Era uma tarde abafada em um café literário do Rio de Janeiro, onde o velho charme das calçadas se misturava com a modernidade das telas de celular, um escritor contemporâneo, Lucas, estava sentado em uma mesa, digitando freneticamente em seu laptop, quando, de repente, uma figura conhecida entrou no estabelecimento. Era ninguém menos que Machado de Assis, com seu famoso chapéu e um olhar perspicaz.
Lucas: (olhando para cima, surpreso) Uau, é você, Machado de Assis! O que faz aqui no século XXI?
Machado: (com um sorriso sutil) Ah, jovem, o tempo é uma construção tão maleável quanto a narrativa. Vim ver como andam as letras modernas.
Lucas: (sorrindo) Pois é, a escrita mudou bastante. Você já pensou em como seriam seus livros hoje? Imagina "Dom Casmurro" com redes sociais!
Machado:(levanta uma sobrancelha) Redes sociais? Como assim?
Após algum tempo, regado a várias xícaras de capuccino, explicando resumidamente para Machado de Assis as mudanças entre os séculos, suas inovações e avanços, continuaram a debater as obras.
Lucas:(animado) Pense! Bentinho faria um perfil no Instagram, postando fotos da Capitu. E você sabe como as pessoas adoram uma polêmica! Imagina os comentários!
Machado:(rindo) Capitu teria que ter um filtro especial para esconde-los, não? O que seria da sua fama com uma "influencer" ao lado?
Lucas: Exato! E Quincas Borba, com seu "Humanitismo", poderia ter uma página de autoajuda no Facebook!
Machado:(pensativo) Hummm... e o que ele diria? “Seja feliz ou não, mas não se esqueça de compartilhar seu progresso”?
Lucas: (rindo) Sim! E imagina a briga entre Quincas e o Robson, agora discutindo em threads de Twitter!
Machado: (com um brilho nos olhos) E a ironia? Ah, meu caro, a ironia seria a estrela! “Humanitismo: mais likes, menos empatia!”
Lucas: (aproximando-se) Vamos ser sinceros, hoje em dia, seria um sucesso! Mas e "Dom Casmurro"? Você ainda acha que ele foi ciumento ou só inseguro?
Machado: (com um sorriso maroto) Ah, meu jovem, a dúvida é o que torna a história tão intrigante. Afinal, quem não tem suas inseguranças? Até mesmo neste café, quem sabe se você não está sendo traído por um croissant?
Lucas: (rindo alto) Bom ponto! Mas eu acho que a Capitu teria um podcast, falando sobre o "casamento moderno". Seria um sucesso!
Machado: (pensando) Um podcast sobre infidelidade? Isso poderia ser um verdadeiro "narrador não confiável" em áudio! Teríamos que chamar o Bentinho para debater.
Lucas: (fazendo gestos) Ouvintes votariam: “Capitu traiu ou não traiu?” E no final, a conclusão seria: “Nada como uma boa conversa no divã!”
Machado: (acena com a cabeça) Uma nova forma de análise, sem dúvida. Mas me conte, como é a literatura atual? Os jovens ainda leem clássicos?
Lucas: (pensativo) Alguns sim, mas muitos preferem resumos e adaptações. E há uma pressão enorme por conteúdo rápido. A leitura se tornou quase um “fast-food”!
Machado: (franzindo a testa) Que pena! A profundidade se perde. A literatura é um banquete, não uma refeição rápida! O que seria de Quincas Borba sem suas reflexões?
Lucas: (com um brilho nos olhos) Certo! Imagino um aplicativo de leitura, onde cada página virada poderia ser um prêmio. “Leia e ganhe pontos!”
Machado: (rindo) Seria um "Humanitismo" gamificado? “Parabéns, você acaba de refletir sobre a condição humana!”
Lucas: (aplaudindo) Exato! E o que você diria aos jovens escritores de hoje?
Machado: (pensativo) Que escrevam com sinceridade. A tecnologia pode mudar, mas a essência da escrita permanece. O olhar humano, as emoções... isso nunca deve se perder.
Lucas: (sorrindo) Palavras sábias, Machado. Vou usar isso na minha próxima obra.
Machado: (levantando a xícara de café) Então brindemos à literatura, que sempre encontrará um caminho, seja no século XIX ou XXI!
Lucas: (erguendo seu copo) À literatura e ao diálogo entre épocas!
E assim, entre risadas e reflexões, o escritor contemporâneo e o mestre do século XIX continuaram a troca de ideias, mostrando que, independentemente do tempo, a literatura sempre será um terreno fértil para a criatividade e o humor.
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JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Poeta, escritor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com uma escritora, poetisa, tradutora e professora da UEM, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, e depois em Maringá/PR desde 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria e Voo da Gralha Azul. Assina seus escritos por Floresta/PR. Publicou mais de 500 e-books. Premiações em poesias no Brasil e exterior.
Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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