segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Beatrix Potter (Timmy Ponta dos Pés)

Era uma vez um pequeno e confortável esquilo cinza chamado Timmy Pontas dos Pés. Ele tinha um ninho coberto de folhas no topo de uma árvore alta, e tinha uma pequena esposa esquilo chamada Goody.

Timmy Pontas dos Pés sentou-se, aproveitando a brisa, balançou o rabo e riu: “Olha, Goody, as nozes estão maduras; devemos fazer um estoque para o inverno e a primavera.” 

Goody Ponta dos Pés estava ocupada empurrando musgo sob a palha – “O ninho é tão confortável que dormiremos profundamente durante todo o inverno.” 

– “Então acordaremos mais magros, quando não houver nada para comer na primavera”, respondeu o prudente Timmy.

Quando Timmy e Goody chegaram ao matagal, eles descobriram que outros esquilos já estavam lá.

Timmy tirou a jaqueta e pendurou em um galho, eles trabalharam silenciosamente por si mesmos.

Todos os dias eles faziam várias viagens e colhiam grandes quantidades de nozes. Eles os carregavam em sacos e os guardavam em vários tocos ocos perto da árvore onde construíram o ninho.

Quando esses tocos ficaram cheios, eles começaram a esvaziar os sacos em um buraco no alto de uma árvore, que pertencera a um pica-pau. As nozes chacoalharam para baixo – para baixo – para dentro.

“Como você vai tirá-los de novo? É como uma caixa de dinheiro!” disse Goody.

“Estarei muito mais magro antes da primavera, meu amor”, disse Timmy, espiando pelo buraco.

Eles coletaram grandes quantidades – para não as perderem! Esquilos que enterram suas nozes no chão perdem mais da metade, porque não conseguem se lembrar do local.

O esquilo mais esquecido da floresta chamava-se Cauda Prateada. Ele começou a cavar e não conseguia se lembrar. E então ele cavou novamente e encontrou algumas nozes que não pertenciam a ele, e houve uma briga. Outros esquilos começaram a cavar também – toda a floresta estava em alvoroço!

Infelizmente, nesse momento um bando de passarinhos passou voando, de arbusto em arbusto, em busca de lagartas verdes e aranhas. Havia vários tipos de passarinhos, cantando diferentes canções.

O primeiro cantava: “Quem está desenterrando minhas nozes? Quem está desenterrando minhas nozes?”

E outro cantava: “Pedacinho de pão e sem queijo! Pedacinho de pão e sem queijo!”

Os esquilos seguiram e ouviram. O primeiro passarinho voou para o mato onde Timmy e Goody estavam silenciosamente amarrando suas sacolas e cantou: “Quem está desenterrando minhas nozes? Quem está desenterrando minhas nozes?”

Timmy Ponta dos Pés continuou seu trabalho sem responder; de fato, o passarinho não esperava uma resposta. Estava apenas cantando sua canção natural, e não significava nada.

Mas quando os outros esquilos ouviram aquela música, eles correram para Timmy, o amarraram e arranharam, e derrubaram seu saco de nozes. O inocente passarinho que havia causado todo o mal voou assustado!

Timmy rolou várias vezes e então virou o rabo e fugiu em direção ao seu ninho, seguido por uma multidão de esquilos gritando – “Quem está desenterrando minhas nozes?”

Eles o pegaram e o arrastaram para cima da mesma árvore, onde havia o pequeno buraco redondo, e o empurraram para dentro. O buraco era muito pequeno para a figura de Timmy Ponta dos Pés. Eles o apertaram terrivelmente, foi uma maravilha que não quebraram suas costelas. “Vamos deixá-lo aqui até que ele confesse”, disse Cauda Prateada, e gritou para o buraco:

“Quem-desenterrou-as-minhas-nozes?”

Timmy Ponta dos Pés não respondeu, ele havia caído dentro da árvore, sobre meio pacote de nozes pertencentes a ele. Ele ficou bastante atordoado e imóvel.

Goody pegou os sacos de nozes e foi para casa. Ela fez uma xícara de chá para Timmy, mas ele não veio.

Goody Ponta dos Pés passou uma noite solitária e infeliz. Na manhã seguinte, ela se aventurou de volta aos arbustos de nogueira para procurá-lo, mas os outros esquilos indelicados a afastaram.

Ela vagou por toda a floresta, chamando…

“Timmy Ponta dos Pés! Timmy Ponta dos Pés! Oh, onde está o Timmy Ponta dos Pés?”

Nesse ínterim, Timmy caiu em si. Ele se viu enfiado em uma pequena cama de musgo, bem no escuro, sentindo-se dolorido, parecia estar sob o solo. Timmy tossiu e gemeu, porque suas costelas doíam. Houve um barulho alegre, e um pequeno esquilo listrado apareceu com uma luz noturna, e perguntou se ele estava bem.

Foi muito gentil com Timmy Ponta dos Pés, emprestou-lhe o gorro, e a casa estava cheia de provisões.

O Esquilo explicou que tinha chovido nozes no topo da árvore – “Além disso, encontrei algumas enterradas!” 

Ele riu e riu quando ouviu a história e enquanto Timmy estava confinado à cama, ele tinha vontade de comer grandes quantidades – “Mas como poderei sair por aquele buraco a menos que eu emagreça? Minha esposa ficará ansiosa!” 

“Apenas mais uma noz – ou duas nozes; deixe-me quebrá-las para você”, disse o Esquilo. 

Timmy engordou cada vez mais!

Agora Goody voltou a trabalhar sozinha. Ela não colocou mais nozes na toca do pica-pau, porque sempre duvidou de como poderiam ser tiradas de novo. Ela as escondeu sob a raiz de uma árvore, enfiava para baixo, para baixo, para baixo. Uma vez, quando Goody esvaziou um saco extra grande, houve um guincho decidido, e da próxima vez que Goody trouxe outro saco cheio, uma pequena esquila listrada saiu às pressas.

“Está ficando lotado lá embaixo, a sala de estar está cheia e eles estão rolando pelo corredor, e meu marido, Chippy Hackee, fugiu e me deixou. Qual é a explicação dessas chuvas de nozes?”

“Peço seu perdão; eu não sabia que alguém morava aqui”, disse a Sra. Goody Ponta dos Pés; “mas onde está Chippy Hackee? Meu marido, Timmy Ponta dos Pés, também fugiu.” 

“Eu sei onde Chippy está, um passarinho me contou”, disse a Sra. Chippy Hackee.

Ela liderou o caminho até a árvore do pica-pau, e elas escutaram no buraco.

Lá embaixo ouvia-se um barulho de quebra-nozes, e uma voz de esquilo gordo e uma voz de esquilo fino cantavam juntas:

“Meu velhinho e eu brigamos,
Como devemos resolver este desafio?
Traga o melhor que amamos,
E vá embora, seu velhinho!”

“Você pode se espremer por aquele pequeno buraco redondo”, disse Goody Ponta dos Pés. 

“Sim, eu poderia”, disse a Esquila, “mas meu marido, Chippy Hackee, morde!”

Lá embaixo havia um barulho de nozes quebrando e mordiscando; e então a voz do esquilo gordo e a voz do esquilo magro cantaram:

“Para o dia diddlum
Dia diddle dum di!
Dia diddle diddle dum dia!”

Então Goody espiou pelo buraco e gritou: “Timmy Ponta dos Pés! Oh, Timmy Ponta dos Pés!” 

E Timmy respondeu: “É você, Goody Ponta dos Pés? Ora, certamente!”

Ele se aproximou e beijou Goody pelo buraco, mas ele era tão gordo que não conseguia sair.

Chippy Hackee não era muito gordo, mas não queria sair, ficou lá embaixo e riu.

Assim continuou por quinze dias, até que um vento forte soprou do topo da árvore, abriu o buraco e deixou a chuva entrar.

Então Timmy Ponta dos Pés saiu e foi para casa com um guarda-chuva.

Mas Chippy Hackee continuou acampando por mais uma semana, embora fosse desconfortável.

Por fim, um grande urso veio andando pela floresta. Talvez ele também estivesse procurando nozes, ele parecia estar farejando ao redor.

Chippy Hackee foi para casa com pressa! E quando Chippy Hackee chegou em casa, descobriu que havia pegado um resfriado, e ele estava ainda mais desconfortável.

E agora Timmy e Goody Ponta dos Pés mantêm sua loja de nozes fechada com um pequeno cadeado.

E sempre que aquele passarinho vê os Esquilos, ele canta: “Quem está desenterrando minhas nozes? Quem está desenterrando minhas nozes?” 

Mas ninguém nunca responde!
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HELEN BEATRIX POTTER (Londres, 1866 — Lakeland/Inglaterra, 1943) foi uma escritora, ilustradora, micologista e conservacionista inglesa, célebre por seus livros infantis de grande originalidade e valor intemporal. Sua obra mais famosa é A História do Pedro Coelho. Ela estudou em casa e recebeu das governantas uma educação vitoriana.  O Coelho Benjamim foi uma das primeiras personagens que Beatrix Potter vendeu a uma editora. Beatrix começou por ilustrar contos tradicionais como "Cinderela", "A Bela Adormecida", "Ali Babá e os Quarenta Ladrões", "O Gato das Botas" etc, mas muitas das suas ilustrações incluíam os seus animais de estimação. Beatrix Potter teve bastantes dificuldades em encontrar uma editora que publicasse as suas histórias. Depois de receber várias cartas de rejeição, ela decidiu tratar do assunto sozinha e criou um livro pequeno a preto e branco com a histórias dos quatro coelhinhos e publicou 250 cópias do mesmo que pagou com o seu próprio dinheiro. Frederick Warne & Co, que já tinha rejeitado as histórias de Beatrix, decidiu publicar o que apelidou de "livro dos coelhinhos". A mudança de posição deveu-se ao fato de a editora querer entrar no mercado dos livros infantis de formato pequeno. A História do Pedro Coelho foi publicado em 1902 e foi um enorme sucesso, vendendo 20 000 cópias até ao Natal desse ano. No ano seguinte, foram publicados A História do Esquilo Trinca-Nozes e O Alfaiate de Gloucester. Nos anos seguintes, Beatrix trabalhou com o editor Norman Warne e publicou entre dois e três livros de formato pequeno todos anos, atingindo um total de 23 obras publicadas na sua carreira. Em 1905, Beatrix e Norman Warne, o seu editor, ficaram noivos. O noivado foi mantido em segredo pois a família de Beatrix desaprovava um noivo que vivia de sua profissão de editor, por considerá-lo de classe inferior. Tragicamente, em 25 de agosto de 1905, um mês depois do pedido, Norman morreu de leucemia, quando tinha 37 anos. Isso deixou Beatrix devastada, mas ela fez o máximo para superar esse momento difícil, trabalhando ainda mais do que o costume. Em 1913, aos quarenta e sete anos, Beatrix casou-se com William Heelis, um procurador local, e foi morar em Sawrey. Ela passou a desenhar e a escrever menos, dedicando-se às atividades da fazenda, à criação de carneiros e a comprar muitas terras em Lakeland, para preservá-las. Quando Beatrix Potter morreu, em 1943, deixou mais de 4 000 acres e 15 fazendas para o National Trust, uma organização destinada a preservar lugares de interesse histórico ou de grande beleza cênica, na Inglaterra. Beatrix e William tiveram um casamento feliz que durou trinta anos. Apesar de não terem filhos, Beatrix era um elemento importante da família de William e teve uma relação muito próxima com as suas sobrinhas, que ajudou a educar. Beatrix faleceu em 1943, devido a uma pneumonia e complicações cardíacas em sua residência, chamada Castle Cottage, localizada em Lake District. Os seus restos mortais foram cremados. O seu marido continuou cuidando das propriedades e do trabalho literário e artístico da esposa até à sua morte, em agosto de 1945. Em 2006, a vida de Beatrix Potter foi transformada em um filme, Miss Potter, com Renée Zellweger e Ewan McGregor como protagonistas. 

Fontes:
Beatrix Potter (escritora e ilustradora). O conto do sr. Timmy Ponta dos Pés foi publicado originalmente em 1911 como “The tale of Timmy Tiptoes”. Disponível em Domínio Público, no Projeto Gutemberg.
Biografia =https://pt.wikipedia.org/wiki/Beatrix_Potter
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

José Feldman (No Silêncio da Madrugada)

A casa estava mergulhada em um silêncio profundo, interrompido apenas pelo estalo ocasional de uma madeira antiga ou pelo leve sussurro do vento que entrava pelas frestas das janelas. Era uma madrugada como tantas outras, e enquanto o mundo lá fora dormia, eu me encontrava acordado, preso em um ciclo interminável de pensamentos e insônia.

Olhei para o relógio na parede. 3:17 da madrugada. A luz azulada do mostrador parecia zombar de mim, como se dissesse: "Outra vez, você está aqui!!" 

Levantei-me da cama, sabendo que a melhor opção era me mover, mesmo que isso significasse vagar pela casa em busca de um pouco de paz.

Os corredores pareciam mais longos àquela hora. Cada passo ecoava, e a sensação de solidão se acentuava. A cozinha era meu primeiro destino. Abri a geladeira, não por fome, mas pela esperança de que um copo de água gelada poderia trazer algum alívio. O barulho do motor da geladeira ressoava como um mantra, e eu me peguei pensando em quantas vezes, nas últimas semanas, havia me encontrado nesse mesmo ritual.

Depois de um gole de água, caminhei até a sala. A luz da televisão estava apagada, e a escuridão envolvia tudo, exceto pelas sombras projetadas pela luz da rua que filtrava pelas cortinas. Sentei-me no sofá, tentando me distrair com os pensamentos que insistiam em me perseguir. Era como se cada preocupação que eu havia empurrado para o fundo da mente durante o dia tivesse decidido emergir naquelas horas silenciosas.

Lembrei-me de um amigo que sempre dizia que as horas da madrugada eram um campo de batalha. Era verdade. Ali, no silêncio, os pensamentos se tornavam monstros, e eu lutava para não sucumbir a eles. As preocupações financeiras, as inseguranças sobre o futuro, e até mesmo as pequenas frustrações do dia a dia se tornavam gigantes, ameaçando me engolir.

Levantei-me do sofá e comecei a vagar pela casa novamente. Passei pelo quarto de minha irmã, onde ela dormia tranquilamente, alheia à tempestade que se desenrolava em minha mente. Olhei para ela, a respiração calma e serena, e me perguntei como consegui-la dar tanta paz enquanto eu me via preso em um ciclo de ansiedade. O desejo de protegê-la me preenchia, mas também me lembrava das minhas próprias vulnerabilidades.

Segui em frente, indo para o banheiro. O espelho refletia a imagem de alguém que parecia um estranho. O que pouco restou dos cabelos, bagunçados, olheiras profundas que contavam a história de semanas sem dormir direito. Lavei o rosto, esperando que a água fria pudesse me trazer um pouco de clareza. Ao invés disso, só consegui ver a mesma expressão de cansaço e frustração.

Decidi então pegar um livro da estante. A leitura sempre foi um refúgio, uma forma de escapar da realidade. Coloquei o livro na mesa de café, mas as palavras dançavam diante dos meus olhos, sem conseguir se fixar na mente. A insônia transformara minha mente em uma névoa densa, onde a concentração era um luxo que eu não podia me dar.

A cada minuto que passava, a madrugada parecia se estender. Era um paradoxo: quanto mais eu desejava o sono, mais distante ele parecia. Decidi abrir a janela para respirar um pouco do ar fresco da noite. A brisa suave acariciou meu rosto, trazendo consigo o cheiro de terra molhada e o eco distante de risadas que vinham de algum lugar não muito longe, talvez de um bar. O mundo estava acordado de alguma forma, enquanto eu lutava contra a própria sombra.

Olhei para o céu, onde as estrelas brilhavam como pequenos faróis. Pensamentos filosóficos começaram a surgir. O que era a insônia, senão um reflexo de uma mente inquieta? A busca por respostas, a incessante necessidade de entender o que não pode ser entendido, me levaram a refletir sobre a vida e suas complexidades. 

Finalmente, decidi que era hora de tentar novamente dormir. Voltei para o quarto, onde o lençol ainda estava quente, como se tivesse esperado por mim. Deitei-me, tentando relaxar e esvaziar a mente. Fechei os olhos e respirei fundo, mas em vez de encontrar a tranquilidade, a insônia continuava a me abraçar.

E assim, mais uma vez, a madrugada se arrastou, e eu continuei a vagar, não apenas pela casa, mas por um labirinto de pensamentos. Uma luta silenciosa que muitos enfrentam, mas que poucos compartilham. A insônia não era apenas um inimigo, mas um lembrete de que, mesmo na solidão da madrugada, havia uma vida pulsante, cheia de desafios e esperanças.

Quando finalmente o primeiro raio de sol começou a entrar pela janela, eu me sentia exausto, mas algo dentro de mim tinha mudado. Acordar para um novo dia, mesmo após uma noite sem sono, trazia consigo a promessa de novos começos. Afinal, a vida, com todas as suas dificuldades, continuava a fluir como um rio, e eu, apesar da insônia, ainda fazia parte dessa correnteza.

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: A.I.Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

domingo, 2 de fevereiro de 2025

Erigutemberg Meneses (Cascata de versos) 09

 
   

Newton Sampaio (Capítulo das vozes noturnas)

Largado no banco do jardim, meio escondido na sombra da palmeirinha, Boito percebe o ruído que vem de pertinho.

A luz que sai da sala caminha no terraço, insinua-se pelo gradil, vai projetar-se, mansa, no canteiro bem desenhado. E morre de supetão. Morre onde começa o rastilho do luar. Do luar que está cobrindo a cidade. Raras vozes na sala. O mudinho limpando as mesas. Um som de talheres crescendo na velha cozinha.

Sai o tenente, mais a mulher. O tenente gasta uma pose. Pose de marechal.
 
Boito se assusta.

— Será ela?

Curva-se um pouco.

— É mesmo.

Dulce nem olha pros lados.

— Psiu!

— Ah! Você? Não tinha visto...

— Eu sou o homem invisível.

(E a inflexão de Boito é forçada, cheia de intenções).

— Lembra-se da fita? A cabeça enrolada, o nariz escondido assim... as orelhas, o queixo, tudo igual.

— Deixe de histórias, viu?

— Não são histórias, filha. São fatos.

— Que nada! Tirando os panos, vai ficar como era antes.

— O que era antes? Pobre de mim...

(Ela corta o assunto).

— Bem. Chega de tristezas.

(Muda o tom de voz).

— Como vão as meninas?

— Parece que estão vivas.

— Então vamos entrar? Aqui você se resfria.

— Não tem importância.

(Há uma pausa difícil).

— Por que não veio a Dorita?

— Por nada. A coitadinha está muito aborrecida. Ficou chorando no quarto. Ela quer ir à festa na casa do Crespo.

— E não vai?

— Falta de companhia.

— E você?

— Eu?

— Sim. Por minha causa não se prenda. Nem somos noivos ainda. Faça o que quiser. Divirta-se.

— Não fica bem.

— Fica bem, sim senhora. Pra desgraças chegam as minhas.

— Que exagero, Boito!

— É isso mesmo. Vá. Divirta-se. O que é que tem?

— Prefiro não ir.

— Bobagem. Por minha causa não se prenda. Afinal de contas, que culpa tem a Dorita de minhas loucuras? Nenhuma. Vão à festa do Crespo. E divirtam-se. Até o fim.

Dulce não sabe o que dizer. Para falar a verdade, é bem grande o desejo de ir.

— E... Se eu for, você não zanga?

— Claro que não.

— Prometo me comportar.

— Não precisa prometer.

— E sair bem cedo. Só pra contentar a Dorita, que gosta tanto dessas coisas, você sabe.

Desaparece a moça na esquina e Boito sobe ao quarto. Fica ali na janela um tempão.

Quando vê, o relógio da Prefeitura está batendo onze vezes. 

Deserta a rua. Chegam de longe, vez ou outra, sons perdidos, indistintos. São bailes principiando. Grandes farras que começam. E a noite fria, fria, insinuando aconchegos misteriosos.

Damião passeia no quarto do lado. Tosse duas vezes a tossezinha desconsolada de todas as horas.

A mocinha triste de seu Valério está sozinha na sala. E não para de olhar a lua. Busca o violino. E se põe a tocar uma velha melodia. Velha, mansa, triste. Um noturno. O mesmo que a Carmita toca de vez em quando. Mas a mana Carmita não atinge nunca a surdina da mocinha de defronte. Porque a mocinha de defronte é que sabe escutar as fundas vozes ansiadas.

Lá embaixo, na calçada, passa um garoto de casaco esfarrapado. Segura a cestinha. E grita pra rua deserta:

— Mendoim torradinho... Quentinho, quentiiiinho...

O violino não descansa. A música fica mais angustiada. É um soluço feito harmonia.

Já vai distante o garoto do casaco esfarrapado. Oferece outra vez a sua mercadoria. E, no esforço medonho de encontrar freguês, o pregão morre, na noite quieta, longe, longe.

— Mendoim torradinho... Quentinho, quentiiiinho…
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NEWTON SAMPAIO, natural de Tomazina/PR, 1913 e falecido na Lapa, em 1938,  foi um médico, ensaísta, escritor e jornalista brasileiro. Newton é considerado um dos mais importantes contistas paranaenses sendo o precursor do conto urbano moderno. Em 1925, saindo da pequena Tomazina foi estudar no Ginásio Paranaense, em Curitiba, e precocemente, passou a lecionar nesta instituição, além de colaborar para alguns jornais da capital paranaense, principalmente o "O Dia". Ao ser admitido na Faculdade Fluminense de Medicina, transferiu-se para a cidade de Niterói. Após formado em Medicina, permanece na capital do país, porém, com a saúde bastante abalada, retornou a Curitiba e em seguida internou-se em um sanatório na cidade da Lapa onde faleceu no dia 12 de julho de 1938. Duas semanas após o seu falecimento, recebeu o Prêmio Contos e Fantasias concedido pela Academia Brasileira de Letras, pelo livro Irmandade. Newton Sampaio pertenceu ao Círculo de Estudos Bandeirantes de Curitiba e como homenagem ao jovem modernista, um dos principais prêmios de contos do Brasil leva o seu nome: Concurso Nacional de Contos Newton Sampaio. Algumas obras:  Romance “Trapo”: trechos publicados em jornais e revistas; Novela “Remorso”, 1935; “Cria de alugado”, 1935; Contos: “Irmandade”, 1938, “Contos do Sertão Paranaense”, 1939; “Reportagem de Ideias”: contos incompletos, etc.

Fontes:
Newton Sampaio. Ficções. Secretaria de Estado da Cultura: Biblioteca Pública do Paraná, 2014. Conto publicado originalmente em O Dia. Curitiba, 21/10/1936. Disponível em Domínio Público.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

Vereda da Poesia = 211

Poema de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009

JOROPO PARA TIMPLES E HARPA

Em duas asas prontas para o voo
assim se foi em par a minha vida
e com rilhar de dentes me perdoo
trilhando as horas nuas na medida

Bilros tecendo rendas amarelas
bordando em vão um tempo já remoto
no sol dos girassóis da cidadela
canto um recanto que me faz devoto

A dor que existe em mim raiz que medra
no rastro mais sombrio as minhas luas
talvez não fora Sísifo ou a pedra

que encontro todo dia pelas ruas
ao revirar as heras nessa redra
trilhando na medida as horas nuas
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Trova de
MARIA LUIZA WALENDOWSKY
Brusque/ SC

A imensidão desse amor,
que me transcende o presente,
faz suportar minha dor,
quando seu corpo está ausente.
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Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/ PR

A aranha
firmou a rede
Pra caçar
Raios de sol.
Mas nela
Quem ficou presa
Foi a chuva
De cristal.
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

UM RIO QUE BUSCANDO UM MAR ME DÓI
(Augusto Nunes in "Os Espelhos da Água", p. 87)

Um rio que buscando um mar me dói
Brota destes meus olhos tão magoados
Por tantos sonhos mortos e enterrados
No meu peito que a dor esmaga e mói.

O futuro almejado se destrói
Pelo nefasto e negro fel dos fados
Que os seus voos lhe traz tão amarrados
À humana pequenez que sempre os rói.

Fosse outra a sorte e a obra outra seria
Do tamanho e da cor de uma utopia
Talhada num perfume de mulher.

Fruto de tantos súbitos acasos
Se os meus olhos eu trago de água rasos
É porque o meu destino assim o quer.
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Do que agitou nossas almas,
restam sonhos calcinados,
cingindo as crateras calmas
de dois vulcões apagados!
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Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

TERCETOS  I

Noite ainda, quando ela me pedia
Entre dois beijos que me fosse embora,
Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:

“Espera ao menos que desponte a aurora!
Tua alcova é cheirosa como um ninho...
E olha que escuridão há lá por fora!

Como queres que eu vá, triste e sozinho,
Casando a treva e o frio de meu peito
Ao frio e à treva que há pelo caminho?!

Ouves? é o vento! é um temporal desfeito!
Não arrojes à chuva e à tempestade!
Não me exiles do vale do teu leito!

Morrerei de aflição e de saudade...
Espera! até que o dia resplandeça,
Aquece-me com a tua mocidade!

Sobre o teu colo deixa-me a cabeça
Repousar, como há pouco repousava...
Espera um pouco! deixa que amanheça!”

- E ela abria-me os braços. E eu ficava.
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Trova de 
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

A saudade me consome
e as angústias são pesadas,
quando eu murmuro teu nome
e o vento... dá gargalhadas...
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Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN

NUM LEQUE

Na gaze loura deste leque adeja
Não sei que aroma místico e encantado...
Doce morena! Abençoado seja
O doce aroma de teu leque amado

Quando o entreabres, a sorrir, na Igreja,
O templo inteiro fica embalsamado...
Até minh'alma carinhosa o beija,
Como a toalha de um altar sagrado.

E enquanto o aroma inebriante voa,
Unido aos hinos que, no coro, entoa
A voz de um órgão soluçando dores,

Só me parece que o choroso canto
Sobe da gaze de teu leque santo,
Cheio de luz e de perfume e flores!
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Trova de
RENATO ALVES
Rio de Janeiro/RJ

Da água, a grave escassez
não se mede pela escala,
e sim pela insensatez
de não sabermos usá-la!
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Haicai de
JOÃO BATISTA SERRA
Caucaia/CE

Azulão contempla 
O firmamento azulado: 
Deseja ser livre. 
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Poema de
JAQUELINE MACHADO
Cachoeira do Sul/ RS

JUSTIÇA

Ontem eu não era nada.           
E eles zombavam de mim...             
E eu, boba,        
Chorei, infeliz.             
Agora sou bastante...       
E estão me parabenizando.       
Alguns “parabéns” são de coração,
outros, cheios de disfarces.           
A justiça ê uma Deusa implacável.         
Não permite colheitas aleatórias...
Nem deixa faltar chuva no solo
de quem planta amor...
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Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Deserto o mundo seria,
sem vida, luz e calor,
se nos faltasse algum dia
a grande força do amor!
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Hino de 
CAROLINA/ MA

Conterrâneos num canto vibrante
Exaltemos a nossa cidade,
Que com justas razões se destaca,
Na cultura e na sociedade.

Até poucos decênios atrás
Quase nada do avanço mostrava
Totalmente isolada do mundo
Com entraves bem fortes lutava.

Saudemos seu fundador
A figura insinuante
De Elias Ferreira Barros
Um perfeito bandeirante

Mas depois, com os tempos mudados
E mais livre de tanto embaraço,
A buscar novas fontes do luz,
Desferiu belo voo pelo espaço

Numa marcha feliz vai seguindo
Já um lindo porvir vislumbrando
De gozar a sua luz benfeitora,
Muito perto, talvez estejamos.

Saudemos seu fundador
A figura insinuante
De Elias Ferreira Barros
Um perfeito bandeirante

Exaltemos com a doce esperança
Confiemos na Graça Divina
E o Progresso com seus benefícios,
Há de em breve atingir Carolina

Nosso anseio resume-se em vê-la
Elevada a certa grandeza
De maneira que possa dar lustre
Às insígnias reais de princesa

Saudemos seu fundador
A figura insinuante
De Elias Ferreira Barros
Um perfeito bandeirante

Salve, pois, o feliz sertanista,
Cujos passos ficaram imortais
Salve os outros que tem trabalho
Pelos seus interesses vitais.

Praza os céus que as vindouras centúrias
Tenha a dita de vir encontrá-la
Em um trono ideal de Princesa.
Ostentando os seus trajes de Gala.

Saudemos seu fundador
A figura insinuante
De Elias Ferreira Barros
Um perfeito bandeirante 
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

NOVO DESPERTAR

Um novo despertar, para quem busca a Paz
ou só continuar, um sonho muito antigo,
que nos dá  alegria em tudo que se faz
cultivando-se o amor num mundo mais amigo.

Com menos aspereza a vida é mais bonita,
Em uma nova aurora, o amor renascerá
E aquele que foi triste agora  vem, se agita
E um novo despertar por certo encontrará.

Numa vida tranquila em tudo fluirá
Cumprindo a nossa parte é certo que teremos
Com leveza e alegria  aquilo que queremos.

A Paz que vou buscar é  certo que virá
Por falta de equilíbrio ou de organização
não a deixarei ir, tenho-a firme na mão.
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Uma Lengalenga de Portugal
ARCO DA VELHA *
  
 Arco da velha,
 Tira-te daí,
 Menina donzela
 Não é para ti,
 Nem para o Pedro
 Nem para o Paulo,
 É para a velha
 Do rabo cortado
  
* Arco-da-velha é uma expressão usada quando se quer referir algo espantoso, inacreditável, inverossímil. Trata-se de uma forma reduzida de arco da lei velha, em referência ao arco-íris, que, segundo o mito bíblico, Deus teria criado em sinal da eterna aliança entre ele e os homens.
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Você diz que me quer bem,
eu também quero a você;
onde há fogo há fumaça,
quem quer bem logo se vê.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

LAMBREQUINS

O tempo passeia sem pressa
Impresso nos antigos  lambrequins,
Enquanto uma saudade azul
Toca os sinos-de-vento,
Uma borboleta pousa em minha mão…
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Trova de
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA

O homem sofre ante os impulsos
das religiões e das ciências
pois pior que algemar pulsos,
é agrilhoar consciências!...
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Estante de Livros ("Fim da Eternidade", de Isaac Asimov)

"Fim da Eternidade" é um romance de ficção científica escrito por Isaac Asimov, publicado originalmente em 1955. A história se passa em um futuro distante, onde a humanidade vive em uma sociedade altamente tecnificada e controlada por uma organização chamada Eternidade. Esta organização é composta por "Eternos", que têm a capacidade de viajar no tempo e modificar eventos históricos para evitar desastres e garantir a sobrevivência da humanidade.

O protagonista, Andrew Harlan, é um técnico de Eternidade que trabalha na manipulação do tempo. Durante uma de suas missões, ele se apaixona por Noÿs Lambent, uma mulher que pertence ao "tempo real". Ao longo da trama, Harlan descobre que as intervenções da Eternidade, embora bem-intencionadas, têm consequências inesperadas e, muitas vezes, desastrosas para o desenvolvimento da humanidade.

Quando Harlan se vê diante da possibilidade de perder Noÿs devido às regras rígidas da Eternidade, ele começa a questionar a moralidade de suas ações e a própria natureza desta organização. A história culmina em uma série de revelações sobre o verdadeiro propósito da Eternidade e a necessidade da mudança, levando Harlan a tomar decisões que podem alterar o curso da história humana para sempre.

TEMAS

1. Tempo e Mudança
Um dos temas centrais de "Fim da Eternidade" é a relação entre tempo e mudança. Asimov explora a ideia de que o tempo é uma construção complexa e que as ações de um indivíduo podem ter repercussões significativas em eventos futuros. A Eternidade, ao tentar controlar o tempo, acaba limitando o potencial humano para a inovação e o crescimento. Harlan, ao se apaixonar por Noÿs, representa a luta entre a necessidade de controle e a inevitabilidade da mudança.

2. Moralidade e Ética
Asimov também levanta questões morais e éticas sobre o controle do tempo. Os Eternos agem com a intenção de proteger a humanidade, mas suas intervenções frequentemente resultam em consequências não intencionais. A história incentiva os leitores a refletirem sobre a moralidade de alterar eventos históricos e as implicações de se considerar a vida humana como um mero experimento. Harlan, ao questionar as regras da Eternidade, representa a busca por uma ética mais flexível e humana.

3. Desenvolvimento de Personagens
Andrew Harlan é um personagem complexo que evolui ao longo da narrativa. Sua transformação de um técnico obediente para um homem que desafia as regras da Eternidade é central para a história. O relacionamento dele com Noÿs é fundamental, pois representa a luta entre a razão e a emoção. Noÿs, por sua vez, é uma figura que encarna a liberdade e a espontaneidade, desafiando as limitações impostas pela Eternidade.

4. A Natureza da Realidade
Asimov também aborda a natureza da realidade e como ela pode ser moldada pelas ações humanas. A Eternidade, ao intervir no tempo, altera a percepção do que é "real" e "natural". Essa manipulação levanta questões sobre o que significa viver uma vida autêntica. O dilema de Harlan em escolher entre a Eternidade e sua relação com Noÿs reflete a luta pela autenticidade em um mundo onde tudo pode ser controlado.

ESTRUTURA NARRATIVA E ESTILO
O estilo de Asimov em "O Fim da Eternidade" é marcado por diálogos inteligentes e uma narrativa fluida. Ele utiliza uma prosa clara e concisa, típica de sua obra, que facilita a compreensão de conceitos complexos. A construção do mundo é habilidosa, com explicações sobre a Eternidade e suas operações apresentadas de forma acessível ao leitor.

IMPACTO NA FICÇÃO CIENTÍFICA
"Fim da Eternidade" é considerado uma obra significativa dentro da ficção científica, influenciando autores e obras posteriores. A exploração do tempo como um tema central e a introdução de conceitos éticos em narrativas de ficção científica ajudaram a expandir os limites do gênero. A obra continua relevante, especialmente em uma era em que questões sobre tecnologia e controle social estão cada vez mais em debate.

CONCLUSÃO
"Fim da Eternidade" é uma obra-prima de Isaac Asimov que combina elementos de ficção científica com profundas questões filosóficas e morais. Através da história de Andrew Harlan, Asimov explora a complexidade do tempo, a moralidade das intervenções humanas e a busca pela autenticidade. A narrativa provoca reflexões sobre o papel da mudança na vida humana e sobre as consequências de tentar controlar o incontrolável. A obra permanece pertinente e instigante, consolidando Asimov como um dos grandes mestres da ficção científica.
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ISAAC ASIMOV (Isaak Yudovich Ozimov) (1920-1992) foi um escritor norte americano, considerado um dos mais importantes escritores de ficção científica do século XX. Nasceu em Petrovisk, Rússia, em 1920. Com três anos de idade, mudou-se com a família para os Estados Unidos onde foi criado em Nova York. Em 1928, naturalizou-se cidadão americano. Seu interesse pela ficção científica começou ainda menino. Com 14 anos, publicou sua primeira história em um jornal do colégio. Em 1935, Isaac Asimov iniciou o curso de Química na Universidade de Colúmbia. Em 1939, concluiu a graduação. Ainda em 1939, Isaac Asimov vendeu seu primeiro conto, “Marooned off Vesta”. Durante a Segunda Guerra Mundial, serviu como químico, na Estação Experimental Naval Air, na Filadélfia. Em 1945 publicou o primeiro conto da saga “Fundação”. Em 1948, Isaac Asimov conclui o doutorado em Bioquímica, pela Universidade de Columbia. No ano seguinte tornou-se professor de Bioquímica na Faculdade de Medicina da Universidade de Boston. Em 1958, Asimov deixou o cargo na universidade, para se dedicar inteiramente à sua atividade de escritor. O Robô foi o assunto favorito do escritor. Suas obras mais famosas e populares estão nas séries: Robôs, Império e Fundação. Dentro da série Robô, Asimov publicou: “Eu Robô” (1950), “As Cavernas de Aço” (1954), “O Sol Desvelado” (1957) e “Os Robôs do Amanhecer” (1983). Em 1950, publicou o primeiro livro da série Robô, intitulado “Eu, Robô”, que se tornou um clássico da ficção científica, onde em uma série de nove histórias, o autor narra o desenvolvimento dos robôs, desde o seu começo no estado natural, em meados do século XX, até o estado de extrema perfeição, em que robôs governam o mundo dos homens, no seu próprio interesse. Nessa obra, o autor introduziu as três leis fundamentais da robótica: 1 – um robô não pode causar dano a um ser humano, nem por omissão permitir que um ser humano sofra. 2 – um robô deve obedecer às ordens dadas por seres humanos, exceto quando essas ordens entrarem em conflito com a primeira lei. 3 – um robô deve proteger sua própria existência, desde que essa proteção não se choque com a primeira nem com a segunda lei da robótica. A série “Fundação” de Isaac Asimov teve início com a trilogia: “Fundação” (1951), “Fundação e Império” (1952) e “Segunda Fundação” (1953). A obra foi eleita, em 1966, como a melhor série de ficção científica e fantasia de todos os tempos. A trilogia conta a história da humanidade, em um ponto distante no futuro, no qual o visionário cientista Hari Seldon prevê a destruição total do império humano e de todo o conhecimento acumulado por milênios. Incapaz de impedir a tragédia, ele arquiteta um plano ousado, no qual é possível reconstruir a glória dos homens. Depois de quase 30 anos, Isaac Asimov escreveu uma extensão da “Trilogia Fundação” procurando inserir cada livro na linha cronológica do “Universo”, são eles: “Limites da Fundação” (1982), “Fundação e Terra” (1986), “Prelúdio Para Fundação” (1988) e “Origens da Fundação” (1993). Asimov publicou quase 460 livros, entre romances, contos e publicações de divulgação científica. Seu nome tornou-se familiar tanto para leitores de ficção científica como para cientistas. Sua linguagem simples abriu as portas das descobertas científicas para um público leigo. Faleceu em Nova York, Estados Unidos, em 1992, vítima da AIDS, contraída através de uma transfusão de sangue. 

Fontes:
José Feldman. Estante de livros. Maringá/PR: Copilot/ Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing