sexta-feira, 11 de abril de 2008

Rabindranath Tagore (Nas Margens do Ganges)

Se gostas de ouvir narrações dos tempos passados, então senta-te nesse degrau e presta atenção ao chapinhar da água.

Estávamos nas proximidades do mês de Ashwin (Setembro). A ribeira ia cheia. Da escadaria que descia, somente quatro degraus estavam fora da água. Na margem da ribeira cresciam tufos de plantas compactos sob os ramos dos bosques de mangueiras, onde a corrente formava um ângulo e deixava a descoberto três grandes montões de tijolo As barcas de pesca, amarradas aos troncos de babilas, balouçavam-se indolentemente. Os grandes caniços que cobriam o banco de areia captavam os primeiros raios de sol e começavam a florir antes de atingir o seu pleno desenvolvimento.

Os barcos abriam as suas velas sobre a ribeira cheia de sol. O sacerdote, com os seus vasos rituais, dispunha-se a tomar o banho. As mulheres, em grupos, vinham buscar água. Era a hora em que Kusum tinha o costume de aparecer no alto da escadaria e tomar banho.
Mas naquela manhã não a vi chegar. Diante do ghât (Escadaria onde se toma banho), Bhudan e Swarno lamentavam-se. A sua amiga - diziam - tinha sido levada para casa do marido, uma localidade muito afastada da ribeira, e que se distinguia por uma população estranha, casas estranhas e caminhos estranhos.

Entretanto ela quase desapareceu da minha memória. Passou um ano. As mulheres que vinham tomar banho falavam novamente de Kusum. Uma tarde, porém, estremeci ao reconhecer dois pés familiares. Mas ai, eles não traziam anéis e tinham perdido o seu tilintar musical de outrora!

Kusum estava viúva. Dizia-se que o marido fora chamado a uma cidade longínqua e que ela apenas o vira uma ou duas vezes. O correio trouxera-lhe a notícia da sua morte. Viúva aos oito anos, apagara na fronte o sinal vermelho de casada, despojara-se dos seus braceletes e voltara para a velha casa à beira do Ganges. Mas encontrou poucas amigas dos tempos de solteira. Bhudan, Swarno e Amala tinham casado e partido; só Sarat ficara; mas afirmavam que se dispunha a casar em Dezembro.

Da mesma forma que o Ganges, na estação das chuvas aumenta gradualmente de volume e transborda, assim Kusum se aproximava, dia a dia, da plena floração de beleza. Mas com vestes brancas e sem enfeites, de rosto pensativo e atitude calma, lançavam-lhe um véu sobre a juventude e ocultavam-na, como uma bruma, aos olhos dos homens. Dez anos tinham decorrido sem que ninguém reparasse que Kusum se desenvolvia.

Uma manhã, há muitos anos e por esta mesma temperatura de fim de Setembro, um sannyasi (Asceta ou monge) jovem e de pele clara, chegado não se sabe donde, veio abrigar-se no templo de Sivá, na minha frente. A notícia da sua chegada em breve se espalhou por toda a aldeia. Abandonando as bilhas, as mulheres acorriam ao templo para saudar o santo homem.
A multidão aumentava de dia para dia. A fama do sannyasi depressa se espalhou entre as mulheres. Ele, ora recitava o Bhagvat ora comentava o Gita (Bagvat-gita: obra filosófica que faz parte do Ramugana), ou pregava no templo acerca do tema que escolhiam num livro santo. Uns pediam-lhe conselhos, outros os seus sortilégios ou a sua ciência de curar.

Passaram-se meses. Em Abril, na época do eclipse solar, os banhos do Ganges atraíam uma multidão considerável. Uma feira se organizou sob as árvores de babla. Entre os numerosos peregrinos, acorridos para saudar o sannyasi, vinha um grupo de mulheres da aldeia onde Kusum fora casada.

Era uma manhã. O sannyasi, sentado num degrau, rezava, quando, de súbito, entre os peregrinos, uma mulher fazendo sinal a uma das suas companheiras, murmurava:

- Mas é o esposo de Kusum!

A companheira, afastando um pouco o véu exclamou:

- Palavra, é bem ele! É o filho mais novo dos Chattergi, que habita na minha aldeia!

Uma terceira, disse por sua vez:

- Ele tem exatamente a mesma testa, o mesmo nariz e os mesmos olhos.

Enquanto uma outra, sem mesmo olhar para o sannyasi, agitava a sua bilha na água, suspirando:

- Ai! Ele não é nem será o que foi! Pobre da Kusum!
Uma delas objectou então: «Ele não tinha uma barba tão grande»; e outra: «Ele não era tão magro»; uma outra ainda: «Parecia-me mais alto». E a discussão ficou por aí.
Uma noite de lua cheia, Kusum veio sentar-se perto da água, no mais alto dos meus degraus.

A sua sombra projetava-se sobre mim.
Estávamos sós junto do ghât. Os grilos cantavam à nossa volta. O tanger dos gongos e das sinetas do templo tinham cessado e o murmúrio da água era cada vez mais fraco, para se perder em breve, como a saudade dum som, nos bosques indistintos da margem oposta. Um raio da lua brilhava nas águas escuras do Ganges. Ao montante do rio, sob as sebes e arbustos, sob o pórtico do templo e sob os bosques das palmeiras, perfilavam-se sombras de formas fantásticas. Os morcegos balouçavam-se nos ramos de chatuns. Na proximidade das habitações, os chacais soltavam uivos arrepiantes e prolongados.

O sannyasi saiu do templo com o seu passo lento. Desceu alguns degraus ghât e viu uma mulher só. Ia afastar-se quando de súbito Kusum ergueu a cabeça; voltou-se. O véu caiu e a lua iluminou-lhe o rosto.

Um mocho voou por cima da sua cabeça. Ao ouvir o pio da ave ela estremeceu, ajustou o véu e prosternou-se aos pés do sannyasi.

O Sannyasi deu-lhe a bênção e perguntou:

- Quem sois?

Ela respondeu:

- O meu nome é Kusum.

Nessa noite não trocaram mais palavra. Kusum voltou para casa, lentamente, e o sannyasi permaneceu durante longas horas nos degraus do ghât. Quando, enfim, a lua emigrou do este para o oeste, o Sannyasi levantou-se e entrou no templo.

Vi todos os dias Kusum vir prosternar-se aos pés do sannyasi. Quando ele comentava os livros sagrados, permanecia a um canto e escutava-o; quando acabava as suas orações da manhã, ele chamava-a para junto de si e conversava com ela sobre assuntos religiosos. Kusum não podia compreender tudo, mas escutava-o com atenção e fazia esforços para o compreender. Ele dirigia-a e ela obedecia-lhe escrupulosamente. Kusum ajudava o serviço, sempre pronta à adoração de Deus, colhendo flores para a oferenda e indo buscar água ao Ganges para lavar o chão do templo.
O inverno ia terminar. Os ventos eram ainda frios, por vezes; à noite, a brisa quente da primavera soprava bruscamente do sul e o céu tornava-se azulado; depois dum longo silêncio ouvia-se novamente o som das flautas e a música da aldeia. Os barqueiros deixavam ir os barcos ao sabor da corrente, paravam de remar e entoavam cânticos a Krishna. Era a primavera.
Nesta altura, perdi Kusum de vista. Havia alguns dias que ela deixara de aparecer no templo, no ghât ou diante do sannyasi.

Ignoro o que se passou então, mas, pouco depois, os dois encontraram-se de novo, uma noite, nas escadarias.

Com os olhos baixos, Kusum perguntou:

- Senhor, chamou-me?

- Sim, porque não vinhas? Porque esqueceste, há algum tempo, o serviço de Deus?

Ela ficou silenciosa.

- Diz-me o teu pensamento, sem receio.

Voltando o rosto, ela respondeu:

- Senhor, eu sou uma pecadora, faltei ao meu dever de adoração.

O sannyasi disse-lhe:

- Kusum, eu sei que a tua alma está perturbada.

Ela estremeceu ligeiramente; depois, cobrindo o rosto com o Sari, sentou-se no degrau aos pés do sannyasi e começou a chorar.

Ele recuou um pouco e continuou:

- Diz-me o que tens no coração; eu te mostrarei o caminho da paz.

Ela respondeu com fé e palavras entrecortadas:

- Se me ordena, falarei. Mas receio que não possa exprimir-me com clareza. Mestre, certamente adivinhou tudo. Eu adorei um ser humano como a um Deus, venerei-o, e, ao render-lhe este culto, o meu coração transbordou de felicidade. Mas uma noite, eu sonhei que o Senhor da minha alma estava sentado num jardim, estreitando a minha mão direita na sua mão esquerda e murmurava palavras de amor. A cena não parecia de forma alguma estranha. O sonho desfez-se, mas a sua impressão ficou. No dia seguinte, quando os meus olhos se levantaram para ele, pareceu-me diferente. A imagem que me apareceu no sonho continuava a perseguir-me. Atemorizada tentei fugir para longe, mas a imagem não saía do meu espírito. Desde então, a minha alma não conhece a paz, e tudo em mim se tornou sombrio!
Enquanto enxugava as lágrimas ao mesmo tempo que falava, o Sannyasi martelava convulsivamente, com o pé, o degrau de pedra.

Quando ela acabou de contar, o Sannyasi perguntou:

- Diz-me: quem viste no teu sonho?

Com as mãos juntas, ela suplicou:

- Não posso.

Ele insistiu:

- Deves dizer-me tudo.

Ela contorceu as mãos e interrogou:

- Assim o deseja?

- É teu dever! - respondeu o sannyasi.

Então ela exclamou:

- Senhor, fostes vós que eu vi!
E deixando-se cair no degrau, começou a soluçar profundamente.

Quando sossegou e pôde levantar-se, o Sannyasi disse numa voz meiga:

- Deixarei este lugar esta mesma noite e não me verás mais. Sabes que sou um sannyasi e que não pertenço a este mundo. Deves esquecer-me.
Kusum respondeu em voz baixa:

- Assim farei, Senhor!

O sannyasi murmurou:

- Digo-te adeus...

Sem dizer palavra, Kusum inclinou-se e tocou os pés do sannyasi com a fronte.
E o santo homem deixou a aldeia.

A lua desaparecera; a noite tornou-se escura. Ouvia-se o chapinhar da água. O vento soprava furiosamente nas trevas, como se quisesse varrer as estrelas do céu.

Fontes:
http://www.beatrix.pro.br/
http://www.starnews2001.com.br (imagem)



Rabinbdranath Tagore (Mãe)

Obrigado pelos sorrisos que deste
mesmo quando preocupada.
Obrigado por chorares por mim
quando te fiz sofrer tanto.

Obrigado por seres valente,
defendendo-me dos dardos ardentes do Diabo.
Jamais faltaste durante o meu medo
e clamaste Deus como minha fortaleza também.

Entreteceste memórias felizes, reunidas para nós,
Partilhando meus pensamentos, meus abraços
e meus sonhos.
Escutando os meus receios e secando
minhas lágrimas;
Preocupando, esperando e rezando por mim.

Devido à força que recebi
graças ao teu amor e devoção,
Houve esperança para mim,
Houve um caminho a seguir.

Quão abençoado sou
por te conhecer, ter-te para mim.
Quão mais abençoado sou
por me erguer e chamar-te minha mãe.

Fonte:
http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo.php?c=4048

Rachel de Queiroz (1910 – 2003)

"[...] tento, com a maior insistência, embora com tão
precário resultado (como se tornou evidente), incorporar
a linguagem que falo e escuto no meu ambiente nativo à
língua com que ganho a vida nas folhas impressas. Não
que o faça por novidade, apenas por necessidade.
Meu parente José de Alencar quase um século atrás vivia
brigando por isso e fez escola."

Rachel de Queiroz, nasceu em Fortaleza - CE, no dia 17 de novembro de 1910, filha de Daniel de Queiroz e de Clotilde Franklin de Queiroz, descendendo, pelo lado materno, da estirpe dos Alencar (sua bisavó materna — "dona Miliquinha" — era prima José de Alencar, autor de "O Guarani"), e, pelo lado paterno, dos Queiroz, família de raízes profundamente lançadas em Quixadá, onde residiam e seu pai era Juiz de Direito nessa época.

Em 1913, voltam a Fortaleza, face à nomeação de seu pai para o cargo de promotor. Após um ano no cargo, ele pede demissão e vai lecionar Geografia no Liceu. Dedica-se pessoalmente à educação de Rachel, ensinando-a a ler, cavalgar e a nadar. As cinco anos a escritora leu "Ubirajara", de José de Alencar, "obviamente sem entender nada", como gosta de frisar.

Fugindo dos horrores da seca de 1915, em julho de 1917 transfere-se com sua família para o Rio de Janeiro, fato esse que seria mais tarde aproveitado pela escritora como tema de seu livro de estréia, "O Quinze".

Logo depois da chegada, em novembro, mudam-se para Belém do Pará, onde residem por dois anos. Retornam ao Ceará, inicialmente para Guaramiranga e depois Quixadá, onde Rachel é matriculada no curso normal, como interna do Colégio Imaculada Conceição, formando-se professora em 1925, aos 15 anos de idade. Sua formação escolar pára aí.

Rachel retorna à fazenda dos pais, em Quixadá. Dedica-se inteiramente à leitura, orientada por sua mãe, sempre atualizada com lançamento nacionais e estrangeiros, em especial os franceses. O constante ler estimula os primeiros escritos. Envergonhada, não mostrava seus textos a ninguém.

Em 1926, nasce sua irmã caçula, Maria Luiza. Os outros irmãos eram Roberto, Flávio e Luciano, já falecidos).

Com o pseudônimo de "Rita de Queluz" ela envia ao jornal "O Ceará", em 1927, uma carta ironizando o concurso "Rainha dos Estudantes", promovido por aquela publicação. O diretor do jornal, Júlio Ibiapina, amigo de seu pai, diante do sucesso da carta a convida para colaborar com o veículo. Três anos depois, ironicamente, quando exercia as funções de professora substituta de História no colégio onde havia se formado, Rachel foi eleita a "Rainha dos Estudantes". Com a presença do Governador do Estado, a festa da coroação tinha andamento quando chega a notícia do assassinato de João Pessoa. Joga a coroa no chão e deixa às pressas o local, com uma única explicação "Sou repórter".

Seu pai adquire o Sítio do Pici, perto de Fortaleza, para onde a família se transfere. Sua colaboração em "O Ceará" torna-se regular. Publica o folhetim "História de um nome" — sobre as várias encarnações de uma tal Rachel — e organiza a página de literatura do jornal.

Submetida a rígido tratamento de saúde, em 1930, face a uma congestão pulmonar e suspeita de tuberculose, a autora se vê obrigada a fazer repouso e resolve escrever "um livro sobre a seca". "O Quinze" — romance de fundo social, profundamente realista na sua dramática exposição da luta secular de um povo contra a miséria e a seca — é mostrado aos pais, que decidem "emprestar" o dinheiro para sua edição, que é publicada em agosto com uma tiragem de mil exemplares. Diante da reação reticente dos críticos cearenses, remete o livro para o Rio de Janeiro e São Paulo, sendo elogiado por Augusto Frederico Schmidt e Mário de Andrade. O livro logo transformaria Rachel numa personalidade literária. Com o dinheiro da venda dos exemplares, a escritora "paga" o empréstimo dos pais.

Em março de 1931, recebe no Rio de Janeiro o prêmio de romance da Fundação Graça Aranha, mantida pelo escritor, em companhia de Murilo Mendes (poesia) e Cícero Dias (pintura). Conhece integrantes do Partido Comunista; de volta a Fortaleza ajuda a fundar o PC cearense.

Casa-se com o poeta bissexto José Auto da Cruz Oliveira, em 1932. É fichada como "agitadora comunista" pela polícia política de Pernambuco. Seu segundo romance, "João Miguel", estava pronto para ser levado ao editor quando a autora é informada de que deveria submetê-lo a um comitê antes de publicá-lo. Semanas depois, em uma reunião no cais do porto do Rio de Janeiro, é informada de que seu livro não fora aprovado pelo PC, porque nele um operário mata outro. Fingindo concordar, Rachel pega os originais de volta e, depois de dizer que não via no partido autoridade para censurar sua obra, foge do local "em desabalada carreira", rompendo com o Partido Comunista.

Publica o livro pela editora Schmidt, do Rio, e muda-se para São Paulo, onde se aproxima do grupo trotskista.

Nasce, em Fortaleza, no ano de 1933, sua filha Clotilde.

Muda-se para Maceió, em 1935, onde faz amizade com Jorge de Lima, Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Aproxima-se, também, do jornalista Arnon de Mello (pai do futuro presidente da República, Fernando Collor, que a agraciou com a Ordem Nacional do Mérito). Sua filha morre aos 18 meses, vítima de septicemia.

O lançamento do romance "Caminho de Pedras", pela José Olympio - Rio, se dá em 1937, que seria sua editora até 1992. Com a decretação do Estado Novo, seus livros são queimados em Salvador - BA, juntamente com os de Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, sob a acusação de subversivos. Permanece detida, por três meses, na sala de cinema do quartel do Corpo de Bombeiros de Fortaleza.

Em 1939, separa-se de seu marido e muda-se para o Rio, onde publica seu quarto romance, "As Três Marias".

Por intermédio de seu primo, o médico e escritor Pedro Nava, em 1940 conhece o também médico Oyama de Macedo, com quem passa a viver. O casamento duraria até à morte do marido, em 1982. A notícia de que uma picareta de quebrar gelo, por ordem de Stalin, havia esmigalhado o crânio de Trótski faz com que ela se afaste da esquerda.

Deixa de colaborar, em 1944, com os jornais "Correio da Manhã", "O Jornal" e "Diário da Tarde", passando a ser cronista exclusiva da revista "O Cruzeiro", onde permanece até 1975.

Estabelece residência na Ilha do Governador, em 1945.

Seu pai vem a falecer em 1948, ano em que publica "A Donzela e a Moura Torta". No ano de 1950, escreve em quarenta edições da revista "O Cruzeiro" o folhetim "O Galo de Ouro".

Sua primeira peça para o teatro, "Lampião", é montada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e no Teatro Leopoldo Fróes, em São Paulo, no ano de 1953. É agraciada, pela montagem paulista, com o Prêmio Saci, conferido pelo jornal "O Estado de São Paulo".

Recebe, da Academia Brasileira de Letras, em 1957, o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra.

Em 1958, publica a peça "A beata Maria do Egito", montada no Teatro Serrador, no Rio, tendo no papel-título a atriz Glauce Rocha.

O presidente da República, Jânio Quadros, a convida para ocupar o cargo de ministra da Educação, que é recusado. Na época, justificando sua decisão, teria dito: "Sou apenas jornalista e gostaria de continuar sendo apenas jornalista."

O livro "As Três Marias", com ilustrações de Aldemir Martins, em tradução inglesa, é lançado pela University of Texas Press, em 1964.

O golpe militar de 1964 teve em Rachel uma colaboradora, que "conspirou" a favor da deposição do presidente João Goulart.

O presidente general Humberto de Alencar Castelo Branco, seu conterrâneo e aparentado, no ano de 1966 a nomeia para ser delegada do Brasil na 21ª. Sessão da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, junto à Comissão dos Direitos do Homem.

Passa a integrar o Conselho Federal de Cultura, em 1967, e lá ficaria até 1985. Depois de visitar a escritora na Fazenda Não me Deixes, em Quixadá, o presidente Castelo Branco morre em desastre aéreo.

Estréia na literatura infanto-juvenil, em 1969, com "O Menino Mágico", em 1969.

No ano de 1975, publica o romance "Dôra, Doralina".

Em 1977, por 23 votos a 15, e um em branco, Rachel de Queiroz vence o jurista Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda e torna-se a primeira mulher a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras. A eleição acontece no dia 04 de agosto e a posse, em 04 de novembro. Ocupa a cadeira número 5, fundada por Raimundo Correia, tendo como patrono Bernardo Guimarães e ocupada sucessivamente pelo médico Oswaldo Cruz, o poeta Aluísio de Castro e o jurista, crítico e jornalista Cândido Mota Filho.

Seu livro, "O Quinze", é publicado no Japão pela editora Shinsekaisha e na Alemanha pela Suhrkamp, em 1978.

Em 1980, a editora francesa Stock lança "Dôra, Doralina". Estréia da Rede Globo de Televisão a novela "As Três Marias", baseada no romance homônimo da escritora.

Com direção de Perry Salles, estréia no cinema a adaptação de "Dôra, Doralina", em 1981.

Em 1985, é inaugurada em Ramat-Gau, Tel Aviv (Israel), a creche "Casa de Rachel de Queiroz". "O Galo de Ouro" é publicado em livro.

Retorna à literatura infantil, em 1986, com "Cafute & Perna-de-Pau".

A José Olympio Editora lança, em 1989, sua "Obra Reunida", em cinco volumes, com todos os livros que Rachel publicara até então destinados ao público adulto.

Segundo notícia que circulou em 1991, a Editora Siciliano, de São Paulo, pagou US$150.000,00 pelos direitos de publicação da obra completa de Rachel.

Já na nova editora, lança em 1992 o romance "Memorial de Maria Moura".

Em 1993, recebe dos governos do Brasil e de Portugal, o Prêmio Camões e da União Brasileira de Escritores, o Juca Pato. A Siciliano inicia o relançamento de sua obra completa.

1994 marca a estréia, na Rede Globo de Televisão, da minissérie "Memorial de Maria Moura", adaptada da obra da escritora. Tendo no papel principal a atriz Glória Pires, notícias dão conta que Rachel recebeu a quantia de US$50.000,00 de direitos autorais.

Inicia seu livro de memórias, em 1995, escrito em colaboração com a irmã Maria Luiza, que é publicado posteriormente com o título "Tantos anos".

Pelo conjunto de sua obra, em 1996, recebe o Prêmio Moinho Santista.

Em 2000, é publicado "Não me Deixes — Suas histórias e sua cozinha", em colaboração com sua irmã, Maria Luiza.

Em novembro deste ano, quando a escritora completou 90 anos de idade, foi inaugurada, na Academia Brasileira de Letras, a exposição "Viva Rachel". São 17 painéis e um ensaio fotográfico de Eduardo Simões resumindo o que os organizadores da mostra chamam de “geografia interior de Rachel, suas lembranças e a paisagem que inspirou a sua obra”.

Rachel de Queiroz chega aos 90 anos afirmando que não gosta de escrever e o faz para se sustentar. Ela lembra que começou a escrever para jornais aos 19 anos e nunca mais parou, embora considere pequeno o número de livros que publicou. “Para mim, foram só cinco, (além de O Quinze, As Três Marias, Dôra, Doralina, O Galo de Ouro e Memorial de Maria Moura), pois os outros eram compilações de crônicas que fiz para a imprensa, sem muito prazer de escrever, mas porque precisava sustentar-me”, recorda ela. “Na verdade, eu não gosto de escrever e se eu morrer agora, não vão encontrar nada inédito na minha casa”.

Recebe, em 06-12-2000, o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Em 2003, é inaugurado em Quixadá (CE), o Centro Cultural Rachel de Queiroz.

Faleceu, dormindo em sua rede, no dia 04-11-2003, na cidade do Rio de Janeiro. Deixou, aguardando publicação, o livro "Visões: Maurício Albano e Rachel de Queiroz", uma fusão de imagens do Ceará fotografadas por Maurício com textos de Rachel de Queiroz.
Obras Individuais:
- Romances:

- O quinze (1930)
- João Miguel (1932)
- Caminho de pedras (1937)
- As três Marias (1939)
- Dôra, Doralina (1975)
- O galo de ouro (1985) - folhetim na revista " O Cruzeiro", (1950)
- Obra reunida (1989)
- Memorial de Maria Moura (1992)

Literatura Infanto-Juvenil:
- O menino mágico (1969)
- Cafute & Pena-de-Prata (1986)
- Andira (1992)
- Cenas brasileiras - Para gostar de ler 17.

Teatro:
- Lampião (1953)
- A beata Maria do Egito (1958)
- Teatro (1995)
- O padrezinho santo (inédita)
- A sereia voadora (inédita)

Crônica:
- A donzela e a moura torta (1948);
- 100 Crônicas escolhidas (1958)
- O brasileiro perplexo (1964)
- O caçador de tatu (1967)
- As menininhas e outras crônicas (1976)
- O jogador de sinuca e mais historinhas (1980)
- Mapinguari (1964)
- As terras ásperas (1993)
- O homem e o tempo (74 crônicas escolhidas}
- A longa vida que já vivemos
- Um alpendre, uma rede, um açude: 100 crônicas escolhidas
- Cenas brasileiras
- Xerimbabo (ilustrações de Graça Lima)
- Falso mar, falso mundo - 89 crônicas escolhidas (2002)

Antologias:
- Três romances (1948)
- Quatro romances (1960) (O Quinze, João Miguel, Caminho de Pedras,
As três Marias)
- Seleta (1973) - organização de Paulo Rónai

Livros em parceria:

- Brandão entre o mar e o amor (romance - 1942) - com José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Aníbal Machado e Jorge Amado.

- O mistério dos MMM (romance policial - 1962) - Com Viriato Corrêa, Dinah Silveira de Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, Jorge Amado, José Condé, Guimarães Rosa, Antônio Callado e Orígines Lessa.

- Luís e Maria (cartilha de alfabetização de adultos - 1971) - Com Marion Vilas Boas Sá Rego.

- Meu livro de Brasil (Educação Moral e Cívica - 1º. Grau, Volumes 3, 4 e 5 - 1971) - Com Nilda Bethlem.

- O nosso Ceará (com sua irmã, Maria Luiza de Queiroz Salek), relato, 1994.

- Tantos anos (com sua irmã, Maria Luiza de Queiroz Salek), auto-biografia, 1998.

- O Não Me Deixes – Suas Histórias e Sua Cozinha (com sua irmã, Maria Luiza de Queiroz Salek), 2000.

Fonte:
http://www.releituras.com/racheldequeiroz_bio.asp

Rachel de Queiroz (Um caso obscuro)

Não quero fazer campanha contra quem acredita em espíritos, quem tem visões ou ouve "avisos". Espiritismo é religião tão respeitável quanto qualquer outra. Quero apenas prevenir meu amigo leitor contra alguma conversão apressada, porque o fato é que as forças da terra muitas vezes se misturam com as forças do céu.

O caso que passo a contar como exemplo, naturalmente que e verídico. Se fosse a cronista inventar um conto, teria que apurar muito mais o enredo e os personagens, dar-lhes veracidade e complexidade. E, aliás, como ficção ele não teria importância nem sentido. O seu valor único e a autenticidade.

Certa professora de grupo, minha conhecida, tem uma empregada, senhora cinqüentona, de cara séria e jeito discreto, natural de Suruí, no Estado do Rio, de onde veio há poucos meses. E lá em Suruí deixou a mãe cega e enferma, da qual não tinha notícias desde que viera para a cidade. Analfabeta, não escrevia nem recebia cartas. Essa gente da roça não acredita muito em correspondência senão para notícias capitais.

Mas um belo dia acordou a empregada, que se chama Joana, chorando, abaladíssima, queixando-se de estranhas visões. Dizia que passara toda a noite acordada; mas não pudera chamar ninguém porque com o medo ficara sem fala. Sentira uns assopros no ouvido, depois lhe sacudiam a cama, como se fosse um terremoto. Por fim vira a mãe, a velhinha cega, estirada num caixão, metida numa mortalha preta. Toda a manhã a mulher chorou e lamentou-se. A patroa, penalizada, ofereceu-se para mandar um telegrama pedindo noticias. Joana, porém, tinha medo de telegramas:

— E mais medo tem minha mãe. Chegando telegrama lá, se ela ainda estiver viva morre só de susto.

Estavam nisso as coisas quando ao meio-dia aparece na casa da professora um filho homem de Joana, que também reside na cidade. Trazia na mão um envelope fechado, sem carimbo nem selo. Era uma carta vinda em mão própria da sua terra, explicou o moço. E como ele também não sabia ler, pediram à patroa que abrisse e lesse a missiva — aliás curta e comovente.

"Minha irmã como vai esta tem por fim de lhe dizer que a nossa mãe está às portas da morte já de vela na mão. Joana se apresse sinão não vê mais nossa mãe adeus do seu irmão Basílio."

Chegando assim aquela carta, após a série de visões noturnas, era impressionante. E a própria patroa a abrira, excluindo-se assim a possibilidade de conhecimento prévio do conteúdo. Era uma dessas bofetadas que o mundo dos invisíveis atira aos pobres humanos, deixando-os cheios de susto e dúvida. Com seus próprios ouvidos escutara a patroa pela manhã a história do assopro, das sacudidelas na cama, da figura amortalhada no caixão. Com suas mãos recebera a carta, com seus olhos lera o endereço tremido e oblíquo, e depois a lacônica má nova. Naturalmente deu imediata licença a Joana para a viagem. Grande falta lhe faria em casa, mas quem pode pensar em impedir um filho de despedir-se da mãe, à hora da morte? E deu-lhe mais dinheiro, deu-lhe um vestido preto quase novo, consultou o horário dos trens, forneceu provisões para a viagem. Não era só caridade de burguesa progressista que a animava, mas principalmente o interesse do profano por uma criatura feita instrumento das forças do Incognoscível. E Joana partiu. A patroa ficou contando a história aos conhecidos; contou por boca e por telefone. Chegou a contar por carta. Não a repetiu às crianças no grupo só de medo de assustá-las com essas coisas misteriosas que ficam entre o céu e a terra. O caso era tão simples, tão líquido: resumia-se apenas a fatos dos quais ela própria era testemunha. E fazia cálculos: a carta deve ter partido de Suruí na antevéspera, de modo que a velha bem podia estar mesmo morrendo na hora das visões noturnas de Joana. Ficou a esperar impaciente a volta da viajante. Sim, porque Joana pediu que o seu lugar fosse conservado, que, consumado tudo, voltaria. "Nem espero a semana de nojo, patroa. Venho logo depois do enterro."

E, falando em enterro, rompeu em pranto.

Passados oito dias, chegou Joana, mas ainda com a saia estampadinha de encarnado com a qual partira, em vez do vestido de seda preta que lhe dera a patroa, prevendo o luto. Sim, a velha continuava viva. Contou que a mãe estivera de fato muito ruim, vai-não-vai, mas de repente melhorara. Por isso Joana se demorara mais, até que a melhora parecesse segura. E voltou a trabalhar como dantes.

Aquela quase ressurreição desorientou a patroa. Afinal, a velha aparecera de mortalha, e dera o assopro, e sacudira a cama... Mas consultando sobre o assunto os amigos espíritas, eles lhe explicaram que era assim mesmo, e tanto o espírito encarnado como o desencarnado poderia mandar "avisos". Falaram mesmo em corpo astral, e a professora se impressionou muito.

Nesse estado moral ficou, meio abalada, meio crente, até que um dia sucedeu dessas incríveis, dessas raras coincidências que só acontecem na vida real e nos romances de fancaria: recebeu a visita de uma amiga a quem também contara a história da visão. A amiga vinha de propósito lhe narrar a tal coincidência inaudita. Imagine-se que o filho de Joana por acaso fora trabalhar em sua casa, consertando-lhe o jardim. Lá estava fazia uma quinzena quando inexplicavelmente desapareceu por uma semana. Passados os oito dias, voltou, e alegou motivo de moléstia para a ausência.

No jardim, revolvendo os canteiros, podando o fícus, estabeleceu-se entre jardineiro e patroa esse entendimento normal entre companheiros de trabalho, Ela explicava como queria o serviço, ele dizia que na casa do Dr. Fulano fazia assim e assim, que enxerto de mergulha só é bom com lua tal etc. Afinal, ela lhe perguntou que doença fora a sua, dias antes. O rapaz, que enterrava umas batatas de dália, ficou encabulado. Depois, teve assim como um assomo de consciência, e explicou:

— Patroa, falar a verdade é preciso. Não estive doente não. Mas o caso é que minha mãe meteu na idéia ir em casa, com vontade de assistir umas ladainhas que rezam lá no mês de agosto. Como estava num emprego bom, teve medo que a dona-de-casa se zangasse com uma viagem assim à-toa e não guardasse o lugar para ela, de volta. Então se combinou comigo, só por causa de não fazer a moça se zangar. Pegou a ter uns sonhos com a minha avó, enfiava os olhos na fumaça do fogo para sair chorando. Ai eu mandei um companheiro fazer uma carta chamando, dizendo que a velha estava morrendo, lá no Suruí. A patroa consentiu logo, naturalmente. Tive que fazer companhia a minha mãe, assistimos as ladainhas e agora estamos os dois de volta à nossa obrigação...

A moça ficou espantadíssima:

— Mas, criatura, como é que sua mãe teve a coragem de chamar assim morte para cima de sua avó? Vocês não tiveram medo do agouro?

— Qual, dona! Uma velha daquela, cega, doente, em cima duma cama, dando trabalho e consumição a todo mundo, chamar a morte para ela não é agouro; chamar a morte para ela é mais uma obra de caridade. E dai, agouro que fosse, vê-se bem que não pegou...

Fonte:
Queiroz, Rachel de.Quatro Vozes. Ed. Record, 1998.
http://www.releituras.com/racheldequeiroz_umcaso.asp

Rachel de Queirós (O Quinze)

O título se refere a grande seca de 1915, vivida pela escritora em sua infância. O romance se dá em dois planos, um enfocando o vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro a relação afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima culta e professora.

Conceição é apresentada como uma moça que gosta de ler vários livros, inclusive de tendências feministas e socialistas o que estranha a sua avó, Mãe Nácia - representante das velhas tradições. No período de férias, Conceição passava na fazenda da família, no Logradouro, perto do Quixadá. Apesar de ter 22 anos, não dizia pensar em casar, mas sempre se engraçava à seu primo Vicente. Ele era o proprietário que cuidava do gado, era rude e até mesmo selvagem.

Com o advento da seca, a família de Mãe Nácia decide ir para cidade e deixar Vicente cuidando de tudo, resistindo. Trabalhava incessantemente para manter os animais vivos. Conceição trabalhava agora no campo de concentração onde ficavam alojados os retirantes, e descobre que seu primo estava de caso com uma caboclinha qualquer.

Vicente se encontra com Conceição e sem perceber confessa as temerosidades dela. Ela começa a tratá-lo de modo indiferente. Vicente se ressente disso e não consegue entender a razão. As irmãs de Vicente armam um namoro entre ele e uma amiga, a Mariinha Garcia. Ele, porém, se espanta ao saber que estava namorando, dizendo que apenas era solícito para com ela e não tinha a menor intenção de comprometimento.

Conceição percebe a diferença de vida entre ela e seu primo e a quase impossibilidade de comunicação. A seca termina e eles voltam para o Logradouro.

Esta é a parte mais importante do livro. Apresenta a marcha trágica e penosa do vaqueiro Chico Bento com sua mulher e seus 5 filhos, representando os retirantes. Ele é forçado a abandonar a fazenda onde trabalhara. Junta algum dinheiro, compra mantimentos e uma burra para atravessar o sertão. Tinham o intuito de trabalhar no Norte, extraindo borracha.

No percurso, em momento de grande fome, Josias, o filho mais novo, come mandioca crua, envenenando-se. Agonizou até a morte.

Uma cena marcante na vida do vaqueiro foi a de matar uma cabra e depois descobrir que tinha dono. Este o chamou de ladrão, e levou o resto da cabra para sua casa, dando-lhes apenas as tripas para saciarem. Léguas após, Chico Bento dá falta do seu filho mais velho Pedro. Chegando ao Aracape, lugar onde supunha que ele pudesse ser encontrado, avista um compadre que era o delegado. Recebem alguns mantimentos, mas não é possível encontrar o filho. Ficam sabendo que o menino tinha fugido com comboeiros de cachaça.

Ao chegarem no campo de concentração, são reconhecidos por Conceição, sua comadre. Ela arranja um emprego para Chico Bento e passa a viver com um de seus filhos. Conseguem também uma passagem de trem e viajam para São Paulo, desistindo de trabalhar com a borracha.

Fontes:
http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo.php?c=2777
http://www.pipaproducoes.com.br/ (imagem)

Raul Pompéia (1863 – 1895)

Raul Pompéia (R. de Ávila P.), jornalista, contista, cronista, novelista e romancista, nasceu em Jacuecanga, Angra dos Reis, RJ, em 12 de abril de 1863, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 25 de dezembro de 1895. É o patrono da Cadeira n. 33, por escolha do fundador Domício da Gama.

Era filho de Antônio de Ávila Pompéia, homem de recursos e advogado, e de Rosa Teixeira Pompéia. Transferiu-se cedo, com a família, para a Corte e foi internado no Colégio Abílio, dirigido pelo educador Abílio César Borges, o barão de Macaúbas, estabelecimento de ensino que adquirira grande nomeada. Passando do ambiente familiar austero e fechado para a vida no internato, recebeu Raul Pompéia um choque profundo no contato com estranhos. Logo se distingue como aluno aplicado, com o gosto dos estudos e leituras, bom desenhista e caricaturista, que redigia e ilustrava do próprio punho o jornalzinho O Archote. Em 1879, transferiu-se para o Colégio Pedro II, para fazer os preparatórios, e onde se projetou como orador e publicou o seu primeiro livro, Uma tragédia no Amazonas (1880).

Em 1881 começou o curso de Direito em São Paulo, entrando em contato com o ambiente literário e as idéias reformistas da época. Engajou-se nas campanhas abolicionista e republicana, tanto nas atividades acadêmicas como na imprensa. Tornou-se amigo de Luís Gama, o famoso abolicionista. Escreveu em jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro, freqüentemente sob o pseudônimo "Rapp", um dentre os muitos que depois adotaria: Pompeu Stell, Um moço do povo, Y, Niomey e Hygdard, R., ?, Lauro, Fabricius, Raul D., Raulino Palma. Ainda em São Paulo publicou, no Jornal do Commercio, as "Canções sem metro", poemas em prosa, parte das quais foi reunida em volume, de edição póstuma. Também, em folhetins da Gazeta de Notícias, publicou a novela As jóias da Coroa.

Reprovado no 3º ano (1883), seguiu com 93 acadêmicos para o Recife e ali concluiu o curso de Direito, mas não exerceu a advocacia. De volta ao Rio de Janeiro, em 1885, dedicou-se ao jornalismo, escrevendo crônicas, folhetins, artigos, contos e participando da vida boêmia das rodas intelectuais. Nos momentos de folga, escreveu O Ateneu, "crônica de saudades", romance de cunho autobiográfico, narrado em primeira pessoa, contando o drama de um menino que, arrancado ao lar, é colocado num internato da época. Publicou-o em 1888, primeiro em folhetins, na Gazeta de Notícias, e, logo a seguir, em livro, que o consagra definitivamente como escritor.

Decretada a abolição, em que se empenhara, passou a dedicar-se à campanha favorável à implantação da República. Em 1889, colaborou em A Rua, de Pardal Mallet, e no Jornal do Commercio. Proclamada a República, foi nomeado professor de mitologia da Escola de Belas Artes e, logo a seguir, diretor da Biblioteca Nacional. No jornalismo, revelou-se um florianista exaltado, em oposição a intelectuais do seu grupo, como Pardal Mallet e Olavo Bilac. Numa das discussões, surgiu um duelo entre Bilac e Pompéia. Combatia o cosmopolitismo, achando que o militarismo, encarnado por Floriano Peixoto, constituía a defesa da pátria em perigo. Referindo-se à luta entre portugueses e ingleses, desenhou uma de suas melhores charges: "O Brasil crucificado entre dois ladrões". Com a morte de Floriano, em 1895, foi demitido da direção da Biblioteca Nacional, acusado de desacatar a pessoa do Presidente no explosivo discurso pronunciado em seu enterro. Rompido com amigos, caluniado em artigo de Luís Murat, sentindo-se desdenhado por toda parte, inclusive dentro do jornal A Notícia, que não publicara o segundo artigo de sua colaboração, pôs fim à vida no dia de Natal de 1895.

A posição de Raul Pompéia na literatura brasileira é controvertida. A princípio a crítica o julgou pertencente ao Naturalismo, mas as qualidades artísticas presentes em sua obra fazem-no aproximar-se do Simbolismo, ficando a sua arte como a expressão típica, na literatura brasileira, do estilo impressionista.

Bibliografia
Obras: Uma tragédia no Amazonas, novela (1880); As jóias da coroa, novela (1882); Canções sem metro (1883); O Ateneu, romance (1888). A obra completa de Raul Pompéia está reunida em Obras, org. de Afrânio Coutinho, 10 vols. (1981-1984).

Fonte:
Academia Brasileira de Letras.
www.academia.org.br

Raul Pompéia (As Canções Sem Metro)

VIBRAÇÕES

Comme des longs échos qui de loin se confondent
Dans une ténébreuse et profonde unité,
Vaste comme la nuit et comme la clarté,
Les parfums, les couleurs et les sons se repondent.
C. BAUDELAIRE

Vibrar, viver. Vibra o abismo etéreo à música das esferas; vibra a convulsão do verme, no segredo subterrâneo dos túmulos. Vive a luz, vive o perfume, vive o som, vive a putrefação. Vivem à semelhança os ânimos.

A harpa do sentimento canta no peito, ora o entusiasmo, um hino, ora o adágio oscilante da cisma. A cada nota, uma cor, tal qual nas vibrações da luz. O conjunto é a sinfonia das paixões. Eleva-se a gradação cromática até à suprema intensidade rutilante; baixa à profunda e escura vibração das elegias.

Sonoridade, colorido: eis o sentimento.

Daí o simbolismo popular das cores.

VERDE, ESPERANÇA.

A impetuosa alegria da terra, à passagem de Flora, a primavera verde, compromisso maternal do outono e da opulência.

Náufragos no mar.

Sem pão, sem rumo. Em roda, o gume afiado do horizonte, a reverberação do sol nas águas e o silêncio solene da calmaria. A vela do barco, flácida, pendente — imagem do abatimento. Ligeira viração depois; denso nevoeiro... quatro dias! sudário de brumas que envolve o barco, elimina o céu. Vão acabar assim, amortalhados na bruma. Um ramo, apenas, sobre as águas, um ramo cor da esperança. Salvos! Adivinha-se o continente salvador através da névoa e o panorama verde das florestas.

AMARELO, DESESPERO.

Ouro e sol; ouro, o desespero da cobiça, sol, o desespero da contemplação: a cor dos ideais perdidos.

Sobre o leito, o cheiro mau das chagas era como uma antecipação da morte. Descamava-se a pele em crostas ásperas sobre o grude do pus. Ela morria, alcançada pelo sorteio inexorável da Peste. À porta, o anjo negro da maldição; longe, a espavorida caridade.

Ali, na parede, havia flores adornando um retrato de moço. Simples lembrança da Páscoa, flores da aleluia, colhidas numa escapada de amantes. Amor não faz quaresma... Cobertas de ouro as árvores... Ela também triunfante: ouro sobre o esplendor adorado do sexo... Agora fitava as flores secas. Junto dela, o filho, pequeno animal sem vontade, sem vida, que lhe chegava aos lábios um copo d’água.

Sobrara-lhe um filho nos desperdícios do passado, para vigiar-lhe a agonia. Ninguém mais, ninguém mais, nem Deus com ela: apenas as flores do desespero e aquele copo d’água de vez em quando, que ela sorvia como uma medicina amarga de lágrimas...

AZUL, CIÚME.

Céu e oceano, a soledade sem fim. O ciúme é isolamento, queixa sem ecos do coração solitário.

Ao despertar, estava só na triste câmara. Enferma e abandonada! Calcadas aos pés as juras de ontem, como destroços de um ídolo quebrado. Fronteira ao leito, a janela parecia alargar-se mais e mais para mostrar o firmamento. Sob o reflexo azul sonhara Rosita o abandono, eles felizes numa concha de safira, levados à flor do grande lago, docemente, cantando, docemente, se a barcarola os levasse. Morreu, fechando na pálpebra a estampa diurna daquele azul fundo, deserto.

ROXO, TRISTEZA.

Tinta tomada à palheta do ocaso e às flores da morte.

Alegre, ela. Muita luz no espaço; bailava no ar o cântico sereno da manhã; na relva os arbustos orvalhados tinham um pequenino sol em cada folha. Somente as violetas sofriam, pungidas pelo dia.

Outra manhã, tudo mudado. Na atmosfera, um torpor gélido e sombrio. Os extremos da paisagem gastam-se na cerração como as orlas de uma pintura velha: nem sol nem pássaros na relva.

Agora, órfã.

As violetas revivem, as melancólicas, desabrochando em suspiros, sob as lágrimas da chuva.

VERMELHO, GUERRA.

Sangue, cólera, vingança, os hinos marciais, golpes, o incêndio, vermelho o manto dos tiranos e Marte, o astro dos combates.

Da casinha à beira-mar, olhos em febre, a velha mãe argüía a distância. Lá, mergulhara o vapor que lhe roubava o filho para a guerra. A tarde passa e a noite; a velha, imóvel, marmorizada na dor, como uma escultura do Stabat Mater. E vem a aurora, uma aurora brutal de chama e sangue. A mãe do soldado caiu como morta.

Ouvira, das bandas da aurora, um grito de morte e a voz perdida do agonizante era a voz do filho.

BRANCO, PAZ.

Arminho imaculado e virginais capelas, o sagrado leito das mães, o rosto calmo dos mortos, os tranqüilos fantasmas.

"Terminada a luta, minha boa Irene. Torno a ver-te enfim e aos queridinhos. Ver-me-ás também. Como se fica velho neste ambiente de pólvora queimada!"

Dizia assim a carta, datada do acampamento. Irene ergueu os olhos para a tarde, os olhos rasos de pranto. Expirava o crepúsculo na ditosa agonia dos patriarcas, lenta e mansa; errava no ocidente a neblina lúcida da última hora, saudade apenas no dia extinto. A estrela plácida das tardes parecia olhar a terra; em frente alava-se a lua e o luar noctâmbulo ia, pelos caminhos, semeando a difusão suavíssima da paz.

Irene abandonou-se ao êxtase contemplativo, gozando o crepúsculo, como se lhe invadisse o sentimento a letargia edênica do anoitecer.

NEGRO, MORTE.

O contraste da luz é a noite negra.

Sente-se na epiderme a carícia do calefrio; envolve-nos um clima glacial; estranha brisa penetra-nos, feita de agulhas de gelo. Em vão flameja o sol a pino. Sente-se dentro na altura a noite negra, invernosa, polar; sofre-se o contato da Sombra. Tudo trevas, sinistramente trevas. O dia, resplandecente na alvura dos edifícios, produz o efeito da prata nos catafalcos. Vemos as flores, o prado. Monstros! Reclamam a carne do pé que os pisa; o verme sôfrego espreita-nos através da terra... Rir?! Mas o riso tem a cruel vantagem de acentuar, sob a pele, a caveira...

Há destas escuras noites no espírito.

ROSA, AMOR.

O sorrir das virgens, e o adorável pudor, e a primeira luz da manhã.

Esta criança pensativa. Acompanha com a vista o revoar dos pombos; escuta o misterioso segredo dos casais pousados. Vive-lhe ainda no semblante a candura da infância e nos formosos cabelos o cálido aroma do berço. Súbito, duas pombas partem. Vão. Longe, são como pontos brancos no azul; o bater das asas imita cintilações: vão, espaço a fora, estrelas enamoradas.

A cismadora criança experimenta a vertigem do azul e a alma escapa, sedenta de amplidão, e voa ao encalço das estrelas.

Há noites de pavor nas almas, há belos dias igualmente e gratas expansões matinais, auroras de rosa como em Homero.

Há também nas almas o incolor diáfano do vidro.

Dinheiro, amor, honraria, sucesso, nada me falta. O programa das ambições tracei, realizei. Tive a meu serviço a inteligência estudiosa do Ocidente e a sensualidade amestrada do Levante. Tive por mim as mulheres como deusas e os homens como cães. Nada me falta e disto padeço. Todos dizem: aspiração! e eu não aspiro. Todos sentem a música do universo e a harmonia colorida dos aspectos. Para mim só, vítima da saciedade! tudo é vazio, escancarado, nulo como um bocejo.

E os dias passam, que vou contando lento, lento torturado pela implacável cor de vidro que me persegue.

Há, enfim, a coloração indistinta dos sentimentos, nas almas deformadas.

Veio de longe, muito longe, mísero! Teve outrora um céu, uma pátria, muitas afeições, a cabana da aldeia. Agora só tem o ódio. O ódio mora-lhe no peito, como um tigre na furna. Tiraram-lhe a pátria, a companheira, votaram-lhe à morte os filhos, as filhas à torpeza; deram-lhe em compensação... Mostrava a face preta, o sangue a correr. Quem são os teus algozes?

— Os homens brancos.

Ela odeia os homens brancos; odeia a torre aguda, ao longe, como um punhal voltado contra os céus: odeia o trem medonho de fogo e ferro, que muge e passa, troando, escândalo do ermo.

Fonte:
Academia Brasileira de Letras. http://www.academia.org.br/

Raul Pompéia (As Jóias da Coroa)

Manuel Pavia é um malandro que tenta roubar as jóias pertencentes ao duque de Bragança, no inicio parecia que tudo ida dar certo até que..., Mas vejamos esta trama desde do inicio, Paiva era amigo pessoal do duque de Bragança Sardanapolo a ponto de secretamente conseguir programar encontros, às escondidas, para o duque com garotas para fins sexuais inclusive estava negociando com o avo de uma garota de 14 anos certa soma em dinheiro para que ela se deitasse com o duque.

Ao combinar o assalto Pavia solicita a ajuda do criado da casa, Inácio, passando para ele detalhes do plano arquitetado, embora de princípio ficasse temeroso Inácio acaba aceitando participar, ao mesmo tempo em que planejam o assalto Paiva programa o encontro do duque com a garota que desconhece a má intenção de seu avo e o senhor Paiva.

De inicio o assalto é bem sucedido, roubando o senhor Paiva, muitas jóias e um caríssimo anel que pertencia à esposa do arquiduque; O cenário vem bem montado até uma corda na janela simulava a forma que os ladrões entraram, mas na verdade o criado foi quem facilitou a entrada do ladrão das jóias. No dia seguinte ao assalto há uma grande comoção na mansão do duque e toda vizinhança fica sabendo do ocorrido, a policia chega e mal sabe por onde começar a investigação, no entanto o duque de Bragança se mantém calmo todo o tempo.

Chamando o senhor Pavia ao seu gabinete acusa-o veemente de ser o ladrão apresentando enes evidencias para pensar assim, de inicio Pavia nega tentando se escusar mas acaba admitindo, e ameaça contar tudo que sabe da vida errada do duque se for entregue a policia; Os dois conversam algo não revelado pelo autor, voltando para sala o duque entrega Pavia a policia, no entanto o esperto Pavia consegue se livrar da prisão, num acordo onde devolve todas as jóias roubadas.

Há, quanto ao encontro do duque com a garota ele é frustrado por Emilia que revela ser a mãe da garota, e que ela é fruto de um estupro cometido pelo próprio duque há 14 anos atrás.

Fonte:
http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo.php?c=1217
http://raul-pompeia.comprar-livro.com.br/ (imagem)

Nicholas Sparks (O Sorriso das Estrelas)

Existe algo numa lua cheia misteriosa num céu vagamente iluminado pela noite, levando o seu enevoado reflexo sobre o horizonte e sobre as aguas tranquilas de uma costa rochosa, que evoca um sentido profundo de desejo e nostalgia e que nos faz querer apaixonar. À primeira vista, estava à espera de ser uma história comovente sim, mas também uma história de amor previsível. Mas á medida que a história se foi desenrolando, fui descobrindo uma história de amor e sacrifício mais sensível e inspiradora do que alguma coisa que eu já tenha lido. O Sorriso das Estrelas é sem duvida um clássico dentro deste gênero. A protagonista, Adrienne Willis, é uma mulher perto dos sessenta anos e mãe divorciada de três adolescentes. A tragédia abate-se sobre eles quando, a filha de Adrienne perde o marido devido a um cancro e na sua depressão começa a negligenciar os seus dois filhos. Agora, Adrienne chega á conclusão de que está na altura de confidenciar á sua filha um segredo seu que esta escondido há mais de 14 anos. Sendo assim, um dia, durante um chá, Adrienne narrou a história do homem que lhe fez recuperar a esperança e a coragem de viver que ela pensava ter perdido para sempre... o homem que lhe mostrou o verdadeiro significado do amor e que se tornou no seu anjo da guarda para sempre....o homem chamado Paul Flanner.

Três anos depois do seu marido a ter trocado por uma mulher mais nova, Adrienne batalhou como uma bibliotecária em part-time para sobreviver e cuidar do seu pai doente, que exigia assistência médica 24 horas por dia. Então, quando questionada por uma amiga, para ficar á frente de uma estalagem em Rodanthe por um fim de semana, Adrienne aceitou prontamente, esperando alcançar a paz e o relaxamento que ela tanto desejava. Mal ela sabia que um encontro crucial com um completo estranho a esperavam em Rodanthe. Uma terrível tempestade, estava prevista para o dia em que o Dr. Paul Flanner chegou a Rodanthe, para visitar o marido de uma das suas pacientes falecidas. A par de um divórcio complicado e esperando fazer as pazes com o seu distante filho, Paul, assim como Adrienne também estava a tentar curar o seu coração partido. Por isso não foi novidade nenhuma que estas duas almas perdidas procurassem consolação (e amor) uma na outra.Enquanto os dois lutavam para que os seus sentimentos se mantivessem sem serem notados, o ambiente da pequena cidade adormecida, o calor e o acolhimento da estalagem e a intensidade das suas emoções levou a melhor e os dois acabaram nos braços um do outro, alterando assim a vida um do outro para sempre. Mas apesar do desabrochar do amor deles, nem Paul nem Adrienne podiam esquecer as suas responsabilidades perante os seus filhos e foram levados a fazer uma jura de amor de que iriam ficar juntos...um dia. E durante a sua separação, eles mantiveram esta promessa viva, até que um deles acabou por ser levado a cometer um ato menos altruísta que os separou para sempre

Sorriso das Estrelas não é apenas uma historia de amor. É sobre morrer por aquele que amamos e perdoar aquele que morre por nós. É sobre o amor que sobrevive á morte por toda a eternidade. Confirma que o sacrifício é a essência do amor e assim como o Nicholas Sparks diz, mostra que o amor pode acontecer a qualquer um, em qualquer altura e em qualquer idade. Apesar do romance ter sito criticado por ser um dos menos exigentes do Nicholas Sparks e ter sido visto por alguns como uma mera variação do romance As pontes de Madison County, definitivamente tem o seu toque de unicidade e originalidade e o seu próprio charme, distinto de uma outra criação literária. Eu recomendo este livro a todos os que gostem de ler uma pequena mas poderosa obra de ficção. Apesar de poder gostar ou não de historias de amor, tenho a certeza de que irá gostar deste livro, por causa da união de vários elementos que foram utilizados nesta obra. O Sorriso das Estrelas é tudo ele sobre o amor, sacrifício, perdão, esperança e claro, a força para continuar, e estas são emoções que falam uma língua universal. Prepare-se para lagrimas, suspiros e pena....mas principalmente prepare-se para se inspirar para viver...

Fonte:
http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo.php?c=168

Adalberto Chiavenato (Diretrizes Para Leitura, Análise E Interpretação De Textos)

Já no primeiro parágrafo do texto o autor passa a dificuldade de compreensão dos textos filosóficos, mostrando que temos, mas facilidade para entender os textos teóricos, ou seja, no texto literário os leitores defrontam com textos científicos ou filosóficos, o qual os levam ao desanimo, mas deixa claro que são superáveis, não tem a mesma facilidade dos textos literários, cuja leitura revela uma seqüência de raciocínio e o enredo é apresentado dentro dos quadros referenciais e fornecidos pela imaginação.

No caso dos textos de pesquisa positiva, o raciocínio é mais rigoroso, e preciso ter técnica especificas para levantar os dados, no qual deve se acompanhar o encadeamento lógico destes fatos.

Nos textos filosóficos e teóricos o que conta é a razão flexiva, o que exige muita disciplina intelectual para que a mensagem possa ser compreendida.

2. Antes de abordar as diretrizes para leitura e analise de textos, recomenda se atentar para a função dos mesmos em termos de uma teoria geral da comunicação, estabelencendo-se algumas justificativas psicológicas e epistemológicas fundamentais para a adoção destas normas metodológicas e técnicas, tanto para leitura como para redação e textos.

O esquema da teoria geral apresentando pela teoria da comunicação seria uma mensagem entre um emissor e receptor, assim fornecera mais elementos para a compreensão da origem da finalidade de um texto, no entanto para ser transmitida, deve ser medializada, já que a comunicação entre as consciências não pode ser feita diretamente, sendo assim o texto linguagem é o código que cifra a mensagem.

Quando o autor (emissor) escreve um texto ele já havia pensado por tanto o leitor (receptor) ao ler o texto decodifica a mensagem, para então pensá-la e personalizá-la, compreendendo-a: assim se completa a comunicação.
O homem sofre uma série de interferências pessoais e culturais que põem em risco a objetividade da comunicação.

3. As diretrizes metodológicas que são apresentadas a seguir têm apenas objetivos práticos;

DELIMITAÇÃO DA UNIDADE DE LEITURA

Unidade é um setor do texto que forma uma totalidade de sentido, de acordo com esta orientação, a leitura de um texto, quando feita para fins de estudo, deve ser feita por etapas, ou seja, apenas terminada a análise, de uma unidade é que se passará à seguinte.

O estudo da unidade deve ser feito de maneira continua, evitando ? se intervalos de tempo muito grandes entre várias etapas da análise.

ANÁLISE TEXTUAL

Primeira abordagem do texto com vistas á preparação da leitura. Trata-se de uma leitura atenta, mas corrida, sem buscar esgotar toda a compreensão do texto. Deve buscar a visão panorâmica, fazer levantamentos básicos, assinalar todos os pontos possíveis de dúvida.

Primeiro buscar dados sobre o Autor do texto, a seguir o vocabulário, trata se de fazer um levantamento dos conceitos e dos termos que seja fundamental para compreensão do texto ou que sejam desconhecidos do leitor, por outro lado o texto pode fazer referências a fatos históricos, a autores e especialmente a outras doutrinas, cujo o sentido no texto é pressuposto pelo autor mas nem sempre conhecido pelo leitor.

Os esclarecimentos são encontrados em dicionários, textos de história, manuais didáticos, ou monografias especializadas.A analise textual pode ser terminada com uma esquematização do texto cuja finalidade é apresentar uma visão de conjunto da unidade. Toda unidade comporta de três momento: Introdução, desenvolvimento e conclusão.

ANALISE TEMATICA

A analise temática procura ouvir o autor, apreender, sem intervir nele, o conteúdo de sua mensagem. Em primeiro lugar busca-se saber do que fala o texto. A resposta a esta questão revela o tema ou assunto da unidade, Nem sempre ottítulo da unidade da uma idéia fiel do tema.
Avançando um pouco mais na tentativa da apreensão d mensagem do autor, capta se a problematização do tema, não tem como falar de alguma coisa sem apresentar como um problema para aquele que discorre sobre ele.

Na explicação da tese sempre deve ser usada uma proposição, uma oração, um juízo completo e nunca apenas uma expressão, como ocorre no caso do tema.

Associadas ás idéias secundárias, de conteúdo próprio e independentes, completam o pensamento do autor: subtemas e subteses.

Quando se pede resumo de um texto, o que se tem em vista é a síntese das idéias do raciocino e não a mera redução dos parágrafos. O resumo fica melhor se conseguirmos falar com outras palavras desde que não mude a idéia do texto.

A ANÁLISE INTERPRETATIVA

A análise interpretativa é a terceira abordagem do texto com vistas à sua interpretação, mediante a situação das idéias do autor. Interpretar em sentido restrito, é tomar uma posiçõ própria a respeito das idéias enunciadas, é superar a estrita mensagem do texto, é forçar o autor a um dialogoe explorar toda a fecundidade das idéias expostas.

A PROBLEMATIZAÇÃO

Na problematização você tem que retomar todo o texto, tendo em vista o levantamento dos problemas relevates para a reflexão pessoal e principalmente discussão em grupo.

A SINTESE PESSOAL

O leitor tem que fazer uma síntese pessoal do texto, trata se de uma etapa ligada antes à construção lógica de uma redação do que à leitura como tal.

CONCLUSÃO

A leitura analítica ajuda o leitor na formação tanto na sua área especifica de estudo quanto na sua formação filosófica em geral.

Fonte:

Capitão João Brotas (Uma linda manhã)

Ouvimos, vindo lá de fora, o gotejar dos pingos d água. São sons harmoniosos, semelhantes aos acordes de uma magistral orquestra em que não podemos visualizar o regente, mas, apesar de tudo, sentimos a sua presença. Qual maestro, no mundo, teria a bondade de nos abençoar enquanto estivessemos dormindo, para nos proporcionar um despertar maravilhoso?

Esse maestro parece nos dizer, com voz maviosa ressonante nos pingos da chuva: "Bom dia, meu filho, acorde para este novo dia que preparei para você. Ele renova suas esperanças e permite que levante, para enfrentar nova jornada". Entretanto, é lamentável, mas nem todos ouvem, porque poucos estão preparados para desfrutar a beleza e os benefícios da Natureza. Muitos jovens que adoram curtir a praia em dias de sol quente não entendem a natureza, nem a importância da manhã chuvosa. Talvez apenas o homem do campo agradeça, porque semanas antes, sob o sol escaldante que o jovem desperdiçou inutilmente na praia, ele arou a terra, plantou a semente... Agora, a força extraordinária da Natureza se encarrega de regar e complementar o árduo trabalho do lavrador. Quanto tempo de seu trabalho será necessário ainda, até que venha a colher os frutos do seu plantio?

Normalmente, esperamos resultados imediatos dos nossos esforços, esquecendo que um edifício, por mais alto e luxuoso que seja, teve seu início na construção de uma base sólida. Igualmente, muitas vezes queremos compreender certos fatos da nossa existência, sem ao menos nos deter no esforço de procurar saber quem somos, de onde viemos e para onde iremos. Isto não acontecia com Sócrates, filósofo grego que viveu de 470 a 399 anos antes de Cristo, que se ocupou na tarefa árdua de se conhecer melhor, de descobrir os mistérios da natureza humana e ensinar o que aprendeu a outros. Ainda hoje, também podemos colher os ensinamentos maravilhosos deixados pelo plantio de Jesus Cristo, que há mais de 2.000 anos regou o solo com o sangue do seu sacrifício. E Ele dizia: "Conhecereis a verdade e ela vos libertará". Referia-se à libertação das falsidades que impedem o homem de conhecer a si próprio e ao semelhante.

Dessa maneira, podemos concluir que uma manhã chuvosa pode ser o prenúncio de um solo fértil que germinará bons frutos, alimentos necessários ao nosso sustento material. Podemos concluir ainda que, esforçando-nos para nos conhecer, podemos aproveitar melhor as energias emanadas da luz dos ensinamentos dos mais sábios. Portanto, nosso fortalecimento espiritual depende dos nossos atos, de nossas posturas e de nossos esforços, em nos tornarmos menos vaidosos, menos egoístas e cada vez mais úteis aos semelhantes.

Que a próxima manhã seja calma, serena, ensolarada ou até mesmo chuvosa, mas nos faça refletir no passado, a viver no presente e a planejar o futuro, pois determinados atos antes praticados não devem ser esquecidos e sim analisados, tomados como ensinamentos para que desfrutemos hoje da sabedoria que nos permite planejar um futuro melhor, mais promissor a nós mesmos e a todos que nos cercam.

Oxalá, possam todos desfrutar das bênçãos da Natureza, como fiéis lavradores, esforçados no amor e na conquista da sabedoria, para que também possamos agradecer, em harmonia de uma só voz afinada, ao grande maestro do Universo, nosso Deus, pela bela e maravilhosa manhã, seja ela como for...

O capitão João Brotas é integrante da 14ª CSM (Circunscrição do Serviço Militar) de Sorocaba e da Nupep Cultural

Fonte:
http://www.diariodesorocaba.com.br/noticias/not.php?id=6359
Colaboração de Douglas Lara
http://www.sorocaba.com.br/acontece

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Geary Hobson (A literatura nativa norte-americana: recordações e renovação)

Em 1969, o comitê de ficção do prestigioso Prêmio Pulitzer de Literatura concedeu a sua distinção anual a N. Scott Momaday, jovem professor de inglês da Universidade Stanford na Califórnia, pelo seu livro intitulado House Made of Dawn.

O fato de que o romance de Momaday lidou quase que exclusivamente com nativos americanos não escapou à atenção dos meios de comunicação ou dos leitores e estudiosos da literatura contemporânea, nem os antecedentes indígenas kiowa do autor. Conforme ressaltaram os artigos dos jornais, desde que Oliver LaFarge recebeu o mesmo prêmio por Laughing Boy, exatamente 40 anos antes, um romance dos chamados "indígenas" não recebia tal distinção. No entanto, enquanto LaFarge era um homem branco escrevendo sobre os índios, Momaday era um índio; o primeiro nativo americano laureado com o Pulitzer.

Naquele mesmo ano, 1969, outro jovem escritor, um advogado sioux de nome Vine Deloria Jr., publicou Custer Died for Your Sins, cujo subtítulo era "An Indian Manifesto". Ele examinou de forma incisiva as atitudes norte-americanas da época em relação aos assuntos nativos americanos, surgindo quase simultaneamente com American Indian Speaks, uma antologia literária de vários jovens e promissores índios americanos, dentre eles Simon J. Ortiz, James Welch, Phil George, Janet Campbell e Grey Cohoe, todos os quais haviam sido publicados apenas vagamente até então.

Esses desenvolvimentos que estimularam interesse novo ou renovado pela literatura nativa americana contemporânea foram acompanhados pelo surgimento naquela época de duas obras de conhecimento geral sobre o assunto, Man's Rise to Civilization (1968), de Peter Farb, e Bury My Heart at Wounded Knee (1970) de Dee Brown. Cada qual atingiu uma corrente receptiva no gosto popular norte-americano e as estatísticas demonstram que, ainda hoje, cerca de 30 anos depois, sua popularidade permanece.

Serenamente, surgiram outros livros e outros autores. "Ceremony, de Leslie Marmon, A Winter in the Blood, de Welch, as ficções pós-modernas de Gerald Vizenor e a poesia de Paula Gunn Allen, Simon J. Ortiz e Linda Hogan deram lugar, ao longo dos anos, a escritores mais novos, como os romancistas Sherman Alexie, Greg Sarris e Thomas King e os poetas Kimberly Blaeser, Janice Gould e Janet McAdams.

Em 1992, um grupo de acadêmicos e ativistas norte-americanos criou um festival internacional de escritores, que reúne 360 artistas de nove países, principalmente dos Estados Unidos. Cerca de metade desse número já publicou pelo menos um livro: ficção, drama, autobiografia ou até livros de culinária. A partir dessa convocação, surgiram duas organizações: o Círculo de Escritores Nativos das Américas e um grupo mentor, Wordcraft Circle, que reúne os escritores nativos americanos estabelecidos com talentosos aprendizes.

A cada ano desde 1992, o Círculo dos Escritores Nativos apresentou prêmios para "primeiros livros" de poesia e de ficção. Para aqueles que imaginam qual será o futuro da literatura nativa americana, esses livros premiados oferecem resposta ampla e positiva. Observe-se, por exemplo, um jovem artista como o poeta chippewa Blaeser, cuja evocativa coletânea inicial de versos, Trailing You (1995), seguiu-se por uma obra apreciada de conhecimento, um estudo da prosa complexa e até surpreendente do colega escritor nativo americano, o satírico pós-mordernista Gerald Vizenor.

De fato, a expansão da criatividade e do interesse na literatura nativa americana é muito mais que uma explosão. Ela representa, coletivamente, um renascimento. Mais de uma geração após o seu início, ela é uma parte da literatura norte-americana como renovação, ou continuação. Ela traz reminiscências.

Pode-se melhor ilustrar o fenômeno do renascimento através da experiência de uma sala de aula voltando muitos anos no tempo. Meus alunos leram cópias de poemas de índios mohawk da parte setentrional do Estado de Nova Iorque e o tema voltou-se para os diversos escritores nativos americanos em outras partes do país. Um estudante, provavelmente refletindo o pensamento de diversos na sala, espantou-se: "não é maravilhoso como a literatura nativa americana emergiu tão repentinamente no cenário?"

A questão soou atordoante na época e assim permanece na minha memória. Porque a literatura nativa americana não "emergiu" simplesmente. Como a vida e a cultura da qual é parte, ela tem séculos de idade. Suas raízes são profundas na nossa terra; profundas demais para que meros cinco séculos de influência de outras civilizações modifiquem-na de forma duradoura, completa e irrevogável.

Reminiscências, continuidade, renovação. Os nativos americanos se acostumaram a contar suas histórias e suas formas de vida através de processos intrincados de contar histórias comprovados pelo tempo. Somente nas últimas décadas, os acadêmicos identificaram essas formas de contar histórias como "tradição oral". Por milênios, os nativos americanos carregaram suas tradições desta forma. Para nada mais que uma geração antes da extinção, como escreveu Momaday, há sempre mais a ser lembrado pelas pessoas devido a essa ligação tênue. Ao relembrar, tem havido força, continuidade e renovação ao longo das gerações.

Nas palavras do poeta do povo acoma Simon J. Ortiz, "os índios estão em toda parte". Desde o Refúgio Savala de Sonora, no México, até a Montanha Mary Tall, da tribo koyukon do Alasca; do país navajo de Geraldine Keams e Larry Emerson até o nordeste do Maine de Joseph Bruchac, os nativos americanos estão escrevendo sobre si próprios e sobre seu povo. Seus escritos são baseados em terra firme, nutridos por raízes fortes e têm flores crescentes invencíveis.

É interessante notar que, mesmo na forma escrita, em inglês, a literatura nativa americana é bastante venerável na estrutura da própria literatura norte-americana, remontando ao início do século XIX, quando os primeiros escritores (dentre eles, William Apess, da tribo pequod, George Copway (ojibway) e o chefe Elias Johnson (tuscarora) publicaram livros relacionados às suas culturas tribais. Há também evidências de que muitas tribos possuíam variantes de linguagem escrita muito antes de Sequoyah alfabetizar a nação cherokee virtualmente do dia para a noite. Ainda que os livros dos índios delaware e da Confederação iroquois fossem repassados oralmente por muitas gerações, no início eles foram reproduzidos em diversas formas escritas. Ironicamente, mesmo quando escritores norte-americanos como James Fenimore Cooper e Henry Wadsworth Longfellow apresentaram o índio americano a partir das suas perspectivas, os nativos americanos estavam escrevendo seus próprios livros e, nesse processo, desenvolvendo literatura.

Se, no começo, a literatura nativa americana consistia em contar histórias (ou, como definiríamos, ficção), uma ampla mudança teve lugar na segunda metade do século XIX, principalmente com o desenvolvimento do sistema de reservas indígenas nos anos 1870 e 1880. A biografia e a auto-biografia tornaram-se a forma mais popular e permaneceram dominantes até o século XX.

Essas biografias eram muitas vezes escritas por outros; antropólogos ou poetas registravam e editavam as histórias de vida de nativos americanos que eram encontrados nas estradas dos séculos XIX e XX. Talvez o mais famoso deles seja Black Elk Speaks (1932), de John G. Neihardt. De acordo com Neihardt, Alce Negro contou a história ao seu filho no idioma oglala lakota. O filho então a traduziu para inglês para Neihardt, que então a reescreveu. Era uma prática comum, com muitos exemplos em meados do século passado, presentes entre tribos desde crows e cheyenne no extremo norte dos Estados Unidos até os apaches e navajos no sudoeste.

Naturalmente, nem todos os relatos pessoais eram "contados" a outra pessoa. Apareceram alguns escritores individuais, dentre eles Charles A. Eastman, um médico santee sioux treinado em universidade que escreveu livros como Indian Boyhood (1902) e The Soul of the Indian (1911), e o Chefe Luther Urso em Pé, autor de My People The Sioux (1928) e Land of the Spotted Eagle (1933). O livro de Momaday The Names, de 1975, foi parte dessa tradição.

À medida que decorria o século XX, a literatura nativa americana ampliou-se para além da biografia e relatos para a ficção, jornalismo e até dramaturgia. D'Arcy McNickle foi o melhor escritor de ficção do período da década de 1930 a 1970, com livros como The Surrounded (1936) e Runner in the Sun (1954). Ele foi também extremamente ativo como proponente de assuntos indígenas. Will Rogers, o popular colunista de jornais norte-americanos que se tornou humorista, cujo período áureo foram os anos 1920 e 1930, foi um índio cherokee, bem como o dramaturgo Lynn Riggs, cujo drama mais famoso, Green Grow the Lilacs (1931), foi transformado no clássico musical da Broadway dos anos 1940, Oklahoma!

Nas primeiras décadas da segunda metade do século, principalmente a partir dos anos 1960, o desenvolvimento da literatura nativa americana deveu-se a diversos periódicos, que incluem publicações mais estabelecidas, como o South Dakota Review e Cimarron Review, e diversas publicações, revistas e editoras menores, dentre elas "Sun Tracks", "Blue Cloud Quarterly" e "Strawberry Press". Os poemas de Hogan, Joy Harjo, William Oandasan e muitos outros apareceram primeiramente nessas e em outras publicações.

Muitos escritores e acadêmicos nativos americanos fizeram suas primeiras aparições escrevendo sobre temas não-indígenas. A primeira empreitada de Momaday foi uma coletânea das obras de Frederick Goddard Tuckerman, um poeta menos conhecido do círculo de Emerson na Massachusetts de meados do século XIX. Louis Owens, que reconsiderou e afirmou extensamente sua herança choctaw/cherokee em seus últimos escritos, começou com estudos sobre as obras de John Steinbeck. (Como parêntese, eu comecei minha carreira na educação, poesia e literatura como especialista em Emerson, Henry David Thoreau e Herman Melville.)

Quem são os escritores nativos americanos? Esta questão preocupou-me por anos, mesmo antes de compilar minha antologia de 1979, The Remembered Earth. Para aquele livro, decidi manter o mais amplo espectro de definição possível. Incluí, por exemplo, Dana Naone, uma jovem e talentosa escritora havaiana nativa, pois nós, nativos americanos do continente, estamos nos tornando cada vez mais conscientes de que, embora os havaianos não sejam índios americanos propriamente falando, eles são, entretanto, nativos americanos em sentido real. De forma não surpreendente, os versos de Naone continham temas e preocupações similares aos de Allen e Silko.

Os antropólogos e historiadores postularam que a inclusão como nativos americanos depende de três critérios essenciais: genéticos, culturais e sociais. A distinção genética é "sangue total", "meio sangue", "um quarto" e assim por diante. Culturalmente, uma pessoa é caracterizada em termos do local de onde ele ou ela é proveniente e suas formas distintas de vida, religião e idioma. Socialmente, alguém é considerado nativo americano devido à forma com que ele ou ela vê o mundo, terra, lar, família e outros aspectos da vida.

Mas, à medida que os anos passam, a identidade torna-se fator menos motivador entre os temas literários que a soberania e, como parte dela, a reivindicação do passado. Os nativos americanos estão preocupados sobre quem são eles enquanto povo e escrevem de perspectiva comunitária (seja o ambiente urbano ou rural) e esse senso de comunidade reafirma e ampara a soberania.

Os romancistas Louise Erdrich e Sherman Alexie e poetas como Linda Hogan e Ray Urso Jovem são exemplos de escritores que, na verdade, estão fazendo o que Charles Dickens fez em Londres há mais de um século. Ou seja, eles estão criando um senso local. A literatura emerge invariavelmente disso e, embora os melhores escritores lutem para serem universais, é o senso local com que estão profundamente imbuídos. Erdrich, poetisa e escritora de ficção, é mais conhecida pela sua tetralogia nativa americana: Love Medicine (1984), The Beet Queen (1986), Tracks (1988) e The Bingo Palace (1994). Ela recentemente trouxe à tona suas raízes ojibwa em The Antelope Wife (1999), um retrato de duas famílias nativas americanas urbanas contemporâneas em comparação com um mosaico de cem anos de história. Os versos da poetisa chickasaw Linda Hogan (ligados ao sul e centro de Oklahoma) concentraram-se na paisagem e na história. Mais recentemente, entretanto, à medida que cresceu e se desenvolveu, ela vem lidando com questões como preservação animal e feminismo.

Alexie, uma das melhores jovens escritoras a misturar realismo e humor sarcástico com forte lirismo ao escrever ficção, poesia e dramaturgia, é mais conhecida por Indian Killer (1996), um romance trágico sobre a busca de um assassino em série em ambiente urbano contemporâneo. Greg Sarris, um escritor californiano nativo de raízes miwok e pomo, atingiu ampla quantidade de leitores com seu primeiro livro Grand Avenue (1994), uma coletânea de contos passados na sua vizinhança multicultural nativa na urbana Santa Rosa, na Califórnia, povoada por gerações de índios pomo, bem como portugueses, mexicanos e afro-americanos. Seu primeiro romance, Watermelon Nights (1998), é uma visão urgente da tradição, crise e renovação em uma família nativa americana. Nos últimos tempos, ele moveu-se também para a dramaturgia.

Em análise final, entretanto, a preocupação mais importante não é se alguém é mais ou menos índio que o seu companheiro índio americano. É muito mais importante que ambos reconheçam sua herança comum e lutem juntos pela melhoria dos nativos americanos no seu todo. Ao final, a literatura que deixamos para a posteridade estará disponível para as pessoas que vieram depois de nós. E, ainda assim, é dever do escritor individual comentar sobre coisas que ele ou ela acredita serem importantes, independentemente do tema da literatura lidar ou não exclusivamente com preocupações nativas americanas. Se não tivéssemos os escritos de Momaday sobre a Rússia, os curtos poemas de Aaron Carr sobre o espaço exterior ou os contos de ficção científica e roteiros de televisão de Russel Bates, a literatura nativa americana seria mais pobre pela sua ausência.

(À medida que os índios escrevem sobre temas diferentes da sua comunidade, diversos escritores não-nativos, antes e depois de Laughing Boy, de Oliver LaFarge, investigaram a vida nativa americana, alguns com muito sucesso. Mais de meio século atrás, Frank Waters elaborou o que pode ser seu melhor romance, The Man Who Killed the Deer (1942), um estudo dos conflitos culturais entre os índios taos do norte do Novo México. Atualmente, ao escrever sua série de romances "best-sellers" centralizados na polícia tribal navajo, Tony Hillerman esforçou-se para aprender a cultura e tradições para criar suas histórias.)

Por fim, os escritores nativos americanos são aqueles de sangue e antecedentes nativos americanos que afirmam sua herança de formas individuais, da mesma forma que os escritores de qualquer cultura. Alguns escrevem sobre a vida reservada, outros descrevem ambientes urbanos. Alguns investigam a história, outros são ferozmente contemporâneos. Joseph Bruchac, que teve enorme influência sobre uma geração de escritores mais jovens como mentor e capacitador, é conhecido hoje como escritor de histórias infantis, tais como Between Earth and Sky (1996) e The Arrow Over the Door (1998), que apresentam lendas tribais em contexto moderno para novas audiências.

"A literatura é uma faceta de uma cultura", escreve Paula Gunn Allen, e, como tal, oferece algo de valor ao povo do qual é parte.

Herança é povo. Povo é terra. Terra é herança. Ao relembrar esses relacionamentos (com o povo, o passado e a terra), renovamos a força de nossa continuidade como povo. A literatura, em todas as suas formas, é nossa forma mais durável de conduzir essa continuidade. Ao fazer literatura, como os cantores e contadores de histórias de antigamente, servimos ao povo bem como a nós mesmos em um duradouro senso de recordação.

Nunca devemos esquecer esses relacionamentos. Nossa terra é nossa força e nosso povo é a terra, uma e única, como sempre foi e sempre será.

A memória é tudo.
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Geary Hobson, poeta e ensaísta de herança cherokee/quapaw, é membro do corpo docente do Departamento de Inglês da Universidade do Oklahoma. Este artigo é uma expansão da introdução do professor Hobson a uma antologia, The Remembered Earth, publicada originalmente por Red Earth Press, Albuquerque, Novo México, 1979, e reimpresso pela Imprensa da Universidade do Novo México em 1981. Ele foi utilizado com permissão do autor.
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Fonte:
http://usinfo.state.gov/journals/itsv/0200/ijsp/ijsp0210.htm

Moacir Scliar (A Majestade do Xingú)

O romance inicia com o narrador, que está na UTI, contando ao doutor a vida de Noel Nutels, que conhecera quando criança em um navio que os trouxe ao Brasil no ano de 1921.

A narrativa transcorre em tom humorístico, apesar do sofrimento do paciente. Protagonista inominado, cultivou uma profunda admiração por Noel, o defensor dos índios, durante toda a sua vida. Começa relembrando o episódio em que Noel, internado num hospital no Rio de Janeiro, no ano de 1973, vítima de câncer na bexiga, pouco antes de sua morte, recebe a visita de quatro generais. ...era a época da ditadura, visitar o Noel, que era uma figura tão respeitada, principalmente na esquerda, poderia repercutir bem na opinião pública, e ao abrir os olhos e ver aqueles quatro generais à sua volta (...) olhou todos, um por um, com aquele olhar debochado dele. Um dos generais perguntou como ele estava. E o Noel que, mesmo morrendo, continuava o gozador de sempre, respondeu: estou como o Brasil, na merda e cercado de generais.

O médico vai fazendo anotações enquanto o narrador pergunta-lhe se ele próprio também encontra-se na merda. Estou na merda, doutor? Não? Não estou na merda? O senhor tem certeza? Na merda, não? Não estou? Que bom, doutor. Não estou na merda, que bom. Prossegue contando-lhe que a vida de Noel Nutels, ele, o narrador, tem toda guardada numa pasta através de reportagens em jornais, fotografias, artigos, publicações. Pede ao doutor para escutá-lo. ...não é por mim, não. É pelo Noel. Não: é pelo senhor. O senhor deve ourvir a história do Noel, doutor. Acho que alguma coisa mudará no senhor depois que ouvir esta história. O navio que os trouxera ao Brasil chamava-se Madeira. Era um cargueiro adaptado para o transporte de imigrantes. Estavam fugindo da Rússia. Vinham do sul da Rússia, da Bessarábia, na fronteira com a Romênia. A região pertencia ao Império Tzarista. Os judeus não podiam sair dali a não ser que fossem ricos. Mas eles não eram ricos. Moravam numa pequena aldeia, num shtetl, de gente pobre: agricultores, artesãos, pequenos comerciantes. Seu pai, sapateiro, mal ganhava para sustentar a família, embora pequena, pois só tinha uma irmã. Seu pai consertava os finos sapatos do conde Alexei. Venerava-lhes os sapatos e as botas, confeccionados em couros macios e raros.

O protagonista lembra-se de que começou a ter pesadelos em que, à noite, um cossaco debochado surgia e calçava de uma bota as botinhas minúsculas que o pai havia feito com as sobras da reforma do conde Alexei. Calçava-as e galopava numa ratazana, rindo deles. O primogênito morrera um mês antes do seu nascimento. O irmão morto tornara-se-lhe um fantasma que vivia por todos os lados. O pogrom, massacre organizado no Império Tzarista, estava por toda parte. Os cossacos surgiam à noite, matando homens, violentando mulheres, queimando casas. Os judeus eram perseguidos. Um dia apareceu na aldeia um homem de Kiev. Trabalhava para uma companhia de colonização agrícola, a Jewish Colonization Association, JCA ou ICA, fundada por filântropos judeus da outra metade da Europa. Poderiam levá-los para a América do Sul, onde as terras eram promissoras. Poderiam ir para o Brasil trabalhar como agricultores. Receberiam todo o apoio. Por essa época o pai de Nutels decidira ir para a Argentina. Buenos Aires prosperava. Mas Salomão Nutels resolveu voltar para a Rússia. Pegou o navio que fazia escala no Recife, acabou vendedor de sapatos.

Em 1917, ele, justo no dia em que o Brasil declarou guerra à Alemanha do kaiser, tomou uma surra, depois de ter sido perseguido ao desembarcar, e perdeu o navio. Fixou-se no Brasil, em Laje do Canhoto, pequena vila de Alagoas, e lá abriu uma loja que vendia de tudo, desde alpiste até penicos de ágata. Em pouco tempo tinha conseguido economizar o suficiente para trazer a mulher e o filho de Ananiev.

Durante a guerra civil, após a Revolução de 1917, a Rússia ficou isolada do resto do mundo. Berta, mulher de Salomão, e o filho ficaram sem ter notícias suas até 1920, quando Salomão Nutels comunicou-lhes que partissem imediatamente para o Brasil. Por essa época, sair da Rússia era muito arriscado, mas mesmo assim partiram. As ameaças do pogrom continuavam. Porém, num certo momento, apareceu um homem na aldeia, chamado Semyon Budyonny, comandante de um esquadrão da cavalaria bolchevique. Imponente, usava um vasto bigode e tinha um olhar feroz. Budyonny apareceu com seus homens e anunciou que a aldeia havia sido libertada pela Revolução. Era o início do socialismo. Um dos homens de Budyonny, Isaac Babel, que ficara hospedado na casa do narrador, indagado sobre o que pensara a respeito de partirem para a América, revelou-se indignado com tal idéia e fez um discurso arrebatado em que defendia o governo bolchevista, pois finalmente todos os oprimidos teriam uma vida decente, enquanto que na América só existiam exploradores.

Anos depois Babel foi preso e veio a morrer num campo de concentração stalinista. A partida da família do narrador para o Brasil foi tranqüila. Em Hamburgo pegaram o navio Madeira rumo ao Brasil. No navio o narrador tornou-se amigo de Noel e assim que o conheceu teve a certeza de que seria seu amigo para o resto da vida. Noel era expansivo, seguro de si. Fazia amizade com todos. Logo tornou-se amigo de um marinheiro russo, homem de esquerda que vivera no Brasil e anos mais tarde continuava defendendo suas idéias com o mesmo fervor. A viagem fora longa e insalubre. O cheiro de urina e vômito no porão, onde passavam as noites, era insuportável. Todos no navio sentiam-se inseguros quanto à nova vida no Brasil. Porém, ao chegarem em Recife, a diversidade de cores, a vegetação tropical e a população alegre deslumbrou-os.

Salomão Nutels apareceu e Berta, ao vê-lo, abraçou-o e chorou, assim como Noel. Todos os demais emigrantes também choraram. Ao perceber o entusiamo de Noel pelos pretinhos brasileiros, de súbito nosso pobre protagonista percebeu que já não o encantara mais. Agora o encantava o Brasil. Salomão convidou a família do narrador para morar em sua casa. Seu pai poderia ajudar-lhe na loja. Seguiram para Laje do Canhoto. Ao conhecer a loja de Salomão, o pai do protagonista recusou-se a trabalhar lá. Não venderia penicos. Decidiu que iriam para São Paulo.

Em São Paulo, fixaram-se em Bom Retiro, bairro de judeus. Seu pai sofreu um acidente e teve de amputar o braço direito. Impossibilitado de continuar no ofício de sapateiro, passou a vender gravatas. Seu pai queria que ele tivesse se formado em Medicina como Noel Nutels. Freqüentou o colégio José de Anchieta. Em três anos sabia tudo sobre o padre José de Anchieta, sobretudo que amava muito os índios, diferentemente da maioria dos colonizadores que os menosprezavam, considerando-os inferiores, especialmente por serem canibais.

O narrador possuía uma imaginação muito fértil e suja. Numa das histórias que imaginava, o braço de seu pai era jantado por antropófagos devido ao ancestral parentesco destes com índios canibais. Imaginava também o padre Anchieta sendo seduzido por uma indiazinha moribunda. Sua mente era povoada por seres descomunais que devoravam profetas e sacerdotes. Sua mente sórdida elocubrava fabulações doentias. Sentia saudade de Noel. Podia escrever-lhe, mas não tinha coragem, então escrevia-lhe só na imaginação.

Seu pai veio a falecer de infarto do miocárdio, sendo-lhe imposto o sustento da família. Precisou largar os estudos e trabalhar o dia inteiro. Trabalhava na pequena loja do seu Isaac. Chamava-se A Majestade, conhecida por loja Não Tem. Vendia miudezas em geral: carretéis de linha, agulhas de crochê, etc. Não soube mais nada de Noel a não ser bem mais tarde quando tornou-se famoso e escreviam sobre ele. Noel foi estudar Medicina em Recife. Os pais também mudaram para lá. A casa onde moravam, dona Berta transformou em pensão. Lá moravam também amigos, como Ariano Suassuna, Capiba e Rubem Braga. Houve um momento em que o narrador tomou consciência da sua ignorância e envergou-se. Começou então a ler.

Lia muito e de tudo, inclusive dicionários. Levava uma vida pacata, não se metia em política. Quanto às mulheres, freqüentava um bordel barato e só. Era muito tímido. Sua vida tornou-se uma rotina. Ia para a loja, que aliás havia comprado do seu Isaac por uma bagatela, espanava o pó, sentava-se atrás do balcão e lia. Vez por outra aparecia um freguês. Em 1937 Noel foi para O Rio com a mãe, já formado em Medicina. Salomão havia falecido. O Brasil vivia a ditadura de Vargas. Noel participou na produção da revista Diretrizes, da qual faziam parte José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Jorge Amado. Por aquela época, em 1938, os intelectuais eram todos comunistas. Os comunistas manifestavam-se com cartazes de protesto. Sarita, uma fervorosa comunista do Bom Retiro, atirou-se cegamente na causa do Comintern, órgão central dos partidos comunistas na Rússia, que apresentou um documento a ser divulgado na sociedade brasileira que dizia que o conflito final seria a oposição entre índios e brancos. O movimento não vingou por falta de adeptos.

Em 1940 Noel casou com uma prima, Elisa. Um ano depois o narrador casou também, com Paulina, filha do vizinho. Através de Sarita, que ia periodicamente ao Rio, ele tinha notícias de Noel. Noel estava trabalhando com saúde pública; queria combater a malária e se envolver em campanhas. A guerra tinha começado. Hitler invadia a União Soviética. Noel e Sarita ouviam a Pirineus, rádio clandestina que os mantinha informados sobre os campos de concentração e outros acontecimentos. O narrador nunca ouviu a Pirineus. Preferia se manter alheio, mergulhado nos livros. Noel ia para as ruas, carregava cartazes de protesto. Em 1935 foi preso como comunista na ditadura Vargas. Nosso narrador não ia para as ruas fazer protesto, porque não tinha coragem.

Por volta de 1944, Noel e a mulher estavam trabalhando na Fundação Brasil Central, fundada pelo ministro João Alberto. Tinham sido contratados para trabalhar com os índios em regiões como o Alto Xingu e o Alto Araguaia, que seriam desbravadas e colonizadas. Noel fora contratado como especialista em malária. O narrador tornou-se pai de um menino: Ezequiel. No Xingu, Noel trabalha como especialista em malária e cuida dos índios. É aceito pela tribo dos Kalapalo após salvar a vida de uma indiazinha que estava quase à morte. Os índios lhe tem afeto e respeito.

Em 1951 Noel ingressa num curso para a campanha nacional contra A Tuberculose. Resolve trabalhar na região dos grandes rios: Tocantins, Xingu e Tapajós. Consegue transporte aéreo e em pouco tempo está dirigindo o Serviço de Unidades Sanitárias Aéreas, para os problemas dos índios. Dedica-se inteiramente a esta missão. João Mortalha, um tipo mau-caráter com passado de assassino, vai para o Xingu disposto a tornar-se proprietário das terras dos índios. Noel, descobrindo-lhe as intenções, expulsa-o da região. Eu podia entender o padre Anchieta cuidando dos índios; o Noel Nutels não. Pela simples razão de que não podia imaginar a mim próprio cuidando dos índios. (...) Eu, o covarde, imóvel; Noel, o corajoso, em movimento. Em constante e dinâmico movimento. O Noel estava virando índio. Índio inquieto a percorrer sem cessar as trilhas do Brasil central. Trilhas que poderiam levar a qualquer lugar, mas nunca passariam por uma loja chamada A Majestade. Nossos caminhos se haviam afastado para sempre.

Nosso protagonista começou a ter problemas em casa: desentendimentos com a mulher, além do Zequi, que se mostrava rebelde. Sarita mudara-se para O Rio e às vezes vinha visitá-los. Percebeu que Ezequiel estava apaixonado por ela. Zequi lia Marx, Lenin e Stalin. Entrou para a célula da Juventude Comunista no Bom Retiro, a célula Zumbi dos Palmares. Os jovens membros da célula, sabendo da amizade do protagonista com Noel, o doutor dos índios, pediram-lhe para que conseguisse um encontro entre eles. O narrador, depois de entrar em pânico, teve uma brilhante idéia: sugeriu-lhes que se correspondessem com Noel. Na loja, deu início à correspondência que Noel supostamente estaria lhes enviando.

Escreveu cartas e mais cartas para a célula Zumbi. Os rapazes extasiavam-se. Aconteceu, porém, que Sarita descobriu a farsa e ameaçou contar tudo a não ser que dali em diante ela mesma passasse a assumir a correspondência. Entraram em acordo. As cartas de Sarita eram chatíssimas, doutrinárias, o que fez com que os rapazes logo se entendiassem. Em pouco tempo, a correspondência encerrou-se. Em 1961 Zequi entrou para a faculdade de Ciências Sociais. Envolvendo-se completamente com política estudantil, tornou-se membro da UNE. Logo passou a fazer parte de um grupo de radicais. Os folhetos clandestinos falavam de guerrilha e luta armada.

E então veio o golpe de 64. Com o golpe militar, mandaram Ezequiel esconder-se no sítio de uma amiga de Paulina. Quanto a Noel, naquele Período dirigia o Serviço de Proteção ao Índio; fora indicado por Darcy Ribeiro. Os militares não acharam nada contra ele. Havia um major anticomunista, major Azevedo, que por motivos particulares estava atrás de Noel. O narrador teve um caso com Iracema, um tipo vulgar, apesar de bonita, que apareceu na loja como representante de tecidos. Foi sua primeira e única paixão. Um dia o narrador sentiu falta da última carta de Noel, que escrevera e não enviara. Iracema confidenciou-lhe, arrependida, ter sido ela a pegar A Carta a pedido do irmão Mortalha, o mesmo Sujeito que Noel havia expulsado do Xingu.

Mortalha queria incriminá-lo e, de posse da carta entregou-a ao major Azevedo que, estranhamente, rasgou-a e jogou fora. Ezequiel foi para a França. Fez mestrado, depois doutorado, e tornou-se professor em Limoges. Não voltou mais. Casou-se com uma francesa e teve dois filhos. A mãe foi para um asilo, completamente esclerosada, e lá faleceu. A irmã Ana tornou-se uma competente psicóloga e enriqueceu. Paulina quis ir embora para Israel. Não voltaria mais.

O narrador levou-a ao aeroporto não sem antes tentar persuadi-la a ficar. Despediram-se e nunca mais a viu. O narrador passou a viver sozinho. Ezequiel quase não escrevia, ao contrário de Paulina que escrevia longas cartas deixando-o a par de suas experiências no Kibutz. Vendeu a loja, que não ia nada bem, além do que, ele imaginava espectros de bugres sob o solo. Vendida a loja, mudou-se para um pequeno apartamento e seus problemas financeiros terminaram.

Certa ocasião escutou no noticiário que Noel estava internado num hospital em estado grave. A notícia deixou-o de tal forma abalado que imediatamente resolveu ir até O Rio visitá-lo. Chegando lá debruçou-se sobre Noel e implorou-lhe que não o abandonasse. Noel estava morrendo. O narrador retirou-se e cinco generais teceram comentários sobre o doente. De volta à casa, imaginou-se abrindo uma loja no Xingu. Iria se chamar A Majestade do Xingu.

Na Majestade do Xingu haveria lugar para o real e para o imaginário. A conjugação perfeira do prático e do mítico. Cansado da viagem, o narrador adormeceu e sonhou que um cossaco, um pogrom, enterrou o salto de sua bota em seu peito. Josiléia, sua empregada, socorreu-o quando acordou sentindo a horrível dor, levando-o para o hospital. Finaliza dizendo que esta é a sua história e que só tem importância porque é um pouquinho a história de Noel Nutels.

Fonte:
http://www.trabalhonota10.com/resumo-de-livros

Música e Literatura (Cancioneiro)

Livro onde estão compiladas peças líricas, acompanhadas ou não de notações musicais, segundo um determinado critério unificador. O termo e conceito são já conhecidos na Antiguidade, no entanto, é na Idade Média que se verifica o grande desenvolvimento deste tipo de antologias. Nos diversos cancioneiros conhecidos é possível encontrar obras que se situam entre os finais dos séculos XIII e XV.

No universo galego-português, são conhecidas três antologias profanas e uma sacra. Do primeiro grupo fazem parte: o Cancioneiro da Ajuda, o mais antigo, assim denominado por se encontrar na biblioteca do Palácio da Ajuda, para onde transitou no principio do século XIX; o Cancioneiro da Vaticana, encontrado em Roma, na biblioteca do Vaticano, durante o reinado de D. João III e, finalmente, o Cancioneiro da Biblioteca Nacional, o mais completo, que anteriormente era conhecido por Cancioneiro Colocci-Brancuti por ter pertencido ao humanista italiano, Ângelo Colocci, e ter sido encontrado, no século XIX, na biblioteca do Conde Brancuti. Os dois últimos são apógrafos, ou seja, cópias posteriores de originais perdidos. O cancioneiro sacro, da autoria de Afonso X, o Sábio, é conhecido por Cantigas de Santa Maria. Nele, o seu autor transforma o amor trovadoresco em devoção à Virgem.

Os cancioneiros, embora fontes parciais já que a produção era superior, são documentos únicos e insubstituíveis que, no entanto, não deixam de colocar alguns problemas aos investigadores, nomeadamente no que respeita aos critérios de compilação. De fato, o princípio de seleção revela-se fundamental, chegando mesmo a ser normativo, já que, é este principio o responsável pela transmissão de uma cultura, de uma estética, de uma escola poética ou mesmo de uma época, como acontece com os cancioneiros provençais e galego-portugueses.

O termo cancioneiro pode ter diversas acepções: para a mais restrita, é uma coleção de textos poéticos selecionados, organizados e ordenados pelo próprio autor que é também o responsável pelas lições do texto. Uma outra, já não tão restrita, considera que cancioneiro diz respeito, também a uma coleção individual, que, no entanto, não teve o autor como responsável pela sua organização. A terceira e mais ampla acepção fala de uma compilação de textos em verso, de vários autores, selecionados e ordenados por um compilador.

No que respeita à ordenação dos textos, esta obedece, geralmente, a critérios cronológicos e de gênero, sendo os segundos mais importantes, já que há uma tentativa de agrupar os textos segundo esses mesmos gêneros. Além destes, nos cancioneiros coletivos, poderá surgir um terceiro critério ligado à importância dos autores: os trovadores maiores em primeiro lugar e os trovadores menores em segundo lugar. Alguns casos há em que o livro fecha com a produção poética do próprio compilador.

Partindo do sentido etimológico, o cancioneiro perfeito é todo aquele que tem um princípio e um fim bem marcados: o princípio por uma rubrica ou título com o nome do autor e o conteúdo do livro, e um epílogo que marca o final. Os cancioneiros coletivos não apresentam uma estrutura muito diferente dos individuais. A única diferença parece ser nos cancioneiros provençais, a apresentação, em prosa, da vida do trovador, antes da apresentação da sua obra. Algumas composições são ainda introduzidas por uma razó, em prosa, que informa quais os fatos que levaram à sua composição. Os cancioneiros galego-portugueses apresentam unicamente o nome e, algumas vezes, a origem e condição social do trovador, no entanto falam da razó, pelo menos no gênero satírico.

Consoante os fins para que se destinam, as características externas dos cancioneiros variam: podem ser grandes ou pequenos; decorados, ou não, com ricas miniaturas; copiados para pergaminho ou, mais tardiamente, para papel; com ou sem notações musicais. Também o número de colunas em que são escritos pode variar.

Fonte:
Maria do Rosário Rosa. Cancioneiro
http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/