domingo, 30 de junho de 2024

Recordando Velhas Canções (Maringá)


Compositor: Joubert de Carvalho

Foi numa leva que a cabocla Maringá 
Ficou sendo a retirante que mais dava o que falar 
E junto dela veio alguém que suplicou 
Pra que nunca se esquecesse de um caboclo que ficou 
  
Maringá,  Maringá 
Depois que tu partiste tudo aqui ficou tão triste 
Que eu "garrei" a imaginar 
Maringá,  Maringá 
Para haver felicidade é preciso que a saudade 
Vá bater noutro lugar 
Maringá,     Maringá 
Volta aqui pro meu sertão pra de novo o coração 
De um caboclo a sossegar 
  
Antigamente uma alegria sem igual 
Dominava aquela gente na cidade de Pombal 
Mas veio a seca, tudo a chuva foi-se embora 
Só restando então as águas 
Dos meus "'óio" quando chora 
Maringá,   Maringá 
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A Saudade e a Seca em 'Maringá' de Joubert de Carvalho

É comum no mundo inteiro cidades emprestarem seus nomes a canções. Difícil é uma canção inspirar o nome de uma cidade, como foi o caso de "Maringá". O fato ocorreu em 1947, quando Elizabeth Thomas, esposa do presidente da Companhia de Melhoramentos do Norte do Paraná, sugeriu que a composição desse nome a uma cidade recém-construída pela empresa, e que em breve se tornaria uma das mais prósperas do estado.

O curioso é que a canção jamais teria existido se seu autor Joubert de Carvalho não fosse, quinze anos antes, um frequentador assíduo do gabinete do José Américo de Almeida (Ministro da Viação e Obras), tinha como chefe de gabinete o senhor Ruy Carneiro , que mais tarde viria a governador e senador do seu Estado (a Paraíba)..

Joubert, formado em medicina, pleiteava uma nomeação para o serviço público. Numa dessas visitas, aconselhado pelo oficial de gabinete Rui Carneiro, o compositor resolveu agradar o ministro, que era paraibano, escrevendo uma canção sobre o flagelo da seca que na ocasião assolava o Nordeste.

Surgia assim a toada "Maringá", uma obra-prima que conta a tragédia de uma bela cabocla, obrigada a deixar sua terra numa leva de retirantes. Alguns meses após o lançamento vitorioso de "Maringá", Joubert de Carvalho foi nomeado para o cargo de médico do Instituto dos Marítimos, onde fez carreira chegando a diretor do hospital da classe.

Joubert de Carvalho gostava da boemia e naquele ambiente veio a conhecer e se tornar amigo do senhor Alcides Carneiro (irmão de Ruy Carneiro e também funcionário do Ministério da Viação e Obras), que solteiro e apaixonado por uma namorada chamada Maria, residente na cidade do Ingá (60 km de João Pessoa - PB), compôs a música “Maringá”, narrando o flagelo da seca no nordeste, principalmente na cidade de Pombal, localizada na alto sertão paraibano. 

A música 'Maringá', composta por Joubert de Carvalho, é uma obra que retrata a dura realidade do sertão nordestino brasileiro, marcada pela seca e pela migração forçada. A letra conta a história de uma cabocla chamada Maringá, que se torna uma retirante, uma pessoa que precisa deixar sua terra natal em busca de melhores condições de vida. A partida de Maringá é um evento significativo, que causa grande comoção e tristeza na comunidade, especialmente para um caboclo que fica para trás, suplicando para que ela não o esqueça.

A canção também aborda a transformação da cidade de Pombal, que antes era dominada por uma alegria sem igual, mas que foi devastada pela seca. A falta de chuva trouxe desespero e tristeza, restando apenas as lágrimas do caboclo que chora pela partida de Maringá. A seca é uma metáfora poderosa para a ausência e a saudade, que são temas centrais na música. A repetição do nome 'Maringá' no estribilho reforça a intensidade da saudade e o desejo de que ela volte para trazer de volta a felicidade ao sertão.

'Maringá' é uma canção que, além de contar uma história de amor e saudade, também serve como um retrato social e cultural do sertão nordestino. A música destaca a resiliência e a esperança das pessoas que vivem nessa região, mesmo diante das adversidades. A saudade e a seca são elementos que se entrelaçam, mostrando como a ausência de uma pessoa querida pode ser tão devastadora quanto a falta de água. A canção é um exemplo da rica tradição da música brasileira em abordar temas sociais e emocionais de maneira poética e tocante.

Fontes: 

sábado, 29 de junho de 2024

Carolina Ramos (Trovando) = 18 =

 

Monsenhor Orivaldo Robles (Um conto para nossos dias)

 

“De porta em porta, eu andara mendigando pelo caminho da aldeia, quando o teu carro de ouro apareceu na distância como um sonho deslumbrante, e eu me perguntei se seria esse o Rei de todos os reis. Exaltaram-se as minhas esperanças e pareceu-me ver chegado o fim de meus dias maus. E fiquei aguardando esmolas que seriam dadas sem ser pedidas e um tesouro que seria espalhado por toda a parte, na areia.

O carro parou onde eu estava. Teu olhar caiu sobre mim e tu desceste com um sorriso. Senti que, afinal, chegara a felicidade de minha vida. Então, inesperadamente, estendeste-me a tua mão direita e disseste: ‘Que tens tu para me dar?’ Ah, que capricho de rei foi esse de abrires a palma da tua mão para pedires a um pedinte! Fiquei confundido e parei indeciso. E do meu alforje então, lentamente, tirei e dei-te o grão de trigo menor de todos.

Mas que grande surpresa foi a minha quando, pelo fim do dia, entornando no chão a sacola, encontrei entre as minhas migalhas um grão de ouro que era o menor de todos. Amargamente chorei, lamentando não ter tido coragem de me haver dado todo a Ti”.

Seria cristão o autor dessa fina censura ao egoísmo de todos nós? De certa forma, ela remete ao final do episódio do jovem rico: “Todo aquele que deixa casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e campos, por causa de mim e do Evangelho recebe cem vezes mais agora, durante esta vida, com perseguições, e no mundo futuro, a vida eterna” (Mc 10, 17-30). Não, o criativo relato não pertence à literatura cristã. Escreveu-o o poeta indiano Rabindranath Tagore (1861-1941). Com rara sensibilidade ele indica a causa das diferenças sociais que inventamos.

O poema das bem-aventuranças (Mt 5,3-12) principia pelos pobres. Não sem razão. Quem não partilha os bens terrenos se faz cúmplice dos flagelos que infelicitam o planeta inteiro. A História comprova, há séculos, que a cobiça do dinheiro congela os corações. Esteriliza-os de toda a doçura. Infunde-lhes uma dureza que nem os animais bravios demonstram. As misérias globais não permitem ilusão. Atingimos a cifra de sete bilhões de ocupantes de um mundo que não se preocupa que morram de fome, por ano, um bilhão e duzentos mil. Um bilhão e trezentas mil pessoas iguais a nós estão privadas da água potável minimamente necessária. Por falta de comida morrem, a cada dia, onze mil crianças. Tão inocentes quanto as que levamos ao shopping para comprar coisas supérfluas. Entre as várias causas da fome no mundo não se devem omitir “a busca egoísta do dinheiro, do poder e da imagem pública; a perda do sentido de serviço à comunidade, em benefício exclusivo de pessoas ou de grupos; sem esquecer o importante grau de corrupção, sob as mais diversas formas, de que nenhum país se pode afirmar isento”. Foi o que apontou, em 4 de outubro de 1996, o documento pontifício “A Fome no Mundo”.

Estamos carecas de saber verdades claras como o sol do meio-dia. Mas não fazemos caso. O Senhor continua a nos estender a mão: ‘Que tens para me dar’? Desconfiamos que ele nos queira roubar. Tolice. Tudo o que temos foi ele que nos deu. De que aproveita ler a Bíblia e citá-la a todo instante, se recusamos praticar o que ela ensina? Ela não diz, com todas as letras, que Jesus interpreta como feito a Si mesmo o que fizermos ao menor dos irmãos (Mt 25,40)?

Fonte: Portal do Rigon 12/11/2011

Vereda da Poesia = 48 =

 

Trova Humorística de Bandeirantes/PR

CAROLINE PORTUGAL

Pelado, o fantasma chora,
e ao amigo, lamentou:
- A malvada foi embora,
e até meu lençol levou!
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Soneto de Volta Redonda/RJ

ANTÔNIO OLIVEIRA PENA

Tema antigo

Há teu perfume aqui, há tua imagem
entrando pela porta, alegre e doce,
e enchendo-me de luz, como se fosse
o sol das almas, sobre a paisagem.

Quem me dera, entretanto, aqui chegasses
de fato, ó meu amor, e — bela e calma —
me dissesses aquilo com que a alma
então tu me encherias, mais as faces,

dessa alegria própria de alguns poucos,
tão natural e boa, que eu invejo...
Ah! por que é que sonho eu? não me contento

com teus imaginários passos loucos,
com o teu vulto, próximo de um beijo,
mas que desfaz, de súbito, o vento?...
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

ELISA FLORES

olhos
debruçados
molham
rios
que
transbordam
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Soneto do Maranhão

GONÇALVES DIAS
(Antônio Gonçalves Dias)
Caxias, 1823 – 1864, Guimarães

Doce Amor

Doce Amor — a sorrir-se brandamente
Em sonhos me falou com tal brandura,
Que eu só de o escutar vida mais pura
Senti coar-me n'alma fundamente.

Depois tornou-se o tredo fogo ardente
Que o instante, o ano, a vida me tortura.
Bem longe de gozar tanta ventura,
Cresta-me o rosto agora o pranto quente.

Homem, se homem és no sentimento,
Não zombes, não, de mim tão desditosa,
Nem seja o teu alívio o meu tormento.

Deixa-me a teus pés cair chorosa,
Soltar no extremo pranto o extremo alento,
Que eu morrendo a teus pés serei ditosa.
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Trova Premiada em Natal/RN, 1996

EDUARDO TOLEDO 
(Pouso Alegre/MG)

Abro a janela e a neblina
lacrimeja na vidraça...
A saudade dobra a esquina,
entra no quarto... e me abraça!
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Poema de Maia/ Porto/ Portugal

JOSÉ CARLOS MOUTINHO

Os meus poemas

Os meus poemas são pedaços da minha lua,
Que iluminam as palavras que a minha alma escreve;
São as minhas ilusões beijadas pelo papel onde se inserem!
Os meus poemas, são letras levadas no vento,
Para onde me leiam,
Eles levam o meu sentir,
Para além do meu ser;
Nas emoções que se perdem no infinito!
Os meus poemas têm no teu olhar o sentimento,
Do meu beijo da saudade em ti;
A ausência das palavras cantadas,
São a tristeza que os meus poemas choram!
Os meus poemas, são o murmúrio doce,
Das águas que beijam o leito do rio,
Na corrida para o mar;
Os meus poemas podem ser inventados ou vividos
Com musa ou sem ela,
Mas todos brotam,
Do mais profundo da minha alma!
Os meus poemas, podem não ser bons poemas,
Mas são a vibração da minha paixão,
  No amor entre a alma e o coração.
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Quadra Popular

O coração e os olhos
são dois amantes leais,
quando o coração tem penas
logo os olhos dão sinais.
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Poema do Rio de Janeiro/RJ

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG, 1902 - 1987, Rio de Janeiro/RJ

Para Sempre 

Por que Deus permite
que as mães vão se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não se apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.

Por que Deus se lembra
- mistério profundo - 
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
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Trova de São Paulo/SP

MARIA HELENA CALAZANS DUARTE

Sem brinquedo, a sós na rua,
pede a criança, baixinho:
"Senhor Deus, me empresta a lua
para brincar um pouquinho".
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Poema de Geórgia/Russia

VLADIMIR MAYAKOVSKY
(Vladimir Vladimirovitch Mayakovsky)
Geórgia, 1893 - 1930, Moscou 

Voo Noturno

Tenho muito medo
das folhas mortas,
medo dos prados
cheios de orvalho.
eu vou dormir;
se não me despertas,
deixarei a teu lado meu coração frio.

O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!

Pus em ti colares
com gemas de aurora.
Por que me abandonas
neste caminho?
Se vais muito longe,
meu pássaro chora
e a verde vinha
não dará seu vinho.

O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!

Nunca saberás,
esfinge de neve,
o muito que eu
haveria de te querer
essas madrugadas
quando chove
e no ramo seco
se desfaz o ninho.

O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!
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Haicai de Santos/SP

JUAREZ MATIAS NASCIMENTO 

Flores sobre a mesa –
O pouso da borboleta
E o olhar da criança.
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Sextilha de São Simão/SP

THALMA TAVARES

Eu feri minhas mãos colhendo rosas,  
mas valeu a alegria de colhê-las,
de aspirar seu perfume delicado
e à mulher bem amada oferecê-las...
Ver depois, em seus olhos, a alegria
e na luz desses olhos, as estrelas. 
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Quantos guris sem infância,
num abandono completo,
rolam no mundo, à distância
do pão, do livro e do afeto!
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Glosa de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA CRISÓSTOMO

MOTE:
Eu sinto a fé me envolvendo
sempre que eu consigo ver
a esperança renascendo 
em um novo amanhecer!
José Feldman 
(Campo Mourão/PR)

GLOSA:
Eu sinto a fé me envolvendo
dando-me força e vigor 
para seguir sempre crendo 
em Deus, e no Seu amor! 

Neste mundo tão horrendo 
sempre que eu consigo ver
um milagre acontecendo,
mais em Deus eu passo a crer!

Deus continua fazendo 
milagres, pra nos mostrar 
a esperança renascendo 
todo dia..., é só esperar! 

Deus agora está dizendo: 
creia em Mim e espere ver 
Meu milagre acontecendo
em um novo amanhecer!
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Aldravia de Belo Horizonte/MG

ELZA AGUIAR NEVES

o
céu
cinzento
derrama
translúcidos
cristais
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Soneto Santos/SP

MARTINS FONTES
(José Martins Fontes)
1884 – 1937

Existir é sentir

Mais do que à própria vida, deveremos
Amar a Vida em sua plenitude.
A inconstância no amor não condenemos,
Porque esta falta pode ser virtude.

Ser fiel a um amor, se nunca o pude,
Fui ao Amor fiel, nos seus extremos:
Este, sendo imutável, não ilude,
E os desvios daquele são supremos...

Seja a forma de amor que se pressinta,
Por mais tênue, mais tímida e indistinta,
Deve-se bendizer, sem comparar.

Como a ausência produz o desengano,
Sobrenobrece o coração humano
Ser inconstante, sem deixar de amar.
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Trova Premiada  em Natal/RN, 2001

JOSÉ MARIA MACHADO DE ARAÚJO 
Vila Nova de Famalicão/Portugal, 1922 – 2004, Rio de Janeiro/RJ

O furor de uma queimada
não queima a mata somente,
queima a terra semeada,
a fauna e a vida da gente!...
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Poema de Torres Vedras/Portugal

AMADEU FELICIANO

Estrada exata

no meio da estrada
exata e fatal
corpos decepados
estendem as mãos
imploram resposta
adiada sempre

velozmente passa
quem teima passar
procurando ínscios
o fim da estrada
exata e fatal

os motores roncam
daqueles que passam
mudos os outros
daqueles que ficam
no meio da estrada
exata e fatal

ser permanecer ficar
pedem qualquer coisa
relacionada com o sujeito
que ficou sem resposta
no meio da estrada
exata e fatal
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Triverso de de Santos/SP

MAHELEN MADUREIRA 

Manhã de sol –
Na praia os caminhantes
Também as libélulas.
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Setilha de Porto Alegre/RS

GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Com nosso sonho profundo
seremos sempre criança
com nossas almas poetas,
cheias de amor e de esperança
onde nasce, a cada dia,
uma nova fantasia
que deixaremos de herança!
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Trova do Príncipe da Trova

LUIZ OTÁVIO
(Gilson de Castro)
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP+

Bondade!... Bem pouca gente
quer imitar as raízes,
que luta, secretamente,
fazendo as rosas felizes!
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Hino de Barra Mansa/RJ

Compositor: Henrique Zamith

Vivo seja teu nome esculpido
No granito das rochas sem par,
E por todos co'amor repetido,
Com preces diante do altar!
Cada lábio o murmure e um hino
Ele seja e o suave penhor
Dum afeto tão grande e divino,
Tão sublime e mais puro que o amor!

Barra Mansa! Barra Mansa!
Glória a ti! Hosana mil!
Lembras suave esperança
Num recanto do Brasil!

Tua glória, fulgindo brilhante,
Com mais vivo fulgor e mais luz,
Repercute no vale distante,
Vai além desses céus mais azuis!
Vai além desses montes e fala
Da existência de um povo a lutar,
Do teu povo feliz, que se iguala
aos titãs no feroz batalhar!

Barra Mansa! Barra Mansa!
Glória a ti! Hosana mil!
Lembras suave esperança
Num recanto do Brasil!

O teu nome também nos recorda
Um murmúrio suave, um perdão,
Um carinho que terno transborda
De teus filhos no teu coração!
Ele lembra também a meiguice,
À beleza, a grandeza moral
Das mulheres que tens, a ledice
À pureza sem par de Vestal!

Barra Mansa! Barra Mansa!
Glória a ti! Hosana mil!
Lembras suave esperança
Num recanto do Brasil!

Do criador, já a mão justiceira
Teu destino no tempo traçou...
Barra Mansa, serás a primeira
Pelos bens que o Senhor te doou!
Cada etapa vencida em peleja
Traga sempre uma glória melhor,
Uma glória mais santa e que seja,
Entre todo o triunfo o maior!

Barra Mansa! Barra Mansa!
Glória a ti! Hosana mil!
Lembras suave esperança
Num recanto do Brasil !
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Poetrix de Curitiba/PR

MARILDA CONFORTIN 

A outra

hoje, uva
amanhã, passa 
Eu, vinha.
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Soneto de São Paulo/SP

COLOMBINA 
(Yde (Adelaide) Schloenbach Blumenschein)
1882 – 1963

Episódio 

O reflexo do ocaso ensanguentado
dourava ainda aquele fim de dia . . .
De um frasco de cristal, mal arrolhado,
um cálido perfume se esvaía...

Junto ao teu corpo nu, convulsionado,
que de desejo e de volúpia ardia,
o meu corpo, nessa hora de pecado,
uma ânfora de gozo parecia.

Na quietude da tarde agonizante
um beijo prolongado, delirante,
a flama da paixão veio acender...

E toda a minha feminilidade
era uma taça de sensualidade
transbordante de vida e de prazer!
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Trova Humorística de São Paulo/SP

ZAÉ JR.
(Zaé Mariano Carvalho de Nascimento Júnior)
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Vendo-a grávida, ele diz:
– Homem? Mulher? Que vai ser?
E ela responde... feliz:
– Ele resolve... ao crescer!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O burro vestido com a pele do leão

Quebrando a peia,
Fofo sendeiro
Fugiu ao dono,
Que era moleiro;
Dentro de um bosque,
O fanfarrão
Achou a pele
De alto leão;

Em toda a parte
Dela vestido,
Por leão fero
Era temido;
Homens e brutos
O respeitavam,
Fugiam logo
Que o divisavam:

Mas das orelhas
Uma pontinha
De fora ao burro
Ficado tinha;
Foi vista acaso
Pelo moleiro,
Que julgou logo
Ser o sendeiro;

Indo-lhe ao lombo
Com um cajado,
Puniu o arrojo
Do mascarado;
Do tolo rindo,
Despiu-lhe a pele,
Pos-lhe uma albarda
E montou nele.

Tal entre os homens
Mil se conhecem,
Os quais são uns,
E outros parecem.
Despem-lhe a pele
Que os faz troantes,
Ficam sendeiros
Como eram dantes.
(Tradução: Curvo Semedo)
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Colaborações: gralha1954@gmail.com

Luís da Câmara Cascudo (Os Compadres Corcundas)

Era uma vez dois corcundas, compadres, um rico e outro pobre. O povo do lugar vivia mangando do corcunda pobre e não reparava no rico. O pobre andava triste e de mais a mais o tempo estava cruel e ele era caçador.

Numa feita, esperando uns veados, já tardinha, adormeceu no jirau e acordou noite alta. Ficou sem querer voltar para casa. Ia se acomodando para pegar no sono de novo quando ouviu uma cantiga ao longe, como se muita gente cantasse ao mesmo tempo.

“Deve ser alguma desmancha de farinha aqui por perto. Vou ajudar!”

Desceu da árvore e botou-se no caminho, andando, andando, no rumo da cantiga que não descontinuava. Andou, andou, até que chegando perto de um serrote, onde havia uma laje limpa, muito grande e branca, viu uma roda de gente esquisita, vestida de diamantes que espelhavam ao luar. Velhos, rapazes e meninos, todos cantavam e dançavam de mãos dadas, o mesmo verso, sem mudar.

Segunda, terça-feira,
Vai, vem!
Segunda, terça-feira,
vai, vem!

O caçador ficou tremendo de medo. As pernas nem deixavam ele andar. Escondeu-se numa moita de mofundos* e assistiu sem querer àquela cantoria que era sempre a mesma, horas e horas.

Com o tempo, foi-se animando, ficando mais calmo e, sendo metido a improvisador e batedor de viola, cantou, na toada que o povo esquisito estava rodando.

Segunda, terça-feira,
Vai, vem!
E quarta e quinta-feira,
Meu bem!

Boca para que disseste! Calou-se tudo imediatamente e aquele povo todo espalhou-se como rebaçã (bando de pombos) procurando, procurando. Acharam o corcunda e o levaram para o meio da laje como formiga carrega barata morta. Largaram ele e um velhão, brilhando como um sacrário, perguntou, com uma voz delicada:

– Foi você quem cantou o verso novo da cantiga?

O caçador cobrou coragem e respondeu:

– Fui eu, sim senhor!

O velhão disse:

– Quer vender o verso?

– Quero sim, senhor. Não vendo, mas dou o verso de presente porque gostei do baile animado.

O velho achou graça e todo aquele povo esquisito riu também.

– Pois bem – disse o velhão –, uma mão lava a outra. Em troca do verso eu te tiro essa corcunda e esse povo te dá um bisaco (alforje) novo!

Passou a mão nas costas do caçador e este tornou-se esbelto como um rapaz, sem corcunda nem nada. Trouxeram um bisaco novo e recomendaram que só abrisse quando o sol nascesse.

O caçador meteu-se na estrada, andando, andando e assim que o sol nasceu abriu o bisaco e o encontrou cheio de pedras preciosas e moedas de ouro. Só faltou morrer de contente.

No outro dia comprou uma casa, com todos os preparos, mobília, vestiu roupa bonita e foi para a missa, porque era domingo. Lá na igreja encontrou o compadre rico, também corcunda. Este quase cai de costas, assombrado com a mudança. Perguntou muito e mais espantado ficou reparando no traje do compadre, e ao saber que ele tinha casa e cavalo gordo e se considerava rico.

O pobre contou tudo; e, como a medida do ter nunca se enche, o rico resolveu arranjar ainda mais dinheiro e livrar-se da corcunda nas costas. 

Esperou uns dias pensando no que ia fazer e largou-se para o mato no dia azado. Tanto fez que ouviu a cantiga e botou-se na direção da toada. Achou o povo esquisito dançando de roda e cantando:

Segunda, terça-feira,
Vai, vem!
Quarta e quinta-feira,
Meu bem!

O rico não se conteve. Abriu o par de queixos e logo berrando:

Sexta, sábado e domingo!
Também!

Calou-se tudo rapidamente. O povo esquisito voou para cima do atrevido e o levaram para a laje onde estava o velhão. Esse gritou, furioso:

– Quem lhe mandou meter-se onde não é chamado, seu corcunda besta? Você não sabe que gente encantada não quer saber de sexta-feira, dia em que morreu o Filho do Alto; sábado, dia em que morreu o Filho do Pecado, e domingo, dia em que ressuscitou quem nunca morre? Não sabia? Pois fique sabendo! E para que não se esqueça da lição, leve a corcunda que deixaram aqui e suma-se da minha vista senão acabo com seu couro!

E quando falava os outros iam dando empurrão, tapona e beliscão no rico. O velho passou a mão no peito do corcunda e deixou ali a outra, aquela de que o compadre pobre se livrara.

Depois deram uma carreira no homem, deixando-o longe, e todo arranhado, machucado, roxo de bofetadas e pontapés.

E assim viveu o resto de sua vida, rico, mas com duas corcundas, uma adiante e outra atrás, para não ser ambicioso.
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* Mofundo = lugar de repouso do gado ou esconderijo de animais

Fonte> Luís da Câmara Cascudo. Contos Tradicionais do Brasil. Publicado originalmente em 1946. Disponível em Domínio Público.

Recordando Velhas Canções (No Tabuleiro da Baiana)


Compositor: Ary Barroso

No tabuleiro da baiana tem
Vatapá, oi
Caruru
Mungunzá, oi
Tem umbu, pra ioiô

Se eu pedir você me dá
O seu coração, seu amor de iaiá

No coração da baiana tem
Sedução, oh
Canjerê
Ilusão, oh
Candomblé pra você

Juro por Deus, pelo Senhor do Bonfim
Quero você, baianinha, inteirinha pra mim
Sim, mas depois, o que será de nós dois?
Seu amor é tão fugaz, enganador

Tudo já fiz fui até um canjerê
Pra ser feliz, meus trapinhos juntar com você
E depois vai ser mais uma ilusão
Que no amor quem governa é o coração
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A Magia e Sedução do Tabuleiro da Baiana

"No Tabuleiro da Baiana" é um dos maiores sucessos de Ary Barroso nos anos trinta. Sucesso, aliás, que o surpreendeu, conforme confessou à revista Carioca, em 23.10.37: "'No Tabuleiro da Baiana' foi a primeira música que vendi, tão descrente eu estava do seu mérito. Foi-me encomendada por Jardel Jercolis, que pretendia incluí-la em uma das revistas de sua companhia. A música foi mais 'fabricada' que inspirada; produzi-a mais ou menos à força e acabei compondo-a nos moldes de um batuque feito por mim há vários anos (o samba 'Batuque', gravado por Sílvio Caldas e Elisa Coelho em 1931)".

Mas, embora assim classificada, "No Tabuleiro da Baiana" é uma excelente composição, bem ao estilo Ary Barroso, já mostrando várias daquelas inovações que ele começava a incorporar ao samba. Sua introdução instrumental é tão adequada que faz parte integrante da música. A letra dialogada entre homem e mulher, muito bem construída, ideal para um quadro cômico-musical, têm interferências que funcionam como breques, alguns improvisados na gravação original - por exemplo, o breque "Mentirosa, mentirosa, mentirosa..." foi introduzido pelo cantor Luís Barbosa. A seção "Juro por Deus, pelo Senhor do Bonfim..." quase ad libitum, no meio da música, antecipa um procedimento que Ary usaria outras vezes e que sem dúvida, valoriza o retorno ao ritmo marcado, como em "Os quindins de Iaiá" ( 1941 ) e na segunda versão de "No Morro (Eh, eh!)", rebatizada de "Boneca de piche" (1938).

Comprador dos direitos de "No Tabuleiro da Baiana", para uso exclusivo no teatro, Jardel Jercolis o incluiu na revista Maravilhosa (outubro de 36), na qual era cantado e dançado pela dupla Déo Maia e Grande Otelo. Em 31.12, a composição voltou à cena, na revista É Batata!, da mesma companhia, desta vez apresentada por Oscarito e a menina Isa Rodrigues, então chamada de "Shirley Temple brasileira" e que faria carreira no teatro e na televisão. Antes porém da estreia teatral, "No Tabuleiro da Baiana" já estava gravado por Carmen Miranda e Luís Barbosa, sendo revivido em 1980 por Gal Costa e Caetano Veloso e em 1983 por Maria Bethânia e João Gilberto.

A música 'No Tabuleiro da Baiana' é uma celebração da cultura baiana e dos sabores e encantos que ela oferece. A letra começa descrevendo os quitutes típicos que se encontram no tabuleiro de uma baiana, como vatapá, caruru, mungunzá e umbu. Esses elementos não são apenas alimentos, mas símbolos da rica tradição culinária e cultural da Bahia, que é conhecida por sua diversidade e sabor marcante. A menção a esses pratos evoca uma sensação de nostalgia e pertencimento, conectando o ouvinte às raízes culturais da região.

A canção também explora temas de amor e sedução, utilizando a figura da baiana como uma metáfora para a paixão e o desejo. O coração da baiana é descrito como cheio de sedução, canjerê (um tipo de feitiço), ilusão e candomblé, sugerindo que o amor é uma mistura de magia e mistério. A referência ao Senhor do Bonfim, uma figura religiosa importante na Bahia, adiciona uma camada de espiritualidade e devoção ao desejo do narrador de conquistar a baiana. Essa combinação de elementos culturais e emocionais cria uma atmosfera rica e envolvente, onde o amor é visto como algo poderoso e, ao mesmo tempo, efêmero.

A música termina com uma reflexão sobre a natureza fugaz do amor. O narrador expressa sua preocupação de que, apesar de todos os esforços e até mesmo de recorrer a um canjerê para garantir a felicidade, o amor pode acabar sendo apenas uma ilusão. Essa dualidade entre a esperança e a desilusão é um tema recorrente na obra de João Gilberto, que frequentemente explora as complexidades das emoções humanas através de suas canções. 'No Tabuleiro da Baiana' é, portanto, uma ode à cultura baiana e uma meditação sobre os altos e baixos do amor, capturando a essência da vida com sua mistura de sabores, sentimentos e espiritualidade. 

Fontes:

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Edy Soares (Fragata da Poesia) 50: Ausência

 

Mensagem na Garrafa = 122 =

A. A. DE ASSIS 
(Maringá/PR)

PROCURAM-SE OUVIDOS
 
Nós, os trovadores, aliás os poetas de modo geral, somos carentes de ouvidos que nos escutem. Os mortais comuns nem sempre estão dispostos a conversar sobre algo que não seja economia, política, esporte, programas de televisão, coisas assim. Papo poesia é do interesse de uns poucos privilegiados sonhadores, pouquíssimos. Por isso é preciso valorizar mais os nossos encontros, desde as reuniões mensais com os companheiros residentes na mesma cidade até os grandes momentos como os Jogos Florais. Nessas ocasiões a gente fala e ouve tudo o que estava acumulado no coração, à espera de chance para vir à tona. E como isso faz bem! Puxa vida... é muito triste, por exemplo, você fazer uma trova e não ter a quem dizê-la. Ficam aqueles versos presos na garganta, querendo sair, e não há por perto um ouvido generoso capaz de hospedar e de entender o seu recado. Algumas vezes a angústia é tanta que a gente pega o telefone, liga para um trovador ou para uma trovadora distante e solta o desabafo. Fazemos falta uns aos outros. Muita falta. Somos gente rara neste mundo seco; então, quando nos encontramos, é aquela festa enorme. Cada qual aproveita para libertar a alma, trocar ideias, atualizar notícias, matar saudade. O problema é que os nossos encontros duram tão pouco. Umas poucas horas de intensa alegria, e temos logo de descer do Parnaso, voltar ao que habitualmente as outras pessoas chamam de realidade... Que pena!