domingo, 11 de maio de 2025

Mensagem na Garrafa = 141 = O que é ser mãe…


JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR

O que é Ser Mãe…

Quando a dor se aproxima, ela é a luz,
com um beijo e um abraço, tudo se acalma.
Mãe, teu amor é o que sempre traduz
na tempestade da vida, és nossa alma.

O sol desponta no horizonte, e o dia começa com um cheiro doce de café fresco e o som suave de risadas infantis. É o Dia das Mães, uma data que, embora comemorativa, sempre parece ser um lembrete do que significa ser mãe. Para muitas, ser mãe é um chamado, uma jornada que começa muito antes do primeiro choro do bebê e se estende por toda a vida.

Desde o momento em que a gravidez é anunciada, um turbilhão de emoções toma conta. A alegria e a ansiedade se misturam, enquanto o corpo passa por transformações. As noites em claro começam antes mesmo do bebê nascer, com as preocupações sobre o que está por vir. São os medos que dançam na mente: "E se não for capaz? E se algo der errado?" Cada movimento do pequeno ser dentro de si é um lembrete do milagre da vida e da responsabilidade que está por vir.

Quando finalmente o bebê chega, a realidade se instala. As primeiras semanas são um oceano de noites em claro, com choros e fraldas trocadas em meio a olheiras profundas. Mas cada sorriso que surge, cada pequeno gesto de carinho, faz todo o cansaço valer a pena. 

Ah, como é doce ver o primeiro sorriso, o primeiro balbuciar de palavras que ecoam como música no coração. "Mãe" se torna a palavra mais bela que alguém pode ouvir.

A jornada de ser mãe é, no entanto, um caminho repleto de desafios. A educação e a criação dos filhos são tarefas que exigem paciência, dedicação e, acima de tudo, amor. Cada ensinamento é uma semente plantada, e as mães se tornam jardineiras da vida, cuidando para que essas sementes cresçam saudáveis e fortes. Elas se preocupam com a alimentação, a educação, as amizades… Tudo isso enquanto tentam equilibrar o trabalho e as demandas do lar.

Quando os filhos ficam doentes, o coração da mãe se parte em mil pedaços. As noites em claro se tornam ainda mais dolorosas, com a angústia de ver a criança sofrendo. É uma batalha diária, de cuidar, de confortar, de estar presente. E mesmo quando os filhos crescem e começam a explorar o mundo, as preocupações não diminuem. Cada machucado, cada queda é um novo motivo de apreensão. A mãe se vê sempre pronta para oferecer um abraço, um beijo, um remédio e, principalmente, um amor que cura.

E quando a adolescência chega, o desafio se intensifica. Os filhos começam a buscar sua identidade, e muitas vezes, isso significa desviar-se do caminho que as mães imaginavam. As brigas e desentendimentos são inevitáveis, e o coração materno sente cada uma das feridas. Mas, em meio a toda a dor, existe algo mais forte: o perdão. Porque ser mãe é também saber compreender, é aceitar que os filhos são seres humanos que erram e aprendem. E, assim, mesmo quando fazem escolhas que as magoam, as mães sempre encontram forças para abraçá-los novamente, com amor incondicional.

Ser mãe é uma batalha diária, onde o amor e o sacrifício se entrelaçam em um fio invisível que une gerações. É trabalhar fora e, ao chegar em casa, ainda ter disposição para brincar, ouvir, entender e apoiar. 

É viver em um constante estado de alerta, sempre atenta às necessidades dos filhos, mesmo quando isso significa esquecer-se de si mesma.

No final do dia, quando os filhos dormem tranquilamente, a mãe olha para eles e sente que, apesar de todas as dificuldades, cada lágrima, cada sorriso, cada desafio valeu a pena. E, mesmo com o coração cansado, ela se sente rica, porque sabe que o amor que dá é o mesmo amor que receberá de volta, em forma de abraços e sorrisos que iluminam até os dias mais sombrios.

Neste Dia das Mães, celebramos não apenas a figura materna, mas toda a complexidade e beleza de ser mãe: a força que vem da vulnerabilidade, a coragem que nasce do amor e a capacidade de perdoar e recomeçar. 

Que cada mãe se sinta abraçada, valorizada e reconhecida, pois o que fazem vai além do dia a dia; elas moldam o futuro com seu amor incondicional.

Fontes:
José Feldman. Gangorra do tempo. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

Asas da Poesia * 20 *


Poema de 
ATÍLIO ANDRADE
Curitiba/PR

A todas as mulheres

O dia amanheceu, iluminado.
Mesmo com um… céu carrancudo
até o sol está, ainda distante
mas, a alegria está no mundo
brilhando como diamante.
Você!!! Sim, você!
Você que é mãe, menina, mulher
linda como sempre, do teu jeito,
sempre buscando a paz
em dias tão violentos…
Você Mulher, ilumina com raios
de alegria, os dias que seguem
mostrando sempre os caracóis
a desenrolar nesta teia chamada vida
e sem você tudo para… (acredite)
Você é luz, brilho, sabedoria…
É Mulher… e hoje é seu dia.
Parabéns… Parabéns 
= = = = = = = = =  

Trova de
PAULO ROBERTO OLIVEIRA CARUSO
Niterói/RJ

Deus criou o mundo inteiro
em seis dias de trabalho;
do Seu suor derradeiro
foi que nos surgiu o orvalho.
= = = = = =

Poema e Trova do Folclore Africano de
MARLY RONDAN
São Paulo/ SP

Ossanha

Ossanha. Orixá das Ervas…
Guarda as folhas na cabaça.
Muitos segredos preservas.
Pões sucos na minha taça…

Orixá das folhas, ervas:
Alecrim, Boldo e Cidrão.
Proteje nossas reservas.
Livra a Terra da agressão.

É o Orixá da cor verde.
Ossanha habita a floresta.
Quem não a conhece perde…
Da Natureza essa Festa!

Senhor - Senhora das folhas,
Comanda as ervas sagradas.
Tira com elixir as falhas…

Elixir que dá vigor.
Protege nossa saúde.
Ossanha cura esta dor!
= = = = = = = = =  

Poema de
SALOMÓN DE LA SELVA
Nicarágua (1893 – 1958)

A bala

A bala que me fira
será bala com alma.
A alma dessa bala
será como seria
a canção de uma rosa
se cantassem as flores
ou o olor de um topázio
se cheirassem as pedras
ou a pele de uma música
se nos fosse possível
as cantigas tocar
desnudas com as mãos.
Se o cérebro me fere
me dirá: Eu buscava
sondar teu pensamento.
E se me fere o peito
me dirá: Eu queria
dizer-te que te quer
= = = = = = 

Soneto de
LUIS VAZ DE CAMÕES
Coimbra/Portugal (1524/25 – 1580)

Soneto 5

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
= = = = = = = = = 

Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

Esta distância tão triste,
entre nós dois, na verdade,
mede a distância que existe
entre o amor e a saudade!
= = = = = = 

Poema de
AFONSO SCHMIDT
Cubatão/SP (1860 – 1964) São Paulo/SP

O Poema da Casa Que Não Existe

Onde a cidade acaba em chácaras quietas
e a campina se alarga em sulcados caminhos
achei a solidão amiga dos poetas
numa casa que é ninho, entre todos os ninhos.

Térrea, branquinha, com portadas muito largas,
desse azul português das antiquadas vilas
e uma decoração de laranjas amargas
que perfumam da tarde as aragens tranquilas.

Ergue-se no pendor suave da colina,
escondida por trás dos eucaliptos calmos;
tem jardim, tem pomar, tem horta pequenina,
solar de Liliput que a gente mede aos palmos ...

Neste ponto, a ilusão, a miragem, se some;
olho para você, eu triste, você triste.
Enganei uma boba! O bairro não tem nome,
a estrada não tem sombra, a casa não existe!
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Com certa preponderância 
eu impus esta verdade:
Quem inventou a distância 
não conhecia a saudade!...
= = = = = = 

Poema de 
AMAURY NICOLINI
Rio de Janeiro/RJ

Onde Estava Você?

Onde estava você quando eu andava
sem um norte pra guiar os meus caminhos
que acabaram em lugar nenhum?
Não tive com quem dividir o meu carinho,
que nas curvas da estrada ao chão deixava
como de traste inútil apenas um.
Onde estava você, que surge agora
com a luz e o esplendor de uma aurora
que promete vida, amor, bonança e sorte?
Você chegou quando eu estou indo embora,
e eu, que tanto esperei por essa hora,
sinto que junto também me chegue a morte.
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/ RS, 1932 – 2013, São Paulo/ SP

Com seu valor aumentado, 
saudade é a restituição 
do que já nos foi cobrado 
pelos sonhos e a ilusão...
= = = = = = 

Hino de
AFOGADOS DE INGAZEIRA/ PE

Terra de sol de encantos mil
Do Pajeú a nobre princesa
De Pernambuco e do Brasil
És do progresso a chama acesa.

O teu nome da lenda surgiu
De um casal que no rio sumiu
Hoje és tu, Afogados da Ingazeira
No Sertão o estandarte de glória
Os teus filhos fizeram história
Que enobrece a nação brasileira.

Brava terra de amor e de luz
Que nasceu sob a sombra da cruz
Grandioso será teu porvir
E abraçado ao símbolo da fé
A lutar sempre firme de pé
O progresso e a riqueza hão de vir.

Na esperança de um mundo melhor
Construindo uma pátria maior
Um teu filho não foge ao dever
Dedicado ao estudo e ao trabalho
Com o livro, o arado ou o malho
A certeza terá de vencer.
= = = = = = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/ SP

Escrevo, mas sou discreta, 
me anulo, libero a mente 
e deixo solto o poeta 
que só fala o que ele sente.
= = = = = = 

Poema de 
SYLVIA PLATH
Boston/ EUA (1932 – 1963) Londres/ Inglaterra

Palavras

Golpes
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.

A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha

Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro

Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.
= = = = = = = = =  

Trova de
GERALDO PIMENTA DE MORAES
São Sebastião do Paraíso/MG (1913 – 1997) Passos/MG

Saudade é livro à distância,
que o tempo vive escrevendo,
enquanto a gente, com ânsia,
de olhos fechados, vai lendo…
= = = = = = = = =

Quadra Popular

Não penses que pela ausência
eu de ti me hei de esquecer;
quanto mais longe estiver,
mais firme te hei de ser.
= = = = = = = = =  

Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Só se chora por quem parte
 
Choremos por quem parte sem voltar
A ser presença viva à nossa mesa
E desse imenso reino da tristeza
Desça à terra num raio de luar.

Ausente, para sempre, em nosso olhar
Terá em nosso peito a fortaleza
Que guarda a delicada vela acesa
Da memória que brilha em seu altar.

De saudade será a sua imagem
Que se esvai como um barco na viagem
No denso nevoeiro, rumo ao norte.

Só quando a sua face tão inteira
Não nos assomar, sem que a gente queira
Só então foi levada pela morte.
= = = = = = = = =  

Glosa de
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Nossa guerra de amor...

MOTE:
Ah, o amor...O amor fascina,
quando na cama o combate
triunfalmente termina
num belo e gostoso empate!
A. A. de Assis
(Maringá/PR)

GLOSA:
Ah, o amor...O amor fascina!
Sempre tontos de emoção,
estouram, a adrenalina,
nossos beijos de paixão!

É quase uma guerra fria,
quando na cama o combate
usa as armas da euforia
e com elas se debate!

Com gemidos em surdina
a guerra do amor se faz...
Triunfalmente termina
na calmaria da paz!

Nessa luta incontrolada,
ninguém exige resgate,
e ela é sempre terminada,
num belo e gostoso empate!
= = = = = = = = =  

Haicai de
WAGNER MARQUES LOPES
Pedro Leopoldo/MG

Passa o tempo frio.
É pé... Mais pé de aguapé
que acoberta o rio.
= = = = = = = = =  

Soneto de
RAIMUNDO CORREIA
Cururupu/MA, 1860 – 1911, Paris/França

Fim de comédia

O pano sobe, e o povo, satisfeito,
Aplaude a farsa, e ao riso não resiste;
“Gosta um moço da filha de um sujeito,
E este não quer que a filha case; ao triste

No fundo do jardim promete a amante
Um rendez-vous, longe do pai tirano;
Mas pilha o velho o escândalo flagrante,
E ambos vão casar-se… e cai o pano.”

Dizem os velhos que o teatro ensina.
Então tu podes sem pesar, menina,
Seguir este conselho: solta a rédea

Deste amor, que é o meu e o teu tormento,
Que há de a nossa comédia em casamento
Findar, como findou a tal comédia.
= = = = = = = = =  

Aldravia de
AMÉLIA LUZ
Pirapetinga/MG

Fui
linha
e
ponto
tecendo
remendo
= = = = = = = = =  

Martelo Agalopado, de
MARCO HAURÉLIO 
Riacho de Santana/BA

Galopando o cavalo pensamento 
(duas estrofes de cordel)

A Senhora dos Túmulos observa 
O vaivém da tacanha mocidade,
Que despreza a virtude e a verdade
E dos vícios se mostra fiel serva,
Porém nada no mundo se conserva:
Sendo a vida infindo movimento,
É a Morte um novo nascimento
A inveja é o túmulo dos vivos —
O herói repudia esses cativos,
Galopando o Cavalo Pensamento.

Das trombetas ecoam novo som,
O tinido das armas me atordoam,
O rufar de tambores longe soam,
Destruindo o último Panteon
Será esse sinal o Armagedon?
Ou apenas mais um renascimento
De um ciclo que traz o advento
Duma aurora de brilho sem igual,
Sem início, sem meio e sem final,
Galopando o cavalo pensamento.
= = = = = = = = =  

Epigrama de
ROBERTO CORREIA
Salvador/BA, 1876 – 1937

Burro, a cegueira da sorte
Elevou-te e, ao sol, espelhas
Mas guardas o mesmo porte
E as mesmíssimas orelhas.
= = = = = = = = =  

Soneto de
ARTUR DE AZEVEDO
São Luis/MA, 1855 – 1908, Rio de Janeiro/RJ

Tertuliano, o paspalhão

Tertuliano, frívolo peralta,
Que foi um paspalhão desde fedelho,
Tipo incapaz de ouvir um bom conselho,
Tipo que, morto, não faria falta;

Lá um dia deixou de andar à malta
E, indo à casa do pai, honrado velho,
A sós na sala, diante de um espelho,
À própria imagem disse em voz bem alta:

— Tertuliano, és um rapaz formoso!
És simpático, és rico, és talentoso!
Que mais no mundo se te faz preciso?

Penetrando na sala, o pai sisudo,
Que por trás da cortina ouvira tudo,
Severamente respondeu: — Juízo!
= = = = = = = = =  

Poema de
ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE
São Francisco de Itabapoana/RJ

Quem sou eu

Eu sou um caso,
um ocaso!
Eu sou um ser,
sem saber quem ser!
Eu sou uma esperança,
sem forças!
Eu sou energia,
ora cansada!
Eu sou um velho,
ora criança!
Eu sou um moço,
ora velho!
Eu sou uma luz,
ora apagada!
Eu sou tudo,
não sou nada!
= = = = = = = = =  

Soneto de
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Miguel Couto/RJ

A missa do compadre 

Ia vivendo meio aposentado, 
celibatário que era por vontade, 
por ter sofrido, em plena mocidade, 
uma desilusão de amor frustrado… 

Porém, um dia, foi comunicado 
da morte do compadre na cidade, 
e este fato lhe trouxe, na verdade, 
a esperança deixada no passado… 

O infausto passamento deu-lhe o ensejo 
de sentir despertado um só desejo, 
que trazia no peito adormecido… 

E foi durante a missa do compadre, 
que, amparando em seus braços a comadre, 
baixinho, agradeceu ao falecido!
= = = = = = = = =  

Trova de
ALEXANDRE RODRIGUES FERNANDES
Vila Nova de Gaia/Portugal

Quem me dera ser quem era,
em vez daquilo que sou...
Voltas sempre, primavera.
Minha infância... não voltou!
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Poema de
VITÓRIO NEMÉSIO
Ilha Terceira/Açores, 1901 – 1978, Lisboa/Portugal

A concha

A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.
A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.
= = = = = = = = =  

Quadra Popular

Hoje não venhas tarde
Dizes-me tu com carinho
Ou compras um relógio novo
Ou amanhã vai de carrinho.
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Décima de
JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Até parecem mentira
Certas coisas deste mundo:
Numa fração de segundo
A roda do tempo gira;
Um instante se retira,
Outro pula no tablado;
O tempo é tão apressado
Que passa pisando a gente…
Futuro é quase presente,
Presente é quase passado.
= = = = = = = = = 

Poema de
WASHINGTON DANIEL GOROSITO PÉREZ
Irapuato/ Guanajuato/ México

O alquimista
 
O homem se vê fragmentado, mutilado 
é um ser esmagado pelas circunstâncias
dias de incertezas constantes,
de quebra-cabeças, sem cabeças,
onde faltam peças.
 
O silêncio quebrado por vozes lamentosas,
rodeia tudo,
alvoroço da extinção no tempo.
 
O homem está suspenso,
a escuridão irremediável o habita.

Numa fenda de impotência,
o alquimista sonha...
 
A tristeza está presente,
em seus profundos olhos cinzentos,
nos sulcos de sua testa.

É marcado por uma fenda de impotência
que cheira a sono eterno.
 
Ideologias adormecidas,
no espaço e tempo existenciais.
 
Ele fica atordoado com a imagem
que simboliza a oclusão do pensamento.
(tradução do espanhol: José Feldman)
= = = = = = = = =  
 
Trova de
LUCILIA A.T. DECARLI
Bandeirantes/PR

Com saudade, nunca esqueço 
da atenção que ela nos dava…
Tinha valor, mas não preço,
o amor de mãe que ofertava.
= = = = = = = = =  

Poema de
CÉLIA EVARISTO
Lisboa/ Portugal

Sou feita de amor

Sou feita de esperança,
do pó do caminho.
Sou o olhar de uma criança
que habita cada ninho.

Sou mar, 
doce maresia, 
onda em que navega
um barco com mestria.

Sou feita de sonhos,
de abraços,
de emoção,
de sorrisos,
de beijos,
de inspiração.

Sou feita de amor.
Um amor puro e sincero,
fugaz e eterno.
Uma flor
que desabrocha destemida,
sem receio de florir.

Sou feita de lágrimas
que penetram a terra
e regam o jardim.

Sou feita de amor,
Sou feita de mim.
= = = = = = = = =  

Hans Christian Andersen (Mãe)


Sentada ao pé do leito do filhinho, a mãe angustiada receia que ele morra. O rosto da criança empalideceu, e ele fechou os olhinhos. Respirava com dificuldade, e de vez em quando parecia suspirar. E nesses momentos o olhar da mãe era ainda mais cheio de ternura.

Batem à porta. Entra uma velha pobre, envolta em um velho manto: bem precisava ela de alguma roupa quente, na verdade, pois esta história se passou em pleno inverno. Lá fora tudo estava coberto de gelo e de neve, e soprava um vento tão cortante, que gretava o rosto.

A velha tiritava, e  como a criancinha adormecera por um instante, a mãe foi por na lareira uma caneca de cerveja, para que a velha a bebesse quentinha. A visitante sentou-se na cadeira, e ficou acalentando a criança, enquanto a mãe se acomodou em uma cadeira velha, ao seu lado; tinha os olhos fixos no filhinho doente, que respirava com dificuldade, e segurava-lhe a mãozinha.

- Não te parece que não vou perdê-lo? Deus Nosso Senhor não me tirará, não é?

A velha - que era a Morte - sacudiu a cabeça de uma maneira estranha, que tanto podia significar sim, como não. A mãe baixou os olhos, derramando lágrimas. Pesava-lhe a cabeça; havia três dias e três noites que não pregava olho. E adormeceu, por um único minuto. Despertou sobressaltada, transida de frio; olhou em volta, aflita. Sumira-se a velha, sumira-se a criança. No seu canto, o velho relógio sussurrava e rangia. O forte peso de chumbo ia até o chão. E de repente...Pum! ...O relógio parou .

Saiu a pobre mãe correndo, e gritando pelo filhinho.

Lá fora, no meio da neve, estava sentada outra mulher, com um vestido preto muito comprido, que lhe disse:

- Quem esteve no teu quarto foi a morte. Vi quando ela fugiu, levando teu filhinho. Anda mais veloz que o vento, e nunca devolve o que tirou.

-Dize-me que caminho ela tomou - é só o que te peço! Dize-me por onde ela foi, hei de encontrá-la!

- Eu sei o caminho - disse a mulher de preto - Mas antes que o mostre, canta-me todas as canções que cantaste para o teu filhinho. Gosto delas: ouvi-as, em tempos passados. Sou a noite, e vi tuas lágrima, quando as cantava.

- Cantá-las-ei para ti - todas, todas! Mas tem piedade! Não faças perder tempo: preciso alcançá-la, preciso recuperar o meu filhinho.!

Mas a noite ali ficou, muda e imóvel. Então a mãe, torcendo as mãos, cantou: cantava, chorando. Foram muitas as canções, mas ainda as lágrimas. E a Noite disse então:

- Entra à direita daquele pinheiral tenebroso. Vi a Morte tomar esse  rumo, levando o teu filhinho.

Dentro da floresta cerrada o caminho bifurcava-se e ela ficou sem saber que lado tomar. Mas viu um espinheiro, despido de flores ou folhas, porque era inverno rigoroso; os galhos estavam cheios de flocos de gelo.

- Não viste passar a Morte com o  meu filhinho?

- Vi, sim. Mas só te direi que caminho tomou, se me aqueceres no teu peito. Estou morrendo de frio! Já estou gelado!

E ela apertou o espinheiro firmemente ao peito para que ele degelasse. Os espinhos se lhe cravavam na carne, o sangue escorria em grandes gotas. Mas o espinheiro brotou: na noite glacial, rebentou em folhas e flores - tão grande é o calor , junto ao coração dolorido de uma mãe. Então lhe mostrou o caminho.

E a mãe chegou a um grande lago, sem barco nem balsa. Não estava tão gelado que pudesse suportar o seu peso; nem tão livre e raso, que desse passagem à vau. Todavia ela precisava atravessá-lo, para encontrar o filho. Então a mãe se deitou, para beber o lago e assim esgotá-lo. Nenhum ser humano pode conseguir semelhante coisa. Mas a mãe, no meio da sua imensa dor, esperava que se produzisse um milagre.

- Não, nunca o conseguirás! - disse o lago. - Vamos ver se podemos chegar a um acordo. Eu gosto de colecionar pérolas, e teus olhos são duas das mais fascinantes que já vi. Se quiseres deixá-los cair em mim, juntamente com as tuas lágrima, levar-te-ei para a grande estufa onde mora a Morte, cultivando flores e árvores. Cada planta ali é uma vida humana.

- Que não daria eu para chegar até onde está meu filhinho! - disse a mãe.

E ela chorou e chorou, e seus olhos caíram no fundo do lago, e lá viraram em duas pérolas preciosas. Mas o lago, como se fosse um balanço, ergueu-a e, num tirão só, levou-a até a outra margem. havia lá uma casa, maravilhosa, de uma légua de comprimento; nem se sabia bem se aquilo era um cerro, cheio de bosques e cavernas, ou uma obra de carpintaria. A pobre mãe, contudo, não a podia ver, porque chorara os olhos, juntamente com as lágrimas.

- Onde poderei encontrar a Morte, que carregou meu filhinho?

- Ela ainda não chegou - disse uma velha de cor embaciada, que andava por ali vigiando a estufa da Morte. - Mas como encontraste o caminho? Quem  te auxiliou?

- O Senhor Deus me ajudou. Ele é misericordioso e tu também o serás agora. Onde poderei encontrar meu filhinho?

- Não o conheço. E tu não enxergas. Esta noite murcharam muitas flores e muitas árvores. A Morte não tardará a chegar, para as transplantar. Sabe bem que cada criatura humana tem uma árvore ou uma flor da vida, conforme a sua índole. Tem a aparência de plantas comuns, mas possuem coração, que bate. O coração das crianças também pode pulsar. Guia-se pelas pulsações: talvez  reconheças a do teu menino. Mas que me darás tu para que te diga o que ainda será preciso fazeres?

- Nada tenho para dar - respondeu a mãe, angustiada. - Mas irei para ti até o fim do mundo, se quiseres.

- Não tenho negócios por lá - disse a velha. - Mas podes dar-me teu lindo cabelo preto. Sabes, certamente, que é lindo, não é? Pois gosto muito deles! Em troca, podes levar o meu, todo branco. sempre é alguma coisa...

- Se é o que desejas - exclamou a mãe - dou-te meu cabelo com muita alegria.

E deu-lhe os lindos cabelos, recebendo em troca a cabeleira branca da velha.

Entraram então na grande estufa da Morte, onde cresciam em maravilhosa convivência, árvores e flores. Havia ali belos jacintos, abrigados em redomas, e grandes peônias, vigorosas como árvores. e plantas aquáticas, umas bem frescas e viçosas, outras meio doentes, que tinham cobras d'água na corola, e caranguejos pretos seguros à haste. Viam-se também palmeiras esplêndidas, carvalhos e plátanos; salsa e tomilho em flor. Todas as árvores e flores tinham nome, e cada uma representava uma vida humana. E esse seres humanos estavam ainda vivos, um na China, outro na Groenlândia – por todas as partes do mundo. Haviam árvores grandes em vasos pequenos, de modo que as raízes ficavam apertadas, e vasos estavam a ponto de estourar; outras flores frágeis e franzinas, achavam-se em terra forte, rodeadas de musgo, mimadas e bem tratadas. A mãe aflita debruçava-se sobre todas as plantas pequenas, para escutar-lhes as pulsações do coração. E, entre milhões, reconheceu o coração do seu filhinho.

- Aqui está ele! - gritou ela, estendendo os braços para um pequeno açafrão, que, doentio, já estava derreado.

- Não toques na flor! - gritou a velha. - Quando a Morte chegar - espero-a a todo instante - não a deixes a arrancar a planta; dize-lhe que arrancarás todas as outras flores. Ela ficará assustada com essa ameaça, porque é responsável perante Deus. Nenhuma delas deve ser arrancada antes que Ele o permita.

Nesse momento passou pela sala um sopro glacial, e a mãe cega sentiu que era a Morte que chegava.

- Como conseguiste achar o caminho? Como foi que chegaste mais cedo do que eu?

- Sou mãe.

A Morte estendeu o braço em direção à pequenina flor fanada, mas a mãe a cerrava entre as  mãos, abrigando-a com firmeza - com tanto carinho, que não tocava em uma só pétala, A Morte soprou-lhe nas mãos, e a mãe sentiu que aquele hálito gelado era mais frio do que o vento mais gélido. E as mãos penderam-lhe inerte.

- Nada podes contra mim! - disse ela.

- Mas Deus pode - respondeu a mãe.

- Eu faço apenas o que Ele manda. Sou o Seu  jardineiro. Tomo todas as Suas flores e árvores, a fim de transplantá-la para o grande jardim do paraíso, no país desconhecido. Não te posso dizer, porém, de que modo elas crescem ali, nem como vivem.

- Devolve-me meu filho! - suplicou a mãe. exclamando.

E segurou nas mãos as duas flores mais bonitas,

- Apanharei todas as tuas flores... tamanho é o meu desespero!

- Não toques nelas! - gritou a Morte. - Dizes que és tão infeliz , e queres fazer com que outra mãe seja igualmente infeliz?

- Outra mãe? - murmurou a pobre mulher, largando imediatamente as duas flores.

- Toma teus olhos! - disse a Morte. - Pesquei-os no lago, Seu brilho subia do fundo, e eu não sabia que eram teus. Fica com eles: agora estão ainda mais límpidos do que eram antes. Lança um olhar para o fundo desse poço profundo. Direi o nome das duas flores que querias arrancar, e verás o que tencionava destruir e aniquilar.

A mãe olhou para dentro do poço. Grande alegria era ver uma das flores, que se tornava uma benção para ao mundo, espalhando felicidade e alegria ao redor de si. Depois apareceu a vida da outra, formada de preocupação e de miséria, de tristeza e calamidades.

- Ambas as coisas saem da vontade de Deus – disse a Morte.

- Qual das duas é a flor da desgraça, e qual é a abençoada?

- Não te direi. mas fica sabendo: uma dessas flores é a do teu filho. O que viste é o destino do teu filhinho, o futuro do teu próprio filho!

Ouvindo essas palavras a mãe lançou um grito de aflição.

- Qual é a de meu filho: Dize-me! Liberta a inocente criança! Redime o meu filho daquela miséria! Antes leva-o contigo! Leva-o para o reino de Deus! Esquece as minhas lágrimas! Esquece os meus rogos, esquece tudo o que fiz!

- Não te compreendo - disse a Morte. - Queres que eu te devolva o teu filho, ou devo levá-lo para aquele lugar que não conheces?

E a mãe, torcendo as mãos, ajoelhou-se, para suplicar a Deus:

- Senhor! Não me escutes, se eu te pedir uma coisa contra a Tua vontade, que é sempre a melhor! Não me escutes, não me escutes!

E baixou a cabeça sobre o peito.

E a Morte foi embora, levando a criança para o país desconhecido.
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Hans Christian Andersen foi um escritor dinamarquês, autor de famosos contos infantis. Nasceu em Odense/Dinamarca, em 1805. Era filho de um humilde sapateiro gravemente doente morrendo quando tinha 11 anos. Quando sua mãe se casou novamente, Hans se sentiu abandonado. Sabia ler e escrever e começou a criar histórias curtas e pequenas peças teatrais. Com uma carta de recomendação e algumas moedas, seguiu para Copenhague disposto a fazer carreira no teatro. Durante seis anos, Hans Christian Andersen frequentou a Escola de Slagelse com uma bolsa de estudos. Com 22 anos terminou os estudos. Para sair de uma crise financeira escreveu algumas histórias infantis baseadas no folclore dinamarquês. Pela primeira vez os contos fizeram sucesso. Conseguiu publicar dois livros. Em 1833, estando na Itália, escreveu “O Improvisador”, seu primeiro romance de sucesso. Entre os anos de 1835 e 1842, o escritor publicou seis volumes de contos infantis. Suas primeiras quatro histórias foram publicadas em "Contos de Fadas e Histórias (1835). Em suas histórias buscava sempre passar os padrões de comportamento que deveriam ser seguidos pela sociedade. O comportamento autobiográfico apresenta-se em muitas de suas histórias, como em “O Patinho Feio” e “O Soldadinho de Chumbo”, embora todas sejam sobre problemas humanos universais. Até 1872, Andersen havia escrito um total de 168 contos infantis e conquistou imensa fama. Hans Christian Andersen mostrava muitas vezes o confronto entre o forte e o fraco, o bonito e o feio etc. A história da infância triste do "Patinho Feio" foi o seu tema mais famoso - e talvez o mais bonito - dos contos criados pelo escritor. Um dos livros de grande sucesso de Hans Christian Andersen foi a "Pequena Sereia", uma estátua da pequena sereia de Andersen, esculpida em 1913 e colocada junto ao porto de Copenhague/ Dinamarca, é hoje o símbolo da cidade. Quando regressou ao seu país, com 70 anos de idade, Andersen estava carregado de glórias e sua chegada foi festejada por toda a Dinamarca. Após uma vida de luta contra a solidão, Andersen logo se viu cercado de amigos. Faleceu em Copenhague, Dinamarca, em 1865. Devido a importância de Andersen para a literatura infantil, o dia 2 de abril - data de seu nascimento - é comemorado o Dia Internacional do Livro Infanto-juvenil. Muitas das obras de Andersen foram adaptadas para a TV e para o cinema.

Fontes:
Hans Christian Andersen. Contos. Publicados originalmente entre 1835 – 1872. Disponível em Domínio Público
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