sexta-feira, 14 de setembro de 2018

37ª Semana Literária SESC Maringá (17 a 22 de setembro – Programação)

Local:
Av. Duque de Caxias,1517
Telefone: (44) 3265-2750

DIA 17/09 – Segunda-Feira

 9h  ; 10h ; 14h
Conto de fadas às avessas, com Fernanda Munhão
O espetáculo reúne histórias inspiradas em contos de fadas clássicos com finais surpreendentes, entre outras situações engraçadas. Porquinhos, fadas, príncipes e duendes são repaginados de forma cômica e atual. Além das histórias, o espetáculo é composto de músicas autorais da própria narradora, que interagem com a narração de modo divertido para todos os públicos.

14h ; 15h
A maior flor do mundo, com Cia TPK
“A maior flor do mundo” é uma magnífica história para crianças, mas, antes de tudo, é um legítimo Saramago, o que o torna uma fonte de prazer também para adultos. Em perfeita sintonia com a sensibilidade dos pequenos leitores, o autor transmite para este livro, a inventividade poético-narrativa contida em suas obras. A Cia TPK vem contar esta história de uma forma a dialogar com as linguagens cênicas.

15h
Produção literária e seus caminhos
com Domingos Pellegrini
Neste encontro, Pellegrini vai falar sobre sua trajetória como escritor desde o início da carreira até os dias atuais: o dia a dia da profissão e como funciona o processo criativo de uma obra. Pellegrini contará também sobre o desafio de escrever para um público mais jovem, contando a história de suas obras.

20h
Vozes femininas e literatura
com Letícia Wierzchowski e Karen Debértolis
Durante longos anos, a literatura foi cenário dominado pelos homens, cabendo às mulheres o papel de frágeis e doces donzelas, o que foi alterado com as percursoras da escrita feminina, que mesmo sob pseudônimos encontraram uma fenda e se infiltraram no universo da escrita. Ondas feministas contribuíram diretamente para o fortalecimento das escritoras, sendo o trabalho delas ferramenta de propagação dos ideários do movimento. Contudo, esse foi um processo árduo e lento de ruptura de toda uma cultura imposta sobre a falta de intelecto das mulheres. Enquanto na Europa e nos Estados Unidos a produção feminina se intensifica entre os séculos 18 e 19, apenas na segunda metade do século 19 que a escrita feminina se intensificou no Brasil, embora grandes nomes já tivessem despontado anteriormente. Estaria a escrita feminina impreterivelmente atrelada ao movimento feminista? Em tempos onde o termo empoderamento é tão forte e representativo, seria adequado limitarmos a escrita de mulheres ao termo literatura feminina, considerando a busca atemporal por igualdade entre os gêneros? Por que ela se diferenciaria dos textos de escritores?

DIA 18/09 – Terça-Feira

9h ; 14h ; 15h
Africontos, com Cia Mapinguary
A Cia Mapinguary traz como centro do espetáculo Africontos o continente africano, berço da civilização, onde a oralidade se faz de extrema importância para a manutenção de todo um repertório cultural de um povo. A sabedoria e cultura de um povo através das histórias. Ao tocar do tambor, começa a narração das histórias, como Os gêmeos do tambor, oralidade do povo Massai, a cigarra e o camundongo, história do Mageb, depois o Macaquinho de Nariz Branco, conto da Guiné-Bissau, e por fim Ananse e o Pote da sabedoria, entre muitas outras!

10h
Histórias de arrepiar: literatura policial e suspense
com Raphael Montes
Raphael Montes é um dos nomes com maior destaque atualmente no gênero policial, considerado o mais importante romancista policial da nova geração no Brasil. Desprendido de estigmas de “como se escrever um bom livro”, enreda as histórias de maneira que o escritor fica preso a elas e à trama envolvida. Todo esse despojamento e sagacidade o colocam no topo dos livros mais vendidos do estilo e garante a ele uma legião de fãs. Montes participará de um bate papo sobre suas obras e sobre os desafios de escrever romances policiais na atualidade e sobre o seu estilo de escrita.

DIA 19/09 – Quarta-Feira

9h
Canções paranaenses com a Banda Retrosense e orientadores do Centro de Difusão Musical (CDM)
Apresentação de canções paranaenses com os orientadores de Atividades do Centro de Difusão Musical (CDM) - SESC Maringá e a Banda Retrosense. Retrosense é uma banda de Rock Alternativo de Maringá- PR. A banda foi formada em 2012 por Rash (vocal), Otávio Kosak (guitarra), José Roberto (bateria), influenciados por bandas como ABBA, Roxette, The Cramberries, Paramore.

09h30 ; 10h30 ; 14h30 ; 15h30
Encontro com a escritora Vanessa Meriqui
A autora remete primeiramente à oralidade, ferramenta primordial do seu ofício: contar histórias é possivelmente uma das mais antigas manifestações artísticas da humanidade. Desde sempre, reunir adultos e crianças para ouvir histórias, conhecer personagens que falam à nossa alma, que ultrapassam obstáculos, enfrentam desafios e longas jornadas para, ao final, serem felizes ou simplesmente nos dizer algo, é dar voz à imaginação humana, é buscar a construção de um mundo mais leve.

14h ; 15h
Helena de Curitiba
“Helena de Curitiba” narra a história da professora e poetisa paranaense Helena Kolody. O documentário traz imagens e depoimentos inéditos da poetisa, colhidos um mês antes de sua morte, em fevereiro de 2004, aos 92 anos. O enredo do filme nasce com cenas fictícias da infância e adolescência dela em meio à natureza paranaense, passando pelo amadurecimento da escritora, professora e mostrando a sua história como filha, jovem, mulher e autora. Relata parte da história da imigração ucraniana no Paraná através de imagens do acervo da Cinemateca de Curitiba.

DIA 20/09 – Quinta-Feira

9h ; 10h  ; 14h
Pitico, o menino que queria voar, com João Luiz do Couto
O espetáculo une músicas, narrativas e imagens. Por meio da musicalização, brincadeiras e trava-línguas emoldura a história de um menino ávido por voar no mundo da literatura, que morava em uma cidade cercada por muros, e que sonha em um dia poder ver a luz além da muralha. Uma história para gostar de ler!

14h
Sarau poético-musical com os textos de “Samba de Uma Noite de Verão”
com Renato Forin Jr.
O encontro com o escritor, jornalista e diretor de teatro Renato Forin Jr. é sobre as relações entre literatura, música e teatro. O trabalho terá como base o seu livro-CD “Samba de Uma Noite de Verão”, premiado na categoria “Adaptação” na última edição do Jabuti. Nesta dramaturgia, o autor de Londrina reescreve o clássico “Sonho de Uma Noite de Verão”, de Shakespeare, como uma metáfora da formação do país, só com elementos e personagens da cultura brasileira. A oficina terá caráter teórico-prático e passará por conversas sobre identidade nacional, poesia, oralidade e transposição do texto escrito para o corpo e para a voz.

16h30
Lira Otaku, com o escritor Roberth Fabris
O bate-papo consiste numa homenagem ao Imin 110 - amizade Brasil Japão, por meio de poemas de anime como Pokemon, Saint Seya, Bleach, tarde de autógrafos, curiosidades e fotos com os presentes, sendo que o escritor vai estar com roupas temáticas vindas do Japão valorizando o mundo otaku, será uma tarde uma tarde geek animada.

19h
O Contador de Causos, com a escritora Loide Caetano
O contador de causos, de autoria da escritora Loide Caetano, é um livro que une história e ficção. A obra é baseada em algumas das inúmeras histórias contadas por Agenor Borghi, conhecido como Zico Borghi, um pioneiro que chegou a Maringá com a sua família em 1946 e nela vivenciou todo o processo de uma cidade em formação. Viu a mata ser derrubada, a chegada de muitas famílias e a plantação de lavouras de café. Por ser uma pessoa criativa, Zico Borghi apropriou-se de alguns elementos da cultura popular e criou suas próprias histórias como se ele mesmo tivesse enfrentado animais estranhos como a mula sem cabeça, o lobisomem, o tamanduá chupa-cabra, entre outros.

DIA 21/09 – Sexta-Feira

9h  ; 15h
Histórias da nossa gente, com Viramundo
Você já ouviu falar de um tal vaqueiro que não sabia mentir? Ou, quem sabe, conhece Alexandre e seu olho torto? Já ouviu os causos sobre o duelo entre o sábio e o camponês? Sabe como as crianças indígenas da América do Norte colocaram o céu no lugar onde ele está até hoje? Essas e outras histórias e personagens são evocadas e nos transportam ao fantástico da cultura popular oral e do universo mágico da literatura infanto-juvenil.

10h ; 14h
Vermelho de dar dó, com Cristiano Gouveia
O músico, escritor e contador de histórias Cristiano Gouveia apresenta um  encontro entre as linguagens artísticas: o som vira narrativa, a literatura vira uma história cantada, uma música ganha as páginas de um livro para crianças. Cristiano apresenta contos cantados inspirados em livros, causos, fábulas e histórias do mundo inteiro. E apresenta também seu livro/cd Vermelho De Dar Dó, a uma história cantada inspirada no conto clássico da Chapeuzinho Vermelho.

19h

Canções paranaenses com a Banda Retrosense e orientadores do Centro de Difusão Musical (CDM)
Apresentação de canções paranaenses com os orientadores de Atividades do Centro de Difusão Musical (CDM) - SESC Maringá e a Banda Retrosense. Retrosense é uma banda de Rock Alternativo de Maringá- PR. A banda foi formada em 2012 por Rash (vocal), Otávio Kosak (guitarra), José Roberto (bateria), influenciados por bandas como ABBA, Roxette, The Cramberries, Paramore.

DIA 22/09 – Sábado

8h às 12h; 14h às 18h
Oficina: Formação de contação de histórias com Viramundo
Partindo da máxima da literatura enquanto arte da palavra, esta oficina propõe refletir acerca do texto literário tomando-o como fundamental para a formação humanizada do indivíduo. Deste modo, serão pautados diálogos acerca da arte do narrar: a contação de histórias e suas aplicações em sala de aula.
Carga Horária: 8h
Número máximo de participantes: 50
Custo: Gratuito

Fonte:

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Joaquim de Melo Freitas (Livro D’Ouro da Poesia Portuguesa vol. 5) III


ANTONIO PEDRO

Antonio Pedro, astro fulgurante
Que cruzas do tablado a vasta senda
Como guerreiro impávido da lenda,
Que, em busca de proezas, vaga errante.

Ei-lo cingindo as armas de diamante!
Sem que o cansaço, ou vil temor o prenda,
Cada vez mais se engolfa na contenda,
Em prol da esquiva fama alti-sonante.

Quando o véu do futuro descortino
No alcáçar da justiça, que rebrilha
Sabeis o que descubro, e vaticino?

(Isto me pasma! transporta! e maravilha!)
Votado a berço humilde p'lo destino
Filho do povo, “a Gloria te perfilha”!

MISTERIOSO ABISMO

Tépido sonho de luz
corpo, que destila aroma
sublime e claro axioma
espargindo amor a flux!

Uma vertigem produz
teu olhar, o seio, a coma,
voluptuoso sintoma
que a fantasia traduz.

Débil flor, que o sol admira
beijando com azedume
as estrelas de safira...

mas ninguém sequer presume
que o meu coração expira
na mortalha do ciúme.

NA FLORESTA

Conversa nos abetos a bafagem,
Nas franças range o vento compassado
E à matilha esquivando-se um veado
Pasma de ver no brejo a sua imagem.

Que rumor tão sutil, que doce agrado,
Poesia terna e pérfida, selvagem,
Em que os ecos se arrastam na folhagem
Entre dóceis de musgo aveludado.

Irrompem as gazelas nos aceiros
E as cobras aparecem na gesta
Quando as gralhas alagam os olmeiros.

Triste como o silencio da floresta,
Ouço dentro de mim uivos d'horror.
Combatem dois leões – “Ciúme e Amor!”

O CÃO DE BORDO

A cerração é densa. O pobre iate
Sem leme desarvora na refrega;
Penetra na escotilha a onda cega,
Alquebra-se o baixel no duro embate.

A trovoada estala, a proa abate;
No escaler a maruja ao céu se apega,
Este a vida infeliz surdo lhe nega,
Que as lágrimas não bastam p'ra resgate!...

Um cão hirsuto, magro, avermelhado,
Com os olhos chorosos, flamejantes,
Que brilham como negros diamantes

Late com desespero, busca a nado,
Mergulha entre os cadáveres boiantes,
O dono encontra, e morre extenuado.

NO HARÉM

No matiz do tapete auri-felpudo
Haydé reclina as formas langorosas,
Cismam d'inveja purpurina as rosas
Admirando-lhe as faces de veludo.

Modelo, que convida a obsceno estudo
N'um desmaio entre gases vaporosas
Pelas cassoulas de prata suntuosas
O âmbar, o beijoim arde a miúdo.

Quando rompe nos céus a madrugada
Sentem-se beijos em lascivo espasmo
Que iluminam a alcova perfumada

E um eunuco decrépito sarcasmo!-
Que a barbacã vigia na esplanada,
Crê-se na terra um mero pleonasmo.


ESCULTURA

Que bela estátua! Colo d'alabastro,
Um riso de cristal, faces ardentes,
Um adereço de pérolas os dentes
E os olhos chispam o fulgor d'um astro!

De maus intentos o porvir alastro
Porque passando desdenhosa sentes,
Que intimidas com lívidas correntes
Quem doido beija o sulco do teu rastro.

Paradoxo cruel! treva d'arminho,
Ídolo deslumbrante, ruim criança
Que da ternura forjas sevo espinho!

Quando te vejo ocorre-me a lembrança,
Flor de gelo, sinistro rosmaninho,
D'enforcar-me a sorrir na tua trança.

Fonte:
Joaquim de Melo Freitas. Garatujas. 
Aveiro/Portugal: Imprensa Commercial, 1883

Irmãos Grimm (O Pássaro de Ouro)


Houve, uma vez, um rei que possuía, atrás do castelo, um belíssimo parque, no qual havia uma macieira que dava maçãs de ouro. Quando as maçãs ficaram maduras, contaram-nas todas, mas logo na manhã seguinte faltava uma. Avisaram o rei e ele ordenou que todas as noites ficasse um guarda vigiando debaixo da macieira.

O rei tinha três filhos, e ao anoitecer, mandou o mais velho ficar no jardim, mas este, à meia-noite, não pôde resistir ao sono e, na manhã seguinte, faltou mais uma maçã. Na outra noite, foi a vez do segundo ficar de guarda, mas não teve melhor sorte: quando soou meia- noite, adormeceu e, pela manhã, faltava outra maçã. Chegara a vez do terceiro, mas o rei não confiava muito nele, pensando que faria ainda menos que os irmãos; contudo, acabou por consentir que ficasse vigiando. O jovem deitou-se sob a macieira e velou sem deixar-se vencer pelo sono. Quando bateu meia-noite, percebeu no ar um ruflar de asas e, à claridade da lua, viu chegar um pássaro voando, cujas penas cintilavam como ouro.

O pássaro pousou na árvore e tinha apenas desprendido uma maçã com o bico, quando o jovem lhe atirou uma seta. O pássaro fugiu, mas a seta atingira-lhe as penas de ouro, deixando cair uma no chão. O jovem apanhou-a e, na manhã seguinte, foi levá-la ao rei, narrando-lhe tudo o que ocorrera durante a noite.

O rei convocou o conselho, e os ministros todos afirmaram que uma pena dessas valia mais do que o reino todo.

- Se esta pena é tão preciosa, - disse o rei - de que vale possuir uma só? Eu quero o pássaro inteiro e hei de consegui-lo.

O filho mais velho, pôs-se a caminho e, confiando na própria inteligência, ia com a certeza de encontrar o pássaro de ouro. Após ter caminhado bom trecho, avistou uma raposa à entrada da floresta; apontou sobre ele a espingarda para atirar, mas a raposa gritou:

- Não atires, eu te darei um bom conselho. Sei que vais em busca do pássaro de ouro; hoje, à noite, chegarás a uma aldeia onde há duas estalagens, uma em frente da outra. Uma delas é bem iluminada e oferece ambiente alegre, mas não entres nela, vai para a outra, embora tenha aspecto feio e pouco acolhedor.

"Como pode, um animal tão estúpido, dar conselhos acertados!" pensou o príncipe, e atirou mas errou o alvo. A raposa esticou o rabo e correu para a floresta. Ele prosseguiu caminho e, à noite, chegou à aldeia onde estavam as duas estalagens; numa cantavam e dançavam; a outra tinha aspecto pobre e tristonho. "Eu seria um grande louco, - pensou ele, - se fosse para aquela estalagem miserável, em vez de ir para esta outra bem melhor." Assim, entrou na que se apresentava alegre e festiva e lá, todo entregue aos prazeres, esqueceu-se do pássaro, do rei e de todos os bons preceitos.

Após certo tempo, vendo que o irmão mais velho não voltava, o segundo pôs-se a caminho à procura do pássaro de ouro. Tal como seu predecessor, encontrou a raposa, que lhe repetiu o bom conselho, mas ele não lhe deu atenção. Chegou ao local das duas estalagens e, daquela em festança, surgiu o irmão na janela chamando-o. Ele não pôde resistir, entrou e entregou-se aos divertimentos.

Decorrido mais algum tempo, o menor dos três irmãos quis, por sua vez, tentar a sorte, mas o pai não queria permitir, dizendo aos que o cercavam:

- É inútil. Se os irmãos não encontraram o pássaro de ouro, muito menos o encontrará este; além disso, se lhe acontecer alguma complicação, não saberá como sair-se dela, falta-lhe um "parafuso"!

Mas, por fim, para que o filho o deixasse em paz, deixou-o partir. À entrada da floresta estava a raposa, a qual lhe suplicou que lhe poupasse a vida e deu-lhe um bom conselho. O jovem príncipe era generoso e respondeu:

- Fica sossegada, raposinha, não te farei mal algum.

- E não te arrependerás, - respondeu a raposa - se queres chegar mais depressa, monta na minha cauda.

Assim que o príncipe se instalou na cauda da raposa, ela deitou a correr desabaladamente, com os cabelos zunindo ao vento. Quando chegaram à aldeia, o jovem desmontou e seguiu o conselho dado; sem olhar para nenhum lado, entrou na estalagem indicada, onde pernoitou tranquilamente. Na manhã seguinte, quando chegou ao meio do campo, a raposa já estava lá e disse:

- Vou ensinar-te o que deves fazer. Anda sempre direito para a frente, chegarás finalmente a um castelo, na frente do qual encontrarás um batalhão de soldados. Mas não receies nada, porque estarão todos dormindo e roncando; passa no meio deles, entra diretamente no castelo e atravessa todas as salas, até chegar àquela onde está dependurada uma gaiola de madeira com o pássaro de ouro dentro. Aí perto, bem à mostra, encontrarás uma gaiola de ouro vazia; não queiras tirar o pássaro da gaiola feia para pô-lo na outra preciosa: poderia ser-te fatal.

Tendo dito isso, a raposa esticou, novamente, a cauda e o príncipe montou nela; depois, com o vento zumbindo por entre os cabelos, desabalaram em carreira vertiginosa. Chegando ao castelo, o príncipe encontrou tudo, exatamente, como lhe havia dito a raposa. Entrou na sala onde estava o pássaro na sua gaiola de madeira, tendo ao lado a gaiola de ouro; viu as três maçãs de ouro espalhadas pelo chão. Então, achou que seria ridículo deixar aquele belo pássaro na gaiola tão feia; abriu a portinhola, pegou-o e colocou-o na outra de ouro. Imediatamente o pássaro soltou um berro agudo; os soldados acordaram, precipitaram-se dentro do castelo, prenderam o príncipe e o conduziram à prisão. Na manhã seguinte, foi julgado e, sendo réu confesso, condenado à morte.

O rei disse-lhe que o libertaria, com a condição, porém, de trazer-lhe o cavalo de ouro, que era mais veloz que o vento, e lhe daria ainda, como recompensa, o pássaro de ouro.

O príncipe saiu andando, suspirando tristemente: onde iria encontrar o cavalo de ouro? Nisso avistou a sua velha amiga raposa deitada na estrada.

- Viste, - disse ela - o que te aconteceu por me desobedeceres? Mas não te amofines, eu te ajudarei e te ensinarei o que tens a fazer. Deves andar sempre direito para a frente até chegar a um castelo e ali, na estrebaria, encontrarás o cavalo de ouro. Diante da estrebaria estarão deitados os cavalariços, dormindo e roncando sossegadamente; assim não te será difícil tirar o cavalo de ouro. Mas presta bem atenção: poe-lhe a sela feia de madeira e couro, não aquela de ouro dependurada perto; se não tudo te correrá mal.

Depois a raposa esticou a cauda, o príncipe montou nela e sairam em carreira desabalada, com os cabelos zumbindo ao vento. Tudo se processou conforme dissera a raposa: ele chegou à estrebaria onde estava o cavalo de ouro; mas, no momento de pôr-lhe a sela feia, pensou: "Um animal tão bonito faz uma figura ridícula se não lhe ponho a sela que lhe compete." Mal o tocou com a sela de ouro, o cavalo pôs-se a relinchar com toda a força. Os cavalariços acordaram, agarraram o jovem e o trancaram na prisão. Na manhã seguinte, o tribunal condenou-o à morte, mas o rei prometeu fazer-lhe mercê e dar-lhe, ainda por cima, o cavalo de ouro se conseguisse trazer-lhe a bela princesa do castelo de ouro.

O jovem pôs-se a caminho com o coração anuviado; felizmente não tardou a encontrar a fiel amiga raposa, que lhe disse:

– Eu deveria deixar-te na desventura, mas tenho pena de ti e, ainda desta vez, quero auxiliar-te. O caminho te conduzirá direto ao castelo de ouro, onde chegarás à tarde; durante a noite, quando tudo estiver silencioso, a bela princesa vai banhar-se no pavilhão. Quando ela entrar, agarra-a e dá-lhe um beijo: então ela te seguirá e poderás levá-la contigo. Mas não deixes que diga adeus aos pais, do contrário, tudo te correrá mal.

Depois a raposa esticou a cauda, o príncipe montou nela e, em carreira desabalada, saíram, com os cabelos zumbindo ao vento. Quando chegou ao castelo de ouro, encontrou exatamente o que lhe dissera a raposa. Ele aguardou até meia-noite. Então, fez-se silêncio, tudo dormia, e a bela princesa entrou no pavilhão para banhar-se; ele, num gesto rápido, agarrou-a e deu-lhe um beijo. Ela disse que o seguiria de bom grado, mas suplicou, chorando, que a deixasse dizer adeus aos pais. No começo, ele se opôs às suas súplicas mas, como ela chorava cada vez mais, prostrando-se aos seus pés, acabou por consentir. Assim que a princesa se aproximou do leito do pai, este despertou ao mesmo tempo que despertavam todos os que dormiam no castelo; prenderam o jovem e trancaram-no na prisão.

Na manhã seguinte, disse o rei:

– Tu mereces a morte; mas serás absolvido se conseguires arrasar a montanha que há defronte da minha janela e que me impede ver longe; terás de fazer isso dentro de oito dias. Se o conseguires, terás minha filha como recompensa.

O príncipe pôs-se a cavar, a cavar sem interrupção, mas, passados sete dias, vendo quão pouco havia feito e que todo o seu trabalho nada representava, abismou-se em profundo abatimento, perdendo todas as esperanças. Na noite do sétimo dia, porém, apareceu-lhe a raposa, dizendo:

– Não mereces que me preocupe contigo, mas podes ir dormir, eu farei o trabalho.

Na manhã seguinte, quando o príncipe acordou e olhou para fora da janela, a montanha havia desaparecido. Louco de alegria foi correndo levar a notícia ao rei; então o rei, querendo ou não, foi obrigado a cumprir a promessa e dar-lhe a filha.

Partiram os dois. A fiel raposa não tardou a alcançá-los e disse-lhe:

– É verdade que possuis o melhor, mas à princesa do castelo de ouro pertence, também, o cavalo de ouro.

– Que hei de fazer para obtê-lo? - perguntou o príncipe.

– Digo-te já. - respondeu a raposa - Primeiro leva a bela princesa ao rei que te enviou ao castelo de ouro. Ficarão todos extasiados e de boa vontade te darão o cavalo. Monta-o depressa e despede-te de todos, estendendo-lhes a mão; por fim estende a mão à bela princesa, agarra-a, monta-a rapidamente no cavalo e sai correndo à rédea solta. Ninguém conseguirá apanhar-te, pois o cavalo corre mais que o vento.

Tudo correu perfeitamente bem e o príncipe levou consigo a bela princesa no cavalo de ouro, A raposa não se fez esperar muito e disse-lhe:

– Agora te ajudarei a capturar também o pássaro de ouro. Perto do castelo onde se encontra o pássaro, a princesa apeará e eu tomarei conta dela. Tu, no cavalo de ouro, entra no pátio; quando te virem ficarão todos felizes e te darão o pássaro. Assim que tiveres na mão a gaiola, volta voando a buscar a princesa.

Tendo corrido tudo perfeitamente, o príncipe quis regressar a casa com todos os tesouros conseguidos, mas a raposa disse-lhe:

– Agora tens que me recompensar por todo o auxílio que te prestei.

– O que desejas? - perguntou o príncipe.

– Quando estivermos na floresta, tens que matar-me e cortar-me a cabeça e as patas.

– Que bela recompensa! - disse o príncipe - Não posso absolutamente atender ao teu pedido.

– Se não queres fazê-lo, - disse a raposa - terei de abandonar-te; mas, antes disso, quero dar-te ainda um bom conselho. Livra-te de duas coisas: comprar carne destinada à forca e sentar-te à beira de um poço. 

Dizendo isto, fugiu para a floresta.

O jovem pensou: "Que animal esquisito! Tem cada ideia extravagante! Quem jamais compraria carne destinada à forca? E vontade de sentar-me à beira de um poço também nunca tive." Continuou o caminho, levando a linda jovem. O caminho passava pela aldeia onde haviam ficado os irmãos; ao chegar lá, viu um grande aglomerado de gente e muita algazarra. Tendo perguntado o que se passava, responderam-lhe que iam enforcar dois facínoras. Aproximando-se do local, viu que eram seus dois irmãos, os quais, tendo cometido toda espécie de perversidade e tendo malbaratado todos os haveres, estavam condenados a morrer na forca. O jovem perguntou se não era possível libertá-los.

– Sim, - responderam-lhe - se estás disposto a gastar todo o teu dinheiro para resgatá-los!

O jovem, sem hesitar, pagou tudo por eles; assim que ficaram livres viajaram em sua companhia.

Chegaram à floresta onde, da primeira vez, tinham encontrado a raposa. O sol queimava como fogo e, como o lugar aí fosse ameno e fresco, os dois irmãos disseram:

– Descansemos um pouco aí junto do poço e aproveitemos para comer e beber.

O jovem concordou e, entretido na conversa, sentou-se distraidamente na beirada do poço. Então os irmãos o fizeram cair de costas e o empurraram para dentro do poço; depois apoderaram-se da princesa, do cavalo e do pássaro e voltaram para a casa do pai.

– Não trazemos apenas o pássaro de ouro, - disseram - conquistamos também o cavalo de ouro e a princesa do castelo de ouro.

Todos estavam perfeitamente felizes, menos o cavalo, que não comia, o pássaro, que não cantava, e a princesa, que não parava de chorar.

Mas o irmão menor não tinha morrido. Por felicidade, o poço estava seco e ele caiu sobre o musgo macio, sem sofrer o menor mal; não conseguia, porém, sair de lá. Também, nessa angustiosa emergência, a fiel raposa não o abandonou; pulou para junto dele e repreendeu-o, severamente, por ter-lhe esquecido o conselho.

– Contudo, não posso deixar de restituir-te à luz do sol.

Mandou que se agarrasse e segurasse bem na sua cauda e, assim, puxou-o para fora. Depois disse:

– Ainda não estás livre de todos os perigos, teus irmãos mandaram sentinelas cercar a floresta, com ordens para te matar se te virem.

O rapaz agradeceu e foi andando. Ao chegar a um atalho, viu um pobre maltrapilho sentado, muito triste, e pediu-lhe que trocassem as respectivas roupas; assim disfarçado, conseguiu chegar são e salvo ao castelo real. Ninguém o reconheceu, mas logo o pássaro se pôs a cantar, o cavalo a comer e a jovem parou de chorar. O rei muito admirado, perguntou:

– Que significa isso?

– Não sei explicar, - disse a jovem - mas eu estava tão triste e eis que agora me sinto tão alegre! Como se tivesse chegado o meu verdadeiro noivo.

E contou ao rei tudo o que ocorrera, muito embora a houvessem, os dois irmãos, ameaçado de morte se revelasse qualquer coisa. Ouvindo isso, o rei ordenou que se apresentasse diante dele toda a gente do castelo; o jovem também compareceu, disfarçado em pobres andrajos. A princesa, porém, reconheceu-o imediatamente e correu a lançar-se-lhe ao pescoço.

Os perversos irmãos foram presos e condenados; enquanto que o menor casou com a bela princesa e foi nomeado herdeiro do trono.

E a raposa, que fim levou?

Muito tempo depois, o príncipe voltou à floresta e lá encontrou a raposa, que lhe disse:

– Tu agora tens tudo o que desejar se possa, mas a minha infelicidade nunca tem fim; entretanto, está em teu poder libertar-me.

E, novamente, suplicou-lhe que a matasse e lhe cortasse a cabeça e as garras. Ele obedeceu e, no mesmo instante, a raposa transformou-se num homem, o qual outro não era senão o irmão da bela princesa, libertado, finalmente, do encanto a que fora condenado.

Assim nada mais faltou para que fossem todos felizes até o resto de suas vidas.

5a. Festa Literária Internacional de Maringá - FLIM (21 a 25de novembro)

Local: Estacionamento Estádio Willie Davids

Programação

Com o tema “Resistências”, a 5ª Festa Literária Internacional de Maringá (Flim), que será realizada entre os dias 21 a 25 de novembro, quer dar visibilidade às mulheres, negros, índios, refugiados e aos LGBTs.

Além das datas, fora do período eleitoral e dentro do mês da celebração nacional da Consciência Negra, estão entre as primeiras novidades da festa, novas locações e curadoria.

A FLIM ocupará parte do estacionamento de entrada do Estádio Willie Davids e espetáculos culturais serão realizados na Travessa Jorge Amado ao lado do Mercado Municipal. “

Diferente da edição anterior, onde a Flim teve como curador a Câmara Brasileira do Livro (CBL), o jornalista, escritor e diretor da Biblioteca Pública do Paraná, Rogério Pereira, assumirá a curadoria do evento. 

Participantes foram selecionados pelo trabalho conjunto da comissão curadora que reúne representantes de diversos segmentos da sociedade ligados à literatura e da curadoria da Flim, sob responsabilidade do jornalista, escritor e diretor da Biblioteca Pública do Paraná, Rogério Pereira. O curador é criador do Rascunho, um dos mais importantes jornais especializados em literatura do país. 

Evento contará com show do ex-Titãs Arnaldo Antunes e finalistas de edições do Premio Jabuti, considerado o mais tradicional prêmio literário do país.
Arnaldo Antunes - um dos grandes nomes do rock nacional e ex-integrante do grupo Titãs - conquistou o Prêmio Jabuti em 1992 na categoria Poesia. Tendo influências do concretismo, da cultura pop e do próprio rock and roll, publicou em 1983 o “OU E”, seu primeiro livro. 

A Flim contará com o poeta e cronista Fabricio Carpinejar, vencedor na categoria Contos e Crônicas do Prêmio Jabuti com a coletânea de crônicas Canalha!. O escritor ganhou notoriedade com o programa “A máquina” da Rede Gazeta, sendo conhecido popularmente com as participações do programa Encontro da Fátima Bernardes. Destaca-se como uma referência sobre a discussão do imediatismo, o ócio criativo e a vida.

Outro finalista do Prêmio Jabuti que participará da Flim é a escritora Carola Saavedra. Sua obra Flores Azuis de 2008 também foi eleita como o melhor romance pela Associação Paulista dos Críticos de Arte. A escritora ainda esteve na lista dos vinte melhores jovens escritores brasileiros da renomada revista literária Granta.

Confirmado a participação da escritora, poetisa, romancista e ensaísta, Conceição Evaristo. Proveniente do movimento literário pós-modernista, a patrona participará de uma ação que antecipará a nossa Festa, a Pré-FLIM, que acontecerá em outubro. 

Thalita Rebouças é mais uma confirmada para a FLIM 2018. Jornalista e escritora brasileira, Thalita Rebouças publicou mais de 20 livros nos últimos 18 anos. Atuando com temas voltados ao público adolescente, Thalita Rebouças apresentou o The Voice Kids, em 2017, na Rede Globo.

Fonte:

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Leandro Bertoldo Silva (Projeto Literário em Escola no Vale do Jequitinhonha)


Tudo começou com uma pergunta: como fazer os jovens se interessarem mais pela leitura? E a resposta apareceu muito clara e direta: colocá-los do outro lado da história, ou seja, do lado de quem escreve.

Pimba!

A partir daí, o escritor e professor Leandro Bertoldo Silva procurou a escola Orlando Tavares, a qual já havia lecionado há 5 anos, e fez a proposta à diretora Jussara Pinheiro Paiva que, prontamente, acatou a ideia abrindo as portas da escola para que o projeto acontecesse. Tal aprovação é externada em sua fala:

Jussara Pinheiro Paiva. Diretora da Escola Orlando Tavares:

“É de uma imensa alegria compartilhar desse projeto com os alunos, professores e demais profissionais da escola. Foi desenvolvido pelo escritor, professor e amigo Leandro Bertoldo Silva atividades em sala de aula que acabaram aguçando a imaginação dos nossos discentes, nos mostrando como são habilidosos.

Acredito que a escola seja um lugar para construir prazerosamente o conhecimento integrado com afeto, valorizando a leitura e a escrita. Este livro proporcionou exatamente isso: possibilitou aos nossos alunos a elaboração de textos partindo de uma história de cada família. Durante esse trabalho fica claro que o entendimento literário pode ser prazeroso quando se trata do que se vive e é nessa pequena/grande diferença que mora o segredo para (des)costurar pensamentos com a ajuda da entrelinha.

Quero parabenizar a iniciativa do escritor e professor Leandro e a cada aluno que aceitou esse desafio. Que seja o primeiro de muitos livros publicados pelos alunos da EOT”.

Para isso, Leandro assumiu as aulas de redação da escola, levando aos alunos todo o conhecimento adquirido em seu curso Vivenciando a Linguagem, Leitura e Escrita na cidade de Padre Paraíso e região, oferecendo aos alunos uma forma pragmática de estudo.

O projeto foi dividido em 4 etapas – uma para cada bimestre – onde, em cada um deles, os alunos do ensino fundamental 2 (6º ao 9º anos) foram sendo orientados a partir de dinâmicas de escrita criativa e conhecimentos técnicos da escrita narrativa a entrarem em contato com o texto literário.

A proposta foi a escrita de um livro em conjunto – uma coletânea de mini contos – na qual cada aluno escreveria uma história partindo da concepção da escrita concisa, bem aos moldes do livro Entrelinhas Contos mínimos, escrito pelo próprio professor e escritor Leandro, e que todos tiveram acesso de forma online, juntamente com outro livro do autor (esse físico) – Janelas da Alma: uma tempestade íntima, um conflito, um retorno – como forma de mostrar na prática o processo de escrita e publicação de uma obra.

Faltava o fio condutor do livro, e este ficou por conta das memórias de família, que acabou sendo a temática do trabalho como mais uma estratégia de envolver as famílias dos alunos aproximando-as ainda mais do projeto, da escola e deles mesmos, pois, segundo o escritor Bartolomeu Campos Queirós em uma das unidades de um dos livros didáticos dos próprios alunos, “o que não foi esquecido merece ser repensado”.

Como mostra do envolvimento dos alunos, leia a seguir alguns depoimentos bem emocionantes!

Ana Esther Alvim de Godoy – Aluna do 6º ano.
“Essa aventura começou quando tivemos que levar um objeto antigo de família para a escola. Na hora fiquei um pouco preocupada, pois pensei que em casa não teria nada para levar. Fiquei a aula toda pensando sobre aquilo. Chegando em casa comentei com minha mãe e meu pai. Ao entardecer, meu pai chegou em casa falando que tinha pensado em uma coisa com bastante história, e eu fiquei muito empolgada. Era um rádio bem velho, mas em bom estado. Achei muito interessante, pois vinha do passado, o que seria bom, pois estávamos falando de lembranças, não é mesmo?”

Igor Gomes da Silva – aluno do 7º ano.
“Antes de relatar minha experiência com esse projeto, gostaria de parabenizar o meu professor Leandro pela iniciativa, pois estar à frente da construção de um livro requer muita coragem, esforço, dedicação e amor. Quanto a experiência, o tempo que passei com a minha mãe e irmão em busca do material foi muito importante, pois juntos percebemos que naquelas fotografias estavam registrados momentos que eu não teria como me recordar porque era muito pequeno. A fotografia escolhida retratava uma viagem que fiz com toda minha família para um hotel fazenda próximo de Governador Valadares, um lugar lindo, com tirolesa, piscina, sinuca, animais como cavalos e aves”.

Renato Santos Silva – aluno do 8º ano.
“Minha busca pelo objeto foi muito interessante, pois fui à casa da minha bisavó procurar algumas lembranças significativas na minha família para levar à escola. Chegando lá, minha bisavó começou a contar histórias da sua infância e de toda sua vida através dos objetos que tive curiosidade de conhecer. Dentre tantos, optei por dois, sendo eles o cassetete de quando o meu bisavô era soldado, da Polícia Militar de Minas Gerais, o qual minha bisavó sempre guardou com muito carinho para lembrar dele, que infelizmente faleceu. O outro foi o telefone que a esposa do Dr. Domingos Savio, grande médico que teve em Padre Paraíso, havia dado para ela. Minha bisavó gostava muito dele e ele a admirava muito. Sempre que podia, o médico a visitava, e ela, esperta como sempre, aproveitava para fazer uma consulta. Prova disso é que ela tem várias receitas guardadas até hoje”.

Vitória Amaral Neves – aluna do 9º ano.
“Desde que nos foi feita a proposta, questionei-me inúmeras vezes de como a mesma seria realizada, pois cada aluno teria que escrever uma história a curto prazo direcionadas para um livro. Confesso que passou em minha cabeça a possibilidade de que o projeto não seria concluído, mas agora vejo que nada está sendo em vão. Com a procura dos objetos e fotos foi possível que um vínculo fosse criado em nossa família. Relembrar as histórias fez com que criássemos um momento particular entre nós, além do que pudemos nos aproximar de outros alunos e contar o trajeto das fotos e dos objetos levados por nós. Vejo que com o andamento das histórias irá ser um trabalho de incrível repercussão, podendo servir de inspiração para outras escolas, assim ampliando e fortalecendo ainda mais a literatura brasileira”.

Fabiene Ramalho Lopes Dutra, mãe da aluna Hanna Ramalho Dutra, do 6º ano.
“Penso que a leitura tem que fazer parte da educação da criança, e sempre incentivei Hanna a ler, mostrando a ela o quanto podemos aprender com um bom livro. Quando fiquei sabendo do projeto de escrever um livro, achei muito interessante. Uma forma de incentivar os alunos, a desenvolver a leitura e a escrita. O processo de pesquisa e a busca por informações envolveu a família e amigos. Recordamos momentos alegres e tristes, mas que faz parte da nossa história”.

A publicação do livro ficou por conta da Árvore das Letras, através do selo Alforria Literária, também desenvolvido pelo escritor e professor, no qual a publicação obedece a um conceito de sustentabilidade, onde os livros são publicados sob demanda produzidos com capa de papel ecológico inteiramente personalizado com fibras de material orgânico e tinta natural, numa verdadeira artesania literária, sendo o miolo do livro de papel reciclado, demonstrando um valor importante na preservação do meio ambiente, através do uso de recursos renováveis. (Clique AQUI para conhecer os livros e saber mais sobre a Alforria Literária).

A culminância do projeto, como não poderia deixar de ser, será uma noite de lançamento, com data já marcada para o mês de novembro, onde os alunos/escritores irão receber seus convidados e autografar os seus livros, fazendo desse momento mais uma realidade literária de nossas letras, valorizando o que de melhor existe em Padre Paraíso e no Vale do Jequitinhonha: sua própria gente e suas próprias histórias.

Para mim há uma grande diferença entre estudo vivo e estudo morto. Estudo vivo é aquele que pauta sua existência na produção de ideias e não apenas na repetição do que já existe, ainda mais o disfarçando sob o viés do conhecimento. Estudo vivo privilegia o compartilhamento, mesmo que o mundo muitas vezes nos leva a acreditar no contrário e nos faz criar escolas que são regimentos de competições, mas, pelo estudo vivo, aprendemos que há lugar para todos, pois ele cria e vive nas asas das possibilidades. Estudo vivo respira e se pergunta sempre “por que não?”, ao invés de conservar-se no abafamento das respostas prontas que nos faz ter vidas prontas, permanecidas em si mesmas, cinzas, sem perfume e cor. Sempre duvidei das escolas cinzas… Não, não pintem suas salas de aula de cinza. Se for para tê-las, tenha-as coloridas.

Acho que sempre fui indisciplinado, uma espécie de inconformado social, a ponto de não aceitar verdades verdadeiras; elas podem ser falsas e perigosamente destruidoras de sonhos. Também sempre acreditei que uma escola não pode motivar os seus alunos utilizando apenas o velho recurso de provas e notas. Uma escola assim tem algo de muito, muito errado, e alguma coisa precisa ser feita. Este livro é a tentativa dessa coisa, como é a tentativa de tudo o que eu faço, pois livros mudam vidas.

Quando fiz aos alunos a proposta de escreverem um livro, li em seus rostos uma certa descrença. Mas já esperava por isso. Minha tarefa não era apenas concretizar o que eu sabia que eles poderiam, mas tocar-lhes o coração. E isso foi acontecendo gradativamente, até que todos perceberam que sim, era verdade, escreveríamos um livro e que eu não iria desistir.

Uau!! É mesmo verdade! Vamos escrever um livro! Sobre o quê? Aqui entra uma outra coisa que acredito: a família. Sem ela não existimos. É ela que nos nutre, que nos faz acontecer. Precisava envolver não apenas os alunos, mas as suas famílias nas páginas do que seria escrito, confiando que desse encontro surgiriam lembranças, memórias, aproximações e curas, sim, curas, pois a busca de memórias escondidas pode sarar muitas distâncias…

E como diz Bartolomeu Campos Queirós, um escritor que soube muito bem entender como as lembranças moram em nós e delas surgem histórias, “a memória é um espaço interno onde a fantasia conversa com a realidade”, ou seja, “o que não foi esquecido merece ser relembrado”.

Pronto. Estava tudo exposto. Agora era trabalhar, fornecer aos alunos o que precisavam para escrever. Algumas técnicas, umas dinâmicas, um pouco de experiência, um tantinho de informação e muita, muita leitura e uma dose imensa de vontade. O resultado? Bem, está aqui em suas mãos ao alcance de seus olhos. É só virar as páginas e permitir-se ir nessa viagem, que não há feio nem errado; há histórias lindas, reais e imaginadas, também há as misturadas saídas de cada um a sua maneira e que, por isso, já bastam.

Quanto a mim, sigo o meu caminho com um profundo sentimento de gratidão. Obrigado aos alunos, à escola e às famílias por acreditarem que sonhos foram feitos para serem sonhados e muito mais para serem realizados.

Fonte:

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Filemon F. Martins (Quem é Vanda Fagundes Queiroz?)

Escritora, poetisa, cronista, trovadora, declamadora, memorialista, contista, professora, mãe, e hoje também avó, casada com o Dr. Geraldo Queiroz (Cirurgião-Dentista) e mãe de Jone, Eliana, Gude e William. Nasceu em 20 de novembro de 1938, na vila de Santo Antonio da Boa Vista, município de São João da Ponte, norte de Minas Gerais. Viveu parte de sua infância na Fazenda Tipis, segundo ela, “um paraíso, o melhor lugar do mundo”. Filha de Aristides Fagundes de Souza (falecido em 1945) e Maria de Deus Ferreira (falecida em 1999).

Eu a conheci como exímia trovadora quando na década de 80 frequentava as reuniões da União Brasileira de Trovadores – Seção de São Paulo, então sob a presidência do magnífico Izo Goldman. Naquela época faziam parte da UBT-SP, grandes trovadores, como Orestes Turano, Adélia V. Ferreira, Alice Bueno de Oliveira, Clóvis Maia, Lauro de Almeida, Cipriano Ferreira Gomes, Geraldo Pimenta de Moraes, Sara Kanter, Marilita Pozzoli e outros cujos nomes não me recordo, no momento.

Vanda, conforme narra em seu livro “UMA LUZ NO CAMINHO”, com sete anos de idade iniciou o curso primário na cidade de Ibiracatu, naquela época uma pequena vila. Logo de inicio, aflorou a tendência para a arte de ler e escrever, e a menina estudiosa e declamadora tornou-se poetisa, ainda adolescente. Sua vida de infância, até a conclusão do curso primário, foi retratada com emoção no seu livro “UMA CANDEIA NA JANELA”, narração romanceada de seu contexto familiar, baseada em lembranças da infância, mas que indiretamente se faz registro de uma cultura regional, com seu linguajar próprio, culinária, costumes, tipos humanos, traços vivos de um determinado tempo e um determinado espaço restritos a uma rústica região do sertão mineiro.

Continuou os estudos no Colégio Imaculada Conceição, em Montes Claros, progressista cidade do norte de Minas Gerais, e ali fez o curso ginasial e depois se formou normalista (Curso Normal de Formação de Professores Primários). Casou-se em 1958 e foi residir em Curitiba, Paraná. Por concurso público, ingressou no então DCT (Departamento de Correios e Telégrafos), hoje ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Ainda em Curitiba, fez o curso de Letras (Português e Francês) na Universidade Católica do Paraná (PUC), enquanto escrevia crônicas, poemas, trovas e sonetos.

Depois de 16 anos de trabalhos e estudos em Curitiba, em razão da transferência de seu esposo para a Base Aérea de São Paulo, Cumbica – Guarulhos, a família mudou-se para Guarulhos, onde Vanda continuou trabalhando nos Correios, escrevendo e participando de concursos de Trovas e Poesia em todo o país. Licenciada em Letras, tornou-se professora da rede escolar paulista, lecionando, inclusive Francês. Pouco depois, concursada, deixou a ECT e efetivou-se como professora na Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus “Professor Fábio Fanucchi”, em Guarulhos-SP. Em 1984 recebeu medalha de “Professor do Ano”, uma promoção da Prefeitura Municipal. Foi a primeira mulher a ingressar na Academia Guarulhense de Letras (AGL). Ainda em Guarulhos, fez o Curso de Pedagogia Plena, nas Faculdades Farias Brito.

Contando com trabalhos ainda inéditos, publicou até agora cinco títulos: “TRAJETÓRIA” (Poesia), Editora do Escritor, São Paulo, 1981; “DESCORTINANDO” (Poesia), J. Scortecci Editora, São Paulo, 1990; “CONVERSA CALADA” (Sonetos), Editora Lítero-Técnica, Curitiba, PR, 1990; “UMA CANDEIA NA JANELA” (Prosa), Torre de Papel Editora Gráfica, Curitiba, PR, 1997 e “UMA LUZ NO CAMINHO” (Autobiografia), Editora Torre de Papel, Curitiba, PR, 2004.

Premiadíssima nos concursos de poesias e trovas por todo o Brasil e às vezes em Portugal, a poesia versátil de Vanda é repleta de ternura, sensibilidade, profundidade de sentimento, com domínio perfeito da língua portuguesa, mas sem rebuscamento. Emociona quem lê, porque escreve com o coração. No livro CONVERSA CALADA, são sessenta (60) sonetos (incluindo uma versão para o Francês), versando sobre desencontro, esperança, tristeza, alegria, família, criança, flor, fantasia, filosofia, amor, saudade, vida, etc.

Assim, em seus versos encontramos a jovem apaixonada: 

“Quando eu te conheci,
plasmou-se a infinitude
das coisas eternas.

Algum liame perene
para além firmou-se,
muito além das coisas menores.

Estrelas trocaram sorrisos,
anjos tocaram guizos.

Nasceu o inexplicável,
o essencial,
o verdadeiro”. 

A mulher casada e mãe, embevecida com suas crianças, como escreveu no soneto A Meu Filho: 

“Vejo a criança de ontem em você,
que embalei nos meus braços ternamente.
Sinto inundar-me de emoção porque
eu vi botão a flor hoje imponente”. 

Ou ainda, a avó saudando o primeiro neto: 

“A notícia é como afago,
traz-me ternura e carinho:
Que bênção! Chegou Tiago,
o meu primeiro netinho”.

Lendo a poesia espontânea, vibrante e suave de Vanda Queiroz é impossível não nos lembrarmos da grande poetisa de Goiás, Cora Coralina, com suas “Estórias da Casa Velha da Ponte”.

Retornando a família em 1985 para Curitiba, Vanda aposentou-se do magistério e passou a ocupar-se com trabalhos de revisão de texto, além de desempenhar serviço voluntário na igreja. Ocupa, hoje, a cadeira nº 12 da Academia Paranaense de Poesia. Pela sua obra literária, foi agraciada em 2008 com a Medalha de Mérito “Fernando Amaro”, promoção da Prefeitura Municipal de Curitiba. Só no âmbito da trova, conta com mais de trezentas premiações. Eis uma pequena amostra: Em Niterói, RJ: 

“Sombra e luz fazem nuança
no largo painel da vida.
Luz é o raio de esperança,
e sombra, a ilusão perdida”. 

Pouso Alegre, MG: 

“Olhando o velho retrato
da praça, eu ouço à distância
acordes que são, de fato,
cirandas da minha infância”. 

Bandeirantes, PR: 

“A mais sublime lição
de grandeza, amor e fé,
foi ver um homem sem mão
pintando flores com o pé”. 

Campinas, SP: 

“Por mais que o progresso iluda,
deturpe e inverta valor,
o que Deus fez ninguém muda:
o amor será sempre amor!”

Sua preocupação social é patente no poema “Menino da feira”, 1º lugar no Concurso Rosacruz, em Guarulhos, SP: 

“Menino da feira,
esperto e magrinho,
tão cedo na vida
perdeu seu lazer.

Carreto, moça?
Baratinho, dona!
Posso cuidar do carro, tia?

Menino insistente
pedindo com os olhos
que guardam no fundo
segredos do lar…

(Talvez o pai fugiu…
A mãe leva para fora…
Oito irmãozinhos com fome...)

Menino
sem direitos…
só deveres.

Seus pais, onde estarão?
Talvez você seja filho…
da minha própria omissão.”

Segundo Adélia Victória Ferreira, “Vanda não precisa de apresentações ou apologistas. Sua arte fala por si. Basta conhecê-la para se constatar que ali se desvenda uma das maiores poetisas brasileiras da atualidade”. Bem definiu a professora Elisa Campos de Quadros, Mestre em Letras e Professora Adjunta de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Paraná, quando disse: “A alma doce e introvertida da autora demonstra, nesse impulso para o retraimento, que a poesia coabita mais com a solidão do que com o barulho, viceja mais no silêncio do que no burburinho”. E acrescenta que: “Conversa Calada é uma obra que traz canto, encanto e encantamento”.

Está presente no “Anuário de Poetas do Brasil – 1980 – 3º volume, organizado pelo saudoso poeta Aparício Fernandes, Rio de Janeiro, RJ, páginas 447/452 com dez sonetos primorosos. Figura também no “Anuário – Coletânea de Trovas Brasileiras (página 10) e em ESCRÍNIO, Seleção Anual de Trovas (página 14) ambos de 1981, organizados pelo saudoso trovador Fernandes Vianna, Recife – Pernambuco.

Assim, a mineira de nascimento e paranaense de coração, ou por adoção, vai construindo sua obra literária sem alarde, mas forte, vigorosa e contínua, sem abdicar, contudo, da ternura e da simplicidade, garantindo um lugar de destaque no Panorama da Literatura Brasileira.

BIBLIOGRAFIA:
Anuário de Poetas do Brasil – 1980 – 3º volume, Aparício Fernandes, Folha Carioca Editora Ltda, Rio de Janeiro, RJ;
Anuário – Coletânea de Trovas Brasileiras – 1981, Fernandes Vianna, FIDA Editorial, Recife, PE;
Escrínio – Seleção Anual de Trovas – 1981, Fernandes Vianna, FIDA Editorial, Recife, PE;
Conversa Calada – Vanda Fagundes Queiroz, Editora Lítero-Técnica, 1990, Curitiba, PR;
Uma Luz no Caminho – Vanda Fagundes Queiroz, Editora Torre de Papel, 2004, Curitiba, PR.

Fonte: