segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Silvana da Rosa (A mulher escritora e personagem nos contos de fadas) Parte II

1.2 Origens: obras primeiras e seus enfoques

E como encontraram,
Tal qual encontrei;
Assim me contaram,
Assim vos contei!...
CASCUDO, 2004, p. 23.

                                                                 
      Observa-se que a data exata em relação às origens dos contos não se sabe bem ao certo precisar, uma vez que, a partir do momento em que o homem descobriu e aprendeu as diferentes formas de comunicação, o seu universo interno e externo adquiriu forma, cor, simbologia e, assim, migrou como em ondas sonoras, acentuando o imaginário dos povos que no mundo habitavam. Consoante a isso, os registros escritos remontam a séculos antes de Cristo, tendo-se, como exemplo, o século II a.C, em Amor e Psiquê, do escritor latino Apuleio, uma vez que nesse já havia indícios que, posteriormente, poderiam constituir os contos de fadas e, dentre eles, A bela adormecida, A Bela e a Fera, entre outros. No entanto, o que realmente se comprova é que as origens dos contos de fadas provêm de fontes célticas.

      Novaes Coelho cita que Calila e Dimna, obra difundida em inúmeras versões pelo mundo, teve, posteriormente, Abn Al-Mukafa como responsável pela versão e registro árabe fiel da coletânea, no século XVIII, uma vez que “resulta de narrativas pertencentes originalmente ao Pantshatantra (apólogos usados pelos pregadores budistas, a partir do século V) e à primitiva    epopeia indiana Mahabarata, escrita entre os séculos IV a.C. e IV d.C.)” (COELHO, 1987, p.17).

Abdallah, Abn Al-Mukafa, significa o filho do homem de mão atrofiada, ou seja, seu pai recebeu esse castigo em torturas por não se portar de acordo com os preceitos muçulmanos. Abn Al-Mukafa nasceu em Firuzabad, na Pérsia, por volta do ano 724, porém viveu na cidade iraquense de Bassora, conforme Mansour Challita. (1967, p. 206)

      Mansour Challita acrescenta ainda qual o momento histórico vivido na escritura da obra Calila e Dimna, bem como a sua avaliação a respeito da mesma:

A lenda faz remontar a gênese desse livro, numa versão hindu, à época de Alexandre. Dessa data até Abn Al-Mukafa, estende-se um milênio de lutas e tormentas, durante o qual a obra evoluiu e aprimorou-se: o que explica, sem dúvida, a riquíssima experiência política e humana nela concentrada. Assim, Calila e Dimna se distingue por três superioridades: é uma das maiores obras da literatura árabe; é uma das grandes obras da ciência política; é uma das três maiores coletâneas de fábulas de todos os tempos: igual, em beleza, às fábulas de Esopo e La Fontaine, superior a elas em sabedoria e profundidade. (CHALLITA, 1967, p. 207)
                     
      Calila e Dimna pode ser percebido de duas formas, como um tratado de política ou como um receituário de boa conduta. A obra é composta por vinte e seis narrativas e, conforme Novaes Coelho:

O fio condutor de cada grupo de narrativas (= um livro) é “Dabshalim, rei da Índia,” que pede uma estória a “Báidaba, príncipe dos filósofos,” para ilustrar uma situação “exemplar”: os males da intriga, do ciúme ou da inveja; a ambição desmedida; a precipitação imprudente no agir; a irreflexão das palavras, etc. (COELHO, 1991, p.16)
                     
A referida obra traz como personagens principais dois animais, os chacais, que agem de acordo com as características humanas. Estes se denominam Calila e Dimna, atribuindo o nome à coletânea.

Os dois animais representam a personalidade humana, ora voltada para o bem-fazer e para as virtudes, ora voltada para as atitudes pecaminosas. Durante essas variações de temperamento, o conflito da narrativa se instala, quando o personagem chacal Dimna mata um boi. Ato considerado gravíssimo, pois esse animal é sagrado na Índia.

Contudo, Dimna só realiza esse ato grotesco por ser um mau-caráter, ambicionando o que não lhe é devido. Já Calila representa o equilíbrio, a sabedoria, o conhecimento, é o exemplo de integridade que a maioria dos seres humanos deseja alcançar. Em suma, a narrativa representa a complexidade da mente humana.

Conforme Novaes Coelho, Calila representa o homem prudente que se contenta com as circunstâncias em que vive; Dimna representa o ambicioso e astuto que está constantemente desejando ultrapassar-se e se igualar aos poderosos. Neles, estão simbolizadas as duas tendências polares que desde sempre diferenciaram os homens: a que os leva a se contentarem em satisfazer suas necessidades básicas, materiais... e a que os incita a almejarem planos mais altos de realização pessoal (seja através da astúcia e da ação nefasta; seja através da Sabedoria, Conhecimento, grandes ações, conquista de posições superiores aos demais, etc. (COELHO,1991, p.17, reticências da escritora)
                     
Já segundo Menendez Pelayo, em Orígenes de la novela, citado por Novaes Coelho, a moral da referida obra não tem nada a acrescentar aos que o leem, porém atribui às vicissitudes, como a astúcia e a manha, valor indevido.

A moral de Calila e Dimna não é, por certo, muito elevada nem muito severa. Na fábula tem predominado, desde sua mais remota origem, um certo sentido utilitário, um conceito de vida muito pouco desinteressado e que concede mais do que seria justo à astúcia e à manha. (PELAYO apud COELHO, 1991, p. 17)
                     
De acordo com a moral de Calila e Dimna, há uma fábula tunisiana que se assemelha à mesma. A raposa e a gazela, assim denominada, em As mais belas páginas da literatura árabe: amor, humorismo, sabedoria, espiritualidade, (p. 279– 280), a fábula aborda como eixo temático a busca por água, uma vez que a raposa tenta aproveitar-se da ingenuidade da gazela, objetivando sorver sozinha toda a água constante em um poço. Contudo, a raposa que se precipita à frente do dócil animal, é impedida de realizar seu plano, tendo em vista que os animais da floresta cortam-lhe o caminho, atrasando-a. Em consequência disso, a gazela chega primeiro e desfruta daquela água cristalina. Provavelmente, essas narrativas sejam reminiscência das fábulas do Esopo, muito anteriores à tunisiana, uma vez que em Esopo encontra-se a fábula do lobo e da ovelha, sendo que o lobo trata de culpar a ovelha por turvar a água que ele quer beber sozinho.

Constata-se então, assim como em Calila e Dimna, que a astúcia e a manha são valores negativos que jamais devem ser cultuados, vindo a trazer sofrimento a quem os pratica.

Novaes Coelho salienta ainda que dentre a coletânea de narrativas que compõem Calila e Dimna há, “pelo menos duas, que são consideradas precursoras dos contos de fadas: O anacoreta e a rata e Ilaz, Chadarm e Irakht” (1987, p.19). Além disso, faz-se necessário ressaltar que Calila e Dimna não é uma obra única, mas sim uma coleção, dividida em três livros: Pantschatantra, Mahabarata e Vischno Sarna. Coelho cita ainda as histórias que compõem cada um desses livros:

1. Pantschatantra – As Cinco Histórias, englobando as estórias: “O Leão e o Boi”; “Os Corvos e os Corujões”; “A Pomba-de-Colar”; “O Corvo, o Rato, o Cágado e o Veado”; “O Macaco e o Cágado” e “O Eremita e o Mangusto”[...]

2. Mahabarata, com três tábuas: “O Rato e o Gato”; “O Rei e a Ave Fanza” e “O Leão e o Chacal”. 3.Vischno Sarna, com a estória da “Cobra e o Rei dos Sapos”. (COELHO, 1991, p. 26)
                     
Sendebar ou O livro dos enganos das mulheres é também originário da Índia, de autoria do escritor hindu Sendabad, e é a segunda obra oriental citada por Coelho como gênese dos contos de fadas. Essa obra foi traduzida para muitas línguas entre os séculos IX e XIII e apresenta a mesma estrutura temática e elementos que se desenvolvem a partir da tríplice aliança paixão-ódio-sabedoria, características essas próprias de um conto de fadas, de acordo com a autora:

[...] embora não tenha fadas como personagens, pode ser incluído entre os precursores do conto de fadas, uma vez que o seu conflito básico é de natureza existencial: a Paixão amorosa e a Sabedoria da palavra são postos em jogo para a preservação ou a destruição de uma vida. (COELHO, 1987, p. 22, grifos da autora)

Convém salientar que a Índia foi o berço de duas preciosidades que delinearam o mundo literário, uma vez que, a partir dessas obras iniciais, inúmeras outras surgiram, as quais deram continuidade ao ciclo dos contos de fadas.

Quanto à segunda obra que serviu como semente aos contos de fadas, Novaes Coelho refere-se à origem escrita de Sendebar:

A menção mais remota da coletânea dessa obra é a de Almasudi, no século X, em sua famosa compilação Prados de Ouro, onde, ao tratar dos antigos reis da Índia, menciona o filósofo hindu, Sendabad, autor do livro Os Sete Visires, o Pedagogo, o Jovem Príncipe e a Mulher do Rei, - título que corresponde exatamente ao argumento do Sendebar atual. [...] Foi descoberto também um poema persa, traduzido para o árabe, Baktiar– Nameh (ou História dos dez vizieres), que é idêntico às narrativas de Sendebar, e entrou em algumas versões das Mil e Uma Noites. (COELHO, 1991, p. 26-27)
                     
      Sendebar possui vinte e seis narrativas que se entrelaçam ao mesmo tempo, sendo que cada história é uma novidade, surpreendendo e envolvendo a quem a lê. Esse livro alcançou a Península Ibérica juntamente com Calila e Dimna, porém, o que realmente deve ser ressaltado é que, a partir de Sendebar se passou a conceber a mulher como portadora de características pouco virtuosas, em consequência do enredo tratado pela referida obra. Nela já se observa de antemão a presença de uma madrasta, mentirosa e ambiciosa, esposa de um rei. O rei, por sua vez, tinha um filho já adulto, fruto de seu primeiro casamento. A rainha-madrasta, talvez apaixonada pelo seu enteado, ou objetivando somente prejudicá-lo, ou ainda, apaixonada e rejeitada pelo jovem, querendo vingar-se, arquitetou um astuto plano. Acusou-o de ter tentado violentá-la. Assim, o pai-rei, seguindo as leis vigentes da época e, além do mais, já que o fato havia se tornado público, condenou o filho à morte. A penalidade seria a execução do filho-príncipe, a qual foi adiada por sete dias. Durante esse tempo, a defesa, representada por sete sábios, e a acusação, pela madrasta-rainha, julgavam o caso. Enquanto isso, o príncipe-enteado a tudo assistia calado. Essa atitude foi-lhe ordenada, pois os sábios previram que um grande mal o cercaria se alguma palavra dissesse. No oitavo dia, o desfecho acontece. Como o prazo para o perigo acontecer já havia expirado, o príncipe, então, defende-se e a rainha-madrasta tem um final infeliz, tal como em A Bela dormindo no bosque de Perrault e Sol, Lua e Tália de Giambattista Basile, uma vez que os sentimentos e as atitudes das velhas-rainhas também se assemelham, bem como a omissão e fraqueza de caráter do rei.

      Posteriormente, a obra Sendebar fez-se semente em uma terra fértil, repleta de homens sedentos por contarem suas histórias. A partir dessa obra surgiu o conto As aventuras de Simbad, o marujo, inserido em As mil e uma noites. Na verdade, a obra As mil e uma noites é o somatório das duas obras origem Calila e Dimna e Sendebar, pois apresenta a mesma estrutura narrativa das anteriores ou “a idêntica estrutura-em-cadeia”, como afirma Novaes Coelho (1991, p. 20).

      Marina Warner, em um movimento de busca do passado, em Da fera à loira: sobre contos de fadas e seus narradores, também cita a origem dos contos e quais as obras que se constituíram a partir da obra embrionária.

A Índia, por exemplo, é citada como a fonte de uma coletânea seminal de setenta contos, o Panchatantra (os cinco livros), que foi compilado por volta do século VI a. C. e atribuída a Bidpai (ou Pilpay), um lendário sábio brâmane. Jean de La Fontaine, enquanto passeava pelas margens do Sena em Paris na década de 1660, encontrou um livro de autoria de Bidpai, comprou-o, e os contos que leu tornaram-se uma das fontes de inspiração fundamentais de suas próprias fábulas, que comumente são consideradas o apogeu da urbanidade gálica [...] (WARNER, 1999, p. 20)
                     
      De acordo com Warner, o Panchatantra foi compilado por um sábio brâmane por volta do século VI a. C. Novaes observa que as narrativas contidas no mesmo passaram a ser pregadas nos primeiros séculos d.C. Verificou-se ainda que os contos de fadas se originaram de povos indo-europeus, os quais eram oriundos do sudoeste da Alemanha, mas foram expulsos de seu território pelos romanos, entre os séculos II a. C e o I d. C, vindo esses povos a se espalharem pela Europa e Ásia e migrarem para diversos países. Além disso, constatou-se que as obras Calila e Dimna e Sendebar foram as primeiras que deram origem aos contos de fadas de que se tem registro na história.

      A partir dessas duas obras, consideradas mães dos contos de fadas, torna-se possível inferir que, através delas, um mundo primitivo está representado, onde a lei do mais forte é considerada fato comum. Sendo assim, escritores e estudiosos, embasados na análise dessas obras embrionárias e em suas ramificações, buscaram a significação dos contos procurando, dessa forma, adentrar na trama atemporal, fictícia e real humanas, registrada nos contos de fadas.

continua…

Fonte:
Silvana da Rosa. Do tempo medieval ao contemporâneo: o caminho percorrido pela figura feminina, enquanto escritora e personagem, nos contos de fadas. Dissertação de Mestrado em Letras. Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), 2009

Jorge Luis Borges (A Rosa de Paracelso)

Em sua oficina, que abarcava os dois cômodos do porão, Paracelso pediu a seu Deus, a seu indeterminado Deus, a qualquer Deus, que lhe enviasse um discípulo.

Entardecia. O escasso fogo da lareira arrojava sombras irregulares. Levantar-se para acender a lâmpada de ferro era demasiado trabalho. Paracelso, distraído pela fadiga, esqueceu-se de sua prece. A noite havia apagado os empoeirados alambiques e o atanor quando bateram à porta. O homem, sonolento, levantou-se, subiu a breve escada de caracol e abriu uma das portadas. Entrou um desconhecido. Também estava muito cansado. Paracelso lhe indicou um banco; o outro sentou-se e esperou. Durante um tempo não trocaram uma palavra.

O mestre foi o primeiro que falou:

— Lembro-me de caras do Ocidente e de caras do Oriente — falou, não sem certa pompa — Não me lembro da tua. Quem és e que desejas de mim?

— O meu nome não importa — replicou o outro — Três dias e três noites tenho caminhado para entrar em tua casa. Quero ser teu discípulo. Trago-te todos os meus bens — e tirou um taleigo que colocou sobre a mesa. As moedas eram muitas e de ouro.

Fê-lo com a mão direita. Paracelso lhe havia dado as costas para acender a lâmpada. Quando se voltou, viu que na mão esquerda ele segurava uma rosa, que o inquietou. Recostou-se, juntou as pontas dos dedos e falou:

— Acreditas que sou capaz de elaborar a pedra que transforma todos os elementos em ouro e ofereces-me ouro. Não é ouro o que procuro, e se o ouro te importa, não serás meu discípulo.

— O ouro não me importa — respondeu o outro. — Essas moedas não são mais do que uma parte da minha vontade de trabalho. Quero que me ensines a Arte; quero percorrer a teu lado o caminho que conduz à Pedra.

Paracelso falou devagar:

— O caminho é a Pedra. O ponto de partida é a Pedra. Se não entendes estas palavras, nada entendes ainda. Cada passo que deres é a meta.

O outro o olhou com receio. Falou com voz diferente:

— Mas, há uma meta?

Paracelso riu-se.

— Os meus difamadores, que não são menos numerosos que estúpidos, dizem que não, e me chamam de impostor. Não lhes dou razão, mas não é impossível que seja uma ilusão. Sei que há um Caminho.

— Estou pronto a percorrê-lo contigo, ainda que devamos caminhar muitos anos. Deixa-me cruzar o deserto. Deixa-me divisar, ao menos de longe, a terra prometida, ainda que os astros não me deixem pisá-la. Mas quero uma prova antes de empreender o caminho.

— Quando? — falou com inquietude Paracelso.

— Agora mesmo — respondeu com brusca decisão o discípulo.

Haviam começado a conversa em latim; agora falavam em alemão. O garoto elevou no ar a rosa.

— É verdade — falou — que podes queimar uma rosa e fazê-la ressurgir das cinzas, por obra da tua Arte. Deixa-me ser testemunha desse prodígio. Isso te peço, e te dedicarei, depois, a minha vida inteira.

— És muito crédulo — disse o mestre — Não és o menestrel da credulidade. Exijo a Fé!

O outro insistiu.

— Precisamente por não ser crédulo, quero ver com os meus olhos a aniquilação e a ressurreição da rosa.

Paracelso a havia tomado e ao falar, brincava com ela.

— És um crédulo — disse. — Perguntas-me se sou capaz de destruí-la?

— Ninguém é incapaz de destruí-la — falou o discípulo.

— Estás equivocado. Acreditas, porventura, que algo pode ser devolvido ao nada? Acreditas que o primeiro Adão no Paraíso pode haver destruído uma só flor ou uma só palha de erva?

— Não estamos no Paraíso — respondeu teimosamente o moço — Aqui, abaixo da lua, tudo é mortal.

Paracelso se havia posto em pé.

— Em que outro lugar estamos? Acreditas que a divindade pode criar um lugar que não seja o Paraíso? Acreditas que a Queda seja outra coisa que ignorar que estamos no Paraíso?

— Uma rosa pode queimar-se — falou, com insolência, o discípulo.

— Ainda fica o fogo na lareira — disse Paracelso — Se atiras esta rosa às brasas, acreditarías que tenha sido consumida e que a cinza é verdadeira. Digo-te que a rosa é eterna e que só a sua aparência pode mudar. Bastar-me-ia uma palavra para que a visse de novo.

— Uma palavra? — perguntou com estranheza o discípulo — O atanor está apagado e estão cheios de pó os alambiques. O que farías para que ressurgissem?

Paracelso olhou-o com tristeza.

— O atanor está apagado — reiterou — e estão cheios de pó os alambiques. Nesta etapa de minha longa jornada uso outros instrumentos.

— Não me atrevo a perguntar quais são — falou o moço, deixando Paracelso na dúvida se foi com astúcia ou com humildade. E continuou — Falastes do que usou a divindade para criar os céus e a terra. Falastes do invisível Paraíso em que estamos e que o pecado original nos oculta. Falastes da Palavra que nos ensina a ciência da Cabala. Peço-te, agora, a mercê de mostrar-me o desaparecimento e o aparecimento da rosa. Não me importa que operes com alambiques ou com o Verbo.

Paracelso refletiu. Depois disse:

— Se eu o fizesse, dirias que se trata de uma aparência imposta pela magia dos teus olhos. O prodígio não te daria a Fé que buscas: Deixa, pois, a Rosa.

O jovem o olhou, sempre receoso. O mestre elevou a voz e lhe disse:

— Além disso, quem és tu para entrar na casa de um mestre e exigir um prodígio? Que fizeste para merecer semelhante dom?

O outro replicou, temeroso:

— Já que nada tenho feito, peço-te, em nome dos muitos anos que estudarei à tua sombra, que me deixes ver a cinza, e depois a Rosa. Não te pedirei mais nada. Acreditarei no testemunho dos meus olhos.

Tomou com brusquidão a rosa encarnada que Paracelso havia deixado sobre a cadeira e a atirou às chamas. A cor se perdeu e só ficou um pouco de cinza. Durante um instante infinito, esperou as palavras e o milagre.

Paracelso não havia se alterado. Falou com curiosa clareza:

— Todos os médicos e todos os boticários de Basiléia afirmam que sou um farsante. Talvez eles estejam certos. Aí está a cinza que foi a rosa e que não o será.

O jovem sentiu vergonha. Paracelso era um charlatão ou um mero visionário e ele, um intruso que havia franqueado a sua porta e o obrigava agora a confessar que as suas famosas artes mágicas eram vãs.

Ajoelhou-se, e falou:

— Tenho agido de maneira imperdoável. Tem-me faltado a Fé que exiges dos crentes. Deixa-me continuar a ver as cinzas. Voltarei quando for mais forte e serei teu discípulo e no final do Caminho, verei a Rosa.

Falava com genuína paixão, mas essa paixão era a piedade que lhe inspirava o velho mestre, tão venerado, tão agredido, tão insigne e portanto tão oco. Quem era ele, Johannes Grisebach, para descobrir com mão sacrílega que detrás da máscara não havia ninguém? Deixar-lhe as moedas de ouro seria esmola. Retomou-as ao sair.

Paracelso acompanhou-o até ao pé da escada e disse-lhe que em sua casa seria sempre bem-vindo. Ambos sabiam que não voltariam a ver-se. Paracelso ficou só. Antes de apagar a lâmpada e de se recostar na velha cadeira de braços, derramou o tênue punhado de cinza na mão côncava e pronunciou uma palavra em voz baixa. A Rosa ressurgiu.

Fonte:
Pequena Antologia para se Ler Jorge Luis Borges. Digital Source.

sábado, 28 de novembro de 2015

Contos Populares do Tibete (A Criação)

No princípio era a Vacuidade¹, um imenso vazio sem causa e sem fim. Deste grande vazio, levantaram-se suaves redemoinhos de ar, que, depois de incontáveis eons, tornaram-se mais densos e pesados, e formaram o poderoso cetro duplo do raio — o Dorje Gyatram².

O Dorje Gyatram criou as nuvens; estas, por sua vez, criaram a chuva. A chuva caiu durante muitos anos, até formar o oceano primogênio, o Gyatso.3 Depois, tudo ficou calmo, tranqüilo e silencioso, e o oceano ficou límpido como um espelho.

Pouco a pouco, os ventos voltaram a soprar, agitando suavemente as águas do oceano, batendo-as continuamente, até que uma leve espuma apareceu na sua superfície. Assim como se bate a nata para fazer manteiga do mesmo modo as águas do Gyatso foram batidas pelo movimento rítmico dos ventos para transformá-las em terra.

A terra emergiu como uma montanha, e ao redor de seus picos o vento sussurrava incansável, formando uma nuvem atrás da outra. Das nuvens caiu mais chuva, mas, desta vez, mais forte ainda e carregada de sal; daí se originaram os grandes oceanos do universo.

O centro do universo é o Rirap Lhunpo (Sumeru),4 a grande montanha de quatro caras, feita de pedras preciosas e cheia de coisas maravilhosas. Existe rios e arroios no Rirap Lhunpo, e muitas espécies de árvores, frutos e plantas, pois o Rirap Lhunpo é especial: é a morada dos deuses e dos semi-deuses.

Rodeando o Rirap Lhunpo, há um grande lago, e, em volta deste, um círculo de montanhas de ouro. Depois do círculo de montanhas de ouro, existe outro lago, também cercado de montanhas de ouro, e, assim, sucessivamente, até se completarem lagos e sete círculos de montanhas de ouro.5 E, mais além do último círculo de montanhas, está o lago Chi Cyatso.

No Chi Cyatso se encontram os quatro mundos, cada um deles semelhante a uma ilha, com sua forma particular e seus diferentes habitantes.

O mundo do Este é o Lu Phak, que tem a forma de meia-lua. As pessoas do Lu Phak vivem quinhentos anos e são pacíficas; não há contendas no Lu Phak. Seus habitantes têm corpos gigantescos e caras em forma de meia-lua. Entretanto, não são tão felizes como nós, pois não têm nenhuma religião para poder seguir.

O mundo do Oeste se chama Balang Cho e sua forma é a do sol. As pessoas do Balang Cho são, como as do Lu Phak, de grande estatura e vivem quinhentos anos. Suas caras têm também a forma do sol. Dedicam-se à criação de diversas espécies de gado.

A terra do Norte tem a forma quadrada e se chama Dra Mi Nyen. As pessoas de Dra Mi Nyen são de caras quadradas e vivem mil anos ou mais. Em Dra Mi Nyen, a comida e a riqueza são abundantes. Tudo o que um homem necessita nos seus mil anos de vida é obtido sem esforço ou padecimento. Vivem com luxo, sem precisar de nada. Mas, durante os sete últimos dias de sua vida, a dor e o tormento anímicos acometem os seres de Dra Mi Nyen; e é, então, que recebeu um sinal de que estão para morrer. Visita-os uma voz — uma voz terrível — que lhes sussurra como vão morrer e que monstruosos sofrimentos terão de suportar nos infernos, depois da morte. Em seus últimos sete dias de vida, todas as suas riquezas e posses diminuem, e eles experimentam um sofrimento maior do que o nosso numa vida inteira. Dra Mi Nyen é conhecida como a "Terra da Voz Pavorosa".

O nosso próprio mundo fica ao sul e se chama Dzambu Ling.6 No começo, ele foi habitado por deuses de Rirap Lhunpo. Não havia dor nem enfermidades, e os deuses nunca necessitavam de comida. Viviam a contento, passando seus dias em profunda meditação. Não havia necessidade de luz em Dzambu Ling, pois os deuses emitiam uma luz pura de seus próprios corpos.

Certo dia, porém, um dos deuses reparou que na superfície da terra havia uma substância cremosa; provando-a, sentiu que era deliciosa ao paladar; por isso, animou os outros deuses a que a experimentassem também. Todos os deuses gostaram tanto da substância cremosa, que não quiseram mais saber de comer outra coisa. Sucedeu, porém, que quanto mais comiam, mais se reduziam os seus poderes. E já não foram mais capazes de permanecer sentados em profunda meditação. A luz, que antes brotava resplandecente de seus corpos, começou, a pouco, a se extinguir, até que, por fim, desapareceu por completo. O mundo ficou submerso em trevas e os grandes deuses do Rirap Lhunpo se converteram em seres humanos.

Foi, então, que, na escuridão da noite, apareceu, no céu, o sol. E, quando o sol se apagava, a lua e as estrelas iluminavam o céu e davam luz ao mundo. O sol, a lua e as estrelas surgiram devido às boas ações passadas dos deuses, e são, para nós, a lembrança permanente de que o nosso mundo foi, um dia, um lugar lindo e tranqüilo, sem cobiças, sofrimentos e dor.

Quando o povo de Dzambu Ling esgotou a provisão da substância cremosa, começou a comer os frutos da planta nyugu. Cada um tinha a sua própria planta, que produzia um fruto semelhante ao das messes. E todo dia, quando o fruto já havia sido comido, aparecia outro — um por dia — e isto bastava para satisfazer a fome dos seres de Dzambu Ling.

Certa manhã, um homem despertou e descobriu que a sua planta, em vez de produzir um único fruto, havia dado dois. Tomado de avidez, o homem comeu os dois frutos. No dia seguinte, porém, a sua planta estava vazia. Necessitando satisfazer a fome, o homem roubou o fruto da planta de outro homem; e assim foram fazendo todos, pois um teve que roubar o outro para poder comer. Com o roubo, chegou a cobiça, e todos, temendo não ter o que comer, começaram a cultivar mais e mais plantas nyugu. Com isso, tiveram de trabalhar cada vez mais, a fim de se assegurarem de que haveria o suficiente para comer.

Coisas estranhas começaram a ocorrer em Dzambu Ling. O que antes havia sido uma tranqüila morada de deuses do Rirap Lhunpo, estava agora cheio de homens que conheciam o roubo e a cobiça. Um dia houve em que um homem começou a sentir certo mal-estar nos órgãos genitais e, por isso, os cortou: converteu-se, assim, numa mulher. Essa mulher manteve contato com homens e logo teve filhos, os quais, por sua vez tiveram mais filhos. Em pouco tempo, Dzambu se encheu de gente, e essa gente teve que se procurar comida e um lugar para viver.

Juntas, as pessoas de Dzambu Ling não conseguiam viver em paz. Havia brigas e roubos, e os homens do nosso mundo começaram e experimentar um sofrimento autêntico profundo, que nascia do estado de insatisfação em que se encontravam. O povo percebeu que, para sobreviver, tinha que se organizar. Todos se reuniram e decidiram eleger um chefe, a quem chamaram de Mang Kur — que significa "muita gente o tornou rei". Mang Kur ensinou o povo a viver numa relativa harmonia, com uma terra própria onde construir uma casa e cultivar alimentos.

E assim foi como o nosso mundo veio a existir: como, de deuses, nos convertemos em seres humanos, sujeitos à enfermidade, à velhice e à morte.7 Quando contemplamos o céu, de noite, ou recebemos o cálido brilho do sol, deveríamos recordar que, se não fossem as boas ações dos deuses da preciosa montanha de Rirap Lhunpo, viveríamos numa total escuridão; e, se não fosse a cobiça de uma pessoa, nosso mundo não conheceria o sofrimento que hoje experimenta.
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Notas

1. Sünyatâ, em sânscrito, e stong-pa-nyd, em tibetano. Noção capita! da doutrina budista, que concebe o Princípio supremo, a Realidade última, não de modo objetivo, a partir de seus reflexos na manifestação (porque estes reflexos incluem também, embora por desvio, o nosso pensamento e o nosso ego, que são precisamente os escolhos a serem transpostos); mas, de modo subjetivo, a partir da experiência dessa Realidade no interior de nós mesmos. Assim, a Realidade última se identifica com esse mistério de infinitude que se descobre no íntimo das coisas, com esse mar de bem-aventurança onde a sede (trhnâ) de existir se aplaca definitivamente; e que, ao permitir a saída da falsa plenitude da existência, se mostra como um "vazio" (sânya). Partindo do ensinamento inicial da não-permanência das coisas, e de sua ausência de realidade própria (anâtman; páli, anattâ), chegou-se, na metafísica do Mahâyâna, a este postulado essencial da "Vacuidade", como fundamento de tudo o que existe, postulado que constitui um dos dois pólos desta forma de budismo, sendo o outro o da compaixão (karunâ) do bodhisattva em relação a todos os seres.
Esta doutrina foi formalizada por Nâgârjuna, no século II, e constitui o sistema chamado "Do caminho médio" (Mâdhyamika), ou, também, Sünyavâda, em virtude do seu princípio básico.

2. O vajra duplo (visva-vajra, também chamado karma-vajra) é, como a svastika, um símbolo da ação do Princípio com respeito ao mundo manifesto. Está formado pela união de dois vajra-s dispostos em cruz.

No budismo mahâyâna, que, de acordo com a sua perspectiva, "inverte", poderíamos dizer, a orientação, o vajra duplo é o emblema do Dhyâni Buddha Amoghasiddhi; este expressa a plenitude e a realização completa do caminho do bodhisativa, e é, igualmente, o Senhor do elemento "ar" ou "vento" (vâyu), o qual não é senão o "spiritus" que "adejava sobre a superfície das águas" no Gênesis.

3. Poderíamos assinalar, a título de informação, que esta palavra tibetana Gyatso (rGya-mtsho), que significa grande oceano, serve de apelativo para o que, no Ocidente, é conhecido como Dalai Lama, pois "Dalai" não é senão uma forma inglesada do mongol "tale", que significa a mesma coisa. Assim, pois, o nome do atual Dalai Lama é, em tibetano, Tenzin Gyatso (Bstan-dzin-rgymtsho).

4. É o monte Mêru da tradição hindu, a montanha "polar", o eixo do mundo, o ponto fixo ao redor do qual se efetua a rotação do mundo. Como centro do mundo, corresponde ao Paraíso terrestre do atual ciclo da humanidade (Manyantara).

Identifica-se com o monte Kailas (Kailâsa), em tibetano Gang Tisé, situado no Tibete ocidental e centro de peregrinações, tanto para os hindus como para os budistas.

5. São igualmente os sete dyípas da tradição hindu, que emergem sucessivamente no transcurso de determinados períodos cíclicos, tendo todos por centro o monte Mêru.

6. O Jambu dyípa da tradição hindu. Identificado popularmente com a índia, por estar esta, geograficamente, justo ao sul do monte Kailas, corresponde, na verdade, ao nosso mundo terreno, em seu conjunto e em seu estado atual.

7. É praticamente a mesma explicação das origens do homem e da sua queda que oferece um texto budista páli — o Agganna-Sutta —, cuja síntese, de Frithjof Schuon (lmages de VEsprit, Paris, 1982, pp. 102-103. n. 48), consideramos interessante citar: "A materializaçao progressiva do homem e do seu contorno se deve ao fato de que os homens primordiais e "pré-materiais" — que brilhavam como astros com luz própria, moviam-se nos ares e alimentavam-se de Beatitude — se puseram a comer a terra, quando a superfície terrestre emergiu das águas. Esta terra primordial era colorida, perfumada e doce, mas os homens, alimentando-se dela, perderam sua irradiação; foi, então, que apareceram o sol e a lua, o dia e a noite... Mais tarde, a terra deixou de ser comestível e se limitou apenas a produzir plantas comestíveis. E, mais tarde ainda, somente se pôde comer um número reduzido de vegetais. Daí ter tido o homem de se alimentar a preço de duras fadigas. As paixões e os vícios, e, com eles, as adversidades, haviam entrado, progressivamente, no mundo".

E o mesmo autor menciona, em outro lugar (Tour d'horizon d'anthropologie intégrale, "Connaissance des Religions", vol. l/n." 4, Mars 1.986, p. 159): "O homem original não foi um ser simiesco, quase incapaz de falar e de se manter em pé. Foi um ser quase imaterial, encerrado numa aura ainda celeste, mas colocada na terra, e que se parecia à 'carroça de fogo' de Elias e à nuvem que envolveu a Cristo em sua ascensão."

Enquanto respire um único ser vivo,
onde quer que ele esteja,
aí, compadecido,
o Buda aparecerá,
encarnado.


Fonte:
Jayang Rinpoche. Contos Populares do Tibete. (Tradução: Lenis E. Gemignani de Almeida).

Olympio Coutinho (Trovas)

1.
Alegria em plenitude
cultiva dentro do peito
quem dá valor à virtude
e menospreza o defeito.
2.
A "meia-noite", querida,
relembra pra todos nós
os instantes desta vida
que não ficamos a sós.
3.
As margaridas florindo
sob este céu cor de anil...
É a primavera surgindo
por todo nosso Brasil.
4.
As tristezas não me tocam,
as crises... busco vencê-las;
quando os planetas se chocam
do choque nascem estrelas.
5.
Belo ocaso e o sol formata
com um mar da cor de anil
uma tela que retrata
a bandeira do Brasil.
6.
Braços de todas as cores
traduzindo integração;
qual jardim de muitas flores
plantadas no coração.
7.
Buscando alcançar o céu,
entre as nuvens eu me ponho;
sigo assim, vivendo ao léu,
pela estrada do meu sonho.
8.
Capa de livro bem feita,
esta foto me extasia:
mostra, de forma perfeita,
abraço em prosa e poesia.
9.
Campo de terra e o menino,
com pés descalços no chão,
tem um sonho clandestino:
ser um dia um campeão.
10.
Corações são assoprados
para outro mundo, virtual...
Será que estamos frustrados
com nosso mundo real?
11.
Cultive a fraternidade,
como quem cultiva a terra;
quem planta grãos de amizade
não colhe os frutos da guerra.
12.
Da vida, na falsidade,
nossos olhos têm magia;
ninguém encobre a verdade,
pois o olhar a denuncia.
13.
Eu não tenho o que queria,
mas sou feliz mesmo assim;
faço a minha terapia
na mesa do botequim.
14.
Feliz de quem não permite
que o domínio da razão
seja mais forte e limite
o que sente o coração.
15.
Juventude, o procurar
permanente de viver;
enquanto a busca durar
ninguém vai envelhecer.
16.
Não fuja dos seus caminhos,
nem busque atalhos a esmo;
quem tem medo dos espinhos
não acha a flor em si mesmo.
17.
Neste teatro, que é a vida
(e a vida é uma somente),
prefiro o palco, querida,
do que ser mero assistente.
18.
O barquinho vai zarpar...
E me lembro, entristecida,
que por ter medo de amar
perdi o barco da vida.
19.
Olho os guris abraçados
e o meu pesar é profundo;
sei que serão separados
pela aspereza do mundo.
20.
Pelo amor abandonado,
hoje sou, na realidade,
velho navio ancorado
no triste cais da saudade.
21.
Pipa empinada e o menino,
saudando a força do vento,
curte o prazer repentino
de ser livre em movimento.
22.
Por mais que esta vida o açoite
prossiga na caminhada;
depois do negror da noite
sempre desponta a alvorada.
23.
Qual duas taças de vinho
em perfeita simetria;
que seja assim o caminho
do nosso amor, que inebria.
24.
Quisera, no trem da vida,
percorrer o meu caminho
em passarela florida
de paz, amor e carinho.
25.
Se em sua rota há procelas
não ponha a culpa no vento;
cuide do ajuste das velas,
ponha o barco em movimento.
26.
Se os erros lhe causam dor
não busque culpas a esmo:
tente, com vontade e amor,
reconstrução de si mesmo.
27.
Se tem que lutar não pense
em procurar um abrigo;
uma luta não se vence
se escondendo do inimigo.
28.
Simbolizam essas mãos
que buscam erguer a Terra
um movimento de irmãos
pela paz e contra a guerra.
29.
Sorria a todo momento
por pior que esteja a vida...
Quem sorri no sofrimento
torna a dor mais dividida.
30.
Tenho ciúmes da lua,
ciúmes loucos, meu bem,
pois passeia em tua rua...
e no teu corpo também.
31.
Viagens, sonhos, crianças,
cenas que nós já vivemos;
são retratos de lembranças
que nunca mais esquecemos.
32.
Viver não é passatempo,
pois um paradoxo encerra:
– a gente é que mata o tempo,
e o tempo é que nos enterra.