falar aos eleitores, seus olhos bateram num objeto extraordinário que jazia semioculto numa dessas bordaduras de grama que orlam as bases dos grandes prédios forenses. Não podendo senão tocá-lo, através da cerca, com a ponta da bengala, ele podia ver no entanto que era um caco de porcelana de forma bem singular, quase tão parecido com uma estrela-do-mar como qualquer coisa formada — ou acidentalmente quebrada — em cinco pontas irregulares, não obstante inconfundíveis. Se em sua coloração predominava o azul, ao azul se sobrepunham faixas ou manchas verdes de algum tipo, enquanto linhas carmesins davam-lhe uma riqueza e um brilho da mais atraente espécie. John estava decidido a possuí-lo; quanto mais perseverava nisso, mais no entanto ele retrocedia.

John, por fim, se viu forçado a voltar a seus aposentos para improvisar uma argola de arame presa na ponta de uma vara, com a qual, à força de grande habilidade e com muito cuidado, finalmente trouxe o pedaço de porcelana ao alcance das mãos. Ao apanhá-lo, soltou uma exclamação de triunfo. E o relógio bateu nesse momento. Já não lhe era mais possível cumprir seu compromisso. A reunião foi realizada sem ele. Mas como o caco de porcelana se partira daquele modo notável? Um exame cuidadoso deixou fora de dúvidas que a forma de estrela era acidental, o que tornava tudo ainda mais estranho, e parecia improvável que pudesse existir outro assim. Posto sobre a lareira, no lado contrário ao do caco de vidro que havia sido retirado da areia, dava ele a impressão de ser uma criatura de outro mundo — fantástica e extravagante como um arlequim. Parecia estar fazendo piruetas no espaço, tremeluzindo como uma estrela que pisca. Fascinado pelo contraste entre a porcelana, tão vívida e alerta, e o vidro, tão contemplativo e calado, ele se perguntou, pasmo e perplexo, como os dois tinham vindo a existir no mesmo mundo, para plantar-se, além do mais, no mesmo cômodo, na mesma estreita faixa de mármore. Mas a pergunta permaneceu sem resposta.

Ele então passou a frequentar os lugares em que os cacos de porcelana mais proliferam, como as nesgas de chão que sobram entre as linhas de trem, os terrenos de casas demolidas e as áreas públicas dos arredores de Londres. É porém muito raro, é um dos mais raros dentre os atos humanos, que se jogue porcelana de uma grande altura. É preciso achar em conjunção uma casa bem alta e uma mulher tão impulsiva e de prevenções tão coléricas que é capaz de atirar pela janela seu jarro ou pote, sem pensar em quem está embaixo.

Encontravam-se em abundância cacos de porcelana, porém quebrados na trivialidade de um acidente doméstico, não de propósito, e sem caráter. Não obstante ele se admirava com frequência, quando veio a entrar mais a fundo na questão, da imensa variedade de formas a encontrar-se apenas em Londres, havendo ainda mais motivos para especulação e espanto nas diferenças de padrões e qualidade. Os melhores espécimes ele levaria para casa e colocaria em cima da lareira, onde a função que lhes cabia era porém cada vez mais de natureza ornamental, já que os papéis que necessitavam de um peso para os manter sem voar tornavam-se progressivamente mais raros.

Descuidou-se de suas obrigações, talvez, ou as cumpria de um modo por demais desatento, ou então seus eleitores, quando o visitavam, viam-se desfavoravelmente impressionados pelo aspecto de sua lareira. Fosse como fosse, não foi eleito para os representar no parlamento, e seu amigo Charles, sentindo muito e se apressando a manifestar seu pesar, achou-o tão pouco abalado com a derrota que não pôde senão supor que a questão era grave demais para ele a entender de imediato.

Na verdade, John havia estado nesse dia nas áreas públicas de Barnes, onde achara, sob uma moita de tojo, um pedaço de ferro bem pouco comum. Era, na conformação, quase idêntico ao vidro, maciço e globuloso, mas tão frio e pesado, tão metálico e negro, que evidentemente era estranho à Terra, tendo sua origem numa das estrelas mortas, se não fosse em si mesmo escória de uma lua. Em seu bolso, pesava muito; e pesou muito em cima da lareira, irradiando frio. No entanto, o meteorito ficou na mesma prateleira com o caco de vidro e a porcelana em forma de estrela.

Quando seus olhos passavam de um para o outro, a determinação de possuir objetos que chegassem a ultrapassar aqueles atormentava o rapaz. Resolutamente ele se consagrou cada vez mais à procura. Se não ardesse de ambição, se não estivesse convencido de ser recompensado algum dia por um monte de lixo recentemente descoberto, as decepções que sofreu, sem falar do cansaço e do ridículo, teriam-no feito desistir da empreitada. Munido de uma bolsa e de uma vara comprida na qual se adaptava um gancho, revolveu todos os monturos de terra; escarafunchou sob densos emaranhamentos de mato; buscou por todas as vielas e espaços entre paredes onde se habituara a esperar descobrir objetos desse tipo jogados fora. Tornando-se seus critérios mais rígidos e seu gosto mais exigente, as decepções eram inumeráveis, mas sempre um brilho de esperança, um caco de porcelana ou de vidro com alguma marca curiosa ou curiosamente quebrado, o enganava. Passou-se um dia após o outro. E ele já não era mais jovem. Sua carreira — isto é, sua carreira política — tornou-se coisa do passado. As pessoas deixaram de visitá-lo. Ele era muito calado para que valesse a pena convidá-lo para jantar. Nunca falava com ninguém sobre as ambições tão sérias que tinha; a falta de compreensão dos outros transparecia no seu comportamento.

Recostado em sua cadeira, ele agora observava Charles, que repetidas vezes erguia as pedras em cima da lareira e enfaticamente as repunha em seu lugar para marcar o que ele estava dizendo sobre a orientação do governo, sem nem sequer notar a existência delas.

“Qual é a verdade, John?”, perguntou Charles de repente, virando-se para encará-lo. “O que o levou a desistir de tudo assim sem mais nem menos?”

“Eu não desisti”, respondeu John.

“Mas agora você não tem mais chance nenhuma”, disse Charles com aspereza.

“Nisso eu discordo de você”, disse John convictamente. Charles, olhando-o, sentiu-se profundamente incomodado; foi possuído pelas dúvidas mais extraordinárias; teve uma impressão esquisita de que os dois estavam falando de coisas diferentes. Olhou em torno, a fim de encontrar algum alívio para sua horrorosa depressão, mas a aparência desordenada do quarto o deprimiu ainda mais. O que eram aquela vara e a velha bolsa de tapeçaria pendurada na parede? E aquelas pedras? Ao olhar para John, algo fixo e distante em sua expressão o alarmou. Ele sabia muito bem que a presença do amigo num palanque já estava fora de questão.

“Bonitas pedras”, disse tão jovialmente quanto pôde; e foi dizendo que tinha um compromisso a cumprir que ele se despediu de John — para sempre.

Fonte:
Virginia Woolf. A Marca na Parede e Outros Contos

sábado, 9 de setembro de 2017

Solano Trindade (Poemas Escolhidos)

BALADA DO AMOR

É preciso fugir
De todo o amor que faz sofrer
É preciso fugir do amor...
Talvez a chuva lá fora faça bem
Talvez o frio da noite
Seja como alguém...

MEU CANTO DE GUERRA

Eu canto na guerra,
Como cantei na paz,
Pois meu poema
É universal.
É o homem que sofre,
O homem que geme,
É o lamento
Do povo oprimido,
Da gente sem pão...
É o gemido
De todas as raças,
De todos os homens.
É o poema
Da multidão!

O CANTO DA LIBERDADE

Ouço um novo canto,
Que sai da boca,
de todas as raças,
Com infinidade de ritmos...
Canto que faz dançar,
Todos os corpos,
De formas,
E coloridos diferentes...
Canto que faz vibrar,
Todas as almas,
De crenças,
E idealismos desiguais...
É o canto da liberdade,
Que está penetrando,
Em todos os ouvidos...

ORGULHO NEGRO

Eu tenho orgulho de ser filho de escravo...
Tronco, senzala, chicote,
Gritos, choros, gemidos,
Oh! que ritmos suaves,
Oh! como essas cousas soam bem
Nos meus ouvidos...
Eu tenho orgulho em ser filho de escravos...

POEMA DO HOMEM

Desci à praia
Para ver o homem do mar,
E vi que o homem
É maior que o mar

Subi ao monte
Pra ver o homem da terra,
E vi que o homem
É maior que a terra

Olhei para cima
Para ver o homem do céu,
E vi que o homem
É maior que o céu.

QUEM TÁ GEMENDO?

Quem tá gemendo,
Negro ou carro de boi?
Carro de boi geme quando quer,
Negro, não,
Negro geme porque apanha,
Apanha pra não gemer...

Gemido de negro é cantiga,
Gemido de negro é poema...

Gemem na minh'alma,
A alma do Congo,
Da Niger, da Guiné,
De toda África enfim...
A alma da América...
A alma Universal...

Quem tá gemendo,
negro ou carro de boi?

TEM GENTE COM FOME

Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Piiiiii

Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar

Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer

Mas o freio de ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuuu

VOU PRA TERRA DE IRACEMA

Vou pra terra de Iracema,
Amanhã - se Deus quiser,
Dizem que a terra é bonita,
Como olhar de mulher...

Vou pra terra de Iracema
Vou m'imbora prô Ceará
Meu coração quer queu siga
A minh'alma quer qu'eu vá...
 
POEMA AUTOBIOGRÁFICO

Quando eu nasci,
Meu pai batia sola,
Minha mana pisava milho no pilão,
Para o angu das manhãs...
Portanto eu venho da massa,
Eu sou um trabalhador...

Ouvi o ritmo das máquinas,
E o borbulhar das caldeiras...
Obedeci ao chamado das sirenes...
Morei num mucambo do "Bode",
E hoje moro num barraco na Saúde...

Não mudei nada...

NEGRA BONITA

Negra bonita de vestido azul e branco
Sentada num banco de segunda de trem
Negra bonita o que é que você tem?
Com a cara tão triste não sorri pra ninguém?

Negra bonita
É seu amor que não veio
Quem sabe se ainda vem
Quem sabe perdeu o trem
Negra bonita não fique triste não
Se seu amor não vier
Quem sabe se outro vem
Quando se perde um amor
Logo se encontra cem
Você uma negra bonita
Logo encontra outro bem.

Quem sabe se eu sirvo
Para ser o seu amor
Salvo se você não gosta
De gente da sua cor
Mas se gosta eu sou o tal
Que não perde pra ninguém
Sou o tipo ideal
Pra quem ficou sem o bem...

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Conto da Sibéria (A Princesa Marya e Blênio)

Certa vez, numa terra muito distante, vivia uma princesa tão bela que muitos príncipes vieram pedir sua mão em casamento. Mas seu pai, o czar, recusou-os todos, achando que nenhum era bom o bastante para ela. Um dia, um velho perguntou ao czar, se seu filho poderia casar-se com a princesa.

– Quem é seu filho? -perguntou o czar.

– Majestade - respondeu o velho - “meu filho é um blênio”.

– Mas esse é um peixe que vive no fundo do rio! - o czar exclamou - O que você está dizendo é ridículo!

- Sim, de fato - persistiu o velho - Durante muitos anos minha mulher e eu sofremos porque não tínhamos filhos. Então, certo dia, enquanto eu pescava, encontrei Blênio na ribanceira do rio. O peixe pediu-me que lhe poupasse a vida e prometeu que seria um filho para mim e minha esposa, e então o levei para casa. Agora, como ele cresceu, pediu-me que lhe arranjasse o casamento com sua filha.

– Por que eu deixaria que a princesa se casasse com ele? - perguntou o czar.

Naquele momento, detrás de uma cortina, a filha se manifestou.

– Pai, por que você não dá uma tarefa ao Blênio? Se ele obtiver êxito, casar-me-ei com ele, mas se ele fracassar, será morto. É assim que os russos fazem, disse ela.

O czar pensou por um instante.

– Bom, meu velho, o seu filho pode se casar com minha filha se ele construir um novo palácio para ela, melhor que o meu. E deve fazer isso até amanhã de manhã, do contrário cortar-lhe-ei a cabeça e a sua também, para que sirva de lição!

O velho quase morreu de terror, mas ao voltar para casa e contar ao filho qual era a exigência do czar, Blênio disse: – Não tema, pai. Vá dormir, e “amanhã veremos o que tivermos de ver”.

Naquela noite, Blênio deslizou até a porta da casa, saltou o muro, e transformou-se num lindo rapaz. Ergueu um bastão de ferro e fincou sua ponta no chão. Instantaneamente, surgiram trinta homens armados que lhe perguntaram: – Qual é o seu desejo?

– Construam-me um palácio vizinho ao do czar, ainda mais belo que o dele.

Os homens responderam que fariam o serviço e ele voltou para casa como peixe. Na manhã seguinte, ele acordou o pai e disse: – Pegue um machado, vá ao palácio do czar, depois volte e diga-me o que viu.

O velho fez o que o filho pediu e não conseguiu acreditar no que seus olhos viam. O palácio era mais lindo do que o do czar e o velho pegou o machado e atingiu suas paredes, mas nem uma só lasca saiu das paredes. Voltou para casa e disse o que vira ao filho.

– Agora - disse o filho - vá até o czar e peça a mão de sua filha, novamente.

Nesse ínterim, o czar tinha visto o novo palácio e ficou intrigado. Pensou: - “O filho deste velho não é um homem comum!” Entretanto, odiava a ideia de sua filha casar-se com um peixe. Quando o velho chegou, o czar disse: - Tenho outra tarefa para seu filho. Ele deve construir uma igreja , tão linda como a catedral. E tem que construir três pontes : uma que vá da velha catedral até a nova, outra da nova igreja até o palácio e a terceira da minha casa até o palácio dele. Se ele não construir até amanhã vocês morrerão.

O velho tremeu e pensou: - Eu devia ter matado Blênio no rio! – Mas quando contou ao filho a nova tarefa, ele sorriu e disse: –  Não tema, pai. Vá dormir e “amanhã veremos o que tivermos de ver.”

Naquela noite, depois do velho ir dormir, ele novamente saiu de casa e virou um rapaz e quando seus homens apareceram ele mandou que construissem a catedral e as três pontes. Ele voltou para casa e foi dormir.

No dia seguinte ele acordou o pai e disse novamente para ele pegar o machado e ir até o palácio do czar. O velho foi, e quando chegou perto viu a linda catedral que fora erguida e as três pontes. O velho tentou atingir a Igreja com o machado, mas nem uma só lasca saiu. Voltou para casa contando tudo para o filho.

– Meu pai, vá até o palácio e veja o que o czar dirá desta vez. Quando chegou, o velho viu o czar admirando assombrado a catedral e as três pontes. Mas ele disse ao velho que tinha uma última tarefa para seu filho.

– Diga a ele que quero que me traga um trenó e três cavalos melhores do que todos os que possuo. Se ele conseguir casar-se-a com a princesa, mas se fracassar terão as cabeças cortadas.

Mas quando o velho voltou para casa e contou ao filho este sorriu e mandou o pai dormir: - “Amanhã veremos o que tivermos de ver.”

Mais tarde, saiu de casa e ordenou aos seus homens que achassem um trenó com três cavalos mais maravilhosos do que os do czar.

No dia seguinte, ele novamente acordou o pai e mandou que ele fosse até o palácio e depois voltasse para contar o que vira. O velho quando chegou perto, viu assombrado o trenó com os três lindos cavalos. Ele voltou para casa e contou ao filho, que mandou que ele voltasse e pedisse a mão da princesa. O czar que já tinha visto o trenó, declarou que: – Como seu filho cumpriu as tarefas, eu manterei minha promessa. Traga-o até aqui e a princesa se casará com ele, hoje mesmo, não importando o que o povo diga.

O velho correu para casa e contou as novidades ao filho, e este lhe disse: - Coloque-me num saco e leve-me até o palácio para a festa de casamento. 

Todos riam porque a princesa ia se casar com um peixe.

O velho chegou ao palácio e colocou Blênio numa banqueta, aí começou a comemoração das bodas. Por fim, foram todos para a Igreja onde os dois se casaram. Depois das festas o casal recolheu-se à sua nova casa.

Eles viveram juntos por três anos, mas toda noite Blênio transformava-se num rapaz. A cada manhã ele voltava a ser peixe, só a princesa sabia da verdade.

Certa manhã a princesa acordou mais cedo e sentiu-se sozinha e triste, pois todos riam dela por ter se casado com um peixe. Ela teve uma ideia. Resolveu queimar a pele de peixe do marido antes que ele acordasse, assim ele ficaria homem para sempre. Ela queimou o traje e quando entrou no quarto, seu marido havia sumido. Naquele mesmo instante, um pequeno pássaro entrou voando pela janela.

– Que pena, princesa Marya, disse a ave. Se você tivesse esperado mais três dias, seu marido teria ficado livre de um feitiço. Teria ficado humano para sempre, mas agora você o perdeu. – Falou e saiu voando pela janela.

Ela ficou desesperada pensando porque tinha feito aquilo. Durante uma semana ela sofreu, mas depois levantou-se e jurou que iria em busca do marido e o salvaria. Naquele mesmo dia saiu do palácio, partindo sem saber para onde. Sua única pista era a avezinha. Quando chegou nos limites da cidade ela encontrou uma velha debruçada numa janela de uma pequena cabana.

– Por que esse ar tão triste, princesa Marya?, perguntou a velha.

– Estou procurando por meu marido. Queimei a pele dele e o perdi para um feitiço.

– Você jamais irá encontrá-lo viajando do modo como está. Volte para casa e peça ao ferreiro que lhe prepare três pares de botas de ferro, três chapéus de ferro e três pães de ferro. Então volte aqui e eu lhe direi onde ir em busca do seu marido.

A princesa agradeceu pelos conselhos da velha e voltou para casa. Pediu aos ferreiros que fizessem tudo que a velha mandara. Depois ela foi encontrar-se com a velha.

– Hoje está muito tarde para você seguir viagem, disse a velha. Jante comigo e descanse. Amanhã poderá partir.

No dia seguinte, ao amanhecer, a velha ofereceu-lhe alguns conselhos.

– Depois de sair daqui, procure um grande buraco na terra , disse a velha. Quando chegar ao abismo, coloque um dos pares de botas, um dos chapéus e coma um pão. Então desça. Você encontrará lá muitas pessoas gritando, cantando e chorando, e elas lhe pedirão que fique com elas, entretanto você deve seguir em frente sem demora. Se parar, jamais sairá desta caverna. Quando tiver gasto os três pares de botas, os três chapéus e comido os três pães de ferro, chegará ao fim da passagem. Do outro lado vive minha irmã, e ela lhe dirá o que fazer a seguir.

A princesa ficou horrorizada por tudo que teria que passar, mas agradeceu e partiu. Depois de muito andar, seu caminho terminou repentinamente na beira de um abismo. Ela espiou lá embaixo e não viu o fim. Destemida ela colocou o par de botas, o chapéu e comeu um pão de ferro. Depois começou a descer no vazio. Desceu, desceu, desceu, até que chegou num túnel sombrio. Lá ouviu pessoas que gritavam, cantavam e choravam, as quais lhe pediam que ficasse com elas. Mas ela os ignorou e foi em frente. A cada passo ela sangrava , pois o chão tinha lâminas de ferro e penduradas no teto também havia lanças de ferro, e sua cabeça as tocava e fios de sangue corriam em seu rosto.

Conforme ela afundava, mais e mais na escuridão, mais estridentes eram os gritos à sua volta. Ela lutou muito e, quando comeu seu derradeiro pão, usou o último par de botas e o último chapéu, viu um lampejo de luz ao longe. Chegou no final da caverna e arrastou-se até a luz do sol e despencou numa encosta gramada. Por uma semana ficou imóvel, fraca demais para se movimentar.Levantou-se ainda enfraquecida e andou aos tropeções, chegando numa casa que bateu na porta. BabaYaga, a grande bruxa apareceu para recebê-la.

– Princesa Marya! Aonde vai nesse estado? Minha irmã deve tê-la mandado aqui!

Marya contou o que acontecera com seu marido por sua culpa, mas que por amá-lo muito estava a sua procura.

BabaYaga suspirou, e disse: – Já se passaram dez anos desde que seu marido passou por minha casa. Agora ele é humano, mas nesse intervalo, casou-se com a filha do Rei de Fogo e agora vive com ela em seu palácio. Eu lhe direi como encontrá-lo e conquistá-lo de novo, mas antes descanse e coma.

Por uma semana a princesa ficou com BabaYaga, recuperando as forças. Então a bruxa lhe disse: – Chegou a hora de você ir ver seu marido. Eis o que você deve fazer. No jardim em torno do palácio em que ele vive, há uma pequena encosta. Sente-se no chão gramado desse morro e penteie-se com este pente de ouro. A filha do rei sairá do palácio ao vê-la e pedirá para comprar o pente de ouro. Ela estará acompanhada de duas mulheres, e elas têm exatamente a mesma aparência. Por isso, você deve cuidar para escolher a mulher certa, que será a do meio. Diga-lhe que você troca o pente por uma noite a sós com Blênio, mas não lhe dê o pente antes de estar com seu marido.

A princesa Marya agradeceu a BabaYaga pela sua ajuda e saiu da casa dela.

Chegou a um grande palácio, parou à entrada do jardim e sentou-se na encosta gramada. Começou a pentear os cabelos e logo as três mulheres acercaram-se dela. A do meio exclamou: – Nunca vi pente tão lindo. Você o venderia para mim? Posso pagar do jeito que você quiser.

– Não o vendo por dinheiro, mas posso trocá-lo por outra coisa.

– O que você deseja? , perguntou a outra . Ela disse: Apenas passar uma noite sozinha com seu marido.

– Ora , isso não é nada, disse a filha do rei. Você pode fazê-lo hoje mesmo. Agora dê-me o pente.

– Não disse Marya, ele será seu somente quando eu pisar dentro do quarto do seu marido.

– Muito bem, disse a outra. Vamos, venha comigo.

Chegando à porta do palácio ela entrou, e deixou Marya esperando, mas logo depois reapareceu. Você pode vir comigo agora e guiou a moça para o quarto. Pegou o pente de ouro das mãos de Marya e deixou-a sozinha com Blênio. Marya correu até o marido e chamou-o pelo nome, mas ele estava dormindo e não se moveu. Ela chorou e contou-lhe, mesmo assim, da longa viagem que vinha fazendo para encontrá-lo, mas nem assim ele se mexeu. Quando amanheceu a mulher expulsou a moça do quarto.

Marya voltou até BabaYaga, com o coração partido e desencorajada, e por uma semana ela chorou. Então, BabaYaga deu-lhe um lindo anel de ouro: - Use esse anel e vá novamente ao palácio e sente-se no jardim. As três mulheres virão novamente até você e a do meio vai querer comprar o anel. Faça igual da outra vez, mas só entregue o anel quando estiver dentro do quarto.

Assim ela fez e a mulher levou-a até seu marido. Ela novamente chamou-o pelo nome, mas ele dormia e não se mexeu. Mais uma vez a mulher colocou-a para fora do quarto e do palácio.

Ela voltou até BabaYaga dizendo que fracassara mais uma vez. A bruxa disse que a outra dera uma poção para que ele dormisse porque era esperta. Mas a bruxa não deixou que ela desistisse e tirou do armário um lenço muito bonito. Disse que essa seria a última chance dela recuperar o marido: –  Use este lenço e faça tudo como das outras vezes, mas se você não conseguir acordá-lo nada mais posso fazer por você. Esta é a última vez que a ajudo.

Marya agradeceu e seguiu seu rumo. Como antes, tudo aconteceu igual, mas Marya disse que só daria o lenço quando estivesse do lado do rapaz. Mais uma vez ele dormia e ela não conseguia acordá-lo. Quando amanheceu ela estava desesperada e chorou muito, mas naquele momento que a outra já a expulsava do quarto, uma lágrima dela caiu no rosto de Blênio que acordou sobressaltado.

A mulher gritava para que Marya saísse do quarto, mas quando ele a viu em pé ao seu lado logo a reconheceu e disse: – Finalmente você chegou!

A mulher gritava para tirar Marya do quarto, mas ele disse que a deixasse ficar.

– Ela é Marya minha primeira e verdadeira esposa.

Ele abraçou-a e ela lhe contou por tudo que passara desde que ele desaparecera.

Blênio reuniu todos os anciãos do reino, ofereceu um festa e perguntou-lhes: – Qual destas mulheres é minha verdadeira esposa? A que arriscou a vida para me encontrar, usando botas, chapéus e comendo pães de ferro, ou a que me trocou por um pente, um anel e um lenço?

Os anciãos responderam que sua verdadeira esposa era Marya, e é com ela que você deve viver.

Blênio concordou e voltando-se para Marya chamou-a para voltarem para casa. Ele pegou uma pequena caixa enferrujada e disse: – Marya feche os olhos.

Assim ela o fez, e no mesmo instante sentiu um vento soprando em seu rosto, ele aí sussurrou: – Agora pode abrir os olhos.

Quando ela olhou em volta, ficou atônita. Eles estavam num campo ao ar livre, e diante deles uma cidade fervilhava.

– Você reconhece esse lugar? ,disse ele.

– Sim, penso que sim.

– É o reino do seu pai disse ele, enquanto abria de novo a caixa.

Marya desfaleceu e acordou no palácio que fora construído por Blênio para conquistá-la. Ao seu lado estava seu marido dormindo. Alguns instantes depois ele acordou e disse: – Você me deu três tarefas antes de casarmos, essa é a razão de você ter sofrido tanto. Porém, agora estamos juntos mais uma vez.

Enquanto os dois se abraçavam, os pais de Blênio entraram, seguidos pelos pais de Marya. Todos comemoraram juntos o reencontro dos dois, com uma grande festa.

Fonte:
Disponível em Contos de Encantar <http://contosencantar.blogspot.com.br/>

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Francisco Pessoa (Décimas do Pessoa)


A mais cara e perfeita maquilagem
que lambuza e restaura certo rosto
por prazer ou se não a contra gosto
torna falso o semblante da imagem.
É o outono tristonho sem plumagem
É o alto do céu sem um condor
É um jarro quebrado sem a flor
É a infância sem um conto de fada
Eu não vejo beleza em quase nada
que não tenha beleza interior.
___________________________

MOTE
O chocalho da saudade
badala em meu coração


Quando o sol se levantava
a tanger a noite escura
depois da reza e da jura
pro curral eu me mandava
Uma caneca eu levava
nata passada no pão
Coisa melhor tinha não
Meu sertão virou cidade
o chocalho da saudade
badala em meu coração.

_______________________________

Tua honradez, meu pai, foi a herança
que tu deixaste e, foi meu tesouro,
arca mais rica do que prata e ouro
que tu me deste quando ainda criança.
Mesmo que fuja de mim a esperança
que a humanidade viva em plena paz,
o teu exemplo me tornou capaz
de enfrentar os contrários sempre em pé
portando a espada e o escudo da fé
acreditando que Deus pode mais.
_____________________________

MOTE
“Vou fechar a porteira da saudade
pois cansei de viver pensando nela”


Esperei bem mais tempo que judeu
Pelo grande Messias que já veio
O que fez eu ficar de saco cheio
Pois amor eu lhe dava e não me deu
Aquela “dor de corno” em mim bateu
(Burro xucro é difícil aceitar sela)
Resolvi terminar essa novela
Partirei a buscar nova amizade
Vou fechar a porteira da saudade
pois cansei de viver pensando nela.

______________
Fonte: Décimas enviadas pelo autor

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Clarisse da Costa (As Reticências de Thata Alves)

Thata Alves
A escrita para muitos traz certo prazer indescritível. Digamos que é um bem estar, além de proporcionar conhecimento. Ela surge de várias formas. O exemplo forte são as mulheres. Muitas de nós mulheres começamos a nossa escrita escrevendo em diários. Thata Alves, assim carinhosamente conhecida, teve prazer pela escrita por volta dos dez a doze anos de idade na escola, interpretação de textos e a produção de redações lhe fascinavam. Mas exercer a escrita foi mais pela necessidade de ter um diálogo necessário com seus pais, pois não havia diálogo sobre sentimentos, ou coisas do gênero. Para ela, a escrita foi sempre a prática de expressar o que não tinha como dizer em terapias, pelo fato de não poderem pagar um psicólogo.

Hoje, crescida e com opiniões formadas, Thata é uma guerreira negra no mundo literário. Atuante em diversos setores, já participou de dezenas de Antologias, Pracarau, Poezine, Poesia na Faixa, Encontro de Utopias, e tantas outras. Mas o auge de seu trabalho nasce em 2017, exatamente em janeiro, com a obra "Em Reticências". Esse nome me faz lembrar algumas lacunas em minha vida. O espanto é que foram mil exemplares vendidos. Imagina mil lacunas?! Loucura? Ou tortura? Que seja... a vida é cheia de lacunas de fato. A escrita mesmo não tem o seu ponto final, e sim reticências. Começo, meio, fim e recomeço.

Thata, para difundir a sua escrita criou objetos poéticos, como pequenos espelhos em formato de bottons, com trechos de suas poesias e cartões postais, com parcerias nas ilustrações de Felipe Oliveira. Sempre com a intenção das pessoas poderem ter a possibilidade do consumo deste. Uma mulher como tantas, porém com o olhar sempre à frente, sem perder o tempo de vista. Como toda mulher negra, sofreu barreiras, e na literatura não é diferente, afinal são apenas 15 mulheres na literatura brasileira, mas nada que tire o seu brilho e vontade de vencer. "Costumo dizer que o problema eu já tenho, a manobra é trazer a solução." – diz ela.

Fonte:
Texto enviado por Samuel da Costa.

XVIII Bienal Internacional do Livro - Rio (Programação de 06 setembro - Quarta)

11h; 13h; 14h; 15h; 16h; 17h; 18h
Pavilhão 4 - Verde Atividade Infantil - EntreLetras
O mundo das Letras
Graviola Produções

11hPavilhão 3 - Azul Café Literário
Assista a esse livro
Maria Camargo, Fernando Bonassi
Mediação: Edney Silvestre

13h30
Pavilhão 4 - Verde Arena #SemFiltro
Slam Colegial FLUP
Slam Colegial FLUP

15h
Encontro com Autores
Pavilhão 4 - Verde - Auditório Madureira
De Bem com a vida
Daniel Barros, Daiana Garbin

17h
Pavilhão 4 - Verde Arena #SemFiltro
Uma partida com RezendeEvil
RezendeEvil
Mediação: Chandy Teixeira

17h
Pavilhão 3 - Azul Café Literário
Grandes Lançamentos
Heloisa Seixas, Santiago Nazarian, Joca Reiners Terron
Mediação: Mariana Filgueiras

19h30
Pavilhão 3 - Azul Café Literário
Literatura e História
Mary Del Priore, Alberto Mussa, Samir Machado de Machado, Fabiano Costa Coelho
Mediação: Rodrigo Casarin

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Olivaldo Junior (Dois microcontos sobre saudade)

A FLOR NO LIVRO

Ainda moça, Angélica tivera um príncipe. Não um nobre dos contos de fada, mas um príncipe comum, cotidiano, daqueles que se encontram num ônibus. Era o Carlos.

Carlos era um lorde e sempre lhe trazia um mimo quando se encontravam, ou seja, quase todo dia. O amor ainda jovem é mesmo cheio de símbolos, soluços e de sonhos.

Não se casaram. Carlos, como seu xará famoso, tinha o dom da Poesia e a ela se deu. Angélica, no entanto, manteve no livro que ganhara dele a etérea flor da saudade.

A LÂMPADA ACESA
“Vem dormir, minha velha! Já ‘tá tarde!...”, chamava o marido de Amália, mas nada de ela ir se deitar. O branco dos cabelos dela reluzia a lua. Ambas eram eternas.

Porpeto, o cachorro da casa, também não dormia enquanto Amália não se desse ao sono que custava a vir, e, quando vinha, vinha triste, igual a quem chove, ou chora.

Quando Augusto a chamava de novo, ela, com uma foto do filho amado ao peito e uma lágrima sem lar nos olhos, deixava acesa a lâmpada da sala e enfim se recolhia.

Fonte:
Microcontos enviados pelo autor

XVIII Bienal Internacional do Livro - Rio (Programação de 05 setembro - Terça)


11h; 13h; 14h00; 15h; 16h00; 17h00; 18h00
Pavilhão 4 - Verde Atividade Infantil - EntreLetras
O mundo das Letras
Graviola Produções

12h
Pavilhão 4 - Verde Arena #SemFiltro
Falando sério com Larissa Manoela
Larissa Manoela, Thalita Rebouças
Mediação: Claudia Sardinha

13h30
Pavilhão 4 - Verde Arena #SemFiltro
Slam Colegial Fluip
Slam Colegial FLUP

14h
Pavilhão 4 - Verde - Auditório Madureira 2º Fórum de Educação | Interlivros
Educação e Futuro: experiência de inovação na educação no Brasil
Djamila Ribeiro, Diva Guimarães, Cleuza Repulho, Angela Dannemann, Priscila Cruz e Renato NogueraMediação: Monica Pinto

19h
Pavilhão 3 - Azul Café Literário
Bendita panelinha
Rita Lobo
Mediação: Alice Granato

19h
Pavilhão 4 - Verde Arena #SemFiltro
Humor! Ontem, hoje, sempre
Bruno Mazzeo, Lucas Rangel
Mediação: José Lavigne

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Ógui Lourenço Mauri (Poemas Escolhidos)


AMAR-TE EM POESIA!

Face a detalhes adversos
E a entraves do dia a dia,
Preciso apelar pros versos
E assim te amar em poesia!

Meus versos são lenitivos
À falta de teu calor,
Mantêm instintos ativos
Por conta de nosso amor.

Amar-te em poesia, sim;
Abrir para ti meu peito!
Trazer tua imagem pra mim
E envolvê-la do meu jeito!
 
Musa és de meus poemas
Instados pela distância.
De ti, vêm todos os temas
E paixão em abundância.
 
Os doces versos saindo,
Dão-me vida afortunada.
Amar-te em poesia é lindo,
Antes isso do que nada!
___________________________

ESTANCA TEU PRANTO!

Não!... Não chores, estanca teu pranto;
Doutro Plano, não sejas omisso!
Tinhas que sofrer o desencanto
Pra quitar, de vez, um compromisso.

Nesta tão prematura partida
De alguém muito querido em teu lar,
Não te olvides, é etapa vencida
De um pretérito a se resgatar.

Apesar de profunda essa dor
Do trespasse de um filho querido,
Agradece aos Céus, ao Criador,
O ditoso resgate assumido.

A agonia que sentes agora
Não é síndrome que te convém.
Calma, pois o ser que foi embora
Certamente te espera no Além!

A presente Passagem é acúmulo
De um saber tal que se perpetua.
E ele mostra que além do vil túmulo,
Nossa vida, por Deus, continua...
___________________________

MULHER...A VIDA!...

A partir dela, começa nova vida...
Mulher, gênese maior da concepção!
Faz-se ímpar protetora do embrião,
Num sublime encargo, por Deus escolhida!

Em seu ventre, traz o feto com amor.
Dá à luz!... A espécie que se perpetua!
Amamenta, por missão somente sua;
No crescer da cria, dá-lhe mais calor.

Vive, dos filhos, as vitórias e fracassos;
Muitas vezes, no lugar de mãe e pai.
São momentos em que sempre sobressai
A intuição do ser mulher ao dar os passos.

Mulher... A vida!... Missão polivalente!
Ela é mãe, tão companheira e tão amante!
Para o homem, faz-se trunfo exuberante,
É com ela que ele põe a vida à frente!

Mulher... A vida!... Coberta só de glória!
Competência a impulsionou rumo à conquista,
Eis que pela sociedade agora é vista
Pari passu ao homem, a fazer a História.
___________________________

UM VAZIO...

Um vazio põe além do horizonte
Um querer que à distância se lança,
Pois a ânsia que o barco desponte
Jacta o falso sabor da esperança.

Eu bem sei, não mudou a janela,
Mas o barco de longe não vem.
A saudade a meu peito se atrela
E a vontade do beijo também!

É verdade que após as tormentas
O mar calmo se faz tão presente,
Como é certo que as nuvens cinzentas
Põem o Sol a brilhar novamente.

Por aqui, vejo a chuva caindo;
Logo mais, chega a luz desde o leste,
A mostrar todo o azul do céu lindo,
Um desenho de Deus, inconteste!

Pensamento vai longe, de vez!
Traz, enfim, esse barco; reitero!
Penso até que meu porto, talvez,
Não comporte o navio que eu espero.
___________________________

LUA CHEIA, A DO BRASIL!

Meu Brasil tropical vive esta luta,
"Brilho do sol versus clarão da lua".
Entendo que a noite ganha a disputa,
é o que a massa romântica insinua.

Como é lindo o luar de minha terra
nas noites de brisa primaveril!
Lua cheia em seu esplendor encerra
toda a magia dos céus do Brasil!

Encanta-me o panorama estelar,
de lua cheia fazendo clarão;
passo muitas horas a contemplar
tal obra divina na imensidão.

Chego ao êxtase com tanta beleza
das noites de celestial aquarela.
Sem a luz do sol, vejo a natureza
sob lua cheia, alumbrada por ela.

Lua cheia, no Brasil, traz saudade,
emoção que só nosso idioma explica.
Machuca o coração de quem se evade
e estilhaça o coração de quem fica.

Fonte:
Poemas enviados pelo autor

XVIII Bienal Internacional do Livro - Rio (Programação de 04 setembro - segunda)

11h; 12h; 14h30; 15h; 15h30; 16h30; 17h30; 18h30
Pavilhão 4 - Verde Atividade Infantil - EntreLetras
O mundo das Letras
Graviola Produções

14h
Pavilhão 4 - Verde - Auditório Madureira 2º Fórum de Educação | Interlivros
Juventudes e Educação
Flavia Oliveira, Ricardo Henriques, Sandra Benites, Pilar Lacerda, Wolney Candido de Melo, Tião Rocha, Anna PenidoMediação: João Alegria

17hPavilhão 4 - Verde Arena #SemFiltro
Música e ideologia
Tico Santa Cruz, Marcelo YukaMediação: Bruno Levinson

19hPavilhão 4 - Verde Arena #SemFiltro
Multimulheres
Sophia Abrahão, Lucy AlvesMediação: Bruno Levinson

domingo, 3 de setembro de 2017

Olivaldo Júnior (Poemas Escolhidos)

Um pequeno barco

Pela praia mais bonita,
onde o mundo é só um arco
e minh'alma é infinita,
vem vindo um pequeno barco...

Vem vindo um pequeno barco
que parece a minha vida:
porto a porto, vira um marco
que só marca despedida...

Barco a vela, vela ao vento
que nos leva para longe,
onde o mundo é um moinho

e essa praia, o movimento
da memória cujo bonde
traz à tona algum barquinho...
_____________________

Cora, doce Coralina!...
20/08/2017: 128º Aniversário de Cora Coralina*


Cora, doce Coralina!...
Inda acolhe uma menina,
a "doceira de Goiás",
num fazer que a satisfaz!...

Da colher, tão pequenina,
doce Cora, a Coralina,
faz nascer quem vai e faz,
verso a verso, sua paz!

Velho tacho acobreado,
no calor do coração,
ferve a obra, seu legado,

nobre amor que vira pão,
o poema adocicado
que de Cora vem à mão!...
_____________________________

No Café do Amor Platônico

No Café do Amor Platônico,
bebo só com a Solidão,
pois meu bem ficou irônico
ao pedir-lhe a sua mão...

Já tomei meu "Biotônico",
me afoguei no chá em vão,
pois o mal é supersônico,
sempre alcança o coração.

No Café de quem foi bobo,
vou tomando amor com pão,
sou cordeiro, nunca o lobo...

Um pedaço a mais de "não",
e eu me perco no meu globo,
meu "mundinho" de ilusão.
_____________________________

Uma pérola de homem...
À memória de Luiz Melodia (* 7/1/1951 / + 4/8/2017)


Negra pérola em fulgor
fez nascer a melodia
que vibrou neste cantor
toda a luz da poesia...

'Luís Carlos' fez amor
com as fadas que 'tecia',
magrelinhas de valor,
negras musas, dia a dia...

Juventude Transviada
cala a boca frente à cruz,
ante à pérola apagada

que mantém a sua luz
sob as vistas da moçada
lá do Estácio, de Jesus.
_____________________________

Pelas mãos do Agricultor
28 de julho: Dia do Agricultor


Lá no ventre da Mãe Terra,
pelas mãos do Agricultor,
a semente vence a guerra,
'primavera' à luz em flor.

A verdura que ela encerra,
pelas mãos do Agricultor,
mais saúde a nós descerra,
dando à vida mais sabor.

Sem veneno, tão divino,
pelas mãos do Agricultor,
cada ramo vira um hino,

canto verde de um labor
que, gigante ou pequenino,
faz nascer um lavra-dor!
_____________________________

O escritor já está em casa
25 de julho: Dia Nacional do Escritor*


- Falem baixo, por favor,
que o silêncio perde a asa!...
Devagar com seu andor,
o escritor já está em casa.

Cada estrela é um amor
que São Jorge logo abrasa!...
Deixe em brasa sua flor,
o escritor já está em casa...

O escritor já está em casa,
no seu quarto, sem ninguém,
pois jamais o "tal" se casa!...

Sem "donzela", nem vintém,
de uma "pena" faz a casa
que aprisiona e lhe faz bem.
_____________________________

Para o filho que hoje é pai
13 de agosto de 2017: Dia dos Pais


Para o filho que hoje é pai,
toda a paz de ser alguém
cuja força não se esvai,
nem que parta para o Além...

Nem que parta para o Além,
quem foi filho e já foi pai
nunca fica sem ninguém,
pois é filho de Deus Pai...

Num asilo, lá no "exílio",
para o pai que já foi filho
sempre é dia de pensar

que seu filho vai voltar
e, vagão com fé no trilho,
ter o pai por estribilho.

Fonte: Poemas enviados pelo autor

Academia Paranaense da Poesia (Boletim de Setembro de 2017)


2017 – 15 anos de Oficina Permanente de Poesia
        – 15 anos de Academia Paranaense da Poesia

Programação especial, em comemoração pelos 15 anos da Academia Paranaense da Poesia

Parceria entre APP e UBT

OFICINA PERMANENTE DE POESIA
Quintas-feiras – de 18h a 19h45. 


Projeto da Academia Paranaense da Poesia em parceria com a Biblioteca Pública do Paraná – VOLUNTARIADO DA POESIA – desde 15/08/2002 (de março a junho e de agosto a novembro) – na BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARANÁ
Rua Cândido Lopes,133 - 3º andar
 
de 18 a 19h: aula sobre Poesia por um de nossos poetas;
de 19 a 19:45h: declamação de poemas pelos participantes da Oficina.

14/09 * – UBT

17h30 – Jogos Florais: Cerimônia de premiação estudantil;
18h30 – palestra  A Trova no Brasil – Expansão da UBT – com Domitilla Borges Beltrame, presidente da UBT- Nacional.
21/09 – Academia Paranaense da Poesia: alguns poetas – Lilia Souza.

28/09 – A poesia de Vera Vargas – poetisa Graziela de La Martine.

Obs.: *Em 14/09, a cerimônia começará às 17h30, no Auditório Paul Garfunkel, 2º andar da BPP.

16/09 –  17h30
SARAU – Trova, Poesia e Canção –
atividade da UBT, gentilmente em conjunto com APP (pelos 15 anos de Academia)
Auditório Brasílio Itiberê
Rua Cruz Machado, 138. Centro.

17/09 –  11h
MISSA EM TROVAS
–  celebração  da  UBT, gentilmente em conjunto com APP (pelos 15 anos de Academia).
Paróquia São Francisco de Paula
Rua Desembargador Motta, 2500. Centro.

19/09 – às  17h
TARDE DE MÚSICA E POESIA
Auditório do Centro de Letras do Paraná
Rua Prof. Fernando Moreira, 370, Centro.
– Sessão solene: comemoração pelos 15 anos de Academia

30/09 – de 11h30 a 15h
ALMOÇANDO COM MÚSICA E POESIA
Restaurante Prato Fino
Rua José Loureiro, 385, Centro – (entre Ruas Monsenhor Celso e Barão do Rio Branco) – Fone 3026-1526 – Buffet por quilo.

Obs: Por causa dos feriados e fim de semana prolongado, não realizaremos Oficina dia 7, nem Tarde de Seresta dia 9.

Galeria da Saudade – Aniversariantes do mês de setembro:
01 – Leôncio Correa;
09 – Diva Ferreira Gomes;
10 – Maria Nicolas; Rodrigo Junior; Mariana Coelho;
11 – Antônio Salomão;
18 – Vasco José Taborda Ribas ;
29 – Vidal Idony Stockler .

Sua presença e sua alegria fazem a festa da Poesia.
Lilia Souza
Presidente

XVIII Bienal Internacional do Livro - Rio (Programação de 03 setembro - domingo)

11h; 12h; 13h: 14h; 15h; 15h30; 16h; 17h; 18h; 19h
Pavilhão 4 - Verde Atividade Infantil - EntreLetras
O mundo das Letras
Graviola Produções

11h30
Encontro com Autores
Pavilhão 4 - Verde - Auditório Madureira Encontro com Autores
Falando quase a mesma língua
Sofia Silva
Mediação: Frini Georgakopoulos

12h
Pavilhão 3 - Azul Café Literário
Novos Canais Literários
Pedro Gabriel, Daniel Pinsky, Gustavo Lembert, Gisele Eberspächer, Priscilla Sigwalt
Mediação: Mariana Filgueiras

13h
Pavilhão 4 - Verde Arena #SemFiltro
Rebeldes Têm Asas - Como transformar crises em oportunidades
Rony Meisler
Mediação: Simone Magno

14h
Encontro com Autores
Pavilhão 4 - Verde - Auditório Madureira Encontro com Autores
Vivendo um romance
Abbi Glines
Mediação: Frini Georgakopoulos

15h
Pavilhão 4 - Verde Arena #SemFiltro
Tudo que você sempre quis saber e nunca teve coragem de perguntar
Gabriela Medvedovski, David Lucas, Matheus Abreu
Mediação: Jairo Bouer

17h
Encontro com Autores
Pavilhão 4 - Verde - Auditório Madureira Encontro com Autores
Bate-papo com Mauricio de Sousa
Mauricio de Sousa
Mediação: Simone Magno

17h
Pavilhão 4 - Verde Arena #SemFiltro
Multi-homens
Leo Jaime, Arthur Aguiar
Mediação: Bruno Levinson

18h30
Pavilhão 3 - Azul Café Literário
Vestindo a mesma pele
Martinho da Vila, Muniz Sodré, Maurício Pestana
Mediação: Ecio Salles

19h
Pavilhão 4 - Verde Arena #SemFiltro
Correndo atrás
Helio de La Peña, Juan Paiva, Lelezinha, Jefferson De
Mediação: Ana Paula Lisboa

sábado, 2 de setembro de 2017

Shirley Cavalcante (XI Bienal Internacional do Livro de Pernambuco)


Consolidada como um dos principais eventos literários do Nordeste brasileiro, a Bienal Internacional do Livro de Pernambuco se torna a Bienal das oportunidades. A próxima já tem data marcada, e será de 6 a 15 de outubro de 2017.

Enquanto o Sudeste do Brasil está superlotado com grandes editoras, o Nordeste está expandindo e tendo, cada vez mais, a necessidade de editoras que se apresentem e conquistem o seu espaço no mercado editorial dessa região.

Apresentamos 10 motivos para você estar na Bienal Internacional do Livro de Pernambuco.

- O Pernambuco é um dos principais Estados do Nordeste e se destaca pelo seu desenvolvimento e economia.

- Estar próximo, por ter como limites os Estados da Paraíba, Bahia, Ceará, Alagoas e Piauí.

- O Estado tem a terceira maior Bienal Internacional do Livro do Brasil.

- A Bienal Internacional do Livro de Pernambuco TEM ENTRADA GRATUITA.

- Na Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, o escritor pode se inscrever gratuitamente para adquirir um horário e lançar o seu livro na Plataforma de Lançamentos de Livros.

- Seus estandes têm um dos melhores preços por metro quadrado do Brasil, balanceando assim os custos de quem deseja trazer livros de outros Estados, como os do Sudeste, onde Rio de Janeiro e São Paulo têm os preços mais altos por metro quadrado na aquisição de estandes.

- Na Bienal Internacional do Livro de Pernambuco a editora de grande porte é destaque, enquanto em outros Estados pode ser só mais uma editora a participar.

- Na Bienal Internacional do Livro de Pernambuco o editor ainda consegue negociar diretamente com um dos principais gestores, um dos maiores produtores culturais do Nordeste, Rogério Robalinho.

- A Bienal tem inúmeras parcerias com blogs e mídias locais, que a promovem e a divulgam com frequência.

- Há uma parceria com a Divulga Escritor, Revista Literária da Lusofonia, Portal Literário, e-mail marketing, grupos e páginas nas redes sociais.

Diante de tantas oportunidades, você, editor, não pode ficar de fora, vamos somar e conquistar cada vez mais novos leitores nordestinos.

Para participar, acesse o site:
http://www.bienalpernambuco.com/

Facebook
https://www.facebook.com/BienalPernambuco/

Fonte: Assessoria de Imprensa Online Divulga Escritor
Contato: smccomunicacao@hotmail.com

XVIII Bienal Internacional do Livro - Rio (Programação de 02 setembro - sábado)

11h
Pavilhão 3 - Azul Café Literário
Cafezinho Literário: O olhar curioso e as boas ideias
Rona Hanning, Ricardo Leite

11h
Pavilhão 4 - Verde Atividade Infantil - EntreLetras
O mundo das Letras
Graviola Produções

11h
Encontro com Autores
Pavilhão 4 - Verde - Auditório Madureira Encontro com Autores
Agora e para sempre!
Jenny Han
Mediação: Frini Georgakopoulos

12h
Pavilhão 4 - Verde Atividade Infantil - EntreLetras
O mundo das Letras
Graviola Produções

12h30
Pavilhão 4 - Verde Arena #SemFiltro
CRESCENDO COM A MÍDIA
Maisa Silva, Priscilla Alcantara
Mediação: Ana Paula Lisboa

13h
Pavilhão 3 - Azul Café Literário
Religião e Modernidade
Frei Betto, Reginaldo Prandi, Alcio Braz, Pedro Siqueira
Mediação: Paulo Werneck

14h

Pavilhão 4 - Verde Atividade Infantil - EntreLetras
O mundo das Letras
Graviola Produções

15h
Pavilhão 3 - Azul Café Literário
A Utilidade do Inútil
Nuccio Ordine, Marco Lucchesi e Ana Maria Machado
Mediação: Fernanda Diamante

15h
Pavilhão 4 - Verde Atividade Infantil - EntreLetras
O mundo das Letras
Graviola Produções

15h30
Pavilhão 4 - Verde Atividade Infantil - EntreLetras
O mundo das Letras
Graviola Produções

15h30
Encontro com Autores
Pavilhão 4 - Verde - Auditório Madureira Encontro com Autores
Em novos caminhos
Paula Hawkins
Mediação: Frini Georgakopoulos

16h
Pavilhão 4 - Verde Atividade Infantil - EntreLetras
O mundo das Letras
Graviola Produções

17h
Pavilhão 4 - Verde Atividade Infantil - EntreLetras
O mundo das Letras
Graviola Produções

17h
Pavilhão 3 - Azul Café Literário
Lima Barreto
Lilia Schwarcz
Mediação: Paulo Werneck

17h

Pavilhão 4 - Verde Arena #SemFiltro
INTERCÂMBIO, UMA VIAGEM COM LEISA RAYVEN E BABI DEWET
Leisa Rayven
Mediação: Babi Dewet

17h30
Encontro com Autores
Pavilhão 4 - Verde - Auditório Madureira Encontro com Autores
Vamos pensar um pouco?
Mario Sergio Cortella, Mauricio de Sousa
Mediação: Josy Fischberg

18h
Pavilhão 4 - Verde Atividade Infantil - EntreLetras
O mundo das Letras
Graviola Produções

19h
Pavilhão 4 - Verde Atividade Infantil - EntreLetras
O mundo das Letras
Graviola Produções

19h
Pavilhão 4 - Verde Arena #SemFiltro
GAME É COISA DE MENINO?
Malena Nunes, Spok
Mediação: Paula Arantes

Fonte:
http://www.bienaldolivro.com.br/programacao_oficial.php

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Teatro (Sistema Coringa)

Histórico

Modelo dramatúrgico criado por Augusto Boal (1931-2009) para permitir a montagem de qualquer peça com elencos reduzidos, alterando as tradicionais relações narrativas do gênero dramático, apoiado numa proposta épica e crítica.

Após o golpe militar de 1964, os homens de teatro se veem numa situação paradoxal: há pouco público e inexistem peças que retratem as profundas mudanças ocorridas na realidade. A primeira experiência de uso do Coringa dá-se em Arena Conta Zumbi, pelo Teatro de Arena, em 1965.

No Rio de Janeiro, Augusto Boal dirige Opinião, no ano anterior, espetáculo que enfeixava as experiências de ex-cepecistas, sobretudo apoiados nos esquemas dramatúrgicos criados pelo "agit-prop". Opinião é uma colagem de fontes diversas: músicas, notícias de jornal, citações de livros, cenas esquemáticas e depoimentos pessoais situando as três realidades em cena, nucleadas em torno de Nara Leão (1942-1989) (a classe média intelectualizada), João do Vale (1934-1996) (o migrante nordestino) e Zé Kéti (1921-1999) (o sambista de morro).

Com essa experiência dramatúrgica na bagagem, Augusto Boal integra o coletivo de artistas que cria Zumbi. Trata-se aqui de colocar em cena um episódio complexo da história brasileira: a luta dos quilombolas de Palmares e sua resistência ao jugo português. Mas o Arena enfrenta dificuldades materiais, desde o pequeno palco e espaço cênico até um elenco reduzido. Escolhido o tema, os locais de ação e as principais personagens - a saga da luta antiescravagista -, a solução cênica encontrada toma o aspecto de um grande seminário dramatizado, com os oito atores representando todas as personagens, revezando-se no desempenho das pequenas cenas focadas sobre os pontos fortes da trama, deixando a um ator coringa a função narrativa de fazer as interligações entre fatos, pessoas e processos, como um professor de história organizando uma aula e dando seu ponto de vista sobre os acontecimentos. O emprego da música ajuda as passagens de cena, acrescentando tons líricos ou exortativos de grande efeito. Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) e Edu Lobo (1943) assinam a realização.

A montagem de Arena Conta Tiradentes, em 1967, aprofunda a experiência e surge explicada teoricamente em "O Sistema Coringa", redigido por Boal. O sistema evolui conceitualmente, desenvolvido para ser aplicado a qualquer texto teatral, permitindo, desse modo, tanto o barateamento da produção quanto a implantação de proposições estéticas, ligadas a um modo épico e dialético de expor a trama.

São empregados quatro procedimentos: a desvinculação ator/personagem (qualquer ator pode representar qualquer personagem, desde que vista a máscara correspondente), perspectiva narrativa unitária (o ponto de vista autoral é assumido ideologicamente pelo grupo que faz a encenação), ecletismo de gênero e estilo (cada cena tem seu estilo próprio - comédia, drama, sátira, revista, melodrama, etc. - independentemente do conjunto, que se transforma numa colagem estética de expressividades), uso da música (elemento de ligação, fusão entre o particular e o geral, introdução do ingrediente lírico ou exortativo no contexto mítico e dramático).

O Coringa é uma personagem onisciente que altera, inverte, recoloca, pede para ser refeita sob outra perspectiva uma cena, sempre que sinta necessidade de alertar a plateia para algo significativo, concentrando a função crítica e distanciada.

Função oposta ocupa o protagonista, o herói. Ele deve ser naturalista, fechado em sua lógica causal e psicológica, sempre representado pelo mesmo ator, destinado a criar e dar corpo à dimensão do particular típico, insuflando a ilusão cênica e materializando a dimensão mítica, uma vez que se destina à identificação e ao fomento da empatia junto ao público.

O conjunto de tais procedimentos é especialmente épico, oriundo de Bertolt Brecht (1898-1956), mas não deixa de abrigar, igualmente, uma tentativa de conciliar o historicismo proposto pelo distanciamento brechtiano com o particular típico, como concebido por György Lukács (1885-1971), outro teórico marxista que defende um herói mítico e fechado sobre si mesmo.

O sistema é examinado e tem suas propostas rebatidas no livro O Mito e o Herói no Moderno Teatro Brasileiro, por Anatol Rosenfeld (1912-1973). Tomando ponto por ponto os aspectos polêmicos da proposta de Boal, o crítico expõe os limites e contradições que apresenta, concluindo pela impossibilidade de sua aplicação a qualquer peça, como pretendia ser seu objetivo central.

E especificamente sobre Tiradentes, observa: "O herói, embora criticado pelos seus erros e cercado por um aparelho distanciador, é levado inteiramente a sério como herói [...] não chegando a ser suficientemente mito para colher as vantagens estéticas do arquétipo monumental. Mas de outro lado tem do mito a esquematização extrema de modo a não render suficientemente na dimensão da análise histórico-social e da vigência empática. A não ser que nos enganemos, Boal não deseja que se aplique a Tiradentes a sua excelente formulação: 'sempre os heróis de uma classe são os quixotes da classe que a sucede'. O herói, tal como proposto na peça, seria hoje um ser quixotesco, como o Hércules de Dürrenmatt".1

Na base dessas discussões encontram-se questões estéticas e ideológicas muito amplas, que devem ser reportadas às distintas soluções propostas por Bertolt Brecht ou por Lúkacs; ou seja, os modos diversos de se dialetizar artisticamente a perspectiva crítica e histórica.

Após Zumbi e Tiradentes, o coringa volta a ser empregado por Boal em A Lua Muito Pequena e a Caminhada Perigosa, texto integrante da Primeira Feira Paulista de Opinião em 1968 e em Arena Conta Bolivar, criação vitimada pela Censura e apresentada apenas no exterior, em 1970. Ainda que pleno de contradições, é ele utilizado por muitos grupos latino-americanos, ao longo dos anos 1970, que encontram assim um modo de ação política compatível com o fechamento dos regimes políticos do período. Em modo evoluído e diverso, ajuda Augusto Boal a definir e propor, logo a seguir, o Teatro do Oprimido.

Ao longo das décadas seguintes, no Brasil, algumas das técnicas teatrais nascidas ou criadas no sistema coringa acabam por ser empregadas em outros contextos, utilizadas como recursos de linguagem, sem obedecer, todavia, às suas determinações ideológicas. São exemplos: o rodízio de personagens do elenco por meio da substituição de adereços; o amálgama de gêneros diversos numa mesma cena ou peça; o emprego de recursos narrativos mesclados com cenas dramáticas, etc., tornando o Sistema algo assimilado e diluído, mais uma prática do que um modelo, no cotidiano do fazer teatral.

Notas
1 ROSENFELD, Anatol. O mito e o herói no moderno teatro brasileiro. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1996. p. 38.


Referências:
BOAL, Augusto. 'O Sistema Coringa'. In: Arena conta Tiradentes. São Paulo: Sagarana, 1967. Republicado In: BOAL, Augusto. Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977.
MOSTAÇO, Edelcio. Teatro e política: Arena, Oficina e Opinião. São Paulo: Proposta, 1982. 196 p.
ROSENFELD, Anatol. O mito e o herói no moderno teatro brasileiro. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1996. 122 p.

Fonte:
SISTEMA Coringa. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo620/sistema-coringa>. Acesso em: 13 de Ago. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Carlos Leite Ribeiro (Sabendo e Recordando) Parte V, final

Em Paris, assistiu a um concerto do pianista Sam, grande amigos de ambos, que teve a gentileza de tocar e cantar especialmente para ela, “As Time Goes By”. Fatos que ela registrou com emoção e grande ênfase, no seu diário.

- Também estou comovido com a tua narrativa.

- Eu comovida e com fome. Já estamos atrasados para o almoço. Aonde vamos hoje almoçar?

- Conheço um bom e romântico restaurante, que fica em São Pedro e não muito longe daqui. Talvez uns sete quilômetros.

Como Júlio tinha prometido, foram a um românico restaurante. Na saída do portão que dá para o Palácio da Pena, seguiram em frente por uma rua estreita e ainda feita em calçada do tempo dos coches. O interior do restaurante é revestido de azulejos muito bonitos, com o tema “Agricultores” tendo em quase todos a bela silhueta do Palácio da Pena. No cardápio escolheu “Arroz de Tamboril”, uma das especialidades da casa, e o vinho escolhido por ela, foi um macio e tinto “Borba”. É um prato que tem de ser feito na altura e por isso demora certo tempo.

- Júlio, estou cansada e emocionada com o que te contei. Além de estar “esfomeada”.

- Menina, estou nas mesmas condições. Vamos guardar a visita ao Castelo dos Mouros para amanhã e quando sairmos daqui, vamos diretamente para o hotel.

Depois do almoço que estava excelente, voltaram pela mesma rua estreita e no fim desta, cortaram à direita para apanharem a estrada que os iam levar a Sintra, passando pelo portão rotativo do castelo. Chegados à cidade, compraram no bar sanduiches de queijo tipo “Flamengo”, fiambre e presunto de Trás-os-Montes. Além de sumos de frutos. Iam como na noite passada jantar no quarto.

- Até que enfim, que vou descansar – exclamou ela quando entrou no quarto do hotel. Enquanto me “estico” um pouco na cama, prepara-te tu para a noite.

- OK “chefa”. Vou tomar uma ducha e vestir o pijama. Fica aí com os anjinhos.

Entretanto, ela adormeceu. Depois de ter tomado banho, Júlio entrou no quarto e viu que ela estava a dormir, e acordou-a para ela se preparar.

- Porque os homens são tão chatos ao acordar uma mulher? Chato! Já vou.

- Fica calma, vai-te preparar enquanto eu me deito debaixo da roupa – e com ar de brincadeira, ainda lhe disse – não posso esquecer de ir ao armário buscar o cobertor sobressalente, para não aconteceu como aconteceu ontem…

- Hoje não deves precisar do cobertor, pois a noite está mais quente da que a de ontem…

Ele riu-se e não foi buscar o cobertor.

Quando ela entrou na cama, ele delicadamente compôs os cobertores para cima do corpo dela, que lhe agradeceu.

- Hoje sou eu que tenho frio. Deixa-me chegar um pouco a ti?

- Á vontade, “madame”!

- Vou virar-me para ti…

Já era de madrugada quando foram comer os sanduíches que tinham levado. E ambos estavam com muita fome.

- Menino, agora com a “barriguinha” cheia, vamos deitar. Mas desta vez é mesmo para dormir.

- Doí-me muito as pernas, podias levar-me ao colo.

- Que gracinha…

Acordaram mais tarde do que do costume, mas muito bem-dispostos. Ele pagou o hotel e suas malas ficaram na arrecadação para não irem com o carro carregado para o Castelo dos Mouros. Antes foram à pastelaria Piriquita tomar o pequeno almoço (ou o café da manhã). Já no castelo, depois de passar a porta giratória e comprar as entradas, foram até ao largo da cisterna (que servia também de prisão) e mais adiante, Ivone disse a Júlio:

- Agora temos de subir estas muralhas todas? Já não tenho “pernas” para tanto.

- Também me queixo do mesmo. Vamos subir pela ladeira, que é muito mais suave para subir e depois descemos pelas muralhas.

- Não sabia dessa ladeira e já subi (outrora) várias vezes as muralhas.

A subida foi um pouco penosa até chegar à torre, de onde se avista um soberbo panorama, desde Colares, praia das Maçãs, Azenhas do Mar e a vista estende-se até terras de Torres Vedras. E também a elegante silhueta do Palácio da Pena, diferente da que se avista da Cruz Alta, em três morros diferentes uns dos outros. Calmamente sentaram no banco de pedra quase circundante da quadra da torre.

- Ivone, já descansamos um pouco. Queres recomeçar a narrativa?

- Deixa-me beber um pouco de água. Já terminámos o capítulo “minha avó” …

- Agora será o capítulo “Mamã”?

- Embora tivesse nascido em Inglaterra, minha mãe sempre se sentiu “francesa”. Lá fez seus estudos e conheceu o que viria a ser meu pai, português do Algarve, que já há anos trabalhava numa companhia de gás, em Paris.

E foi na capital de França que eu nasci e no jardim-escola, conheci um maravilhoso “miúdo”, que mais tarde viria a ser meu marido.

- Mas voltando a “tua mãe”.

- Infelizmente, sobreviveu pouco tempo à morte prematura de meu pai. Na parte final da vida de minha mãe, o casal Raymund e madame Emiliè, tomaram conta de mim e mais tarde adotaram-me. Raymund era o administrador da empresa têxtil onde minha mãe trabalhou.

Foi em Paris que me fiz mulher, estudei e comecei a namorar o Diogo, um português a viver em França.

- Ivone, e como vieste para Portugal?

- A empresa onde trabalhava Raymund, montou cá, perto de Loures uma sucursal e ele foi nomeado responsável dessa sucursal. Vim com eles para cá, onde terminei os estudos médios.

- Onde entra o Diogo?

- Meu marido, depois dos estudos em França, veio para Portugal para trabalhar numa fábrica de produtos agrícolas, em Mafra. Como estávamos sempre em contato por correio ou telefone, quando ele veio reatámos o nosso namoro, que mais tarde deu em casamento.

- Tens filhos?

- Tenho uma filha casada e que vive perto de Nova Iorque. Está numa gravidez e ultimamente não tem estado bem. E tu, Júlio, tens filhos?

- Tenho um que vive na Holanda, é casado com uma sueca e técnico de comunicações/Informática. Está bem na vida.

- Estou viúva já quase há cinco anos. E tu, há quantos anos?

- Já vai para oito. De vez em quando vou ter com meu filho, para não sentir tanto a solidão.

- Está na hora de descermos e regressarmos a Lisboa.

- Descemos pelos degraus do castelo, ou queres descer pela rampa?

- Vamos descer pelos degraus, pois em cada degrau, avistamos um belo panorama diferente.

Passaram pelo hotel para apanharem a sua bagagem, e aproveitaram para comprar uma guloseimas, antes de rumar a Lisboa.

- Vamos jantar antes de Lisboa? – Perguntou-lhe ele.

- Conheço um restaurante na Amadora.

- E eu conheço um muito bom antes da Amadora, em Queluz, bem pertinho do majestoso palácio, onde nasceu e morreu, D. João IV de Portugal e I do Brasil.

- Como não estamos de acordo, vamos resolver o problema lançando moeda ao ar. Queres coroa ou cara?

- Prefiro coroa…

- E desta vez ganhaste. Vamos então a esse restaurante em Queluz.

Pouco tempo depois, pararam no parque de estacionamento do restaurante “O Abílio”. Uma das especialidades deste restaurante, é “escalopes de veado” acompanhado por arroz, batata frita e saladas.

- Menino, mas sou eu que vou escolher o vinho. Hoje apetece-me um “Gatão rosé”, de acordo?

- Menina, completamente de acordo, para mais, já há tempos que não bebo esse precioso néctar.

O jantar correu tranquilamente e alegremente com conversa banal. Ambos estavam felizes, embora um pouco cansados. É que a idade não perdoa… Quando chegaram à porta da casa dela, ele com voz hesitante, perguntou-lhe:

- Posso subir também?

- Claro que não. Minha casa não é nenhum hotel!

- Então, podíamos ir para minha casa?

- Também não. Para mais, tu já me disseste que na tua cama, só lá dormiu tua falecida mulher.

- Querida, vou morrer de frio esta noite!

- Não vais não, meu querido. Enrola-te a um cobertor e vais ver que vais dormir muito quentinho. Um beijinho e uma boa noite com muitos e bons sonhos. Até outro dia e não te esqueças de me telefonares.

- Até outro dia!

Quando ela se afastava, ele tristemente, pensou: “plano falhado”

Durante semanas, além do encontro diário no café, saíram alguns fins de semana, visitando, entre outras localidades, a Foz do Arelho (Caldas da Rainha); Nazaré; São Pedro de Moel, Praia de Pedrogão, Figueira da Foz, etc.

No primeiro fim de semana, ele levou um edredon, o que levou Ivone a perguntar-lhe:

- Júlio, para que é esse edredon?
 
- Menina, é para não morrer de frio durante a noite!

Ela atirou uma sonora gargalhada ao responder-lhe:

- Fica sabendo que nos fins de semana que passarmos juntos, eu quero que tu “morras de frio”!!!

Um dia, ela com ar triste deu-lhe a notícia:

- Olha Júlio, minha filha está na parte final da gravidez que não está a corre-lhe muito bem. Está muito fraquinha. Assim, depois de amanhã vou partir para Nova Iorque, mas a ajudar e acompanhá-la.

- Eu posso ir contigo?

- Não Júlio. Vou sozinha e não sei quando voltarei. Aproveita e vai uns tempos para a casa de teu filho.

- E podemos contar pelo telefone e pelo computador?

- Sempre que possa, contatarei contigo. Fica tranquilo nesse aspecto.

No Aeroporto Internacional de Lisboa, despediram-se com um longo beijo.

- Então, nós…? – Perguntou-lhe ele.

- Júlio, quando eu regressar, falaremos….

FIM
 
Fonte: O Autor. Disponível em http://cencaestamosnos.blogspot.pt/search/label/CONTOS

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Carlos Leite Ribeiro (Sabendo e Recordando) Parte IV

A viagem foi curta, pois Sintra fica a cerca de trinta quilômetros de Lisboa.

Já em Sintra e na estrada que vai para o Castelo dos Mouros e Palácio da Pena, antes de chegar ao castelo cortaram à direita e no terreiro da entrada do Convento dos Capuchinhos, num lugar idílico, sentados num banco rústico, Ivone recomeçou sua narrativa sobre o que sabia de sua avô.

- Minha avó e marido, de Lisboa apanharam um navio que os levou aos Estados Unidos, por intermédio da então OSS – Agência de Serviços Estratégicos dos Aliados. Mais tarde, por conveniência de serviço, foram transferidos para Londres, para ficarem mais perto da Resistência contra o Nazismo. Ela ficou nos serviços administrativos e ele nas comunicações. Muitas mensagens via rádio para planificação e organização da Resistência, foram organizadas por ele. Foi em Londres que minha avó ficou grávida de minha mãe.

O meu avô Victor Lazlo preparou cuidadosamente, durante muitos meses a invasão dos Aliados à Europa, dando também orientações aos vários grupos da Resistência que tinha que atuar quando fosse a invasão. Antes do dia “D” de 6 de Junho de 1944, meu avô partiu clandestinamente para a Normandia (França) para superintender os trabalhos de sabotagem que deviam ser realizados para atrasar a reação alemã à Grande Invasão.

Foram combates de uma ferocidade nunca vista que custou muitos milhares de vítimas de ambas as partes. No dia seguinte, ou seja no dia 7 desse mês, uma bomba alemã matou meu avô.

- Foi um fim triste para um herói que nunca foi conhecido do grande público, mas que teve uma utilidade extrema nessa época. Mas vamos esquecer por ora de tua narrativa e convido-te para o almoço e depois fazer o check-in no hotel. De acordo?

- Já sinto fome para mais nem me convidaste para o café da manhã. Por onde vamos?

- Vamos regressar pela estrada que viemos até apanhar a principal que vamos descer até Sintra. Vamos almoçar ao restaurante do hotel Tivoli Sintra, que tem uma soberba vista desta belíssima serra.

- Olha eu hoje não me apetece comer peixe.

Depois de fazerem o check-in para um quarto de só uma cama. Aqui ela sorriu enigmaticamente… Foram conhecer o quarto com uma vista de sonho, deixar suas malas e por fim desceram até ao restaurante. Escolheram “Vitela assada no forno com batatas pequenas”, salada e vinho, este escolhido pela Ivone. Escolheu “Colares” tinto.

Depois do repasto, foram até à Pastelaria Piriquita, onde como sobremesa comeram uns deliciosos “travesseiros” especialidade de doceria daquele estabelecimento, e tomaram café.
Ficaram a conversar durante algum tempo e como ela se queixou que estava muito stressada, foram dar um passeio a pé pela pequena mas belíssima cidade, chegando até ás portas da Quinta da Regaleira.

Ela não quis entrar alegando que não estava com disposição de ver “coisas velhas”. Ele atirou uma enorme gargalhada. Voltaram para a cidade e, no largo Jogo da Pela, sentaram-se nos degraus do Palácio que para muitos ainda é o Palácio Real, onde nasceram vários reis e príncipes de Portugal.

Mas ela não estava para visitar naquele dia “coisas velhas” e ficaram sentados nos degraus do palácio. A certa altura, ela queixou-se que a pedra devia de ser mais quente, pois estava a sentir frio por estar ali sentada.

- Ivone, queres ir para o hotel descansar?

- Para o hotel descansar?!. Não. Se estás com alguma ideia “avançada” retira isso da cabeça senão nunca mais te falo.

- Não tenho nenhuma ideia pré-concebida. Podíamos ir para aquela esplanada ali em frente. Se quiseres, claro.

- Vamos. Na esplanada com certeza que não ficarei num assento tão frio como estas escadas de pedra.

Infelizmente para eles, naquela esplanada os lugares estavam todos ocupados, assim como na esplanada do Hotel Central. Tiveram que procurar outra, esta na curva do Duche. Ela teve de ir à casa de banho (banheiro) e quando regressou, disse-lhe:

- Júlio, este estabelecimento vende “Queijadas de Sintra”.

- Aqui todas as lojas vendem queijadas. Mas quando quiseres, voltamos à Piriquita que fica aqui perto e compramos queijadas.

- Se voltarmos lá, podíamos comprar também daqueles deliciosos “travesseiros”. Tive uma ideia: Podíamos comprar essas guloseimas e uns sumos de frutos e jantarmos no nosso quarto?

- Gulosa!

- Olha quem fala: tu és o maior guloso que conheço!

- Pelo caminho podemos comprar umas velas.

- Porquê? Vai haver algum apagão? Candeeiros elétricos é que não faltam no quarto!

- Seja feita a sua vontade, grande gulosa. Hoje não estou para discussões por ninharia nenhuma. Para mais, tudo o que te acontece fora dos teus planos, é cá o Júlio que tem a culpa.

- Com esta conversa toda, está a começar a escurecer. Sintra é perigosa à noite?

- Muito perigosa, cheia de fantasmas!

- Tu é que me pareces um bom fantasma! Então com esse cabelo tão comprido. Porque não cortaste o cabelo?

- Não a estou a convidar nem pressionar-te, mas quando a “madame” entender, vamos comprar as guloseimas e vamos para o nosso quarto no hotel.

- Já reparei que és muito sensível a brincadeiras de palavras. Quando o “gentil cavalheiro quiser, podemos ir. Esta despesa pago eu. Na Piriquita pagas tu.

Fizeram as compras e depois foram para o hotel. Quando chegaram ao quarto, não tinham luz. Reclamaram na recepção e como aquela hora não havia nenhum eletricista disponível, tiveram que mudar de quarto. Estavam no 2º andar e passaram para outro no 3º, que ainda tinha uma vista mais ampla sobre Sintra.

- Bem te disse que devíamos de ter comprado velas. Mas tu não fazes nada que te peça.

- Ho, Menino! Eu não nasci ontem, tenho cabeça e segundo dizem, tem alguma inteligência. Tu querias era uma ceia à luz das velas!

- Não discuto, pois és tu que tens sempre razão.

A ceia à “luz elétrica” correu bem e ambos evitaram picardias. Viram a televisão, nomeadamente o noticiário e depois um filme que ela classificou “do tempo do rouca”. Quando ela já estava preparada para ir para a cama, mostrou-lhe os tampões nos ouvidos para não ouvir o ressonar dele. Ele, quando já estava preparado, mostrou-lhe os pedaços de algodão que tinha colocado nos ouvidos-

- Com o teu cabelo branco e comprido e com esses algodões, pareces mesmo “uma alma do outro mundo”! rsssss

Estavam deitados ainda há pouco tempo, quando ela se virou para ele e arrancou-lhe um algodão que ele tinha nos ouvidos, gritando-lhe:

- Menino, não te encostes a mim. A cama é bastante grande, chega-te para o teu lugar.

- Estou aqui a “morrer” de frio!

- Levanta-te e vai ao armário buscar um cobertor para te enrolares nele.

- Com este frio não posso! Tenta compreender!

- Já compreendi tudo e muito bem! Vou eu ao armário buscar um cobertor para tu te enrolares nele.

- Não faças isso!

- Bico calado e enrola-te neste cobertor para não teres frio e não te aproveitares para te encostares a mim.

- Nem quero acreditar!

- Mas acredita e deixa-me dormir muito descansadinha. Até amanhã…

Na manhã seguinte levantaram-se cedo, mas mal falaram um com o outro, não ser um seco “bom dia” e quando já estavam arranjados “vamos descer para tomar o pequeno almoço?

Já na estrada, Júlio explicou a Ivone que iam subir pela estrada que ontem foram para o Convento dos Capuchinhos.

- Queres dizer que vamos passar à cortada para o convento e subimos ainda mais?

- Certo. Vamos subir até ao Palácio Nacional da Pena, mandado construir por D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota-Koháry, marido da rainha D. Maria Iº. Como ontem disseste, não gostas de ver “velharias”…

- Isso foi ontem. Hoje já estou mais bem disposta!

Antes passaram pela porta rotativa do Castelo dos Mouros, e subindo mais um pouco chegaram ao fim da estrada Sintra/Palácio da Pena. Passaram o portão e percorreram umas lindas alamedas antes de estacionar o carro no parque respectivo. Daí, subiram uns degraus e uma pequena rampa e entrara na varanda que dá para a verdadeira entrada do palácio. Quando Júlio se dirigiu à bilheteira, soube que naquele dia não havia visitas pois o palácio estava em manutenção e limpezas. Ela, quando soube, atirou uma sonora gargalhada. Ele, olhou-a de lado e também se riu.

- Júlio, tu já visitaste este Palácio muitas vezes e eu algumas. Vamos para outro lado.

- Tens razão, vamos até à Cruz Alta. Se eu ainda me lembrar onde se entra na estrada.

Foi fácil encontrar a estrada a partir do parque de estacionamento a Cruz Alta fica a cerca de 3 Km do palácio, num alto morro, e tem uma belíssima panorâmica, das mais belas de Portugal. Quando chegaram lá, viram com tristeza que a grande cruz de ferro tinha sido vandalizada. Encostaram-se ao varandim em frente aos degraus da cruz, donde se avista, num outro morro o majestoso Palácio da Pena. Voltaram-se para o outro lado.

- Júlio, parece que temos a nossos pés, Oeiras, Estoril, Cascais e ali mais adiante, o areal da praia do Guincho. E repara que se vê a ponte 25 de Abril e mais além a belíssima ponte Vasco da Gama!

- Ivone, é na margem esquerda do rio Tejo, vê-se da esquerda para a direita, o Montijo, Seixal, Almada (com o seu Cristo Rei), a Trafaria e Cova do Vapor, etc., e muito mais afastado o Castelo de Palmela (que só se vê em dias muito claros como está hoje); além do estuário do Tejo, que é em delta e também muito belo.

- Até parece que avisto uns golfinhos a saltar…

Ficaram alguns minutos extasiados com tanta beleza que avistavam. Até que ele a lembrou:

- Então, com a morte de teu avô, tua avó ficou sozinha em Londres?

- Sim, ficou por lá mais cinco anos até se reformar. Depois, foi para a que chamava “sua Paris”, onde teve o amor de sua vida, e onde se empregou como secretária de uma empresa têxtil, onde o administrador era amigo da família. Ela nunca se esqueceu de teu avô Rick Blaine e até escreveu no seu diário a seguinte passagem: “A união de duas pessoas é uma sintonia de esforços e sentimentos que muitas vezes é cortada pelo destino”.

- E nunca mais o procurou?

- Procurou sim. Pelos serviços secretos, soube que ele esteve em Moçambique e que tinha tido problemas com as autoridades. Antes de saber este pormenor, esteve quase resolvida a ir ter com ele. Não foi com receio de ser rejeitada, pois teu avô, como até´ tu compreendes, era um aventureiro. Soube da sua fuga para a Argentina e daí perdeu-lhe o rastro durante anos.

- E soube que ele esteve no Brasil?

- Também soube assim como as atividades marginais dele. Tinha muita pena do Rick e chegou a admitir que talvez fosse por ela os desvarios dele. Esse pensamento (ou remorso) acompanhou-a até à morte. Talvez pensasse que com ela, ele teria sido uma pessoa boa. Pelo menos é o que dá a entender no seu diário.

Na última nota que escreveu no diário, poucos dias antes de falecer, nunca a consegui decifrar: “Trazendo grinaldas e roupagens divinas, ungindo de perfumes celestes. O Deus dos milagres, o Deus infinito, manifestou-se, a face voltada para todos os lados. Se o esplendor de mil sóis brilhasse ao mesmo tempo nos céus, seria talvez comparável ao irradiar do grande Ser”. Foi esta sua última mensagem.

continua...

Fonte : O Autor. Disponível em http://cencaestamosnos.blogspot.pt/search/label/CONTOS