segunda-feira, 10 de junho de 2024

Dicas de Escrita (Como Escrever uma Fábula) = 3, final

(por Danielle McManus, PhD*)

3 EDITANDO E COMPARTILHANDO SUA FÁBULA

1 Releia e revise. 

Leia toda a sua fábula e verifique se todas as partes estão no lugar e se trabalham em harmonia.

Cuidado com trechos em que a fábula pode parecer muito prolixa ou complicada. A natureza dela é ser uma história simples e concisa que não mede palavras ou que desvia para algo verboso.

Verifique se cada parte — ambiente, personagens, conflito, resolução e moral — está claramente estabelecida e inteligível.

2 Edite para melhorar o estilo e a gramática.

Depois de revisar o conteúdo, releia tudo de novo, agora focando nos problemas de gramática e clareza de cada frase.

Chame um amigo ou colega para ler seu texto. Um segundo par de olhos é importante para encontrar erros.

3 Compartilhe seu trabalho!

Uma vez que tiver terminado os toques finais, é hora de mostrar sua fábula a um público.

O lugar mais fácil e lógico de começar é com a família e os amigos: poste sua fábula no Facebook, em um blog, para compartilhar em alguma rede social ou envie para sites que publiquem escrita criativa.

Você também pode enviar o texto para jornais ou revistas em sua cidade.

REFERÊNCIAS
– http://literarydevices.net/fable/
– http://www.litscape.com/indexes/Aesop/Morals.html
– http://www.creative-writing-ideas-and-activities.com/writing-fables.html
– http://www.learnnc.org/lp/media/lessons/katebboyce1142004123/Rubric_-_Fable.htm
– http://jerrydunne.com/2013/12/26/how-to-write-a-modern-fable-for-the-adult-reader/
– http://www.slideshare.net/lolaceituno/fables-and-morals
– http://www.learnnc.org/lp/media/lessons/katebboyce1142004123/Rubric_-_Fable.htm
– http://jerrydunne.com/2013/12/26/how-to-write-a-modern-fable-for-the-adult-reader/
– http://lerebooks.files.wordpress.com/2013/01/fabulasdeesopo.pdf
– http://www.newworldencyclopedia.org/entry/fable
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* Danielle McManus, PhD é Conselheira de Graduação em Davis, Califórnia. Completou seu PhD em Língua e Literatura Inglesa na UC Davis em 2013.

domingo, 9 de junho de 2024

José Feldman (Versejando) 140

 

Contos Tradicionais Portugueses (O aprendiz de mago)

Um homem de grandes artes tinha em sua companhia um sobrinho, que guardava a casa quando precisava sair. Uma vez deu-lhe duas chaves, e disse:

– Estas chaves são daquelas duas portas; não as abras por coisa nenhuma do mundo, senão morres.

O rapaz, assim que se viu só, não se lembrou mais da ameaça e abriu uma das portas. Apenas viu um campo escuro e um lobo que vinha correndo para arremeter contra ele. Fechou a porta a toda a pressa passado de medo. 

Daí a pouco chegou o Mago:

– Desgraçado! Para que me abriste aquela porta, tendo-te avisado que perderias a vida?

O rapaz, chorou tanto que o Mago lhe perdoou. 

Uma outra vez saiu o tio e fez-lhe a mesma recomendação. 

Não ia muito longe, quando o sobrinho deu volta na chave da outra porta, e apenas viu uma campina com um cavalo branco a pastar. Nisto lembrou-se da ameaça do tio e já o sentindo subir pela escada, começou a gritar:

– Ai que agora é que estou perdido!

O cavalo branco falou-lhe:

– Apanha desse chão um ramo, uma pedra e um punhado de areia, e monta já quanto antes em mim.

Mal as palavras foram ditas, o Mago abriu a porta da casa, e o rapaz salta para cima do cavalo branco e grita:

– Foge! Que aí vem o meu tio para me matar.

O cavalo branco correu pelos ares afora. 

Mas indo lá muito longe, o rapaz torna a gritar:

– Corre! Que meu tio já me apanha para me matar.

O cavalo branco correu mais, e quando o Mago estava quase a apanhá-los, disse para o rapaz:

– Solta fora o ramo.

Fez-se logo ali uma floresta muito fechada, e, enquanto o Mago abria caminho por ela, foram para muito longe. Ainda o rapaz tornou outra vez a gritar:

– Corre! que já aí está meu tio, que me vai matar.

Disse o cavalo branco:

– Solta a pedra.

Logo ali se levantou uma grande montanha cheia de pedras, que o Mago teve de subir, enquanto eles avançavam caminho. 

Mais adiante, grita o rapaz:

– Corre, que meu tio agarra-nos.

– Pois lança ao vento o punhado de areia. - disse-lhe o cavalo branco.

Apareceu logo ali um mar sem fim, que o Mago não pôde atravessar. 

Foram dar em uma terra onde estavam em muitos prantos. 

O cavalo branco ali largou o rapaz e disse-lhe que quando se visse em grandes trabalhos, por ele chamasse, mas que nunca dissesse como viera ter ali. 

O rapaz foi andando e perguntou por quem eram aqueles grandes prantos.

– É porque a filha do rei foi roubada por um gigante que vive em uma ilha, onde ninguém pode chegar. 

– Pois eu sou capaz de ir lá.

Foram dizê-lo ao rei e o rei obrigou-o com pena de morte a cumprir o que dissera. 

O rapaz valeu-se do cavalo branco, e conseguiu ir à ilha trazendo de lá a princesa, porque apanhara o gigante dormindo.

A princesa assim que chegou ao palácio não parava de chorar. 

Perguntou-lhe o rei:

– Porque choras tanto, minha filha?

– Choro porque perdi o meu anel que me tinha dado a minha fada madrinha e, enquanto o não tornar a achar, estou sujeita a ser roubada outra vez, ou ficar para sempre encantada.

O rei mandou divulgar em como dava a mão da princesa a quem achasse o anel que ela tinha perdido. 

O rapaz chamou o cavalo branco, que lhe trouxe do fundo do mar o anel, mas o rei não lhe queria já dar a mão da princesa, porém ela é que declarou que casaria com o jovem para que dissessem sempre: Palavra de rei não volta atrás.

Fonte> Teóphilo Braga. Contos Tradicionais do Povo Português. Publicado em 1883. Disponível em Domínio Público .

Milton Sebastião Souza (Mães e Filhos)

Nem todas as mães estarão festejando no seu dia. Existem muitas mães abandonadas nos asilos, solitárias, saudosas dos seus filhos que “não têm tempo” para uma visita. Existem muitas mães doentes, padecendo nos hospitais, com a saúde abalada, muitas vezes por terem dedicado o melhor dos seus dias para filhos ingratos e sem reconhecimento. Existem muitas mães confinadas atrás das grades, condenadas por algum deslize cometido. Existem muitas mães que foram completamente esquecidas pelos filhos depois que a idade reduziu as suas tantas utilidades para a família. Existem muitas mães que não vão receber uma rosa e, um abraço e, muito menos, um presentinho no dia das mães.

É claro que também existem muitos filhos que dariam parte da sua vida para poder abraçar as suas mães neste dia. Filhos que choram a ausência da mãe que já partiu para a eternidade. Filhos que, por algum capricho do destino, foram criados em orfanatos e nunca souberam quem eram as suas mães. Filhos que foram abandonados pelas ruas e cresceram sem saber o que era ter uma mãe. Filhos que, mesmo tendo mãe, sofreram a vida inteira porque aquela mãe que a vida lhes deu, que não merecia ser chamada de mãe...

Mas existem também aqueles filhos mais sortudos (como eu), que estarão juntinhos com as suas mães no seu dia ou que poderão, pelo menos, repassar um abraço pelo telefone ou pela Internet. É para estes filhos que vai o recadinho final destas linhas: aproveitem cada segundo da presença das suas mães nas suas vidas. Curtam cada sorriso desta mãe. Ampliem cada gesto e cada atitude que brotar do coração desta pessoa especial. Se ela estiver alegre, riam juntos. Se ela estiver triste, chorem com ela e ajudem a secar as suas lágrimas. Se ela tiver tempo sobrando, tentem, de alguma maneira, preencher este tempo com a sua presença e o seu apoio constante. Façam pela sua mãe aquilo que ela fazia por vocês quando eram pequenos: 24 horas de cuidados e de amparo constante.

Para completar o dia delas, façam da presença o melhor presente. Um abraço e algumas palavras de carinho, muitas vezes, ficam gravados no coração para sempre. Um rosa ou um ramalhete de flores são presentes lindos. Mas eles não duram muito tempo. Outros presentes materiais, por mais caros que sejam, também têm um tempo de duração definido pelo desgaste. O gesto de amor fica para sempre. E não existe imagem mais linda do que um filho olhar o seu próprio rosto refletido no olhar da mãe, mesmo que este olhar esteja embaçado pelo tempo ou nublado pela presença de algumas lágrimas de alegria. É exatamente o coração generoso de cada mãe que nos facilita a tarefa de sermos bons filhos. Afinal, elas só querem o nosso carinho e o nosso reconhecimento. Um beijo e um abraço conseguem falar todas aquelas palavras que as mães merecem ouvir e que nós, muitas vezes, não sabemos ou não temos coragem de pronunciar. Feliz Dia das Mães para todos aqueles que são bons filhos.

Vereda da Poesia = 29 =


 Trova Humorística de Nova Friburgo/RJ

RODOLPHO ABBUD
1926 – 2013

Um longo teste ela fez,
de cantora com requinte:
– Cantou somente uma vez,
mas foi cantada umas vinte!
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

MARIA NASCIMENTO SANTOS CARVALHO

E-MAIL

Deletei muitas coisas que me disse,
digitadas em seu computador;
assim que descobri que era tolice
guardar frases bonitas, sem amor.

Temendo que a memória me traísse,
deixei à vista as que me causam dor
para que, nunca mais eu me iludisse
e, em vão, corresse o risco de me expor...

Deletei muita coisa e, na verdade,
não pude deletar toda a saudade
que salvei num arquivo do meu peito...

Pois quanto mais tentava deletar,
mais vinha uma mensagem me avisar
que deletar saudades... não tem jeito...
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)

Espelho
Meu
Espelho
Meu
Cadê
Eu ?
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Soneto de Portugal

LUÍS VAZ DE CAMÕES
Coimbra, 1524 – 1580, Lisboa

SONETO I 
         
Enquanto quis Fortuna que tivesse
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento
Me fez que seus versos escrevesse.

Porém, temendo Amor que aviso desse
Minha escritura a algum juízo isento,
Escureceu-me o engenho co tormento,
Para que seus enganos não dissesse.

      Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
A diversas vontades! Quando lerdes
Num breve livro casos tão diversos,

  Verdades puras são, e não defeitos...
E sabeis que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos!
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Trova Premiada  em Nova Friburgo/RJ, 2014

ARLINDO TADEU HAGEN 
Juiz de Fora/MG

O velho poeta inspirado
me lembra, em sua euforia,
tronco velho alimentado
pela seiva da poesia!
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Poema de Balneário Camboriú/SC

PEDRO DU BOIS
(Pedro Quadros Du Bois)
Passo Fundo/RS, 1947 – 2021, Balneário Camboriú/SC

CALMA

Na calmaria cede espaço ao cansaço.
Descansa o silêncio e se desentende
em ritos descontinuados. Desavenças
e calçadas ressoam passos. Acalma
o vento. Reclama ao vento a passagem.
Impressiona o sono em ideias aleatórias
de descobertas e conformismos. No
dito recupera da razão o lídimo saber
sobre a calma na alma despossuída.
Em passos atravessa a hora e despede
do gerânio a flor inacabada. Gira o Sol
em retorno: o dia permanece na explosão
sintética da espera. A calma na calúnia
desdita arrebenta os sinos entre torres.
O desafogo na morte: calma arrebatada
ao espírito. Acalma o corpo ao começo.
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Quadra Popular de Alandroal/Portugal

FERNANDO MÁXIMO

Melhorar nossa atitude,
de forma quotidiana,
é cumprir na plenitude
a razão da vida humana.
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Soneto de Volta Redonda/RJ

ANTÔNIO OLIVEIRA PENA

IMPROVISO

Não qual a estrela, na manhã serena,
à flor de um lago, quase a se esconder,
o modo peculiar de me envolver
com o riso à flor da boca, tão pequena!

Nem qual a ave do céu, que, junto ao ninho,
chama contente pelo companheiro,
em cujo peito o amor é mais fagueiro,
e é calmo, p’ra que haja algum espinho.

É várzea em flor, à noite, escondida,
emanando um perfume sem igual
à minha mal-aventurada vida...

(Quem dera fosse o seu olhar, quem dera!
a pino o sol, sobre esse mesmo val,
numa confirmação da primavera!)
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Trova de de Pau dos Ferros/RN

MANOEL CAVALCANTE

Puseste-me na clausura!
E hoje, em sonhos sem sentido,
eu me alimento da jura
que murmuras noutro ouvido…
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Poema de Maia / Porto / Portugal

JOSÉ CARLOS MOUTINHO

RIO TEJO

Tu que vens de tão longe,
Pequeno, quase criança,
Deslizas, crescendo pela avenida do teu leito,
Ladeado pelas alamedas,
Verdejantes, arborizadas e floridas
Das margens da tua vida,
Tornas-te adulto,
Mais maduro e belo,
Quando os raios solares,
Refletem no teu corpo,
És romântico com o luar,
És sereno quando queres,
Turbulento, quando te provocam,
Podes ser a alegria e a morte,
Exiges respeito!

Não corras tão depressa,
Porque vais perder-te no mar.

Um dia, recusaste-me,
Nas águas do teu ventre,
Devolveste-me à vida,
Toleraste a minha inocência!

Tens a grandeza da tua autoridade
Serás eternamente importante
Marcaste a minha vida.
Meu Rio Tejo!
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Haicai de Pedro Leopoldo/MG

WAGNER MARQUES LOPES

O mês é de agosto.
Ao sol, pipa sem cerol:
brinquedo bem posto.
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Setilha Sobre o Mar, de Bacabal/MA

MARIA ROSÁRIO PINTO

É bom pegar uma onda
É bom nos banhar no mar.
O mesmo mar que atraí
Sempre vem nos assustar
Nele nos purificamos
Por Yemanjá clamamos
Mãe! Vem nos ajudar.
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Trova de Orós/CE

FRANCISCO MARCONE DE LIMA

Há uma revolta contida
na mágoa que me consome.
Para alguns muita comida,
quando tantos passam fome!
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Glosa de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

MOTE:
Sofredor desde menino 
e tendo o sonho por meta 
quis saber qual seu destino 
diz-lhe o cigano: - Poeta!
CAROLINA RAMOS 
Santos/SP

GLOSA:
Sofredor desde menino 
neste mundo deletério, 
sem instrução, sem ensino, 
seu destino era um mistério. 

Pelo mundo peregrino 
e tendo o sonho por meta 
o menino, em desatino, 
pensou até ser profeta. 

Nesta procura o menino, 
quase louco, pobrezinho, 
quis saber qual seu destino 
consultando um adivinho! 

Vejo uma luz reluzir 
no teu futuro de esteta, 
e posso te garantir, 
diz-lhe o cigano: - Poeta!
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Aldravia de Mariana/MG

ANDREIA DONADON-LEAL

bebo
nas
noites
tonéis
de
poesia
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Soneto do Rio Grande do Sul

ALMA WELT
Novo Hamburgo/RS, 1972 – 2007, Rosário do Sul/RS

A RISADA DA CAVEIRA

O estranho fato de existir a Morte
Só pode ser de Deus a brincadeira
De mau gosto, feia, um tanto forte.
Senão, vejam a risada da caveira:

Seu riso alvar, sarcástico, grotesco,
E o corpo estilizado de fantoche
Do mais puro estilo picaresco
De escultor chegado no deboche.

Também não dá pra gostar da fedentina
Do banquete dos vermes que outrora
Os poetas chamavam de vermina.

Perdoe-me o fiel que tanto reza,
Que acha tudo belo e tudo preza,
E não vê o absurdo sob a aurora...
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Trova Premiada  em Caxias do Sul/RS, 2012

ROBERTO TCHEPELENTYKY 
São Paulo/SP

Sobre a parreira, o luar
no sereno te retrata…
E os teus olhos a brilhar:
“Duas uvas”… cor de prata…
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Spina de Bragança/PA

ROSE ROSÁRIO

ENTRELAÇO DOS VENTOS

Orvalho, gotas primaveris
esperançando paz, amor;
Cantata colhendo ventos,

engravida de melodias, notas sublimes. 
Adentrando ouvidos nos primeiros raios, 
tempo introspecto move os pensamentos.
Natureza indomável faz estremecer, festeja
sentires, entrelaçando suas cores, sedentos.
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Trova de Bandeirantes/PR

ADALBERTO DUTRA RESENDE
Cataguazes/MG, 1913 – 1999, Bandeirantes/PR

Quem seu ciúme proclama,
fazendo questão de expô-lo,
insulta aquela a quem ama,
e ainda faz papel de tolo…
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Poema de Portugal

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESSEN
Lisboa, 1919 – 2004, Porto

JARDIM PERDIDO

Jardim em flor, jardim de impossessão,
Transbordante de imagens mas informe,
Em ti se dissolveu o mundo enorme,
Carregado de amor e solidão.

A verdura das arvores ardia,
O vermelho das rosas transbordava
Alucinado cada ser subia
Num tumulto em que tudo germinava.

A luz trazia em si a agitação
De paraísos, deuses e de infernos,
E os instantes em ti eram eternos
De possibilidades e suspensão.

Mas cada gesto em ti se quebrou, denso
Dum gesto mais profundo em si contido,
Pois trazias em ti sempre suspenso
Outro jardim possível e perdido.
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Poetrix do Rio de Janeiro

RICARDO ALFAYA

exposição

Enxugo dilemas
No varal, toalhas
Manchadas de poemas.
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Soneto de Campo Grande/MS

REGINALDO COSTA DE ALBUQUERQUE

PÁGINA VIRADA
 
Tarde da noite, em meio à quietude das ruas,
encontro nesta banca há muito abandonada,
no entulho de jornais e traças junto à entrada,
revista masculina, expondo moças nuas.
 
E tremo ao desfazer a página virada…
No encarte especial, fotografias tuas
em poses sensuais dizem verdades cruas
que sangram cicatriz que imaginei curada.
 
A propaganda exalta algum lugar distante…
A lua espreguiçada em seu quarto minguante
lança cintilações sobre esta saudade oca…
 
Por um momento a banca agita a velha porta…
Se o teu vulto é ilusão ou real, o que importa?
Aplaco a minha dor beijando a tua boca…
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS
(Antonio Augusto de Assis)

A laranja era tão doce, 
que o limão ficou com medo: 
– por inveja, ou lá o que fosse, 
acabou ficando azedo...
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Poema de Lisboa/Portugal

ARMANDO SILVA CARVALHO

A CHAVE INGLESA

Era um corpo inteiramente
português.
Transido de ternura
o óleo das suas mãos
protegia-me
o coração.

 Não sei que mecanismo
despertava em si
quando chorava,
fazia crescer a relva,
meus dentes indecisos
como crias
corriam e devoravam.

 Escreveu-me duas cartas
em cima de um trator
e nelas descrevia
em frases simples
o modo tortuoso
que me fez traidor.

Dicas de Escrita (Como Escrever uma Fábula) = 2

(por Danielle McManus, PhD*)

2 ESCREVENDO A HISTÓRIA DA FÁBULA

1 Preencha todo o seu rascunho. 

Uma vez que tiver um esboço dos principais componentes da história, comece a detalhá-los.

Estabeleça o ambiente e o relacionamento dos personagens com ele, que deve ser facilmente reconhecível e estar ligado diretamente aos eventos da história.

2 Coloque o enredo em ação.

Apresente o conflito entre os personagens com detalhes o bastante para que o conflito ou problema fique claro e implore por uma solução.

Avance com eficácia do evento para seu efeito. Não desvie do objetivo da história.

Tudo que acontecer na história deve ser direta e claramente relacionado ao problema e à sua resolução/moral.

Trabalhe para deixar o ritmo da fábula rápido e conciso. Não desperdice tempo com passagens descritivas desnecessariamente elaboradas ou com meditações sobre os personagens e seus arredores.

Por exemplo, em "A Lebre e a Tartaruga", o enredo evolui rápido do desafio para a corrida ao erro da lebre e, então, à vitória da tartaruga.

3 Desenvolva o diálogo.

Ele é um componente-chave para transmitir a personalidade e a perspectiva dos personagens. Em vez de descrever os traços deles de forma explícita, use o diálogo para ilustrá-los.

Inclua diálogos o bastante para ilustrar os relacionamentos entre os personagens e com a natureza do conflito que eles enfrentam.

Por exemplo, as duas características da tartaruga e da lebre são estabelecidas como equilíbrio e calma, de um lado, e arrogância e ansiedade, do outro, como podemos notar no tom do diálogo: a lebre costumava fazer troça da tartaruga por ela ser tão lenta. "Tu alguma vez chegas ao teu destino?", perguntou-lhe um dia zombando dela. "Sim", replicou a tartaruga, "e chego mais depressa do que pensas. Vamos fazer uma corrida e provar-te-ei". A lebre achou graça do desafio da tartaruga e, para se divertir, resolveu aceitar.

4 Crie a resolução.

Depois de mostrar a natureza e os detalhes do conflito, comece a avançar para a resolução dele.

Deve haver um relacionamento claro e direto entre as ações dos personagens, o desenvolvimento do problema e a ilustração da moral/resolução.

Deve haver uma solução para todos os aspectos do problema previamente estabelecido e de que não haja fios soltos.

Pegando de novo o exemplo da tartaruga e da lebre, a resolução ocorre quando a lebre arrogante dispara na corrida e para para tirar uma soneca, enquanto a equilibrada tartaruga simplesmente segue caminhando devagar, ultrapassando a rival adormecida mais tarde e alcançando primeiro a linha de chegada.

5 Articule a lição.

Quando o enredo da fábula tiver se resolvido, apresente a moral ou a lição da história.

Em fábulas, a moral da história costuma ser colocada em uma única frase incisiva.

Procure deixá-la de modo que resuma o problema, a solução e o que deve ser aprendido desta.

A simples moral de "A Lebre e a Tartaruga", por exemplo, é "Nem sempre quem muito corre é o primeiro a chegar". Ela engloba tanto o erro — ser preguiçoso e arrogante por ter confiança demais — e a lição a ser aprendida — que lentidão e persistência acabam vencendo rapidez e desleixo.

6 Escolha um título relevante e criativo.

Ele deve captar o espírito geral da história e ser atrativo o bastante para capturar a atenção do leitor.

Normalmente, é melhor esperar para fazer este Passo até escrever tudo ou ao menos até você ter o rascunho da história de modo que o título possa refleti-la de maneira geral.

Você deve escolher algo básico e descritivo, como a tradição das fábulas de Esopo (ex: "A Lebre e a Tartaruga") ou algo mais criativo e irreverente.
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continua…
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* Danielle McManus, PhD é Conselheira de Graduação em Davis, Califórnia. Completou seu PhD em Língua e Literatura Inglesa na UC Davis em 2013.

Recordando Velhas Canções (O barquinho)


Compositores: Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli

Dia de luz festa de sol
E o barquinho a navegar 
No macio azul do mar,  
tudo é verão o amor se faz
Num barquinho pelo mar
Que desliza sem parar
  Sem intenção nossa canção vai saindo
Deste mar e o sol
Beija o barco e luz, dias tão azuis

Volta do mar, desmaia o sol
E o barquinho a deslizar 
e a vontade de cantar, 
céu tão azul, ilhas do sul
E o barquinho coração, 
deslizando na canção, 
tudo isso faz, tudo isso traz
Uma calma de verão e então

O barquinho vai, a tardinha cai
O barquinho vai...
A tardinha cai o barquinho vai
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Namorada de Ronaldo Bôscoli, Nara Leão sempre o acompanhava nas excursões ao mar de Cabo Frio, que ele fazia com o par Menescal, um aficionado da caça submarina. Foi naquele ambiente praieiro que nasceu “O Barquinho”, um samba paisagístico que levou para o mar a bossa nova do amor, do sorriso e da flor.

Na vida real “O Barquinho” era o Thiago III, uma traineira com motor a gasolina e capacidade para dez passageiros, que Menescal alugava para transportar sua turma aos locais de pescaria. Dirigia o Thiago III o barqueiro Ceci, um tipo meio bronco que jamais acreditou serem seus passageiros “artistas de rádio”.

Rapidamente, “O Barquinho” deslizou para os primeiros lugares das paradas musicais, ganhando várias gravações como a de Maysa, mais apreciada até do que a de seu lançador, João Gilberto. Aliás, nessa gravação do João — informa Ruy Castro no livro Chega de saudade — o tecladista Walter Wanderley quase foi à loucura, por não conseguir reproduzir no órgão um ronco de navio, no exato timbre que o cantor insistia em lhe transmitir... com a voz. Finalmente, no arremate do disco, o maestro Tom Jobim conseguiu colocar nos trombones o tal ronco imaginado e desejado pelo João. 

Aparecido Raimundo de Souza (A menina dos olhos sem luz)

VOU CONTAR a história da menina Fernanda, uma jovenzinha de quinze anos, que morava com a sua tia, a dona Lurdes, em Aldeia da Serra, um bairro elegante de São Paulo, entre Barueri e Santana de Parnaíba. Apesar de todo o conforto oferecido, Fernanda carregava consigo um problema que a fazia diferente das demais mocinhas da sua idade. Seus olhos não viam. Não enxergavam um palmo adiante do nariz. Apesar dessa ablepsia, seu mundo (mergulhado em escuridão perpétua), não se mostrava hostil e aborrascado. A casa da tia Lurdes, se constituía em uma mansão elegante de dois andares, edificada num terreno imenso e bem cuidado, com árvores frondosas e plantas as mais diversas. A bem da verdade, um lugar elegantemente pitoresco e aconchegante, onde as cores mais exuberantes da natureza se mostravam em todo o albor da excelsitude* e realeza. 

Obviamente todas as maravilhas se faziam sentidas e vivenciadas por quem quer que ali chegasse. Em face da sua desdita, contrariando a tudo e a todos –, notadamente pelo seu coração (que possuía mil razões para se ver e se sentir amargurado), a pequena não se lastimava, nem choramingava pelos cantos. Tampouco se deixava ser levada ou abatida pela melancolia ou pela neurastenia do desespero. A consternação, por seu turno, não lhe tirava o foco. Tampouco o derrotismo, ou o desânimo avassalador, lhe enchiam o coração de medos e inquietações. Fernanda não se sentia, em momento algum, acabrunhada ou triste, levando em conta os sentidos vitais inerentes a sua visão não lhe propiciarem a chance, por menor que fosse, de vivenciar a magia contagiante do efêmero, nem que fosse por um milésimo de segundo. 

Sem se melindrar, ou se sentir ao nível do chão, a jovem agia dentro da normalidade, como se os seus olhos fossem perfeitos. Assim, as formas das coisas se moldavam em toda a sua plenitude, como a venustidade* que se fazia percebida de uma maneira que poucos poderiam acreditar e entender. Os males responsáveis pela sua “cegueira” agiam duramente como janelas fechadas em quartos ensombrecidos e lâmpadas queimadas. Para aumentar a degradante tristeza, que ela não sentia, seu “eu” interior maravilhado, não se fechara para o céu azul. Tampouco para o sol radiante e para as estrelas e a lua, quando, à noite, se prostravam no firmamento. Seu coração, mesmo norte, se fazia como uma vidraça corpulenta escancaradamente aberta para um universo paralelo de sensações imorredouras. 

Nesse unissonante paraíso, ela tocava as flores e conhecia as suas cores pelos cheiros e odores dos perfumes que exalavam. Mesmo tom, ao ouvir o vento, distinguia intimamente as paisagens que ele descrevia em suas canções. As pessoas que gravitavam ao seu redor, as empregadas, o motorista da tia, os parentes e os vizinhos que a conheciam, se quedavam em lamentações: “pobre menina! Que horror os seus olhos não capturarem as belezas que o Criador nos deu sem termos que pagar um centavo para desfrutarmos seus esplendores.” Mas Fernanda, ao tomar conhecimento dessas conversas meio que maquiavélicas, não dava a mínima. Limitava a se moderar em sorrisos indescritíveis. Sabia que, de certa forma, percebia, ou melhor, assimilava, nos mínimos detalhes... discernia mais que todo mundo, notadamente os que faziam parte do seu dia a dia, que o seu “eu” interior não vivia e não só vivia, sentia a verdadeira essência das coisas enroupadas numa majestade de beleza única e imperecível. 

As fragrâncias balsâmicas, em iguais passos, não se detinham   apenas em suas aparências. Elas se expandiam e voavam longe. Transcursavam para o divorciado (sic) dos sisudos muros que guarneciam as paredes da luxuosa construção. Certo dia, chegou ao seu conhecimento, que o Carlos –, um rapazote mais velho que ela um ano (morador quatro casas abaixo), tanto perturbou a sua mãe que, sem mais desculpas, a tal senhora se viu obrigada a bater na porta da suntuosa casa milionária. A tia de Fernanda, nessa ocasião, gentilmente atendeu as pretensões do menino, dando-lhe o acesso pleiteado. A mãe de Carlos trocou algumas palavras com a sua circunjacente, culminando com a tia aquiescendo com o encontro do garoto e a sua sobrinha. Com o ingresso do adolescente, permitiu que o púbere realizasse o seu sonho.  

A tia, apesar da nova amiga morar próxima, colocou um segurança discreto a observar o casal. Nesse interregno, convidou a mãe do piá*, para acompanhá-la até a cozinha, onde se sentaram e, enquanto os adolescentes trocavam impressões, dona Lurdes pediu para uma de suas funcionárias preparar um lanche para os convidados. O rapaz estava triste e abatido. Revelara à Fernanda que se sentia deveras insatisfeito. Apesar da pouca idade, seu sonho maior se constituía em ser pintor, porém, não sendo um profissional, e via outra* (sic), ter dado vida para uma grande quantidade de quadros, de repente lhe sucumbira a paixão pela arte. 
— Fernanda, como posso pintar novamente se faz tempo perdi o rumo, levando em conta não ver mais nenhuma beleza no mundo?

Fernanda agasalhou as mãos de Carlos entre as suas e as colocou direto sobre o coração. 
— “Sinta –, disse ela a certa altura. A beleza está aqui. – Para onde você olhar, sentirá a sua força avassaladora. Você só precisará ver com os olhos da alma, jamais com os olhos físicos. ”
O garoto, de pronto, entendeu a mensagem. Inspirado pela graciosa, dias depois recomeçou a pintar. Produziu quadros, como nunca antes havia ousado com seus pincéis. Desde então, matizou os sons do riso, eternizou as texturas da esperança e perenizou os aromas das aventuras. Graças a Fernanda, a menina dos olhos embaciados, ele descobriu uma vastidão ao seu redor de uma maneira jamais vista e sentida. 

Em conclusão dessa história, a Fernanda (que não via com os olhos físicos), ensinou com palavras simples e gestos delicados, ao seu mais novo amigo e vizinho, a usufruir da verdadeira luz que para ele estava e se fazia fria, grosso modo, gélida, oculta e apagada. Descerrou, em paralelo, uma estrada de compleição ensandecida vinda diretamente de dentro do âmago. Ela mostrou também, na sua inocência, que a beleza ímpar, o acendrado* e o inconspurcado* não estavam somente enleados ou escondidos naquilo que olhamos, e não vemos, mas, sobretudo, na maneira sublime e bucólica de como percebemos e sentimos o Universo posicionado bem lá no alto e acima, muito aquém da nossa tão sonhada e inesgotável imaginação. 
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* Vocabulário do blog, em ordem alfabética

Acendrado = depurado.
Excelsitude = magnificência.
Inconspurcado = imaculado.
Piá = guri, garoto, é uma expressão regionalista muito usada no sul do Brasil.
Sic Põe-se entre parênteses depois de uma palavra, expressão ou frase, para indicar que a citação é textualmente exata como escrita pelo autor, e que por ela não se responsabiliza quem a publica.
Venustidade = formosa, graciosa.
Via outra = entretanto,  de outro modo.

Fonte: texto enviado pelo autor