terça-feira, 29 de abril de 2025

Coelho Netto (Perna de Pau)


Já grisalho, alto e magro, olhos miúdos e negros, mas de um brilho estranho, viam-no todas as manhãs passar à porta do colégio com uma grossa e nodosa bengala.

Conheciam-no pelo toc-toc da perna de pau, e logo chamando-se uns aos outros, corriam todos os meninos às grades, e, quando o inválido passava, rompiam em assuada: — Oh, perneta!

Ele sorria docemente; os seus olhos bravios, de uma expressão feroz, ameigavam-se e, longe de agastar-se, tirava o seu grande chapéu de abas largas e fazia uma barretada, não sei se para brincar com os pequenos, se para lhes mostrar os cabelos brancos.

Um dia o diretor chamou-o para lhe fazer presente de umas roupas, de sorte que, à hora do recreio, quando os meninos saíram para o pátio, viram com surpresa o Perna de Pau sentado tranquilamente em um dos bancos.

Receosos murmuraram: — Vem dar parte! Vem queixar-se ao diretor! — mas o bom homem sorria com tanta meiguice, que um dos pequenos ousou acudir o seu chamado.

— Venha cá, meu menino! Tem medo de mim?

— Não! — disse com orgulho o pequeno.

— Então venha até cá... eu gosto muito de crianças.

O menino adiantou-se, e os outros, vendo a bondade do inválido, acercaram-se dele, e o bom homem ficou numa roda de crianças, feliz, sorrindo. Um dos pequenos, curioso, perguntou-lhe então ingenuamente:

— Que é da tua perna, homem?

— A minha perna, meu menino? A minha perna um bicho mau levou!

A estas palavras a curiosidade dilatou todas as pupilas, e os meninos, esquecendo o recreio, chegaram-se mais ao homem, perguntando:

— Que bicho? Como foi? Conta...

— “Ah! Meus meninos... eu era um rapaz robusto; vivia na minha terra descansadamente, quando correu a notícia de uma fera, que deitava fogo pela boca, queimando as cabanas e as plantações dos pobres, andava se arrastando pela vizinhança da nossa terra.

“Diziam que ela matava velhos e crianças. Muitos moços da minha idade partiram para combater a fera que lhes ameaçava a casa e a vida dos velhos pais. Eu também tinha minha mãe, uma velhinha, e quando me disseram que o animal podia matá-la, não pensei mais, meus meninos, tomei de uma arma e parti num bando.

“Todos quantos nos viam passar abençoavam-nos: um, porque nós íamos defender a sua casa; a mãe, porque íamos evitar que a fera lhe viesse arrancar o filho dos braços; o enfermo, porque não consentiríamos que fosse maltratado. Os velhos mostravam-nos os cabelos brancos, as donzelas atiravam-nos flores, e nós seguíamos, levando todas essas lembranças num registro, que um dos nossos conduzia, para que sempre lembrássemos do que viríamos e ouviríamos.

“E chegamos ao sítio em que a fera errava. Ah! Meus meninos! Quanto mal ela já havia feito! Quanta criancinha órfã, quanta cabana reduzida a cinzas, quantos campos devastados! Felizmente, encontramo-la e o combate travou-se.

“Muitos dos meus companheiros lá ficaram, devorados pelo dragão terrível; eu, mais feliz, apenas perdi uma perna, e não me arrependo, nem lastimo a dor que sofri, porque, de volta à casa, encontrei minha mãe fiando, e vi minha terra tranquila e farta, todas as mães contentes, e os velhos respeitados.

“Que seria de vossa mães, meus meninos? Talvez tivessem sido vítimas como outras foram...”

— E que bicho era? Perguntou o pequeno curioso.

— A guerra, meu menino! — disse o inválido — Foi na guerra que deixei a minha perna, e não me arrependo: fiz o meu dever, defendendo a minha Pátria, e, quando voltei com peito coberto de medalhas, ainda achei minha velha mãe que me abençoou. Hoje estou velho e doente, e os meninos riem-se de mim...

— Não riremos mais! — disse um pequeno com os olhos rasos d’água, e atirando-se ao pescoço do velho soldado, pôs-se a dizer, comovido: —“Não riremos mais! Não riremos mais!” 

E o Perna de Pau, no meio das crianças que procuravam abraçá-lo, rindo, mas com duas lágrimas nos olhos, dizia: —Ah! Meus meninos, assim dão cabo de mim! — e todos festejavam o inválido, prometiam-lhe presentes, abraçavam-no.

Felizmente pôs termo ao assalto de ternura a sineta, chamando para a aula…

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HENRIQUE MAXIMIANO COELHO NETTO nasceu em Caxias/MA, em 1864 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1934. Ingressou na Faculdade de Direito do Recife. No Rio de Janeiro, conheceu José do Patrocínio, que o introduziu na redação do jornal Gazeta da Tarde e no periódico A Cidade do Rio, época em que começou a publicar os seus contos. No início da República, além de jornalista e professor de literatura e teatro, foi deputado federal, pelo Maranhão, em três legislaturas. Em 1890, casou-se e teve catorze filhos. Nesse mesmo ano ocupou a Secretaria do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Sua residência no Rio, na rua do Rocio, tornou-se famosa como ponto de encontro de celebridades e artistas. Nas reuniões animadas por declamadores e músicos, era comum a presença de Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Humberto de Campos. Além de jornalista, Coelho Neto estreou na literatura, em 1891, com o livro de contos "Rapsódias". Em 1892, lecionou História da Arte na Escola Nacional de Belas Artes e Literatura no Colégio Pedro II. Coelho Neto realizou uma obra extensa, que chega a mais de cem volumes, entre romances, contos, crônicas, memórias, conferências, teatro, crítica e poesia. Em 1896, Coelho Neto participou das primeiras reuniões com objetivo de criar a Academia Brasileira de Letras. Em seguida, tornou-se sócio fundador da cadeira de nº 2 e foi presidente em 1926. Em 1910, Coelho Neto foi nomeado para a cátedra de História do Teatro e Literatura Dramática na Escola de Arte Dramática. Em 1928, foi consagrado como “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”, em uma votação realizada pela revista O Malho. Coelho Neto era um dos mais lidos e prestigiados escritores de seu tempo, porém, no final da década de 1920, os modernistas passaram a criticar a forma pomposa e rebuscada, cheias de artifícios retóricos em muitos de seus textos e que não seriam capazes de enfrentar os grandes dilemas da nacionalidade. Algumas obras: os romances Capital Federal (1893), Inverno em Flor (1897), Turbilhão (1906), O Rei Negro (1914), contos: Jardim das Oliveiras (1908), Vida Mundana (1909), Banzo (1913), Contos da Vida e da Morte (1927) e outros.

Fontes:
Olavo Bilac e Coelho Netto. Contos pátrios para crianças. Publicado originalmente em 1931. Disponível em Domínio Público.
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José Luiz Boromelo (Lição canina)


Seria naquele fim de semana. Já tinha ajeitado a caixa de papelão alguns dias antes. Como me desfazer dos filhotes que vi nascer e já faziam parte da família? Razões para justificar a atitude radical não faltavam: a cachorrada se tornara inconveniente ao extremo. Tripudiavam qualquer tentativa de contenção mais enérgica. Tudo o que encontravam pela frente era alvo certo para os afiados caninos de leite, que variavam de calçados a roupas, vassouras, pés de mesa, flores, enfim, vivenciaram com plenitude a inquietante fase oral. Da ninhada de sete, três tiveram a sorte de serem doados ainda filhotes para quem lhes dedicasse carinho e atenção. Os demais, já um tanto crescidos ficaram com a mãe, que sofria demasiadamente com o assédio ininterrupto do quarteto da bagunça.

Os incômodos não se restringiam somente a baderna costumeira. As vasilhas de alimentação tinham que ser repostas frequentemente e o resultado não poderia ser outro: as “lembranças” acumulavam-se aos montes. O esforço e a dedicação em acostumá-los a usar apenas um espaço reservado àquelas particularidades foram inúteis. A recepção aos visitantes (apesar dos avisos constantes de “perigo, área minada”) era premiada com sorrisos, apertos de mão e algumas engraxadas certeiras, o que causava constrangimentos.

A razão enfim, falou mais alto. Um por um foram colocados na caixa com a certeza de que não voltariam mais. Sobrou até para a prolifera matriarca, designada especialmente para a quase impossível missão de proteger sua desfalcada prole em outras paragens, inserida no último instante para a lista dos deportados. 

A viagem ao destino final dos agora ex-protegidos foi dolorosa e a saudade já se fazia presente. Tive o ímpeto de trazer a tropa de volta, mas a determinação imperou naquele momento. Afinal, eram apenas cães e seriam confiados a uma família disposta a lhes promover o bem estar em local adequado, requisitos básicos que não tiveram com seu primeiro dono.

Nunca imaginei que uma simples atitude me traria tanta tristeza, apesar da necessidade em se manter a casa e adjacências com certa higiene. O silêncio predominante agora incomoda. A paz voltou a reinar, com todos os seus ônus. É frustrante quando pagamos um alto preço por determinadas atitudes.

Meses depois, eis que encontro em plena rua a progenitora canina, latindo com todas as suas forças ao reconhecer o carro. Decidi reconduzi-la ao antigo lar, de onde espero nunca mais retirá-la. Daquele dia em diante mudei radicalmente minha opinião sobre os cães. 

Agora acredito que eles possuem emoções, como qualquer ser humano. E que a expressão “o melhor amigo do homem” é deveras verdadeira. Seja na alegria da simples companhia ou na fidelidade demonstrada no dia a dia. Aprendi que eles têm o poder de mostrar o quanto somos insensíveis e impregnados de orgulho. Que carregamos diuturnamente o inexplicável sentimento de superioridade. A lição recebida foi assimilada, mesmo porque não tenho como mudar o passado. E assim, Deus mostra toda nossa insignificância perante os seres que colocou nesse mundo.

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JOSÉ LUIZ BOROMELO, é de Marialva/PR, policial rodoviário aposentado, escritor, cronista e agricultor, colaborador da Orquestra Municipal Raiz Sertaneja.

Fontes:
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José Feldman (Fábula do Leão e da Raposa)


Era uma vez, em uma vasta savana, um leão majestoso chamado Leon. Ele era o rei da selva, respeitado por sua força e coragem. No entanto, Leon tinha um temperamento explosivo e se deixava levar facilmente pela raiva. Qualquer desavença ou desobediência o deixava furioso.

Em uma manhã ensolarada, enquanto Leon descansava sob uma árvore, uma raposa chamada Rina passou por perto. Ela era conhecida por sua astúcia e inteligência, mas também por sua curiosidade. Ao ver o leão dormindo, ela decidiu se aproximar, mas inadvertidamente pisou em seu pé.

Leon acordou com um rugido estrondoso. "Quem ousa me incomodar?" gritou, olhando para a pequena raposa. A raiva tomou conta dele, e ele se preparou para atacar.

Rina, assustada, tentou explicar: "Desculpe, Rei Leon! Foi um acidente! Eu não queria te machucar!"

Mas Leon, consumido pela raiva, não ouviu suas palavras. "Você deve pagar por isso!", rosnou ele, enquanto a raposa tentava escapar.

Desesperada, Rina correu pela savana, e Leon a seguiu, cego pela fúria. A raposa, ágil e esperta, conseguiu se esconder em um buraco de árvore. Leon, frustrado, ficou rugindo do lado de fora, mas não conseguiu alcançá-la.

Após algum tempo, a raiva começou a se dissipar. Leon percebeu que estava se destruindo por causa de um pequeno incidente. Ele se afastou, cansado e envergonhado de sua própria explosão de raiva.

Enquanto isso, Rina, ainda escondida, refletia sobre o que havia acontecido. Ela sabia que precisava encontrar uma maneira de reconciliar-se com o leão. Então, teve uma ideia.

No dia seguinte, Rina fez uma pequena armadilha de ervas e flores, e, ao se aproximar da clareira onde Leon costumava ficar, deixou a armadilha armada. Quando Leon apareceu, sentiu o cheiro doce e se aproximou curioso.

"Olá, Rei Leon!", disse Rina, saindo de seu esconderijo. "Eu trouxe um presente para você. Espero que aceite como um sinal de paz."

Leon, intrigado, olhou para a armadilha e viu que era um presente de boa intenção. Ele lembrou-se de sua raiva e de como quase havia machucado uma amiga inocente. Com um suspiro profundo, decidiu que precisava aprender a controlar suas emoções.

"Obrigado, Rina. Eu agi de forma imprudente", disse Leon, com sinceridade. "A raiva me cega, e eu não quero ser um rei que governa com medo."

A raposa sorriu, aliviada. "Todos temos nossas fraquezas, Leon. O importante é aprender com elas e buscar a compreensão."

A partir daquele dia, Leon trabalhou para controlar sua raiva. Ele se tornou um líder mais sábio e justo, e a amizade entre ele e Rina floresceu. Juntos, eles ensinaram os outros animais sobre a importância de manter a calma e resolver conflitos com compreensão.

Moral da História

A raiva pode nos cegar e nos levar a cometer erros, mas o verdadeiro poder está em aprender a controlar nossas emoções e buscar a paz. A compreensão e a amizade são sempre mais fortes que a fúria.

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JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Poeta, escritor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com uma escritora, poetisa, tradutora e professora da UEM, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, e depois em Maringá/PR desde 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Brasileira de Letras, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria e Voo da Gralha Azul. Assina seus escritos por Floresta/PR. Publicou mais de 500 e-books. Premiações em poesias no Brasil e exterior.

Fontes:
José Feldman. Pérgola de Textos. Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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segunda-feira, 28 de abril de 2025

Asas da Poesia * 13 *


Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES

Filhos da guerra

É noite e aquelas pobres mãos, vazias,
que esmolaram em busca de migalhas
seguram contra o peito, em meio às tralhas,
faminta e escaveirada, uma das crias...

Enquanto o mundo, envolto em tantas falhas,
serve banquete e brinda às regalias
há tantas mães chorando as noites frias
e as procissões cruentas das cangalhas. 

Quem há de retirar a cruz dos ombros
daqueles que palmilham sobre escombros,
dos miseráveis de um país em guerra?...

Quem há de controlar mentes insanas
e ideologias torpes soberanas
que há tanto tempo fazem mal a Terra?...
= = = = = = = = =  

Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/ Portugal

Escrevo-me
nesta vontade de existir para além de mim
de acrescentar rascunhos ao discorrer dos dias
um começo sem um fim em si
devorando instantes na turbulência do caos
Sentado no sofá da minha inquietação
saboreio tragos do vinho iluminado
aguçando o paladar dos sentidos
ébrios momentos de vacilante deambular
Pairo numa nuvem letárgica
o tic-tac dos segundos comprime-me a pele
belisca-me o sentido das coisas
neste pensar desligado de tudo
Escrevo-me
para justificar a minha existência
burilando constantemente o frio gume
do poema da minha irrealidade.
= = = = = = = = =  

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Dormirá nas bermas das estradas
(Manuel Lima Monteiro Andrade in "Mãos abertas" p. 42)

Dormirá pelas bermas das estradas
O sonho a que ninguém abrir o peito
Definhando ao pó sujo e tão desfeito
Onde passam pessoas apressadas.

Bastavam três palavras conversadas
Num olhar de amizade e de respeito
Pão e sopa na mesa e morno leito
Para o salvar de tão frias facadas.

Um sonho é uma riqueza sem dinheiro
Um impulso tão forte e tão inteiro
Que a vida se converte em "quero e posso!"

Num mundo tão ingrato e tão padrasto
Por vezes, quando tudo já foi gasto
O sonho é o sumo bem que ainda é nosso.
= = = = = = = = = 

Poema de
ANDRÉ GRANJA CARNEIRO
Atibaia/SP, 1922 – 2014 , Curitiba/PR

Arqueologia

0 agora é estrela cadente
na subterrânea memória.
Com pincéis delicados
limpo restos à procura da história.
Homem de Piltdown, quero avós primatas.
Arqueólogo amador,
em elos antigos
acrescento asas.
No retrato falta
a ruga deste instante,
o verso vive atrás
sua melhor face.
0 imediato relâmpago submerge em cinzas cinzentas.
A mão com a caneta reinventa no branco do caderno.
Faíscas atrás da testa são
fósseis do amanhã,
neurônios incendeiam
as melhores sinapses
e o poema desaparece
nas placas tectônicas
das bibliotecas.
= = = = = = 

Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

O andarilho

“Não me fale de amor”, alguém me disse,
“o amor morreu, já não existe mais”.
E eu retruquei que aquilo era tolice,
– será pecado alguém amar demais?

Ficou parado ali, talvez me ouvisse
que o amor perdoa e espera, sem jamais
querer em troca o favo da meiguice
que perpetua a vida entre os casais.

O tempo foi passando e pela rua
eu vi aquele vulto olhando a lua
perambulando como um peregrino.

E percebi, então, que aquele rosto
marcado pela dor, pelo desgosto,
nunca teve um Amor em seu destino!
= = = = = = = = =  

Soneto de
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Entardecer

A paz do entardecer... Fascinação...
Com mil beijos de cor sobre o universo!
Eu sinto, bem no fundo, o coração
querer cantar essa beleza em verso.

Fazendo, dessa paz, sublimação,
inunda-se no belo, submerso,
vivendo, assim, total transmutação,
esquecendo que o mundo é tão perverso.

Vai sonhando mil sonhos coloridos,
cantando mil canções, só de alegria,
e esquece a solidão dos tempos idos.

Realizando assim sua utopia,
de posse, então, de sétimos sentidos,
contempla o pôr-do-sol em poesia!
= = = = = = = = =  

Soneto de
MIGUEL RUSSOWSKY
Santa Maria/RS (1923 – 2009) Joaçaba/SC

Arrependimento

Um por um, os meus sonhos, nesta vida,
Despi no andar do tempo modorrento
Qual árvore esfolhada pelo vento
Numa tarde outonal, entristecida.

Quebrei-me um pouco, assim, a cada ida
À procura não sei de qual intento.
Deixei amor, amigos e, ao relento,
Destroços de minha alma enrijecida.

E hoje, velho, ao voltar da caminhada,
Tropeço em meus pedaços pela estrada
Com saudosa visão aqui e ali.

Não mais me iludo, e essa descrença atesta
Que passarei o tempo que me resta
Recolhendo os pedaços que perdi.
= = = = = = = = =  

Soneto de
ALMA WELT
Novo Hamburgo/RS (1972 – 2007)

O interdito

Este senso de beleza que ganhamos
De Deus, em nossa própria natureza,
É o melhor de nós, que desfrutamos
Do paraíso, não perdido, com certeza,

Se jaz em nossa alma assimilado
E posso recompô-lo a cada passo
Quando estou a vagar pelo meu prado,
Diária romaria que ainda faço...

E vejo que está completa a vida,
Não perdemos nada, isso me intriga,
A expulsão nos foi só advertida

Como falsa reprimenda, só um pito
Diante do mistério do interdito
Contra o qual Deus mesmo nos instiga...
= = = = = = = = =  

Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Não opino, nem me meto,
em brigas de namorados;
vocês hoje estão brigando
e amanhã estão abraçados.
= = = = = = = = =  

Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR

Fui ali
Emprestar um pouco
De pó das estrelas
Pra que
Com meu abraço,
Teus olhos
Voltem
A
Brilhar. 
= = = = = = = = =

Soneto de
GÉRSON CÉSAR SOUZA
São Leopoldo/RS

Neblina

Tal qual o véu que cobre um rosto de menina,
tua beleza amanheceu hoje escondida.
Chegou o inverno... e eu te encontro adormecida,
cidade amada, sob um manto de neblina...

Meus passos calmos já conhecem cada esquina,
cada comércio, cada rua ou avenida.
Mesmo esta névoa é uma velha conhecida,
parceira antiga na jornada matutina.

Eu acompanho este momento em que despertas:
luzes se acendem... as janelas são abertas...
e o sonolento vai e vem da nossa gente.

Quando a neblina vai, por fim, se dissipando,
alto no céu há um sol ansioso te esperando
para abraçar teu frio e dar-te um beijo quente!
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Aldravia de
MARÍLIA SIQUEIRA LACERDA
Ipatinga/MG

noite
dia
silêncio
dobrado
feriado
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Setilha de
JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Entre as coisas que a vida me propôs,
desde o tempo feliz da tenra idade,
e eu procuro seguir com todo o empenho,
vêm, na linha de frente, a honestidade
e os princípios do amor e da harmonia,
porque Deus vai querer que eu prove, um dia,
o que fiz pra ganhar a eternidade.
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Epigrama de
ANTÔNIO SALES
Fortaleza/CE, 1868 – 1940

A opinião severíssima
te condena sem razão:
tu serias fidelíssima
se fosses… mulher de Adão.
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Poema de
FERNANDO PESSOA
Lisboa/Portugal, 1888 – 1935

A morte é a curva da estrada 

A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te ouço a passada
existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Décima de
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/RN. 1951 – 2013, Natal/RN

O sertão é um poema…

Deus na sua magnitude,
fez do sertão um palácio,
deixou escrito um prefácio
na parede do açude;
disse da vicissitude
da flor e do gineceu,
de um concriz que se escondeu
nos garranchos da jurema,
o sertão é um poema
que a natureza escreveu.
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Trova de
CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP

Os braços vindos de guetos,
sob o sol ou sob a lua,
amarelos, brancos, pretos,
clamam justiça na rua.
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Indriso de
ISIDRO ITURAT
São Paulo/SP

Lua cheia

A velha mandinga contava à sua neta
sobre os sortilégios da Mãe Lua,
lá na boa noite, lá na noite quieta:

“Para a deusa nunca vais olhar,
porque se te mira quando tu a miras,
o Pássaro Prata ouvirás cantar.

E ao canto da ave o ventre se alua

e do bom marido, saberás das iras”
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Mensagem na Garrafa = 140 =


LUCIANA SOARES CHAGAS 
Rio de Janeiro/RJ

Só eu sei por que

Eu não sei por que, não sei dizer, não me peça para explicar, mas foi assim...

Já parei para pensar muitas vezes e continuo sem saber o porquê, sem saber explicar, eu só sei que foi assim...

Ver tua foto, depois fechar os olhos e ver-te perto. 

Quero manter os olhos fechados, porque te sinto a mim abraçado e todos os meus sentidos despertos. 

Eu não sei por que, não sei dizer, não me peça para explicar, eu só sei que foi assim...

Vou continuar olhando tua foto, para de olhos fechados ver teu sorriso aberto.

Me espera, só mais um pouco, eu estou chegando...

Mas, se quiser sonhar meu sonho, eu também estou aqui, de braços abertos, para me sentires bem perto, muito perto.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 

LUCIANA SOARES CHAGAS é do Rio de Janeiro/RJ. Doutoranda em Educação, Mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade. Especialista em Gestão de Recursos Humanos. Formação em Pedagogia Empresarial. Especialização em Mídias e Tecnologia na Educação pela Universidade Veiga de Almeida e Licenciatura em Pedagogia. Docente há mais de 10 anos dos cursos de MBAs do Núcleo de Negócios e das Pós Graduação de Educação. Palestrante nas Jornadas presenciais para os alunos da EaD. Atuou como Instrutora comportamental em empresas como ABRADECONT, Marinha de Brasil-EMGEPRON, Miriam S.A., CIPA Administradora (BKR-Lopes e Machado), IBEF, Casa de Cultura (SevenStarmarketing). Diretora e sócia da Prassos Treinamento Empresarial. Autora de diversos E-books de disciplinas da área de Pedagogia na Universidade Veiga de Almeida e Organizadora do Livro E-Book da Coletânea de textos sobre inclusão escolar: Pedagogia.

Fontes:
Texto enviado pela autora.

Eduardo Martínez (O café e a avó)


A minha relação com o café não é de hoje, mas também não posso dizer que sempre foi apaixonada. Ainda me lembro quando a minha avó pegava a garrafa térmica e dava uma sutil chorada sobre a minha xícara repleta de leite. Ficava aquele tom marrom bem clarinho, o gosto era agradável ao meu paladar infantil, talvez por compartilhar mais esse momento ao lado daquela mulher tão encantadora aos meus olhos. 

Já na adolescência, abandonei por completo o café. Não gostava nem daquelas balas com esse sabor. Aliás, não conseguia entender como é que alguém gostava daquilo. Não sei se é por causa da busca por novos caminhos ou, então, simplesmente por causa do turbilhão de hormônios. E foi assim por  mais alguns anos, até que me tornei funcionário do Banco do Brasil, ali em Copacabana. Voltei a tomar café, um café ruim, mais doce que rapadura, provavelmente para fazer uma social com os colegas. Seja como for, deixei de ignorar esse hábito tão brasileiro. 

Lá em casa, o pó durava um tempão. Pra falar a verdade, eu até sabia fazer, pois havia visto tantas e tantas vezes a minha avó preparando. Todavia, creio que não tinha feito uma vez sequer. Até que um dia, não sei por que cargas d'água, cismei em preparar um pouco. 

Lá fui eu atrás daqueles filtros de papel pelos armários da cozinha. Achei, mas a caixa estava mofada. Desci e fui ao mercado, quase em frente ao edifício onde morava, na rua Voluntários da Pátria, em Botafogo. 

Procurei pelas prateleiras e, quando eu já estava indo em direção ao caixa, meus olhos se fixaram naqueles coadores de pano. A imagem da minha avó logo me veio à mente e quase joguei os tais filtros de papel pro alto. Obviamente, não fiz isso. 

Peguei o coador de pano, que me encorajou a buscar pelo café mais adequado para aquela ocasião. Foi aí que percebi que a variação dos preços era enorme! Mesmo assim, escolhi a que mais me agradou, talvez influenciado pela bela imagem de grãos inteiros e torrados do rótulo.

Corri de volta, entrei na cozinha quase esbaforido. Coloquei a água para ferver, enquanto admirava aquele coador. Abri a embalagem do café e senti aquele aroma que tanto me lembrava a minha avó. 

Momentos depois, lá estava eu na sacada, com uma xícara nas mãos, sentindo aquele quentinho inebriar meu coração. Sorvi um pouco do líquido preto, ao mesmo tempo em que meus olhos, saudosos, se fechavam. O café estava sem açúcar. Aliás, de doce já basta a vida!
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Eduardo Martínez possui formação em Jornalismo, Medicina Veterinária e Engenharia Agronômica. Editor de Cultura e colunista do Notibras, autor dos livros "57 Contos e crônicas por um autor muito velho", "Despido de ilusões", "Meu melhor amigo e eu" e "Raquel", além de dezenas de participações em coletânea. Reside em Porto Alegre/RS.

Fontes:
Blog do Menino Dudu. 28.01.2022
https://blogdomeninodudu.blogspot.com/2022/01/o-cafe-e-avo.html
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Silmar Bohrer (Croniquinha) 133


Bifurcado mundo de mundos-vida. 

Muitos.

Mundo de alegrias, mundo de espertezas, mundo colorido, mundo virado, mundo de arrogâncias. 

Mundo de riquezas, mundo de nuances, mundo de ingenuidades, mundo de pobreza, mundo perdido.

Mundo de instâncias, mundo de tristezas, mundo de ignorâncias, mundo dos espertos, mundo cão. 

Mundo de maldades, mundo de ingratidão, mundo de falsidades, mundo de arrastos, mundo de arrestos. 

Sempre sobra um mundinho para cada um de nós. 

Mundo velho sem porteira.
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Silmar Bohrer nasceu em Canela/RS em 1950, com sete anos foi para em Porto União-SC, com vinte anos, fixou-se em Caçador/SC. Aposentado da Caixa Econômica Federal há quinze anos, segue a missão do seu escrever, incentivando a leitura e a escrita em escolas, como também palestras em locais com envolvimento cultural. Criou o MAC - Movimento de Ação Cultural no oeste catarinense, movimentando autores de várias cidades como palestrantes e outras atividades culturais. Fundou a ACLA-Academia Caçadorense de Letras e Artes. Membro da Confraria dos Escritores de Joinville e Confraria Brasileira de Letras. Editou os livros: Vitrais Interiores  (1999); Gamela de Versos (2004); Lampejos (2004); Mais Lampejos (2011); Sonetos (2006) e Trovas (2007).

Fontes:
Texto enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

Arthur Thomaz (A chuva e os mistérios)


Em uma tarde chuvosa, enquanto eu escrevia, ouvi uma voz insistente chamar lá de fora.

Abri a porta da varanda e não vislumbrei ninguém. Estava quase voltando, quando ouvi.

– Sou a Chuva, velho amigo.

– Opa! Fazia tempo que não nos víamos. Há muito tempo eu queria conversar com você.

Ela respondeu imediatamente.

– Sim, mas tenho uma séria reclamação a fazer.

– Então, faça, minha amiga.

– Minha mágoa é você ter colocado em seus três livros anteriores todos os fenômenos naturais, menos eu.

Eu sorri, e disse, cuidando para não magoá-la.

– Amiga, querida, é que todas as vezes em que eu a procurei para conversar, eu fiquei molhado demais.

Ela gargalhou depois de ouvir a minha tolice.

Com o ambiente entre nós dois já mais “desanuviado”, prosseguimos.

Ela, zombando, disse.

– Fique aí embaixo do telhado da varanda, para não se molhar e pegar uma pneumonia, coisa muito comum e perigosa em idosos.

Tive que rir da brincadeira e devolvi.

– Estou reparando que os cientistas têm razão em afirmar que as chuvas atuais são muito ácidas.

Rimos muito e decidimos começar a tratar de assuntos mais relevantes.

– Amigo, você tem acompanhado o massacre que tenho sofrido da mídia?

– Realmente, eles têm sido bem contundentes quando se referem a você.

– Em minha defesa, vamos lá, por etapas.

E prosseguiu, já um pouco irritada.

– Os humanos aquecem desenfreadamente o planeta, causando o degelo nos polos, ou seja, aumentam o meu volume. Impermeabilizam o solo com asfaltamento. Quando eu me precipito, não há muita área de absorção, e eu corro atrás de um leito. Nesse caminho acontecem as fatalidades.

Eu complementei.

– Sim, os transbordamentos, inundações e desmoronamentos.

– Inevitáveis, velho amigo, e eu só tentando encontrar meu curso natural.

– O interessante, minha amiga, é que, quando você não aparece, todos reclamam da seca, com a consequente perda na agricultura e pecuária.

– E as “moças do tempo” nos canais de televisão, me culpando pela baixa umidade do ar!

Sorri para suavizar o ambiente e brinquei.

– Você virou a inimiga número 1 do planeta.

Também sorrindo, completou.

– E não consigo lavar essa mancha na minha reputação.

Rimos, e ela prosseguiu.

– Espero que você não coloque em seu livro o que vou lhe contar.

– Não vou lhe prometer, afinal, sou fiel aos leitores, e se for de relevância, seguirei minha conduta.

– Eu já imaginava, mas contarei assim mesmo.

– É um relato, para você ver como é difícil ser chuva nos dias atuais. Eu vinha, sossegadamente, por uma enxurrada, quando tropecei em uma lata, deixada na rua por algum imbecil, dei uma cambalhota e mergulhei dentro do bueiro, do qual alguém, sem escrúpulos, retirara a tampa. E enfiei meu rosto em um monte de fezes humanas acumuladas lá no fundo. “Eu me sujei, e eu lavei a mim mesma, com minhas próprias mãos”, por muito tempo, até desaparecer aquele cheiro horroroso.

Rimos por bastante tempo, até podermos reatar nossa conversa.

– Velho amigo, já que você vai narrar essa minha cômica desventura, deixe-me contar aos seus leitores algo que aconteceu com você e comigo há tempos.

Sem condições de contrariá-la, concordei.

– Na década de 70, um rapaz dirigiu de Campinas ao Rio de Janeiro, para passar a noite de réveillon com amigos. Durante a comemoração, ele tomou algumas taças de vinho a mais, levado pela emoção da data festiva.

Continuou.

– Esse rapaz precisava sair mais cedo da festa, para ir à casa de outros amigos na Tijuca. Após dirigir por algum tempo, achou mais prudente dormir no carro por uns minutos, para amenizar o efeito etílico e deixar passar a intensa chuva. Acordou e percebeu que seu carro não estava no lugar, mas encostado em uma árvore, no meio de uma enxurrada.

Nessa hora interrompi sua fala.

– Minha amiga, foi uma das piores sensações que tive, sem saber onde estava e como o meu fusca teria ido parar ali.

Chuva deu uma sonora gargalhada e completou o relato.

– Pois é, meu amigo, eu estava em ação, na madrugada da Cidade Maravilhosa, quando deparei-me com um carro aparentemente sem motorista, sendo levado na direção de um rio. Ao observar mais detalhadamente, vi uma pessoa dentro do veículo. Rapidamente, desviei a correnteza em direção a uma grande árvore para evitar uma provável tragédia.

Atônito com o relato da história, eu disse.

– Ah! Alguns integrantes do Corpo de Bombeiros, que vieram ver se eu estava bem, me falaram que eu tive sorte porque o carro estava indo em direção ao rio Maracanã e provavelmente teria problemas para sair de dentro dele.

Em um tom afetuoso, ela prosseguiu.

– Viu, meu caro, foi assim que eu conheci você, embora nunca tenha lhe contado isso.

– Devo-lhe muita gratidão, minha amiga. Mas você poderia explicar como conhecia os detalhes do cansaço da minha viagem ao Rio de Janeiro e a quantidade exagerada de taças de vinho que tomei na festa?

Riu durante um bom tempo e disse.

– Insondáveis mistérios, meu querido amigo. Aliás, um sugestivo título para este seu novo livro.

Afirmando que precisava atuar em outras paragens, deu-me um demorado e molhado abraço, e rindo, prometeu retornar em breve.

Totalmente encharcado, corri para registrar nosso encontro, pensando em como a Chuva ficou sabendo que este meu livro se intitularia “Insondáveis!”.
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Arthur Thomaz é natural de Campinas/SP. Segundo Tenente da Reserva do Exército Brasileiro e médico anestesista, aposentado. Trovador e escritor, publicou os livros: “Rimando Ilusões”, “Leves Contos ao Léu – Volume I, “Leves Contos ao Léu Mirabolantes – Volume II”, “Leves Contos ao Léu – Imponderáveis”, “Leves Aventuras ao Léu: O Mistério da Princesa dos Rios”, “Leves Contos ao Léu – Insondáveis”, “Rimando Sonhos” e “Leves Romances ao Léu: Pedro Centauro”.

Fontes:
Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: insondáveis. 1. ed. Santos/SP: Bueno Editora, 2024. 
Enviado pelo autor 
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