quarta-feira, 26 de março de 2025

José Feldman (Dilema da Sopa no Quartel)

Era uma manhã ensolarada no quartel do Exército da Vila Militar. O soldado Carlos, um jovem sempre alegre, mas que às vezes exagerava, estava se recuperando de uma leve gripe. Ele havia contatado sua mãe, Dona Edna, e comentou que não estava se sentindo bem. Preocupada, ela decidiu preparar seu famoso prato de sopa de galinha e foi direto para o quartel.

— Vou levar a sopa do meu menino! — disse Dona Edna, com um sorriso no rosto e o prato bem embrulhado em suas mãos.

Ao chegar na entrada do quartel, ela foi recebida por um soldado de plantão.

— Bom dia, senhora! O que deseja? — perguntou ele, firme.

— Bom dia! Eu sou a mãe do soldado Carlos e trouxe uma sopa para ele! — respondeu Dona Edna, com entusiasmo.

— Desculpe, senhora, mas não posso deixar você entrar! — disse o soldado, com um ar sério.

— Mas é só uma sopa! Ele não está se sentindo bem! — insistiu Dona Edna, já começando a se preocupar.

— Senhora, não posso fazer exceções. É contra as regras. — respondeu o soldado, sem mudar a expressão.

Nesse momento, o sargento Almeida passou e ouviu a conversa.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou, franzindo a testa.

— Sargento, essa senhora quer entrar com uma sopa para o soldado Carlos — explicou o soldado, apontando para Dona Edna.

— A senhora não pode entrar — disse o sargento, tentando ser firme. 

— Mas eu sou a mãe dele e estou preocupada! — Dona Edna começou a gesticular. — Ele precisa de carinho, de uma sopa quentinha!

— Senhora, eu entendo, mas regras são regras — insistiu o sargento.

Dona Edna, já irritada, decidiu que não ia se deixar abater.

— Olha aqui, meu filho está doente! Eu não vou embora sem ver o Carlos! — disse ela, cruzando os braços.

Nesse momento, o capitão Ferreira apareceu, ouvindo o barulho.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou ele, com um ar de autoridade.

— Capitão! Esta senhora quer entrar com uma sopa! — disse o sargento, gesticulando para Dona Edna.

— Sopa? Isso é sério? — perguntou o capitão, olhando para Dona Edna. — Senhora, não podemos permitir isso. Se cada mãe trouxer sopa, vai ser uma bagunça.

— Mas é só uma sopa! — gritou Dona Edna, já começando a perder a paciência.

— Isso é uma questão de disciplina! — interveio o major Souza, que agora se juntara ao grupo.

— Disciplina? Olha, eu só quero ver meu filho e dar a ele essa sopa! — Dona Edna estava quase em lágrimas.

— Senhora, se a senhora entrar, não vai ser só a sopa. Vai ter que trazer um banquete! — disse o major, tentando manter a situação sob controle.

Dona Edna estava prestes a explodir quando Carlos decidiu intervir.

— Mãe! Eu estou aqui! Posso vê-la? — gritou ele, saindo da sala.

— Carlos! — exclamou Dona Edna, aliviada ao ver o filho.

— O que está acontecendo? — perguntou Carlos, percebendo a confusão.

— Eu só queria trazer a sua sopa! — disse Dona Edna, com a voz embargada.

— É só isso? — Carlos olhou para os oficiais, que estavam todos com expressões de cansaço da situação embaraçosa.

— Sim, e todos esses senhores não me deixam entrar! — disse Dona Edna, apontando para o sargento, o capitão e o major.

— Olha, mãe, eu aprecio sua preocupação, mas... — começou Carlos, mas foi interrompido.

— Você não pode ficar doente! — disse Dona Edna, já entrando na conversa. — Você precisa de sopa, carinho e descanso!

— E você precisa aprender a seguir as regras! — disse o major, tentando manter a ordem.

Nesse momento, Dona Edna virou-se para o major.

— E quem disse que a sopa não é uma regra? É uma regra da boa alimentação! — ela retrucou, com uma expressão determinada.

Os oficiais estavam tão cansados da discussão que começaram a olhar uns para os outros, sem saber o que fazer.

— Olhem, vamos resolver isso de uma vez por todas! — disse o capitão, já exasperado. — Carlos, você pode sair com sua mãe e levar a sopa para casa. Assim, a senhora pode cuidar de você.

— É isso mesmo! — exclamou Dona Edna, com um sorriso triunfante. — Vamos, meu filho!

— Mas, e quanto à disciplina? — perguntou o sargento, confuso.

— A disciplina pode esperar! — disse o major, já perdendo a paciência. — Todo mundo aqui já teve mãe! Deixe o soldado ir!

Carlos, aliviado, pegou a sopa de sua mãe e saiu do quartel, seguido por ela, que estava radiante.

— Obrigada, senhores! — ela gritou, enquanto se afastava. — E lembrem-se: sopa é amor!

Os oficiais, exaustos, começaram a rir da situação.

— Nunca mais vou subestimar o poder de uma mãe — disse o capitão, balançando a cabeça.

E assim, o soldado Carlos e sua mãe foram para casa, deixando para trás um quartel que nunca mais esqueceria aquela "sopa".

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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terça-feira, 25 de março de 2025

Adega de Versos 140: J. G. de Araújo Jorge

 

Carina Bratt (Como uma turista extraviada)


O TEMPO. Sempre ele. Este tempo, o mesmo que não nos dá tempo, que nos tira o tempo, que nos rouba em surdina. Este tempo nada mais é que um urdidor invisível. Como tal, entrelaça as nossas vidas com fios de lembranças, muitas delas adormecidas no passado. Deitada na minha varanda, a rede balouçando vagarosamente, contemplo o céu lá no infinito. Um infinito mavioso e sem nuvens, embeleza meus olhos. Os prédios à minha frente, do outro lado da alameda, parecem mudos, tristes, vazios e sem vida. Só parecem. Sei que formigam vidas em todos os andares.

Contudo, nem todos os apartamentos refletem o magnetismo do pleno cotidiano com todo o alvoroço de uma comunidade buliçosa. Meu andar é alto. As construções horizontais ao alcance dos meus olhos, me permitem vasculhar cada canto, cada desvão. São condomínios de doze e quinze andares, enquanto o meu, de vinte, me deixa contemplar o topo de cada um, às vezes até sem ser vista. Estou acima das caixas d’água, das casas dos elevadores, da moradia do porteiro... neste momento, rindo das tramas que rolam em cada pavimento.

Ontem mesmo me lembrei que antes de me mudar para esta torre, morava numa rua estreita em Araçás (bairro próximo aqui da Praia da Costa) onde as casas ao redor pareciam sussurrar segredos. As janelas com seus rostos antigos, as flores murchas em vasos acondicionados nos parapeitos, davam conta de histórias de velhos amores e desencontros. Crianças (como eu) corriam pelas adjacências, descalças, riam alto, promoviam algazarras enquanto trocavam olhares desencontrados e distantes de qualquer aparência de felicidade.

Nesse tempo, as tardes se alongavam, e o sol se punha devagar tingindo o céu (o mesmo que agora contemplo da minha varanda enorme), com a diferença de que os tons se faziam mais claros. Os abraços dos que cruzavam (fossem indo ou vindo) tinham um tempo mais comprido, como se o calor daquele encontro objetivasse frear o tempo. Todavia, o meu tempo, o ontem dos meus idos de menina, avançava e deixava na poeira dos olhares as risadas, os sonhos, os abraços...

Coisa de uma semana atrás, fui passear num desses bairros onde morei aqui em Vila Velha. O bairro Araçás. As casas, agora, têm novas janelas, as pedras e a terra batida das vielas foram substituídas pelo asfalto. As crianças do meu tempo se fizeram adultas e num piscar de futuro, se espalharam pelos confins de outras localidades. Uma das muitas ruas, notadamente a que onde morei, a Montevidéu, mudou a sua personalidade. As interrogações de sorrisos delongados são apenas resquícios da minha memória.

O passado se dissolveu. Virou pó. Se fez envelhecido e em profunda solidão. O passado do meu tempo de outrora, se evaporou das cores originais e, hoje, o preto e o branco, tomaram conta das minhas fotografias sobre o piano. De tudo ficou um tempo obumbrado. O que vi nos idos das minhas tranças em meus cabelos, das minhas bonecas de porcelana, dos afagos de meu pai, das comidas de vovó e das guloseimas de mamãe, restou o cheiro gostoso de um ontem que se fez glorioso. Sabores e sensações, idem. Pedaços desencontrados de risadas e abraços, de quando em vez, me fazem afagos, mas parecem rupturados de cores vivificantes.

Imagino que o tempo que não nos dá tempo, da mesma forma que nos tira o tempo que não mais temos, nada mais é que um infeliz desalmado. Um ser vazio, infame, que tem o condão de mudar tudo. Tudo, menos o meu céu azul lá no infinito. O azul sem nuvens segue colorindo meus pensamentos, os prédios a minha frente, apesar de mudos, vazios e sem vida, continuam imutáveis. O meu passado não está só no que o meu tempo quer me mostrar.

Ele está presente dentro do meu ‘eu’ universo. Uma espécie de caixinha de recordações que ninguém de fora consegue acessar. Ninguém! Eu, da minha rede, envolvida no balanço dela, olhando o céu, vasculhando os apartamentos, perscrutando cada canto... às vezes capturando cenas engraçadas, outras participando de brigas e confusões, sorrio matreira. Também não me escapam casais se amando em contradições de sexo despudorado, pessoas indo embora, outras chegando. Não importa. Eu sou inteiramente feliz. Na verdade, euzinha, SOU A DONA DO MEU TEMPO.

Fonte:
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Célio Simões (O nosso português de cada dia) “Com as mãos abanando”

A origem mais aceita para essa expressão, remonta à vinda dos primeiros imigrantes para o Brasil, ainda no século XIX. Os fluxos imigratórios mais expressivos ocorreram nos séculos XIX e XX, entre o início do período republicano em 1889 até 1930, quando ingressaram no país principalmente portugueses, italianos, japoneses, alemães e povos árabes (sírios, turcos, egípcios, palestinos) representando mais de 3,5 milhões de estrangeiros, correspondendo a 65% do total de imigrados entre os anos de 1822 e 1960. 

É com razoável margem de certeza que a expressão “COM AS MÃOS ABANANDO” surgiu e se consagrou no linguajar do povo no contexto do crescimento da cafeicultura brasileira, justamente a partir do início do século XIX e desde então, ganhou novos significados, pois ela é comum em vários contextos de comunicação no Brasil, embora tenha passado por mudanças de significado, acumulando sentidos que podem ser aplicados em diferentes situações. Porém, na maioria das vezes em que é empregada, o resultado final está diretamente ligado às mãos vazias de determinada pessoa.

Esse considerável contingente humano costumava trazer em sua parca bagagem, apenas as ferramentas que em sua terra natal utilizavam para o amanho (cultivo) da terra, como ancinhos, alfanjes, machados, facões e enxadas, acreditando que portar uma dessas ferramentas tornaria induvidosa sua disposição para o trabalho, evidenciando a profissão e as habilidades de cada qual, viabilizando assim possível contratação pelo patronato rural brasileiro. 

Em contrapartida, chegar de mãos vazias, ou “com as mãos abanando”, indicava não só a falta de um ofício ou profissão, como a possível ausência de versatilidade para o exercício dos trabalhos manuais, numa visão estereotipada de pessoa com pouca disposição para encarar o batente. 

Outra hipótese para a origem do termo aparece em dicionários anteriores à imigração europeia para o Brasil. Em Portugal, ainda nos idos de 1789, “abanar” era usada com o sentido de “andar ao léu” ou “viver sem amparo”.

Entre nós, há muito tempo essa conhecida expressão também passou a indicar outros contextos literais de mãos vazias. Quando alguém chega numa festa sem levar presentes ou sem trazer contribuições num evento em que isso era de responsabilidade de todos, pode-se dizer que o fulano chegou “com as mãos abananando”. Ir em aniversários “de mãos abanando”, sem levar um presente, demonstra que o conviva compareceu apenas para forrar o panduro, tirar a barriga da miséria ou deleitar-se com as iguarias ofertadas pelo anfitrião. 

O mesmo se diz dos mancebos desprovidos de bens que desposam mulheres afortunadas, sem minimamente levar para a sociedade conjugal nada de valor, motivando a jocosa afirmação de que o dito cujo não constituiu matrimônio e sim, patrimônio... 

As expressões idiomáticas são frases conotativas amplamente conhecidas. Elas servem para expressar diversas ideias, como otimismo, cautela, crítica etc. Seu uso depende do contexto de fala ou de escrita, dado o seu caráter popular. Têm origem em fatos e personagens cotidianos ou históricos, mas sem elas, decididamente o idioma se descaracteriza. Configuram um fenômeno linguístico que consiste em frases de sentido figurado e fazem parte da cultura popular. Portanto, são expressões convencionais, de uso corrente no linguajar do povo, sendo desconhecida ou incerta a origem de muitas delas. 

Mas não se confundem elas com os chamados “ditados populares”, pois esses invariavelmente expressam um valor moral, sob a forma de uma mensagem subjacente. “A PRESSA É INIMIGA DA PERFEIÇÃO”, por exemplo, não diz claramente, porém sugere que é necessário ter paciência, que se deve fazer as coisas devagar, sem precipitações ou afobações, para alcançar os objetivos perseguidos. Coitado do porco, que não observou esse precioso aviso... 

Pode-se dizer que as expressões idiomáticas surgem da cultura popular e ao mesmo tempo a fomentam, constituindo uma interveniência que liga o passado ao presente (infelizmente, algumas expressões desaparecem), pois a cultura é e será sempre um processo resultante da atividade humana, desenvolvida com o intuito de educar a mente e o espírito. Os idiomatismos são vitais para a comunicação entre as pessoas, pois expressam experiências pessoais de uma maneira peculiar, além de revelar as identidades, o modo de pensar, de agir e de ver o mundo dos indivíduos e de sua época. 

Sem poder, sem dinheiro, sem nada para oferecer. A propósito, quando o atleta participa de uma competição e não logra vitórias, se diz que saiu da porfia “com mãos abanando”, sem medalhas ou troféus. Há times de futebol igualmente contemplados com essa expressão mordaz, pois nada ganham nas competições esportivas em que estão empenhados. Participam delas, perdem sempre quase todos os jogos e saem de lá “com as mãos abanando”…
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CÉLIO SIMÕES DE SOUZA é paraense, advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. Membro da Academia Paraense de Letras, membro e ex-presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, fundador e ex-vice-presidente da Academia Paraense de Jornalismo, fundador e ex-presidente da Academia Artística e Literária de Óbidos, membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Confraria Brasileira de Letras, em Maringá (PR). Foi juiz do TRE-PA, é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, fundador e membro da União dos Juristas Católicos de Belém e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.
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José Feldman (1954) Biografia atualizada

  

José Feldman nasceu na cidade de São Paulo, no dia 27 de setembro de 1954. Aos 6 anos de idade aprendeu a jogar xadrez com seu pai. Desde os 10 anos mostra aptidão para a escrita, ao escrever pequenos contos baseados em personagens de história em quadrinhos. Com cerca de 13 anos de idade, escreve as suas primeiras poesias. Na época já lia muitos livros e revistas.

Primeiros livros foram a coleção de Monteiro Lobato dada por seu pai. Aos 12 anos se apaixonou por paleontologia e arqueologia ao ler o livro Romance da Terra, de Rudolf Thiel. Com cerca de 15 anos de idade participou de concursos de poesia sem sucesso. Desde 1973, com uma fome enorme de conhecimento, realizou vários cursos, como Filosofia no Instituto Palas Athena, Italiano na Associação de Cultura Afro-Brasileira, Inglês no Instituto Roosevelt e Instituto Norte Americano, Leitura Dinâmica e Desinibição e Criatividade, no Instituto Dynamics Cymel, Arte Dramática no Instituto Macunaíma, Filosofia no Centro de Estudos Filosóficos Pró-Vida, além de diversas palestras e encontros de literatura.

Em 1975, devido a enfermidade de seu pai, auxilia-o na direção de clube de xadrez no Instituto Cultural Israelita Brasileiro (ICIB), assumindo definitivamente a diretoria em 1978, sendo reeleito sucessivamente até o ano de 1996. Neste período, foi também auxiliar de diretoria, arbitro e professor de xadrez no Xadrez Clube Sorocaba e no Clube de Regatas Tietê. Foi jogador no 3. tabuleiro pelo ICIB em Torneios Interclubes a nível regional e nacional e 1. Tabuleiro pelo Xadrez Club Sorocaba na Categoria Especial.

Também, no ICIB, pertenceu à diretoria cultural, promovendo diversos eventos musicais, revelando talentos musicais dos jogadores do departamento de xadrez. Neste período começa a dar maior ênfase também à literatura, ao fazer, na Casa Mário de Andrade (Oficina da Palavra) o curso de Poesia Viva, com a poetisa Eunice Arruda, curso de literatura com Mario Amato, Ficção Cientifica na literatura e no cinema com o escritor de renome internacional, André G. Carneiro, além da Oficina de trovas com Izo Goldman.

No xadrez, como organizador, diretor, arbitro, granjeou a admiração e o respeito de grandes jogadores, o que o fez elevar o clube da 3ª categoria para a categoria especial. Criou também um boletim enxadrístico denominado “J’Adoube” (eu arrumo), direcionado a todos os níveis de jogadores, com partidas, notícias, estudos, piadas enxadrísticas, etc., e com tempo obteve a adesão de colaboradores com desenhos artísticos, poemas, etc. (na época não havia computador, era tudo na máquina de escrever e mimeógrafo).

Entregue de corpo e alma à literatura, continuou tentando ainda concursos de poesia na Livraria Freitas Bastos e Scortecci, mas ainda sem sucesso. 

Casou-se em 1995 com a poetisa, escritora e tradutora paranaense Alba Krishna Topan, a qual conhecera no curso de Ficção Científica, na Casa Mario de Andrade. Foi em 1999 para Curitiba, onde ficou longe da literatura e do xadrez. Não conseguindo se adaptar ao clima, mudou-se para a cidade de Ubiratã, a cerca de 70 km de Cascavel (PR).

Em Ubiratã, começou a se firmar ao ser eleito em 2001 como vice presidente da diretoria provisória, da Associação dos Literatos de Ubiratã (ALIUBI), tendo contato com poetas da região. Foi um dos fundadores da Associação de Cinema Amador na cidade.

Em 2003, começou a se dedicar ao estudo de Administração de Empresas, realizando cursos no SEBRAE, SENAI, Universidade de Viçosa e vários outros, tendo sido diplomado em dezenas de cursos na área administrativa e participado de palestras até os dias atuais.

Participou de concursos de contos em Portugal e França. Também participou de torneios de xadrez regionais, sagrando-se campeão, terceiro e segundo lugares, respectivamente, em 3 torneios em três anos consecutivos.

Criou o Blog Pavilhão Literário Cultural Singrando Horizontes (http://singrandohorizontes.blogspot.com/) seguindo os mesmos moldes do boletim, com muito mais conteúdo, postados diariamente, iniciado ao final de dezembro de 2007.

Com isto, começou a ficar mais conhecido devido a sua divulgação dos escritores, sendo convidado no mês de junho de 2008 a efetuar uma palestra na Academia de Letras de Maringá, onde discursou sobre o Panorama da Literatura no Brasil. Muitos escritores começaram a enviar seus textos e livros para apreciação crítica. 

Em novembro de 2008, a convite do escritor Sorocabano Douglas Lara, passou a ser membro da ONE (Ordem Nacional dos Escritores), recebendo juntamente com sua esposa, o medalhão das mãos do presidente da ONE, José Verdasca, em 2008, em Sorocaba.

Nas palavras de Vãnia Ennes, de Curitiba/PR: "É com grata emoção que a diretoria Estadual do Paraná vem acompanhando seu magnífico trabalho, há mais de 1 ano. Dia após dia, Feldman, você se supera na arte de produzir, criar e disseminar a cultura poética e literária no âmbito nacional e internacional. Cada vez mais, podemos observar a sua sensibilidade que está exposta, claramente, no Pavilhão Literário Cultural Singrando Horizontes, desde dezembro de 2007 a março de 2009 e que muito orgulha o nosso Paraná. É um belíssimo desempenho cultural!!! A oportunidade de poder apreciar seu site, ler, reler, participar, aprender com ele, são atitudes que nos induzem seguir adiante e, nos fazem muito bem. Portanto, receba nossos mais calorosos aplausos ."

Em 2011 mudou-se definitivamente em Maringá/PR, com sua esposa Alba Krishna, gatos e cadelas. 

Foi Consultor Educacional atuando junto a alunos e professores de cursos de bacharelado, mestrado e doutorado de diversas universidades do Paraná e São Paulo.

Em 2015, a convite do Conde Carlos Ventura passou a pertencer como Imortal Correspondente na Academia de Letras Brasil-Suiça, cadeira n. 145, escolhendo o patrono: Mário Quintana. Ocasião em que foi agraciado com a Medalha de Mérito Cultural Euclides da Cunha desta academia.

Em 2017, a convite do presidente Luís Antonio Cardoso, da Academia Rotary de Letras, Artes e Cultura (ARLAC) de Taubaté/SP, tornou-se Acadêmico Correspondente no Grau de Oficial (1. Grau), quando lhe foi conferido também o Prêmio "Mahatma Gandhi" de Liderança pela Paz, da Academia Rotary de Letras, Artes e Cultura de Taubaté/SP

A. A. de Assis, de Maringá/PR diz:
“Há uma palavra moderninha – bookaholic, que na verdade nem é tão moderninha assim, porém me pareceu com jeito de chique e vem aqui a calhar. Foi a melhor maneira que achei para definir o escritor, pesquisador e animador cultural José Feldman, paulistano radicado há alguns anos em Maringá. Bookaholic é a pessoa excessivamente apaixonada por livros. Em português, um sinônimo próximo seria bibliófilo. Feldman é assim: gosta de cães e gatos, mas sua paixão enormemente maior é pelos livros. Lê tudo, em todos os momentos disponíveis. E quase tudo que lê ele transcreve em seus vários blogues, para alegria de milhares de leitores. Ele é o maior divulgador de textos alheios via internet. O maior propagador da arte literária no país.”

Em 2021, o presidente Luiz Antonio Cardoso, da Academia Internacional da União Cultural, o empossa como acadêmico.
 
Ainda neste ano funda a Confraria Brasileira de Letras junto com um artista plástico de Curitiba, que falece neste mesmo ano, uma academia virtual, assumindo então a Presidência desta entidade.

Participou da Comissão Julgadora de diversos Concursos de Poesias.

Assina seus escritos/versos pela cidade de Floresta, vizinha de Maringá..

Quando não está imerso na literatura, tem por hobby tocar Saxofone, Clarinete e Flautas barroca, germânica, contralto e celta.

Nas palavras de Carolina Ramos, de Santos/SP: 
”Quando se tem um ideal na vida, tudo parece mais fácil de ser realizado. Só assim, é possível explicar a capacidade ímpar de José Feldman em levar avante a tarefa espontânea à qual, há tanto tempo, se entrega, na missão auto imposta de espalhar poesias e textos de seus amigos e irmãos de jornada, por este Brasil afora. É isto o que Feldman faz, passando por cima de seus próprios problemas e cansaços, fazendo, do bondoso coração, um ninho de afetos que a todos acolhe com fraternal carinho, estendendo ainda sua ternura aos cães e gatos que lhe servem de companhia através da vida. 

Em audaciosa imagem, José Feldman é uma espécie de “gralha azul” que, em vez de semear pinhões, semeia letras e versos, reflorestando o Brasil com esse viço poético que desperta a sensibilidade - em tempos atuais, sob constante ameaça de ser sufocada pelo árido e pesado concreto do dia-a-dia. 

Sensível, sofrido, faz ele de sua vida um barco que enfrenta tempestades e mares revoltos, com o estoicismo de poucos, e, sem esmorecer, digita, altas horas, as páginas que cria, repletas de obra alheia e, nas quais, quem menos aparece é seu próprio nome. 

Difícil enumerar, sem pecado de omissão, os inúmeros blogs e jornais virtuais por ele criados e alimentados com dedicação digna de ressalto. Entre eles: - Pavilhão Literário Singrando Horizontes, O Voo da Gralha Azul, Coleção Memória Viva, Paraná Poético, Almanaque Paraná, Chuva de Versos, etc. 

Afetivo e impulsivo, por vezes, Feldman não hesita em dar um passo atrás para desfazer mal entendidos, ciente de que, o caminhar por esta vida, não nos isenta de tropeços que uma amizade sincera não possa suplantar. Este é José Feldman, cujo coração fraterno bate mais forte pelos que o cercam, do que, na verdade, em proveito próprio.” 

Algumas Premiações Literárias:

Poesias:

- III Prêmio Literário Gonzaga de Carvalho. ALTO (Academia de Letras de Teófilo Otoni). 10. Lugar. 2018.
- IV Prêmio Literário Gonzaga de Carvalho. ALTO (Academia de Letras de Teófilo Otoni). 12. lugar. 2019.
- 30. Concurso Internacional de Poesias, Contos e Crônicas da ALPAS (Academia Internacional de Artes, Letras e Ciências "A Palavra do Século XXI"). 2019.
- Concurso Literário Virtual da ALAP, Academia de Letras e Artes de Paranapuã/RJ. 1. lugar. 2020.

Entidades as quais pertence:

- Confraria Brasileira de Letras (CBL) Cadeira n. 1 - Patrono: André Carneiro - Presidente Nacional.
- Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG (ALTO) - Acadêmico correspondente
- Academia Rotary de Letras, Artes e Cultura (ARLAC) de Taubaté/SP - Acadêmico Correspondente no Grau de Oficial (1. Grau)
– Academia Internacional da União Cultural – Acadêmico titular
- Movimento União Cultural - Conselheiro Internacional
- Academia Virtual Brasileira de Trovadores – Acadêmico titular
- Confraria Luso-Brasileira de Trovadores – Acadêmico titular
- Associação dos Literatos de Ubiratã (ALIUBI) (vice-presidente 2001 - 2003).
- Academia de Letras Brasil-Suiça . Cadeira n. 145 - Patrono: Mário Quintana
- Ordem Nacional dos Escritores (ONE).
- União Hispanomundial de Escritores (UHE).
- Casa do Poeta Lampião de Gaz, de São Paulo.
- Sociedade Mundial dos Poetas.
- Ordem dos Cavaleiros Templários (OCT).
- Ordem Sagrada do Templo e do Graal (OSTG).
- Antiga e Mistíca Ordem Rosae Crucis (AMORC).

Honrarias:

- Medalha de Mérito Cultural "Euclides da Cunha" da Academia de Letras Brasil-Suiça, em Berna/Suiça. 2015;
- Comenda por Mérito Cultural da Academia Pan Americana de Letras e Artes. 2016;
– Mérito Cultural da Academia Brasileira de Trovas. 2016;
- Prêmio "Mahatma Gandhi" de Liderança pela Paz, da Academia Rotary de Letras, Artes e Cultura de Taubaté/SP. 2017;
- Prêmio "Monteiro Lobato" do Movimento União Cultural. 2018.

E-books que organizou:

- Almanaque O Voo da Gralha Azul (16 números)
- Boletim Literário Singrando Horizontes (13 números)
- Almanaque Chuva de Versos (475 números)
- Almanaque Paraná (12 números)
- Folhetim Literário Desiderata (10 números)

Ebooks de sua autoria:
- Labirintos da vida.
- Peripécias de um jornalista de fofocas & outras histórias.
- Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas.
- Devaneios poéticos.

Livros publicados:
– Guirlanda de Versos.
– Coleção Terra & Céu. José Feldman e Izo Goldman(organizada por Milton Souza)

Poesias em alguns livros de outras autorias:
- Revista Literária da Academia de Letras de Teófilo Otoni, Café com Letras (poesia). 2013.
- Edição comemorativa de 35 anos do Movimento Poético em São Paulo (poesia). 2016.
- Coletânea dos Poetas de Maringá - IV. (poesia). 2016.
- Luciano Dídimo (org.). 100 sonetos de 100 poetas. 2019.
- XV Coletânea de Poesias da ALIUBI (poesia). 2019.
- Sandra Veroneze (org.). Poetas pela paz (poesia). 2020.

Possui o blog http://singrandohorizontes.blogspot.com.br em atividades desde 2007, com cerca de 20.000 artigos e uma média de 7 mil leitores/mês, e mais de 3.500.000 leitores.

Contatos, colaborações pelo email: gralha1954@gmail.com

segunda-feira, 24 de março de 2025

José Feldman (Guirlanda de Versos) * 28 *

 

Mensagem na Garrafa = 138 = A Ilusão da Superioridade


AUTOR ANÔNIMO
A Ilusão da Superioridade

Dizem que a pedra é dura,
mais duro é o teu coração;
ela é dura, na verdade,
mas não faz ingratidão.
(Quadra anônima)
* * *

Na vastidão da criação literária, a poesia ocupa um espaço sagrado, onde a alma humana se expressa em versos, emoções e imagens. Contudo, quando a pessoa se vê como o centro do universo, sua visão pode se transformar em um espelho distorcido de sua própria prepotência. Essa figura, que se julga superior e detentora da verdade absoluta, é um exemplo perturbador das desvantagens de uma perspectiva egocêntrica.

Esta pessoa, envolta em suas convicções, acredita que suas palavras são verdadeiras epifanias, superiores a qualquer outra forma de expressão. Ela se coloca em um pedestal, onde a humildade e a vulnerabilidade são deixadas de lado em favor de uma autoconfiança exacerbada. Essa posição não apenas a aliena de suas contemporâneas, mas também a isola em um mundo onde a empatia e a compreensão são substituídas pela crítica e pelo desprezo.

Uma das desvantagens mais evidentes dessa postura é a tendência de julgar os outros com base em suposições e preconceitos. A pessoa, convencida de sua superioridade, se sente no direito de criticar e avaliar o trabalho alheio sem considerar o contexto e as experiências que moldaram cada autor, sem respeitar os sentimentos dos outros, atacando, julgando e condenando indiscriminadamente. Essa abordagem é, em essência, uma negação da complexidade da vida humana e da riqueza de suas narrativas. Ela ignora que cada um traz consigo um universo de vivências que influenciam sua vida.

Quando a pessoa se permite julgar, ela não apenas desmerece o trabalho dos outros, mas também fecha as portas para o diálogo e a troca de ideias. Assim, a pessoa se priva não apenas da sabedoria alheia, mas também da possibilidade de crescimento pessoal e artístico.

A crença de que se possui a verdade absoluta é uma armadilha perigosa. A pessoa prepotente, ao se colocar como a voz da razão, ignora a natureza multifacetada da verdade. A realidade é composta por uma infinidade de experiências subjetivas, e a arte é uma expressão dessas realidades. Quando ela se recusa a reconhecer isso, transforma suas palavras em um ato de arrogância em vez de um convite à reflexão.

Enquanto a pessoa se vê como superior, ela ignora que a verdadeira força reside na capacidade de tocar o coração das pessoas, de se conectar com elas em um nível profundo e significativo.

Ao criticar e afastar os outros, encontra-se cada vez mais isolada, e seu trabalho se torna um reflexo de sua própria alienação. A arte, que deveria ser uma forma de comunicação e de união, transforma-se em um grito solitário, ecoando em um espaço vazio. A falta de diálogo e de troca de experiências resulta em uma produção que, embora técnica e esteticamente correta, carece de profundidade emocional e de relevância.

A verdadeira grandeza não está em se colocar acima dos outros, mas em reconhecer a beleza e a complexidade da experiência humana. Quem abraça a humildade, que se permite ouvir e aprender, enriquece sua própria arte e se torna um canal mais profundo para a expressão de sentimentos universais.

A pessoa com esta visão de superioridade, embora possa ser tentadora como um escudo contra a vulnerabilidade, é uma armadilha que aprisiona a pessoa em um ciclo de solidão e superficialidade. Ao se julgar o centro do universo, ela se isola de um mundo rico e vibrante, repleto de experiências que poderiam enriquecer sua arte.

Esta pessoa não consegue enxergar além de seu nariz, e só consegue visualizar seu reflexo no espelho, ignorando um vasto mundo ao seu redor.

Eduardo Affonso (Conceição)

Tom Jobim era fã de Villa-Lobos, e um dia conseguiu ser apresentado ao seu ídolo.

— Villa, este é o Antônio Carlos Jobim, autor da música da peça “Orfeu da Conceição”.

— Ah, sim! – disse o maestro. E, querendo demonstrar que já tinha ouvido falar do moço, cantarolou “Conceição / eu me lembro / muito bem” — fazendo uma “pequena” confusão entre a obra de Tom e Vinícius e a canção de Dunga e Jair Amorim, imortalizada pelo Cauby Peixoto.

A gafe do maestro me faz pensar que não se fazem mais Conceições como antigamente.

Na lista dos cinquenta nomes femininos mais usados no Brasil, aparecem Agatha, Ayla, Gabrielly, Emily e Isabelly, mas não Conceição – que talvez não figure nem nos “Top Thousand”.

Nomes vêm e vão.

Conceição foi e não voltou.

Sumiu.

Ninguém sabe, ninguém viu.

Há muito uma Conceição não brinca de boneca, não usa o primeiro sutiã, não arruma o primeiro namorado.

Não parece mesmo adequado a uma menininha um nome tão aumentativo, tão encorpado.

Conceição é nome de mulher já adulta — “mulher feita”, como se dizia no tempo em que nasciam Conceições.

Porque Conceição (“aquela que concebe”) é nome de mãe.

É o nome da minha mãe.

Sempre me soou a nome de gente humilde, do tipo que batiza os filhos de acordo com o santo do dia (ela não nasceu no dia de Nossa Senhora da Conceição, mas foi nesse dia que deu à luz sua filha — o dia em que foi mais mãe).

O Orfeu negro de Tom e Vinícius poderia ter sido da Silva, dos Santos, mas foi “Orfeu da Conceição” o poeta cuja lira emudecia os pássaros e vivia no morro a sonhar com o amor eterno de Eurídice — coisa que o morro não tem.

Esse “da Conceição” o arrancava da mitologia grega e lhe punha os pés no chão, lhe conferia mais humanidade, o trazia para o Rio de Janeiro, e preparava as rimas que viriam das cordas do seu violão (numa manhã — tão bonita manhã – de Carnaval).

Talvez haja, no mais profundo Brasil – aquele onde ainda são geradas as marias das dores, do perpétuo socorro, da natividade, da agonia, da anunciação – uma ou outra pirralha adornada com esse nome.

Talvez não.

Conceição é um nome em extinção.
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EDUARDO AFFONSO, Arquiteto mineiro de Belo Horizonte, 1950. Colunista do jornal O Globo. Coordena a Oficina Literária Eduardo Affonso, voltada para cronistas. Participa do coletivo literário Flique Nenhum livro publicado.

Fontes:
Texto e imagem obtidos no blog de Eduardo Affonso. 30 janeiro 2025.
https://tianeysa.wordpress.com/2025/01/30/conceicao/

domingo, 23 de março de 2025

Adega de Versos 139: Amaury Nicolini

 

Antonio Juraci Siqueira (Carta/canção para adormecer os homens e despertar as crianças)

Em paz com Deus e com os homens, o peito pleno de amor e as mãos ornadas de ternura, escrevo esta carta em forma de canção que faça dormir os homens e despertar as crianças, que soe como o burburinho da água na ribanceira do rio, o farfalhar do vento nas  mangueiras, o trinar dos pássaros tecendo alvoradas ou o badalar de sinos na Hora do Ângelo. 

Uma canção para despertar a criança que trazemos dentro de nós: umas, adormecidas pelo cansaço causado por uma sociedade cada vez mais embrutecida pelo imperativo categórico produzir, consumir e consumir-se; outras, amordaçadas para que suas verdades não incomodem a mentira nossa de cada dia; outras, deixadas de lado por absoluta falta de tempo ou relegadas ao esquecimento para que seus sonhos de ser não venham se antepor às exigências do ter. 

Uma carta/canção que nos abra os olhos para um mundo mágico, belo e possível, presente em essência mas ausente de fato no mundo caótico em que vivemos, que nos faça compreender que o pequeno mundo que vemos de nossas janelas, não tão belo e colorido como os vistos através das janelas virtuais, é mais real, humano e possível de interferências e mudanças dentro das possibilidades de cada um. 

Um mundo feito de seres e coisas palpáveis onde um copo d’água possa fazer a diferença, um gesto de amor salvar uma vida e o pão da palavra saciar muitas almas famintas de afeto; onde o dinheiro não seja tudo, a tolerância seja substituída pela aceitação mútua das nossas diferenças e uma palavra possa abrir portas para mil possibilidades. Enfim, um mundo onde a paz deixe de ser três letras esquecidas nas páginas dos dicionários. 

Que esta carta/canção nos faça ver o mundo através dos olhos da inocência onde um pássaro seja tão somente um poema emplumado a cantar nos galhos da manhã e não um ítem no mercado negro de animais silvestres, uma árvore deixe de ser um verde pacote com os dólares da devastação ambiental e passe a ser vista como uma bandeira desfraldada sobre a esperança, um rio seja a líquida rua do poeta e do mururé e não uma fonte de energia a inundar belos montes de vida, cultura e poesia. 

Talvez alguns vejam nesta carta apenas um monte de palavras. Mas um monte de palavras que pode mudar você, que pode mudar o mundo em sua volta. E eu amo as palavras e nelas acredito. Por isso é que fabrico, com elas, quixotescamente, meu escudo e minha lança para investir contra os moinhos da insensibilidade humana, para arrancar viseiras, derrubar os muros do preconceito, da intolerância e da opressão; para abrir estradas, construir pontes e rasgar horizontes à demanda de um mundo mais justo, igualitário e fraterno. 

Eu acredito na palavra como ferramenta divina deixada por Deus para formar, informar e transformar o homem e o mundo. A pá para revolver a lavra revelando o tesouro escondido no garimpo da alma de cada ser humano. Um tesouro que o tempo não consome e os ladrões não roubam. 

Eu acredito, por exemplo, na palavra paz, na palavra amor, na palavra amizade, na palavra igualdade, na palavra união, na palavra justiça, na palavra esperança, na palavra sonho, na palavra alegria, na palavra fraternidade, na palavra fé, na palavra perseverança, na palavra felicidade, na palavra poesia, na palavra... Palavra!

E você, em que palavra acredita?
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Antônio Juraci Almeida Siqueira, nasceu em Afuá, no Pará, em 1948). Escreveu diversas obras literárias, entre elas merecem destaque, O Chapéu do Boto (2003), Paca, Tatu; Cutia não! (2008), e Aumentei, Mas Não Menti (2016). Seus poemas, contos e trovas são principalmente inspirados no folclore, nas crenças e saberes populares e pela natureza amazônica. Popularmente ele é conhecido como "o boto" ou o poeta "filho do boto". Em 1978, e foi morar em Belém. cursou Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal do Pará, atua como instrutor de oficinas literárias, artista performista, contador de histórias, e leciona filosofia na rede pública de educação paraense. É considerado um dos poetas mais prolíferos da região Norte do Brasil. Seus trabalhos variam entre publicações de livros de literatura infantojuvenil, literatura de cordel, livros de poesias, contos, crônicas e textos humorísticos. Todo esse trabalho rendeu-lhe cerca de 200 premiações em concursos literários de diversos gêneros, tanto no âmbito nacional, quanto no estadual.

Fontes:
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

Vereda da Poesia = 230

Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES

INQUIETUDES

Vejo em meu rosto as marcas esculpidas.
O espelho mostra a face insatisfeita
nessas manhãs de noites mal dormidas,
que sua ausência junto a mim se deita...

prevalecendo em vão, em nossas vidas,
há sempre um fio de esperança à espreita,
e um “nunca mais” em nossas despedidas
que o esperançoso o coração rejeita!

E neste emaranhado de quimeras,
passam-se os sonhos, vão-se as primaveras,
os dias passam, tudo passa e enfim...

num misto de regressos e tristezas,
envolto no universo de incertezas…
só este amor incerto é certo em mim!
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Fui na fonte apanhar água,
molhei a ponta do lenço;
o amor de muitos homens
da minha parte dispenso.
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/ Portugal

Da pele o inebriante apelo 
incita o chamamento dos lábios
num premente e ousado anelo
de beber da fonte o fogo.

Da pele rendidos à química reação
olhos em promessa reagente
deslumbradas mãos em tentação 
num afagar de sentidos sem remissão.

Da pele traça-se relevo mapeado
navegação ausente de pontos cardeais
conquista-se o desejo pela vontade
encanto que nega a breve saciedade.

Da pele essa audível sinfonia de afetos
corpos cegos pela iridescência da paixão
Náiade sulcando as margens do meu rio 
numa promessa de eterna inspiração.
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Haicai do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

A noite sem sono
e, a lua cheia de luz,
sozinha no abandono!
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

ANTE A VERDADE PURA E SEM DISFARCE
(Maria Amélia de Carvalho e Almeida in "Ao Sabor das Marés", p. 192)

Ante a verdade pura e sem disfarce
Dos teus olhos interrogando os meus
O coração, nesse instante do adeus
Não logrou fazer mais do que entregar-se.

E vieram as lágrimas juntar-se
Nascidas dos meus olhos tão ateus
Ao enlace dos meus braços pigmeus
Onde o teu colo em dor veio aninhar-se.

O amor falou mais alto nessa hora
Em que tu desististe de ir embora
E voltaste a aquecer a nossa cama.

A lua deu lugar à luz do dia
Das trevas despontou uma alegria
E das cinzas nasceu uma outra chama.
= = = = = = = = = 

Soneto de
AMAURY NICOLINI
Rio de Janeiro/RJ

DANÇA DOS SIGNOS

Hoje bem cedo eu tive a curiosidade
de ler o horóscopo publicado no jornal,
e se o que está escrito ali for a verdade
o dia que começa vai ser sensacional.

Conhecerei muita gente interessante,
terei mil oportunidades de progresso,
viajarei com destino a um lugar distante
e provarei o sabor doce do sucesso.

Fico pensando se você também, feliz,
e lendo o mesmo horóscopo que eu
pede que ainda mais os astros contem.

E depois, sem conseguir nada que quis,
vai descobrir o que foi que errado deu:
o jornal que a gente leu era de ontem.
= = = = = = 

Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

IPUPIARA

Cravada no Sertão, jardim de flores
nasceu uma cidade hospitaleira.
Seus campos coloridos, sedutores,
tornam a vida bela e corriqueira.

Berço de heróis, poetas, escritores,
produzem versos na cidade ordeira.
O clima é quente, bom e aviva as cores
da alegria que é sempre verdadeira.

Ipupiara é flor cheia de encanto,
cuja beleza inspira o bem, porquanto
as alegrias são puras e completas.

Há de brilhar no céu, mesmo à distância,
esta Terra de amor e de elegância,
pois tu és a cidade dos Poetas!
= = = = = = = = =  

Poeminha de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Serra-serra,
será dor.
Cessa a serra,
será flor.
= = = = = = = = =  

Poema de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

A JANELA ENCANTADA

Se a luz do dia revela
que a noite de amor é finda,
fecho, depressa, a janela
e pensas que é noite ainda!
* * * *

A casa pobre e singela,
um dia se enriqueceu
e os pais, cheios de alegria,
a chamaram de Maria
quando a menina nasceu.

Um quarto, a sala, a cozinha,
uma porta e uma janela...
Nessa casa pequenina
cresceu, em graça, a menina
que, aos poucos, tornou-se bela!

À tarde sai à janela,
sempre no horário marcado
a olhara rua!... Risonha,
a menina pobre sonha
com seu príncipe encantado!

E é na janela o namoro...
Pede, o moço apaixonado,
ao pai a mão de Maria
e, para sua alegria,
o casamento é marcado.

O tempo passou ligeiro...
Sem a cortina de renda,
a casa em ruínas, fechada,
hoje, a janela encantada
ostenta uma placa: À VENDA.
= = = = = = = = =  

Soneto de
ERIGUTEMBERG MENESES
Blumenau/SC

PALETA DE SENTIMENTOS

Se a paleta de cores fosse o peito
E cada cor reflexo dos humores
Seriam os casais vistos nas cores
Dos sentimentos, cada um a seu jeito.

Somente o amor real seria aceito
E não havia ciúme ou rancores.
A vida era um universo de valores
Na arte de expor o par perfeito.

O casal de afeto fiel e franco
Com sentimentos puros era o branco,
A mistura das cores sem ter regra?

E o casal que engana, trai e mente
Teria do extrato reagente
Ao sulfato a cor que mais alegra?
= = = = = = = = =  

Poema de
JÉRSON BRITO
Porto Velho/ RO

RELICÁRIO
 
Do jardim retiraste a fragrância,
Lividez se alastrou, inclemente,
Não levaste, entretanto, a semente
Que me faz encurtar a distância.
 
Em mim mesmo encerrei tua essência,
Tua graça, teu jeito elegante,
Não me aparto sequer um instante
Desse alívio pra minha carência.
 
As delícias daquele cenário
Reuni numa doce memória…
Habitante do meu relicário
 
Apesar dos caminhos cinéreos,
Indelével no peito a história
Irradia sabores etéreos.
= = = = = = = = =  

Soneto de
MILTON S. SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS

Escravidão

Fazes de mim o que bem quer... mas não consigo
mudar o rumo desta história complicada.
Sufoco mágoas, resisto, brigo contigo...
mas volto sempre a caminhar na mesma estrada.

Na escravidão desta paixão desenfreada,
sinto morrendo uns tantos sonhos que persigo.
minha alma, às vezes, quase explode, revoltada
por ver que faço sempre o oposto do que digo.

Mas este amor, repleto de contradições,
é força imensa que inventa as próprias razões
e faz a mente parar de raciocinar.

A minha vida mais parece um labirinto:
ando sem rumo, bato portas, choro, minto...
por mais que tente, nunca deixo de te amar.
= = = = = = = = =  

Soneto de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

FLUTU...ÂNSIAS

Numa doce interferência do destino, 
nossos olhos... cristalinos...se encontraram
e o mundo se tornou tão  pequenino,
ante sonhos que os destinos  projetaram.

E havia tanto encanto em nosso olhar, 
tanto brilho em nosso mar de  poesia,
que nem mesmo a luz da Lua, a flutuar, 
conseguia ofuscar a fantasia.

Nosso amor, que  era tão  adolescente
e inocente em nossa linda ingenuidade,
transformou-se em lembrança... de repente.

repousando no brilho da mesma Lua, 
diluindo-nos, com  mansa  intensidade 
na  saudade que desperta... e que... flutua.
= = = = = = = = =