sábado, 23 de novembro de 2024

Vereda da Poesia = 164 =


Trova de
SILVANA S. CAÚMO
São Paulo/SP

Pra chegar onde cheguei,
foi bem longa a caminhada,
muitos tombos eu levei,
mas, por Deus fui compensada.
= = = = = =

Poema de 
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESSEN
Lisboa (1919 – 2004) Porto

Cantata de paz

Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar

Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror

A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças

D'África e Vietnam
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados

Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado.
= = = = = = 

Trova de
ALOÍSIO ALVES DA COSTA
Umari/CE (1935 – 2010) Fortaleza/CE

Quando o amor se faz lembrança
e a solidão nos invade,
ou se vive de esperança,
ou se morre de saudade…
= = = = = = 

Soneto de
VICENTE DE CARVALHO
Santos/SP (1866 – 1924)

Velho tema (III)

Belas, airosas, pálidas, altivas,
Como tu mesma, outras mulheres vejo:
São rainhas, e segue-as num cortejo
Extensa multidão de almas cativas.

Têm a alvura do mármore; lascivas
Formas; os lábios feitos para o beijo;
E indiferente e desdenhoso as vejo
Belas, airosas, pálidas, altivas...

Por quê? Porque lhes falta a todas elas,
Mesmo às que são mais puras e mais belas,
Um detalhe sutil, um quase nada:

Falta-lhes a paixão que em mim te exalta,
E entre os encantos de que brilham, falta
O vago encanto da mulher amada.
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Bodas de Ouro!  Nosso beijo
retrata nossa ventura:
o que lhe falta em desejo,
hoje lhe sobra em ternura...
= = = = = = 

Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

A Rua dos Cata-ventos (VII)

Avozinha Garoa vai contando
Suas lindas histórias, à lareira.
"Era uma vez... Um dia... Eis senão quando..."
Até parece que a cidade inteira

Sob a garoa adormeceu sonhando...
Nisto, um rumor de rodas em carreira...
Clarins, ao longe... (É o Rei que anda buscando
O pezinho da Gata Borralheira!)

Cerro os olhos, a tarde cai, macia...
Aberto em meio, o livro inda não lido
Inutilmente sobre os joelhos pousa...

E a chuva um'outra história principia,
Para embalar meu coração dorido
Que está pensando, sempre, em outra cousa…
= = = = = = = = = 

Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Saudade – no fim do dia, 
já sei por que me dói tanto: 
aumenta a melancolia, 
dobra as dores do meu pranto! 
= = = = = = 

Poema de 
JOSÉ PEDRO DA SILVA CAMPOS D’OLIVEIRA
Moçambique (1847 – 1911)

A Uma Virgem
(Improviso)

Motora dos meus martírios!
Causa da minha saudade!
Ingênua e casta deidade!
Minha terna inspiração!
Condoi-te da triste sorte
Do jovem que te ama tanto,
Que por ti verte agro pranto
Gerado no coração!
Rasga-me o peito, se queres,
E vê nele a intensa chama,
Que há três anos o inflama
Em cruas dores, sem fim...
De padecer já cansado
Vou sentindo a morte dura
Arrastar-me à sepultura,
E na flor da idade assim!...

E podes ser tão tirana,
Que possas ver indif´rente
D´anos de´nove somente
Morrer o teu trovador?!
Ai! Não! Alenta-me a vida,
Reprime esta dor infinda
Dando-me só, virgem linda,
O teu puro e casto amor!...

(obs: foi mantida a grafia original)
= = = = = = 

Trova Humorística de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Bebe a sogra mais que Baco
e, tendo um gênio de cão,
consegue armar um barraco
maior que meu barracão!
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Esperança

Enquanto há vida, eu sei, há esperança
que é uma das virtudes teologais,
foi isso que aprendi desde criança
e na verdade não esqueci jamais.

As outras são: o amor que não se cansa,
e a fé, que todo dia eu tenho mais!
E aí, querida, está minha confiança:
juntos faremos nossos esponsais!

Vou esperar o quanto for preciso,
certo de que não perderei o juízo,
até o dia que você me amar.

E nesse dia eu serei tão feliz,
que vou levar você até a Matriz,
e sob bênçãos, vamos nos casar!
= = = = = = 

Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Se esse teu brilho me cega,
me condena à escuridão,
saibas que a luz não renega
a sombra que faz no chão!
= = = = = = 

Hino de 
SÃO TOMÉ/PR

Quando os homens rasgaram um dia
Os mistérios do velho sertão
Entenderam por certo que havia
Um poder incomum neste chão
Visionários, a voz da esperança.
Numa luta de ardor e de fé
Na paisagem da verde pujança
Projetaram à luz São Tomé

ESTRIBILHO
Na mata virgem deslumbrante,
Rio dos Índios o solo a irrigar
A cachoeira borbulhante
Um poema de amor a entoar,
É tão belo, neste recanto.
Outro igual asseguro não há
São Tomé que eu amo tanto,
É orgulho do meu Paraná.

A riqueza brotando imponente
Desta terra de cor peculiar
A mostrar o valor de tua gente
No labor de uma faina invulgar
Na cadência marcada dos passos
Deste povo que ruma seguro
Carregando alegria nos braços
Para um grande soberbo futuro.
= = = = = = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Tu nasceste nesta rua,
eu nasci além dos mares,
mas foi sempre a mesma lua
que juntou nossos olhares!
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
SOLIDÃO 
(samba-canção, 1961) 
Adelino Moreira

Não, não quero mais o seu amor
Chega de amar, chega de dor
E de esperar em vão

Quando desperto
E vejo o leito vazio
Eu sinto frio no coração

Não, não quero mais ficar sozinha
Já Estou cansada de esperar
Acalentando a promessa
De que um dia
Você vem para ficar

Quem não tem direito ao amor
Não deve amar
Para não sofrer
Para não chorar

Veja meus Deus
A triste sorte minha
Na solidão do quarto
Eu beijo o seu retrato
E vou dormir sozinha
= = = = = = = = = = = = = 

Trova de
LUIZ DE CARVALHO RABELO
Natal/RN

Foi ao criar a "ternura",
que Deus, sabendo-a tão mansa,
colocou-a, ingênua e pura,
nos olhos de uma criança!...
= = = = = = = = = 

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