domingo, 6 de outubro de 2024

Vereda da Poesia = 126 =


Semi-Soneto de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

Gangorra do Tempo

O tempo é um rio que nunca cessa,
desliza suave, em seu curso incerto,
leva os sonhos, o amor, o deserto,
e em cada gota, uma vida expressa.

As horas se vão, a saudade, a pressa,
deixando marcas em nós, imaculadas.
As rugas são contos, chibatadas
de um passado que em nós se confessa.

Mas há a beleza na sombra que arde,
no eco da risada que se dissipou,
e na memória que ainda se faz.

A vida é um ciclo que nunca vem tarde,
em cada lembrança, um brilho que clareou,
fazendo do agora uma eterna paz.
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

A vida pôs, por maldade,
tanta distância entre nós,
que, quando eu canto, é a saudade
que faz a segunda voz…
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Poema de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Caras Vitrines Espelhos

Viver não é sofrer de forma avara,
A tara de uma dor que o ser inventa,
É ver em cada espelho, nova cara
A cada vez que a dor nos violenta.

É rir, quando o espelho se depara
Com a cara que a tristeza nos empresta
Porque a flor que fere é a que sara
A dor de cada cara em cada aresta.

Viver é conviver com cicatrizes;
Felizes são aqueles que guardaram
As marcas do seu tempo de aprendizes
E tatuaram dores que sararam.

Espelhos são os olhos da razão;
Vitrines são desejos coloridos
Da alma que transforma em sedução,
Apenas sentimentos refletidos.

Amar implica dar algum sentido
Ao tempo que se tem, e transformar
O dom de abençoar o amor vivido
No brilho que abençoa o próprio olhar.
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Trova  Premiada em Irati/PR, 2023
DAVI PEREIRA 
Toledo / PR

Duas situações ruins
que nos aturdem, de fato:
uma é ter pedra nos rins;
outra, é pedra no sapato.
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Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP

Aos primeiros raios solares…

Páginas em branco
rumam em silêncio 
abrindo as janelas, 

descortinando o novo dia azul.
Repleta de paz sou esperança,
em linhas retas, sou paralelas. 
Sem pensar no amanhã, verso
risos ou prantos, sem mazelas.
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Trova Popular

A dor por maior que seja
se comprime, se contrai.
Eu nunca vi dor no mundo
que não coubesse num ai.
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Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR

Somos
Um invólucro de barro
Onde a alma 
Se abriga.
Casulo frágil, frágil...
A seu tempo, 
A alma escapa
E entre as nuvens 
Voa...
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Trova de
CIPRIANO FERREIRA GOMES
São Paulo/SP

Um céu de ouro...um mar de cobre
e emoldurado em palmeiras,
um frágil barquinho pobre
sonhando alargar fronteiras.
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Poema de
ANTONIO CASTILHO
Avaré/SP

Alzaimer

Hoje lembrei quando você partiu
Você me abraçou no portão e me deixou aqui
Você tem só 18 anos
Não sei como vai viver sem mim .
Todos os dias vou para estação para ver se está voltando...

É tanta gente chegando, é gente partindo
Mas você não está
A saudade vai me matando mas
tenho que seguir

Amanhã eu volto e talvez te encontre
Você só tem 18 anos ...
Meu medo é que você se perca por ai ...
As vezes olho no espelho e não me reconheço 
Poucos cabelos muitas rugas
Será que o tempo passou eu não percebi?

Todos os dias eu volto para a estação esperando você chegar
Você tem só 18 anos !
E nada ...
Só um senhor  vem me resgatar
Vem me buscar para casa me levar ...

Ele me abraça ...
As vezes lembro que ele me chama de pai, 
talvez para me agradar ...
Meu filho tem só 18 anos
Não vejo a hora dele voltar
Para poder de novo abraçar e comigo finalmente ficar
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Trova de
LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
Pinhalão/PR

Asqueroso é o avarento
que, de si, nada consome;
à família é rabugento,
por dinheiro, unha de fome.
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Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Sabedoria

Senhor, meu Deus, me dê Sabedoria,
é tudo o que eu mais peço ultimamente,
percebo agora o quanto eu não sabia
e preciso aprender de modo urgente!

São leis que não aprendi na academia,
não sei se por ser pouco inteligente,
ou não interpretei como devia
o Seu bondoso amor, mas exigente.

Eu quero, antes que fique bem tarde,
varrer o erro que em meu peito arde,
por míngua do saber santo e profano.

Almejo viver bem com o amor divino
e com o amor de um anjo feminino,
pois sou filho de Deus, mas sou humano!
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Trova do 
Príncipe dos Trovadores
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ (1916 -1977) Santos/SP

Houve uma bronca bacana
quando viram, certo dia,
que o noivo da Sebastiana
era o esposo da Luzia...
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Poema de
ANDRÉ VASCONCELOS
Diadema/SP

E se não amanhecer

É o breu.
Sou eu.
Tempo ruim choveu.

Os planos ruíram.
Quando se apaga.
Os sonhos dormiram.

Não enxerguei.
Tateei o nada onde me vislumbrei.
Olhos sempre abertos.
Mas não significa que soube enxergar.

Respirei fundo.
Para puxar o ar que faltou.
A esperança roubou.
Sem ar sem fôlego sem acreditar.

Ouço meu nome.
Eu respondo.
Sou eu.
Desse lado.
A chuva o tempo e o breu.
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Trova Funerária Cigana

Envolto em tua mortalha,
meu coração tu levaste.
Antes contigo se fosse,
a vida que me deixaste.
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Poema de 
JESSÉ FERNANDES DO NASCIMENTO
Angra dos Reis/RJ

Fim

Não tente ressuscitar
os mortos que somos
para o amor.
Tudo acabou.
Restam as mágoas.
Não tente reacender
um fogo que se apagou.
Restam as cinzas.
Nada mais...
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Trova Hispânica de
PAÚL TORRES ARROYO
Huaral/Peru

Hija única del canto
bálsamo de la tristeza,
la sonrisa es Sacro Santo
himno escrito a la belleza.
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Poema de 
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal

Paz

Vem de dentro para fora
caminho obstinado na nudez dos pés
imunes aos cardos crescendo descontrolados
passos dolentes que se recusam a parar.

Sábio silêncio do Homem que cala a voz
em guerras inúteis, ecos de palavras ocas.
Nobre missão em cruzada contra o tempo
numa luta sem decreto de vencedores ou vencidos

Paz semeada no campo da humanidade
tecida na brandura de alvos fios de linho
jardim-cultivo de amor e justiça, onde
nardos de esperança florescem no mais pleno viço.
Na presença da tua asa suprema
se tranquilizam os corações em desordem.
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

- É o piloto... tô em perigo!...
Tem fumaça... e um fogaréu!...
- É a torre... reze comigo:
“Pai nosso, que estais no céu...”
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Soneto de
JOSÉ TAVARES DE LIMA
Juiz de Fora/MG

Doação infeliz

Não me censures se não te procuro,
nem tentes entender meu desamor…
Mataram cedo o sentimento puro
que havia no meu peito sonhador!

Este meu jeito indiferente e duro
somente esconde um natural temor,
porque sofri demais; e, te asseguro:
morre a ternura em quem sofreu de amor…

Doei-me inteiro para alguém, um dia;
acreditei nas juras que fazia,
e em paga só colhi desilusão…

Hoje, ferido por tão rude espinho,
acostumei-me tanto a ser sozinho
que até me sinto bem na solidão!
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

A saudade sintetiza 
sonhos, glórias, sentimentos, 
como um filme que eterniza 
nossos melhores momentos. 
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Soneto de
ISMAR DIAS DE MATOS
Belo Horizonte/MG

Diamantina

Tens o clima intraduzível;
cedo é sol, tarde é neblina...
Diamantina, Diamantina...
que natureza aprazível!

"Se é por demais incrível
e o meu dilema fascina,
inclina o ouvido, inclina,
ouve o tempo indescritível!

Se o sol que ora clareia
der lugar à lua cheia
e convidar à seresta;

deixa o sol, essa torrina,
calor e qualquer rotina,
vê a natureza em festa!"
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Trova da
Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Sempre acolho de mãos postas
e, humilde, tento aceitar
o silêncio das respostas
que a vida não sabe dar!
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Hino de 
Lagoa da Pedra/MA

Lago da Pedra! Lago da Pedra!
Nascestes atraente e majestosa,
Circundada por riquezas naturais,
Rodeada de soberbos palmeirais.

Lago da Pedra!
Uma fonte de encanto e beleza
Para o Brasil uma esperança renovada
Pelo padroeiro São José abençoada!

Lago da Pedra!
Na dureza da paisagem do sertão
Marchando com bravura e decisão
Ao encontro de uma história triunfante.

Lago da Pedra!
Com sua juventude tão brilhante
Um sorriso alegre, um médio sertão.
Cidade de progresso do Maranhão.
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Trova Humorística de 
JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Marido que à noite escapa
com mulheres e aguardente,
o remédio é chá de tapa,
sem açúcar, forte e quente!
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Poema de 
ATÍLIO ANDRADE
Curitiba/PR

Arrogância 

É  bom de vez em quando 
Descer da escada 
E dar uma olhada
No rodapé...
Amarrar, fixar 
Pois na ganância 
Um  tombo pode derrubar
Tua arrogância.
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Trova de
ARTHUR THOMAZ
Campinas/SP

Gonçalves Dias, teu verso
das terras do Maranhão
aos píncaros do Universo,
prega ao mundo a comunhão!
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

A rã e o rato

Trazendo viva guerra antigamente
Rãs e ratos, houve uma tão valente,
Que tomou em um choque prisioneiro
Um rato, que era entre eles cavalheiro.

Pediu-lhe este licença em certo dia,
Para acudir a um pleito que trazia.
Concedeu-lha. Era o rato precisado
A passar um profundo rio a nado:

Deu indícios de medo; a rã lhe disse
Que se prendesse a ela e que a seguisse;
Que como no nadar tinha mais arte,
O poria sem risco na outra parte.

Aceitou, e de junco fabricaram
Uma boa tamiça a que se ataram;
Porém a falsa rã, que a má vontade
Encobria em finezas de amizade,

Desejava afogá-lo; e lá no meio
Puxava para baixo, e com receio
Puxava para cima o triste rato,
E faziam um grande espalhafato.

Passava acaso uma ave de rapina;
E vendo aquela bulha, o voo inclina;
Pilha ambos pelo atilho; e a tal contenda
Acabou em fazer deles merenda.

Ninguém creia em finezas de inimigo,
Porque o ódio se oculta e não se entende;
Dirá que de perigo nos defende,
Para haver de meter-nos em perigo.

Sabemos que não fica sem castigo;
Porque às vezes no laço em que pretende
Ofender-me, também a si ofende:
Mas que importa, se lá me tem consigo?

Se padecesse só o embusteiro,
Menos mal; porém vou com ele atado,
E posso no penar ser o primeiro;
Por isso nada fico aproveitado,
E talvez se aproveite algum terceiro
À custa do inocente e do culpado.

Jaqueline Machado (“Vidas secas”, de Graciliano Ramos)

Vidas secas, de Graciliano Ramos, é um dos romances mais importantes do cenário literário brasileiro. Escrito em 1938, a obra nos leva a refletir e também a se indignar com o horror da desigualdade social. 

O romance fala de uma família que foge da seca pela caatinga, em busca de água e comida. 

O protagonista, é Fabiano, sua esposa é a sinhá Vitória que levava o filho mais novo escanchado no quadril. Um pouco atrás ia o filho mais velho e a cachorra: Baleia. 

Quase não conversavam. Primeiro, porque tinham pouco assunto. Depois, porque precisavam poupar as forças físicas. 

Os juazeiros se aproximavam, recuavam e sumiam.

Cansado, o filho mais velho se pôs a chorar e sentou no chão.   

- ‘Anda, condenado do diabo”! -  Gritou-lhe o pai. - Não obtendo resultado, o castigou com a ponta da bainha da faca. Acuado, sossegou, deitou, fechou os olhos.  

A família tinha um papagaio, que foi sacrificado para matar a fome. 

Exaustos, encontram uma fazenda aparentemente abandonada. Lá, buscaram refúgio. Fabiano encontra água no bebedouro dos animais. Baleia caça um preá. Eles ficam felizes, pois, finalmente, haviam encontrado água e comida.

Fabiano se vê dono daquela fazenda. Mas descobre que ela tem dono. E precisa negociar com o fazendeiro para não ter que voltar a seguir a caatinga rala com a família. Seus serviços, então, são trocados por abrigo e comida. 

Em certo momento, o filho faz uma pergunta. Fabiano fica irritado. Afinal, pensar não leva a nada. E lembrou do senhor Tomás da Bolandeira, que apesar de possuir muita cultura, morreu na seca. 

Ele queria desfrutar de uma vida melhor. Sua mulher sonhava ter uma cama igual ao do seu Tomás da Bolandeira. 

Permanecem por um tempo na fazenda. Conhecem pessoas, vão a algumas poucas festividades, mas na maior parte do tempo, desfrutavam mesmo dos sofrimentos. Um dos maiores foi a morte da cachorra Baleia, que estava muito debilitada. Depois, a seca voltou a castigar a terra, matando os animais de sede. E a família teve que fugir de novo, debaixo de um calor escaldante, sem destino. 

Ou seja, devido às más governanças e más distribuições de terra, o ciclo de dor e desalento se repete…

Fonte: Texto enviado pela autora 

Recordando Velhas Canções (Volta por cima)

(Samba, 1962) 

Compositor: Paulo Vanzolini

Chorei
Não procurei esconder
Todos viram, fingiram
Pena de mim não precisava
Ali onde eu chorei, qualquer um chorava
Dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava

Chorei
Não procurei esconder
Todos viram, fingiram
Pena de mim não precisava
Ali onde eu chorei, qualquer um chorava
Dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava

Um homem de moral não fica no chão
Nem quer que mulher lhe venha dar a mão
Reconhece a queda e não desanima
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima
Reconhece a queda e não desanima
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima

Chorei
Não procurei esconder
Todos viram, fingiram
Pena de mim não precisava
Ali onde eu chorei, qualquer um chorava
Dar a volta por cima que eu dei, quero ver

Um homem de moral não fica no chão
Nem quer que mulher venha dar a mão
Reconhece a queda e não desanima
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima
Reconhece a queda e não desanima
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima
Reconhece a queda e não desanima
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima

Resiliência e Orgulho: A Mensagem de Superação em 'Volta Por Cima'
A música 'Volta Por Cima', é um hino de superação e resiliência. A letra fala sobre a experiência de passar por um momento difícil, chorar e sentir a dor da queda, mas, acima de tudo, sobre a capacidade de se reerguer e seguir em frente. A expressão 'dar a volta por cima' é uma metáfora para superar adversidades, mostrando que, apesar dos desafios, é possível se recuperar e continuar a jornada com dignidade e força.

O refrão da música destaca a importância da autoconfiança e do orgulho pessoal. O 'homem de moral' mencionado na letra simboliza alguém que, mesmo após enfrentar uma situação que o leva às lágrimas, não se deixa abater permanentemente. Ele não espera por ajuda externa, mas reconhece sua própria capacidade de se levantar e seguir em frente. A mensagem é clara: é essencial reconhecer os próprios erros ou fracassos, mas sem deixar que eles definam quem somos.

A canção também aborda a questão da vulnerabilidade e da autenticidade emocional. O narrador não tem vergonha de suas lágrimas e não se preocupa com a opinião alheia. Isso reflete uma atitude de honestidade com os próprios sentimentos, que é fundamental para o processo de cura e crescimento pessoal. 'Volta Por Cima' é, portanto, uma ode à força interior e à capacidade humana de superar obstáculos, mantendo a cabeça erguida e o coração aberto para novas possibilidades.

Não é verdade que “Volta por Cima” tenha alguma coisa a ver com a morte do filho do autor ocorrida anos depois de sua criação. A letra deste samba é isto sim, “uma questão de filosofia de vida, como eu gostaria de ser”, afirma o Dr. Paulo Vanzolini mestre em Zoologia pela Universidade de Harvard, diretor do Museu de Zoologia da USP e um dos mais festejados componentes do reduzido grupo de compositores paulistas de sucesso nacional.

Os versos ajudariam a popularização da expressão “dar a volta por cima”, citada no dicionário Aurélio como o ato de superar resolver uma situação difícil, desagradável, problemática.

Oferecido a alguns cantores, “Volta por Cima” acabou gravada pelo mineiro Noite Ilustrada, numa ocasião em que Vanzolini estava em viagem na Amazônia. Noite Ilustrada atuava na boate Moleque, onde os frequentadores costumavam fazer coro sempre que ele interpretava a composição. Então, atendendo à pretensão do sambista, o produtor Alfredo Borba autorizou a gravação, que teve um arranjo bem simples do clarinetista Portinho. Quando Vanzolini retornou a São Paulo, foi surpreendido com o seu samba tocando nas rádios e disputando as primeiras colocações nas paradas, para logo se fixar como o maior sucesso de Noite Ilustrada.

A propósito, este apelido pitoresco foi dado ao cantor (que se chama Mário de Souza Marques Filho) em 1951, quando ele participava de um show comandado por Zé Trindade na cidade mineira de Além Paraíba. No momento da apresentação, o comediante esqueceu o seu nome e, vendo-lhe num bolso um exemplar da revista Noite Ilustrada, não se apertou: “E agora com vocês a grande revelação... Noite Ilustrada.” Daí em diante o apelido pegou de tal forma que até Denise, mulher do cantor, o chama de o Noite. 
Fontes:
https://www.letras.mus.br/jorge-aragao/286389/significado.html
http://cifrantiga3.blogspot.com.br/2006/06/volta-por-cima.html 

sábado, 5 de outubro de 2024

Therezinha Dieguez Brisolla (Trov’ Humor) 40

 

José Feldman (O Último Passeio)

Na pequena cidade de Vila Esperança, onde as ruas eram adornadas por flores e o canto dos pássaros ecoava pela manhã, viviam dois idosos, Dona Dora e Seu Domingues. Ambos eram conhecidos por sua amizade sincera e pela companhia de seus fiéis cães: Mel, uma labradora de pelagem dourada, e Pingo, um vira-lata esperto e brincalhão.

Com o passar dos anos, a vida trouxe desafios a Dona Dora, que perdeu seu marido recentemente, e a Seu Domingues, que lutava contra a solidão e a tristeza. Em um dia nublado, enquanto caminhavam juntos com seus cães, o ar parecia pesado, como se a cidade também carregasse suas dores.

Enquanto conversavam, Mel e Pingo, em sua inocência canina, começaram a brincar. De repente, os cães correram em direção a um parque abandonado, onde uma densa neblina se formou. Curiosos, os idosos seguiram seus animais.

Ao entrarem no parque, foram surpreendidos por um cenário mágico. As árvores, cobertas de flores brilhantes que nunca tinham visto, dançavam suavemente ao vento. O ar estava impregnado de um perfume doce, e uma luz suave parecia emanar do chão.

“É como se estivéssemos em outro mundo”, disse Dona Dora, maravilhada.

“Talvez seja”, respondeu Seu Domingues, com um sorriso. “Um lugar onde podemos deixar nossas preocupações para trás.”

Enquanto exploravam, encontraram um banco antigo, coberto de musgo. Sentaram-se, e a magia do lugar começou a trabalhar. As memórias de seus amores perdidos e de suas lutas começaram a se dissipar, como a neblina ao sol. Eles riram, contaram histórias de suas juventudes e, pela primeira vez em muito tempo, sentiram-se leves.

De repente, Mel e Pingo começaram a ladrar em direção a uma árvore gigante. Ao se aproximarem, notaram que a árvore tinha uma porta entre suas raízes. A curiosidade falou mais alto, e os quatro entraram.

Dentro, encontraram um mundo de possibilidades. Havia trilhas que levavam a diversas paisagens: campos floridos, montanhas majestosas e riachos cristalinos. Cada passo que davam parecia rejuvenescê-los, e seus corações, outrora pesados, agora pulsavam de alegria.

“Olhe, Dora! Vamos escalar aquela montanha!” exclamou Seu Domingues, com o entusiasmo de um jovem.

E assim, entre risadas e corridas, os dois idosos enfrentaram a montanha, desafiando seus limites. Enquanto escalavam, seus cães os seguiam, como guardiões da felicidade recém-descoberta.

No topo, a vista era deslumbrante. O sol começava a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa. Dona Dora e Seu Domingues, ofegantes, sentaram-se e contemplaram a beleza ao redor. Ali, no ápice, perceberam que as dificuldades da vida eram apenas montanhas a serem superadas.

“Não importa a idade, Dora. Sempre podemos encontrar novos começos”, disse Seu Domingues, olhando nos olhos dela.

“Sim, Domingues. A vida pode ser mágica, mesmo depois de tantas tempestades”, respondeu ela, com um sorriso.

Quando decidiram voltar, a neblina do parque os envolveu novamente, e em um instante, estavam de volta à realidade. Contudo, algo havia mudado. A tristeza que os acompanhava havia se dissipado, e a amizade e a esperança floresceram em seus corações.

Dali em diante, Dona Dora e Seu Domingues continuaram a passear juntos, agora com um novo olhar sobre a vida. As memórias de sua aventura mágica os inspiraram a enfrentar os desafios do dia a dia, sempre com um sorriso, acompanhados de Mel e Pingo, que, sem saber, foram os verdadeiros guias para a superação de seus obstáculos.

E assim, na pequena Vila Esperança, a vida continuou, cheia de cores e possibilidades, mesmo para aqueles que já haviam vivido tanto.
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Estrutura do Conto acima: 

Introdução
Apresentação dos personagens: Dona Dora e Seu Domingues, dois idosos amigos.

Contexto
A vida cotidiana em Vila Esperança e os desafios enfrentados por eles.

Desenvolvimento
Os idosos caminham com seus cães, Mel e Pingo.

A atmosfera pesada da tristeza é introduzida.

Os cães levam os idosos a um parque abandonado, onde encontram uma realidade mágica.

Clímax
Descoberta do banco antigo e a transformação emocional dos personagens.

A entrada na árvore mágica, que os transporta a um mundo de novas possibilidades.

Aventura
Exploração de paisagens mágicas e superação de desafios, como a escalada de uma montanha.

Momentos de alegria e rejuvenescimento.

Conclusão
Reflexão no topo da montanha sobre a vida e a superação de obstáculos.

Retorno à realidade, mas com uma nova perspectiva.

A continuação das caminhadas e o fortalecimento da amizade.

LIÇÕES TRANSMITIDAS AO LEITOR

1. Superação de Obstáculos
A vida pode apresentar desafios difíceis, mas é possível superá-los com coragem e apoio mútuo.

2. Valorização das Relações
A amizade e o apoio entre pessoas são fundamentais para enfrentar momentos difíceis. Conexões emocionais podem trazer conforto e alegria.

3. Redescoberta da Alegria
Mesmo após perdas e tristezas, é possível redescobrir a alegria e a magia da vida, basta estar aberto a novas experiências.

4. Importância do Presente
A história enfatiza viver o momento presente e aproveitar as pequenas oportunidades de felicidade que surgem no dia a dia.

5. Transformação e Crescimento Pessoal
Através da experiência compartilhada, os personagens se transformam, mostrando que o crescimento pessoal pode ocorrer em qualquer fase da vida.

6. O Valor da Curiosidade
A curiosidade e a disposição para explorar o desconhecido podem levar a descobertas valiosas e experiências enriquecedoras.

Fonte:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024