terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Mitos Indígenas (Iguaçu - as cataratas que surgiram do amor)

Distribuída em várias aldeias, às margens do sereno Rio Iguaçu, a tribo dos Caingangues formava uma poderosa Nação Indígena. Tinham como Deus Tupã, o Deus do Bem e M'Boy, seu filho rebelde, o Deus do Mal. Era este o causador das doenças, tempestades, das pragas nas plantações, além dos ataques de animais ferozes e das demais tribos inimigas. 

A fim de se protegerem do Deus do Mal, em todas as primaveras, os Caingangues a ele ofereciam uma bela jovem como esposa, ficando esta impedida para sempre de amar alguém. Apesar do sacrifício, esta escolha era para ela um privilégio, motivo de honra e orgulho. 

Naípi, filha de um grande cacique, conhecida em todos os cantos por sua beleza, foi desta vez a eleita. Feliz, aguardava com ansiedade o dia de tornar-se esposa do temido Deus. 

Iniciaram-se assim os preparativos da grande festa. Convidados chegavam de todas as aldeias para conhecê-la. Entre eles estava Tarobá, valente guerreiro, famoso e respeitado por suas vitórias. 

Ocorreu que, talvez pela vontade do bom Deus Tupã, Tarobá e Naípi vieram a se apaixonar, passando a manter encontros secretos às margens do rio. Sem ser notado, M'Boy acompanhava os acontecimentos, aumentando a sua fúria a cada dia. 

Na véspera da consagração, os jovens encontraram-se novamente às margens do rio. Tarobá preparou uma canoa para fugirem no dia seguinte, enquanto todos adormeciam, fatigados com as danças e festejos e sob efeito das bebidas fermentadas. 

Iniciaram a fuga e, já à boa distância do local, M'Boy concretizou sua vingança. Lançou seu poderoso corpo no espaço em forma de uma enorme serpente, mergulhando violentamente nas tranquilas águas e abrindo uma cratera no fundo do rio Iguaçu. Formaram-se assim as cataratas, que tragaram a frágil canoa. 

Tarobá foi transformado em uma palmeira no alto das quedas e Naípi em uma pedra nas profundezas de suas águas. 

Do alto, o jovem apaixonado contempla sua amada, sem poder tocá-la. Resta-lhe apenas murmurar seu amor quando a brisa lhe sacode a fronde. 

Tarobá lança suas flores para Naípi, através das águas, como prova de seu amor. A jovem está sempre banhada por um véu de águas claras e frescas, que lhe amenizam o calor de seus sentimentos. 

Ainda hoje, M'Boy permanece escondido numa gruta escura, vigiando atentamente os jovens apaixonados. Ouve-se dizer que, quando o arco-íris une a palmeira à pedra, pode-se vislumbrar uma luz que dá forma aos dois amantes, podendo-se ouvir murmúrios de amor e lamento.

Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Edy Soares (Fragata de versos) – 43: Flor da Manhã

 

Artur De Azevedo (Contos em versos) Sem botas

Em tudo acreditava
O Lopes, bom rapaz, rapaz simplório,
Que dos seus companheiros de escritório,
No velho Banco onde os pirões ganhava,
Era o divertimento, era o «pratinho»;
Não lhe pregavam peta, coitadinho!
Que lhe não parecesse uma verdade.
Mas, apesar de tanta ingenuidade,
Pesava-lhe a amargura
De não ter tido nunca uma aventura
Amorosa; lembrava-se com pena
De que não fora nunca herói de um drama
Nem mesmo de uma cena,
Em que entrasse uma dama
Por ele apaixonada,
Ou solteira, ou casada.

Mas uma noite o acaso, enfim, num bonde
Que ele tomara a esmo,
Por fugir ao calor, sem saber onde
Iria ter, nem mesmo
Que tempo no passeio gastaria,
Deparou-lhe a aventura cobiçada:
Linda mulher, ao lado seu sentada,
Olhares tão sensuais lhe dirigia,
E com tanta insistência,
Que ele, apesar da sua inexperiência,
Pois que jamais se vira em tais assados,
Foi dos mais atirados,
E fez, com o cotovelo e com o joelho,
Trabalho digno de um «bolina» velho.

A passageira bela
Saltou do bonde, e o Lopes, prontamente,
Também saltou (pudera!) e foi atrás dela,
Sem saber em que bairro se encontrava,
Nem que rua era aquela,
Onde além deles, nem um cão passava,
— Rua deserta, silenciosa, escura,
Propícia a uma aventura.

Antes que o Lopes qualquer coisa diga,
Ela volta-se, e fala: — Por piedade
Os passos meus não siga.
Se não deseja a minha infelicidade!
Hoje, só hoje, desacompanhada
Fui a sair forçada
Por um negócio urgente.
Meu marido é doente,
E há três dias estamos sem criada.

Fez-me o senhor uma impressão profunda,
Por parecer-se com alguém que o sono
Eterno dorme numa cova funda:
Foi o primeiro dono
Do meu amor de virgem... Acredite:
Não posso crer que um morto ressuscite,
Mas, ao ver essa cara,
Supus que o meu Gabriel ressuscitara!

Adeus, senhor! não tente
Tornar a ver-me! Esqueça-me! É prudente!
— Mas eu... — De conta faça
Que uma visão eu sou... visão que passa...
E esgueirava-se a dama. O namorado
Que se havia deixado
Ficar mudo, enlevado

No som daquela voz, notas estranhas,
Misteriosa música divina
Que lhe invadia o âmago e as estranhas,
Tomou-lhe a mão papuda e pequenina,
Dizendo-lhe: — Senhora,
Não se afaste de mim, não vá se embora,
Sem me deixar ao menos a esperança
De que algum dia tornarei a vê-la!
Não queira que num céu todo bonança
Brilhe, e logo se apague a minha estrela!

— Não! deixe-me partir! — Oh, não! não parta!
— Pois sim... pois bem... escrevo-lhe uma carta...
Dê-me o seu nome e a seu endereço — Pronto!
Meu cartão aqui tem.
E o Lopes, tonto,
Qual se bebera capitoso vinho,
Ficou ali parado,
Enquanto ela seguia o seu caminho
E entrava num sobrado.

A carta não tardou. Dizia a bela
Que jamais faltaria
Ao seu dever por uma fantasia;
Que o pobre Lopes se esquecesse dela;
Se, entretanto, quisesse
Mandar-lhe uma resposta, que o fizesse
Para a posta-restante.
Foi a correspondência por diante,
E, á terceira missiva,
Já se mostrava a dama compassiva,
Prometendo que, logo que pudesse,
Uma entrevista ao Lopes marcaria.
E cumpriu a promessa um belo dia:
«Não posso mais! Se és homem que se afoite,
Podes vir sexta-feira, à meia-noite.
Fica à porta da rua
Uma criada à tua
Espera. Meu marido
Aqui estará, porém... adormecido.

Vê a quanto me exponho
Para tornar verdade um belo sonho!»
Achou o Lopes no posto a medianeira,
Uma velha mulata. Esta lhe disse,
Guardando, agradecida, algumas notas,
Que a escada não subisse
Sem descalçar primeiramente as botas,
Que tinham «ringideira».

Ele subiu ridículo, em palmilhas,
E co’um dedo enfiado nas presilhas
Das duas botas penduradas. Ela,
Que o vira da janela,
Foi no topo da escada recebê-lo,
Sugestivo o penhoar, solto o cabelo,
Ele quis abraça-la;
Ela, porém, fez — Psiu! — e, cautelosa,
Tomando-o pela mão fria e nervosa,
Pé ante pé levou-o para a sala,
Dizendo-lhe baixinho;
— Muito devagarinho...

Ele pode acordar... — Na sala escura
Teve ignóbil desfecho essa aventura...
— Mas teu marido? Tu não tens receio...
— Ai! se soubesses... Eu narcotizei-o!...
Olha... Não o ouves ressonar? — O moço
Nada ouvia, mas respondeu... Sim... ouço...

Sucederam-se novas entrevistas,
Sempre co’as mesmas precauções já vistas.
Logo à segunda, o Lopes foi sangrado
Em quinhentos mil réis, não para ela,
Que nada lhe faltava, Deus louvado,
Mas para a tal mulata, sentinela,
Que tinha precisão dessa quantia.
Oito dias depois, nova sangria;
Outra, mais outra, e muitas, — finalmente
Nunca se viu mulher mais exigente!

Ele mandava ao diabo a sua estrela!
Amante cara! E não podia vê-la
Senão à meia luz, e receoso,
De despertar o esposo!

Que idade ela teria
Ele ignorava, e despreza-la queria;
Porém era dos tais que não reagem
Por falta de coragem.

Os colegas do Banco
Perceberam que o Lopes ocultava
Alguma coisa que o mortificava.
Perguntaram-lhe o que era, e ele foi franco:
— Imaginem, rapazes,
Que numa noite em que eu esparecia
Num bonde da Alegria,
Uns olhos vi, capazes
De um morto erguer da sepultura fria!
Noite de amor nefasta!
Ela saltou na rua***. — Basta! basta!
(Um dos rapazes disse)
Que grande patetice!
Já sei de quem se trata:
É da celebre tipa da mulata,
Uma velha cocote aposentada,
Que finge ser casada,
E acha que toda a gente é parecida
Co’um tal defunto de quem foi querida!
Aos amantes faz crer que narcotiza
Um marido fantástico! Artemisa
Diz que se chama e chama-se Tereza! —
Pasmado estava o Lopes. — Com certeza
(Acrescentou o amigo, entre chacotas),
Para subir a escada,
Foste obrigado a descalçar as botas...
— Sabes de tudo! não ignoras nada!
— Se eu faço parte dos três mil idiotas
Que entraram lá sem botas!
Cara foi a lição, completa a cura,
Pois o Lopes não teve outra aventura.

Fonte> Artur de Azevedo. Contos em verso (contos cariocas). Publicado originalmente em 1909. Disponível em Domínio Público . Convertido para o português atual por J. Feldman

Contos e Lendas da Espanha (Notícias do céu)

Era uma vez uma viúva que voltou a se casar.

Certo dia, enquanto que o marido trabalhava, um mendigo manco bateu à porta e pediu uma ajuda. A mulher, que gostava muito de conversar, perguntou-lhe de onde vinha. O mendigo, animado com a perspectiva de conseguir uma boa esmola, disse:

— Venho do Céu, com a permissão de Deus. Quero ver se arranjo aqui na Terra algumas coisas que facilitem minha vida lá em cima.

A mulher reagiu surpresa:

— Quer dizer que os habitantes do Paraíso também passam necessidade?

— E como, senhora! — o mendigo exclamou. — Nem mesmo no Céu existe igualdade de direitos. Lá, os que têm muito vivem melhor do que os que têm pouco... Exatamente como aqui.

A mulher ficou pensativa por alguns momentos. Por fim, disse ao mendigo:

— Meu primeiro marido deve estar por lá, pois era um homem bondoso e sábio. Talvez o senhor o conheça.

— Talvez — o mendigo repetiu, com gravidade. — Como é o nome dele?

— Pello Bidegain — disse a mulher.

O mendigo sorriu;

— Claro, como não haveria de conhecê-lo se ele é justamente o meu melhor amigo!

— Que incrível coincidência! — a mulher exclamou encantada.

— Pois estou lhe dizendo, senhora. Lá em cima, eu e seu primeiro marido somos como unha e carne.

Ansiosa, a mulher pediu:

— Então, dê-me notícias de meu Pello Bidegain. Como é que ele está?

— Infelizmente, não muito bem — o mendigo respondeu, meneando a cabeça com uma expressão de pesar. — Para ser franco, Pello Bidegain anda em sérias dificuldades.

— Que tipo de dificuldades, senhor?

— Financeiras, senhora... Anda sempre mal vestido e nunca tem dinheiro para nada, nem mesmo para as necessidades mais básicas.

— Pobre querido — a mulher murmurou. De súbito, teve uma ideia: — Diga-me, o senhor não poderia levar algumas coisas para ele?

— Claro que sim.

— Então, espere um minuto, por favor.

A mulher entrou em casa e logo voltou com muitos presentes para o falecido:

— Aqui estão dois pares de sapatos e algumas peças de roupa; calças, meias, camisas e também a boina da qual Pello Bidegain nunca se separava. O pobrezinho deixou tudo aqui, antes de ir para o Céu. Naturalmente, nem de longe poderia imaginar que a vida lá em cima fosse tão parecida com a que levamos aqui na Terra...

— É mesmo, senhora. Ninguém adivinharia. — Então o mendigo perguntou: — A senhora não teria também algo de comer?

— Claro que sim. — E a mulher explicou: — Providenciei um pouco de toucinho, chouriço, queijo e alguns pães.

— Está ótimo, senhora. Aposto que Pello Bidegain ficará muito feliz. Mas, depois de se vestir condignamente e saborear todas essas delícias, com certeza desejará coroar a refeição com um bom vinho.

— E o senhor acha que já não pensei nisso? — Sorrindo, a mulher entregou-lhe três garrafas do melhor vinho que tinha em casa.

— Ah, minha senhora, Pello Bidegain ficará tão agradecido!

O mendigo guardou tudo num grande saco que trazia às costas. Já se preparava para ir embora, quando ocorreu-lhe uma nova ideia:

— A senhora não teria também algum dinheiro para mandar a Pello Bidegain?

– Pois era justamente nisso que eu estava pensando.

A mulher deu ao mendigo uma moeda de cinquenta pesetas e pediu:

— Entregue-a para ele, por favor. Diga-lhe que o amo mais do que a qualquer outro homem, inclusive mais do que a Mikel, que é meu atual marido.

— Eu direi, senhora.

Assim, o falso enviado do Céu partiu, coxeando, curvado ao peso dos presentes que levava. Estava tão feliz, que até sentia vontade de dançar ao som de castanholas.

Enquanto isso, Mikel, o segundo marido da mulher, voltava para casa. Ao vê-lo, a esposa disse radiante:

— Você nem imagina o que aconteceu.

— O que foi? — o marido perguntou com estranheza.

— Por que toda essa euforia?

— É que tive notícias de meu querido Pello Bidegain. Soube que ele está no Céu... Mas não tão bem quanto eu imaginava.

— Você diz cada disparate, mulher. O Céu é o lugar ideal para as boas almas que partiram deste mundo. Se Pello Bidegain foi para lá, não poderia ter melhor sorte.

— Acontece que a vida lá em cima é muito parecida com a vida aqui embaixo.

Intrigado, o marido perguntou:

— Mas, afinal, quem foi que lhe deu essa notícia?

— Um mendigo manco que desceu do Céu com a permissão do Senhor — a mulher respondeu. — Aliás, ele foi muito gentil e aceitou levar algumas roupas, alimentos, vinho e dinheiro para Pello Bidegain, que está passando necessidade, pobrezinho.

Compreendendo o que havia acontecido, Mikel saiu de casa. Munido de um grande bastão, montou seu cavalo e já ia partir, quando a mulher gritou:

— Ei, aonde você vai?

— Também tenho um presente para aquele enviado do Céu — ele respondeu sem se voltar. — Mas preciso correr, se quiser alcançá-lo.

Enquanto galopava, Mikel ia pensando na surra que daria naquele mendigo mentiroso e aproveitador. Mas o mendigo, astuto como uma raposa, já esperava por represálias. Caminhava pela estrada receoso e a toda hora olhava sobre os ombros para ver se alguém o
seguia.

A certa altura, avistou um cavaleiro a galope, levantando uma nuvem de poeira. Agindo com rapidez, o mendigo escondeu o grande saco atrás de uns arbustos e sentou-se à beira do caminho.

Quando Mikel o viu, fez com que o cavalo parasse e perguntou:

— Você não viu um mendigo manco, levando um enorme saco nas costas?

— Sim, senhor. Eu o avistei ainda há pouco. Percebi até que ele estava assustado, pois volta e meia olhava para trás e corria, arrastando a perna direita. E quanto mais olhava para trás, mais depressa o pobre diabo tentava correr. Por fim, acabou entrando naquela trilha cheia de espinheiros. Mas aposto que não conseguirá chegar muito longe, por ali. O senhor nao terá dificuldade alguma em alcançá-lo.

— Acontece que a trilha é estreita demais para meu cavalo.

Então vá a pé, senhor, e vá tranquilo, que eu tomarei conta do animal.

— Nesse caso, eu lhe agradeço.

Enquanto Mikel se embrenhava na trilha, o mendigo pegou o saco que havia escondido, pendurou-o na sela, montou o cavalo e partiu, congratulando-se com o destino.' Decididamente, aquele era seu dia de sorte.

Horas depois, Mikel voltou para casa, triste e abatido. Mas fingiu-se muito calmo, até alegre, para que a mulher não o importunasse com perguntas que ele não gostaria de responder.

Ao vê-lo entrar, ela disse:

— E então? Conseguiu alcançar o mendigo?

— Claro.

— E o que foi que você lhe deu?

– O cavalo... Para que chegasse mais rápido ao Céu.

Fonte> Yara Maria Camillo (seleção). Contos populares espanhóis. SP: Landy, 2005.

Mitos Indígenas (Mundo novo - o paraiso terrestre)

A Nação Indígena dos Caiapós habitava uma região onde não havia o sol nem a lua, tampouco rios ou florestas, ou mesmo o azul do céu. Alimentavam-se apenas de alguns animais e mandioca, pois não conheciam peixes, pássaros ou frutas. 

Certo dia, estando um índio a perseguir um tatu canastra, acabou por distanciar-se de sua aldeia. inacreditavelmente à medida que este se afastava, sua caça crescia cada vez mais. Já próximo de alcançá-la, o tatu rapidamente cavou a terra, desaparecendo dentro dela. Sendo uma imensa cova, o indígena decidiu seguir o animal, ficando surpreso ao perceber que, ao final da escuridão, brilhava uma faixa de luz. Chegando até ela, maravilhado, viu que lá existia um outro mundo, com um céu muito azul e o sol a iluminar e a aquecer as criaturas; na água muitos peixes coloridos e tartarugas. Nos lindos campos floridos destacavam-se as frágeis borboletas; florestas exuberantes abrigavam belíssimos animais e insetos exóticos, contendo ainda diversas árvores carregadas de frutos. Os pássaros embelezavam o espaço com suas lindas plumagens. 

Deslumbrado, o índio ficou a admirar aquele paraíso, até o cair da noite. Entristecido ao acompanhar o pôr do sol, pensou em retomar, mas já estava escuro... 

Novamente surge à sua frente outro cenário maravilhoso: uma enorme lua nasce detrás das montanhas, clareando com sua luz de prata toda a natureza. Acima dela multidões de estrelas faziam o céu brilhar. Quanta beleza! E assim permaneceu, até que a lua se foi, surgindo novamente o sol. 

Muito emocionado, o índio voltou à tribo e relatou as maravilhas que viera a conhecer. O grande pajé,  Caiapó, diante do entusiasmo de seu povo, consentiu que todos seguissem um outro tatu, descendo um a um pela sua cova através de uma imensa corda, até o paraíso terrestre. Lá seria o magnífico Mundo Novo, onde todos viveriam felizes.

Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Therezinha D. Brisolla (Trov" Humor) 23

 

Carolina Ramos (O Folclore em Versos)


SACI-PERERÊ

Saci-Pererê... O moleque atrevido!
Só tendo uma perna, veloz como o vento,
faz mil peraltices sem ser pressentido...
- Transforma a quietude da noite em tormento!

Dispara a boiada.,. Galopa e extenua
os pobres cavalos... e a crina lhes trança!
Cachimbo na boca... nas noites de lua,
remoinha a poeira na trêfega dança!

Se alguém, de surpresa, um dos gorros vermelhos,
consegue roubar... E, com sorte, reter...
terá como escravo o Saci de joelhos
que, sem o capuz, perde o mago poder!

Não raro, o Saci pode ser caluniado!
Se às vezes o culpam do extremo alvoroço,
nem sempre de tudo, em verdade, é culpado...
Do mal, talvez, seja até pálido esboço...

Pois... há muita gente, de pele bem alva,
que tem duas pernas... cachimbo nem vê,
que bole com tudo... nem santo salva!
E é muito pior... que um Saci-Pererê!
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O RIO MAR I
(lenda amazônica - origem do rio Amazonas)

Jassyendy* prateava a natureza!
Jassy** era feliz, serena e amada
pelo formoso Cuara***, na certeza
de tudo ter... sem desejar mais nada!

O amor, pujante e livre, na largueza
do azul crescia, em força imensurada,
com esplendor intenso e tal grandeza,
que a Onipotência estava preocupada:

- Não fosse logo essa paixão contida,
em pouco a morte extinguiria a Terra!
Secariam os rios... sem mais vida

e secaria, assim... todo o Universo!
- Sol e Lua... Tupã**** separa! E encerra,
com seu poder, aquele amor adverso!
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*Jassyendy = luar
**Jassy = lua
*** Cuara = sol
**** Tupã = Deus
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O RIO MAR II

A sentença é implacável - sem poesia!
Separação - é a fórmula sensata:
- Cuarassy*, sendo o Sol - brilha de dia!
- Jacy, a Lua - à noite, a luz desata!

Tupã, o poderoso, decidia!
E Curussá**, num brilho que arrebata,
a cruz de estrelas no amplo céu abria,
marcando para sempre a triste data!

A alternar-se no azul, em desalento,
não se encontram jamais o Sol e a Lua!
Ao ver Jassy, tão pálida, em tormento,

Cuarassy, em protesto, ostenta um halo
de dor e de saudade... E o adeus flutua
em cada triste ocaso... A torturá-lo!
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* Cuarassy = Sol de verão
** Curussá = Cruzeiro do sul
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O RIO MAR III

Em vão as súplicas! Também baldados
os apelos dos astros que se uniram
aos pés de Tupãssy!*... Desalentados,
Jassy e Cuarassy de amor deliram!...

Lágrimas, em roldão, pelos costados
e planícies rolaram!... Não se ouviram
na Amazônia os lamentos dos copados
seringais que, engolidos, sucumbiram!

E o pranto de Jassy, protesto insano,
em caudal impetuoso e avassalante,
foi arrojar-se aos braços do oceano!

E a rugir, a gemer e a espumejar,
do manancial de um coração amante,
nascia, então, grandioso - o Rio Mar!
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* Tupâssy = mãe de Deus
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O CANTO DO UIRAPURU
(Lenda da Amazônia)

Pequenina e graciosa,
a índia, cor de canela,
tinha voz meiga, maviosa...
e a tanga verde e amarela.

Olhos de corça amansada,
mais negros do que o saci,
era feliz... porque amada
por um guerreiro tupi.

Na verde mata, fez ninho.
E a cantar seu grande amor,
parecia um passarinho,
a adejar de flor em flor!

Mas... o guerreiro, malvado,
seu carinho desprezou,
e por outra apaixonado,
o ninho antigo deixou!

Foi definhando, angustiada,
aquela índia menina,
pelo noivo abandonada…
e a guarda-lo na retina!

Enfim... Tupã, condoído,
a abrandar-lhe a triste sorte,
dá-lhe à vida outro sentido,
para poupá-la da morte:

- Numa avezinha encantada,
cor auri-verde-canela,
foi a índia transformada
e voz maviosa revela!

Uirapuru é seu nome
e pelas frondes viçosas,
toda a angústia que a consome,
canta... em notas dolorosas[

Seu trinar, límpido e triste,
a mata escuta silente!
E a mágoa que nele existe,
é a mágoa que a gente sente!

Numa pergunta constante,
dorida, Uirapuru diz
ao seu amado distante:
– Tão triste estou!... És feliz?!...
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LOBISOMEM
(Folclore Universal)

Meia noite... sexta-feira...
- Cruiz-credo!... Yaiá escuitô?!
Lápras banda da portêra,
foi lobisome... que uivô!

- Lobisomem, Benedita?!
Yaiá senta alvoroçada
no leito... e a Dita se irrita:
- Tão tarde!.... E Yaiá acordada?

- Calminha... amanhã desconto!
- Antes do cuco acusar
que são dez horas em ponto,
ninguém venha me acordar!...

- E agora, me conte a história,
meu sono já está no fim...
- Bem... si nun faia a memória,
as coisa cumeça anssim:

Sete fio encarrerado,
mêmo que tenha bom nome,
ninguém foge do ditado:
- o caçula... é lobisome!

-E... em noite de lua, quando
é sexta-fêra, minina,
ôio de brasa... escumando,
num grande cão se acumbina!

- Peludo... as presa arreganha,
assustando bicho e gente!
- E mata... tudo qui apanha...
guardando as sobra nos dente!

- Di manhã... ôtra veiz home,
esquece o que assucedeu
...e, inocente, se consome,
pranteando arguém qui morreu!

- Os home... são sempre os mêmo!
- São mau... sem sabê pruquê!
- Santinhos pur fora... e demo
pur drento! - saiba vancê!

- Pur isso... muita cautela...
num querdite neles, não!...
- Mêmo qui a muié... costela
seje desse tar de Adão!

- Dum hôme se adiscunfia...
tenha inté cara di bobo...
pois, se alembre, minha fia:
- num zás-trás... si vira in lobo!!!

Fonte: Carolina Ramos. Canta… Sabiá! (folclore). Santos/SP: publicado pela Editora Mônica Petroni Mathias, 2021. Enviado pela autora.

Abbie Phillips Walker (A Estrela Perdida)

 
criação por JFeldman com IA Microsoft Bing

Era uma vez, uma pequena estrela que brilhava por centenas de anos se cansou de seu dever noturno e ansiava por descer à Terra e descobrir o que havia abaixo.

“Eu me pergunto o que está abaixo de nós, além de nossa visão”, a estrela confidenciou uma noite a uma estrela companheira que brilhava ao lado dela há séculos.

“Eu não sei, e não consigo entender por que você deveria estar interessada quando estamos contentes aqui em cima, brilhando todas as noites”, respondeu a outra estrela.

“Mas não estou contente”, suspirou a estrelinha. “Sinto-me infeliz porque desejo ver o que está abaixo de nós e não posso ver nada daqui. Eu me pergunto o que aconteceria se eu descesse? Eu continuaria caindo indefinidamente ou encontraria um lugar melhor do que este lá em cima? ”

“Nunca pensei em outro lugar senão este”, respondeu a outra estrela. “Se estivéssemos destinadas a habitar em outro lugar, teríamos sido colocadas lá. Aconselho você a parar com tais pensamentos e encontrar a felicidade em nossa morada atual, onde brilhamos ao lado de nossas irmãs todas as noites.”

A velha lua estava ouvindo atentamente a conversa delas. Quando ambas as estrelas terminaram de falar, ela entrou na conversa: “Você seria sábia em permanecer onde está e se abster de descer para a Terra. Embora seja uma moradia adequada para as pessoas, não é um ambiente favorável para pequenas estrelas como você. Se você pousasse lá, rapidamente se perderia e ninguém saberia a que lugar você pertence. Fique aqui com suas companheiras estrelas e continue brilhando. ”

No entanto, a pequena estrela não conseguiu abalar seu fascínio pelo vasto espaço abaixo. Numa noite tranquila, enquanto o vento dormia, a estrelinha notou uma nuvem fofinha flutuando em direção à velha lua.

“Agora é minha chance”, a estrela pensou consigo mesma. “Assim que aquela nuvem ocultar a face da lua, cairei do céu. Se eu achar a Terra desagradável, estou confiante de que posso voltar. ”

Assim, a tola estrelinha escapou de seu lugar designado no céu e pulou, descendo em direção à Terra como uma estrela cadente. “Uma estrela cadente! ” alguém exclamou enquanto ela caia. Eventualmente, a estrela se viu em um vasto campo de margaridas, descansando sobre a grama verde exuberante, incapaz de enxergar qualquer coisa. Um grande besouro rastejou e perguntou: “De onde você veio? ”

“Sou uma estrela, visitando sua Terra”, respondeu a estrelinha.

“Olha só! ” o besouro chamou outro besouro. “Olha, uma estrela desceu à Terra. ”

“Isso não é uma estrela”, argumentou o segundo besouro. “As estrelas são brilhantes e radiantes. Isto é apenas um pedaço de pedra. ”

“Mas eu sou uma estrela”, insistiu a estrelinha. “Eu tenho brilhado no céu por centenas de anos. Desci para explorar a Terra porque queria ver como era. ”

“Você terá que convencer alguém que sabe menos do que nós”, retrucaram os besouros com desdém, deixando a pobre estrelinha questionar o mérito de sua visita terrena.

Depois de um tempo, as margaridas ouviram soluços no meio da grama e inclinaram a cabeça para mais perto para ouvir.

“Parece vir de debaixo da grama”, comentou uma margarida. “Devemos investigar e encontrar a fonte dessa tristeza. ”

“Oh, por favor, digam-me como voltar para casa! ” a estrelinha chorou quando viu as margaridas procurando por ela.

“De onde você veio? ” elas perguntaram.

“Eu sou uma estrela e minha casa está bem acima desta Terra”, explicou a estrelinha. “Estou brilhando lá em cima há centenas de anos e desci para ver a Terra. Mas agora não consigo encontrar o caminho de volta.

“Você é uma estrela? ” as margaridas se perguntaram. “Você não se parece com uma, mas suponho que seja uma estrela cadente que perdeu seu brilho. ”

“Receio que não possamos ajudá-la a voltar para casa; nenhuma de nós conhece o caminho”, admitiram as margaridas.

“Oh céus! Oh céus! ” lamentou a estrelinha. “Tudo está escuro aqui e não consigo enxergar. Alguém me mostrará o caminho de volta para casa? ”

“Talvez a lua conheça o caminho de casa da estrela perdida”, sugeriu uma margarida.

“Onde ela está? Onde ela está? ” a estrelinha perguntou ansiosamente. “Certamente, a Sra. Lua pode me guiar para casa. ”

“Ela não está presente no momento”, informaram as margaridas. “Mas assim que a nuvem passar, nós a consultaremos em seu nome. ”

Depois de alguns minutos, a lua surgiu por trás das nuvens, lançando seus raios radiantes sobre o campo de margaridas. Chegou ao local onde a estrelinha se refugiou.

“Senhora Lua! ” todas as margaridas gritaram simultaneamente. “Uma estrela perdida reside aqui. Você pode direcioná-la para casa?

Antes que as margaridas pudessem terminar sua pergunta, a estrelinha avistou o raio da lua. Cheia de alegria, ergueu o rosto e exclamou: “Eu posso ver! Eu consigo ver! Este é o caminho que me levará para casa. ”

“Se as margaridas realmente desejam que eu a ajude a encontrar o caminho de casa, eu o farei, ” respondeu a lua. “Mas você merece estar perdida, pois abandonou suas irmãs e a casa onde residiu contente por tanto tempo, sem um único arrependimento. ”

“Oh, sim, Sra. Lua, por favor ajude a estrelinha a voltar para casa e brilhar mais uma vez, ” as margaridas imploraram. “Temos certeza de que nunca mais sairá de seu lugar. ”

“Eu prometo a você, Sra. Lua, que nunca deixarei meu lugar designado ao lado de minhas companheiras estrelas, não importa quantas centenas de anos eu tenha para brilhar, ” jurou a estrelinha.

“Muito bem, ” reconheceu a lua. “Vou guiá-la de volta para casa. No entanto, levará um tempo considerável para você recuperar seu brilho anterior. Além disso, você será colocada longe de suas irmãs, onde residiu por tanto tempo”.

Pelos raios luminosos da lua, a estrelinha ascendeu de volta ao céu. Ao passar por suas companheiras estrelas, baixou a cabeça de vergonha, pois elas choraram, lamentando sua partida e o fato de nunca mais brilhar ao lado delas.

A pequena estrela partiu sem pensar duas vezes, focada apenas no fascínio da Terra. Longe de suas irmãs, descobriu um lugar onde deve brilhar por cem anos para recuperar seu antigo brilho. Durante esse tempo, suas companheiras estrelas também cresceriam em brilho, distanciando-se para sempre da pequena estrela perdida. Oh, pobre estrelinha!

Fonte> Abbie Phillips Walker (EUA, 1867 - 1951). Contos para crianças. Disponível em Domínio Público.

Mitos Indígenas (Iamuricumas)

Em meio a uma grande festa, os índios haviam concluído a cerimônia de furar as orelhas de seus meninos, após a qual as crianças permanecem de resguardo. 

Segundo o costume, os homens da tribo foram à pesca para bem alimentá-las, enquanto as mulheres prosseguiram com o corte dos cabelos. 

Percebendo que os pais demoravam a chegar, o filho do pajé decidiu ir ao rio, onde pôde observá-los batendo o timbó e pegando muitos peixes. Repentinamente, como por encanto, os índios transformaram-se em animais selvagens. 

Assustado, o menino correu à tribo, relatando à sua mãe o que sucedera. Esta avisou as outras mulheres e, reunidas, preparavam-se para fugir dentro de poucos dias, pois os homens da pescaria agora representavam perigo! 

Pintaram-se e ornamentaram o corpo como se fossem homens. Em seguida a esposa do pajé, à frente do grupo, entoou um canto, conduzindo-o ate a floresta. Lá, untaram-se de veneno, transformando-se no espírito Mamaé. 

Após cantarem e dançarem dois dias sem cessar, pediram a um velho que pousando sobre as costas a casca de um tatu, seguisse à sua frente, abrindo-lhes passagem. 

O homem passou a agir como se fosse o próprio animal. As mulheres, indiferentes aos homens da pescaria, seguiram o seu caminho, a cantar e a dançar, levando consigo mulheres de mais duas aldeias. 

Suas crianças foram lançadas ao rio, tornando-se peixes. Ainda hoje, as Iamuricumás viajam dia e noite, armadas de arco e flecha. 

Não possuem o seio direito, para melhor manejá-los. E assim, cantando e dançando, continuam a abrir caminhos pela floresta, seguindo eternamente o homem tatu.

Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Versejando 132

 

Manuscrito na Garrafa = 106 =

Renato Benvindo Frata 
Paranavaí/PR

DIFÍCIL DEFINIR, MAS NEM TANTO

Longe de mim contrariar o dicionário quando diz que 'felicidade' é uma sensação real de satisfação plena; estado latente de contentamento.

Está certíssimo, mas um tanto seco e de certa rudeza ao descrever o melhor dos sentimentos. Felicidade, tenho para mim, é a plenitude que concebe e abarca os segundos da nossa vida. Se formos buscar definições pela história, encontraremos milhares de opiniões dos mais importantes filósofos, poetas, escritores, cientistas; homens e mulheres que se debruçaram sobre o tema para defini-la, e que lhe deram — e lhe dão —, com palavras especiais, as melhores definições.

Se as trouxermos aqui, o espaço não as comportará, porque a felicidade que tanto buscamos parece agir como uma menina travessa que, ao brincar, se esconde pelos cantos dificultando ser encontrada.

Essa menina que falo, a Felicidade - acompanhe o raciocínio tem preferências especiais: escolhe o mais dissimulado canto dos lábios, ou a mais íntima esquina dos olhos para se esconder e se aquieta; e, alheia a tudo o que possa acontecer, aguarda a melhor hora para se mostrar.

Ao abrirmos um sorriso, por exemplo, desses que fazem pulsar mais forte o coração, ela se mostra cândida e bela e nos dá aparência deslumbrantemente boba, infantil, meiga, pura, que exprime dois sentimentos: na pessoa que sorri, a aceitação; e a quem o sorriso foi ofertado, a gratidão pelo gesto recebido.

Aceitação e gratidão, pois, são elementos nascidos do sorriso. Também, e na mesma intensidade, ela pode escorrer em gotas, quando nossos olhos brilham sob a resplandecência sublime do amor e nos dá, nesse instante, água especial que purifica nossa existência.

Para dizer que a lágrima não nasce apenas no choro, mas também na alegria.

Nesses dois momentos ela conseguirá se perenizar se assim o desejarmos, permanecendo em definitivo em nossos sorrisos, ou no brilhar dos nossos olhos, ou ser apenas uma passageira fugaz de alegria momentânea, quando se tornará meia felicidade. Por ser meia, nunca será completa.

Na segunda hipótese, desprezada e humilde, voltará a se esconder nos cantos que guardam a vida, como os da boca e dos olhos, até que decidamos ativá-la em definitivo.

Desse raciocínio um tanto pueril e de base somente de observação, mesmo não tendo qualquer pingo de cientificidade, ouso dizer que a felicidade está onde queiramos que esteja, com pouca
ou muita intensidade: escondida no mais profundo recôndito, enrustida no âmago das aflições, presa no egoísmo ou maldade; ou no mais aparente e singelo lugar, como um simples canto de boca ou de olhos, por exemplo. 

Digamos, com a beleza do piscar de um vagalume em noite escura.

(Fonte: Renato Benvindo Frata. Fragmentos. SP: Scortecci, 2022. Enviado pelo autor)