segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Vereda da Poesia = 82 =


Trova de Pouso Alegre/MG

ROBERTO RESENDE VILELA

Cai a chuva... o rio inunda...
o vento torce o arvoredo...
Mas, se a raiz é profunda...
nenhuma planta tem medo!
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Poema de Barcelona/Espanha

JOSÉ AGUSTÍN GOYTISOLO
(1928 – 1999)

Neste Mesmo Instante...

Neste mesmo instante
há um homem que sofre,
um homem torturado
tão somente por amar
a liberdade. Ignoro
onde vive, que língua
fala, de que cor
é sua pele, como
se chama, mas
neste mesmo instante,
quando teus olhos leem
meu pequeno poema,
esse homem existe, grita,
pode-se ouvir seu pranto
de animal acossado,
enquanto morde os lábios
para não denunciar
os amigos. Ouves?
Um homem só
grita amarrado, existe
em algum lugar. Eu disse só?
Não sentes, como eu,
a dor de seu corpo
repetida no teu?
Não te brota o sangue
sob os golpes cegos?
Ninguém está só. Agora,
neste mesmo instante,
também a ti e a mim
nos mantêm amarrados.
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Trova de Queluz/Portugal

FERRER LOPES

As sementes da mentira,
e da calúnia também,
giram num mundo que gira
na lama que o mundo tem.
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Soneto de Novo Hamburgo/RS

ALMA WELT
(1972 – 2007)

O Destino

Nossa vida faz patético percurso
Até aquela final nota de ironia, 
Das cartas sempre o último recurso
Pra velar sua vocação que é a poesia.

Tenho medo da leitura da cigana,
Conquanto muitas vezes enganosa,
Quando lendo nossa vida nos engana,
Pensa dar gato e dá poesia pela prosa.

Da resposta não temos o tal código
Como um pai não saberá antes da hora
Se pra casa volta o filho pródigo...

Tudo é mistério: estamos às escuras,
Quem mente para a gente jamais cora,
Também não aquela face que procuras…
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Trova Premiada 

ANA MARIA GUERRIZE GOUVEIA
Santos/SP

Sendo a trova um doce encanto,
eu tornei-me um trovador
e em quatro versos eu canto...
os sonhos vivos do amor!
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Poema de Murrupula, Província de Nampula/Moçambique

ARMANDO GUEBUZA

As tuas dores

As tuas dores
mais as minhas dores
vão estrangular a opressão

Os teus olhos
mais os meus olhos
vão falando da revolta

A tua cicatriz
mais a minha cicatriz
vão lembrando o chicote

As minha mãos
mais as tuas mãos
vão pegando em armas

A minha força
mais a tua força
vão vencer o imperialismo

O meu sangue
mais o teu sangue
vão regar a Vitória.
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Trova Popular

O amor entra pros olhos,
vai pro peito direitinho.
Amor embebeda a gente
como cachaça com vinho.
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Soneto de Brasília/DF

FRANCISCO DAS CHAGAS ESMERALDO MOURÃO

Fúria da natureza

Soprava forte o vento sobre as águas
Galhos e folhas voando pelos ares
Furiosa a natureza são as mágoas
Com a depredação, lamúria e males.

Inundação sufoca nas cidades
Desliza morro casas morre gente
Lassidão à dor, a infelicidade,
O vil ledo ignora sorridente.

Quem tem algum, põe fogo e desmata,
Não se preocupa, pensa em se dar bem,
Não Sabe as consequências que advém.

Mais uma vez devasta a natureza
Destruindo e provocando absurdos
Sofre o inocente, sem qualquer escudo.
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
Luiz Gilberto de Barros

Amor não tem dialeto,
basta apenas um olhar
e umas gotinhas de afeto
para um sonho se expressar.
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Poema de São Paulo/SP

BETTY VIDIGAL

O amor dos outros

O amor dos outros
é indiferente.
Só o da gente
é especial,
fosforescente,
brilha no escuro.

O amor dos outros
é tão pequeno,
nem vale a pena
pichar o muro.

Ninguém entende
o amor alheio;
não é bonito
e não é feio.
O amor dos outros
é tão efêmero!
Estão amando?
Fazendo gênero?

O amor dos outros
é muito pouco:
só o da gente,
direito ou torto,
alegre ou triste,
sereno ou louco,
lascivo ou puro,
céu ou inferno
- só o da gente
será eterno.

Olha pro rosto
do amor alheio:
são só dois olhos,
nariz no meio,
cadê a boca?
Olha pra cara
do amor da gente:
que coisa louca!
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Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Nas Bodas de Ouro, ela encuca:
- Quer, meu bem, uma canjinha?
Grita o velho: - Tá caduca?
Que culpa tem a galinha?
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Soneto de Taboão da Serra/SP

DANIEL TOMAZ WACHOWICZ

A voz de uma pedra

Sou pedra. Falo feito pedra bruta,
Dura, tão dura igual palavra dura,
Palavra pedra, dura, forte e pura.
Daqui não saio, tem que ter disputa,

E pedra bate sempre bruta, forte,
Impenetrável, grave, tesa e brava,
Massa pesada, voz que é bruta clava,
Som estridente de pavor e morte.

Tenho vontade pétrea impenetrável,
De duros sentimentos, maleável
Nunca, teimosa sempre, sou teimosa

E provarei para vocês agora.
Posso virar estátua que decora,
Mas permaneço toda pedregosa.
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Trova de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DE CARLI

O vislumbre inexplicável
das coisas transcendentais,
nutre a fé, que, infatigável,
não retrocede, jamais!
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Spina de Caratinga/MG

REJANE NASCIMENTO

Rememorar 

Recordo da juventude,
reconheço os momentos 
aquietando o coração.

Não tem como não lembrar 
do meu jeito meigo, carinhoso.
Agradeço com uma bela oração.
Trago poesia escrita pela vida;
minha alma canta uma canção.
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

ANIS MURAD
(1904 - 1962)

Debaixo de nossa cama,
 que tu deixaste vazia,
 o meu chinelo reclama
 o teu chinelo, Maria…
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Poema Paulista

ORIDES FONTELA
São João da Boa Vista/SP (1940-1998) Campos do Jordão/SP
 
    Elegia (I)

    Mas para que serve o pássaro?
    Nós o contemplamos inerte.
    Nós o tocamos no mágico fulgor das penas.
    De que serve o pássaro se
    desnaturado o possuímos?

    O que era voo e eis
    que é concreção letal e cor
    paralisada, íris silente, nítido,
    o que era infinito e eis
    que é peso e forma, verbo fixado, lúdico

    O que era pássaro e é
    o objeto: jogo
    de uma inocência que

    o contempla e revive
    — criança que tateia
    no pássaro um
    esquema de distâncias —

    mas para que serve o pássaro?

    O pássaro não serve. Arrítmicas
    brandas asas repousam.
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Trova Premiada em Curitiba/PR, 2016

JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

Para uma vida perfeita,
devemos ter sempre em mente,
que toda e qualquer colheita,
deve-se à boa semente.
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Poema Paulista

HILDA HILST
São Paulo/SP, 1930 – 2004, Campinas/SP

XLII

As barcas afundadas. Cintilantes
Sob o rio. E é assim o poema. Cintilante
E obscura barca ardendo sob as águas.
Palavras eu as fiz nascer
Dentro de tua garganta.
Úmidas algumas, de transparente raiz:
Um molhado de línguas e de dentes.
Outras de geometria. Finas, angulosas
Como são as tuas
Quando falam de poetas, de poesia.

As barcas afundadas. Minhas palavras.
Mas poderão arder luas de eternidade.
E doutas, de ironia as tuas
Só através de minha vida vão viver.
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Trova Humorística de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Menininho, numa prova,
sabiamente assim se exprime:
– Lua nova?... Lua nova
é a cheia que fez regime!
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Escada de Trovas de São Paulo /SP

FILEMON MARTINS
(Filemon Francisco Martins)

Humildade

NO TOPO:
"É um prazer bem diferente
Chegar e fazer o bem,
E partir humildemente
Sem dizer nada a ninguém".
Cipriano Ferreira Gomes
(São Paulo - SP)

SUBINDO:
"Sem dizer nada a ninguém"
espalha a paz e a esperança,
como o Cristo de Belém
deixando o Amor como herança.

"E partir humildemente"
sem alarde pelo mundo,
pregando a fé, como crente,
no sentido mais profundo.

"Chegar e fazer o bem"
a todos sem distinção,
é ter, na vida e no Além
muita luz no coração.

"É um prazer bem diferente"
sentir a missão cumprida,
ver o mundo sorridente
dando mais valor à vida.
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Trova da Princesa dos Trovadores

CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Nós somos duas tipoias,
somando forças escassas:
- quando eu fracasso, me apoias,
te apoio, quando fracassas!...
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Hino de Lorena/SP

Guaypacaré das eras coloniais
Surgida no roteiro das "bandeiras"
Que escalaram sertões e cordilheiras
A demandar as minas cataguases.

Do Paraíba à margem, teus pioneiros
Erigiram à Virgem uma ermida,
E entre bênçãos a terra protegida
Na Vila Hepacaré fez suas bases.

Estribilho
Oh! Terra das Palmeiras Imperiais,
Velho berço de Condes e Barões,
Ninguém de ti se esquecerá jamais,
Ao reviver as tuas tradições!

Do solo teu que o braço escravo arou,
Brotaram verde-rubros cafezais,
E pelo Vale, imensos canaviais,
Do teu progresso indústrias se tornaram.

Os teus heróis que a história consagrou ·
Batalharam por nobres ideais,
Na jornada imortal dos Liberais,
Intrépidos os filhos teus tombaram!

Estribilho
Oh! Terra das Palmeiras Imperiais,
Velho berço de Condes e Barões,
Ninguém de ti se esquecerá jamais,
Ao reviver as tuas tradições!

Do teu passado, rico em tradições,
Cantamos no teu hino toda a glória,
Na exaltação da tua bela história,

A esta gente brava e varonil.
E contemplando as tuas gerações,
Oh! Lorena de outrora e do presente
Te confiamos nobre sonho ardente:
O esplêndido futuro do Brasil

Estribilho
Oh! Terra das Palmeiras Imperiais,
Velho berço de Condes e Barões,
Ninguém de ti se esquecerá jamais,
Ao reviver as tuas tradições!
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Trova de Pedro Leopoldo/MG

WAGNER MARQUES LOPES

Futebol... O bom se faz -
passe a passe... Par a par...
Que o craque chamado Paz
ninguém consiga driblar!
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Poema de Salvador/BA

AFFONSO MANTA

    O realejo de vinho

    Para quem me queira ouvir:
    Sou um homem aos frangalhos.
    Parte por culpa de tudo.
    Parte por culpa de nada.

    E digo mais ao casual
    Ouvinte deste relato:
    Não sendo herdeiro nem rico,
    Não tenho crédito na praça.

    Amo as japonas escuras
    De mangas e tudo vasto.
    E os colarinhos puídos
    Uso desabotoados.

    Ao pôr a minha gravata,
    Fabrico um laço bem largo.
    E acho triste andar com ela.
    E mais tristes as gravatas.

    Eu nunca faço questão
    Que uma roupa seja cara.
    Mas ampla e, sendo possível,
    Com certo ar desesperado.

    Eu prefiro aos bons charutos
    Um velho e forte cigarro.
    E odeio fumar cachimbo
    Pois sou muito angustiado.

    No mais, um vento me agita,
    Interior e largado.
    E me devasta os cabelos,
    Rosto, sorriso e palavra.
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Trova de Curitiba/PR

MARITA FRANÇA 
(1915 – 2009)

A poesia, inspiração,
fulge na alegria e dor…
São toques do coração,
que nos empolgam no amor.
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O avarento que perdeu o tesouro

Quem não usa não tem, reza o adágio;
E é bem verdadeiro;
Pois nada prestará, sem o gozarmos,
Acumular dinheiro.
Esopo, no seu conto
Do tesouro escondido,
Fornece belo exemplo ao nosso ponto.

Houve outrora um avarento
Que ouro sobre ouro juntava,
E nem um real gastava:
Dele escravo e não senhor,
Ao vê-lo, imaginaríeis
Que a fortuna assim unida
Guardava para outra vida,
Para outro mundo melhor.

Enterrou-o numa cova,
E a alma enterrou com ele.
Coma, beba, durma, vele,
O seu único prazer
É pensar a cada instante
No seu virginal erário,
Que adora, como sacrário;
E a cada instante ir vê-lo.

Foi lá, foi lá tantas vezes,
Que um cavador, com suspeita
Do mistério, a cova estreita
Abriu, e tudo roubou.
Pouco depois o avarento
O passeio acostumado
Fez ao seu ouro adorado,
Mas... só o ninho lhe achou!

Pasma; lágrimas derrama;
Soluça; geme; suspira;
De raiva os cabelos tira.
É um sonho! Não o crê!
Nisto acaso um viandante
Por aquele sítio passa,
E com dó de tal desgraça
Pede a razão do que vê.

«Roubaram-me o meu tesouro!»
— O teu tesouro roubaram?
E em que lugar o encontraram?
— Junto desta pedra; aqui.
— Por que o trouxeste tão longe?
Receias alguma guerra,
Para o esconderes na terra
De todos, e até de ti?

Veio espairecer no campo?
Antes em casa guardado
Estivesse a bom recado,
E tu a vê-lo, e a gastar.
— Eu gastar o meu dinheiro!
O meu dinheiro? Estás louco!
Custa ganhá-lo tão pouco?
Eu nunca lhe ousei tocar!

— Que me dizes! Impossível!
— Nunca! — Então inútil era.
E a mágoa te desespera?!
Famoso! Deixem-me rir!
Nesse caso, põe na cova
Uma pedra: o mesmo importa
Que a tua riqueza morta;
Do mesmo te há de servir.»
(tradução: Ramos Coelho)

Recordando Velhas Canções (Funeral de um lavrador)


Compositor: Chico Buarque e João Cabral de Melo Neto

Esta cova em que estás, com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho, nem largo, nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a parte que te cabe deste latifúndio

Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo
Estarás mais ancho que estavas no mundo

É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo te sentirás largo
Porém mais que no mundo te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada, não se abre a boca

É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas a terra dada, não se abre a boca
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A Crítica Social em 'Funeral de Um Lavrador'
A canção 'Funeral de Um Lavrador', interpretada por Chico Buarque, é uma obra que transcende a mera descrição de um enterro para se tornar uma poderosa crítica social. A letra, que fala sobre a medição da cova de um lavrador, utiliza-se de uma metáfora para discutir as desigualdades sociais e a questão da reforma agrária no Brasil. A 'conta menor' que o lavrador 'tirou em vida' simboliza a pequena parcela de terra e as limitadas oportunidades que teve enquanto vivo, em contraste com os latifúndios, grandes extensões de terra pertencentes a poucos.

A repetição da ideia de que na morte o lavrador estará 'mais ancho' do que no mundo vivo é uma ironia amarga que destaca a liberdade que a morte traz, em comparação com a opressão sofrida em vida devido à concentração de terras e à exploração dos trabalhadores rurais. A música reflete o contexto histórico de luta pela reforma agrária no Brasil, onde a distribuição desigual de terras é um problema crônico, gerando conflitos e desigualdades sociais.

Chico Buarque, conhecido por suas letras engajadas e críticas à realidade social e política, utiliza a música como um veículo para denunciar e provocar reflexão. 'Funeral de Um Lavrador' é um exemplo de como a arte pode ser usada para comentar e influenciar questões sociais, mantendo-se relevante mesmo após décadas de sua composição. https://www.letras.mus.br/chico-buarque/45132/ 

domingo, 11 de agosto de 2024

Silmar Bohrer (Croniquinha) 118

Travessias são caminhos que usamos em andanças a qualquer momento. Sazonais muitas delas - em determinados dias, meses, anos. Nos levam no barco do tempo, e então dizemos que a vida é 
uma travessia. 

Navegamos até há pouco nos mares do outono, folhas caindo, galhos verdissecos, horizontes luminosos, céus negrumes, sol com chuva, casamento de viúva, verãozinho de maio. Ali dentro o braseiro do fogão, primeiras ameaças da invernia, os ventinhos, os sabores que aquecem até o coração - - vinhos, a graspa*, as canjebrinas**. 

Badalam os sinos de junho, chegamos à travessia do inverno com suas peculiaridades. Umidade, frio, geadas. As grimpas em fogaréu, a cinza dando o toque saboroso do pinhãozinho embaixo do pinheiro. 

Revisão da adega. As sopas - agnoline, legumes, feijão. O aconchego às roupas quentes, aos acolchoados, aos pijamas, o cobertor "pula-cerca", a preguiça de levantar cedo . . . 

A vida é farta de travessas, travessuras e travessias. 

Atravessemos entonces . 
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* Graspa = Aguardente feita através da destilação das borras do vinho.
** Canjebrina = (pop.) pinga.

Fonte: Texto enviado pelo autor 

Dissecando a magia dos textos (“O estraga-lar”, de A. A. de Assis)

Publicado neste blog em 22 de junho de 2024, no link https://singrandohorizontes.blogspot.com/2024/06/a-de-assis-o-estraga-lar.html

"O Estraga-Lar" é uma narrativa que explora temas como traição, masculinidade e o cotidiano das relações conjugais de forma humorística e crítica. Vamos analisar alguns aspectos importantes da história.

TEMAS PRINCIPAIS


Tradição e Modernidade:
O botequim é um espaço tradicional onde os homens se reúnem para desabafar e compartilhar experiências, refletindo as normas sociais da época.

A entrada de Dona Zuca simboliza uma quebra de padrões, trazendo uma nova dinâmica ao ambiente masculino.

Masculinidade e Vulnerabilidade:
Os homens se sentem à vontade para compartilhar suas "proezas", mas essa bravata esconde a vulnerabilidade de suas relações.

O papel de Dona Zuca provoca a reflexão sobre como as mulheres também estão cientes das fraquezas masculinas, muitas vezes subestimadas pelos homens.

Consequências da Traição:
O "Estraga-Lar" é um microcosmo das consequências da traição, onde a diversão se transforma em conflito.

As revelações dos homens culminam em uma reviravolta, mostrando que a deslealdade pode ter repercussões graves.

ESTRUTURA NARRATIVA

Introdução: A narrativa começa com a descrição do botequim e a famosa iguaria, estabelecendo um cenário familiar para muitos leitores.

Desenvolvimento: A entrada de Dona Zuca altera a dinâmica do grupo, levando os homens a se exporem. Os diálogos são ricos em humor e crítica social.

Clímax: O momento em que as esposas invadem o botequim, armadas com um gravador, é o ponto alto da história, trazendo um conflito inesperado que muda o tom da narrativa.

CARACTERIZAÇÃO DOS PERSONAGENS

Dona Zuca: Uma figura forte e astuta, que manipula a situação em seu favor. Ela desafia os homens, expondo suas fraquezas e revelando a hipocrisia.

Os Homens: Representam uma masculinidade frágil, que se exibe em bravatas, mas que é facilmente desmantelada pela presença de uma mulher. Cada um oferece uma visão diferente de como lidam com suas vidas conjugais.

DESENVOLVIMENTO DE TEMAS

1. Hipocrisia e Máscaras Sociais:
Os homens no botequim exibem uma postura de confiança enquanto compartilham suas infidelidades. Isso revela uma hipocrisia, pois, apesar da bravata, muitos têm medo das consequências.

Dona Zuca atua como uma força desmascaradora, revelando a vulnerabilidade por trás da fachada de machismo.

2. A Força Feminina:
Dona Zuca representa uma nova mulher, que não se cala diante das traições. Sua audácia desafia os estereótipos de gênero da época.

A chegada das outras mulheres no botequim demonstra a união e a força coletiva em face da traição, mostrando que as mulheres estão cada vez mais empoderadas.

ESTRUTURA NARRATIVA DETALHADA

Introdução do Botequim:
O ambiente é descrito de forma vívida, com sons e cheiros que criam uma atmosfera familiar. Isso ajuda o leitor a se sentir parte do cenário.

Dinâmica do Grupo:
As interações entre os homens são recheadas de humor e competitividade, o que estabelece a hierarquia e as regras não ditas do grupo.

Intervenção de Dona Zuca:
Sua entrada é um divisor de águas. Ela não só desafia os homens, mas também se diverte com suas confissões, criando uma tensão que culmina na invasão das esposas.

Clímax e Resolução:
O clímax traz uma reviravolta dramática que transforma a dinâmica do botequim. A pancadaria serve como uma metáfora para as consequências das ações dos homens.

REFLEXÕES FUTURAS
Após o Incidente poderíamos ver as repercussões na vida dos casais. Como cada homem lida com a descoberta de suas traições? Eles se tornam mais honestos ou continuam na mentira?

Os homens poderiam refletir sobre suas ações e tentar se redimir, levando a um questionamento mais profundo sobre a masculinidade e o que significa ser um bom parceiro.

REFLEXÕES FINAIS
"O Estraga-Lar" é uma obra rica em nuances que aborda a complexidade das relações humanas com humor e crítica. Através da figura de Dona Zuca, a narrativa desafia as normas sociais e apresenta um espaço onde a verdade, por mais dolorosa que seja, é essencial para o crescimento e a compreensão. É uma crítica perspicaz das dinâmicas de gênero e das relações conjugais. Através de humor e ironia, A. A. de Assis consegue provocar reflexões sobre a traição e a masculinidade, mostrando que, muitas vezes, as coisas não são o que parecem.

Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas. Maringá/PR. IA Open.
 Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.Fonte: Análise por José Feldman. Open IA .

Vereda da Poesia = 81 =


Trova de Paredes/Portugal

TIAGO
António José Barradas Barroso

Não há nada, nesta vida,
 que acabe com o penar
 da tristeza da partida
 com lenço branco a acenar.
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Poema de Portugal

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Porto, 1919 – 2004, Lisboa

A Forma Justa

Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos - se ninguém atraiçoasse – proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
- Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo
Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo
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Trova de Curitiba/PR

ARGENTINA DE MELLO E SILVA 
(1904 – 1996)

Eu hoje chamo saudade
o que ontem chamava amor.
A minha felicidade
mudou de nome e de cor.
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Soneto de Montevidéu/Uruguai

CAIO DE MELO FRANCO
Montevidéu/Uruguai, 1896 – 1955, Paris/França

Evangelho da velhice

— "Quando a Velhice te bater à porta,
queres ouvir nosso Evangelho? — escuta:
Abre de manso e trêmula perscruta
aquela face que a tristeza corta.

Olha-a de frente... e uma alegria morta
verás em cada sulco que a labuta
deixou, fundo, ficar da insana luta,
que não nos confortou, nem nos conforta!...

Enxugarás o olhar inconsolado...
E ficarás pungentemente olhando,
de mãos postas, a orar para o Passado...

E assim, velhinha e triste, e eu triste e velho,
viveremos tremendo... mas rezando
a saudade sem fim desse Evangelho..."
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Trova Premiada em Natal/RN, 2015

JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

Nossa vida é uma aquarela,
da aurora ao anoitecer…
Os sonhos, pintando a tela,
colorindo o amanhecer.
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Poema de Vila Velha/ES

APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA

Inquestionável

A mentira
é o grande espelho
onde todos
se defrontarão,
um dia,
com a verdade
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Trova Popular

Todo o verso que eu sabia
veio o vento e carregou;
só o amor e o querer-bem
na memória me ficou.
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Soneto de Juiz de Fora/MG

COMPADRE LEMOS
Luiz Carlos Lemos

Remédio Bom

Essa saudade mais parece moça nova
Que, de mansinho, vem chegando, devagar.
E vem querendo no meu peito se alojar,
Buscando teto, moradia, ou mesmo cova!

Mas eu conheço sua manha e sua trova.
Ela se encosta, mas eu não posso deixar.
E digo a ela: -- Vai bater noutro lugar,
Porque, na vida, para mim, já basta a prova!

Se ela insiste, eu procuro uma folia,
Um pé de valsa, uma fogueira, uma alegria,
Ou um bom gole, para não sentir a dor.

Então, eu pego na viola esquecida
E faço um verso, porque sei que, nesta vida,
Remédio bom para saudade... é novo amor!
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
Luiz Gilberto de Barros

Cada vez que raia o dia,
a poesia se revela;
ê que Deus faz moradia
na paisagem da janela.
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Poema de Catembe/Moçambique

NOÊMIA DE SOUZA
(1926– 2001) Cascais/Portugal

Infelizmente Jamais

No instintivo temor das ruas
Maria hesitava nos passeios
até não pressentir
o mais fugaz
presságio.

Contorno de sombra
à berma de uma além –asfalto
fatal presságio da rua
infelizmente já não
a intimida.

Cumprido o funesto prenúncio
já atravessava uma avenida
infortunadamente já nenhum risco
intimida o espírito
de Maria.

Doentiamente eu amaria ver
Maria ainda amedrontada
e nunca como depois
em que já nada a intimida.
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Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Por assédio à passageira,
o maquinista apanhou!!!...
Na maca, diz pra enfermeira:
- O meu trem... descarrilhou...
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Soneto de Lagos Algarve/Portugal

ALFREDO DOS SANTOS MENDES

Há de haver tempo

Há de haver tempo em mim para gritar:
A revolta que sinto no meu peito.
Não quero ficar preso, estar sujeito,
A quem quer minha voz amordaçar!

A minha boca, alguns querem calar,
E modelar meu ser a seu preceito.
Mordaça posta em mim eu não aceito,
Meu tempo de falar, há de chegar.

Há de haver tempo então para exprimir,
E em luta de palavras esgrimir…
A razão da revolta no meu peito!

Eu juro, há de haver tempo pra provar,
Que meio mundo nos anda a enganar,
Com milhares de cifrões em seu proveito!
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Trova de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DE CARLI

Conosco na intimidade,
mas nunca juntas, porém...
Felicidade e saudade,
se uma se vai… a outra vem!
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Spina de São Paulo/SP

SOLANGE COLOMBARA

Primavera 

Invernos chuvosos saem
levando apenas saudade, 
deixando ilusões serenas.

São brisas amenas que valsam
no jardim intenso da primavera,
um beijo nas pétalas pequenas.
Os vestígios carmins das rosas
serão versos das futuras cenas.
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Trova Humorística Fluminense

HERMOCLYDES SIQUEIRA FRANCO
Niterói/RJ (1929 – 2012) Rio de Janeiro/RJ

Pobre mulher do Carvalho
que até hoje ainda reclama,
pois, de tanto “quebrar galho”,
foi multada... pelo “Ibama”!…
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Soneto de Campinas/SP

ORLANDO RODRIGUES FERREIRA

Estações

Vicejam, no verão, descomunais paixões
Para desfolharem quando outonais,
Empalidecem, muitas vezes sem razões,
No taciturno frio dos tempos invernais.

Mas recrudesce a vida em ocasiões,
Qual no céu esplendendo luzes aurorais,
Presenteando-nos com tantas provisões
De selvas verdejantes e campos florais.

Jamais se perca ou venha se apartar
O primaveril viçoso das ambições,
Porque o nosso amor não vai soçobrar,

Pois firmado está em veraz emoções
Que constantemente hão de se renovar
como o próprio ciclo das quatro estações.
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Trova Premiada

MARIA NELSI SALES DIAS
Santos/SP

Tua trova apaixonada
num altar só falto por,
embora quase apagada,
é minha oração de amor!
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Poema de Salvador/BA

RAIÇA BONFIM DE CARVALHO

No telhado

Querendo ver novela
eu saio no sereno
e subo no telhado
pra ajeitar a antena
O velho do outro lado
olhando aquela cena
fala pra vizinhança
que sou gato
E eu ganho sete vidas e um baita resfriado...
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

A palavra acalma e instiga; 
a palavra adoça e inflama. 
– Com ela é que a gente briga; 
com ela é que a gente ama! 
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Escada de Trovas de São Paulo /SP

FILEMON MARTINS
(Filemon Francisco Martins)

Amores

NO TOPO:
"Saudade, de quando em quando,
Provoca mágoas e dores,
Pois vai de amores matando
Quem vive lembrando amores".
Mário Barreto França
(Recife/PE, 1909 – 1983, Rio de Janeiro/RJ)

SUBINDO:
"Quem vive lembrando amores"
vai perdendo a emoção,
porque viver velhas dores
não faz bem ao coração.

"Pois vai de amores matando"
momentos bons, sem iguais,
que a vida vai cultivando
ao longo dos ideais.

"Provoca mágoas e dores"
quem parte e fica também,
pois todos os dissabores
são as saudades de alguém.

"Saudade, de quando em quando"
sem ser plantada, floresce,
no peito já vai brotando
como se fosse uma prece.
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Trova da Princesa dos Trovadores

CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Passa o tempo... bem depressa...
a roubar o que nos deu,
e, uma dúvida se expressa:
- passa o tempo... ou passo eu?!
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Hino de Florianópolis/SC

Um pedacinho de terra,
perdido no mar!...
Num pedacinho de terra,
beleza sem par...
Jamais a natureza
reuniu tanta beleza
jamais algum poeta
teve tanto pra cantar!

Num pedacinho de terra
belezas sem par!
Ilha da moça faceira,
da velha rendeira tradicional
Ilha da velha figueira
onde em tarde fagueira
vou ler meu jornal.

Tua lagoa formosa
ternura de rosa
poema ao luar,
cristal onde a lua vaidosa
sestrosa, dengosa
vem se espelhar...
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Trova de Faro/Portugal

MARIA ALIETE CAVACO PENHA

Esta vida é um jardim
onde ninguém é capaz,
depois de chegar ao fim
poder voltar para trás…
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Soneto de Lisboa/Portugal

CARMO VASCONCELLOS

Maria das Flores

Doloridas violetas traz nos olhos,
pelos dedos escorrem-lhe martírios, 
e, tal em novena, ardem-lhe quais círios, 
no peito amante, pálidos abrolhos. 

Por que, teimosa, inda cultiva flores;
paisagens coloridas de desejos
que sonha salpicadas de ígneos beijos?...
Se na hora da colheita, colhe dores!

Alimenta-as de amor e rubro sangue,
porém os caules, meros lambareiros,
saciados, deixam-na... sozinha e exangue.

Florista acorrentada à fantasia,
só tem a flor-saudade nos canteiros…
Mas o sonho ainda habita na Maria!
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Trova de Curitiba/PR

VERA VARGAS 
(1922 - 2000)

Até nas faces molhadas
da chuva, a injustiça trama:
do rico lava as calçadas,
ao pobre dá frio e lama...
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O filósofo cita

Na Cítia, certa vez, por motivo severo,
Crendo encontrar o bem nas privações do exílio,
Saíra a viajar um pensador austero.

Vivia então na Grécia, em farto domicílio,
Junto às flores que amava e na paz respeitado,
Um sábio igual àquele ancião de Virgílio.

O cita o foi achar no jardim ocupado:
Separava da erva as árvores de fruto
E do galho atrofiado.

Ali cortava um ramo, aqui outro corrupto;
E à cega natureza
Ia pagando a arte o liberal tributo.

O filósofo a olhar, tomado de surpresa,
Lhe disse: «O que fazeis? pois um sábio mutila
Os pobres vegetais com tão grande dureza?

Dai-me o vosso instrumento, o qual tudo aniquila;
O tempo obra melhor.» Sem se alterar em nada,
O outro respondeu na sua voz tranquila:

«Eu só tiro o que sobra; à planta decotada
Melhor seiva aproveita.»
E o cita então volveu à sua triste morada.

Lá chegado uma vez, previne-se e endireita
Contra raro vergel, e do útil ofício
Ensina à vizinhança uma falsa receita.

Nada deixa de pé: os rebentos sem vício,
O caule mais florido, o tronco mais correto,
E sem escolher lua e nem dia propício.

Afinal morreu tudo. Imita este indiscreto
Aquele que da alma, e posto indiferente,
Repele o mau e o bom e o mais sagrado afeto.

Eu me acautelo bem e temo uma tal gente...
O estoico, incapaz do mais leve conforto,
Fazendo sempre o mal, vai levando o vivente
A já nem existir muito antes de estar morto.
(tradução: J. Mariano de Oliveira)