segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Aparecido Raimundo de Souza (Inimaginável)

A SENHORITA DONA MORTE é uma mulher extremamente linda. Conta (até onde se sabe), vinte e dois anos. Possui os cabelos castanhos, retos e soltos até a altura da cintura. Na parte da frente, franjas de cortinas, lhe caem em cascata das sobrancelhas até o nariz. Os olhos pecaminosamente esverdeados lembram uma princesa dos contos de fadas. Todavia, apesar de encantadora, a donzela vive solitária. Sozinha, sem ninguém, se faz enfurnada numa mansão grandiosa de muitos quartos e banheiros. Uma cozinha requintada acomoda todas as modernidades imagináveis da sua rica ocupante. Varandas enormes se enfeitam com flores perfumadas e bem cuidadas. Tudo ao redor de sua residência resplandece cercada por uma paisagem linda e indescritível. 

Apesar de todo esse cartão postal num bairro nobre de São Paulo, nos fundos do quintal um bando de corvos mora encoberto por muitas sombras de compleições insondáveis. A insinuante não tem amigos, nem família, nem amor. Somente o seu mísero e desgastante trabalho. Que tipo de oficio tal criatura desenvolve para uma preciosidade tão chiquérrima? Não outro, senão o de levar as almas dos mortais para a elegantíssima barragem de Guarapiranga, entre os municípios de Itapecerica da Serra e Embu-Guaçu. Da sacada de seu quarto, se avista um muro alto cercando toda a frente da construção. Para além dele, se descortina uma rua calma e cheia de árvores frondosas onde a pasmaceira e o silêncio reinam absolutos. Na verdade, a infeliz odeia a sua atividade. Se constitui, tal farfúncia, num ofício sujo, degradante e horrendamente tedioso. 

Por conta, a jovem abomina do mais fundo de seu coração, ver o sofrimento, o medo, a angústia e a infelicidade dos que partem. Ela se apoquenta também em face de ser amaldiçoada por eles, não obstante temida e evitada. Se enraivece profundamente em decorrência de ser a “causa-chave” de tantos infortúnios e desgraças. Questão de uma semana, recebe do Pai Celestial, uma nova missão. Essa, contudo, especial. Deve ir buscar a alma de um escritor famoso, que está prestes a morrer, não de velhice, de alguma enfermidade que não lhe fora revelada. Conta o “futuro defunto,” quarenta anos. Ela sabe que ele se agiganta além de um homem talentoso. Tem publicado mais de trinta livros de crônicas, todos, sem exceção, recheados com histórias sobre os mais diversos temas, entre eles, a vida plena, o amor mais puro, a esperança e, sobretudo, a magia indescritível de viver. 

A senhorita dona Morte sabe que ele tem muitos fãs, admiradores e, claro, uma enorme legião de amigos. Sabe mais: que a sua saída brusca da vida terrena será muito lamentada. No dia que resolve ser o momento fatal do “escolhido pelo Supremo,” se encaminha até o casa dele em Aldeia da Serra. Furtivamente penetra naquele ambiente acolhedor sem fazer barulho. Passa pela cozinha. Tudo em ordem. Nada fora do lugar. Na sala, uma biblioteca imensa lhe contempla. Ao se dirigir para o quarto, encontra com a vítima que viera tirar o ar que respira. Deitado em sua cama, de bruços, ele dorme e ronca. Ao lado (seu notebook, um punhado de livros, e um bocado de papeis avulsos), possivelmente anotações para suas criatividades. A deslumbrante se aproxima e conclui que ele está, de fato, nos braços de Morfeu. 

Fita seus olhos cerrados e sorri. Com a chegada daquela personagem tão admirável, instantes depois ele desperta e a cumprimenta:
— Olá, senhorita dona Morte. Seja bem-vinda. Vai lhe parecer meio incrível, mas estava esperando por sua doce presença.

A senhorita dona Morte se põem surpresa. Nunca tinha sido recebida com tanta gentileza e cordialidade:
— Como você sabe quem eu sou? – Ela pergunta espantada:
— Eu sei de muitas coisas. Sei que você é a responsável por levar as almas dos que se vão para algum lugar que desconheço o paradeiro. Eu sei que você é a mais temida e odiada de todas as criaturas. Eu sei, lado outro (agora entrando em sua intimidade), que apesar de um ser inimitável, é muito solitária.
— Como chegou a essa conclusão?
— Porque escrevi sobre você. Dei vida a uma narrativa elegante sobre a sua pessoa, ou seja, sobre a sua especialidade como ser divinizado. Resumindo, a Morte como pessoa. Na verdade, escrevi um texto que nunca publiquei. Está aqui no meu Note. Se quiser abrir e ler. Guardei para mim. É uma crônica que escrevi especialmente para esse momento.

A senhorita Morte franze o cenho:
— Para mim?

O escritor mostra um sorriso de canto a conto do rosto e prossegue:
— Sim, para você. Eu quero que saiba que eu não tenho medo de sua pessoa. Que não lhe odeio, e, sobretudo, que lhe compreendo. Eu quero que você saiba que não está sozinha... você tem alguém que se importa com você, que lhe admira. Eu quero que você saiba que lhe acho linda, ou seja, você é uma gatinha especial, e, para mim, em particular, uma menina na flor da idade deveras importante.
— Por que você fez isso? Por qual motivo se importa comigo?

E o escritor, então, se declara, o coração transbordando em festa: 
— Porque eu lhe amo... digo... eu te amo!
— Me ama? Fala sério!

A senhorita Morte não acredita no que ouve. Ela nunca tinha recebido assim, de chofre, palavras tão elogiosas, pelo menos até aquele instante. De igual forma, jamais experimentou esse sentimento de felicidade. Percebe que por dentro de sua alma enegrecida, algo novo, vindo do mais escondido, aflora. Se aquece, em seu peito, uma consternação, uma idolatria que ela não sabe o que significava, ou pior, de onde veio:
— Você me ama?
— Sim, eu lhe amo. Eu lhe amo desde que lhe vi pela primeira vez, em um de meus sonhos. E depois, face a face, quando apareceu para buscar minha mãe e, meses depois, meu padrasto. Amei ainda com mais intensidade depois que comecei a escrever sobre você. Eu lhe venero de uma maneira única. Eu lhe amo desde que soube que um dia viria me buscar, em vista de mais uma de suas missões em nome do Altíssimo.
— Mas como isso é possível? Como você pode amar alguém como eu?
— Como isso não é possível? Como não poderia amar alguém como você? Você é a Morte. Em oposto, representa a vida. Você é a dor, em igual norte, é o antídoto da cura. Você é a escuridão, entretanto se resplandece vestida de luz. É portadora de momentos tristes, porém, respira tranquilidade. Do seu olhar pressinto faíscas de eternidade. Você é a senda que leva ao Pai. Você é tudo o que eu sempre quis. Tudo o que eu sempre precisei. Tudo o que eu a meu jeito amei desde que soube de sua existência.

O escritor num gesto de maviosidade e brandura, estende as mãos para ela.  A senhorita Morte as recebe entre as suas. Ele a puxa para perto de si, com suavidade, e ela se deixa ser subjugada. Ele a abraça, e ela, se flagra domada, enfraquecida, se aconchega. No instante seguinte, ele a beija com sofreguidão e ela se entrega sem melindres. Ambos ficam assim por um tempo. Um espaço infindo, sem se importarem com o mundo, sem se preocuparem com o tempo, sem se incomodarem (ela principalmente) com a missão recebida do Criador. Naquele momento crucial, a viagem dele, para os aniquilamentos do destino sem volta. Sem levarem em conta as horas, o tempo, a missão, ele num repente a desveste. Peça por peça. Coloca a nua. Em seguida se tocam, se acariciam... por fim, fazem amor. Um amor anormal e Inaudito. Dia seguinte, logo cedo, ela acorda primeiro. 

Ao vê-lo desperto, anuncia o que ele, de antemão, sabe de cor e salteado: 
— Meu amor, está na hora – diz a deidade, finalmente:
— Eu sei, minha joia rara – sussurra ao ouvido dela lentamente.  Faça o que tem de fazer... 
— Meu Deus, que situação! Estou pasma. Na verdade, passada!

O escritor procura acalmar os anseios da senhorita Morte:
— Você veio para me levar. Vamos, minha princesa. Vá em frente. Cumpra com seu dever. Não pense em passar o “Homem Lá de Cima” para trás.  

A Morte sorri, emotiva e brejeira:
— Eu vou cumprir com meu dever. Me diga: você vai ficar bem?
— Confesso a você, não sei...
— Ao menos, vai se lembrar de mim?
— Nunca lhe esquecerei. Você é e será a minha passagem mais tresloucada, ou a minha morte mais inesquecível de todas... te amo... te amo...

O escritor sorri, beija a senhorita Morte longamente. Em seguida, cerra os olhos. Ele chora, ela também se debulha em lágrimas. De repente, a musa o carrega para a barragem de Guarapiranga. E então, sem mais delongas, solta a sua alma. O Senhor de Todas as Coisas o espera e, em contínuo, o leva para o outro lado e ela o deixa partir. Passo seguinte, tarefa findada, volta correndo para a sua mansão. Regressa triste e pesarosa. Guarda numa pastinha a sua história. A que ele havia escrito para ela. A senhorita Morte nunca mais o viu, tampouco, jamais o perdeu. Em paralelo, se fechou para as coisas sublimes do amor. Sabia que o seu amado estava nos braços do Criador. Ela, na verdade, nunca mais o esqueceu. Sempre que sobra um tempo, passeia por todo o entorno de Guarapiranga. E chora muito quando pensa em seu lindo e adorado escritor. E a seu modo inexplicável, sente pulsante a presença dele. A senhorita Morte está grávida. Em breve, um novo ser virá ao mundo.    

Fonte: Texto enviado pelo autor

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Vanice Zimerman (Tela de versos) 29

 

Mensagem Na Garrafa = 97 =

Fábio Luciano Violin
Rosana /SP

LIDANDO COM PESSOAS

Poucas coisas na vida são mais difíceis do que lidar com seres humanos. As pessoas, por natureza, apresentam comportamentos diversos que vão do amor ao ódio, passando pela apreensão, vergonha, irritação, medo, entusiasmo, apatia, empatia ou antipatia.

Lidar com a diversidade de comportamentos e motivações humanas – aqui entenda motivação como o motivo que leva a algum tipo de ação – é uma tarefa que exige percepção apurada e capacidade às vezes sobre humana. Afinal nem todo comportamento é passível de entendimento fácil e rápido. Na maioria das vezes ter "jogo de cintura" é uma habilidade bastante exigida de nós.

Como exemplo, observe as pessoas que trabalham com você. Veja as dissonâncias de visão do mundo, engajamento com a causa da empresa, nível de comprometimento, capacidade intelectual e assim por diante. A partir desta análise, você vai poder perceber que gerir pessoas ou conviver com elas no trabalho é na maioria das vezes uma tarefa árdua e não necessariamente gratificante, pois em muitas situações entramos em atrito, nos desgastamos ou convivemos em climas que variam do bom ao pesado.

Uma das coisas que mais precisam ser valorizadas, atualmente, são os aspectos psicológicos que movem as pessoas a decidirem ou não por algum tipo de ação. Entender ou, ao menos, buscar entender os mecanismos de decisão das pessoas ajuda a definir qual a forma de treinamento necessário, a forma de corrigir erros ou estimular e incentivar.

A partir deste enfoque podemos perceber que as pessoas – agora clientes externos – não compram coisas físicas, elas buscam coisas emocionais, ou seja, adquirem aquilo que os produtos ou serviços podem fazer por elas. As pessoas buscam comprar o maior benefício possível, considerando seu nível de rendimento.

Uma mulher não compra um creme anti-rugas, compra sim beleza e rejuvenescimento.

Um cardíaco não compra um remédio para estabilizar sua situação, compra esperança de viver mais.

Um homem não compra um aparelho de barbear, compra melhor aparência.

O que quero salientar com isto é que nós, enquanto empresa, temos a função de engajar a todos que trabalham conosco na tarefa de adequar cada uma das nossas ações em busca de uma entrega positiva para aqueles que nos procuram com algum tipo de desejo ou necessidade. É óbvio que nem todo cliente é bom e que também não são todos que queremos.

Infelizmente a vida real não nos permite dizer que conseguiremos sempre 100% de acerto. No entanto, é preciso buscar meios de errar menos, meios de tentar refinar aquilo que consideramos importante e que venha agregar valor à nossa empresa, produto ou serviço da melhor forma possível.

Lembre-se, o mundo jamais foi dos pessimistas. Ter e, poder fazer algo é próprio da natureza humana. Como dizia um antigo comercial "nada supera o talento". Nada supera a capacidade humana de reverter situações e ter esperança e ações para melhorar o meio no qual vivemos.
(in Portal da Psique, 22/04/2003)

Chico Anysio (Injeção de adrenalina)

Pisando macio, girou a chave na porta e se levou para o quarto sem acender as luzes. Evitava que o velho Tomás percebesse de que só agora chegava. O velho o acreditava dormindo desde nove e meia.

De short e sem camisa, tentava espantar o calor e chamar o sono, ao mesmo tempo em que buscava uma solução para o seu problema financeiro.

Foi quando escutou o grito.

— Depressa, a Adrenalina!

A voz do velho Tomás mais uma vez ecoava rouca pelos corredores, chamando Raulzinho no seu quarto.

— Estou morrendo!

Sucedia pelo menos duas vezes cada mês. Raulzinho levantava com a lepidez costumeira, tomava da seringa, previamente fervida, serrava a ampola e, em sessenta segundos, fazia o líquido penetrar na veia do velho Tomás, seu rico tio, salvando-o da morte.

Nessa noite teve a ideia.

— Raulzinho! — insistiu o velho, com a mão apertando o peito.

— Tou indo!

O velho respirava com dificuldade, mas agora com a tranquilidade a lhe chegar, por saber do sobrinho a caminho.

O velho Tomás, pequenino e simpático como um velhinho de cartoon, testa aumentada pelo constante cair dos brancos cabelos sempre despenteados, não tinha filhos porque a mulher, falecida há alguns anos, não lhe dera nenhum. Criara Raulzinho, todavia, como se dela tivesse nascido.

Isto explicava o enorme cuidado do rapaz pela saúde do velho — magistrado aposentado — verdadeiramente tio, porém bem mais pai do que o pai o fora.

— Um segundinho, um segundinho! — avisava Raulzinho, arrastando os chinelos pelo corredor de tábua corrida, Adrenalina já posta na seringa, pensamento ruim a lhe mexer na cabeça.

— Dez minutos. Se eu tivesse demorado mais um pouco...

O velho já o aguardava com a manga do pijama levantada, veia à espera do medicamento.

— Depressa, meu filho... — implorava o velho, num lamento que já não o comovia, pelo tanto que se repetia.

— Prontinho...

O velho fechava os olhos. Incomodava-o, sempre, o enfiar da agulha.

— Puxa. Esta semana foi a segunda vez.

— Hem?

— Duas vezes, esta semana. — repetiu Raulzinho, menos filho do que o habitual.

— É. Está piorando. Se não fosse você...

— Por mim você não morre nunca. Eu praticamente não durmo, de ouvido atento, pai.

Chamou-o "pai", como sempre fazia, mas desta vez de uma maneira acintosa. Já tinha retirado a seringa da veia que se dobrava a espremer o algodão. Deu um jeito melhor nos lisos cabelos do velho, fê-lo ficar mais confortável no travesseiro, acertou-lhe o lençol, beijou-lhe a testa de muitas rugas.

— Eu devia dormir aqui no quarto com você.

— Não precisa. — falou o velho, num fio de voz, cara relaxada pela descontração que a Adrenalina provocara.

Raulzinho abriu a veneziana, fechou melhor a cortina marrom, novamente beijou o velho e voltou à cama, pensando em dinheiro. Trinta dinheiros era o que pensava.

A ideia, já tivera. Como realizá-la, o dicionário explicou: embolia. O livro policial que lera há pouco garantia a dificuldade do diagnóstico da injeção de ar na veia. Os sintomas eram os da morte por colapso. O coração do velho Tomás, com o progresso dos ataques — os vizinhos eram testemunhas — ao parar, não poderia trazer acusações a ele, santo filho, sempre atento para a aplicação da injeção salvadora.

Na mesma noite o velho Tomás sentiu o aperto no peito.

— Depressa, Raulzinho!

Não teve pressa. Gritou que já ia e tomou da seringa com um suor de mão que procurava enxugar na perna do short.

— Depressa! — repetiu o velho, mais rouco e mais tenso.

A seringa foi levada como se fosse uma arma. A diferença é que nela não havia líquido, apenas os centímetros de ar suficientes para lhe dar a herança.

— Já tou indo! — gritou, enquanto derramava na privada a Adrenalina tirada da ampola, cuidando de dar a descarga.

Dissimulava a excitação o melhor possível.

— Estou aqui, pai — disse, como sempre, olhando a seringa contra a luz pequena que o abajur produzia.

— Não, Raulzinho. Não preciso de injeção. É que eu estive pensando numa coisa. Eu estou velho, no fim da vida. Pra que eu quero dinheiro? Amanhã vamos ao tabelião e eu vou passar tudo o que tenho para o seu nome. Você não necessitará mais ser empregado de ninguém, pode abrir um negocinho, sei lá...

Pensou em atirar a seringa contra a parede e, ajoelhado aos pés do velho Tomás, pedir perdão pelo que se dispunha a fazer. Não pôde, faltou-lhe chão aos pés. Os olhos, anuviados, não o deixaram ver nada além de sombras que se desmanchavam muito depressa.

Caiu, com a mão no peito. A seringa rolou para o canto da parede.

O velho Tomás levantou da cama com rapidez juvenil e, muito preocupado com o desmaio do filho, nele aplicou a injeção que Raulzinho trazia para salvar a vida do "pai".

Fonte: Chico Anysio. O Enterro do Anão. Publicado em 1973.

Wanda de Paula Mourthé (Canteiro de Trovas) = 7


A capela da colina
não tem lustres de cristais,
porém a Luz que a ilumina
vem do céu… e brilha mais!
= = = = = = = = = 

Ao luar, que me arrebata,
sem você, se ouço um chorinho,
a saudade que maltrata,
me faz chorar de mansinho.
= = = = = = = = =

As nossas carícias plenas
de um desejo abrasador
transformam noites serenas
em desvarios de amor...
= = = = = = = = = 

A tua ausência aparente
não espelha a realidade:
mesmo longe, estás presente
por milagre da saudade.
= = = = = = = = = 

Brilho, sombra e agora o breu:
roteiro de vida a dois...
Amor fugaz que morreu
sem a chance de um depois.
= = = = = = = = = 

De jamais adormecer,
a saudade não se cansa
e comigo vem fazer
a vigília da esperança...
= = = = = = = = = 

Em delírio, eu acredito;
meu amor transcende espaços,
mas, mesmo sendo infinito,
cabe inteiro nos teus braços!
= = = = = = = = =

Em momentos cruciais,
aos heróis trazendo glória,
audácia é um impulso a mais,
que muda os rumos da História.
= = = = = = = = = 

Em vigília, à madrugada,
se o vento bate à janela,
a saudade, alvoroçada,
logo diz: — Mensagem dela!
= = = = = = = = = 

Forçada a escolhas na vida
— teatro que não domino —
fui marionete movida
pelos cordéis do destino!
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Fugindo ao mundo indiscreto,
o nosso amor desvairado,
em seu refúgio secreto,
nem se importa se é pecado!
= = = = = = = = = 

Não vens... rendo-me à evidência...
Fim da espera e da ansiedade,
porque a dor da tua ausência
cristalizou-se em saudade.
= = = = = = = = = 

Na roça, a chuva é um tesouro,
que o milharal agradece,
se erguendo em espigas de ouro
à praia que em gotas desce.
= = = = = = = = = 

Na varanda aconchegante,
é o luar, feixe de luz,
mágica escada rolante
que às estrelas me conduz...
= = = = = = = = = 

Os meus sonhos — feito espuma
rendilhando a maré-cheia —
sem ter esperança alguma,
vêm desfazer-se na areia...
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O vinho ao pé da lareira,
teu carinho, teu calor...
Como não ser prisioneira
desses prazeres de amor?
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Quando a noite estende o véu,
e a lua surge, tão linda,
a serra, perto do céu,
ganha mais encanto ainda!
= = = = = = = = = 

Que bom seria um enlace
entre a mente e o coração:
o que a gente desejasse
também quisesse a razão!
= = = = = = = = = 

Quem cultiva a intransigência
e ao erro nega perdão
colhe os frutos da inclemência
no pomar da solidão.
= = = = = = = = =

Sem outra opção que a rotina
de esperar-te, sempre em vão,
minhas noites de neblina
só gotejam solidão...
= = = = = = = = = 

Sempre antecipo delícias
nas cartas de que és autor:
são escassas de notícias,
porém são fartas de amor.
= = = = = = = = = 

Sou barco em mares bravios,
que, tendo por leme a fé,
enfrenta até desafios
de singrar contra a maré.
= = = = = = = = =

Ter um bem... amar agora
é alegria em meu poente,
pois o amor é sempre aurora
que raia dentro da gente.
= = = = = = = = = 

Teu amor, em nossa história,
inconstante, me atormenta,
feito duna migratória
que o vento não sedimenta...
= = = = = = = = = 

Tua partida me fala
do teu desprezo... um açoite!
E a saudade não se cala,
nem na calada da noite...
= = = = = = = = = 

Volto à capela em que, um dia,
me esperaste ao pé do altar...
E hoje a saudade, em magia,
me espera no teu lugar.
= = = = = = = = = 
Fonte> Wanda de Paula Mourthé. Com…passos de emoções. Belo Horizonte: Flux, 2013. Enviado pela Trovadora.

Contos das Mil e Uma Noites (As estranhas coincidências da vida)

Ao inspecionar certo dia o seu reino, acompanhado por seu vizir Jafar, o califa Harun Al-Rachid viu, sendo retirado do rio Tigre, o corpo de uma mulher assassinada. 

O califa comoveu-se e disse a Jafar: “Se não descobrires o assassino desta pobre mulher, serás enforcado no seu lugar.” 

Jafar teve sorte, pois o assassino se apresentou por si mesmo ao califa e contou a seguinte história:

“Sabei, ó Comandante dos Fiéis, que esta mulher era minha mulher, mãe de meus três filhos. Amava-a, e ela me amava. No início deste mês, adoeceu e disse-me: – “Tenho, ó Ali, o desejo de comer uma maçã.” 

“Corri ao mercado, determinado a comprar maçãs até por um dinar a unidade. Mas não havia maçãs no mercado. E um agricultor me disse: – “Esta fruta é rara. Só pode ser encontrada em Basra no jardim do califa.” 

“Por amor à minha mulher fiz a viagem até Basra em quinze dias e quinze noites. E convenci o jardineiro do califa a me vender três maçãs por três dinares cada. Ao voltar, encontrei minha mulher ainda mais doente. Colocou as três maçãs de lado e não as comeu. 

“Fui à minha loja e comecei a comprar e vender quando vi passar um negro alto e forte, segurando na mão uma das três maçãs. Disse-lhe: – “Ó bom escravo, conta-me onde conseguiste esta maçã para que consiga outra igual para mim.” 

“Respondeu: “Foi-me dada por minha amante. Voltei ontem de viagem e fui visitá-la. Encontrei-a doente com três maçãs a seu lado. Disse-me: “Meu marido foi até Basra comprá-las para mim.” Comi e bebi com ela, e fiquei com uma das três maçãs.”

“Ao ouvir estas palavras, ó Comandante dos Fiéis, o mundo ficou preto aos meus olhos. Fechei minha loja e voltei para casa. Lá, vi apenas duas maçãs. 

– “Onde está a outra maçã?” perguntei à mulher. 

“Respondeu languidamente que não sabia. Convenci-me de que as palavras do escravo eram verídicas e, na minha raiva, saquei de meu punhal, matei minha mulher e joguei-a no Tigre. De volta para casa, achei meu filho mais velho chorando. 

– “Por que está chorando, meu filho? – perguntei-lhe”.

“Respondeu: -“Tomei uma das três maçãs da mamãe para brincar com ela; mas um negro alto e forte arrancou-a das minhas mãos. Chorei e contei-lhe que meu pai tinha ido até Basra comprar três maçãs para curar a doença de mamãe. Mas ele não me deu atenção. Levou a maçã e foi embora.” 

 “Aí, entendi a trama e lamentei meu erro. Mas era tarde demais. Sou culpado. Mereço a morte, ó Comandante dos Fiéis,” concluiu o comerciante. 

O califa ficou furioso contra o escravo caluniador e mandou Jafar descobri-lo dentro de três dias. “Senão, serás enforcado em seu lugar.”

Jafar não teve sorte desta vez. Procurou em vão pelo escravo criminoso. No terceiro dia, estava se despedindo da família antes de se apresentar à forca quando, ao abraçar a filha, sentiu algo redondo dentro de sua roupinha. 

- O que é isto, minha filha? perguntou. 

- É uma maçã , respondeu. Rohan, nosso escravo, trouxe-a há quatro dias e só aceitou me dar contra dois dinares. 

Jafar chamou seu escravo e perguntou-lhe: “Onde conseguiste esta maçã?” Respondeu: “Ó meu amo, a mentira às vezes nos salva. Mas eu falarei a verdade. Há cinco dias, passando na rua, vi-a nas mãos de um menino desconhecido e arranquei-a. O garoto chorou e disse que seu pai tinha ido até Basra comprar três maçãs para curar a mãe doente. Mas não me importei. Trouxe a maçã e dei-a a esta minha pequena ama.” 

Jafar ficou abismado ao saber que toda a tragédia fora causada por seu escravo. Levou o escravo ao califa e fê-lo repetir a história. O califa maravilhou-se com tantas coincidências e riu até que as lágrimas lhe vieram aos olhos. Perdoou o escravo e fez um rico presente ao viúvo infeliz.

Fonte: As Mil e uma noites. (tradução de Mansour Chalita). Publicadas originalmente desde o século IX. Disponível em Domínio Público.

Hinos de Cidades Brasileiras (Irati/PR)


Letra e música: Silvio Francisco Ribeiro

Irati, Irati, cidade amada
Que marchando na trilha do sucesso
A bandeira, ostentas desfraldada
Com o brado de ordem e progresso

Irati, Irati, terra querida
Para honrar este nome tão pujante
Tua gente trabalha destemida
Pelo bem do Brasil gigante

Tens escolas, tens indústrias
E tens campanhas de trigais
Onde os filhos que são fortes
Teu perfil elevam sempre mais

Lá no morro a linda imagem
Que é nosso altivo relicário
Lembrará à posteridade
O teu feliz cinquentenário.

sábado, 3 de fevereiro de 2024

Mensagem na Garrafa = 96 =

Vicente de Carvalho
Santos/SP, 1866 – 1924

A FLOR E A FONTE

“Deixa-me, fonte!” Dizia
A flor, tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria
Cantava, levando a flor.

“Deixa-me, deixa-me, fonte!”
Dizia a flor a chorar:
“Eu fui nascida no monte...
Não me leves para o mar.”

E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.

“Ai, balanços do meu galho,
Balanços do berço meu;
Ai, claras gotas de orvalho
Caídas do azul do céu!...”

Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Rolava, levando a flor.

“Adeus, sombra das ramadas,
Cantigas do rouxinol;
Ai, festa das madrugadas,
Doçuras do pôr do sol;

Carícias das brisas leves
Que abrem rasgões de luar...
Fonte, fonte, não me leves,
Não me leves para o mar!”
* * 

As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor...

Cantiga Infantil de Roda (Oh! Que belas laranjas!)


É uma roda de meninas, cantando:

Oh! Que belas laranjas, 
Ó maninha
De que cor são elas? 

Oh! Que belas laranjas, 
Ó maninha
De que cor são elas? 

Elas são 
Verde, amarelas 
Vira, Maninha
Cor de canela 

Elas são 
Verde, amarelas 
Vira, Maninha
Cor de canela 

Todas as vezes que cantam — Vira Maninha — uma das meninas se volta para fora da roda, conservando-se de mãos dadas. A ronda termina quando a última criança se volta para fora, ficando todas de costas, umas para as outras, sem soltar as mãos

Fonte: Veríssimo de Melo. Rondas infantis brasileiras. São Paulo, Departamento de Cultura, 1953.

Laé de Souza (Os dois amigos)

O Zé e o Tião eram amigos de infância. O Tião virou Dr. Sebastião e o Zé continua Zé. Mas era coisa previsível. Desde criança o Tião estudava enquanto o Zé não queria saber de nada. Com o passar do tempo o Sebastião continuava estudando e trabalhando e o Zé só em zoeira, bagunça, peladas, serestas e bebedeiras. O Tião comprou seu primeiro carro Aero Willys, depois trocou por outro e outro e hoje tem um quase zerinho e o Zé continua andando, de vez em quando, em bicicleta emprestada dos amigos. O Tião noivou e no casamento endividou-se para fazer uma festa de arromba. O Zé continua namorando e todas elas sabem que ele namora com todo mundo e nunca vai levar um caso a sério. O Tião anda com uns probleminhas com a sogra, mas acha que dá para desenrolar, principalmente depois que a mulher reclamou e ameaçou que se ele não acabar com as besteiras ela vai fazer o mesmo com a mãe dele. Sinceramente, o Zé nunca viveu isso e nunca teve sogra por muito tempo.

O Tião se preocupa com a bolsa, queda do dólar, preço dos imóveis, reclamações do caseiro, aumento na mensalidade da escola dos filhos, o acréscimo de despesa com o inglês do Juquinha, com a escola de computação e o tratamento dos dentes da Leninha. E o Zé desconfia que tem alguns filhos por aí, mas nem se liga e só fica fulo quando percebe que a sua Schincariol gelada subiu de preço. O Dr. Sebastião mede seus atos e palavras e tem, quer queira ou não, mesmo inconscientemente, que dar uma puxadinha de saco no chefe e participar de todas as festas e comemorações da empresa, mesmo não se sentindo bem com a companhia de certos colegas. Enquanto o Zé fala o que lhe der na telha e só vai em festas quando a pinga rola solta, o forró é bom e tem mulher bonita. O Dr. Sebastião torce pela estabilização da economia e para o aumento das vendas da companhia, para garantia do seu emprego, sendo que o Zé não está nem aí com a vida, nem com o desemprego. Pra ele qualquer coisinha é coisa e como diz: "Pra quem nasceu pelado, tanga é uma grande vestimenta."

A cada ano, nas férias do Dr. Sebastião, eles se cruzam na praia. O Tião sabe que o Zé sempre estará por lá, não é à toa que ele tem aquela cor queimadinha. Batem papos descontraídos e o Zé ainda o chama de Tião (até a mãe deixou de chamá-lo pelo apelido), ensina-o outra vez como comer siri, a simpatia para não se embebedar com a caipirinha e já alto o leva na mesa do lado para apresentar-lhe umas amigas (por sinal lindas e charmosas). Tião até ameaça cantarolar junto um samba batucado na caixa de fósforos, enquanto a sua mulher, já alta, continua lá na mesa e o olha com rabo-de-olho, ele sabe que como sempre ela vai ficar uns dias de ovo virado. 

De novo, na volta para casa, vai pensando, por que diabos quis levar a vida tão a sério e sente inveja e uma vontade imensa de ser o Zé. Nunca conseguiu dominar esse sentimento e em todo final de férias precisa voltar ao psicanalista, para se convencer de que o anormal é o Zé.

Fonte> Laé de Souza. Acredite se quiser. SP: Ecoarte, 2000. Enviado pelo autor.

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) LXIV


A chuva em seu acalanto,
não causa ofensa ao sertão!
Mata a sede e acaba o pranto
dos olhos tristes do chão!
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Ainda espero o teu regresso,
se é que ainda esperas por mim;
pedir que voltes, não peço,
mas te espero até o fim!
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Andando não sei por onde,
nas asas da soledade,
toda tarde o sol se esconde
pintando o céu de saudade!
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Ao lembrar dos tempos idos,
na vida, quanta lembrança!...
Contando os sonhos perdidos,
vi meus sonhos de criança!
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Busco a esmo, mundo afora,
rastros de um velho andarilho,
que se fez raio de aurora
no coração de seu filho!
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Busquei, na fonte de um templo,
a paz de um novo horizonte;
e achei essa paz no exemplo
que há no silêncio da fonte!...
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Cercada de lenda e encanto,
teu poço nunca secou...
Meu Caicó canta o canto
que o Seridó lhe ensinou!
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Dentre as estrelas brilhantes,
no céu, repletas de luz...
Cinco estrelas faiscantes
lembram-me o sinal da cruz!
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Eis que esse gesto de amor,
comparo às forças do além.
Que a planta que oferta a flor
perfuma as mãos de outro alguém!
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Esse dia me distrai,
e enche-me de amor, de afetos;
dos afetos, por ser pai
das filhas e dos meus netos!
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Esses teus lábios, menina,
lembram-me os lábios da flor,
na cor rubra mais divina
da embriaguez de um terno amor!
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Grita poeta, e o medo vence-o,
que a tua voz, que é teu grito...
Rompe os grilhões do silêncio
e abre as portas do infinito!
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Levem-me tudo, no entanto,
não levem minha viola;
que essa voz dela, é meu canto
e esse canto me consola!
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Não quero o bem que se alcança
com fama e falsos lauréis;
mas manter viva a esperança
ó Pai, que tenho aos teus pés!
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Na solidão da clausura
reza um monge solitário,
buscando a paz, na ternura
das contas do seu rosário!
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No sacrário dos meus dias,
cópias de antigas andanças,
são faixas das alegrias,
das verdadeiras lembranças!
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Num mosteiro, entre os aflitos,
que exemplo de gratidão...
Um monge pede em seus ritos
pelos sem teto e sem pão!
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Quando a lua arranca as vendas
e sobre as ondas vagueia,
ficam mais lindas as rendas
que as ondas bordam na areia!
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Quando escuto as tuas palmas
meus sonhos, são sonhos vãos,
por sentir que há duas almas
presas, às mãos de outras mãos!
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Quando o entardecer persiste
sem querer dizer adeus...
Deixa a tarde menos triste
no ocaso dos olhos meus!
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Reguei meu jardim com calma,
à espera que ele florisse,
para perfumar minha alma,
na solidão da velhice!
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Se a saudade é um mal sem cura
e, à solidão, nos conduz...
Entre a saudade e a ternura,
há sinais de treva e luz!
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Se a velhice é um bem sem dono,
não me sinto entre os sozinhos!...
Sei que os caminhos do outono,
são sempre os mesmos caminhos!
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Se o teu olhar, não me acalma,
nem prendo mais tua voz...
Sinto que há mãos em minha alma
puxando os laços dos nós!
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Velha fonte, o vosso canto,
desvenda bem quem sois vós;
Maestrina do acalanto
do pranto que há entre nós!
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Velhice, se não te importas,
permite-me outras saídas...
Um outono sem folhas mortas,
mas só com folhas caídas!
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Fonte> Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020. Enviado pelo autor.

Contos e Lendas do Paraná – 20 (Palmeira – Pontal do Paraná – Palmas)

PALMEIRA

A lenda da araucária

Era uma vez duas tribos de índios inimigos. Um certo dia o caçador da tribo foi caçar e encontrou uma onça; ali também estava a curandeira da tribo inimiga, pela qual havia se apaixonado. O índio matou a onça e se aproximou da índia, que se assustou e acabou desmaiando.

Os índios da tribo inimiga encontraram os dois ali, o índio à beira do rio com a índia nos braços, pensaram mal do que viram e o mataram a flechadas. Ele morreu cheio de flechas pelo corpo.

Diz a lenda que ele se transformou numa araucária e a índia numa gralha azul e as gotas de sangue que pingaram eram os pinhões que a gralha azul enterra. As flechas eram os espinhos e o índio, a árvore.
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PONTAL DO PARANÁ

Figueira do corpo seco 

Caro leitor preste atenção 
Na história que vou contar 
Este fato ocorreu no litoral 
Do Estado do Paraná

Há muitos anos passados
Na época da escravidão
Os negros trabalhavam duro
Em troca de um pedaço de pão

Na localidade ribeirinha
Chamada de Guaraguaçu
Havia um patrão temido
Por todos os negros do sul

Os negros não tinham direitos
O patrão era um carrasco cruel
Mandava escravo para o tronco
Depois deixava ao léu

Um dia um escravo fujão
Ao ser capturado pelo capataz
Foi colocado no tronco
Sendo espancado até demais

O local da execução
Foi num mato fechado
Ficando o corpo do escravo
Naquela árvore amarrado

O negro não resistiu
A tamanha agressão
Vindo o pobre a falecer
Sem receber extrema unção

A figueira com os anos
Foi sua casca fechando
Ficando o corpo do negro
Ao tronco preso secando

Hoje quem visitar o Guaraguaçu
Deve aproveitar para conhecer
A figueira do corpo seco
Que lá está para quem quiser ver.
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PALMAS

História manchada de sangue

Existiam em Palmas três grandes aldeias indígenas. Uma do Cacique Viri, outra do Cacique Condá e uma terceira do Cacique Vaiton. Cacique Viri, possuído pelas influências dos bandeirantes, que pensavam em tomar essas terras, começou assim a transferir poderes aos bandeirantes, agora fazendeiros.

O cacique, encantado com viagens ganhas para Curitiba e Caçador junto com os fazendeiros, começou a ceder as terras. O cacique Condá, porém, orientava o cacique Viri a não fazer essas trocas, até que foi corrompido para levar toda sua tribo a Chapecó, deixando livres as terras que habitavam.

Enquanto isso, o cacique Vaiton preparava um ataque à tribo do cacique Viri. Este protegeu-se com os fazendeiros, que com armas de fogo e armas brancas esperaram numa tocaia toda a tribo do cacique Vaiton. O local do ataque foi o atual Parque da Gruta. 

Numa vala, cheia de pedras e água, morreram todos os indígenas da tribo do cacique Vaiton. Hoje em dia, ainda se ouvem gritos desses indígenas no parque.

Fonte> Renato Augusto Carneiro Jr (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005.

Hinos de Cidades Brasileiras (Santana do Matos/RN)


Letra: Expedito Fernandes de Souza

Nossa terra é Santana do Matos,
Que da Serra se estende ao Sertão.
Santanenses provemos com atos,
Nosso amor tem igual extensão.

Na fazenda ao redor da capela,
Consagrada a Senhora Santana,
Foi crescendo a cidade singela
De que um povo sofrido se ufana.

Coração do Rio Grande do Norte.
Município querido entre mil,
Nós te amamos com amor terno e forte,
Um amor com sabor de Brasil.

O começo do inverno aguardando,
Como é bom escutar o trovão!
Ver depois os açudes sangrando,
Pasto verde, fartura, algodão.

Os minérios guardados na terra,
A coragem guardada no povo,
Garantia serão que não erra
Quem contar com o amanhã sempre novo.