sábado, 29 de setembro de 2012

Folclore Portugues (A Moura do Castelo de Tavira)


A noite de S. João é, como toda a gente sabe, noite de mouras encantadas. Segundo uma antiga tradição, vinda do tempo longínquo da conquista do Algarve, há em Tavira uma moura que, à meia-noite da noite de S. João, aparece nas ameias do castelo chorando a sua triste sina de encantada. 

 Quem sabe não será essa moura a filha de Aben-Fabila, o célebre governador de Tavira, que no dia da tomada do castelo se não encontrou nem entre os vivos, nem entre os mortos? Alguns dizem mesmo que naquele momento que se seguiu ao terrível combate, Aben-Fabila, súbdito do grande Almansor, desapareceu para poder encantar a sua filha querida no Alcácer, esperando, mais tarde, tornar vitorioso ao seu castelo e desencantar a mourinha. Porém, a verdade é que nem D. Paio Peres Correia, nem ninguém em todo o Algarve, voltou a pôr os olhos no bravo Aben-Fabila. 

 A tradição conta-nos esta lenda, como muitas outras, em verso, e por isso vou recitá-la tal como a cantam: 

Meia noite além ressoa 
 Cerca das ribas do mar 
 Meia noite já é dada 
 E o povo ainda a folgar. 
 Em meio de tal folguedo 
 Todos quedam sem falar 
 Olhos voltam ao castelo 
 Para ver, para avistar 
 A linda moura encantada 
 Que era triste a suspirar. 

- Quem se atreve, ai quem se atreve 
 Ir ao castelo e trepar 
 Para vencer o encanto 
 Que tanto sabe encantar? 
 - Ninguém há que a tal se atreva 
Não há quem em mouros fiar
 Quem lá fosse a tais desoras 
 Para só desencantar 
 Grande risco assim correra 
 De não mais de lá voltar. 
 Ai que linda formosura 
 Quem a pudera salvar! 
 O alvor dos seus vestidos 
 Tem mais brilho que o luar 
 Doces, tão doces suspiros 
 Onde ouvi-los suspirar ... ? 
 Assim um bom cavaleiro 
 Só se estava a delatar 
 Em amor lhe ardia o peito 
 Em desejos seu olhar. 
 Três horas eram passadas 
 Neste continuo anceiar 
 Cavaleiro de armas brancas 
 Nunca soube arreceiar 
 Invoca a linda mourinha 
 Mas não ouve o seu falar 
 Nada importa a D. Ramiro 
 Mais que a moura conquistar 
 Vai subir por muro acima 
 Sente os pés a resvalar 
 Ai que era passada a hora 
 De a poder desencantar! .. 

Já lá vinha a estrela d'alva 
 Com seus brilhos a raiar 
 No mais alto do castelo 
 Já mal se via alvejar 
 A fina branca roupagem 
 Da linda filha de Agar. 
 Ao romper do claro dia 
 Para mais bem se pasmar 
 Sobre o castelo uma nuvem 
 Era apenas a pairar 
 Jurava o povo, jurava 
 E teimava em afirmar 
 Que dentro daquela nuvem 
 Vira a donzela entrar. 
 D. Ramiro d'enraívado 
 De não poder-lhe chegar 
 Dali parte e contra os mouros 
 Grande briga vai armar, 
 Por fim ganha um bom castelo 
 Mas. .. sem moura para amar. 

Fonte:
Lendas Portuguesas da Terra e do Mar, Fernanda Frazão, disponível em Estudio Raposa

Varal do Brasil (Convite para Participação no Salão Internacional do Livro de Genebra 2013)


Aos amigos do Varal,

O VARAL DO BRASIL estará presente com um stand de 12m2 no prestigiado Salão Internacional do Livro de Genebra de 1º a 5 de maio de 2013.

Estão abertas quinze vagas para sessões de autógrafo e trinta e cinco vagas para exposição de livros. Todas as vagas serão preenchidas mediante pagamento de participação cooperativa.

As pessoas interessadas deverão escrever para o

e-mail varaldobrasil@gmail.com solicitando mais informações.

Adiantamos que as associadas da REBRA e os associados da LITERARTE, assim como os participantes regulares da revista VARAL DO BRASIL, receberão descontos especiais para suas participações. 

Sempre com você,

Jacqueline Aisenman
Editora-Chefe 
Varal do Brasil

Clevane Pessoa (Lançamento de Lírios sem Delírios)


O livro, de Clevane Pessoa, foi editado pela Editora aBrace, em Montevidéu, Uruguai, que represento aqui em Belo Horizonte-Mg-Brasil. 

Foi lançado nos III Juegos Florales do aBrace, pelos editores, que também o lançaram na Feira do Livro, em Brasília 

A contracapa é de Marco Llobus-poeta e editor, da Rede catitu de Cultura, em Belo Horizonte, MG-Brasil, a cujo texto intitulou "Biografando uma borboleta", onde escreve: 

"(...) Uma borboleta que paira sobre os atônitos , e seu encanto reverbera para além do tempo (...) escritora, editora, artista visual, conselheira, mãe e filha- tessitura de seda e bandeira da paz". 

O poeta e seu editor uruguaio Roberto Bianchi, assim abre o prefácio: 
"Con abierto margen de asombro -producto de su irreverente forma de plantear los textos -leemos ese libro de Clevane Pessoa .(...) .Ningun tema se le niega o se le oculta, el deseo, el tiempo ido, los hilos de las formas, que tan bien consigue asociar con sus dibujos alegóricos que aconpañan los textos."(...) 

E Nina Reis, a outra diretora do aBrace , poeta e antologista de consistência, assim apresenta a autora e seu feitio poético : 

"Não esquivar, não disfarçar, não ocultar".(..)Clevane Pessoa, uma mulher plural feminino, indiscutivelmente uma intérprete dos sentimentos ,porta aberta e solidária, e ademais incentivadora dos jovens que incursionam no mundo das letras e das artes" (...) 

"No código das palavras ditas ou das caladas 
a verdade do Outro, as suas mentiras, 
e até mesmo nossos próprios intentos, 
nossas verdadeiras motivações ! "(...) 
(Clevane Pessoa, in Incoerências e Contrastes) 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Mario Quintana (A Arte de Ler)


Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 681)


Uma Trova do Ademar

De maneira indefinida, 
por amar e querer bem; 
vou dividir minha vida 
com a vida de outro alguém! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

O prazo que nós tivemos 
para o nosso amor viver, 
foi pouco. Nos esquecemos 
antes do prazo vencer! 
–Gislaine Canales/SC– 

Uma Trova Potiguar  

Janela do meu encanto, 
de alcance manso e profundo... 
À noite, levas meu pranto; 
de manhã traze meu mundo. 
–Mara Melinni/RN– 

Uma Trova Premiada  

2007 > Ribeirão Preto/SP 
Tema > LIVRO > 2º Lugar 

Faça do livro a oração 
e da palavra o alimento, 
o livro não nega o pão 
que o sábio quer por sustento. 
–Rita Mourão/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

A amizade verdadeira 
é infinita como o espaço 
mas se estreita e cabe, inteira, 
nos limites de um abraço. 
–Waldir Neves/RJ– 

U m a P o e s i a  

Das coisas que Deus criou 
a que tem maior beleza 
é a vasta natureza 
que ao mundo todo enfeitou. 
E nela Deus colocou 
um sertão que é meu e seu 
e que agora até nos deu 
inspiração para o tema: 
o sertão é um poema 
que a natureza escreveu. 
–Tarcísio Fernandes/RN– 

Soneto do Dia  

A DESPEDIDA. 
–Divenei Boseli/SP– 

O amor parece eterno enquanto dura, 
por força da paixão que, sendo chama, 
incendiando a carne, crema a cama! 
No café da manhã se faz candura... 

E a dois vai, no verão, rolar na grama, 
na várzea, no curral, e a mais impura 
das camas de motel lhes assegura 
o encanto inenarrável de quem ama... 

O amor constrói, corrompe, danifica 
por força da paixão: queima e não fica 
para curar sequer uma ferida... 

Partir? Chorando ou rindo? Tanto faz... 
Dizer adeus ou não?... Tudo é falaz! 
Cruel e verdadeira é a despedida...

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Mário Quintana (Destino Atroz)

Olga Agulhon (Gente de Minha Terra)



CONHECIMENTO

Estamos todos enganados!
Pensamos que podemos enxergar...
Mas pela ilusão fomos picados.
Vivemos no escuro!
Sabemos pouco do passado,
só pensamos no futuro
e não vivemos nada do presente.

QUASE REBELDIA

Chega de versos melosos, caudalosos,
que acompanham os momentos
de desatino.

Rompi com o destino!

Mesmo os momentos amorosos
serão mais curtos e secos.
Navegarei mares incertos,
não terei medo de becos escuros,
de passar por grandes apuros
ou atravessar longos desertos.

Chega de versos saudosos, lamentosos,
que acompanham os momentos
de solidão.

Rompi com a emoção!

Os punhais serão mais racionais
e os romances serão mais mortais.
Enquanto viverem, os amores serão rasos
como raízes em vasos;
suas marcas serão superficiais
e jamais exalarão perfumes florais.
Os versos serão brancos e secos
como os vinhos e a noite fria,
que é estéril e nada cria.

Mas a criação, criatura ingrata
na folha esculpida,
desata a forma da vida
e revolta-se contra o criador,
chorando pelas entrelinhas
sob o ritmo romântico 
das marchinhas.
Os versos saem cheios de amor provinciano
e abdicam da oportunidade
de tornarem-se poesia.
Para o criador,
nada de fotografia!
Talvez num outro dia
dê resultado a euforia
de sua quase rebeldia.

UM HOMEM POETA

Mergulhado em tristeza e solidão,
um homem escreve.
Versos ritmados? Não!
Escreve sobre seus dias,
contando horas vazias.
Escreve, com movimentos lentos,
palavras que tentam definir sentimentos.

É um poeta!
não porque escreve,
querendo escolher a palavra e a alegoria,
mas porque sonha,
perdido em  ilusões e melancolia.

Um homem chora.
Chora por sua vida dura,
querendo esquecer uma amargura.
Chora como todo amante,
que já sofreu o bastante.

É um poeta!
Não porque escreve,
querendo escolher a palavra e os pontos,
mas porque ama,
perdido em solidão e desencontros.
Por isso escreve,
com o coração pequenininho,
querendo seu ninho.
Escreve porque está sozinho
e só o papel lhe dá carinho.

A PALAVRA É A SEMENTE

A palavra é a semente.
Cata grão, cata grão, cata não.
O sábio escolhe
e protege o grão
antes de levá-lo ao chão
e só planta com o coração.
Da semente impura, não
germinará o trigo-pão; 
e depois de lançada,
ela não torna à mão.

A palavra é a semente.
Junta grão, junta grão, junta não.
O sábio separa o joio do trigo bom
e não semeia na escuridão;
o faz no branco do papel cartão,
retirando uma a uma
as ervas daninhas, que estragam a plantação.

AMOR PERDIDO

O coração fica magoado
quando relembra o passado.

Folha negra, virada;
fica o avesso.

Folha seca, levada;
fica o movimento,
o barulho do vento.

ESTRAGOS DE UMA TEMPESTADE DE AMOR

Uma enxurrada
de lágrimas
arrasou as margens
do meu coração.
Suas águas vermelhas
extravasaram
e inundaram –
como violenta tempestade – 
todo o meu ser,
que não resistiu.
Corpo e alma sucumbiram
diante dos estragos.
Toda a estrutura desabou.
O que restou?
Não sei.
As perdas foram grandes,
irreparáveis.
Reconstruir?
Não sei se vale a pena.
Talvez demore
uma vida inteira.

RIDÍCULA
a Fernando Pessoa

Quando deixar de escrever cartas de amor,
deixarei de ser ridícula,
serei amarga.

Quando deixar de chorar por amor,
deixarei de ser ridícula, 
serei seca.

Quando deixar de pedir seu amor,
deixarei de ser ridícula,
serei outra.

Quando aprender a fazer versos,
deixarei de ser ridícula,
serei Pessoa.

UM HOMEM SEM UM SONHO

Um homem que não sonha!
É como aquela velha cegonha,
que, embora livre,
voa pelo mundo
sem fugir do inverno,
sem chegar ao alto,
sem conquistar os céus.
Sem saber para onde ir,
sem saber o que buscar,
vai para onde é enviada,
com um destino já traçado
e uma carga predeterminada.
Sem tecer sua própria teia,
cansa de voar a vida alheia
e espera a tempestade trazer os ventos
que apagam os rabiscos de lamentos
que sempre carrega consigo
e, não tendo feito um grande amigo,
só ousa revelar às areias incertas
de praias tão desertas
como a vida,
que não tenta viver.

Fonte:
Olga Agulhon. O Tempo. Maringá: Midiograf, 2003.

Olga Agulhon (Na Safra da Vida, a Magia das Cores)


Cronica Vencedora do Concurso Nacional de Crônicas do 3º Jogos Florais de Caxias do Sul (RS) - 2011

No espelho não mais encontro aquela jovem que um dia foi a noiva de branco a se olhar uma última vez antes de se entregar... Um último retoque nos negros fios encaracolados; uma última ajeitada na grinalda de flores de laranjeira... e pronto! Tão linda imagem... perfeita! Estava ali a encarnação da esperança!

Tudo perfeito, afinal, naquele dia. Em cadeiras caprichosamente arrumadas sob a sombra do parreiral em cachos, amigos e familiares em sincera torcida... Quase toda a italianada da colônia...

As uvas pendiam roxas e perfumadas, indicando fartura e bons presságios ao alcance das mãos.

O noivo, de pé, no altar, com brilho de gel nos cabelos, vestia, com certeza, o seu melhor traje. Aguardava, aflito, a donzela que tomaria por esposa como quem espera, finalmente, começar a viver... Cheio de sonhos no olhar!

Não vi, ao caminhar em sua direção, nada além daqueles olhos de anil e promessas... Olhos que guardariam aquele momento para sempre em sua retina... Olhos que me diziam: - Venha, não tenha medo, ninguém aqui ousará ofendê-la, e hoje é o seu dia de rainha.

Unidos pelo santo laço do matrimônio, não mais enfrentaríamos a resistência dos sogros... Estava feito!

Outras safras vieram, ano após ano. Junto com a colheita da uva e a produção do vinho, comemorávamos o aniversário de casamento e, de quando em quando, a dádiva da vida sendo gerada em ventre fértil.

Nem tudo foi assim tão lindo do jeito que foi sonhado... Nem todas as promessas foram cumpridas... Algum encanto se desfez aqui ou acolá, mas tudo foi bem-vindo...  Estávamos juntos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença... Fomos abençoados com cinco valorosos filhos, que formavam lindo degradê, e nossas vidas estariam para sempre entrelaçadas. 

Volto a me buscar no mesmo espelho da penteadeira de imbuia, na mesma casa caiada com as cores da terra... e o meu amor está de partida.

Busco-me no espelho e não me vejo. Na imagem refletida, uma outra habita. Insisto e me procuro naquela imagem de cabelos de neve cobertos... Não reconheço nenhum traço. Não vejo quem sou, não encontro quem fui quando trocamos o “sim” diante do altar...

Lembro-me dos olhos de promessas cheios...  Éramos outros... Tão jovens!

A velhice enrugou o nosso olhar... Não me reconheço diante do espelho e meu loiro não pode me ajudar nesse momento, pois trava um longo combate com a morte, no quarto ao lado... Insisto, aprumo os óculos, fixo-me bem posicionada... nada! O velho espelho também exibe as marcas do tempo. Choro... e as lágrimas silenciosas escorrem lentamente, percorrendo os inúmeros sulcos esculpidos em meu rosto.

Recomponho-me! Aprendi a aceitar os punhados de dor que a vida me reserva e esconde entre tantos potes de felicidade.

Volto e sento-me a seu lado. Ainda ouço um último sussurro: - Te amo, minha nega!... E então, finalmente, me reencontro naquelas retinas, que sempre me viram além da cor e das marcas do tempo.

Firme, seguro sua mão até a travessia, com a certeza de que, na minha hora, ele estará me esperando na margem de lá, com a mão estendida..., e ao caminhar em sua direção não verei mais nada além daqueles olhos de anil e promessas...

Outra safra se aproxima e a saudade ainda machuca o peito, mas alegro-me com a chegada dos filhos ao nosso pedaço de terra nesse cantinho do mundo.
A natureza novamente em cachos perfumados e coloridos.

Agradeço ao Criador da vida! O meu quinhão de alegria sempre foi maior que o meu quinhão de dor...

Meus filhos, participando da colheita da uva, são como bálsamo para os meus olhos... Lindos e fortes, uma mistura perfeita de raças, o branco e o negro em profusão de amor: na safra da vida, a magia das cores!

Fonte:
Jornal O Diario. Caderno D+. 31 janeiro 2012.

Mara Mellini (Palavra por Palavra)


Gosto de me revelar pelas palavras... de depositar nelas os meus pensamentos mais profundos, mais humanos. Sou tudo o que está contido no que escrevo, ao meu modo, meu estilo. E aqui, no meu espaço, reino soberana... Tenho liberdade para dizer o que penso, sem amarras, sem algemas. Porque não há nada pior, para um escritor, do que viver sob a sombra da censura... Especialmente, quando se usa da palavra para atingir bons fins. Para tocar alguém, resgatar o bem.
     
    A minha palavra não visa outra coisa, senão unir, somar, dedilhar sonhos, semear esperança. Nas minhas reticências, procuro lançar ao vento novos pensamentos, ideais, buscando sopros de valores e de conforto para quem lê ou escuta. Assim, sou inteira. Sou verdadeira. Não preciso de disfarces, minha palavra tem a força da coragem e a leveza da serenidade. Não preciso fazer mea-culpa pelo que digo, tampouco temer o fato de que não fui compreendida... É que eu não procuro intervir, procuro somar. Positivamente. Quem me conhece, sabe.

     Então chega de emprestar minhas palavras a quem faz delas um meio de contramão; a quem malfere uma boa intenção, subvertendo as minhas vírgulas e pontos finais, buscando neles o que não foi dito. A palavra, sim, tem poder. Mas o que tenho em mira é somente o que eu disse no início e o que se apresenta em todo o meu universo real e virtual: o BEM. O que faço com tanto gosto é inspirado em um mundo mais humano. E, permitam-se dizer, mais justo. Longe de ser perfeita, pelo contrário... tendo consciência das minhas ações.

     Minha palavra não mora em gaiola, nem sobrevive de favores. Tem existência própria, respira ar puro. Voa... Às vezes, chora... é melancolia. Em outras, ri... e se mostra larga. Chega em versos, sai em prosa. Mas o mais importante de tudo isso: Procura apaziguar, não desunir; é livre e me pertence. E tenho dito.

Fonte:

Lima Barreto (Queixa de Defunto)


Antônio da Conceição, natural desta cidade, residente que foi em vida, na Boca do Mato, no Méier, onde acaba de morrer, por meios que não posso tomar público, mandou-me a carta abaixo que é endereçada ao prefeito. Ei-la:

"Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Doutor Prefeito do Distrito Federal. Sou um pobre homem que em vida nunca deu trabalho às autoridades públicas nem a elas fez reclamação alguma. Nunca exerci ou pretendi exercer isso que sé chama os direitos sagrados de cidadão. Nasci, vivi e morri modestamente, julgando sempre que o meu único dever era ser lustrador de móveis e admitir que os outros os tivessem para eu lustrar e eu não.

"Não fui republicano, não fui florianista, não fui custodista, não fui hermista, não me meti em greves, nem coisa alguma de reivindicações e revoltas, mas morri na santa paz do Senhor quase sem pecados e sem agonia.

"Toda a minha vida de privações e necessidades era guiada pela esperança de gozar depois de minha morte no sossego, uma calma de vida que não sou capaz de descrever, mas que pressenti pelo pensamento, graças à doutrinação das seções católicas dos jornais.

"Nunca fui ao espiritismo, nunca fui aos 'bíblias', nem a feiticeiros, e apesar de ter tido um filho que penou dez anos nas mãos dos médicos, nunca procurei macumbeiros nem médiuns.

"Vivi uma vida santa e obedecendo às prédicas do Padre André do Santuário do Sagrado Coração de Maria, em Todos os Santos, conquanto as não entendesse bem por serem pronunciadas com toda a eloqüência em galego ou vasconço.

"Segui-as, porém, com todo o rigor e humildade, e esperava gozar da mais dúlcida paz depois de minha morte. Morri afinal um dia destes. Não descrevo as cerimônias porque são muito conhecidas e os meus parentes e amigos deixaram-me sinceramente porque eu não deixava dinheiro algum. É bom meu caro Senhor Doutor Prefeito, viver na pobreza, mas muito melhor é morrer nela. Não se levam para a cova maldições dos parentes e amigos deserdados; só carregamos lamentações e bênçãos daqueles a quem não pagamos mais a casa.

"Foi o que aconteceu comigo e estava certo de ir direitinho para o Céu, quando, por culpa do Senhor e da Repartição que o Senhor dirige, tive que ir para o inferno penar alguns anos ainda.

"Embora a pena seja leve, eu me amolei, por não ter contribuído para ela de forma alguma. A culpa é da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro que não cumpre os seus deveres, calçando convenientemente as ruas. Vamos ver por quê. Tendo sido enterrado no cemitério de Inhaúma e vindo o meu enterro do Méier, o coche e o acompanhamento tiveram que atravessar em toda a extensão a rua José Bonifácio, em Todos os Santos.

"Esta rua foi calçada há perto de cinqüenta anos a macadame e nunca mais foi o seu calçamento substituído. Há caldeirões de todas as profundidades e largura, por ela afora. Dessa forma, um pobre defunto que vai dentro do caixão em cima de um coche que por ela rola, sofre o diabo. De uma feita um até, após um trambolhão do carro mortuário, saltou do esquife, vivinho da silva, tendo ressuscitado com o susto.

"Comigo não aconteceu isso, mas o balanço violento do coche, machucou-me muito e cheguei diante de São Pedro cheio de arranhaduras pelo corpo. O bom do velho santo interpelou-me logo:

"- Que diabo é isto? Você está todo machucado! Tinham-me dito que você era bem comportado - como é então que você arranjou isso? Brigou depois de morto?

"Expliquei-lhe, mas não me quis atender e mandou que me fosse purificar um pouco no inferno.

"Está aí como, meu caro Senhor Doutor Prefeito, ainda estou penando por sua culpa, embora tenha tido vida a mais santa possível. Sou, etc., etc."

Posso garantir a fidelidade da cópia e aguardar com paciência as providências da municipalidade.

Careta, 20-3-1920

Girias Antigas


À beça === Pra caramba
Bacana === Bom, bonito
Barato === .Excelente
Barra limpa === Fora de perigo
Batuta === Algo ou alguém legal
Beca… === Roupa elegante
Bicho === Amigo
Boa pinta === Pessoa de boa aparência
Bode === Confusão
Borocoxô === Tristinho
Botar pra quebrar === Causar, acontecer
Broto === Mulher jovem e atraente
Bulhufas === Absolutamente nada
Cafona === Fora de moda
Carango… === Carro
Careta === .Pessoa conservadora
Chapa === .Amigo
Chato de galocha === Pessoa muito irritante
Chocante === Legal
Dançou!… === Perdeu!
Dar no pé === Ir embora
De lascar === Situação complicada, difícil
Do arco da velha…..Algo antiquado
Dondoca === Mulher da alta sociedade
É fogo! … === É difícil!
Estourar a boca do balão……Arrasar, extrapolar
Fichinha === Algo fácil
Gamado === Apaixonado
Grilado… === Preocupado
Ir na onda === Acompanhar
Joia === Legal
Pão === Homem bonito
Patavinas === Absolutamente nada
Patota === Turma, galera
Pé de valsa === Indivíduo que dança bem
Pega leve! === Devagar!
Pindaíba === Sem dinheiro
Pintar === Aparecer
Pode crer! === Acredite!
Pombas! === Expressão que denota surpresa ou indignação
Pra frente === Moderno
Quadrado === Conservador
Sacou? === Entendeu?
Serelepe === Alegre
Supimpa pra dedéu === Algo muito legal
Transado === Com visual bonito, moderno
Traquinas === Criança aprontona
Tutu === Dinheiro
Um estouro! === Algo grandioso
Xuxu beleza! === Tudo bem!

Fonte:
So Portugues

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 680)



Uma Trova de Ademar  

Versos já fiz - não sei quantos - 
relembrando a mocidade. 
Hoje servem de acalantos 
para ninar a saudade. 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Louvo as Trovas do Ademar,
disso não faço segredo,
pois além de me encantar,
elas me chegam "Mais cedo"... 
–Antonio Moreira/MG– 

Uma Trova Potiguar  

O brilho do teu olhar 
tomando conta de mim, 
fez minh’alma se entregar 
nos braços do amor sem fim. 
–Eva Garcia/RN– 

Uma Trova Premiada  

1987 - Resende/RJ 
Tema - ABANDONO - M/H 

Triste é ver uma criança
no abandono, sem um lar,
pois, sendo a própria esperança,
não tem muito o que esperar!
–Arlindo Tadeu Hagen/MG– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Poesia estado de graça,
chama da alma em delírio.
É prazer que nos abraça
mas, também nos traz martírio.
–Lúcio da Costa Borges/PR– 

U m a P o e s i a  

É por isso que eu digo, raça nobre,
um povo forte e bom trabalhador,
eu garanto que é o povo brasileiro.
Pouco importa se é pobre ou se é doutor,
se falar que é um cabra nordestino,
ele tem uma ruma de menino
e no meio tem sempre um Trovador. 
–Gilson Faustino Maia/RJ– 

Soneto do Dia  

UM PÁSSARO A CANTAR DENTRO DE UM OVO. 
–Antonio Juraci Siqueira/PA– 

Se o mundo quer calar-me, eu não hesito:
recorro à trova e crio um mundo novo
onde ponho o calor e a voz do povo,
um punhado de humor, um beijo e um grito. 

Na trova eu me divirto e me comovo,
nela o meu sonho é muito mais bonito,
nela eu prendo as estrelas do infinito
e um pássaro a cantar dentro de um ovo. 

Trova é roupa estendida na varanda,
relva molhada pela chuva branda,
rosa vermelha, moça na janela, 

gotas de orvalho a tremular na flor...
Por isso não a queiram mal, pois ela
é a voz e o coração do trovador!

Paulo José de Oliveira [Pajo] (Do Semear ao Germinar e do Cultivar ao Colher)


Caro amigo José Feldman! 
Trago aqui um poema meu a você nesta sua data tão especial 

Mais um ano de vida se avizinha
E com ele o melhor da esperança
Há que degustar o sabor da vinha
Em campo fértil a brotar pujança

Que as alegrias de seu existir então
Armazenada nas sementes do saber
Garantam fartura na seara em chão
Adubadas no dia-a-dia do seu fazer

Que lhe acalme o espírito do amor
Encha seu coração de alegria plena
Irradie ao semblante seu esplendor
Transmita ao próximo a paz serena

Resto invocar por ti Divinas bênçãos
Na Terra a grande Luz que te conduz
Iluminados os passos que te apensam
A aconchegar-lhe a alma que te aduz

Na experiência de seus dias vividos
O germinar fecundo no seu construir
Que tenha o doce dos frutos colhidos
E fartas colheitas ao que lhe há de vir

Aniversariar é festejar etapa vencida
Que lhe seja esta data um marco forte
De tudo que foste e construíste na vida
Sendo, de o seu existir, o alicerce e norte.

Feliz e Abençoado Niver!

Um gde abraço,

Pajo

Clevane Pessoa (Lançamento do Livro “Centaura”)


Centaura é um livro em papel reciclado, com capa de Alessandro Pessoa (Allez Pessoa), baixista da banda Tancredos, filho da autora, Clevane Pessoa.

A editoria é de Sandra Veroneze, da editora Pragmatha -Porto Alegre/RS, que escreve uma das orelhas ("Clevane faz poesia como quem joga pétalas ao vento (...) também faz poesia como quem desembainha a espada", acentua ).

O físico, poeta e contista Marco Aurélio Lisboa, responde pela outra ("Nordestina morando em Minas, tem a fibra do algodão de Seridó, famosa por sua excelência. Quem já conhece de perto, sabe de sua coragem para enfrentar a adversidade e de sua tenacidade na luta pelas causas mais justas", observa Marco Aurélio).. 

O prefácio é de Dimythryus, poeta paulistano premiado no Brasil e no Exterior, que conclui: "O leitor terá a sensação de estar entrando numa cela onde o medo e a insegurança humana parecem revelar-se em poemas que se revelam numa espécie de diário. Uma vez aberta a porta, por favor, não se esqueça de fechá-la (...).

Jaak Bosmans, apresenta livro e Clevane Pessoa " Poesia de tanta solidão, percorre alegre seus dias nos símbolos mágicos da Psique e nos reflete sua "pessoa" como Clevane, de uma sempre paz além do que possa ser contrário de qualquer guerra"(...). 

Na contracapa, o prolífero escritor Thiago de Menezes faz um levantamento histórico de suas vidas, lembrando amigas comuns, quais a pintora Sinhá D'Amora , e Odette Coppos, poeta, historiadora e ensaísta, que dirigiu museus e cujo titulo está na terra dele, Itapira, SP.

Clevane manteve correspondência com ambas no tempo em que militou na imprensa de Juiz de Fora, na Gazeta Comercial.Thiago de Menezes diz:"Gosto particularmente deste título (Centaura), porque acho fascinante a riqueza de simbolismo contida no personagem que representa o centauro imortal sábio, músico, profeta, médico e professor de mitologia grega"(...) E continua:"Clevane, poetisa centaura, representa a união de várias forças em sua escrita: a razão, o instinto, a espiritualidade, a busca da imortalidade, as dualidades humanas"(...) 

Em CENTAURA- o primeiro de uma trilogia- Clevane Pessoa transita com liberdade e saber, por vários gêneros poéticos. E sobre a Centaura, de forma lancinante, a condição de sua protagonista 

"Em volta dela, uma aura verde 
mostra mil anos 
de solidão" 
LAL 

Fonte:
Clevane Pessoa

Norália de Mello Castro (Lançamento de “Realidade e sonhos”, neste sábado, 29 de setembro)


Com uma superfície aparentemente calma, Norália desenvolve o Caos permeado por romance e poesia. São devaneios e eloquentes discursos que jorram vivacidade e, por que não dizer, interatividade com o leitor. Muitos poderão se indagar ou se perder no caminho e não saber mais o que é ficção e o que é realidade. E de quem é esta realidade, será da escritora, ou minha? 

Isto não mais importa, à luz do luar, banhados pela sonata, há tempo, muito tempo para pensar, sentir e meditar. Afinal, é este último o intermédio deste universo externo e material para dimensões oníricas, da psique e do espírito.

No começo do romance a autora escreveu:

A Inspiração

A música entra na sala e alcança além dos limites. Fico centrada no vídeo que vai mostrando a Lua. Mais e mais me deixo envolver pela música e fotos. A Lua é mostrada em todo o seu esplendor em centenas de cantões da Terra. Um passeio por montanhas e planícies, lagos e rios, mares e desertos, todos a se integrarem para mais uma fotografia. Ao fundo, a música vem suavemente, poderosamente, num crescente de acordes e sons, e a Sonata ao Luar se faz inteira. Os olhos não se desprendem, envolvidos e cobertos pelos sons em reverência: ali está o recado da mensagem: “a lua inspira devaneios ou sonhos que é a luz do pensamento”(1), aquela luz que movimenta a mente para além dela mesma, tal a sua potência. Embebida pela lua, música e fotos, permaneço em transe por longo tempo. E, agora, passada a emoção vinda de surpresa, numa tarde de verão, coloco no papel devaneios, ou sonhos.

E assim nasceu Realidade e Sonhos

La rêverie est le clair de lune de la pensée. Jules Renard, poeta francês do século XIX.
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Comentários sobre o livro Realidade e sonhos

Marco Llobus, editor, disse: 
“Norália é uma escritora que apresenta nuances originais, povoando neste livro vários gêneros literários”. Gêneros estes que são interligados por uma história humana, ficcional, sobre duas irmãs, passada numa pequena cidade interiorana.

“O livro Realidade e Sonhos é como uma colcha de retalhos, mas não só com diferentes estampas e tecidos, é como se a autora tivesse trabalhado com sementes, conchas, penas, pedras e outros tesouros corriqueiros e cotidianos que tornaram este livro uma majestosa obra de arte”, escreveu Karine Souza, colaboradora da Editora Catitu.

Fonte:
A Autora