domingo, 21 de julho de 2024

Vereda da Poesia = 62 =


Trova Humorística de Nova Friburgo/RJ

THEREZINHA TAVARES

Correu atrás de estrupício
e o tropeço foi fatal,
conseguiu só sacrifício:
mais um belo pré-natal!
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Poema do Porto/Portugal

ALBERTO DE SERPA 
(Alberto de Serpa Esteves de Oliveira)
1906 – 1992

Recreio

Na claridade da manhã primaveril,
Ao lado da brancura lavada da escola,
as crianças confraternizam-se com a alegria das aves....

E o sol abre-lhes rosas nas faces saudáveis
A mão doce do vento afaga-lhes os cabelos,
— Um sol discreto que se esconde às vezes entre nuvens brancas...

As meninas dançam de roda e cantam
As suas cantigas simples, de sentido obscuro e incerto,
Acompanhadas de gestos senhoris e graves.

Os rapazes correm sem tino e travam lutas,
Gritam entusiasmados o amor espontâneo à vida,
À vida que vai chegando despercebida e breve...

E a jovem mestra olha todos enlevadamente,
Com um sorriso misterioso nos lábios tristes…
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Aldravia de Juiz de Fora/MG

CECY BARBOSA CAMPOS

Cabelos
molhados
gingando
faceiros
ao
vento
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

JOÃO DA ILHA
(Ciro Vieira da Cunha)
São Paulo/SP, 1897 — 1976, Rio de Janeiro/RJ+

Saudade

Saudade! o teu olhar longo e macio
Derramando doçura em meu olhar...
Um bocado de sol sentindo frio,
Uma estrela vestida de luar...

Saudade! pobre beijo fugidio
Que tanto quis e não cheguei a dar...
A mansidão inédita de um rio
Na volúpia satânica do mar...

Saudade! o nosso amor... o teu afago...
O meu carinho... o teu olhar tão lindo...
Um pedaço de céu dentro de um lago...

Saudade! um lenço branco me acenando...
Uma vontade de chorar sorrindo,
Uma vontade de sorrir chorando...
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Trova Premiada em Cantagalo/RJ, 2012

MARIA DA CONCEIÇÃO FAGUNDES 
(Curitiba/PR)
 
Ventre Materno… o espaço
da semente em gestação,
onde Deus fez Seu regaço
em amor à Criação!
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Poema do Rio de Janeiro/RJ

AFONSO FÉLIX DE SOUZA
Jaraguá/GO, 1925 – 2002, Rio de Janeiro/RJ

Noite sem alma

Noite sem vozes roucas
assombrando o silencio.
Noite nua.

Passos incertos
duro como o asfalto
e pensamentos leves
guiando-me os passos.
Indiferença do luar.
Na rua triste
paradas súbitas.
No olhar o medo ingênuo
da infância que não morre.

Risos de mulher
atrás da janela fechada.
Desejos rápidos
a apressar os passos...
A memória murmura
confidencias,
que o silêncio apaga.

Noite sem véu.
Noite que tem a clara nudez da alma
que sonha no escuro.
Desejos leves de amor a guiar os passos
e essa ânsia incontida de sonhar
que como, a infância
não morre nunca.
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Trova Popular

As rosas é que são belas,
são os espinhos que picam,
mas são as rosas que caem,
são os espinhos que ficam…
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

CONSTÂNCIO ALVES
(Antonio Constâncio Alves)
Salvador/BA, 1862 — 1933, Rio de Janeiro/RJ+

Soneto mudado

Eras em plena mocidade, quando
Da nossa casa, um dia, te partiste;
E eu, coitado, sem mãe, pequeno e triste,
Fiquei por esta vida caminhando.

Assim — no meu amor teu rosto brando
Do tempo à ação maléfica resiste,
E o meu é, hoje, como nunca o viste,
Tanto o passar da idade o foi mudando.

Tão velho estou, que já me não conheces;
Nem poderias ver no que te chora
Esse a quem ensinaste tantas preces.

E tão moça ainda estás que (se memora
A saudade o teu vulto) — me apareces
Como se fosses minha filha agora.
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Trova de Bauru/SP

ERCY MARIA MARQUES DE FARIA

Saudade é um velho barquinho
que  vence o tempo e a distância
e  recolhe, no caminho,
os  pedacinhos da infância ...
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Poema de Rio Claro/SP

PILAR REYNES DA SILVA CASAGRANDE

Os que vêm de longe

Os que vêm de longe não me encontrarão,
pois eu já terei partido;
talvez apenas achem marcas dos meus passos
ao longo do caminho percorrido.
Os que vêm de longe não me chorarão,
porque não saberão o que pensei,
e as pedras que pisei na caminhada
serão apenas pó do que amei,
como poeira do tempo inexorável
sepultando uma inexistência inenarrável.
Os que vêm de longe não entoarão
um verso de esperança e de alegria;
não mostrarão afeto nem tristeza
e serão pobres párias da poesia,
dessa mesma poesia que me invade
como um gosto de encanto e de saudade…
Os que vêm de longe ficarão sozinhos
eu não posso esperar ninguém,
estarei bem longe, muito longe,
dos que vêm de longe sem me ver…
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Trova Humorística de Pindamonhangaba/SP

JOSÉ OUVERNEY

Grita ao marido a ciumenta:
- Não vais tocar mais na banda!
E a loira, ao lado, argumenta:
– Banda não... Meu nome é “Vanda”!
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Soneto de Sorocaba/SP

DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Poeta

Nunca lhe falta a sensibilidade,
a sutileza, o dom de transferir
às palavras toda a expressividade
na alegria ou na mágoa de sentir.

O poeta é assim, é versatilidade...
Seja o que for que intente traduzir,
mergulha em vida, em sonho, em realidade,
faz de uma noite a aurora reflorir.

Transcende as dores de um mundo sofrido,
pisa os mistérios do desconhecido,
traz as estrelas para o nosso chão.

E quem o escuta, exclama, fascinado:
“Era assim que eu queria ter cantado,
se soubesse escrever minha canção!”
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Trova de Jacarepaguá/RJ

ANTONIO CABRAL FILHO

Enquanto o tempo ameaça
com seus bloqueios constantes,
o amor entorna uma taça
no banquete dos amantes.
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Glosa de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

Mote:
Cabelo é negócio louco... 
há divergências fatais: 
Na cabeça um fio é pouco: 
mas... na sopa... ele é demais!
Elizabete Souza Cruz 
(Nova Friburgo/RJ)

Glosa:
Cabelo é negócio louco... 
que deixa as mulheres loucas 
por perucas..., quando é pouco...; 
quando é muito..., fazem toucas! 

Mulheres! No capilar 
há divergências fatais: 
umas não querem cortar 
outras já cortam demais! 

O calvo indaga, em treslouco, 
ao fazer o seu penteado.. 
Na cabeça um fio é pouco: 
- Vou penteá-lo pra qual lado? 

Este cabelo castanho 
no meu prato não me apraz; 
sou "Coiffeur", e não o estranho, 
mas... na sopa... ele é demais!
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

ELTON CARVALHO
1916 – 1994

Angústia é a mágoa escondida
dos que, amargando o sofrer,
vegetam perto da vida
sem ter direito a viver.
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Soneto de Porto Alegre/RS

GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Amo 
 
Amo com toda a força do meu ser. 
Amo a beleza, a arte, uma canção. 
Amo o eterno desejo de vencer. 
Amo os versos que vêm do coração. 
 
Amo as flores, é grande meu querer. 
Amo essa amarga e triste solidão. 
Amo os sonhos que estou sempre a tecer. 
Amo o infinito em sua imensidão. 
 
Amo também a morte, dura e fria. 
Amo na morte, toda a ausência e dor. 
Amo meu mundo em meio à fantasia. 
 
Amo a tristeza, e mais, amo a alegria. 
Amo a vida e esse mundo encantador. 
Amo o amor, amo a paz, amo a poesia.
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Trova Premiada  em São Paulo/SP, 2011

JB XAVIER 
São Paulo/SP
 
Se for teste, meu Senhor,
o viver nesta fornalha,
tu verás que a fé e o amor
de um nordestino não falha!
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Poema de Portugal

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Porto, 1919 – 2004, Lisboa

Retrato de uma Princesa Desconhecida
 
Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos

Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino
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Triverso de de Brasília/DF

CARLOS VIEGAS 

sob o sol de inverno
o gato se espreguiça
ainda no cesto.
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Setilha de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

Como é linda a primavera
mostrando os seus esplendores,
os campos ficam mais belos
e as plantas mudam de cores;
e a natureza sagrada,
já desperta embriagada
com o perfume das flores!
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Trova de Campos dos Goytacazes/RJ

DIAMANTINO FERREIRA

Nunca fui águia altaneira,
como nunca fui condor:
– remédios à cabeceira,
somente um velho... com dor.
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Hino de Limoeiro do Norte/CE

Limoeiro, Limoeiro
Cantamos em seu louvor!
Tu és bandeira de glória
No mastro do nosso amor
És escola e oficina
De um povo trabalhador

Outrora gigantes bravos
Que no teu seio aportaram
Eram também bandeirantes
Que o Jaguaribe cruzaram!
Sem esmeraldas nos sonhos,
A terra boa encontraram

Limoeiro, Limoeiro...

No palco nobre da vida,
Soprou-te a aura envolvente!
Puseste as mãos em teu campo
Plantaste nele a semente;
Tua cidade floresce
Neste Brasil continente

Limoeiro, Limoeiro...

Tuas planícies nos mostram,
A luta que nos apraz
A busca pelo saber,
Pelo trabalho que faz
Erguer a fronte do povo,
Amar a fonte da paz.

Limoeiro, Limoeiro...

Que belas carnaubeiras
Volteiam tua paisagem!
São vincos que te sustentam,
São elos da tua imagem...
Por si, sós, uma aquarela,
Incentivando coragem.

Limoeiro, Limoeiro...

O Jaguaribe em teu seio,
Sereno, doce, a correr,
Projeta veias profundas
No solo que vai beber
As águas que passam nele,
Impondo o lema - VENCER!
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Um Hino de Orgulho e Trabalho
O 'Hino de Limoeiro do Norte' é uma celebração poética e musical da cidade de Limoeiro do Norte, localizada no estado do Ceará, Brasil. A letra exalta as qualidades e a história da cidade, destacando seu papel como um símbolo de glória e amor para seus habitantes. Desde o início, a música enfatiza o orgulho local, referindo-se a Limoeiro como uma 'bandeira de glória' e uma 'escola e oficina de um povo trabalhador'.

A canção também faz referência aos primeiros desbravadores que cruzaram o rio Jaguaribe e encontraram uma terra fértil, sem esmeraldas, mas rica em potencial. Esses pioneiros são comparados a bandeirantes, figuras históricas que exploraram o interior do Brasil. A letra sugere que, apesar de não encontrarem riquezas materiais, os primeiros habitantes de Limoeiro do Norte descobriram um lugar propício para o desenvolvimento e a prosperidade.

Outro aspecto importante do hino é a valorização do trabalho e do conhecimento. A cidade é descrita como um lugar onde a luta pelo saber e pelo trabalho é constante, elevando a dignidade do povo e promovendo a paz. As carnaubeiras, árvores típicas da região, são mencionadas como símbolos de sustentação e coragem, enquanto o rio Jaguaribe é retratado como uma fonte de vida e vitória, com suas águas serenas e profundas.

O hino, portanto, não é apenas uma homenagem à cidade, mas também uma mensagem de incentivo e esperança para seus habitantes. Ele celebra a história, a cultura e os valores de Limoeiro do Norte, reforçando a identidade e o orgulho local. https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/1160694/significado.html 
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Poetrix de Salvador/BA

GOULART GOMES

Minha Máxima

a cada nova manhã
ressuscito com a certeza
da minha culpa cristã
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Soneto de Portugal

FLORBELA ESPANCA 
(Flor Bela de Alma da Conceição Espanca)
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos

Vaidade

Sonho que sou a Poetisa eleita, 
Aquela que diz tudo e tudo sabe, 
Que tem a inspiração pura e perfeita, 
Que reúne num verso a imensidade! 

Sonho que um verso meu tem claridade 
Para encher todo o mundo! E que deleita 
Mesmo aqueles que morrem de saudade! 
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita! 

Sonho que sou Alguém cá neste mundo... 
Aquela de saber vasto e profundo, 
Aos pés de quem a Terra anda curvada! 

E quando mais no céu eu vou sonhando, 
E quando mais no alto ando voando, 
Acordo do meu sonho...E não sou nada!...
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Ah, belos tempos dourados,
que os sonhos não trazem mais...
Bailavam, corpos colados,
olho no olho, os casais!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O pavão queixando-se a Juno

A Juno o pavão se queixa
Dizendo: «ó deusa celeste,
Com razão de ti murmuro
Pela má voz que me deste.

Sou ave tua, e se quero
Entoar os teus louvores,
Estrujo os campos em torno
Com meus guinchos troadores;

O rouxinol tão mesquinho
Deleita, se a voz levanta,
É honra da primavera,
De ouvi-lo o mundo se encanta!»

Irada lhe torna Juno:
«Cala-te, néscio invejoso!
Porque desejas as vozes
Do rouxinol sonoroso?

De ricas pedras ornada
Não parece a cauda tua?
O listrão do íris brilhante
Em teu colo não flutua?

Ave nenhuma passeia
Que tanto pareça bem;
Em si ninguém reunir pode
Quantos dotes os mais têm.

Repartiu seus dons com todos
A profícua Natureza;
Às águias coragem deu,
Deu aos falcões ligeireza;

Por presságio o corvo grasna,
O mocho nas mortes pia,
A gralha males futuros
Com seu clamor pressagia.

Do que são se aprazem todos;
E se torno a ouvir queixar-te,
Dar-te-ei voz de filomela,
Mas hei de as plumas tirar-te.»

Não quis o invejoso a troca;
Que é nosso instinto invejarmos
Sempre o que os outros possuem,
Sem o que é nosso largarmos.
(tradução: Curvo Semedo)

Recordando Velhas Canções (Cantiga por Luciana)


Composição: Edmundo Souto / Paulinho Tapajós

Manhã no peito de um cantor
cansado de esperar só.
Foi tanto tempo que nem sei
das tardes tão vazias
por onde andei.

Luciana, Luciana,
sorriso de menina
dos olhos de mar...
Luciana, Luciana
abrace essa cantiga
por onde passar.

Nasceu na paz de um beija-flor,
em verso, em voz de amor,
já desponta, aos olhos da manhã,
pedaços de uma vida
que abriu-se em flor.
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A Melodia da Esperança em 'Cantiga Por Luciana'
A música 'Cantiga Por Luciana', interpretada pela cantora Evinha, é uma delicada expressão de afeto e esperança. A letra da canção descreve a sensação de um cantor que se encontra em um estado de solidão e reflexão, marcado pelo tempo que parece ter se estendido indefinidamente, deixando 'tardes tão vazias'. A menção à manhã no peito do cantor sugere um novo despertar, uma renovação de sentimentos e expectativas que se contrapõe ao cansaço e à solidão.

Luciana é apresentada como uma figura luminosa, cujo sorriso e olhar trazem a promessa de alegria e renovação. Ela é a inspiração para a 'cantiga', uma música que carrega consigo a leveza e a beleza, comparáveis à paz de um beija-flor. A canção se torna um veículo para expressar o amor e a admiração que o cantor sente, e Luciana é a musa que dá vida e cor aos dias do artista. A imagem de uma vida que 'abriu-se em flor' evoca a ideia de um novo começo, de possibilidades que se desdobram e se renovam com a presença de Luciana.

Através de metáforas poéticas, 'Cantiga Por Luciana' fala sobre a transformação que o amor e a inspiração podem trazer à vida de uma pessoa. A música é um tributo à figura que traz luz e cor aos dias do cantor, e é também um convite para que Luciana leve essa mensagem de amor e esperança por onde passar, espalhando a beleza que ela representa.

A dupla Edmundo Souto e Paulinho Tapajós ganhou o primeiro lugar no IV Festival Internacional da Canção com a doce “Cantiga por Luciana”, superando a colocação de “Andança”, que fizeram (com Danilo Caymmi) para o FIC de 1968.

Embora sem a força do sucesso anterior (lembra um pouco o adágio da toada “Cinderela”, de Adelino Moreira), a composição encanta pela singeleza do tema, que lhe dá um clima de canção infantil: “Luciana, Luciana / sorriso de menina dos olhos de mar / Luciana, Luciana / abrace esta cantiga por onde passar.”

Esse clima é realçado pela interpretação da cantora Eva (Eva Correia José Maria), que a gravou e defendeu no festival. Integrante do Trio Esperança, Evinha iniciou uma bem-sucedida carreira solo a partir dessa gravação.
Fontes:

sábado, 20 de julho de 2024

Daniel Maurício (Poética) 71

 

Geraldo Pereira (Contrastes do Cotidiano)

Acomodado na sala de espera de um laboratório qualquer, esperando a vez, como tantos outros, nunca pensei testemunhar diálogos que me permitissem ensaiar reflexões quase sociológicas, a propósito do difícil exercício da vida, quando a idade vai marcando o tempo com a prata dos anos. 

A senhora, na casa dos oitenta, era cliente aprazada, imagino, fazendo-se acompanhar da filha e de mais um filho, além de uma neta muito jovem, ainda. Conversavam a respeito dos incômodos provocados por ela, pela mulher de idade avançada, de corpo vergando à força das décadas e de bengala à mão. Desfiavam um rosário de queixas, desde o sono precoce no cair da tarde à insônia das madrugadas, sem falar nas impossibilidades fisiológicas de retenção das excreções orgânicas. Falavam como se estivessem imunes à senectude.

A moça era a mais loquaz. Morava com a avó e por isso vinha presenciando cenas com as quais não concordava; não concordava em vê-la sedentária, na sala do apartamento, entregue à artrose, enquanto o avô, todos os dias, descia e fiava boa conversa com o porteiro do prédio. Que fosse, também, àquele passeio matinal, entre o andar de cima e o térreo e ouvisse do empregado as suas histórias, mazelas de uma outra vida. E não podia se conformar, também, com o cochilo vespertino, transformado em sono profundo até, com roncos e outros ruídos, à boquinha da noite. Por isso, às quatro já estava de pé, andando pra lá e pra cá, insone. É que ao despertar daqueles inícios oníricos na varanda de casa, não cuidava em sair correndo para a cama, como desejava a nunca cuidadosa neta, mas tomava banho e lanchava. Assim, perdia o sono e os sonhos!

A filha, mais cautelosa, pouco dizia, mesmo que não reagisse. O filho, entretanto, malhava a mãe com todas as culpas. Não se cuidava! Deveria tomar três remédios distintos para a hipertensão de que era portadora, mas esquecia. Tomava dois ou tomava um. Nada tomava, por vezes. Um absurdo, insistia! Pior quando a neta abriu a boca para falar da incontinência urinária da pobre mulher, a manchar o sofá da sala e a deixar um rastro, como se bicho fosse, antes de chegar ao banheiro. Tinha que sair atrás, com o pano de chão, a enxugar tudo e era preciso providenciar para se levar ao sol a peça em que costumava sentar-se, impregnada, como estava, pelo líquido das excreções humanas. Procedia assim porque queria, afirmava com todas as letras e com todas as sílabas, pois nada a impedia de se levantar antes das urgências orgânicas. Fosse mais cuidadosa, portanto!

A avó, que cumpriu, como se imagina, uma trajetória longa, palmilhada de sacrifícios e preenchida por doações que só as mães podem oferecer, nada respondia e nada comentava, ouvia tudo com uma fisionomia de profunda tristeza. Em que estaria pensando? Que reflexão fazia ali, naquele momento de tantas reclamações e de tantas queixas? Quase me aproximo e intercedo em favor da mulher idosa. Ou quase chego perto e verbalizo o futuro que está reservado à toda a gente, de uma forma ou de outra. Por que se ocupavam de comentários assim, tão vazios de conteúdo existencial? Que benefícios poderia ter, fiando conversa com o porteiro? O homem do prédio teria o que lhe acrescentar à vida vivida? E o sono? Não sabem que é da idade, mesmo, essa sonolência precoce e a insônia do despertar antecipado? E não conhecem a fragilidade dos esfíncteres humanos na velhice? 

Lembrei-me de uma outra cena que vi, há poucos dias, num hospital público do Recife, tão diferente daquela interlocução de ocasião. No leito da emergência uma senhora de cabelos brancos também, ao lado do marido, de idade próxima, como parecia, agradando-lhe os braços e confortando-lhe o espírito. Gente simples, penso eu, sem muito estudo e sem muita cultura, mas dotada de afetividade, de amor ao próximo, sobretudo assim, no sofrimento e na dor. Viveram juntos – Quem sabe? – anos a fio na contabilidade do tempo e talvez se despedissem, mas a palavra que os uniu e os afagos que os aproximaram confortavam a derradeira hora. Sei de quem adoeceu gravemente em noite alta e antes de ser levada à emergência virou-se para o marido e beijou-lhe a fronte. Foi o derradeiro ósculo! Despediu-se, afinal!

Fonte: Geraldo Pereira. A medida das saudades. Recife/PE, 2006. Disponível no Portal de Domínio Público

Vereda da Poesia = 61 =


Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Com a filha "naquele estado",
o pagode interrompeu:
“- Confessa ou morre ... tô armado!”
Os três confessam: "Fui eu".
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Poema de Vila Velha/ES

APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA

Chuva e saudade

Cai a chuva... é triste o dia...
A manhã é cinzenta e baça...
E eu mudo vejo a chuva fria,
A correr de leve na vidraça...

E a chuva cai... cai e não passa...
Nem sequer a chuva estia...
Para que um pouco se desfaça,
A saudade de quem eu tanto queria!...

Qual essa vidraça, está meu rosto...
E meus olhos não querem desanuviar...
É por demais sofrido o meu desgosto...

Aumenta a chuva e com ela a minha dor...
Soluço qual criança perdida, sem cessar,
Na incerteza de ao menos rever-te amor!...
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Aldravia de Ponte Nova/MG

MARISA GODOY

Abelha
morta:
menos
mel
no
pote
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Soneto de Curitiba/PR

EMÍLIO DE MENESES
(Emílio Nunes Correia de Meneses)
Curitiba/PR, 1816– 1918), Rio de Janeiro/RJ

Um Homúnculo

Tão pequenino e trêfego parece,
Com seu passinho petulante e vivo,
A quem o olha, assim, com interesse,
Que é a quinta-essência do diminutivo.

Figura de leiloeiro de quermesse,
Meloso e parecendo inofensivo,
Tem de despeitos a mais farta messe,
E do orgulho é o humílimo cativo.

Não há talento que ele não degrade,
Não há ciência e saber que ele, à porfia,
Não ache aquém da sua majestade.

Dele um colega, há tempos, me dizia:
É o Hachette* ilustrado da vaidade,
É o Larousse da megalomania!
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* Hachette = Originalmente, a Hachette era uma livraria e casa editorial fundada por Louis Hachette em 1826
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Trova Premiada  em  Araras/SP, 1993

DARLY O. BARROS 
São Francisco do Sul/SC, 1941 - 2021, São Paulo/SP

Passando a vida em revista
descubro, ao fim dos meus dias,
ter sido o NADA a conquista
que eu trago nas mãos vazias...
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Poema de Curitiba/PR

EMILIANO PERNETA
(Emiliano David Perneta)
1866 – 1921

Para Um Coração

Um dia, vi-te, assim, bailando,
E a uma pergunta, que te fiz,
Tu respondeste : "Eu amo, e quando,
E quando eu amo, eu sou feliz!"

Por uma noite perfumada,
Cantaste, sobre o teu balcão.
E eu disse, ouvindo a áurea balada :
- Ah! Que feliz é o coração!

Quanta felicidade, quanta,
Não há ninguém feliz assim :
Um dia baila e noutro canta,
Como se fosse um arlequim...

Eu disse .. Mas agora vejo,
Nesse silêncio tumular,
Que estás sofrendo, e o teu desejo
Já não é mais o de bailar...

Nem de bailar, e nem, de certo
De nada mais, de nada mais...
Que fazes, pois, triste deserto,
Que fazes pois, que não te vais?

Mas, choras, creio, choras? Onde?
Se viu chorar um Lucifer?
Pobre diabo, vamos, esconde
Essas fraquezas de mulher...
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Trova Popular

A árvore do amor se planta
no centro do coração;
só a pode derrubar
o golpe da ingratidão.
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Soneto do Rio Grande do Sul

MÁRIO QUINTANA
(Mário de Miranda Quintana)
Alegrete/RS, 1906 – 1994, Porto Alegre/RS

O Auto-retrato

No retrato que me faço
— traço a traço —
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...

às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...

e, desta lida, em que busco
— pouco a pouco —
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança...
Terminado por um louco!
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Trova de São Fidélis/SP

A.M.A. SARDENBERG
(Antonio Manoel Abreu Sardenberg)

A vida segue de arrasto,
do sonho nada me resta…
E o que sentia tão vasto,
vejo agora que não presta.
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Poema do Paraná

HELENA KOLODY
Cruz Machado/PR, 1912 — 2004, Curitiba/PR

Alegria de Viver

Amo a vida. 
Fascina-me o mistério de existir. 
Quero viver a magia 
de cada instante, 
embriagar-me de alegria. 

Que importa a nuvem no horizonte, 
chuva de amanhã? 
Hoje o sol inunda o meu dia.
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Trova Humorística de São Paulo/SP

SELMA PATTI SPINELLI

Foi galantear, o Pérsio,
e o otário se deu mal:
"Tu és de fechar o comércio!”
E a morena era fiscal!
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Soneto de Taubaté/SP

LUIZ ANTONIO CARDOSO

Solidão
  
Propensos a quereres semelhantes,
tendo a poesia inata em nossas mentes,
tínhamos o infinito... e como amantes
seríamos estrelas reluzentes.
 
Mas eis que seus desejos, tão arfantes,
fizeram dos meus sonhos, tão descrentes,
migalhas de lembranças arquejantes,
fenecendo em processos deprimentes.
 
Recusaste o poeta que há em mim,
e todos os meus versos, que sem fim,
esculpiram o amor que eu quis te dar...
 
e decretaste enfim, a solidão,
para me acompanhar à imensidão...
onde hei de eternamente te esperar!
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Trova de Bandeirantes/PR

LUCILIA ALZIRA TRINDADE DECARLI

Na pouca pressa que tens
de aliviar minha saudade,
enquanto espero e não vens,
transcorre uma eternidade!
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Glosa Gauchesca

GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Não Sei...

MOTE:
Não sei escrever bonito,
pois me falta inspiração,
mas o que aqui está escrito
eu sinto em meu coração!
Sofia Irene Canalles
Pedro Osório/RS, 1911 – 2004, Porto Alegre/RS

GLOSA:
Não sei escrever bonito,
mas sei amar e sentir
a beleza do infinito,
simplesmente em ir e vir!

Às vezes, eu não escrevo,
pois me falta inspiração,
outras vezes, eu me atrevo
e escrevo com emoção!

Meu verso não é erudito,
possui grande singeleza,
mas o que aqui está escrito,
sai-me da alma, com certeza!

Eu sou feliz escrevendo,
e não é mera ilusão,
ver a alegria nascendo...
eu sinto em meu coração!
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Trova de Fortaleza/CE

HAROLDO LYRA

Confirma-se o sofrimento
do pobre homem, coitado!...
pois desde o seu casamento
que ele vive acorrentado.
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Soneto de Nova Friburgo/RJ

SÉRGIO BERNARDO

Êxodo

Ir-me de mim, mas ir com desapego
de tudo quanto sou ou tenha sido
-- eu, que imagem me fiz de um mito grego,
no espelho de outros olhos refletido.

Partir... Mas quando? Se ainda agora chego
de algum lugar onde vaguei perdido,
trazendo, para meu desassossego,
a inconsciência total de haver partido.

Ir louco, a deflorar os horizontes,
o espírito andarilho, a carne errante,
na fome, as árvores; na sede, as fontes.

Venha junto o que igual absurdo enfrente,
de partir para longe a cada instante
e ficar em si mesmo eternamente.
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Trova Premiada  em Ribeirão Preto/SP, 2014

MERCEDES LISBOA SUTILO 
(Santos/SP)

A gandula bem nutrida,
Causava enorme furor:
- dava bola pra torcida
E pra cada jogador! 
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Poema dos Estados Unidos

LAURA RIDING
 Nova Iorque/Nova York ,1901 – 1991, Sebastian/Flórida

Uma Gentileza

Estar viva é estar curiosa. 
 Quando perder interesse pelas coisas 
 E não estiver mais atenta, álacre 
 Por fatos, acabo este minguado inquérito. 
 A morte é a condição do supremo tédio. 

Vou deixar que me desintegre 
 E aí, por saber da paz que a morte traz, 
 Seria bom seguir convencendo o destino 
 A ser mais generoso, estender, também, 
 O privilégio do tédio a todos vocês.
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Haicai de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Porque o dia é curto,
eu curto ao máximo o dia.
Vovô já o dizia.
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Setilha Potiguar

JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Nós temos tanto calor
e poeira em nosso chão,
que recebemos em festa
toda chuva no sertão,
e eu sinto, nessa bonança,
uma chuva de esperança
lavando meu coração.
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Trova de Taubaté/SP

JUDITE DE OLIVEIRA 

Falamos muito de paz
mas, às vezes, esquecemos
que todo bem que ela traz
é todo o bem que fazemos.
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Hino de Guarapari/ES

Quer viver o sonho lindo
Que eu vivi?
Vá viver a maravilha
De Guarapari.

Um recanto que os poetas
E os violões
Não conseguem descrever
Nas mais lindas canções.

Pelas suas noites claras,
A lua serena
Vem brindar os namorados
Na areia morena.

Ninguém poderá sonhar
Nem viver o que eu vivi
Longe desta maravilha
Que se chama Guarapari.
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A Maravilha de Guarapari: Um Hino de Encantamento e Nostalgia
O 'Hino de Guarapari' é uma celebração poética da cidade de Guarapari, localizada no estado do Espírito Santo, Brasil. A letra da música exalta a beleza natural e a atmosfera encantadora da cidade, convidando o ouvinte a vivenciar a mesma experiência mágica que o narrador teve. A música começa com um convite direto: 'Quer viver o sonho lindo que eu vivi? Vá viver a maravilha de Guarapari.' Esse verso inicial já estabelece um tom de admiração e nostalgia, sugerindo que a cidade possui uma qualidade quase onírica.

A segunda estrofe destaca a dificuldade de capturar a essência de Guarapari em palavras ou música, afirmando que nem os poetas nem os violões conseguem descrever a cidade em suas 'mais lindas canções.' Isso sugere que Guarapari é um lugar que deve ser experimentado pessoalmente para ser verdadeiramente apreciado. A cidade é apresentada como um recanto de beleza indescritível, um lugar que transcende a arte e a poesia.

A terceira estrofe pinta uma imagem romântica das noites em Guarapari, onde a lua serena ilumina a areia morena, criando um cenário perfeito para os namorados. Essa imagem reforça a ideia de que Guarapari é um lugar de sonhos e romance, um refúgio para aqueles que buscam beleza e tranquilidade. A música termina com uma declaração enfática de que ninguém pode sonhar ou viver plenamente longe de Guarapari, solidificando a cidade como um lugar de importância emocional e espiritual para o narrador. https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/1788214/significado.html 
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Poetrix do Rio de Janeiro

DOUGLAS SIVIOTTI

passageira

a vida se vai
na espera ansiosa
do ponto de ônibus
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Soneto de de São Luís/MA

ORLANDO BRITO
Niterói/RJ, 1927 – 2010, São Luís/MA

A Trova

A trova é uma janela para o Sonho
que eu abro quando estou triste e sozinho.
A trova faz o mundo mais risonho,
com ela eu sou feliz no meu caminho.

Tudo cabe na trova: ora o medonho
tombar de um raio, ora o burburinho
do vento, ora um violão meigo e tristonho,
clamor de oceano, sons de passarinho.

Gosto da trova desde aquela data
em que andava a caçar tiés na mata,
armando uma arapuca e pondo alpiste.

Pois hoje, na arapuca de uma trova,
tento prender alguma idéia nova
para ouvi-la cantar, quando estou triste.
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Trova de Campo Largo/PR

ÁUREO BAIKA

Eu curto todo momento
e não perco um só segundo.
Num minuto em pensamento
posso estar em outro mundo!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

A galinha que punha ovos de ouro

Um homem tinha
Uma galinha,
Que Juno bela
Por desenfado
Tinha fadado:

Vivia ela
Dentro dum covo,
E punha um ovo
De ouro luzente
Em cada um dia,
Que valeria
Seguramente
Dobrão e meio;

Mas o patrão
Um dia cheio
De ímpia ambição,
Foi-se à galinha
E degolou-a.

Examinou-a;
Porque supunha
Que em si continha
Rico tesouro,
Visto que punha
Os ovos de ouro;

Mas nada achou!
E por avaro
Se despojou
Do rico amparo
Que nela tinha.

Outra galinha
Jamais topou
Com tal condão;
E assim pagou
Sua ambição.
(tradução: Curvo Semedo)