quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Vereda da Poesia = 170


Trova de
DIVENEI BOSELI
São Paulo/SP

Choro junto à sepultura
de sonhos mortos repleta,
e a razão, mãos na cintura,
diz: – quem mandou ser Poeta?
= = = = = =

Soneto de
PAULO ROBERTO OLIVEIRA CARUSO
Niterói/RJ

Cuidando de tuas pétalas

Devo ter cuidado ao tocar
tuas pétalas adocicadas,
porquanto são-me elas dadas
em assaz incauto confiar!
 
Ademais, são frágeis elas!
Mas são ávidas por afagos.
Os meus toques são bem pagos
com teus ósculos, sorrisos e trelas!
  
Devo tê-las em cuidado,
possuí-las com todo carinho
que uma flor a mim suplique.
  
Tu não tens, porém, suplicado,
porque trato-te com jeitinho.
Que em teu peito este fique!
= = = = = = 

Trova de
DARLY O. BARROS
São Francisco do Sul/SC, 1941 - 2021, São Paulo/SP

Voa, estro, e nada temas, 
delírios são teu destino, 
vai, que eu vivo dos poemas 
que tu compões , e eu...assino. 
= = = = = = 

Poema de
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro/RJ 1901 – 1964

Sugestão 

Sede assim  qualquer coisa 
serena, isenta, fiel.

 Flor que se cumpre, 
sem pergunta. 

Onda que se esforça, 
Por exercício desinteressado. 

Lua que envolve igualmente
 os noivos abraçados
 e os soldados já frios. 

Também como este ar da noite:
 sussurrante de silêncios
 cheio de nascimentos e pétalas.

 Igual à pedra detida,
 sustentando seu demorado destino 
E à nuvem, leve e bela,
 vivendo de nunca chegar a ser.
 
À cigarra, queimando-se em música 
ao camelo que mastiga sua longa solidão, 
ao pássaro que procura o fim do mundo, 
ao boi que vai com inocência para a morte.

 Sede assim qualquer coisa 
Serena, isenta, fiel.

 Não como o resto dos homens.
= = = = = = 

Trova de
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/RN, 1951 – 2013, Natal/RN

Adotei o isolamento, 
feito um ermitão qualquer. 
Pra fugir do casamento 
e das manhas de mulher!...
= = = = = = 

Soneto de
MANUEL BANDEIRA
Recife/PE (1886 – 1968) Rio de Janeiro/RJ

Soneto inglês nº 1

    Quando a morte cerrar meus olhos duros
    — Duros de tantos vãos padecimentos,
    Que pensarão teus peitos imaturos
    Da minha dor de todos os momentos?
    Vejo-te agora alheia, e tão distante:
    Mais que distante — isenta. E bem prevejo,
    Desde já bem prevejo o exato instante
    Em que de outro será não teu desejo,
    Que o não terás, porém teu abandono,
    Tua nudez! Um dia hei de ir embora
    Adormecer no derradeiro sono
    Um dia chorarás... Que importa? Chora.

    Então eu sentirei muito mais perto
    De mim feliz, teu coração incerto.
= = = = = = = = = 

Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Dai-nos ó, Pai, a razão,
desta santa imagem tua…
e que eu reparta o meu pão,
com quem não tem pão na rua!!!
= = = = = = 

Dobradinha Poética (trova e soneto) de
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Bandeirantes/PR

Eterna Partitura

Sonatas intercaladas
antes, durante e depois…
E em nossa pele, trocadas,
as digitais de nós dois!

Antes que eu chegue ao último suspiro
retirarei de mim toda amargura,
indo aos teus braços e em completo giro,
vivenciarei a eterna partitura…

Ali quero aninhar… Nesse retiro,
longe estarei da dor, da desventura,
do desamor, desdém, porque prefiro
o sonho à realidade sem ternura.

Concordes na regência e no compasso,
acordes vibrarão naquele espaço;
nosso desejo exprimirá bem mais…

Harmonizando o amor com melodia,
o maior feito ao fim da sinfonia:
– ter em meu corpo as tuas digitais!…
= = = = = = 

Trova de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Lembranças de amor desfeito...
silêncio em horas tardias,
pois tua ausência em meu leito
dorme onde outrora dormias.
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Exemplo de mãe

Não me admiro de sentir saudade
De meus longínquos tempos de criança,
Vividos na escassez, é bem verdade,
Mas com imenso amor e esperança.

A gente era pobre e a cidade
Nem possuía luz ou segurança
De algum Doutor. Mas nessa qualidade
Aquilo é um sonho em minha lembrança…

Pois o importante é que então vivendo
De modo simples, “remendando o pano”,
só de carinho a gente ia crescendo…

A grande fé em Deus nos consolava,
Mudava em alegria o desengano…
Tal o exemplo que mamãe nos dava!
= = = = = = 

Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Quando a solidão me invade, 
distante do teu carinho, 
eu me agarro na saudade 
para não chorar sozinho!
= = = = = = 

Hino de
FLORÂNIA/RN

Florânia terra querida
Linda filha do sertão
Cantaremos em nossa lira
O que plantaste em nosso coração.

Oh! coração do Seridó
Onde se irradia mais fulgor
Os seresteiros vão cantando
Tua beleza e esplendor.

Rincão cercado de serras
Perfumado de Bugi
Cheio de flores tão belas
Que sempre vão nos seguir.

Tua fé e esperança em festa
Numa eterna melodia
Teus espinhos e pedras se transformam
Em canção e poesia.

Solo puro e bravio
O trabalho nos faz crescer
Sempre humilde e hospitaleiro
Cada dia nos faz vencer.

Ao longo de teus caminhos
Vaqueiros tangem o gado.
E o vento leva as cantigas
Ao santo Monte amado.

Cosme de Abreu é teu exemplo
De coragem e bravura.
Na luta, paz e bondade.
Cheio de amor e candura.

Colhemos tua paz
No branco do algodão
Que é nosso orgulho de colheita
Um pouco de nosso pão.

Oh! Florânia terra querida
De riquezas sem igual
Do Brasil tão querido
Tão bela, sem rival.
= = = = = = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Com ousadia me olhaste, 
ousada eu correspondi. 
Com loucura me abraçaste 
e o resto eu juro, nem vi!
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
POEMA DO OLHAR 
(samba-canção, 1962) 
Evaldo Gouveia e Jair Amorim

Em teu olhar busquei perdão
Busquei sorriso e luz
Achei meu sol
Vivi meu céu
Meu céu em teu olhar

Olhando a ti
Eu me perdi pelos caminhos
Quem me chamar
Vai me encontrar nos teus olhinhos

Em teu olhar, estranho olhar
Meu sonho um dia se acabou
Nos olhos teus
Existe amor, existe adeus
= = = = = = = = =  

Trova de
BAPTISTA NUNES  
Rio de Janeiro/RJ (1883 – 1965)

As dores e os desencantos
 têm dois destinos diversos:
 ou se dissolvem nos prantos,
 ou se desfazem nos versos.
= = = = = = = = = 

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