quinta-feira, 23 de maio de 2024

Estante de Livros (“A morte de Arthur”, de Sir Thomas Malory)

Hic iacet Arthurus, rex quondam rexque futurus
; Aqui jaz Arthur, rei que foi, rei que será. Com essa frase gravada em seu túmulo, terminava o reinado de Arthur Pendragon, enquanto prenunciava seu futuro retorno como monarca da ilha britânica. Porém, para compreender a grandiosidade de sua lenda, não é só necessário contar sua história, mas também as aventuras de Sir Lancelot, Sir Tristão e dos vários outros cavaleiros da Távola Redonda.

Lançado em 1485, Sir Thomas Malory, com a intenção de criar um livro com início, meio e fim da lenda Arthuriana, utilizou as várias histórias avulsas disponíveis na época e criou uma obra única e completa do portador de Excalibur. A obra de Malory está baseada em livros anteriores de temática arturiana de várias origens, ainda que as fontes exatas sejam objeto de debate. Entre as obras que forneceram material para a Morte estão o Ciclo do Lancelot-Graal e o Tristão em Prosa, ambas obras francesas do século XIII, e os poemas Morte de Arthur Aliterativo e o Morte de Artur em Estrofes, obras em inglês médio datadas do século XIV ou início do século XV. Em relação às fontes, Malory frequentemente reordenou os acontecimentos da narrativa, inclusive eliminando episódios. A coerência narrativa entre os vários livros da Morte é muitas vezes precária, o que deu margem a que estudiosos como Eugène Vinaver questionaram a unidade da obra.

Este livro traz uma das mais famosas e influentes obras das sagas Arthurianas para uma atual e moderna experiência, dando nova vida ao eterno Rei da Inglaterra.

RESUMO

A Morte de Arthur pode ser dividida nas seguintes partes:

O conto do Rei Arthur
A primeira parte apresenta Merlin e descreve como o mago planeja a concepção e nascimento de Arthur, filho de Uter Pendragon e Igraine. Arthur é criado por D. Heitor e eventualmente retira a Espada na Pedra, o que lhe dá o direito de ser rei da Inglaterra. Com Merlin como conselheiro, o rei Arthur ganha várias batalhas, casa-se com Guinevere e organiza a Távola Redonda com seus cavaleiros em Camalot.

O conto do Rei Arthur e o Imperador Lúcio
Mensageiros do imperador romano Lúcio exigem que Arthur pague tributo a Roma como vassalo. O rei recusa, invocando antigas histórias sobre uma conquista de Roma por guerreiros britânicos. Sem acordo, o exército do rei e o do imperador se preparam para a guerra. No continente, Arthur pessoalmente combate e mata um gigante que aterrorizava o povo no Monte São Miguel, na França. Mais tarde o exército do rei ganha o combate com as tropas de Lúcio, e Arthur é coroado Imperador.

O conto de Sir Lancelot do Lago
Essa parte apresenta Lancelot do Lago como o cavaleiro mais virtuoso da corte de Artur. Participa de muitas aventuras: é feito prisioneiro por Morgana, sai vitorioso num torneio em nome do rei Bagdemagus e mata em combate o traiçoeiro D. Turquine, que mantinha vários cavaleiros prisioneiros. Nesse conto também é introduzido o tema do amor proibido entre Lancelot e a rainha Guinevere, ainda que o cavaleiro sempre o negue. A desconfiança despertada pela traição termina levando à caída do reino de Arthur.

O conto de Dom Gareth
O jovem D. Gareth, irmão de Sir Gauvain, chega à corte do rei Artur como um "Bel inconnu" ("Belo desconhecido"), sem nome nem passado. Após salvar a dama Lyonesse e derrotar vários guerreiros (incluído o Cavaleiro Negro) é reconhecido como um digno cavaleiro da corte.

O livro de Dom Tristão
Essa seção é inspirada no amor trágico de Tristão e Isolda e tem como fonte principal a obra francesa Tristão em Prosa, do século XIII. Assim, a ênfase está no adultério que comete Isolda (Iseult) com Tristão, uma vez que a rainha está casada com o rei Marc da Cornualha. Outros personagens importantes dessa parte são os cavaleiros Sir Palamedes e Sir Dinadan.

O conto do Santo Graal
Essa parte do livro é inspirada na Demanda do Santo Graal do Ciclo do Lancelot-Graal, obra francesa do século XIII. O Santo Graal aparece milagrosamente na corte do rei Arthur, e vários cavaleiros se dispõem a buscá-lo. Participam entre outros Gauwain, Lancelot, Percival, Boors e Galahad, filho de Lancelot. Entre as muitas aventuras no caminho, os cavaleiros frequentemente encontram donzelas e eremitas que lhes pedem favores ou lhes dão conselhos. No final, os cavaleiros que conseguem o Graal são Boors, Percival e Galahad, sendo este, o mais virtuoso de todos, termina indo ao Céu diretamente, levado por anjos.

O livro de Dom Lancelot e da rainha Guinevere
O tema do amor proibido de Lancelote e Guinevere é retomado, e os amantes despertam cada vez mais suspeitas da corte. Meleagant, apaixonado por Guinevere, rapta a rainha e a leva para seu castelo. Lancelot vem ao socorro dela e, ao perder seu cavalo, entra no castelo numa carreta, retornando ao tema de Lancelot, o Cavaleiro da Carreta, de Chrétien de Troyes (século XII). Em combate, Lancelot acaba matando Meleagant.

A morte de Arthur
Sir Mordred e Sir Agravain revelam o adultério de Lancelot e Guinevere. Lancelot mata Agravain e escapa, e a rainha é condenada a morrer na fogueira pelo rei Arthur. Lancelot e seus companheiros resgatam-na, e na ação morrem Gareth e Gaheris, sobrinhos do rei. Arthur declara guerra contra Lancelot, e passa com seu exército à França. Mordred, filho incestuoso de Arthur e Morgawse, usurpa o trono do rei, e Arthur resolve retornar à Grã-Bretanha. Gawain, ferido, escreve uma carta a Lancelot, pedindo-lhe que venha à ilha ajudar o rei. Na Batalha de Camlann, Arthur e Mordred ferem mortalmente um ao outro. Antes de morrer, Arthur dá sua espada, Excalibur, para que que Sir Bedivere jogue num lago. Ao lançar a espada, vê surgir das águas o braço da Dama do Lago, que recolhe a espada e volta a submergir. Ao retornar ao rei, Bedivere ajuda Arthur a entrar numa embarcação com várias damas (inclusive Morgana), que levam o rei à ilha de Avalon.

Fontes:
https://www.amazon.com.br/Morte-Arthur-%C3%9Anico-Thomas-Malory/dp/650015293X
https://pt.wikipedia.org/wiki/Le_Morte_d%27Arthur

Recordando Velhas Canções (Viagem)


Compositor: Taiguara

Vai, 
abandona a morte em vida em que hoje estás
Há um lugar onde essa angústia se desfaz
E o veneno e a solidão mudam de cor
Há ainda o amor

Vai, 
recupera a paz perdida e as ilusões
Não espera vir a vida às tuas mãos
Faz em fera a flor ferida e vai lutar
Pro amor voltar

Vai, 
faz de um corpo de mulher estrada e sol
Te faz amante, faz teu peito errante
Acreditar que amanheceu

Vai, 
corpo inteiro mergulhar no teu amor
E esse momento vai ser teu momento
O mundo inteiro vai ser teu, teu, teu
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = = = = = = = = = = 

A Jornada de Renovação em 'Viagem' de Taiguara
A música 'Viagem' de Taiguara é uma poderosa expressão de esperança e renovação. Através de sua letra, o artista convida o ouvinte a deixar para trás um estado de desesperança e inércia, simbolizado pela 'morte em vida', e a buscar um novo começo onde 'a angústia se desfaz'. A canção sugere uma transformação interna, onde o veneno e a solidão são substituídos por cores mais vivas, indicando uma mudança de perspectiva sobre a vida.

O refrão da música é um chamado para a ação. Taiguara incentiva a recuperação da paz e das ilusões perdidas, não como um presente que a vida oferece, mas como uma conquista ativa. A metáfora 'faz em fera a flor ferida' evoca a ideia de que mesmo algo danificado pode ser revigorado e transformado em algo feroz e belo através da luta e do esforço pessoal.

A canção também aborda a temática do amor e da intimidade como caminhos para a redescoberta e a cura. O artista usa a imagem de 'um corpo de mulher' como símbolo de jornada e renovação, onde o amor físico e emocional serve como veículo para acreditar em novos começos. 'Viagem' é, portanto, um convite para mergulhar profundamente no amor e na vida, abraçando plenamente o potencial de cada momento como único e transformador.

Como Escrever uma História Curta e Engraçada – 2

INCORPORANDO O HUMOR

1. Tire humor de todos os lugares.

Reunir todas as coisas que o autor considere engraçadas em diferentes aspectos da vida poderá ser útil na hora de planejar os aspectos humorísticos do conto.

Poderia ser algo pessoal, político ou cultural — qualquer coisa que você ache engraçada. Faça anotações sobre a história (a trama em si), a situação (o tema do conto — por exemplo, a dinâmica da amizade), e por que ela é divertida.

Mantenha um caderno com ideias e inspirações. Anote as coisas engraçadas que vir ou ouvir ou quaisquer ideias que vierem à mente.

Não tenha medo de usar elementos humorísticos da sua própria vida e das vidas de amigos.

O conto não precisa ser 100% autobiográfico, mas incorporar elementos de situações constrangedoras ou engraçadas da vida real poderá conferir mais personalidade à obra.

Mantenha-se em dia com os eventos atuais. Talvez a história não fale sobre as notícias do mundo ou as fofocas de celebridades, mas você poderá conseguir inspiração ou até mesmo retirar elementos do enredo a partir de eventos reais e culturalmente relevantes.

2. Tenha as próprias crenças e opiniões.

A comédia requer um certo nível de honestidade por parte do comediante, e o mesmo vale para a literatura, portanto, seja honesto consigo mesmo como escritor de contos cômicos. 

Antes de sentar para escrever, você deverá ter um senso definido das coisas que pensa ou acredita sobre o mundo, assim as observações humorísticas e a escrita em geral partirão do seu próprio elemento.

Você não contaria uma piada política para alguns amigos sem antes assumir alguma posição a respeito do assunto, então por que tentar ser imparcial no humor escrito?

Não use um humor tão agressivo a ponto de alienar as pessoas que não concordem com você, mas tenha consciência do seu posicionamento em determinadas questões para poder encontrar humor situacional nelas.

3. Busque inspiração.

Isso poderá ser útil se você estiver com dificuldade para criar um conto engraçado. Ela poderá surgir de diversas formas, mas a melhor maneira de encontrar inspiração para um projeto desse tipo é a imersão em outras histórias engraçadas (tanto escritas quanto visuais).

Leia histórias de humor. 

Você poderá encontrá-las na internet, na biblioteca ou em uma livraria local.

Assista a comédias e programas de televisão engraçados. Embora estejam em um formato diferente, essas obras ainda poderão propiciar inspiração.

Quando assistir ou ler coisas que ache engraçadas, tente analisar o humor do autor. Considere por que você acha certas coisas engraçadas e as técnicas que o autor ou roteirista pode ter usado para criar os elementos humorísticos do texto, procurando meios de adaptar esse estilo a sua própria escrita.

4. Aprenda a criar uma piada.

Caso pretenda incorporar piadas reais no texto, familiarize-se com a técnica usada pelos comediantes. Elas não são obrigatórias, mas você precisará elaborá-las muito bem se quiser inclui-las no conto.

Uma piada deve ser inequivocamente engraçado e não deve exigir que o leitor quebre a cabeça para conseguir entendê-la, e a piada ideal provoca o riso antes mesmo que o leitor termine de lê-la.

Caso pretenda incluir um clímax na piada, lembre-se de colocá-lo no final. Caso contrário, os leitores poderão se confundir e não vão entender onde está a parte engraçada.

Tente criar uma lista com duas coisas que combinem bastante e depois acrescentar um terceiro item que não tenha nenhuma relação aparente com os outros dois. Essa técnica é conhecida como regra de três.

O humor partirá do terceiro elemento da lista, porque essa coisa não combina com as outras ou porque ela destaca algum tipo de verdade.

Por exemplo, você poderia escrever algo como: "Meu médico acha que estou enlouquecendo. Ele me recomendou tomar mais ar fresco, praticar mais exercícios físicos e parar de telefoná-lo às três da manhã perguntando o que está errado comigo".

5. Use o humor com moderação.

Essa sugestão pode parecer estranha para uma história engraçada, mas o humor em excesso pode arruinar um conto. Você não quer empurrar a comédia pela garganta abaixo dos leitores, o texto deve ser engraçado sem se parecer com um ataque de piadas.

Lembre-se de que um conto engraçado ainda precisa de um enredo funcional com personagens e diálogos realistas. Uma história engraçada não poderá ser apenas uma sequência eterna de piadas.

Permita que o humor surja a partir dos cenários, personagens e situações, ou de alguma combinação entre eles. Caso tente forçar muitos elementos cômicos no conto (até mesmo em uma história engraçada), a escrita poderá soar brega e artificial.

continua… Escrevendo o conto

Fonte> wikihow 

quarta-feira, 22 de maio de 2024

A. A. de Assis (Jardim de Trovas) 46

 

Silmar Bohrer (Croniquinha) 112

A vida. O que é a vida? 

A palavra vida tem um significado amplo, mas no conceito original da latina " vita " é o estado de atividade que temos entre o nascimento e a morte . Sentido básico. 

Tenho dito sempre que a vida é um cadinho de vivências que se entrecruzam, se somam, se sensibilizam, se emocionam, sofrem, riem nos melhores momentos, choram em instantes cruciais - um pequeno amontoado de vivências. 

A não-vida nos traumatiza, nos abala, nos deixa doloridos, inertes, sem fala - como acontece comigo. Em momentos de tragédias ou catástrofes nos abalamos, estremecemos, oscilamos até nos pensamentos. Como está acontecendo com o drama vivido pelos irmãos do sul, privados dos seus lares, muitos sem alimentos, sem roupas, sem descanso, sem um aconchego... amparo. 

Mas o homem, tantas vezes desumano, é humanitário por natureza. Mobiliza-se a nação para ajudar os desamparados. Em trabalho e bens materiais. Esforços sem medidas, sem hora, sem limites. Porque já dizia o humanitário Érico que "a vida começa todos os dias". 

E esse querido Veríssimo, se entre nós estivesse, certamente refletiria as próprias palavras: "Surpreender o homem no ATO DE VIVER é uma das coisas mais fantásticas que existe". 

Certamente, Veríssimo, verdadeiro ! 

Fonte: Texto enviado pelo autor 

Renato Frata (Pobreza)

Ele se pôs na fila, ao lado da minha. Calçava apenas um sapato. No outro pé, uma atadura suja e, na hora do hino, não cantou, mexeu a boca sem voz, enganando a professora que vigiava de régua nas mãos acompanhando as partituras.

– Meu guarda-pó tinha quatro botões do lado. Fora de meu irmão que trabalhava em farmácia e, como crescera. Fui seu herdeiro de roupas velhas por muito tempo.

Ele vendia remédios e aplicava injeções. Atendia um mundaréu de gente que procurava, porque tinha mãos leves que faziam das doloridas injeções uma picadinha de nada. E o fazia até nas prostitutas durante o dia, porque à noite, como era menor, não podia. Mas ele ia depois das seis, às escondidas, e ficava lá, nós quartos delas, depois das injeções, tomando guaraná! E só voltava para casa bem tarde, quando já estávamos dormindo. As vezes me trazia doce, às  vezes só contava o que acontecera. Até das nádegas delas, tudo tintim por tintim, da cor das calcinhas, era legal. Animava-me nos sonhos de puberdade.

O menino do pé com pano sentou-se comigo na carteira dupla. Dividiríamos o tinteiro de tinta azul, e ali fizemos amizade. Perguntei-lhe sobre a atadura.

- Cortei numa lata — ele disse

- E dói?

- Não.

- Se não dói, por que não calça o outro sapato?

Ele não respondeu. Levantou-se com a bolsa nas mãos e foi se sentar sozinho no fundo da sala, emburrado. Baixou a cabeça, debruçou-se nela e ficou.

Não compreendi, mas pensei: "Que se..." (para não repetir nome feio que falava aos montes). Aí lembrei do meu irmão farmacêutico e fui ter com o novo colega. A raiva dele havia passado e ele sorriu quando me viu chegar, me dando beira no assento da sua carteira.

Bem baixinho lhe contei do meu irmão dizendo que se o corte no pé estivesse doendo ele poderia colocar remédio. Até daria um desconto, por ele ser meu amigo.

Meio acanhando, ele me puxou pelo braço, pôs a boca no meu ouvido e me fez jurar que não contaria o que eu iria escutar. Nem se eu precisasse morrer pelo silêncio. Arregalei os olhos e, preocupado, fiz sim com a cabeça.

O coração bombeou rápido seus tucs-tucs, me fazendo compreender que um segredo, quando segregado, acelera o coração. Tem dentro de si uma coisa que batuca, fazendo a cara corar. E escorrer suor também. Sem falar no frio das mãos.

Então ele confidenciou: não tinha machucado algum no pé... só disfarçava...

- Por que então usa esse curativo?

A resposta foi a nunca imaginada: seu irmão gêmeo estudava em outra escola, no mesmo horário. E nenhuma aceitava aluno sem sapato.

Mas, com ao menos um, sim.

Fonte: Renato Benvindo Frata. Fragmentos. SP: Scortecci, 2022. 
Enviado pelo autor

Vereda da Poesia = 14 =


Trova Humorística, de São Paulo/SP

Heribaldo Gerbasi

O careca que tem cuca,
tem solução para tudo:
puxa três fios da nuca
e se julga um cabeludo!
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

Luiz Gondim

incorporo
emoções
onde
debruço
meus
cansaços
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Poema de Porto/ Portugal

Pedro Machado Abrunhosa

VIAGENS

Já vai alta a noite, vejo o negro do céu,
deitado na areia, o teu corpo e o meu.
Viajo com as mãos por entre as montanhas e os rios,
e sinto nos meus lábios os teus doces e frios.
E voas sobre o mar, com as asas que eu te dou,
e dizes-me a cantar: "É assim que eu sou".
Olhar para ti e ver o que eu vejo,
olhar-te nos olhos com olhares de desejo.
Olhar para ti e ver o que eu vejo,
olhar-te nos olhos com olhares de desejo.
Eu não tenho nada mais pra te dar,
esta vida são dois dias,
e um é para acordar,
das historias de encantar,
das historias de encantar.
Viagens que se perdem no tempo,
viagens sem princípio nem fim,
beijos entregues ao vento,
e amor em mares de cetim.
Gestos que riscam o ar,
e olhares que trazem solidão,
pedras e praias e o céu a bailar,
e os corpos que fogem do chão.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada  em Maranguape/CE, 2008 

Flávio R. Stefani 
Porto Alegre/RS

Um sonho é sonho, mais nada,
mas, às vezes, na emoção,
deixa marcas na calçada
das ruas do coração.
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Poema de Ubiratã/PR

Alessandra Guimarães

MADRUGADA FRIA

Todos dormem,
num profundo sono.
Rua deserta e silenciosa,
pássaros quietos, se escondem.
Somente gotículas de orvalho,
caindo sobre a calçada,
na madrugada fria.

A lua se esconde,
atrás de uma nuvem que passa,
tornando a noite mais escura.
Nuvens formosas,
carregadas d’água,
se congelam,
na madrugada fria.

O brilho das estrelas,
no infinito desaparecem.
O riacho murmura, levemente,
o vento sopra calmamente,
o eco se cala lentamente,
somente o amor vibra,
na madrugada fria.
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Quadra Popular

Vai-te, carta venturosa,
vai ver a quem quero bem,
diz-lhe que eu fico chorando
por não poder ir também.
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Décimas de Teixeira/PB

Ugolino do Sabugi
(Ugolino Nunes da Costa)
1830 – 1893

AS OBRAS DA NATUREZA 

As obras da Natureza 
     São de tanta perfeição, 
     Que a nossa imaginação 
     Não pinta tanta grandeza! 
     Para imitar a beleza 
     Das nuvens com suas cores, 
     Se desmanchando em louvores 
     De um manto adamascado, 
     O artista, com cuidado, 
     Da arte, aplica os primores.

Brilham, nos prados, verdumes 
     De um tapete aveludado; 
     Brilha o rochedo escarlado*, 
     Das penhas seus altos cumes; 
     Os montes formam tais gumes, 
     Que a gente, os observando, 
     Vê como que se alongando, 
     Sumir-se na imensidade ... 
     Nossa visibilidade 
     os perde se está olhando.
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* Escarlado = Cor brilhante de carmesim vivo
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Triverso de Curitiba/PR

Paulo Leminski
Curitiba/PR, 1944 – 1989

tudo dito,
nada feito,
fito e deito
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Soneto de União da Vitória/PR

Pedro Mello

PEQUENO TRATADO SOBRE A DOR

A dor do infarto, dor que chama a morte,
a dor que ataca um mal cuidado dente,
a dor pós-cirurgia, a dor do corte,
a dor da cãibra, o músculo torcente...

o chute acidental... e um homem forte
da partida-batalha sai dormente...
a dor do câncer faz perder o norte,
a dor do parto abala quem a sente...

Mas entre dores tantas, afinal,
qual é a que faz alguém perder o sono
e despencar o pranto sem contê-lo?

...É a dor de todos, dor universal,
amargo resultado do abandono,
a dor pior... é a dor de cotovelo…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de Mogi-Guaçu/SP

Olivaldo Junior

Entre velhos pergaminhos,
chilreando feito gralhas,
namorados são pombinhos
que dividem as migalhas.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Spina de Maceió/AL

Isabel Pernambuco

JARDIM EM FLOR...

Passeio num jardim
de flores perfumadas
regadas com carinho

Lindas borboletas celebram a vida,
atraídas pelas cores que cintilam!
Colibri em liberdade constrói ninho,
sugando suave néctar das amarílis!
Rosas, lírios, ipês, ornam caminho.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Haicai de São Paulo/SP

Guilherme de Almeida
(Guilherme de Andrade de Almeida)
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP

EQUINÓCIO

No fim da alameda
há raios e papagaios
de papel de seda.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Portugal

Florbela Espanca
(Florbela de Alma da Conceição Espanca) 
Vila Viçosa/Portugal, 1894 – 1930, Matosinhos/Portugal

AMOR QUE MORRE

O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...

Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.

E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há de vir!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Setilha de Caicó/RN

Professor Garcia

Casinha à beira da estrada
com chão de terra batida,
fiz do teu portão de entrada
o meu portão de saída,
parti morto de saudade
tangendo os sonhos da idade
pelas estradas da vida!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Epigrama do Rio de Janeiro/RJ

Millôr Fernandes
(Milton Viola Fernandes)
1923- 2012

Aqui jaz minha mulher
que partiu para o Além.
Agora descansa em paz
e eu também.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Porto Alegre/RS

Ialmar Pio Schneider

O SONETO

Para escrever quatorze linhas, tenho
que dedicar o tempo disponível,
e embora seja humilde meu engenho,
vale a pena, afinal, tornar possível

esta tarefa nobre de alto nível...
É preciso sonhar e ter empenho
de alimentar um grande amor incrível,
somente realizável por um gênio...

Sinto, no entanto, que não devo alçar
voo tão alto, e me penitenciar
de assim querer e então me comprometo

a desobedecer esta vontade;
e caindo, por fim, na realidade,
aqui me despedir... Eis o Soneto !…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de Sorocaba/SP

Dorothy Jansson Moretti
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

O sol, silencioso, desce,
e é mais um dia a morrer;
mas do outro lado, uma prece
lhe agradece o renascer.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Santos/SP

Carolina Ramos

BOÊMIO

Boêmio – em turbilhão intenso a vida esbanjas,
escravo de emoções em noites deturpadas.
Teu sol, luz de abajur, a arder envolto em franjas,
tem o álgido livor das frias madrugadas.

Volúvel, novo amor te aguarda em cada esquina,
e insatisfeito vai teu coração repleto
dessa ânsia de viver, que arrasta, que fascina,
alheio à paz de um lar, à placidez de um teto!

Boêmio, a mocidade é curta… logo passa!
A seara, quando má, provém de mau plantio!
Apressa-se o amanhã… o nada te ameaça
e a solidão abraça o coração vazio!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Limerique* de São Paulo/SP

Tatiana Belinky
São Petersburgo/Rússia, 1919 – 2013, São Paulo/SP

Quem pensa que eu sou uma ogra
No seu pensamento malogra.
Língua bifurcada?
Só quando enfezada.
Porque eu sou mesmo é sogra.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 

* Limerick ou limerique é um poema monostrófico de cinco versos, com ritmo anapéstico ou anfíbraco. O nome do poema é geralmente considerado como uma referência à cidade irlandesa de Limerick, que é onde acredita-se tenha tido origem, mas seu uso foi documentado pela primeira vez na Inglaterra em 1846, quando Edward Lear publicou A Book of Nonsense. 

Versa, na maioria das vezes, temas de tendência humorística, por vezes obscenas. Os versos 1, 2 e 5 são maiores, geralmente com três pés de três sílabas (anapestos ou anfíbracos), rimando entre si, e os versos 3 e 4 menores com dois pés de 3 sílabas, também rimando entre si. O esquema rítmico é AABBA.

No Brasil, a arte do limerique também foi representada por escritores como Joaquim de Sousândrade e Clarice Lispector, sendo que os mais famosos foram escritos pela escritora de livros infantis Tatiana Belinky (http://pt.wikipedia.org/wiki/Limerick_%28poema%29)

Como Escrever uma História Curta e Engraçada – 1

A criação de um conto de humor é uma experiência agradável que combina a comédia e a escrita criativa com um formato literário interessante e envolvente. O humor pode aliviar a tensão de situações difíceis e unir as pessoas através do riso, um subterfúgio muito útil se a trama em questão for tensa ou perturbadora. Não importa se você está escrevendo uma dissertação para a escola ou se simplesmente deseja contar uma história insana e engraçada através de um projeto literário, a combinação da comédia com a escrita poderá ajudá-lo a expressar criatividade e senso de humor.

PLANEJANDO O CONTO

1. Escolha um cenário.

Alguns escritores preferem planejar a trama antes de escolher um ambiente, mas, na literatura cômica, o humor costuma se basear em situações. Antes de começar a criar o enredo do conto, considere onde a história se passaria e como você poderia extrair humor de tal cenário.

Tente ser original na hora de escolher um ambiente. Os leitores podem se desinteressar pela obra se estiverem muito familiarizados com o cenário, já que sentirão que história foi reciclada.

Nos contos, o ideal é manter o menor número de cenários possível. Tente trabalhar dentro de apenas um ambiente e, se não for possível, não use mais de dois.

2. Invente uma trama.

O enredo é o componente mais importante da história e abrange o que acontece no conto, quem está envolvido e como a série de eventos se desenvolve.

A maioria das histórias cativantes tem começo, meio e fim, e através dessa linha de tempo uma tensão cresce gradualmente, seguida do clímax (o momento auge da tensão) e do desdobramento que conduz ao final do conto.

Pense em qual elemento seria a fonte de drama ou tensão do enredo e tente trabalhar esses fatores no cenário escolhido para a história.

Considere como a fonte de tensão poderá funcionar no cenário escolhido. Por exemplo, talvez o ambiente aumente a tensão ou propicie uma situação cômica que contraste com o local onde os eventos se desenvolvem.

3. Planeje as personagens.

Toda história precisa de personagens interessantes e realistas. 

Um conto engraçado deverá apresentar personagens com qualidades cômicas ou que se encontrem em situações divertidas.

A forma como as personagens são retratadas dependerá das personalidades e circunstâncias únicas de cada uma delas, dentro da história.

Por exemplo, você poderia criar uma personagem "idiota" e estabanada que se depara com situações engraçadas, ou uma personagem sarcástica que acredite saber de tudo mas acabe percebendo que não sabe nada sobre as próprias circunstâncias de sua vida.

As personagens devem ser realistas e plausíveis. Elas devem ter sentimentos e opiniões e reagir de forma realista às diferentes situações do conto.

Considere quais tipos de personagens poderiam tornar o cenário divertido ou vice-versa.

Todos os elementos do conto (ambiente, enredo e personagens) devem trabalhar em conjunto, combinando bem um com outro ou criando contrastes engraçados e inesperados.

continua… Incorporando o humor

Fonte> wikihow 

Recordando Velhas Canções (Nos Bailes da Vida)


Compositores: Milton Nascimento e Fernando Brandt

Só quem toma um sonho
Como sua forma de viver
Pode desvendar o segredo
De ser feliz

Foi nos bailes da vida ou num bar em troca de pão
Que muita gente boa pôs o pé na profissão
De tocar um instrumento e de cantar
Não importando se quem pagou quis ouvir
Foi assim

Cantar era buscar o caminho que vai dar no Sol
Tenho comigo as lembranças do que eu era
Para cantar nada era longe, tudo tão bom
Até a estrada de terra na boleia de caminhão
Era assim

Com a roupa encharcada e a alma repleta de chão
Todo artista tem de ir aonde o povo está
Se foi assim, assim será
Cantando me desfaço e não me canso
De viver nem de cantar

Cantar era buscar o caminho que vai dar no Sol
Tenho comigo as lembranças do que eu era
Para cantar nada era longe, tudo tão bom
Até a estrada de terra na boleia de caminhão
Era assim

Com a roupa encharcada, a alma repleta de chão
Todo artista tem de ir aonde o povo está
Se foi assim, assim será (assim será)
Cantando me desfaço e não me canso
De viver nem de cantar
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A Jornada do Artista em 'Nos Bailes da Vida'
A música 'Nos Bailes da Vida', interpretada por Milton Nascimento em parceria com o grupo Roupa Nova, é uma homenagem à trajetória dos artistas, especialmente músicos, que percorrem caminhos muitas vezes árduos em busca de realização e reconhecimento. A letra fala sobre a persistência e a paixão pela arte, independentemente das dificuldades encontradas no caminho.

O refrão 'Foi nos bailes da vida ou num bar em troca de pão' evoca a imagem de músicos que começam suas carreiras tocando em locais pequenos e muitas vezes precários, mas que são movidos pelo sonho de viver de sua arte. A expressão 'em troca de pão' sugere que muitas vezes esses artistas tocam não apenas por amor à música, mas também como meio de subsistência. A música destaca a importância de se aproximar do público, de 'ir aonde o povo está', reforçando a ideia de que a arte deve ser acessível e estar em contato direto com as pessoas.

A canção também aborda a resiliência e a dedicação dos artistas, que 'não se cansam de viver nem de cantar', mesmo diante de adversidades. A 'roupa encharcada e a alma repleta de chão' simbolizam as experiências vividas e as marcas deixadas pela jornada. 'Nos Bailes da Vida' é um tributo àqueles que encontram no ato de cantar e tocar um caminho de luz e felicidade, apesar dos obstáculos enfrentados.

Aparecido Raimundo de Souza (Um dia, o amor)

SEM MEDO DE ERRAR, aquele se fazia um coração que batia descompassado, como se dançasse tresloucado ao som de uma música envolvente, porém, que só ele conseguia ouvir. Esse coração pertencia a Lafaiete que amava profundamente, mas cujo amor, por algum motivo desconhecido, não se fazia retribuído. Assemelhava, sem tirar nem pôr, a um amor unilateral, tipo essas paixões doidivanas que ardem como fogo em um dos lados e permanecem frios e gélidos no outro.

Lafaiete por conta desse vazio terrificante, vivia batendo cabeça entre as estrelas e a melancolia. Entre o sonho não vivenciado e uma realidade não palpável. Nas noites mais escuras, olhava demoradamente para o céu e imaginava que cada estrela representava uma quimera não decantada, um desejo não correspondido, um tempo incerto e não vivenciado. Cada brilho distante se adumbrava como uma lembrança dolorosa; um eco daquilo que poderia ter sido; mas nunca se fez palpável.

Por conta disso, “trocentas” vezes mergulhava em pensamentos ociosos, relembrando os momentos cavernosos e anoréxicos, em que a pessoa amada estava por perto, sem estar. Cada sorriso, cada olhar, cada toque, eram guardados como preciosidades raras em seu coração. Contudo, ao mesmo tempo, essas lembranças e regalos também se transformavam em punhais perfurando a sua alma com a certeza de que nunca seriam mais do que isso: lembranças.

O amor não correspondido, para ele, se assemelhava a uma ferida que não cicatrizava. Se fazia pesado numa dor que não se resolveria com remédios ou palavras de consolo. Tudo se agigantava numa sensação estranha e densa de estar desabrigado, de não ter um lar para o aconchego do coração. Lafaiete se perguntava: “como poderia algo belo e intenso, causar angústia tão degradante”?

Todas as noites, depois que chegava do trabalho, se trancava em seu quarto. Sentava na escrivaninha e escrevia cartas. Compunha missivas longas que nunca seriam enviadas. Poemas que jamais seriam declamados. Redigia para exorcizar a dor, para dar voz e forma aos sentimentos que o sufocavam interiormente. Assim, meio que abrupto, nasceu um poeta dentro dele. Cada verso, uma lágrima transformada em palavra, cada linha uma saudade eternizada na tinta de sua caneta esferográfica.

Mas o tempo passou, e Lafaiete aprendeu, a trancos e barrancos, que o amor não correspondido não mostrava o fim do mundo. Ele descobriu que a amargura poderia se transformar em algo mais suportável. Que as mágoas, em uma série de versos, os seus pensamentos dariam lugar à aceitação. Afinal, o amor não é apenas sobre ser amado ou ter alguma compensação em troca. É sobre sentir, assimilar, viver, usufruir, gozar, mesmo que num determinado ponto, alguma coisa descambe para a dor causticante e estupadorada na sua maior forma de expressão.

Assim, entre as estrelas e a melancolia, a consternação e a repugnância, Lafaiete se deparou com um novo caminho a ser seguido. Percebeu que o amor não correspondido não o mataria, ao contrário, o transformaria num novo ser. Um corpo de concepções vivificadas. Quem sabe; talvez um dia; encontrasse alguém de verdade. Uma criatura que olhasse para o mesmo céu e visse as mesmas estrelas. Alguém de olhos deslumbrantes que igualmente tivesse um coração descompassado, dançando ao som de uma música elegantemente invisível, contudo, maviosa e fruitivamente sonorosa.

Quem sabe, outro lado da mesma moeda, nesse encontro de almas solitárias, oxalá o amor finalmente se tornasse recíproco, mútuo e equivalente. Até lá, enquanto a esperança não bate definitivamente em sua porta, Lafaiete continuará a grafar as suas crônicas, suas poesias e cartas não enviadas. Afinal, o amor não correspondido ou não galardoado, também tem a sua beleza, a sua amenidade, a sua magia e a sua profundidade.  

Um dia (sempre há um dia), ele, Lafaiete, se torne o protagonista único de uma história de amor marcante, chique, saliente e infinita, tipo um conto perpétuo e, que não caiba apenas entre as estrelas... também se coadune nos braços de uma jovem elegante que o ame de volta, com a mesma intensidade e deleite. E cujo amor ardente e garboso será incondicionalmente palpável até o final de seus dias.

Fonte: Texto enviado pelo autor 

terça-feira, 21 de maio de 2024

Varal de Trovas n. 601

 

A. A. de Assis (E o homem veio)

No princípio era o verde. O verde a perder de verde, guardando o chão vermelho que aguardava o homem vir. E o homem veio, viril, varão, varonil. Veio enxertar a terra, que, no cio, vermelha, de viridência vestida, aguardava o homem vir. E o homem veio, viril. E a terra prenha pariu.

Ninguém sabe exatamente quem foi o primeiro a aqui chegar. Nem se estava sozinho ou se com ele havia mais alguém. Alguém chegou aqui primeiro. Decerto alguém de muita coragem, muito peito, ou quem sabe movido por um pouco de abençoada maluquice.

De onde veio? Não se tem a menor ideia. Veio em busca de um lugar novo onde fazer o pé-de-meia, ou veio simplesmente trazido pelo espírito de aventura? De qualquer modo, veio. Viril, varão, varonil, atraído pelo aroma da mata e pelo cheiro da terra. Alguém veio, pediu licença à floresta, abriu nela o primeiro espaço, construiu o primeiro rancho, plantou a primeira roça, colheu o primeiro grão.

Depois chegou o primeiro vizinho, mais outro, mais outro. Fizeram-se amigos, os primeiros amigos, as primeiras famílias. Ergueram a primeira igreja, a primeira escola. Alguém abriu a primeira vendinha que vendia de um tudo – de melhoral a carne-seca, de sal e açúcar a querosene.  

Criaram o  Aero Clube e o Grêmio dos Comerciários para ter onde dançar e namorar. Criaram a Associação Comercial, a Santa Casa, a Maçonaria, o Rotary, o Lions, o Ginásio Maringá, o Colégio Santa Cruz, o Marista, o Santo Inácio, a primeira faculdade, a primeira universidade. Fundaram o Albergue, o Lar dos Velhinhos, o Lar Escola das Crianças. Construíram o Grande Hotel. Ergueram a Catedral. Formaram a Cocamar. Criaram o glorioso Grêmio Esportivo Maringá.   Fundaram o Maringá Clube, o Country, o Olímpico, o Clube Hípico, o Centro Português, a Acema, o Teuto.

E foi chegando gente e mais gente, de todas as origens. E foram abrindo lojas e mais lojas, bancos e mais bancos, indústrias e mais indústrias, hospitais e mais hospitais, restaurantes e mais restaurantes, shoppings e mais shoppings, supermercados e mais supermercados.  

Projetada pela companhia colonizadora para ser uma cidade de 100 mil habitantes, Maringá já abriga mais de 410 mil, sem contar os tantos mais que moram nas comunidades vizinhos, porém trabalham aqui, estudam aqui, fazem suas compras aqui – ao todo, mais de um milhão de pessoas que foram chegando após a vinda daquele primeiro arrojado mateiro que aqui armou seu primeiro rancho quando os ruídos mais frequentes eram ainda o miado das onças e o gorjeio dos sabiás.

Um lugar de bravos e bravas. Ah, as bravas mulheres primeiras. As pioneiras. Algumas delas, raras, estão ainda entre nós. Uma delas pode ter sido sua avó ou bisavó. Que vida difícil elas enfrentaram nos primeiros tempos desta cidade forte e linda. Quanto barro, quanta poeira.

Onde quer que agora estejam, Deus as abençoe.

Maringá está completando oficialmente 77 anos. Quase todos os que vieram primeiro já estão na eternidade. Lá no assento etéreo onde se encontram, estarão certamente felizes e faceiros, contemplando a bela obra que nos legaram. 

A cada um deles, o nosso muitíssimo obrigado.

Fonte: Portal do Rigon. 09.05.2024