domingo, 28 de janeiro de 2024

Lima Barreto (A carroça dos cachorros)

Quando de manhã cedo, saio da minha casa, triste e saudoso da minha mocidade que se foi infecunda, na rua eu vejo o espetáculo mais engraçado desta vida.

Amo os animais e todos eles me enchem do prazer da natureza.

Sozinho, mais ou menos esbodegado, eu, pela manhã, desço a rua e vejo.

O espetáculo mais curioso é o da carroça dos cachorros. Ela me lembra a antiga caleça dos Ministros de Estado, no tempo do Império, quando eram seguidas por duas praças de cavalaria de polícia.

Era no tempo da minha meninice e eu me lembro disso com as maiores saudades. 

- Lá vem a carrocinha! - dizem.

E todos os homens, mulheres e crianças se agitam e tratam de avisar os outros. 

Diz D. Marocas a D. Eugênia:

- Vizinha! Lá vem a carrocinha! Prenda o Jupi!

E toda a "avenida" se agita e os cachorrinhos vão presos e escondidos. Esse espetáculo tão curioso e especial mostra bem de que forma profunda nós homens nos ligamos aos animais.

Nada de útil, na verdade, o cão nos dá; entretanto, nós o amamos e nós o queremos. Quem os ama mais, não somos nós os homens; mas são as mulheres e as mulheres pobres, depositárias por excelência daquilo que faz a felicidade e infelicidade da humanidade - o Amor.

São elas que defendem os cachorros das praças de policia e dos guardas municipais; são elas que amam os cães sem dono, os tristes e desgraçados cães que andam por aí à toa.

Todas as manhãs, quando vejo semelhante espetáculo, eu bendigo a humanidade em nome daquelas pobres mulheres que se apiedam pelos cães.

A lei, com a sua cavalaria e guardas municipais, está no seu direito em persegui-los; elas, porém, estão no seu dever em acoitá-los (acolhe-los).

(Publicado na Careta, 20-setembro-1919).

Fonte: Lima Barreto. Marginália. Publicado originalmente em postumamente 1953. Disponível em Domínio Público.

Caldeirão Poético LXXVII


Cecy Barbosa Campos
Juiz de Fora/MG

ÁLBUM

Desfolhando o velho álbum de retratos,
que jazia abandonado em alguma prateleira,
relembrei pessoas, que estavam esquecidas,
e não reconheci imagens que eram minhas.

O tom amarelado esmaecia
sorrisos jovens que ficaram tristes:
tirava o viço de vidas tão distantes
e que, um dia, foram parte de minha vida.

Entre as velhas amizades retratadas,
revi amigos dos quais eu lembro os nomes
e outros, dos quais, nada mais resta,
porque ficaram perdidos pelo tempo.

Ao contemplar aquelas fotos desbotadas,
vou rejuntando, aos poucos, os pedaços
de uma história que nem sei se já vivi.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Francisco José Pessoa
(Francisco José Pessoa de Andrade Reis)
Fortaleza/CE, 1949 - 2020

GATU’S BAR 

Tira gosto é cajarana
Para Pitú, Ypióca,
Mas eu prefiro paçoca
Sempre que vou a Santana
Eu tomo uma boa cana
Para poder me esquentar…
Sem saber onde parar
Vou seguindo pelo faro
Você sabe aonde paro?
Eu paro no GATU’S BAR.

Voltando liso, sem grana,
Deixo esta bela cidade
No bolso levo saudade
Quando saio de Santana
Bom boêmio não se engana
Quando é noite de luar…
Eu sei que vou viajar
Nesta estrada traiçoeira
Pra tomar a saideira
Eu paro no GATU’S BAR.
= = = = = = = = = 

Júlia da Costa
(Júlia Maria da Costa)
Paranaguá/PR, 1844 – 1911, São Francisco do Sul/SC

SONHOS AO LUAR

Quem és tu, bardo noturno
Que me fazes meditar?...
Serás por acaso o eco
De meu triste cogitar?...

Eu também amo a saudade
Que me inspira a solidão;
Amo a lua que me fala
Do passado ao coração.

Como tu choro uma noite
De luar que se ocultou;
Como tu choro a esperança
De uma aurora que passou.

Quem és tu, bardo noturno
Que me fazes meditar?...
Quem és tu que na minh’alma
Vens de manso dedilhar?...

Serás inda a sombra errante
De uma noite que morreu?...
Meigo raio de ventura
Que em meu seio se escondeu?...

Quem és tu? Dize quem és
Branca sombra lá do céu!
Dize o nome do teu canto
Que eu dirte-ei quem sou eu!
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Lurdiana Araújo
Brasília/DF

VIDA

A vida é uma metáfora tão mágica,
Que confunde até o crepúsculo da aurora.
O segredo está em saber acreditar.
O pingo da chuva quando se lança
Do firmamento ao chão,
Não é um suicida,
É um aventureiro
Em busca do mar.
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Márcia Maia
(Márcia de Souza Leão Maia)
Recife/PE

(BARR)OCO

um oco mais oco que o oco
do coco esquecido da água
que escorre do oco do coco
e um oco mais oco que o oco
no corpo do coco destrava.

um oco mais oco que o oco
um oco sem corpo e sem coco
um oco mais copo que corpo
repleto do oco mais oco
que o oco do oco — no nada.
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Marcos Assumpção
(Marcos André Caridade de Assumpção)
Niterói/RJ

GIRASSÓIS E CORTESÃS

Eu não sei como domar a fera
que insiste em habitar em mim.
Fera fere à faca a carne fraca
e essa vontade de ir embora.

Um milhão de pensamentos luz.
Solidão que bate e desespera
e nas entre linhas do poeta
toda dor transformará canção.

Eu carrego um gosto de sal
e a chuva das manhãs.
Nas minhas mãos, girassóis
pra enfeitar as cortesãs.
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Nemésio Prata 
Fortaleza/CE

GLOSA: SONHO

Mote:
Um sonho lindo que eu tive
onde tudo era harmonia
acordei... não me contive...
Era um sonho!... Que agonia!
José Feldman (Campo Mourão/PR)

Glosa:
Um sonho lindo que eu tive
trouxe-me doces lembranças
quando jovem, em aclive,
via na vida esperanças!

Fora uma bela visão
onde tudo era harmonia
dando-me viva impressão
do quão feliz eu seria!

Hoje em infausto declive
na vida, sem me por freio,
acordei... não me contive...
foi só mais um devaneio!

Que o sonho fosse verdade
era tudo o que eu queria,
mas quedei-me à realidade:
Era um sonho!... Que agonia!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Vânia Moreira Diniz
Brasília/DF

TERNURA

O olhar era intenso,
Como brilhantes faiscantes,
Admiráveis,
Imutáveis.

Havia neles,
Mais do que o brilho,
O regozijo pela vida,
E o fulgor da esperança.

Fixavam um ponto distante,
Como perdidos no sonho,
Quimeras incandescentes,
De longa duração.

Nada parecia irreal,
Na intensidade do momento,
Refletido em soberbas pupilas.

Sinônimo era ternura,
Da expressão a mais linda,
Que enxerguei um dia...

Coelho Neto (O pescador e as sereias)

Reunidas em conselho sobre as sirtes
(recifes), onde o mar quebrava desfeito em branca e fervente espuma, comentavam as sereias a indiferença do pescador. E dizia a mais velha, uma das que cantaram a Ulisses:

— Sem dúvida algum Deus o protege. Outros mais atilados, navegadores dos mares largos, que têm visto as grandes belezas do mundo e têm gozado os seus múltiplos encantos, esquecendo o governo dos navios pelas canções com que os atraímos, aqui têm vindo naufragar. Quantas galeras jazem no fundo do pélago e naus de alto bordo e veleiros de guerra! Para que o pescador, que diariamente cruza estes mares, passe sem voltar o rosto ao nosso apelo é preciso que um poderoso Deus o guie e o aconselhe contra nós. Sendo assim é melhor desistirmos de perdê-lo.

Concordaram todas com a mais Velha e já se dispunham a afundar, esquecendo o pescador, quando a mais nova, erguendo-se das espumas, nua e deslumbrante na refulgência dos cabelos que a iluminavam, disse:

— Sou capaz de atrair o pescador e aposto tantas pérolas quantos são os fios dos meus cabelos.

— Envelheceremos e contá-los, se perderes; disse uma das filhas do mar.

Foi aceita a proposta e ficou decidido que a encantadora esperasse sozinha nas sirtes, dando-se-lhe a harpa de coral mais sonora do abismo.

Assim foi.

Caía a tarde em desmaio, estrelava-se o céu pálido, o mar começava a lampejar em fagulhas. Um barco — a vela bojada, o pescador ao leme, — aparecem roçando a vaga.

Travou a sereia da harpa e, ao som das cordas, desferiu a voz. Alciones que esvoaçavam bateram lestas (ágeis) as asas largas e vieram pousar nas sirtes, as ondas calavam o seu marulho, o mar cobriu-se de estrelas, a lua, redonda e branca como um escudo de prata, boiou nas águas. Dir-se-ia que os próprios astros haviam baixado do céu seduzidos pela voz deliciosa.

Entretanto o barco singrava com o favor do vento e o pescador, ao leme, derreado sobre os cotovelos, de olhos perdidos, lá ia. Passou e rastreando tão de perto o perigo que a raareta* do seu barco rolou e desfez-se nas sirtes. Revoltou-se a sereia e, vendo-o longe, despeitada, rebentou, frenética, as cordas da harpa arrojando-a ao mar.

Afluíram à tona todas as sereias e, rindo em galhofa, logo reclamaram o preço da aposta.

— Tens que trabalhar! disseram.

— Levarás toda a vida a procurar tantas pérolas quantos são os fios dos teus cabelos.

— E talvez não bastem as pérolas todas do mar.

Riam quando um feio tritão, emergindo das águas, coroado de limo, coberto de escamas de prata, disse:

— Revoltai-vos contra a indiferença do pescador que não veio pelo vosso canto. Os que perecem nos abrolhos chegam trazidos pela sedução dos vossos cantares. Aquele, porém, não cairá em ciladas.

— Será, porventura, surdo!? gracejou uma das cavaleiras da vaga.

— Por enquanto... é como se fosse.

Logo, lançando mão do búzio que trazia à bandoleira, encheu-o no mar até as bordas e, oferecendo-o a uma das sereias, disse:

— Toma nas tuas pequeninas mãos algumas gotas d'agua e põe-nas aqui.

Obedeceu a intimada, mas toda a água transbordou:

— Nem uma gota ficou, tudo que era demais esvaiu-se. Assim como se deu com a água e o búzio, dá-se com o vosso canto, sereias, e o moço pescador. Naquele coração, cheio do amor da noiva, não cabem outros encantos. Cantai! E cantareis em vão. Haveis de vê-lo passar, como hoje passou — sentado ao leme, os olhos ao longe, vendo, através da névoa da distância, a ilha em que vive aquela que o seduz. Não desanimeis, porém; tende paciência e fiai-vos no tempo. Assim como, se deixardes este búzio exposto ao sol, em breve toda esta água que o enche terá desaparecido evaporada, podendo vós enchê-lo, porque o achareis vazio, assim também, um mês depois das bodas do pescador, cantai e vê-lo-eis dirigir o barco rumo às sirtes.

Com tais palavras despediu-se o tritão mergulhando de chofre. E as sereias ficaram trebelhando e rindo sobre as espumas vivas que o luar prateava.
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* Raareta = não encontrei o significado em nenhum lugar. 

Fonte> Coelho Neto. Fabulário. Porto/Portugal: Livraria Chardron, de Ceio & Irmão Ltda, 1924. Disponível no Portal de Domínio Público.

Hinos de Cidades Brasileiras (Mogi Guaçu/SP)


Letra: Ademir Sebastião Bernardi  
Música: Wildes Antônio Bruscato  
     
Despertando pra aurora da vida,  
Este povo de grande valor  
Levantou chaminé, que erguida,  
É a bandeira da raça e labor.  
     
A fumaça desenha no céu,  
Braço forte desta brava gente,  
Que recebe a quem aqui chega,  
Pra plantar uma fértil semente.  
     
Neste nobre berço,  
Terra sagrada por Bandeirante,  
O seu povo forma  
Elos de uma paz gigante.  
     
Rio que corta seu pródigo seio,  
É a artéria do seu coração.  
Caudaloso, fecundo desliza,  
Dando fé a este povo em ação.  
     
Este celebre chão se orgulha  
De colher cada dia um sucesso.  
Da estrada de bois, ao asfalto,  
Há notícia do nosso progresso.  
     
Esta é Mogi Guaçu,  
Alegre terra e dadivosa.  
Em seu seio encerra  
Tradição laboriosa.

O nosso português de cada dia (Erros de português que você não pode mais cometer) = 1

por Universidade Veiga de Almeida

Como qualquer outra disciplina, o português pode ser fácil para uns e difícil para outros. Além disso, a língua é viva, se altera com o passar dos anos, recebe influências do meio e, claro, conta com um amplo conjunto de regras que inegavelmente podem confundir.

— É certo dizer que o tempo presente, o grau de escolaridade e a classe social impactam em como produzo meu texto. Mas também é fato que o domínio da língua é diretamente proporcional ao volume de leitura. A dica é ler jornais, livros de bons autores e não ter vergonha de procurar o significado de uma palavra que não conhece —, recomenda o professor Caco Penna , do CPV Educacional.

Segundo Caco, as mudanças dos últimos anos no Enem resultaram em provas mais focadas no caráter sociolinguístico do que propriamente na gramática. Mesmo assim, essas são questões ainda relevantes na redação e muito presentes nos vestibulares. Indo muito além dos testes, vale lembrar que em toda a vida você vai lidar com as artimanhas do português. Nada mais queima o filme do que falar errado em uma entrevista de emprego ou enviar um e-mail profissional cheio de deslizes, por exemplo.

Para evitar essas derrapadas, listamos as 50 dúvidas gramaticais que mais costumam gerar erros. A lista foi elaborada com ajuda dos professores Simone Motta, coordenadora de Português do Grupo Etapa, Eduardo Calbucci, supervisor de Português do Anglo, e do próprio Caco.

50 DÚVIDAS DO PORTUGUÊS ESCLARECIDAS

1. POR QUE / PORQUE

Para começar, uma confusão que acompanha gerações:

Usa-se "por que" para perguntas, mesmo que implícitas. Exemplos: "Por que ela ainda não chegou?" e "Ele não sabe por que está aqui".

Usa-se "porque" para respostas. Se consegue substituir por "pois", essa é a forma correta: "Não foi trabalhar porque estava doente".

2. POR QUÊ / PORQUÊ

No final de uma frase, seguido de pontuação (exclamação, interrogação, reticências), o correto é "por quê", como em: "Estou chateado. Sabe por quê?".

Já o "porquê" tem exatamente o mesmo sentido de motivo ou razão, por exemplo: "Não sabia o porquê de tanta pressa".

3. DE SEGUNDA A SEXTA (CERTO) / DE SEGUNDA À SEXTA (ERRADO)

Outro elemento de confusão frequente, a crase pode ser explicada como a junção de duas letras em uma só: a preposição "a" e o artigo feminino "a". Então, se você tenta ler uma sentença com "a a" e não faz sentido, provavelmente não há crase. Logo, o correto é "de segunda a sexta".

4. A PRAZO (CERTO) / À PRAZO (ERRADO)

Como no caso anterior, a leitura com "a" duplicado não faz sentido. Além disso, não se aplica a crase antes de substantivos masculinos, como é o caso de "prazo".

5. A VOCÊ (CERTO) / À VOCÊ (ERRADO)

Não há crase antes de pronomes pessoais (eu, você, ele, ela, nós, vocês, eles, elas).

6. DAS 9H ÀS 18H (CERTO) / DAS 9H AS 18H (ERRADO)

No caso de horas expressas, há crase quando a preposição "de" aparece combinada com artigo (de + as), mesmo que implícito como em "horário da prova: 8h às 11h". Sendo assim, o correto é "das 9h às 18h".

7. MAL / MAU

"Mal" é substantivo quando precedido de artigo, como em "o mal do mundo", e advérbio quando acompanha verbo ou adjetivo. Resumidamente, é o contrário de "bem".

"Mau" é adjetivo quando vem antes de substantivos, com os quais concorda. É o oposto de "bom".

8. MAS / MAIS

"Mas" é conjunção adversativa e tem o mesmo valor de "porém", "contudo" ou "entretanto".

"Mais" é advérbio de intensidade ou conjunção aditiva, indicando adição ou acréscimo. É também o oposto de "menos".

9. HAVER / A VER

"A confusão entre as expressões se dá porque a pronúncia é a mesma", explica o professor Eduardo Calbucci. 

"Haver" é verbo e significa "existir". "Ter a ver" é "ter ligação".

10. TRAZ / TRÁS / ATRÁS

Segundo a professora Simone Motta, é bem comum se deparar com trocas de letra entre as palavras - erroneamente 'tras' e 'atráz' - por conta da sonoridade semelhante entre elas. 

Apesar disso, é fácil diferenciar: 
"traz" vem do verbo "trazer" (com Z, portanto); 
"trás" e "atrás" são advérbios e indicam posição ("ficará para trás", "atrás da porta").

11. HAJA / AJA

Novamente a semelhança sonora induzindo ao erro. Para esclarecer: 

"haja" é conjugação do verbo "haver", de existir. 

"Aja" vem do verbo "agir": "Aja com cuidado".

12. INTERVEIO (CERTO) / INTERVIU (ERRADO)

Esse é um verbo que se conjuga como "vir", de que é derivado, sendo "interveio" a forma correta: "A polícia interveio na briga".

13. VÊM / TÊM

Os verbos "ter" e "vir" devem ser acentuados quando estiverem na 3ª pessoa do plural: "Eles sempre vêm de táxi, porque eles não têm carro".
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continua…

Fonte: Universidade Veiga de Almeida, 03  dezembro 2019  in O Globo. 

sábado, 27 de janeiro de 2024

Mensagem na Garrafa = 90 =

Maria José de Queiroz
Belo Horizonte/MG, 1934 – 2023, Lagoa Santa/MG

Gratidão

Diariamente eu chego a simples conclusão de que a vida é tão maravilhosa porque também é feita de colos, de feridas que cicatrizam, de amigos que celebram ou choram junto, de café coado com coador de pano, de gente que pega ônibus ou faz caminhada pela manhã, de quem planta o que se pode comer, de vizinhos que alimentam seus gatos com comida de gente. 

Que a vida é feita de algumas pessoas que direcionam todo o seu potencial criativo para melhorar a qualidade de vida de gente que eles nem conhecem. 

Que é feita de e-mails que chegam recheados de saudade e de cartas extraviadas solitárias numa gaveta de um correio qualquer. 

De muros e pontes e cais. 

De aviões que suprimem distâncias e de barcos que chegam. 

De bicicletas que atravessam cidades. 

De redes que balançam gente. 

De rostos que recebem beijos. 

De bocas que beijam. 

De mãos que se dão. 

Que existem pessoas altamente gostáveis, altamente rabugentas, altamente generosas, pessoas distraídas que perdem as coisas, mal-educadas que buzinam sem necessidade, pessoas conectadas que se preocupam com o lixo, pessoas sedutoras e seduzíveis, possíveis e impossíveis, pessoas que se entregam, pessoas que se privam, pessoas que machucam, pessoas que chegam pra curar desencadeadores de poemas, de sorrisos, de lições de vida que ficarão guardadas para sempre… 

A vida é tão maravilhosa porque ela nos compensa com ela mesma.

A. A. de Assis (As marcas de Maringá)

Toda cidade tem sua marca. Paris tem a torre Eiffel, Nova Iorque tem a estátua da Liberdade, Curitiba tem o Jardim Botânico, o Rio de Janeiro tem o Pão-de-Açúcar, São Paulo tem a Avenida Paulista… Em Maringá, na sua opinião, que marca mais se destaca?

A catedral, obviamente, é o símbolo maior da cidade. Podemos mencionar também a fartura do verde, os parques, as universidades, o belo traçado das ruas, praças e avenidas, a moderna e avançada arquitetura das edificações, o dinamismo do povo.

Mas, pensando bem, pelo menos em termos mercadológicos, a grande marca de Maringá, desde a fundação, foi sempre, e muito fortemente, seu próprio nome – Maringá. A cidade já nasceu famosa, graças à imortal canção de Joubert de Carvalho.

Para os antigos corretores da Companhia Melhoramentos foi moleza vender lotes rurais e urbanos num lugar com um nome tão bonito e que estava no ouvido de todo mundo, no Brasil e lá fora.  Não era um nominho qualquer. Era um poema concentrado em três sílabas: Ma-rin-gá.

 Nos anos 1930 e 1940 o Brasil inteiro ouvia no rádio e cantarolava: “Foi numa leva que a cabocla Maringá…”. Consta que a esposa do presidente da empresa colonizadora ouviu a pioneirada entoar a canção, e de tal modo se encantou que sugeriu ao marido propor aos demais diretores dar esse nome à cidade.

De certo Dona Elisabeth, na ocasião, não estava pensando em marketing. Moveu-a um impulso poético. Mas os diretores da empresa perceberam de imediato a força da marca “Maringá” como facilitadora das vendas dos seus sítios e datas. E assim se batizou a cidade, que em poucos anos viria a ser um maná para o mercado imobiliário. 

Não vamos citar exemplos aqui, mas há muitos lugares que têm nomes tão estranhos que seus moradores ficam até encabulados de dizer que são de lá. Já o maringaense sente vaidade e orgulho em dizer onde mora. As pessoas reagem com uma pitada de inveja: “Puxa, que lugar bacana!…” e não raro emendam: “Maringá, Maringá…”

O nome é a primeira marca de cada um. Feliz Maringá, que já nasceu marcada para ser famosa. Valeu, Joubert. Que nome lindo você inventou para a sua canção, da qual nos tornamos xarás.

(Crônica publicada no Jornal do Povo, em 14 set 2023)

Hans Christian Anderssen (O príncipe malvado)

Era uma vez um príncipe muito perverso, que só pensava em conquistar todos os países do mundo e inspirar medo às criaturas humanas. Por onde passava, ia assolando a terra a ferro e fogo. Seus soldados pisoteavam as sementeiras, incendiavam as casas dos camponeses, deixando as chamas vermelhas lamberem a folhagem do pomar, de tal maneira que as frutas ficavam assadas nas árvores enegrecidas e estorricadas. 

Quantas mães não procuraram refúgio, com os filhinhos nos braços, atrás das paredes ainda fumegantes da casa incendiada! Mas lá mesmo iam os soldados descobri-las, e, dando, com as infelizes, ainda achavam maior estímulo para seus diabólicos instintos! O próprio gênio do mal não poderia proceder com maior maldade do que aquela soldadesca. Mas o príncipe entendia que assim devia ser, que aquilo era regular e lícito.

Aumentava dia a dia o seu poder. Seu nome era de todos temido, e sempre se saía bem de todas as façanhas. Possuía grandes tesouros, que levara das cidades conquistadas para o seu país, e na capital acumulavam-se riquezas que não tinham rival em parte alguma. Mandou construir castelos suntuosos, igrejas, salões de recepção; e quem via aquelas magníficas construções e os tesouros que continham, não podia deixar de exclamar, tomando de respeito:

- Que grande príncipe!

Mas é porque não se lembrava então da miséria que ele andara espalhando pelas outras terras; é porque não ouvia os suspiros e os gemidos que erguiam das cidades reduzidas a cinzas.

Contemplando todo o seu ouro e seus esplêndidos edifícios, o príncipe também pensava como a multidão: " Que grande príncipe sou eu!" Mas vinha-lhe logo outro pensamento: - É preciso que tenha mais ainda, muito mais! Nenhum poder deve igualar ao meu e menos ainda ultrapassá-lo!

E, assim pensando, moveu guerra aos vizinhos, vencendo-os a todos. Jungiu ao seu carro, com cadeias de ouro, os reis vencidos, e assim se exibiu pelas ruas da capital. Quando se regalava à mesa, os reis vencidos tinham de se ajoelhar aos pés e dos cortesãos, e só podiam comer os restos que lhes atiravam.

Acabou por fazer erigir a própria estátua nas praças públicas e nos castelos reais; e se não a instalou também nas igrejas, diante do altar do Senhor, foi porque os sacerdotes se lhe opuseram, dizendo:

- Vossa Alteza é grande, mas Deus é maior. E nós não obedeceremos a semelhante ordem.

- Pois então - bradou o príncipe- vencerei também a Deus!

E na sua arrogância e estúpida impiedade, mandou construir um suntuoso navio, para nele sulcar os ares,

Era um navio de magnífico aspecto e todo pintado de cores variegadas. Parecia salpicado de milhares de olhos, mas na verdade, cada olho era um cano de fuzil. Sentado no centro da nave, bastava-lhe calcar uma alavanca para que mil balas disparassem de todos o lados, enquanto as bocas de fogo eram imediatamente carregadas de novo. Centenas de águias foram atreladas ao navio e, rápidas como flechas, subiram em direção ao sol.

Como a terra se estendia lá embaixo! Com suas montanhas e florestas, parecia apenas uma lavoura cheia dos sulcos do arado. Mas dali a pouco já se assemelhava a um mapa raso, de traços não muito distintos; e por fim aparecia toda envolta em névoas e nuvens.

E as águias voavam cada vez mais alto, mais alto nos ares...

Mas eis que Deus mandou um dos seus inúmeros anjos - um único. O príncipe malvado lançou contra ele milhares de balas; elas porém, ricocheteavam, sem ferir as asas brilhantes do anjo, e caíam como simples grãos de granizo. Contudo, uma gota de sangue, uma só gota, brotou de uma das alvas penas e foi cair no navio do príncipe. E essa gota única corroeu o navio, pesou sobre ele como milhares de quintais de chumbo e arrastou-o para baixo, em uma queda precipitada. Partiram-se as robustas asas das águias. 

O vento uivava ao redor da cabeça do príncipe e as nuvens formadas pela fumaça das labaredas das cidades incendiadas transformavam-se em vultos ameaçadores - caranguejos marinhos, de milhas de comprimento, que estendiam para ele garras e pinças; e amontoavam-se formando imensos penedos. E desses penedos rolavam blocos, que se convertiam logo em dragões a cuspir fogo...

E o príncipe jazia semimorto no bojo do navio, que ficou afinal suspenso, depois de um baque tremendo, sobre uma floresta.

- Quero vencer a Deus! - bradava o príncipe. - Jurei-o e hei de fazer o que quero!

E sete anos se passarem na construção de artísticos navios que haviam de singrar os ares, como veleiros. O príncipe mandou cortar raios do aço mais resistentes para despedaçar as fortificações do céu. Concentrou guerreiros de todos os países que conquistara: formavam filas de milhas de extensão. Embarcaram esses exércitos nos navios engenhosamente construídos; o príncipe aproximou-se do que lhe era destinado...

Mas eis que Deus enviou um enxame de mosquitos - um único enxame, não muito grande, de mosquitos que dançavam em redor do príncipe, picando-lhe o rosto e as mãos. 

Enraivecido, desembainhou a espada e deu golpes no ar. Mas era só no ar que acertava mesmo: não apanhava um só mosquito. Mandou então buscar tapetes preciosos e enrolou-se neles, para se livrar dos insetos. Os criados executaram todas as suas ordens. Mas um mosquito - um único mosquito - ficou no interior do tapete e introduziu-se no ouvido do príncipe. Picou-o e a picada ardia como fogo que queima. O veneno do mosquito infiltrou-se-lhe no cérebro e o príncipe, como um louco, lançou longe os tapetes em que se envolvia. Despedaçando as roupas, pôs-se a dançar, completamente despido, diante dos seus ferozes guerreiros. 

Estes agora zombavam do príncipe doido, que quisera guerrear Deus e fora vencido por um só mosquito, por um minúsculo mosquito.

Fonte> Fonte> Hans Christian Andersen. Contos. Publicado originalmente em 31 de outubro de 1840. Disponível em Domínio Público

Hinos de Cidades Brasileiras (Ribeirão Preto/SP)


Letra: José Saulo Pereira Ramos; Música: Diva Tarlá de Carvalho

A minha terra é um coração
Aberto ao sol pelas enxadas
Sangrando amor e tradição
No despertar das madrugadas.

História exemplo, amor e fé
Assim traçamos teu perfil
Ribeirão Preto, terra do café
Orgulho de São Paulo e do Brasil.

Nasceste do destino nacional
Das caminhadas rumo ao Oeste
E ainda guardas o belo ideal
Dessa epopéia em que nasceste.
Ribeirão Preto esse destino
Que consagrou a tua gente
É do trabalho o grande hino
Que há de viver eternamente.
 
A minha terra é um coração
Aberto ao sol pelas enxadas
Sangrando amor e tradição
No despertar das madrugadas.

És linda jóia no veludo
Dos nossos verdes infinitos cafezais
E se em ti amada terra temos tudo
Ainda procuramos dar-te mais.

A minha terra é um coração
Aberto ao sol pelas enxadas
Sangrando amor e tradição
No despertar das madrugadas.

Nilto Maciel (Rotação)

Eles liam pausadamente, compassadamente, demoradamente. Liam em voz alta, para que todos ouvissem suas palavras. Às vezes cantochão, deslizar suave de água mansa. Alguns chegavam a cochilar. Adiante, a voz se fazia áspera, gritante. Arregalavam os olhos, empertigavam-se. Nenhuma atenção fugia do leitor. Todos encantados. Para mim, no entanto, o salão se enchia de palavras ininteligíveis. Ou então nunca mais voltei a ouvi-las, apesar de ter sempre os ouvidos atentos. Eu todo me voltava, em todos os sentidos, para o que diziam e faziam. Os livros passavam de mão a mão, assim como meu corpo infante, num ritual monótono. As mãos, aquelas mãos tão diferentes entre si, às vezes brutais, voltadas unicamente para os livros e as palavras. Aquelas mãos que de mim faziam mero objeto, obrigado a estar e ouvir. E a girar.

Eu percorria o salão, de hora em hora, sempre voltado para o seu centro, onde se amontoavam livros, cadernos, canetas, garrafas, cigarros, sapatos e outros objetos. Tal rotação, no entanto, não me deixava tonto, como me deixa hoje o girar em torno de meu próprio eixo.

Eles eram muitos, formavam um círculo perfeito, e o giro se fazia lentamente. Eles me demoravam cerca de dez minutos no colo de cada um. Ocorria-me tontura, porém, quando se aproximava o momento de ser passado às mãos seguintes, depois de ter dado trinta, quarenta ou cinquenta voltas. Eu pressentia o exato momento de ser erguido, como se faz com todas as crianças, e entregue ao vizinho. Eu me sentia um gato, uma galinha, um boneco, um objeto. Chegava a miar, cacarejar, fazer estranhos ruídos, como um brinquedo sofisticado. Eles permaneciam tão atentos à leitura que apenas se entreolhavam, sutilmente assustados, como se quisessem perguntar uns aos outros se tinham ouvido alguma voz não-humana. Nesses momentos me ocorriam vertigens, como se descesse ao fundo dos sons ou alcançasse o interior das palavras. Não sei como explicar. Eu me envolvia nas vozes, nos ecos, como se viessem de muito longe, de um espaço e um tempo absurdamente desconhecidos. Eu me sentia envolvido e sufocado por gases ou líquidos, voando ou boiando nos seus núcleos. E parecia ouvir e repetir ou apenas dizer: “um rio pode ensinar-nos muito coisa”. Não, não lembro nenhuma outra palavra. A não ser uma ou outra. Como “Tuam Asi”, ou pedaços de frases, como “teus olhos estão abertos para sempre”, “sei de que parte virá a aurora”.

Nunca perguntei nada daquilo a ninguém. Nem mesmo a minha mãe. Talvez hoje eu o fizesse. Tanto por curiosidade como para me livrar deste pesadelo. Não conheço mais nenhuma daquelas pessoas. Talvez tenham morrido. Ou estejam apenas desaparecidas, escondidas, foragidas. Estranho, porém, a atitude de minha mãe: por que não ficava comigo durante toda a leitura? Por que não se recusava a ler? Por que não insistia para ficar comigo? Chegada a sua vez de ler, passava-me adiante, ao seu vizinho, como passava o livro, naturalmente. Ocorria, às vezes, ser meu pai o seu vizinho. Então, eu me sentia menos tonto e chegava a rir de tanta felicidade.

Constantemente interrompiam a leitura. Não sei por quais motivos. Um deles mandava que fizessem silêncio. Mostravam-se assustados, nervosos, a olhar para os cantos das paredes, as portas, o teto, como se alguém ou alguma coisa muito terrível os ameaçasse. Por duas ou três vezes pularam todos para o porão. A tampa ficava no centro do salão, justamente onde amontoavam seus pertences. Era um buraco escuro, sufocante e estreito. Eu chorava, amedrontado. E dezenas de mãos me amordaçavam. Numa dessas confusões quase morri. Quando deram o alarme, todos pularam. A moça que me segurava perdeu o equilíbrio e fomos ao chão. Esbocei um grito. Mãos poderosas caíram sobre minha boca.

Também fui pivô de outros incidentes, embora de menor importância. A vítima quase sempre era minha mãe. Eu tudo fazia para não sujar os outros. Apenas uma vez ocorreu ter urinado num deles. Ora, eu me achava distante dela cerca de meio círculo. Não podia esperar mais.

Minha mãe não anunciou a ocorrência. Correu ao banheiro e me lavou. De volta, devia ler. Passou-me ao vizinho, que fez cara de herege. Nervosa e encabulada, ela se pôs a ler o cantochão. Parecia o deslizar suave de água mansa.

Fonte> Nilto Maciel. Babel. Brasília/DF: Editora Códice, 1997. Enviado pelo autor.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Ademar Macedo (Ramalhete de Trovas) 17

 

Mensagem na Garrafa = 89 =

Sílvia Letícia Carrijo

O SENTIDO DA VIDA

"A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida." (Vinicius de Moraes)

O que ouvimos é que a vida é fácil de ser vivida nós é que complicamos, mas será que é mesmo? Claro que em alguns momentos nós a complicamos pra valer, mas nem sempre. Eu costumo dizer que a vida deveria ter uma vírgula, um ponto de espera para depois o fim. Mas não é assim. Ela nunca para para podermos reavaliar. Temos que ir caminhando e tomando decisões sendo elas importantes ou não. Luís Fernando Veríssimo fala que a vida é estranha, não importando que tipo de olhar você lance sobre ela. E ele tem razão. Há momentos em que não sabemos o porquê dela e nem para que lado irá nos levar. Apenas sabemos que vale a pena viver e que mesmo sendo difícil em alguns momentos e complicados em outro ela é simplesmente linda e tem sua forma particular de nos conduzir.

Quando vejo o pó da terra fico olhando para ele com uma enorme interrogação. Somos feito dele e para ele voltaremos [...] até que volte à terra, visto que dela foi tirado; porque você é pó, e ao pó voltará". (Gênesis 3:19b). Com isso podemos chegar a conclusão que somos o melhor desta terra, é a mesma terra que nos alimenta e que a destruímos com lixos, venenos e pouco importamos com sua qualidade.

Fico olhando para nós como que do lado de fora. Vejo alguém tentando dominar o seu mundo, um vaso com peixe, muros tão altos quem nem ele mesmo sabe para quê. Barreiras daqui dali e vem o vento destrói tudo, vem o ladrão e leva o ouro como se não existisse nada para interromper sua imaginação. Os mesmos que criam barreiras são os mesmos que nos destroem. - O homem e suas ideias mirabolantes.

Anunciamos para todos que o sentido de nossa vida está em encontrar um amor. Alguém que nos complete nos faça felizes e realizados e sabemos muito bem que jamais seremos felizes com outra pessoa se não formos felizes e realizados primeiro conosco. Com a vida que escolhemos e com o sentido que damos a ela. Depois que achamos ter encontrado este ser tão poderoso não demora muito já mudamos o discurso, e é sempre o outro o ruim, nunca nossa própria vida e como a levamos e continuamos assim tentando e achando que no outro encontraremos algo. Nos conformamos quase sempre com essa história e não tentamos mudar, apenas seguimos o ritmo do conformismo.

Quando encontro casais que se separaram pergunto o porquê e a resposta é sempre a mesma: - a diferença. Mas por que se são as diferenças que nos fazem tão encantadores no inicio da relação. Ficamos tão grilados com elas que gladiamos, fazemos tormentas em copos de água. Enquanto poderíamos aprender com as diferenças e celebrarmos a vida. Mas não é fácil assim. Só parece fácil. Do pó somos feitos frágeis, levados pelo vento...

Amo os apaixonados, eles são o reflexo do nosso desentendimento total da vida. Queremos estar o tempo todo juntos, mas somente brigamos quando nos encontramos. Alguns conseguem fazer com que a paixão vire amor e aí dura, outros descobrem que mesmo apaixonados não dá para ficarem juntos e outros destroem o objeto da paixão por não saber o que fazer com ele.

Como a vida nem sempre é o que parece nos perdemos pelo caminho. Amamos dizer que vivemos em grupo, mas é a sós que nos sentimos nós mesmos é no isolamento que construo meu mundo. Só nos importamos em estar bem, não para mim, mas para mostrar ao outro que sou importante. Afinal é a aparência que manda não quem sou de verdade. Por isso gastamos mais tempo com ela que com meu pó (eu) interior.

Bom, a vida mesmo com suas complicações e beleza não deve ser considerada apenas um rito de passagem. É mais que isso é a oportunidade que temos de encontrar, curtir dar e receber de outros. É o presente mais precioso que temos. Muitas das vezes as barreiras não nos deixam ver. O velho sábio Salomão disse que vale mais a sabedoria. É verdade mais vale também viver de forma calma, tranquila mesmo na tempestade. Como? Sabendo olhar com olhos de aprendizado a tudo. Pois em cada desastre temos culpa, temos parcela de culpa e temos algo a aprender.

Então o que vale da vida é viver, vale amar. Amar de forma correta sem querer ser o que não somos, sem teorias cabulosas ou formas de explicar tudo pela ciência ou religião. Apenas ser mais doce, amar a vida e o que ela nos dá. Amar as pessoas com suas diferenças de pensamento e personalidade. Jogando no lixo o rancor, ódio que nos guia cegamente.

O amor é a forma mais linda de expressar carinho, vontade de viver e abandono de críticas. Mas não sabemos amar, conhecemos o amor posse, o amor domínio. Este não vale a pena. Precisamos amar momentos, situações, pessoas, animais e amar a vida como ela é. Assim vale a pena viver.

Hoje você acordou amanhã só Deus sabe. Mas não pensamos assim, achamos que somos infinitos então fazemos tudo errado parecendo que vamos ter uma nova chance. Mas não tem, então vamos viver a vida de forma mais calma sabendo que o amanhã não nos pertence.