domingo, 12 de julho de 2015

Rubem Braga (1913 - 1990)



Rubem Braga, considerado por muitos o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, ES, a 12 de janeiro de 1913. Iniciou seus estudos naquela cidade, porém, quando fazia o ginásio, revoltou-se com um professor de matemática que o chamou de burro e pediu ao pai para sair da escola. Sua família o enviou para Niterói, onde moravam alguns parentes, para estudar no Colégio Salesiano. Iniciou a faculdade de Direito no Rio de Janeiro, mas se formou em Belo Horizonte, MG, em 1932, depois de ter participado, como repórter dos Diários Associados, da cobertura da Revolução Constitucionalista, em Minas Gerais — no front da Mantiqueira conheceu Juscelino Kubitschek de Oliveira e Adhemar de Barros.
        Na capital mineira se casou, em 1936, com Zora Seljan Braga, de quem posteriormente se desquitou, mãe de seu único filho Roberto Braga.
        Foi correspondente de guerra do Diário Carioca na Itália, onde escreveu o livro "Com a FEB na Itália", em 1945. De volta ao Brasil morou em Recife, Porto Alegre e São Paulo, antes de se estabelecer definitivamente no Rio de Janeiro, primeiro numa pensão do Catete, onde foi companheiro de Graciliano Ramos; depois, em Copacabana, e por em Ipanema.
        Sua vida no Brasil, no Estado Novo, não foi mais fácil do que a dos tempos de guerra. Foi preso algumas vezes, e em diversas ocasiões andou se escondendo da repressão.
        Seu primeiro livro, "O Conde e o Passarinho", foi publicado em 1936, quando o autor tinha 22 anos, pela Editora José Olympio. Na crônica-título, escreveu: "A minha vida sempre foi orientada pelo fato de eu não pretender ser conde." De fato, quase tanto como pelos seus livros, o cronista ficou famoso pelo seu temperamento introspectivo e por gostar da solidão. Como escritor, Rubem Braga teve a característica singular de ser o único autor nacional de primeira linha a se tornar célebre exclusivamente através da crônica, um gênero que não é recomendável a quem almeja a posteridade. Certa vez, solicitado pelo amigo Fernando Sabino a fazer uma descrição de si mesmo, declarou: "Sempre escrevi para ser publicado no dia seguinte. Como o marido que tem que dormir com a esposa: pode estar achando gostoso, mas é uma obrigação. Sou uma máquina de escrever com algum uso, mas em bom estado de funcionamento."
        Foi com Fernando Sabino e Otto Lara Resende que Rubem Braga fundou, em 1968, a editora Sabiá responsável pelo lançamento no Brasil de escritores como Gabriel Garcia Márquez, Pablo Neruda e Jorge Luis Borges.
        Segundo o crítico Afrânio Coutinho, a marca registrada dos textos de Rubem Braga ?a "crônica poética, na qual alia um estilo próprio a um intenso lirismo, provocado pelos acontecimentos cotidianos, pelas paisagens, pelos estados de alma, pelas pessoas, pela natureza."
        Como jornalista, Braga exerceu as funções de repórter, redator, editorialista e cronista em jornais e revistas do Rio, de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife. Foi correspondente de "O Globo" em Paris, em 1947, e do "Correio da Manhã; em 1950. Amigo de Café Filho (vice-presidente e depois presidente do Brasil) foi nomeado Chefe do Escritório Comercial do Brasil em Santiago, no Chile, em 1953. Em 1961, com os amigos Jânio Quadros na Presidência e Affonso Arinos no Itamaraty, tornou-se Embaixador do Brasil no Marrocos. Mas Braga nunca se afastou do jornalismo. Fez reportagens sobre assuntos culturais, econômicos e políticos na Argentina, nos Estados Unidos, em Cuba, e em outros países. Quando faleceu, era funcionário da TV Globo. Seu amigo Edvaldo Pacote, que o levou para lá disse: "O Rubem era um turrão, com uma veia extraordinária de humor. Uma pessoa fechada, ao mesmo tempo poeta e poético. Era preciso ser muito seu amigo para que ele entreabrisse uma porta de sua alma. Ele só era menos contido com as mulheres. Quando não estava apaixonado por uma em particular, estava apaixonado por todas. Eu o levei para a Globo... Ele escrevia todos os textos que exigiam mais sensibilidade e qualidade, e fazia isto mantendo um grande apelo popular."     
        Fez várias viagens ao exterior, com função diplomática em Rabat, capital do Marrocos, atuando também como correspondente de jornais brasileiros. Após seu regresso, exerceu o jornalismo em várias cidades do país, fixando domicílio no Rio de Janeiro, onde escreveu crônicas e críticas literárias para o Jornal Hoje, da Rede Globo de Televisão. Sua vida como jornalista registra a colaboração em inúmeros periódicos, além da participação em várias antologias, entre elas a Antologia dos Poetas Contemporâneos.
        Faleceu no Rio de Janeiro, em 19 de dezembro de 1990.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Movimento União Cultural (Participe)



Participe do Movimento União Cultural

O MOVIMENTO UNIÃO CULTURAL é um grupo de pessoas que visa a união dos diversos ramos da atividade humana, sejam profissionais, artísticos, culturais, filosóficos, etc., e a troca de informações culturais, tradições, informações gerais, entre pessoas de diversas localidades, de culturas distintas. O Movimento não possui fins lucrativos, nem quaisquer cobranças de mensalidades, e é ausente de sectarismo religioso e mantém neutralidade quanto a partidarismo político, sendo seus principais objetivos cultivar a cultura, a filantropia e a fraternidade, como meio de se alcançar a paz, a luz e a harmonia para a humanidade.

OS PRINCIPIOS DO MOVIMENTO UNIÃO CULTURAL
- a necessidade de AGIR por um mundo melhor;
- o cultivo da AMIZADE;
- o AMOR ao próximo e a humanidade;
- a CARIDADE material e moral;
- o exercício da CIDADANIA;
- o COMPANHEIRISMO no Movimento;
- a COMPREENSÃO do mundo;
- a busca incessante do CONHECIMENTO;
- a CONVIVÊNCIA salutar na comunidade;
- a CORDIALIDADE no dia-a-dia;
- o CULTIVO da família;
- a DEDICAÇÃO ao nosso trabalho;
- a ESPERANÇA de um mundo melhor;
- o uso do conceito de fair play nos ESPORTES;
- o ESTUDO da cultura local;
- a FRATERNIDADE em nosso meio;
- a GENEROSIDADE a quem nos rodeia;
- a HUMILDADE perante a ignorância;
- a IGUALDADE de tratamento entre os membros;
- o anseio pela JUSTIÇA;
- a LIBERDADE de pensamento;
- o total respeito ao LIVRE ARBÍTRIO;
- a procura da LUZ do saber;
- o treino constante da PACIÊNCIA;
- a PAZ universal;
- a PERSISTÊNCIA em nossos ideais;
- a PRESTEZA à sociedade;
- a PRUDÊNCIA nas decisões;
- o RESPEITO a natureza e a vida em geral;
- a TEMPERANÇA em nossos atos;
- a TOLERÂNCIA para com as divergências;
- a UNIÃO entre os povos;
- a VALORIZAÇÃO de todas as profissões;

As origens do Movimento remontam a 1º de outubro de 1989, quando foi realizado um primeiro evento sociocultural na Praça do Jardim Califórnia, na cidade de Taubaté, Estado de São Paulo, Brasil. Muitas ações já foram realizadas e/ou criadas, como: apostilas, associações, aulas, blog´s, campanhas, campeonatos, coletâneas, comissões, concursos literários e artísticos, cursos, discursos, edições de boletins, encontros, exposições, federações, grupos sociais e culturais, livretos, livros, meeting´s, oficinas, palestras, passeios, programas de televisão, projetos, saraus, sites, softwares, taças, torneios desportivos, treinamentos, ectc.

Funções:
- Promover a cultura e cultivar a paz em todos os sentidos possíveis;
- Participar das discussões do GRUPO DE TRABALHO do Movimento, no facebook;
- Divulgar as ações, campanhas e princípios do Movimento;
- Indicar pessoas para participar do Movimento;
- Inteirar-se sobre o Movimento, dirimindo as eventuais dúvidas que tiverem;
- Participar, quando e se possível, das ações presenciais;
- Participar das ações através da internet.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Folclore Sem Fronteiras (África: Oxóssi)




Marly Rondan

Oxóssi

Percorre a floresta escura.
Sob a luz do luar… caça!
Traz pra Terra a fartura.
Põe mel em nossa cabaça.

Protege a nossa floresta.
Revela novos perigos…
Transforma esta vida em festa
e os Orixás em amigos.

Oferendas vou levar.
Refresco de cambuci,
tucuxi vindo do Mar…

Guerreiro e bom caçador,
Pai Oxossi, sua Benção!
Receba o nosso louvor…

OXÓSSI

         Okê!
         Olofin era um rei africano da terra de Ifé, lugar de origem de todos os iorubas.
         Cada ano, na época da colheita, Olofin comemorava, em seu reino, a Festa dos Inhames.
         Ninguém no país podia comer dos novos inhames antes da festa.
         Chegado o dia, o rei instalava-e no pátio.do seu palácio.
         Suas mulheres sentavam-se à sua direita, seus ministros sentavam-se à sua esquerda, seus escravos sentavam-se atrás dele, agitando leques e espanta-moscas, e os tambores soavam para saudá-lo.
         As pessoas reunidas comiam inhame pilado e bebiam vinho de palma.
         Elas comemoravam e brincavam.
         De repente, um enorme pássaro voou sobre a festa.
         O pássaro voava à direita e voava à esquerda ... Até que veio pousar sobre o teto do palácio.
         A estranha ave fora enviada pelas feiticeiras, furiosas porque não foram também convidadas para a festa.
         O pássaro causava espanto a todos! Era tão grande que o rei pensou ser uma nuvem cobrindo a cidade. Sua asa direita cobria o lado esquerdo do palácio, sua asa esquerda cobria o lado direito do palácio, as penas do seu rabo varriam o quintal e sua cabeça, o portal da entrada.
         As pessoas assustadas comentavam:
         "Ah! Que esquisita surpresa?"
         "Eh! De onde veio este desmancha-prazer?"
         "lh! O que veio fazer aqui?"
         "Oh! Bicho feio de dar dó!"
         "Uh! Sinistro que nem urubu!"
         "Como nos livraremos dele?"
         "Vamos, rápido, chamar os caçadores mais hábeis do reino."
         De ldô, trouxeram Oxotogun, o "Caçador das vinte flechas".
         O rei lhe ordenou matar o pássaro com suas vinte flechas.
         Oxotogun afirmou:
         "Que me cortem a cabeça se eu não o matar!"
         E lançou suas vinte flechas, mas nenhuma atingiu o enorme pássaro.
         O rei mandou prendê-lo.
         De Morê, chegou Oxotogí, o "Caçador das quarenta flechas".
         O rei lhe ordenou matar o pássaro com suas quarenta flechas.
         Oxotogí afirmou:
         "Que me condenem à morte, se eu não o matar!"
         E lançou suas quarenta flechas, mas nenhuma atingiu o pássaro.
         O rei mandou prendê-lo.
         De Ilarê, apresentou-se Oxotadotá, o "Caçador das cinquenta flechas". Oxotodotá afirmou:
         "Que exterminem toda a minha fanulia, se eu não o matar".
         Lançou suas cinquenta flechas e nenhuma atingiu o pássaro.
         O rei mandou prendê-lo.
         De Iremã, chegou, finalmente, Oxotokanxoxô, o "Caçador de uma flecha só". O rei lhe ordenou matar o pássaro com sua única flecha.
         Oxotokanxoxô afirmou:
         "Que me cortem em pedaços se eu não o matar!"
         Ouvindo isto, a mãe de Oxotokanxoxô, que não tinha outros filhos, foi rápido consultar um babalaô, o adivinho, e saber o que fazer para ajudar seu único filho.
         "Ah! - disse-lhe o babalaô.
         "Seu filho está a um passo da morte ou da riqueza. Faça uma oferenda e a morte tomar-se-á riqueza."
         E ensinou-lhe como fazer uma oferenda que agradasse às feiticeiras.
         A mãe sacrificou, então, uma galinha, abrindo-lhe o peito, e foi, rápido, colocar na estrada, gritando três vezes:
         "Que o peito do pássaro aceite este presente!"
         Foi no momento exato que Oxotokanxoxô atirava sua única flecha.
         O feitiço pronunciado pela mãe do caçador chegou ao grande pássaro. Ele quis receber a oferenda e relaxou o encanto que o protegera até então. A flecha de Oxotokanxoxô o atingiu em pleno peito. O pássaro caiu pesadamente, se debateu e morreu.
         A notícia espalhou-se:
         "Foi Oxotokanxoxô, o "Caçador de uma flecha só", que matou o pássaro!
         O Rei lhe fez uma promessa, se ele o conseguisse! Ele ganhará a metade da sua fortuna! Todas as riquezas do reino serão divididas ao meio, e uma metade será dada a Oxotokanxoxô!
         " Os três caçadores foram soltos da prisão e, como recompensa, Oxotogun, o "Caçador das vinte flechas", ofereceu a Oxotokanxoxô vinte sacos de búzios; Oxotogí, o "Caçador das quarenta flechas", ofereceu-lhe quarenta sacos; Oxotadotá, o "Caçador das cinquenta flechas", ofereceu-lhe cinquenta. E todos cantaram para Oxotokanxoxô.
         O babalaô, também, juntou-se a eles, cantando e batendo em seu agogô:
         "Oxowusi! Oxowusi!! Oxowusi!!!
         "O caçador Oxo é popular!"
         E assim é que Oxotokanxoxô foi chamado Oxowusi.
         Oxowusi! Oxowui!! Oxowusi!!!

Fontes:
Marly Rondan Pinto. Poesias para evocar os Orixás. São Paulo: Sol, 2011.
Pierre Catumbi Verger. Lendas Africanas dos Orixás. Salvador: Corrupio, 1997.

Elisa Alderani (O Charme do Lago)



Tinha cabelo grisalho, barba grisalha. Trajava uma camisa verde claro da cor dos olhos. Um indivíduo sem dúvida muito charmoso.
         Eu estava sentada no restaurante do lago. Logo que cheguei com minha família, não consegui mais desviar o olhar daquele homem que me atraía por seu semblante acolhedor e tranquilo. Degustava com toda calma azeitona preta, bebia um gole de cerveja e voltava o olhar ao lago. O dia estava quente e ensolarado, mas apesar disso, no terraço do restaurante, havia muitas pessoas sentadas à mesa. Só ele estava sozinho, certamente à espera de alguém. Fixava o lago, o seu olhar se perdia no horizonte e voltava ao lago onde gansos brancos desfilavam silenciosamente.
         Observei melhor aquela figura tão interessante, sentada a poucos metros de distância e vi que tinha uma profunda ruga na fronte. Não sei explicar o porquê da atração por aquela pessoa que me era estranha. Um sentimento de calma e confiança se apropriou de mim e não conseguia disfarçar. Olhava também, o lago, os gansos, as árvores que circundavam o local. Tudo muito bonito, mas meu olhar recaía sobre ele.
         Fiquei imaginando o impossível. Seria eu a protagonista desta espera? Chegar de mansinho e abraçá-lo. Podia ser a esposa ou a amante. Por que não? Travar com ele um diálogo amoroso, de carinho e afeto; falar sobre viagem, projetos, sonhos e muito mais.
         Com certeza o estranho estava esperando por alguém muito importante e saboreando o encontro, tinha estampado no rosto um leve sorriso de satisfação. Uma espera confiante, sem estresse.
         O tempo parecia ter parado, meu filho tinha feito o pedido e na espera vinha tomando refrigerante. Eu ficava observando atentamente os acontecimentos que envolviam o ambiente. Um pássaro naquela hora tinha pousado no pilar da cerca ao lado da pessoa desconhecida e temendo que me pegassem na minha obsessão falei para minha neta: – “Olha aquele pássaro, faz tempo que está parado, ele não tem medo das pessoas”. Meu filho então ouvindo minha observação, retrucou: -“Ele está acostumado a este ambiente”.
         Verdadeiramente era muito agradável estar à beira daquele lago, transmitia calma e serenidade.
         O nosso almoço foi servido e me distraí. Quando levantei os olhos, uma senhora risonha tinha se sentado ao lado do estranho e com ela um adolescente. Conversavam animadamente com alegria. Na distância em que a gente se encontrava não dava para ouvir o diálogo, mas logo tirei minhas conclusões, pensando: – “Que bom, ele tem uma boa companhia, afinal merece. Estava muito charmoso para ficar sozinho”.
         Na beira do lago ficaram os meus verdes sonhos deslizando junto aos gansos, sem meta a ser conquistada.

Fonte: Elisa Alderani. Flores do meu jardim. Ribeirão Preto: Legis Summa, 2008.

            Elisa Alderani nasceu em 22 de fevereiro de 1938 em Como, Itália.Formada em técnico de Química Industrial, trabalhou no laboratório de uma Fábrica Têxtil até se casar.
            Mudou-se Ribeirão Preto, em 1978.
            Ao se aposentar entrou na escola de terceira idade frequentando as oficinas culturais do Sesc.
            Membro da Casa do Poeta, cadeira n. 15,e da Galeria das Letras. Membro da União Brasileira de Escritores, participa também da União Brasileira dos Trovadores e as oficinas doa União dos Escritores Independentes.
            Tem participação em várias antologias do Brasil e de Ribeirão Preto como Ave Palavra e Frutos da Terra. Foi premiada no concurso da ALUMIG de Belo Horizonte, nos Jogos Florais de Ribeirão Preto, Jogos Florais de Santos.
            Na comunidade da Igreja Santo Antônio de Pádua, frequenta a Associação da Legião de Maria, visitando pessoas doentes e levando a elas conforto da Sagrada Comunhão.
            Em 2008 publicou seu primeiro livro Flores do meu jardim - Fiori del mio Giardino, bilingue, produção independente, com o qual ganhou o premio Ruben Cione de Literatura, na Feira do Livro de 2009.