sexta-feira, 9 de maio de 2025

Asas da Poesia * 19 *


Trova de
LUÍZA FILLUS
Irati/PR

Bendita realidade
quando a paz for preservada
não deixar a humanidade
viver mais desamparada.
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Poema de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP

Soneto de um amor impossível

E devagar você foi chegando...
No meu coração se aconchegando.
Os meus dias frios tornaram-se verão,
De tanto carinho, houve a explosão.

Que vício delicioso é sua boca.
Nossos corpos colados sem roupa.
Nunca imaginei sentir algo assim,
Maravilhoso do começo ao fim.

Fomos felizes ao estarmos juntos.
Ríamos como dois adolescentes,
Nos olhávamos profundamente.

Era meu refúgio, meu bem querer.
Sem você, tudo perdeu o sentido.
Sem você, não conseguirei viver.
= = = = = = = = =  

Trova de
LUCILIA A.T. DECARLI
Bandeirantes/PR

O tempo intervém nos passos
e a vontade predestina,
se elimino os meus fracassos,
ou me curvo à triste sina!
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Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Antes que vosso amor meu peito vença
(Soror Violante do Céu in "Cem Sonetos Portugueses", p. 31)

Antes que vosso amor meu peito vença
Eu me entrego ao exército inimigo
Desse olhar que me traz em grande perigo
De eu mesma já não ser de mim pertença.

É uma peleja a vossa benquerença
Mesmo sem espada a que haveis comigo
E antes que, por derrota, ache castigo
A minha mão vos dou, em recompensa.

Madrigais foram armas da batalha
Insistindo fenderam a muralha
Onde eu guardava a minha castidade.

A vós se rende, alegre, o coração
Fazei dos vossos braços a prisão
Onde eu, feliz, me sinta em liberdade.
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Trova de
JESSÉ FERNANDES DO NASCIMENTO
Angra dos Reis/ RJ

Contemplo maravilhado,
me inspirando em cada verso,
o céu noturno estrelado
embelezando o universo.
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Poema de
ATÍLIO ANDRADE
Curitiba/PR

Poeira

A poeira
que o tapete
esconde
é a divisória
entre nós…
Do saber
e do não ver,
do ver e crer
e do não querer saber.
É na decência
que se ilumina
a descrença
na utopia
do dia a dia.
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Trova de
MARIA HELENA URURAHY CAMPOS DA FONSECA
Angra dos Reis/ RJ

Quando a noite em seu langor
se despede embriagada,
o amanhecer, em louvor,
ilumina a madrugada.
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Poema de
CARLOS FERNANDO BONDOSO
Alcochete/ Portugal

Vi-te no vento

olho-te
nos passos dos meus olhos
vejo escolhos
solidão e silêncios

lanço os braços agasalhos
frios pensamentos
afagados por momentos
no teu rosto quente

sinto-te
na difusa luz da minha mente

amor
por ti estou aqui
o brilho que sinto
no espaço que serpenteias
são teias teares e meias
que me vestem
nos silêncios

danças dançarinas
embaladas não foram meninas
foram melodias acabadas pelo som dos tambores
foram canções onde brotei amor e falei de ti

vi-te no vento

diluindo fugiste
deixas-te as partículas da dor
no tempo
corro e não consigo abraçar
o momento
que passa e que graça

agarro o Sol o brilho marfim
espiga
o teu sorriso de mulher
na minha alma de poeta
sim!
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Trova de
LÉLIA MIGUEL MOREIRA DE LIMA
Angra dos Reis/ RJ

Aquela folha que vaga,
naquela mata sou eu!
Aquele vento que afaga,
lembra quando tu eras meu.
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Poema de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

A boneca

Deixando a bola e a peteca,
Com que inda há pouco brincavam,
Por causa de uma boneca,
Duas meninas brigavam.

Dizia a primeira: “É minha!”
— “É minha!” a outra gritava;
E nenhuma se continha,
Nem a boneca largava.

Quem mais sofria (coitada!)
Era a boneca. Já tinha
Toda a roupa estraçalhada,
E amarrotada a carinha...

Tanto puxaram por ela,
Que a pobre rasgou-se ao meio,
Perdendo a estopa amarela
Que lhe formava o recheio.

E, ao fim de tanta fadiga,
Voltando à bola e à peteca,
Ambas, por causa da briga,
Ficaram sem a boneca...
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Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Em humor não me destaco, 
mas, por pura peraltice; 
mesmo não sendo macaco, 
vou fazendo macaquice.
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Poema de 
CRIS ANVAGO
Lisboa/ Portugal

Existe sim, uma força maior,
um querer, um desejo
de caminhar lado a lado

O coração só quer amar
E ser amado!
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Ficou rico o Zé Maria
na seca do Juazeiro,
vendendo "fotografia 
de chuva"... por "dois cruzeiro"...
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Poema de
CÉLIA EVARISTO
Lisboa/Portugal

Leva-me contigo

Leva-me contigo
sempre que viajares por aí.
Guarda-me de mansinho,
seguirei deveras em ti.
Mas não vás sem mim,
não me deixes, por favor, assim.

Não me trates como uma desconhecida,
como se não te tivesse tocado jamais.
Fazes-me sentir perdida,
apenas mais uma entre as demais.
És o caminho que tanto sigo,
leva-me contigo.

E se não me levares,
que eu aprenda a sossegar o meu coração
que respira e palpita,
que sangra por dentro e por fora,
que a ansiedade devora,
ao sabor desta emoção.
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Trova de
CAROLINA RAMOS 
Santos/ SP

Se a ternura nos aquece
e um grande amor nos ampara,
é quando a penumbra desce
que a vida fica mais clara!
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Hino de
OSASCO/SP

De mãos dadas, unidos, mil sonhos
Gestaremos no sul do querer
O ontem vitória dos tempos
Faz o hoje feliz florescer
É Osasco cantando a História
As glórias de um povo em ação
O movimento dos autonomistas (bis)
E voos que a vista
Dá no coração

Osasco
Osasco brilha
Na América do Sul
Foi em Osasco que o Homem
Sonhou e conquistou
O céu azul

Osasco
Osasco trilha
Os corações do porvir
Do trabalho ao esporte: a semana (bis)
A arte proclama
Um jeito de ser Brasil

De mãos dadas, cultura e raças
Se embalaram num mesmo querer
E do sonho se fez a cidade
Que hoje se orgulha de ser
"Osasco-Cidade Trabalho"
Bandeira de um povo em ação
Unido na fé e esperança (bis)
Brasão da vitória
Do "SIM" sobre o "NÃO"

Osasco
Osasco brilha
Na América do Sul
Foi em Osasco que o Homem
Sonhou e conquistou
O céu azul

Osasco
Osasco trilha
Os corações do porvir
Do trabalho ao esporte: a semana (bis)
A arte proclama
Um jeito de ser Brasil
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Trova de
SÍLVIA ALICE DE CARVALHO SOARES
Angra dos Reis/ RJ

No jogo do “perde e ganha”
Da guerra da Humanidade,
até sonho se barganha,
pois falta autenticidade!
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Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

Mudez

Sentado na calçada
do meu silêncio,
escuto vozes de parentes
que já se foram...
Não sei se irei revê-los
um dia,
em algum lugar, talvez, quem sabe...
e o silêncio, nada esclarece...
Apenas, como eu,
segue ao meu lado, sem dizer nada.
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Trova de
NEUSA APARECIDA MOREIRA MAIA
Angra dos Reis/ RJ

Coração apaixonado
não se cansa de esperar,
retorna sempre ao passado,
para o amor reencontrar.
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Poema de 
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/ Portugal

Impunidade

Das muralhas frontais da tua determinação
Pensamento vigilante nas ameias da coragem
Com o fogo do sangue correndo nas veias
Implodiste a vontade de respirar liberdade
Na noite longa clareaste a madrugada

Hoje as muralhas estão corroídas
erodidas por ventos agrestes de corrupção
As ameias enfraquecidas de valores
não conferem proteção ao amor pelo próximo
Corre pelas veias o sangue da indiferença
cobiça e inveja são armas dilacerantes
O dia cinzento ecoa em seu prolongado lamento.

Levantem-se as sentinelas da integridade
Sacuda-se das vestes o cheiro bafiento* a impunidade!
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* Bafiento = mofado
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Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP

Minha casa é pequenina, 
com janelas sem vidraça, 
mas tem a luz genuína 
que do céu me vem de graça.
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Aldravia de
LUIZ GONDIM
Rio de Janeiro/RJ

incorporo
emoções
onde
debruço
meus
cansaços
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Poema de
PEDRO MACHADO ABRUNHOSA
Porto/ Portugal

Viagens

Já vai alta a noite, vejo o negro do céu,
deitado na areia, o teu corpo e o meu.
Viajo com as mãos por entre as montanhas e os rios,
e sinto nos meus lábios os teus doces e frios.
E voas sobre o mar, com as asas que eu te dou,
e dizes-me a cantar: "É assim que eu sou".
Olhar para ti e ver o que eu vejo,
olhar-te nos olhos com olhares de desejo.
Olhar para ti e ver o que eu vejo,
olhar-te nos olhos com olhares de desejo.
Eu não tenho nada mais pra te dar,
esta vida são dois dias,
e um é para acordar,
das historias de encantar,
das historias de encantar.
Viagens que se perdem no tempo,
viagens sem princípio nem fim,
beijos entregues ao vento,
e amor em mares de cetim.
Gestos que riscam o ar,
e olhares que trazem solidão,
pedras e praias e o céu a bailar,
e os corpos que fogem do chão.
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Poema de
ALESSANDRA GUIMARÃES
Ubiratã/PR

Madrugada fria

Todos dormem,
num profundo sono.
Rua deserta e silenciosa,
pássaros quietos, se escondem.
Somente gotículas de orvalho,
caindo sobre a calçada,
na madrugada fria.

A lua se esconde,
atrás de uma nuvem que passa,
tornando a noite mais escura.
Nuvens formosas,
carregadas d’água,
se congelam,
na madrugada fria.

O brilho das estrelas,
no infinito desaparecem.
O riacho murmura, levemente,
o vento sopra calmamente,
o eco se cala lentamente,
somente o amor vibra,
na madrugada fria.
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Quadra Popular
AUTOR ANÔNIMO

Vai-te, carta venturosa,
vai ver a quem quero bem,
diz-lhe que eu fico chorando
por não poder ir também.
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Décimas de
UGOLINO DO SABUGI
(Ugolino Nunes da Costa)
Teixeira/PB, 1830 – 1893

As obras da natureza 

As obras da Natureza 
     São de tanta perfeição, 
     Que a nossa imaginação 
     Não pinta tanta grandeza! 
     Para imitar a beleza 
     Das nuvens com suas cores, 
     Se desmanchando em louvores 
     De um manto adamascado, 
     O artista, com cuidado, 
     Da arte, aplica os primores.

Brilham, nos prados, verdumes 
     De um tapete aveludado; 
     Brilha o rochedo escarlado*, 
     Das penhas seus altos cumes; 
     Os montes formam tais gumes, 
     Que a gente, os observando, 
     Vê como que se alongando, 
     Sumir-se na imensidade ... 
     Nossa visibilidade 
     os perde se está olhando.
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* Escarlado = Cor brilhante de carmesim vivo
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Triverso de
PAULO LEMINSKI
Curitiba/PR, 1944 – 1989

tudo dito,
nada feito,
fito e deito
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Soneto de
PEDRO MELLO
União da Vitória/PR

Pequeno tratado sobre a dor

A dor do infarto, dor que chama a morte,
a dor que ataca um mal cuidado dente,
a dor pós-cirurgia, a dor do corte,
a dor da cãibra, o músculo torcente...

o chute acidental... e um homem forte
da partida-batalha sai dormente...
a dor do câncer faz perder o norte,
a dor do parto abala quem a sente...

Mas entre dores tantas, afinal,
qual é a que faz alguém perder o sono
e despencar o pranto sem contê-lo?

...É a dor de todos, dor universal,
amargo resultado do abandono,
a dor pior... é a dor de cotovelo…
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Trova de
OLIVALDO JUNIOR
Mogi-Guaçu/SP

Entre velhos pergaminhos,
chilreando feito gralhas,
namorados são pombinhos
que dividem as migalhas.
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Spina de
ISABEL PERNAMBUCO
Maceió/AL

Jardim em flor...

Passeio num jardim
de flores perfumadas
regadas com carinho

Lindas borboletas celebram a vida,
atraídas pelas cores que cintilam!
Colibri em liberdade constrói ninho,
sugando suave néctar das amarílis!
Rosas, lírios, ipês, ornam caminho.
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Haicai de
GUILHERME DE ALMEIDA
Campinas/SP, 1890 – 1969, São Paulo/SP

Equinócio

No fim da alameda
há raios e papagaios
de papel de seda.
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Epigrama de
MILLÔR FERNANDES
Rio de Janeiro/RJ, 1923- 2012

Aqui jaz minha mulher
que partiu para o Além.
Agora descansa em paz
e eu também.
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Soneto de
IALMAR PIO SCHNEIDER
Porto Alegre/RS

O soneto

Para escrever quatorze linhas, tenho
que dedicar o tempo disponível,
e embora seja humilde meu engenho,
vale a pena, afinal, tornar possível

esta tarefa nobre de alto nível...
É preciso sonhar e ter empenho
de alimentar um grande amor incrível,
somente realizável por um gênio...

Sinto, no entanto, que não devo alçar
voo tão alto, e me penitenciar
de assim querer e então me comprometo

a desobedecer esta vontade;
e caindo, por fim, na realidade,
aqui me despedir... Eis o Soneto !…
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Limerique de 
TATIANA BELINKY
São Petersburgo/Rússia, 1919 – 2013, São Paulo/SP

Quem pensa que eu sou uma ogra
No seu pensamento malogra.
Língua bifurcada?
Só quando enfezada.
Porque eu sou mesmo é sogra.
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A. A. de Assis (Você tem um horológio?)


Aposto que tem, ou já teve, um ou mais. Ninguém vive hoje sem ele; aliás somos quase todos escravos dele. Mas vamos começar pelo começo.

A mitologia tem deuses para tudo. Para cuidar das coisas relacionadas com o tempo há pelo menos dois: Cronos e Hórus. Daí que o dedo deles aparece com frequência no vocabulário.

Da família de Cronos temos, por exemplo, “cronômetro” (aparelho utilizado para medir o tempo decorrido); “crônico” (que dura todo o tempo); “cronologia” (estudo dos eventos na ordem do tempo, ou seja, em ordem cronológica).

Da família de Hórus, temos “hora” (tempo equivalente a 60 minutos), bem como “horário”, além do primo “horóscopo”, que entra aí por ter a ver com os astros, e a medição do tempo é baseada no movimento dos astros.

Mas a  história do “horológio” é muito antiga – vem desde aquele engenhozinho conhecido como ampulheta. Porém, segundo os alfarrábios, o horológio só começou a pegar mesmo o jeito de horológio a partir do século 725 dC. Um monge budista chinês chamado Yi Ching teria sido o fabricante do primeiro horológio mecânico de que se tem notícia. Funcionava com um conjunto de engrenagens e 60 baldes de água, que correspondiam a 60 segundos.

Mas tudo o que existe precisa ter um nome. Não sei como era em chinês. No mundo ocidental os romanos deram à preciosa ferramenta um epíteto adequado: “horologium” (marcador das horas).

Só que na passagem do latim para o português o povão não entendeu bem a palavra, e ao reproduzi-la por escrito grafava “o relógio”. Em espanhol aconteceu algo parecido (“reloj”), mas no francês continuou “horloge” e no italiano só perdeu o “h” (orologio).

Com o rolar dos séculos as coisas vão se modificando, algumas para pior, porém a maioria para melhor. O  relógio, por exemplo, se aperfeiçoou tanto que hoje alguns deles são classificados como joias.

Uma história bonita e longa. Até o nosso Santos Dumont aparece no enredo, visto que a ele tem sido atribuída a invenção do reloginho de pulso. Na verdade, todavia, não teria sido realmente ele o inventor, mas foi ele quem popularizou o aparelhinho, que costumava usar enquanto pilotava o 14-Bis.

Todo mundo continua tendo um horológio. A diferença é que agora o nome é “celular.

(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 24.4.2025)
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A. A. DE ASSIS (Antonio Augusto de Assis), poeta, trovador, haicaísta, cronista, premiadíssimo em centenas de concursos nasceu em São Fidélis/RJ, em 1933. Radicou-se em Maringá/PR desde 1955. Lecionou no Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá, aposentado. Foi jornalista, diretor dos jornais Tribuna de Maringá, Folha do Norte do Paraná e das revistas Novo Paraná (NP) e Aqui. Algumas publicações: Robson (poemas); Itinerário (poemas); Coleção Cadernos de A. A. de Assis - 10 vol. (crônicas, ensaios e poemas); Poêmica (poemas); Caderno de trovas; Tábua de trovas; A. A. de Assis - vida, verso e prosa (autobiografia e textos diversos). Em e-books: Triversos travessos (poesia); Novos triversos (poesia); Microcrônicas (textos curtos); A província do Guaíra (história), etc.

Fontes:
Texto enviado pelo autor.
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Carol Canabarro (Dicas de escrita) Por que definir o público-alvo dos seus textos?


A primeira vez que ouvi do Prof. Marcelo Spalding que para um texto ser considerado bom, dentre outras coisas, o autor precisa conhecer seu público, os pelos da minha sobrancelha se arrepiaram. Como escrever com tantas pessoas sussurrando em meus ouvidos?

Produzi meus textos sem levar em conta a orientação e, só quando fui publicar meu primeiro texto, compreendi que a importância de definir o público-alvo está em:

1. Limitar para expandir

Estabelecer o público-alvo, por mais paradoxal que pareça, não é restringir o alcance da sua obra, mas reconhecer suas fronteiras para, em alguns casos, extrapolá-las. Se você vende sapatos, uma padaria não é o melhor lugar para ofertá-los, assim como livros de ficção científica podem não ter grande saída entre religiosos.

Ressalva: Uma vez que sua obra está no mundo, nada impede que pessoas de fora do seu público originário as leiam.

2. Você é responsável pelo que cativa

Literatura é arte que escorre da ponta dos dedos de escritores para a retina dos leitores. Nesse sentido, definir o público-alvo é essencial para que o diálogo autor-leitor se torne assertivo e envolvente. Além do mais, como artistas que são, os escritores devem escrever com responsabilidade. Sua visão de mundo seguirá nas páginas muito tempo depois dele mesmo.

3. A linguagem é como uma pele

Toda temática é passível de virar literatura, mas como será entregue difere para cada público. Por exemplo, o luto foi abordado de uma maneira suave e didática em "Menina Nina", de Ziraldo, e profunda e reflexiva por Aline Bei em "O peso do pássaro morto". Mesmo tema, duas possibilidades de abordá-lo, duas obras necessárias.

4. Não se perca no País das Maravilhas

Plagiando Lewis Carroll: "Para quem não sabe com quem fala, toda ou nenhuma orelha serve". Sua obra é como uma carta a ser entregue, sem destinatário ela permanecerá lacrada. Conheça onde moram, como vivem e o que pensam as pessoas que têm maior similaridade com seu trabalho. Um livro onde a personagem principal faz refeições magníficas talvez não seja indicado para pessoas enfrentando distúrbios alimentares. Além de responsável, o escritor deve ser empático.

5. Escritor também paga boleto

Vivemos (até o momento) em um mundo capitalista. Como artista, o escritor jamais deve se vender, mas sua obra pode ser fonte de sustento. Saber para quem, quando e como ofertar seu produto é tão crucial para o engorde da sua conta bancária quanto o livro em si. Definir o público-alvo é o primeiro passo para estabelecer estratégias de marketing.

6. Não se corrompa pela vaia ou pelo aplauso

Escrever para agradar o outro é colocar mil mãos por cima da sua. Deixe as expectativas externas do lado de fora (sic) e lide apenas consigo. Você terá batalhas mais do que suficientes para vencer diante do espelho.

Como diz o professor Assis Brasil: "Seu compromisso, perene, reconhecido e inalienável, é consigo mesmo e com a arte que escreve." Porque, ouso complementar, antes de existir o leitor é preciso que exista o autor.
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Carol Canabarro, é de Porto Alegre/RS, apaixonada por literatura e animais. Foi atleta, garçonete, especuladora financeira e professora. pós-graduanda em Literatura, Arte e Filosofia da PUC-RS. Escritora, formada no curso de Escrita Criativa da Metamorfose, autora de "Mirando o gol, acertando as estrelas".

Fontes:
Escrita Criativa. Metamorfose.
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José Feldman (Biblioteca além da imaginação)


Era uma noite fria e nebulosa quando três personagens ilustres se encontraram em uma biblioteca esquecida pelo tempo. O aroma de livros antigos pairava no ar, e as prateleiras, repletas de volumes empoeirados e teias de aranha, pareciam sussurrar segredos de eras passadas. No centro da sala, uma mesa de madeira marrom escura possuía um candeeiro com uma luz suave, iluminando os rostos de H. P. Lovecraft, Arthur Conan Doyle e H. G. Wells.

Lovecraft: (encarando uma edição de “O Chamado de Cthulhu”) “É fascinante como o desconhecido pode instigar o medo nas profundezas da mente humana. Meus leitores, ao se depararem com o que não compreendem, são confrontados com suas próprias limitações.”

Doyle: (sorrindo levemente) “Ah, mas o que é o medo senão um reflexo do que não conseguimos explicar? Em meus contos, como em ‘O Cão dos Baskerville’, busco uma explicação lógica para o sobrenatural. O verdadeiro terror reside na razão que falha.”

Wells: (ajustando os óculos) “Ambos tocam em aspectos fundamentais da condição humana, mas os meus escritos, como ‘A Máquina do Tempo’, exploram o potencial da ciência e suas consequências. O futuro é tão aterrador quanto o desconhecido, mas também repleto de possibilidades. Não é só sobre o que tememos, mas sobre o que podemos alcançar.”

Lovecraft: “Mas, H. G., e quando essas possibilidades se tornam uma arma de destruição? A ciência pode revelar verdades que o homem não está preparado para enfrentar. O que acontece quando a curiosidade ultrapassa os limites da moralidade?”

Doyle: “Certa vez, um amigo meu, um detetive, disse que a verdade é muitas vezes mais estranha do que a ficção. E o que dizer das verdades ocultas que você apresenta, Lovecraft? O que o homem deve fazer quando confrontado com o abismo que você tão eloquentemente descreve?”

Wells: (pensativo) “E se o abismo for apenas uma porta para novas realidades? A ficção científica não é apenas um aviso, mas um convite. O que você teme pode ser a chave para um novo entendimento.”

Lovecraft: “Certa vez, escrevi que o medo do desconhecido é uma das emoções mais primitivas do ser humano. O que proponho é que, ao explorar o desconhecido, devemos ter cautela. A curiosidade pode ser uma bênção ou uma maldição.”

Doyle: “Mas sem a curiosidade, nunca teríamos feito as descobertas que moldaram nosso mundo. Sou grato por Sherlock Holmes ter me ensinado que, mesmo no caos, há ordem a ser encontrada. E mesmo a escuridão pode ser iluminada pela razão.”

Wells: “Sim, mas também devemos considerar o papel da imaginação. Quando escrevi sobre a guerra dos mundos, queria alertar sobre as consequências do imperialismo. A imaginação nos permite ver o que poderia ser, não apenas o que é. O que você, Lovecraft, acha que representa a sua obra para o leitor?”

Lovecraft: “Para mim, é uma reflexão sobre a insignificância do ser humano no vasto cosmos. O leitor deve sentir a fragilidade de sua própria existência. É um lembrete de que não estamos sozinhos, e que há forças além da nossa compreensão que podem nos consumir.”

Doyle: “E, no entanto, há sempre esperança. Mesmo em suas histórias mais sombrias, há um fio de resistência. O homem busca compreender e sobreviver, mesmo quando confrontado com o horror.”

Wells: “Talvez isso seja o que nos une a todos. Se a ciência e a imaginação podem coexistir, então nossas histórias também podem. O leitor deve sair não apenas aterrorizado, mas movido a agir, a entender, a transformar.”

A conversa prosseguiu, enquanto as horas se arrastavam. Ideias se entrelaçavam, e o som das vozes ecoava por toda biblioteca, ressoando nas sombras. Cada autor trouxe à tona suas visões únicas, e a noite se tornou um diálogo atemporal sobre a natureza da literatura e o papel do homem diante do desconhecido.

Quando a primeira luz do amanhecer começou a surgir, os três escritores perceberam que, embora seus estilos fossem diferentes, todos partilhavam a mesma paixão: a busca pela verdade, seja ela aterradora ou sublime. E assim, com um aceno de cabeça e um brilho nos olhos, eles se despediram, cada um retornando ao seu próprio tempo, mas com a certeza de que suas palavras ecoariam em gerações futuras.
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H. P. Lovecraft (1890–1937)
Howard Phillips Lovecraft nasceu em Providence, Rhode Island, em 20 de agosto de 1890, morreu em 15 de março de 1937. Ele teve uma infância marcada por dificuldades familiares e problemas de saúde. Lovecraft passou a maior parte de sua vida em Providence, onde desenvolveu suas habilidades de escrita. É conhecido por seu estilo de horror cósmico, que explora temas de insignificância humana diante de forças cósmicas desconhecidas. Seus contos, como “O Chamado de Cthulhu” e “Nas Montanhas da Loucura”, introduzem criaturas e mitologias que influenciaram o gênero de terror.
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Arthur Conan Doyle (1859–1930)
Sir Arthur Conan Doyle nasceu em Edimburgo, Escócia, em 22 de maio de 1859, faleceu em 7 de julho de 1930. Formou-se em medicina e trabalhou como médico, mas sua verdadeira paixão sempre foi a escrita. É mais conhecido por criar o icônico detetive Sherlock Holmes, cujas histórias, como “Um Estudo em Vermelho” e “O Cão dos Baskerville”, revolucionaram o gênero de mistério. Ele também escreveu ficção científica, romances históricos e obras sobre espiritualismo.
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H. G. Wells (1866–1946)
Herbert George Wells nasceu em Bromley, Inglaterra, em 21 de setembro de 1866 e morreu em 13 de agosto de 1946.. Ele teve uma educação modesta e trabalhou como professor e jornalista antes de se dedicar à escrita. Wells é considerado um dos pais da ficção científica moderna, com obras como “A Máquina do Tempo”, “A Guerra dos Mundos” e “A Ilha do Dr. Moreau”. Seus escritos frequentemente abordam questões sociais e científicas, refletindo suas preocupações sobre o futuro da humanidade.

Fontes:
José Feldman. Gangorra do tempo. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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