quinta-feira, 5 de maio de 2011

Vicência Jaguaribe (Chuva de Verão)


São coisas de momento
São chuvas de verão
(Chuvas de verão. Fernando Lobo.)


O doutor saiu da sala de cirurgia e foi para casa. Graças a Deus terminara tudo em paz! Ele é que não estava nada bem. A jovenzinha que operara em uma cirurgia de emergência lembrou-lhe aquela outra jovem. A que ficara no passado, mas que, de tempos em tempos, batia no portão de suas lembranças, pedindo para emergir. E, às vezes, ele não podia impedi-la. E ela saía, e conversava com ele, e soltava sua risada alegre e descontraída. Naquele dia, ela estava impossível, indomável. Apareceu e sentou-se a seu lado no carro, obrigando-o a reviver o passado.

Férias. Férias de verão. Férias de verão na praia. O encontro planejado às escondidas. Dois adolescentes. Pareciam tão ingênuos os dois! Tão dispostos a darem certo! Tão apaixonados!

O forró na vila dos pescadores, iluminado pelos candeeiros e pela luz da lua. E os dois sentados lá fora. Não, não queria dançar, não queria participar daquele divertimento que os levaria ao contato com outras pessoas. Queria ficar sozinho com ela. Tendo somente um a companhia do outro.

O mar, um líquido facho de luz concentrado, importado lá de cima, parecia espalhar claridade nos espaços abertos e insinuar-se nas grotas e cavernas. Eles desceram para a praia e sentaram na jangada, que esperava o tempo necessário ao descanso do pescador, preparando-se para levá-lo ao mar no dia seguinte.

E ficaram lá, de mãos dadas, olhando o movimento das ondas, ele entregando a ela seus sonhos e planos de futuro. Arrancaram-no do êxtase amoroso os chamados do pai dela. Entreolharam-se. Sabiam que correriam perigo se fossem encontrados juntos e sozinhos. Mandou-a correr e entrar na sala do forró. Ele ficaria ali. Assim, o pai dela pensaria que os dois não estavam juntos.

A aproximação do homem o fez estremecer. Ou foi a rajada de vento mais fria que levou todo mundo a encolher-se? O que ele fazia ali sozinho? Onde estava a sua filha? Vamos, falasse logo! Dissesse alguma coisa! O garoto respondeu que a tinha visto no salão do forró, dançando com o irmão. Descera sozinho fazia algum tempo. Não sabia onde ela estava naquele momento.

O homem subiu. Olhou entre os que dançavam. Perguntou aos conhecidos. Nada. Foi a casa. Ela não havia chegado. Uma chuva inesperada, grossa e rápida – chuva de verão – mandou os dançantes para casa. E o pai esperou a chuva parar. Pegou a lanterna e foi procurá-la. Quando desceu, o garoto não estava mais na jangada. Toda a praia era um deserto iluminado pelo luar. O homem andou para um lado, andou para o outro, jogando a luz da lanterna nos recantos e nas grotas. Quando viu que não a encontraria sozinho, pediu a ajuda dos pescadores conhecidos. E formaram-se dois grupos, que a procuraram por toda a redondeza.

O homem deparou com a mulher, já desesperada. Ela não aparecera ainda. Procurou o rapaz e encontrou-o em casa, certo de que ela estava na segurança da família. Acusou-o do desaparecimento da filha. Jurou que o entregaria à Polícia. O pai do rapaz interveio e com o filho integrou os grupos de busca.

Já clareava quando o pai dela resolveu ir à delegacia. Registrou o desaparecimento e deu queixa do rapaz. O delegado passou a coordenar a busca. Antes, porém, chamou o jovem e fez-lhe algumas perguntas. O rapaz parecia sincero. Se acontecera alguma tragédia com a moça, achava, ele não tivera participação.

Eram seis horas quando o delegado mandou todos às suas casas. Tomassem café. Estivessem reunidos às oito horas, e reiniciariam as buscas.

Não foi necessária mais nenhuma busca. Quando o pai dela se aproximou de casa, viu um carro parado. Ainda conseguiu vislumbrar o beijo cinematográfico que o motorista deu na sua filha. Abriu a porta do carro e arrancou-a de dentro de veículo. Olhou para o homem e percebeu que ele tinha quase a sua idade. Segurou-o pela gola da camisa, mas teve de soltá-lo, pois o carro arrancara.

Deus! A sua menina havia sido seduzida por aquele velho! Seduzida!? Ponderou: seduzida, talvez não. E ele, preocupado com o namoro dela com o garotão! Puxando-a pelo braço, obrigou-a a entrar em casa. Forçou-a a falar. E ela revelou tudo: desde o início das férias encontrava-se com aquele homem. Estava apaixonada por ele, que queria casar com ela. E o garotão? Era só fachada. Não queria que a família soubesse. O pai não teve condições de aplicar-lhe umas boas lapadas de cinturão, como desejava, nem de continuar a conversa. Sentiu forte dor no peito e foi levado ao hospital daquela cidadezinha de veraneio, de onde o transferiram para a capital.

O garoto soube de tudo pela empregada da família. Sofreu, mas não mais a procurou. Nem precisava. Por todos aqueles anos ela instalou-se em sua memória. Ele formou-se, casou-se, teve filhos, vivia bem com a mulher, mas a hóspede inoportuna continuava ocupando um espaço precioso em sua vida.

O doutor olhou para o banco do passageiro e lá estava ela. Quando pôs o carro na garagem e entrou em casa, ela recolheu-se a seu espaço secreto, onde ficaria quieta e comportada, até que algum acontecimento, alguma pessoa, alguma música, algum perfume o levassem a convidá-la a sair. Ou ela mesma impusesse sua vontade de expor sua figura impertinente.

Fontes:
Conto enviado pela autora
Imagem = http://www.mariazinhas.blogger.com.br

Anderson Moço (Projetos Didáticos) Parte I


1 O que é projeto didático?

Projeto didático é um tipo de organização e planejamento do tempo e dos conteúdos que envolve uma situação- problema. Seu objetivo é articular propósitos didáticos (o que os alunos devem aprender) e propósitos sociais (o trabalho tem um produto final, como um livro ou uma exposição, que vai ser apreciado por alguém). Além de dar um sentido mais amplo às práticas escolares, o projeto evita a fragmentação dos conteúdos e torna a garotada corresponsável pela própria aprendizagem.

Os projetos estão mais populares do que nunca. Redes de todo o país incentivam o trabalho com essa modalidade e algumas escolas preveem no currículo os que serão realizados durante o ano. Boa notícia. Afinal, em muitos casos, eles ajudam a ensinar mais e melhor.

2 Quais as características de uma boa proposta?

Os projetos podem ser planejados e organizados de inúmeras formas, porém algumas ações são fundamentais:

1. Tema: delimitar e conhecer bem o assunto que será estudado e pesquisá-lo previamente.

2. Objetivos: escolher uma meta de aprendizagem principal e outras secundárias que atendam às necessidades de aprendizagem

3. Conteúdos: ter clareza do que as crianças conhecem e desconhecem sobre o tema e o conteúdo do trabalho.

4. Tempo estimado: construir um cronograma com prazos para cada atividade, delimitando a duração total do trabalho.

5. Material necessário: selecionar previamente os recursos e materiais que serão usados, como sites e livros de consulta.

6. Apresentação da proposta: deixar claro para a sala os objetivos sociais do trabalho e quais os próximos passos.

7. Planejamento das etapas: relacionar uma etapa à outra, em uma complexidade crescente.

8. Encaminhamentos: antecipar quais serão as perguntas que você fará para encaminhar a atividade.

9. Agrupamentos: prever quais momentos serão em grupo, em duplas e individuais.

10. Versões provisórias: revisar o que a garotada fez e pedir novas versões do trabalho.

11. Produto final: escolher um produto final forte para dar visibilidade aos processos de aprendizagem e aos conteúdos aprendidos.

12. Avaliação: prever os critérios de avaliação e registrar a participação de cada um ao longo do trabalho.

Fontes:
Revista Nova Escola.
Informática na Educação

Ciranda de Trovas (Equilíbrio) Parte I


Padrinhos

Agindo em plena razão

para o equilíbrio buscar,

controle sua emoção
e deixe o bom senso atuar.
Cláudio de Morais
TAUBATÉ - SP

Quem o equilíbrio cultua,

não vive vagando ao léu;
percebe que a prece sua

alcança mais cedo o céu!

José Valdez Castro de Moura
PINDAMONHANGABA - SP


CIRANDA DE TROVAS TEMA: EQUILÍBRIO

001
Já no equilíbrio das ondas
vejo o mar agradecer,
os limites que lhe sondas
e que o faz aparecer.
MIFORI
MOGI DAS CRUZES – SP

002
Só ficaremos de pé,
ante os percalços da vida,
quando o equilíbrio da fé
nos mostrar uma saída.
HÉLIO PEDRO SOUZA
NATAL – RN

003
Equilíbrio nas ações,
palavras e pensamentos,
enlaçam os corações
nos mais puros sentimentos ...
MARIA EMÍLIA LEITÃO MEDEIROS REDI
PIRACICABA – SP

004
Equilíbrio é harmonia,
prudência e moderação;
mantê-lo é manter em dia
mente sã em corpo são.
MYRTHES MAZZA MASIERO
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – SP

005
Na corda bamba da vida
meu equilíbrio anda perto
de descobrir a medida
entre um tombo e um passo certo
ALBA CHRISTINA
SÃO PAULO - SP

006
Para ser feliz, na vida,
bem alegre, a todo instante,
sem causar qualquer ferida,
o equilíbrio é importante.
NEI GARCEZ
CURITIBA – PR

007
Siga firme nessa lida,
no equilíbrio e sensatez,
soboreie sempre a vida,
se orgulhando do que fez!
DIRCE MONTECHIARI
NOVA FRIBURGO - RJ

008
Manter-se a justa medida
em tudo quanto se faz,
promove e harmoniza a vida:
- O Equilíbrio leva à Paz!
MARISA VIEIRA OLIVAES
PORTO ALEGRE – RS

009
No equilíbrio a lei é essa:
sempre andar devagarzinho.
Quem corre, muito tropeça,
acaba errando o caminho.
CÔNSOLI
BELO HORIZONTE – MG

010
Duas forças em meu ego
tem a mesma intensidade
e em equilíbrio as carrego:
O sonho e a realidade.
MIGUEL RUSSOWSKY
JOAÇABA – SC

011
O equilíbrio na afeição
e o amor na dose certa,
harmonizam a paixão,
quando no peito desperta.
JOEL HIRENALDO BARBIERI
TAUBATÉ – SP

012
Num equilíbrio perfeito,
cidadania há de ser
amar e honrar o direito,
levar a sério o dever.
ANTONIO AUGUSTO DE ASSIS
MARINGÁ - PR

013
Quem tem nobres sentimentos
e equilíbrio na afeição,
evita grandes tormentos
e mágoas no coração.
SÔNIA MARIA SOBREIRA DA SILVA
RIO DE JANEIRO – RJ

014
Perco a paz... não a retenho,
tonteio... fico sem norte,
se o equilíbrio eu não mantenho
na minha emoção mais forte.
THEREZINHA TAVARES
NOVA FRIBURGO – RJ

015
Equilíbrio é o que preciso,
quando a razão escasseia,
porque a alma perde o siso,
e o coração cambaleia.
NAIDATERRA
OSASCO – SP

016
Opostos os sentimentos
são eles ódio e paixão.
Mas, temos que estar atentos
com equilíbrio e razão...
DILMA SUERO
ESTÁCIO – RJ

017
Ajustar a temperança,
o equilíbrio e a sensatez,
é mostrar mais segurança
e viver com fluidez.
LÍDIA VARELA SENDIN
PIRACICABA - SP

018
Equilíbrio, um dom da vida,
dos sábios, grande virtude
junto a afeição consolida,
seu poder de plenitude.
VÂNIA MARIA SOUZA ENNES
CURITIBA – PR

019
Equilíbrio, harmonia!
Meu estro vou pôr à prova ...
Vou dar cores à poesia!
E a doçura nesta trova.
MARLENE DE OLIVEIRA LOPES
MOGI DAS CRUZES – SP

020
Com dose medicinal
e um equilíbrio perfeito,
não há carinho anormal
e nenhum homem sem jeito!
MARILENE BUENO
ELDORADO DO SUL – RS

021
Equilíbrio faz contraste
entre o sentido e a razão,
ligados na mesma haste
que comandam a emoção!
CÉLIA APPARECIDA SILLI BARBOSA
RIBEIRÃO PRETO – SP

022
Neste nosso caminhar,
equilíbrio tem que ter:
em nossa forma de amar
e no nosso proceder!
CYROBA C.B. RITZMANN
CURITIBA – PR

023
Quem age com equilíbrio,
moderação e presteza
dispensa força e ludíbrio
pra afirmar sua grandeza.
CYRO MASCARENHAS RODRIGUES
BRASÍLIA – DF

024
O amor é sempre traiçoeiro
e compete com a razão
e o equilíbrio verdadeiro
se perde com a emoção.
ELISA SANTOS
PONTA GROSSA – PR

025
Na balança da afeição
equilíbrio tem que haver
pra medir com precisão
o valor do bem-querer.
EDINA DUARTE SILVA DO PRADO
RIBEIRÃO PRETO – SP

026
O mais lindo dos romances
entre pessoas mantém,
diante das várias chances,
seu equilíbrio também.
MARIA DIVA FONTES RICO
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – SP

027
Tanto em crentes, como ateus,
há tanta gente perdida,
que apenas peço: - Meu Deus,
dá-lhe equilíbrio na vida.
OLÍVIA ALVAREZ MIGUEZ BARROSO
PAREDE – PORTUGAL

028
O equilíbrio é necessário
Sempre com justa medida
Será sempre um relicário,
Que deve manter na vida!
MARIA JOSÉ FRAQUEZA
OLHÃO – PORTUGAL

029
Equilíbrio na afeição,
na justiça e no dever,
só assim, numa Nação,
valia a pena viver.
CLARISSE BARATA SANCHES
GÓIS - PORTUGAL

030
Auto domínio da mente,
comedimento e prudência,
são o equilíbrio presente
em nossa sobrevivência!
MAIMA
TOULON – FRANCE

031
Numa família de bem
com falta de suprimentos,
equilíbrio é ganhar cem
e precisar de duzentos.
ANTÓNIO JOSÉ BARRADAS BARROSO
PAREDE – PORTUGAL

032
Equilíbrio é bom no afeto;
é ponto a considerar.
Se tens um bem predileto,
deves o amor moderar.
ANGELA ANDRADE

033
Nosso equilíbrio da mente
procuremos nós, manter,
para viver plenamente
e penúrias nunca ter.
JAMIL PISCOYA AYALA
PERÚ

034
De equilíbrio já dei prova
pelo mundo, em toda a parte.
Mas, pra fazer uma trova,
falta-me o engenho e arte.
JORGE A. G. VICENTE
SUÍÇA

035
Com a vida equilibrada,
a crise será vencida.
Um amor que do Céu brada,
não desliza na descida.
ISAURA MARTINS LAMBERIAS TÁBOA
PORTUGAL

036
Todo homem deve saber,
que na mente, corpo e alma
EQUILÍBRIO há que ter,
para conservar a calma!
CRISTINA OLIVEIRA CHAVEZ
CALIFORNIA – ESTADOS UNIDOS

037
É pura "necessidade"
equilíbrio do viver
compreender com humildade
que tudo deve morrer!
CARLOS IMAZ ALCAIDE
ALICANTE / ESPAÑA

038
Queria ter equilíbrio
para atravessar o mar,
mas, só o desequilíbrio
é que me faz lamuriar.
DÉBORA EVELIN SILVA DE SOUZA.
PARAIBUNA – SP
EE. “Cel. Eduardo José de Camargo”
Profª Teresa Benedita

039
Nem só equilíbrio e paz
em teu rosto contemplei.
Sentindo que sou capaz:
com mais amor agirei.
ISABELLE C. G. GALVÃO SILVA
PARAIBUNA – SP
EE. “Dr. Cerqueira César”
Prof. Rose

040
Com equilíbrio caminho
num único movimento.
Sigo sempre tão sozinho
com todo o meu sentimento.
CAROLINE GONÇALVES DOS SANTOS.
PARAIBUNA – SP
EE. “Cel. Eduardo José de Camargo”
Profª Helô

041
Equilíbrio é preciso
para andar de bicicleta
para ter também juízo
e tornar- se um bom atleta
MARGARETE APARECIDA DOS SANTOS CARDOSO
PARAIBUNA – SP
EE. “Dr. Cerqueira César”
Profª Rose

042
Equilíbrio eu quero ter
para andar de bicicleta,
para um dia vir a ser
talvez, quem sabe, um atleta,
MARIA THEREZA MAZIERO DE OLIVEIRA
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – SP
Escola: “Natural Vivência”
Prof. Thereza

043
Com compasso e equilíbrio
andarei pela cidade.
Se tiver desequilíbrio
sairei da realidade.
ARIANE APARECIDA DOS SANTOS MACIEL
PARAIBUNA – SP
EE. “Cel. Eduardo José de Camargo”
Profª Helô

044
No batente a porta cabe
mas, estava tão aberta!...
Equilíbrio? Não se sabe.
Se não tem, a gente acerta.
RAFAELA RODRIGUES LOLO
PARAIBUNA – SP
EE. “Dr. Cerqueira César”
Profª. Celina

045
Estava andando na rua
quando perdi o equilíbrio.
Riram todos, até a lua,
desse meu desequilíbrio.
CARLOS MAGNO BATISTA DA SILVA
PARAIBUNA – SP
EE. “Dr. Cerqueira César”
Profª. Celina

046
Com equilíbrio...Cai não!
Caminhando com cuidado
chegará, feliz irmão,
assim tão bem aprumado.
TAILA FERNANDA BITTENCOURT
PARAIBUNA – SP
EE. “Dr. Cerqueira César”
-Profª. Celina

047
Ter equilíbrio na mente,
a maior felicidade;
findar a vida da gente
depois da terceira idade!
DIAMANTINO FERREIRA
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ

048
Ter equilíbrio é preciso
para poder viver bem.
Entre lágrima e sorriso
existe a pausa, também!
GISLAINE CANALES
CAMBORIÚ – SC

049
Dá-se equilíbrio e vigor,
quando há perfeita equação,
entre uma vida interior
e sua real ação.
LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
PINHALÃO – PR

050
Equilíbrio deve haver
mesmo no auge da paixão,
mas difícil é conter
nosso pobre coração !...
SÔNIA DITZEL MARTELO
PONTA GROSSA – PR

051
Equilíbrio, marco fiel
no romance com lealdade.
É gostoso como mel,
expondo sinceridade.
AGOSTINHO RODRIGUES
CAMPOS – RJ

052
Diminuir a pobreza?
O equilíbrio é solução:
quem sobrar, em sua mesa,
dê ao mais pobre o seu pão!
ALBA HELENA CORRÊA
NITERÓI - RJ

053
Um amor inconsequente
quando vira uma paixão,
tem equilíbrio na mente
mas não tem no coração!
ADEMAR MACEDO
NATAL – RN

054
Você pode até amar
aos limites do impossível,
mas ao se relacionar,
equilíbrio, imprescindível.
RAYMUNDO SALLES BRASIL
SALVADOR – BA

055
O equilíbrio que proponho,
tem em uma extremidade,
o irrealismo do sonho
e na outra a realidade!
FRANCISCO NEVES DE MACEDO
NATAL – RN

056
O equilíbrio na afeição,
vale como um bom tempero,
dá sabor à relação
vai fugindo do exagero.
ALFREDO BARBIERI
TAUBATÉ – SÃO PAULO

057
Com muita dedicação,
equilíbrio é sintonia,
acalenta o coração,
no casal é harmonia.
NICOLAU ABICALAF NETO
PINHAIS – PR

058
Equilíbrio de talento,
autocontrole, harmonia,
domínio, comedimento,
enriquecem nosso dia!
DELCY CANALLES
PORTO ALEGRE – RS

059
Ter equilíbrio na vida
faz bem para o coração;
ser a Deus agradecida,
demonstra ter emoção.
NEIVA FERNANDES
CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ

060
Neste mundo tão moderno
busca o equilíbrio,razão,
para tudo que é do inferno
nesta vida de cristão.
NILTON MANOEL
RIBEIRÃO PRETO-SP
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Continua...Trovas 61 a 120.
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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 205)


Uma Trova Nacional

Tantos passos caminhei
por labirintos incertos.
Hoje nas trovas achei
como vencer os desertos.
–JOSÉ FELDMAN/PR–

Uma Trova Potiguar

Das luzes da mocidade
iluminando a ilusão
restou somente a saudade
dando sombra à solidão!!!
–LUIZ DUTRA/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - Curitiba/PR Tema: MADRUGADA - M/E

Nas madrugadas compridas,
em que a solidão me invade,
eu vivo milhões de vidas...
movidas pela saudade!
–MARIA NASCIMENTO/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram


Trovas que fiz, de saudade,
de sonho... Amor... Ilusão...
Não traduziram metade
das mágoas do coração!
–APARÍCIO FERNANDES/RN–

Simplesmente Poesia

–CARMO VASCONCELOS/PORTUGAL–

Metade de Mim

Metade de mim é o que hoje vivo:
A pálida laranja, suco gasto,
Não mais a sobremesa do repasto
Nem o prévio e gostoso aperitivo.

Metade de mim é o que inda espero:
O convexo perfeito e sem desnível
No côncavo que sou, apetecível;
O Yang no meu Yin, com esmero.

Sob a casca que enruga ao tempo austero,
Sou polpa que arrefece ao estio que escapa,
E só minha esperança, não farrapa,
Aquece os gomos doces que lidero.

Metade de mim é o que hoje vivo,
E minha outra metade é o que espero!

Estrofe do Dia

Sou eterno marinheiro,
viajo em busca da sorte,
passo perigo de morte
enfrentando o nevoeiro;
se eu não fosse tão certeiro
quando sacudo o arpão,
com certeza um tubarão
já tinha me mastigado;
sou um barco viajado
no mar da desilusão.
–SEBASTIÃO DIAS/RN–

Soneto do Dia


–GILSON FAUSTINO MAIA/RJ–

Quando a Alma Chora

É quando o corpo já está cansado,
quando, da noite, cai a escuridão,
quando a tristeza assola o coração.
O que está certo? Tudo está errado!

Quando o tempo busca, endiabrado,
entortar o caminho, uma missão.
Quando o pranto se espalha pelo chão
e o pensamento jaz acorrentado.

A natureza é morta, a voz se cala,
o olhar está perdido na montanha,
enquanto a mágoa cresce em larga escala

e sofre o interior que, mudo, apanha
da ingratidão que oprime, que avassala,
buscando ser feliz com tal façanha.

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo
Pintura a óleo de Angela Kelly Topan (minha cunhada)

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XXVI – A Onça e o Coelho


A onça havia plantado uma roça, onde nasceu muita urtiga. A onça ficou atrapalhada. Nem entrar na roça podia, porque a urtiga arde muito. Foi então e chamou os animais da floresta.

— Quem me capinar esta roça sem se coçar ganha um boi — disse ela.

O macaco se prontificou a fazer o serviço. Mas assim que deu começo à capinação, coçou-se tanto que a onça o tocou de lá.

Veio o bode, que também se cocou com o chifre. A onça tocou o bode.

Por fim apresentou-se um coelhinho. "Esta é boa!" — disse a onça. — "Se nem o macaco e o bode puderam capinar a roça, que espera fazer este bichinho?" Mas como o coelho insistisse, consentiu.

A onça ficou fiscalizando o serviço para ver se ele se cocava; depois cansou-se daquilo e deixou uma sua filha no lugar.

O coelho, que não podia mais de tanta comichão, teve uma idéia. Voltou-se para. a filha da onça e perguntou: "Escute: aqui, oncinha, o tal boi que sua mãe: prometeu não é um boi malhado, com uma mancha amarela aqui (e dizendo isso cocava a perna), e outra aqui (e cocava o lombo) e outra aqui (e cocava o focinho)?

A oncinha, muito boba, respondeu que era. O coelho prosseguiu no trabalho, e quando a comichão apertou demais veio novamente perguntar se o boi não tinha também urna mancha amarela em tal e tal parte — e cocava ali. E desse modo conseguiu capinar a roça inteira, ganhando o boi.

Mas a onça impôs uma condição.

— Compadre coelho, dou o boi, mas você só poderá matá-lo num lugar onde não houver moscas, nem galo que cante, nem galinha que cacareje.

O coelho, concordando, lá se foi com o boi em procura dum lugar onde pudesse matá-lo. Andava um pedaço, parava, escutava e sem tardança ouvia um cocoricocó!

— Aqui não serve. Tem galo — e seguia para adiante.

E foi andando até que chegou a um lugar onde não havia mosca nenhuma, nem se ouvia nenhum coricocó. Então matou o boi. Nisto surge a onça.

— Compadre coelho — disse ela — um boi é muita coisa para você. Passe para cá um pedaço.

O coelho deu-lhe um pedaço, que a onça devorou num segundo.

— Não chegou para matar a minha fome, compadre. Passe para cá outro pedaço — e o coelho deu outro pedaço. Por fim a onça devorou o boi inteirinho.

O coelhinho voltou para casa muito triste, com o facão na cintura. Ia pensando num meio de vingar-se da onça. Teve uma idéia. Entrou no mato e pôs-se a cortar cipó. Aparece a onça.

— Que está fazendo aí, compadre coelho?

— Estou tirando cipós. Como Deus vai castigar o mundo com uma tremenda ventania, preciso de cipó para me amarrar a um tronco de árvore.

A onça, amedrontadíssima, pediu:

— Nesse caso, amarre-me também, compadre.

— Não posso — disse o coelho fingida-mente. — Tenho de ir para casa amarrar meus filhinhos.

— Amarre-me primeiro, pediu a onça, e depois vá amarrar seus filhinhos.

O coelho cocou a cabeça; por fim disse:

— Está bem, comadre onça: como prova de amizade vou fazer esse grande favor — e amarrou-a com todos os cipós, deixando-a impossibilitada do menor movimento.

— Bom — disse ele ao concluir o serviço — a comadre está tão bem amarradinha que nem o maior dos furacões é capaz de arrancá-la daí — e foi-se embora, a rir.

Passado algum tempo a onça, vendo que não vinha vento nenhum, desconfiou. "Querem ver que fui tapeada pelo tal coelho? Como agora livrar-me deste amarramento?"

Vinha vindo um macaco.

— Amigo macaco, faça o favor de tirar de mim estes cipós.

Mas o macaco, sabidão que era, apenas disse: "Deus ajude a quem te amarrou", e foi-se embora.

Apareceu um veado.

— Amigo veado, faça o favor de desamarrar-me, pediu a onça.

O veado, apesar de burrinho, deu a mesma resposta do macaco, e lá se foi.

Veio o bode, e aconteceu a mesma coisa.

Passadas algumas horas, o coelho foi espiar como ia indo a onça.

— Compadre coelho, viva! O vento não aparece e eu estou que não posso mais. Venha desamarrar-me.

O coelho, com dó dela, pôs-se a desenrolar os cipós. Assim que a malvada se viu livre, nhoc! deu-lhe um pega. Mas o coelho alcançou dum pulo um buraco; mesmo assim a onça agarrou-lhe um pé. O coelho caiu na risada.

— Ah, como é tola a minha comadre onça! Agarrou uma raiz de pau e está pensando que é meu pé. Ah, ah, ah!...

A onça, desapontada, soltou as unhas, pensando mesmo que houvesse ferrado uma raiz de pau. O coelho afundou no buraco.

Uma garça veio pousar ali perto. A onça chamou-a.

— Comadre garça — disse ela — bote sentido nesta cova enquanto eu vou buscar uma enxada. Não deixe o coelho sair.

A garça ficou na árvore, com os olhos no buraco. O coelho disse:

— Que grande tola! Então é assim que garça toma conta de buraco onde está um coelho?

— Como devo fazer então? — perguntou a bobinha.

— Ora, ora! Tem de vir aqui e ficar com o bico dentro do buraco.

A garça desceu da árvore e enfiou o bico no buraco. O coelho atirou-lhe aos olhos um punhado de areia e escapou.

Nisto veio a onça com a enxada. Cavou, cavou até lá no fundo e nada de coelho.

— Comadre garça, que fim levou o coelho que estava aqui?

— Não sei — respondeu a tola. — Ele me mandou que enfiasse o bico no buraco. Assim que enfiei o bico, me botou nos olhos uma areia. Fiquei cega e nada mais vi.

A onça, furiosa, deu um bote na garça, que lá se foi voando, muito fresca da vida.
==========
— Boa, boa — disse Emília. — Estou gostando mais destas histórias de bichos do que das de reis e Joãozinhos.

— Estas histórias — explicou dona Benta — foram criadas pelos índios e negros do Brasil — pela gente que vive no mato. Por isso só aparecem animais, cada um com a psicologia que os homens do mato lhe atribuem. A onça, como é o animal mais detestado, nunca leva a melhor em todos os casos. É lograda até pelos coelhos.

— E há invençõezinhas engraçadas nessa história — observou a menina. — O jeito do coelho enganar a filha da onça, com tais perguntas sobre as manchas do boi, está muito interessante. Acho que tia Nastácia só deve contar histórias assim. Das outras, de príncipes, estou farta.

— Pois então vou contar a história do pulo do gato, — disse tia Nastácia— e contou.
–––––––––––––
Continua… XXVII – O Pulo do Gato
–––––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Sérgio Napp (Da Arte da Palavra ao Prazer da Leitura) Primeira Parte


Com tempo ruim,
todo mundo também dá bom dia.
Gonzaguinha


O primeiro alimento é a palavra. Da concepção ao nascimento ela agasalha, reconforta, acarinha: conta do frio e do calor, do inverno e do verão, do medo e da alegria. Diariamente relata, passo a passo, músculo a músculo, o transcorrer da vida.

A primeira palavra balbuciada é alimento para os que nos cercam. Há quem a grave, quem a escreva, quem a conserve ao longo de todos os tempos. É como se fosse um aviso, um prenúncio, a suprema revelação.

Cada palavra é única. Ninguém há de sabê-la melhor que nós. Pede abrigo, pede pouso, comida e roupa lavada. E, se não nos precavermos, água Perrier.

Toda palavra nos ferra. Com sua marca indelével nos lembra o silêncio dos entardeceres. Destino, punhal suspenso na esquina do coração. Estrela que se esqueceu de nascer.

Por vezes perdemos o rumo, tantas são as palavras nas terras em que se lavra o duro ofício de ser. Então é preciso vigiar dia e noite em busca das que nos revelem: como se quebra o gelo dos homens, como se sangram novos caminhos, como se aprende a crescer?

Palavras são brinquedos de armar.

Vejamos uma que indique sentimento, dor; e outra, que passe a idéia de vento, de alento, ventilar. Da mistura das duas pode-se ter ventilador. O ventilador ventila a dor? A dor que o ventilador ventila é a dor do calor? Não seria ventilacalor? E o que dizer do espanador? Ou do ralador?

Todos conhecem e cantam,
O meu boi morreu que será de mim...

mas, e se alguém trocar uma única letra, criando uma nova palavra,

O meu boy morreu que será de mim...,
quantas leituras faremos a partir de então?

A palavra é pulsante, ardilosa em suas teias de horizonte, difícil domá-la na arena do papel.

Cabe dissecá-las, acariciá-las. Cabe imaginá-las, aquí e ali, dependuradas à frase.

Pode-se escrever no colo da vida? É confortável? Ou estará coberto de espinhos...

Doce de chuchu lambuza a alma? Um bule esmaltado fareja as manhãs? Lâminas de sal ferem? A pele do tempo sufoca? Que pássaros migram dos olhos da amada? Um céu de infinitos possui tímpanos de prazer? E as roupas sonolentas nos varais, quem as terá colocado? Os dardos da angústia prevalecem? Quem fez o laço dos moinhos e deitou-se no ventre das pedras? A tarde é uma interrogação?

O grão se faz à medida para que a palavra exploda e o menor de seus fragmentos é vida.

Que pode oferecer o que trabalha a palavra, a não ser a própria palavra retransformada em casa, beijo, prego, anzol ou pedra de rio?

A palavra arde; a palavra fere, mastiga, tritura; a palavra brota; a palavra é grão; a palavra explode em veludo.

Carpir silencioso onde sequer a voz alcança, ventre onde o som debulha notas de trigo, a palavra gera.

Seremos dignos dela?

Fonte:
Artistas Gaúchos

Imagens obtidas na internet = sem autoria

Marcelo Spalding (História da leitura) VI: O iPad Aponta o Futuro?


Lançado em 27 de janeiro de 2010, o iPad é um dispositivo em forma de tablet (há traduções como tabuleta e prancheta), com internet wireless, bluetooth e tela touch screen de 9,7 polegadas. Apesar de ter sido anunciado como um leitor de livros e jornais digitais, o iPad mescla a funcionalidade e legibilidade dos computadores pessoais com a portabilidade dos aparelhos móveis, caindo no gosto do consumidor e vendendo 14,8 milhões de unidades apenas em 2010, cinco vezes mais do que o projetado pela companhia.

Para entendermos o sucesso do iPad é preciso lembrar que o aparelho é fruto de todo o know-how (e do dinheiro) adquirido com os bem-sucedidos iPod e iPhone.

O iPod, lançado pela Apple em 2001, é uma combinação de "I" (eu, em inglês) com Portable on Demand, algo como portátil sob demanda. Em 2001, a companhia apresentou o tocador digital como um aparelho "ultra portátil" capaz de colocar até "mil músicas em seu bolso".

O grande diferencial do iPod, entretanto, não foi lançar um MP3 Player (o sucessor do walkman), já havia outros tantos no mercado, e nem apenas o design arrojado e minimalista ao estilo Apple. O grande diferencial foi o "iTunes Store", uma loja virtual integrada ao iPod para vender músicas com uma tecnologia de encriptação que impede a pirataria, o que soou como música nos ouvidos da combalida indústria fonográfica. Com altos volumes de vendas e nenhum custo de distribuição, as músicas custam ao usuário menos de um dólar, o que fez muitos usuários preferirem a praticidade de adquirir um arquivo através do aparelho do que localizar uma versão pirata na rede. Só para se ter uma ideia da aceitação do público, no começo de 2006 a loja atingiu a marca de um bilhão de músicas vendidas, e em outubro de 2006, ao completar cinco anos de existência, o aparelho já havia vendido 65 milhões de unidades, ou 70% do mercado de MP3 players.

No ano seguinte a esses números estrondosos, a Apple enfim entra no mercado de smartphones com o iPhone, um aparelho com design semelhante ao iPod e funcionalidades semelhantes ao BlackBerry, mas com tela sensível ao toque. Assim como no iPod, o iPhone traz a iTunes Store, ampliando o público consumidor das músicas digitais vendidas no sistema. Além disso, alguns anos depois, em 2008, a Apple agrega uma importante ferramenta aos seus aparelhos, a App Store, uma loja de aplicativos integrada ao iPhone que permite a qualquer programador criar aplicativos para os aparelhos e vender na loja da Apple. Em apenas um mês de funcionamento, são feitos mais de 60 milhões de downloads pela loja, com um faturamento de US$ 30 milhões de dólares, o que impressiona o próprio Steve Jobs. Em janeiro de 2011 já seriam 10 bilhões de downloads.

Para os desenvolvedores, a App Store torna-se um importante espaço de venda de softwares (aplicativos), fazendo com que em 2011 houvesse mais de 350 mil aplicativos disponíveis ao usuário, além de 60 mil para iPads. Para o usuário, quanto mais aplicativos, melhor, pois em um aparelho que inicialmente era um telefone torna-se possível ler jornais, consultar dicionários, códigos jurídicos, bússola, jogar os mais variados jogos, calcular o índice de massa corporal, acompanhar o mercado financeiro, registrar os gastos numa planilha financeira, manipular fotos, fazer anotações, abrir arquivos dos mais diversos, acessar a conta do banco, etc, o que faz com que mais usuários comprem produtos da Apple e, girando o círculo virtuoso de Jobs, mais desenvolvedores lancem novos aplicativos.

Hoje são mais de 400 mil aplicativos divididos em categorias como negócios, educação, entretenimento, saúde, finanças, medicina, estilo de vida, música, navegação, fotografia, notícias, referências, produtividade, esportes, utilidades, viagens, tempo, redes sociais e, claro, livros. Na categoria de livros, o principal aplicativo é o iBooks.

Lançado em 25 de maio de 2010, o iBooks é um software desenvolvido pela Apple para leitura de arquivos EPUB e PDF no iPad. Ele é integrado a iBookstore, onde os usuários podem comprar diversos livros ou baixar gratuitamente clássicos de domínio público ali disponibilizados, mas também permite que se adicione arquivos próprios recebidos por email ou encontrados na internet.

Assim como no Kindle, as funcionalidades da leitura de um arquivo do formato ePub são muito mais abrangentes do que a leitura no formato PDF. No formato ePub, a troca de páginas é feita simulando um livro tradicional, com a página sendo virada. Também é possível ao leitor fazer marcações no texto, adicionar notas, destacar determinadas páginas, ampliar ou diminuir o tamanho da fonte, mudar o tipo de fonte, mudar a cor do fundo para sépia, mudar o contraste da tela, pesquisar uma palavra dentro do livro, navegar através de hiperlinks, criar um sumário personalizado, consultar dicionário, copiar um trecho do livro, entre outros.

Já no formato PDF, que é reconhecido como imagem, o usuário não pode aumentar ou diminuir o tamanho da fonte, e sim aproximar ou afastar o zoom. As páginas são deslizadas, sem o efeito de passar páginas, e não é possível fazer anotações ou marcações, apenas mudar o contraste, pesquisar determinada palavra ou destacar uma página. Por outro lado, os arquivos em PDF podem ser impressos ou enviados por email, diferentemente do EPUB.

Mais do que inovar o mercado de livros digitais, o iPad em cerca de um ano "tornou-se o queridinho tecnológico do momento, conquistou corações e mentes e fez a proeza de praticamente criar um segmento de mercado", o dos tablets. A partir dele, diversos outros tablets foram lançados, como o Galaxy, da Samsumg, o Playbook, da RIM, o Xoom, da Motorola e o Slate, da HP.

Diferentemente da Apple, que vende seus aparelhos com um sistema operacional próprio, onde se encontra a loja de aplicativos, músicas e livros, esses tablets utilizam o sistema operacional Windows, da Microsoft, ou o Honeycomb, fornecido gratuitamente pelo Google.

O Honeycomb é uma versão especial para tablets do Android, sistema operacional do Google para smartphones. Assim como ocorre na Apple, há uma loja de aplicativos, o Android Market, e uma loja de livros digitais, o Google Books for Android. Um diferencial desse aplicativo é que ele disponibiliza os milhões de livros digitalizados no site Google Books para acesso no Android.

É importante perceber, entretanto, que os livros de aplicativos como o iBooks e o Google Books ou de leitores como o Kindle, o Alfa e o Nook são, na verdade, livros digitalizados, e não livros digitais, pois foram textos criados para uma versão impressa, com as características e limitações da versão impressa, convertidos para uma mídia digital por questões logísticas ou comerciais. É uma variação dos projetos de digitalização de livros descritos no capítulo anterior, como o Projeto Gutenberg e o Domínio Público.

Por outro lado, as possibilidades do livro em geral — e da literatura em particular — quando nos suportes digitais e multimídia vão muito além de páginas e páginas de textos diagramadas em formato de códice, pois "gêneros tradicionais passam por transformações quando migram do livro para a internet, gerando novas formas de expressão", nas palavras de Lajolo e Zilbermann.

Um exemplo significativo nesse sentido são as versões para iPad de livros conhecidos do grande público, como A Menina do Narizinho Arrebitado, Alice no País das Maravilhas e Toy Story. Essas versões são encontradas na loja de aplicativos da Apple na seção de livros, e não na iBookstore, pois elas não são arquivos de livro digital para serem lidos no iBooks, e sim softwares próprios que precisam do iPad para funcionarem e exploram ao máximo suas potencialidades e ferramentas, como tela sensível ao toque e sensor de movimento.

Desenvolvido pela Disney Digital Books e lançado em abril de 2010, o aplicativo Toy Story para iPad é gratuito e explora as potencialidades multimídia do novo suporte, mas mantém o texto como centro da narrativa, aliando ao texto a contação de história, tão importante para crianças em idade pré-escolar.

Ao virar cada página, o leitor se depara com uma animação elaborada até que a cena congela e surge o texto (em inglês, naturalmente). Então o texto é lido por um narrador, enquanto as palavras que estão sendo lidas vão sendo destacadas na tela. No menu de opções, o usuário descobrirá que ele pode gravar sua própria voz contando a história (aí na língua e da forma que desejar) e depois dar o iPad para seu filho, sobrinho ou aluno ouvir a história salva na sua versão.

Além do texto, algumas páginas, quando congeladas, trazem um ponto indicando a possibilidade de clique, e, se o usuário clicar, ouvirá vozes ou som das personagens, complementar mas não necessário à história. Além disso, no topo ele encontrará um ícone, e clicando ali será remetido a uma ilustração para ser colorida. Esses ícones especiais se repetem em outras páginas, dando acesso a outros desenhos para colorir, jogos (com três níveis de dificuldade distintos) e clipes de músicas. É interessante notar, porém, que nem todas as páginas têm esses ícones extras, e eles não se repetem na mesma página, o que de certa forma não sobrecarrega o leitor, desviando sua atenção da história que está sendo contada.

Abaixo da tela há um simpático Mickey lendo um livro, como se fosse o leitor, e clicando sobre ele o usuário ativa um menu com diversas opções, como pular de página, mudar a forma como as páginas são passadas (há inclusive a opção de virar a página automaticamente), ouvir ou não o narrador, gravar sua própria narração, tutorial, acesso direto aos jogos, às pinturas e às músicas.

A história em si repete o que já vimos nas versões cinematográficas de Toy Story, mas é interessante notar como o texto conduz a narrativa e os jogos e animações tornam-se complementares ao envolvimento com a história, cumprindo um papel que a ilustração e, em alguns casos, a contação de histórias já tem feito.

Alice for iPad também foi lançado em abril de 2010 e tornou-se um símbolo das possibilidades do livro digital, com ilustrações que se movem à medida que o leitor balança o aparelho, trabalho gráfico cuidadoso e diversas animações que o transformam numa emblemática releitura do clássico de Carrol para a era digital. Na loja da Apple há duas versões, uma gratuita, com as páginas iniciais, e outra completa à venda por US$ 8,99. Diferentemente de Toy Story, Alice opta pela sobriedade, com um formato que lembra o livro tradicional tanto na navegação quanto no visual, deixando a novidade para os efeitos gráficos da ilustração.

Outra dessas primeiras versões digitais que merece referência é a adaptação da obra de Monteiro Lobato A Menina do Narizinho Arrebitado, lançada pela Globo Livros em dezembro de 2010, mês de lançamento do iPad no Brasil. O livro, disponibilizado gratuitamente na AppStore, segue a sobriedade de Alice, mas lança mão de mais recursos nas suas páginas animadas, como o som do vento, do espirro ou da água. Em determinada página, quando Narizinho entra no reino de Escamado, "onde a escuridão era pior do que a de uma noite sem estrelas", a tela fica escura e o usuário, para conseguir ler o texto, precisa mover um vagalume pela tela, iluminando-a a partir de sua intervenção.

Não por acaso os três exemplos citados são livros infanto-juvenis. Perrone-Moisés, num texto dos anos 90, já alertava para o que chama de desafeto progressivo pela leitura: "leitura exige tempo, atenção, concentração, luxos ou esforços que não condizem com a vida cotidiana atual. Ouvi recentemente, de uma criança com preguiça de ler, a reclamação de que 'os livros têm muitas letras'. De fato, para concorrer com os outros meios de comunicação, os livros atuais e futuros precisarão ter mais atrativos do que aqueles ocultos pelas letras".

Por ora, o espanto com a novidade ainda é maior e muitos sabem descrever o que as crianças (e a sociedade em geral) estão perdendo. É preciso aguardar os próximos capítulos dessa história, porém, para conhecer o que as crianças (e a sociedade em geral) estão ganhando.

Fonte:
Colaboração de Marcelo Spalding

Gabriela Silva (A Vida de um Autor Influencia em sua Escrita?)

foto de Gabriela Silva
Uma discussão habita o mundo da literatura: a vida de um autor influencia em sua escrita? É do âmbito da critica genética que essa discussão parte. Quando experienciamos compartilhar e perceber como se davam as ações cotidianas ou reais desses artistas.

Lembro-me da primeira vez que li uma obra de Fiódor Dostoievski (1821-1881), estava no segundo ano da graduação e tínhamos uma disciplina chamada Literatura Ocidental. Líamos os grandes nomes da literatura. Li Crime e castigo (1866), com avidez, queria entender cada passo de Raskolnikov, perceber cada movimento, sentimento ou nuance de ação da personagem. Conheci São Petersburgo pelas páginas da obra de Dostoievski. Li no mesmo ano O jogador (1864) e gostei de passar algum tempo na companhia de Alexei Ivanovich, o protagonista, tentando entender a avareza e a vulnerabilidade humana. Algum tempo depois me apaixonei pelo doente narrador de Notas do Subterrâneo (1864), mesmo com a declaração da primeira página: sou um homem doente. Tal como Ofélia, amei um louco. Fui feliz. Conheci outras coisas de Dostoievski.

Percebi que a mente humana, e todas as suas peripécias era a motivadora da escrita de Dostoievski e isso se percebe em O jogador (1865), O idiota (1868), Os irmãos Karamazov (1878).

Todas as suas personagens reúnem os questionamentos humanos de individualidade e necessidade de sobrevivência em seu tempo.

Então me pergunto como era a vida de Dostoievski? Como o passar do tempo corria entre suas linhas e personagens?

Não posso reclamar dos deuses, eles me atenderam: Dostoievski: correspondências 1838-1880, tradução de Robertson Frizero pela editora 8Inverso, é uma grande leitura para quem gosta do autor e também para quem quer um bom motivo para gostar.

As correspondências traduzidas e organizadas por Frizero, trazem ao leitor a experiência de conhecer e perceber a vida social e o círculo de amizade e convivências que Dostoievski tinha em sua época.

Dividido em cinco capítulos, a coletânea organiza as correspondências em épocas e situações: “Os primeiros anos”; “A prisão e os anos de exílio em solo pátrio”; “Os anos de exílio no estrangeiro”; “O regresso à Rússia e a consagração como escritor” e por último uma cronologia da vida do autor, que traça uma linha temporal entre os acontecimentos do mundo e a vida de Dostoievski.

Como nos diz o tradutor em seu prefácio à obra: sempre tendemos uma interpretação do que está escrito, tentando colocar as situações vividas e relatadas nas obras literárias, como que fazendo a junção entre ficção e verdade. São cartas destinadas ao pai, ao irmão, à sobrinha e também amigos. Nelas são contadas situações, sentimentos, esperanças e expectativas do autor. Portadoras de lirismo, da necessidade humana de comunicar-se, de compartilhar, as cartas mostram-nos que o autor é tão frágil, emotivo, apegado à família como outros tantos mortais.

Mas diferente deste fatal destino, a obra em questão, mostra-nos a relação de Dostoievski com o mundo, com as pessoas estimadas e com o universo que ele mesmo criava para suas personagens. Leitor incansável, segundo Robertson, o autor russo conciliava talento e capacidade de observação alimentados por uma vida de duras experiências e leitura ávida.

Não apenas para olhos acadêmicos, mas para olhos apaixonados pela literatura e por Dostoievski, Correspondências é um convite a conhecer o mundo do autor, a entender o gênio que até hoje provoca nos leitores sentimentos e sensações diversas. Entre eles: a curiosidade e a admiração.
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Gabriela Silva é licenciada em Letras pelas Faculdades Porto Alegrenses de Educação Ciências e Letras, Especialista em Literatura Brasileira (PUCRS), Especialista em Leitura: teoria e prática ( FAPA), Mestre em Teoria da Literatura (PUCRS), doutoranda em Teoria da Literatura (PUCRS) sob a orientação de Luiz Antonio de Assis Brasil.
www.omundodeparker.blogspot.com; twitter.com/srtaparker


Fonte:
Artistas Gauchos

Ialmar Pio Schneider (A Obra de Paulo Setúbal)


Escritor elegante, poeta de a Alma Cabocla (poesias), romancista histórico de O Príncipe de Nassau, e A Marquesa de Santos (considerada sua obra-prima, com tradução em vários idiomas), além de outros, num total de 13 livros, e as suas memórias de o Confiteor (sua autobiografia, que foi publicada postumamente).

Paulo Setúbal, foi um autor que conheci nos idos de 1957, quando cursava o ginásio. Logo me atraíram suas poesias, de cunho ultra-romântico, em que falava de sua terra natal Tatuí, interior do Estado de São Paulo, amores diversos da juventude (moita de rosas, floco de espuma, sertanejas e poesia inédita), imprimindo a seguinte dedicatória no seu livro de versos:

“A ti, minha mãe, que és a melhor das mães, estes despretensiosos versos da nossa terra e da nossa gente.”

Depois enveredou para a prosa, tendo produzido romances, contos históricos, memórias, crônicas, episódios históricos e ensaios, que o levaram à Academia Brasileira de Letras em 1934, com apenas 41 anos de idade, pois nascera em 1893. Na ocasião pronunciou sincero discurso que arrematava com as seguintes palavras de agradecimento:

- “Mas deixai também, meus senhores, que nesta linda hora risonha, em que as emoções mais íntimas se atropelam dentro de mim, deixai que, mal acabe de vos agradecer, eu me ausente precipitado destas galas. Sim, deixai que o meu coração voe para longe daqui, fuja para a minha estremecida cidade de São Paulo, e lá, comovido e respeitoso, penetre por um momento, muito de manso, numa casa modesta de bairro sem luxo. Nessa casa, a estas horas, nesta mesma noite, está uma velha toda branca, oitenta anos, corcovada, com o seu rosário de contas já gastas, a rezar diante da Virgem pelo filho acadêmico. Pelo filho que ela, a viúva corajosa, ramo desajudado, mas altaneiro, de família opulenta, criou, educou, fez homem - Deus sabe com que sacrifícios e com que ingentes heroísmos obscuros ! Deixai pois, senhores acadêmicos, que o meu coração voe para a casa modesta de bairro sem luxo, entre no quarto do oratório, ajoelhe-se diante da velha branquinha, beije-lhe as mãos, e, na brilhante noite engalanada deste triunfo, diga-lhe por entre lágrimas: - Minha mãe, Deus lhe pague !”

Três anos após, entretanto, faleceria, em 1937, interrompendo uma trajetória literária promissora e recebeu do P. Leonel Franca S. J., o exórdio: PAULO SETÚBAL !

Na plenitude dos anos, o anjo da morte bateu-lhe à porta para acompanhá-lo ao descanso eterno dos justos. Os admiradores da sua obra literária lamentam, inconsoláveis, o desaparecimento prematuro do artista da palavra. No firmamento das letras foi o seu brilho fugaz como o de um meteoro. Os que, nos últimos tempos, lhe conheceram de perto as ascensões espirituais choram a perda irreparável de um apóstolo cujas irradiações benéficas poderiam amanhã estender-se em ondas de incomensurável amplitude.”

Apesar da glória que atingiu em tão pouco tempo, para mim será sempre o poeta de versos simples quais os que se seguem:

SÓ TU Dos lábios que me beijaram, Dos braços que me abraçaram, Já não me lembro, nem sei… São tantas as que me amaram ! São tantas as que eu amei ! Mas tu - que rude contraste ! – Tu, que jamais de beijaste, Tu, que jamais abracei, Só tu, nest’alma, ficaste, De todas as que eu amei...”

E destes outros que decorei, em certo tempo de minha vida, na adolescência, e sempre me pediam que declamasse, em festinhas que freqüentava, onde correu um boato que eu havia me apaixonado por uma noiva, ou melhor, seria apaixonado por alguém que agora seria noiva. Devo dizer que não passa de lenda, embora não seja tão famoso assim. Lá vai:

SÊ FELIZ !

- És noiva... Em breve há de raiar o dia,
Festivo, azul, vibrante de alegria,
Que te sorri num céu de rosicler.
Irás à igreja. E, num altar formoso,
Branca de anseio, trêmula de gozo,
Verás florir teu sonho de mulher !

Oh! Nessa noite, o baile terminado,
Ao te despires para o teu noivado,
Sonhando os sonhos que a paixão te diz,
Tu hás de ouvir, na alcova silenciosa,
O tom queixoso duma voz queixosa,
Que te dirá baixinho: Sê feliz !

E, pálida de susto, ao escutá-la,
Hás de reconhecer a minha fala,
Ouvindo a minha voz naquela voz !
E hás de sentir, como jamais sentiste,
O fel que vai naquele verso triste
A dor que punge aquela frase atroz...

Só para complementar, esses dias, passei por um dos “becos dos livros”, e adquiri a obra completa de Paulo Setúbal, edição Saraiva, de 1954, em perfeito estado de conservação, para não dizer novos. Acredito que nem tenham sido abertos e folheados. São treze volumes que pretendo ler aos poucos, como quem curte uma saudade de um tempo bom de outrora. Contava com menos de dezoito invernos e talvez era feliz sem saber. A vida é assim mesmo...

Ialmar Pio Schneider
POEMA A PAULO SETÚBAL – In Memoriam Data do falecimento do escritor em 4.5.1937.

Paulo Setúbal foi poeta nobre...
“Alma Cabocla” tem nobreza e encanto
E quanto mais se lê mais se descobre
toda beleza longe de ser pobre
da romântica verve do seu canto.

Se desde muito tempo o venho
lendo nunca posso esquecer suas poesias
pois eu também dessas paixões entendo
porque no meu viver fui compreendendo
que existem emoções e fantasias...

Este simples poema que ora escrevo
surgiu-me num momento de esplendor
parafraseando versos seus me atrevo
como um “Último Verso” de relevo
“numa roseira que não dá mais flor...”

Porto Alegre – RS4 de maio de 2011-05-04
_______________________________
Cronista e poeta. Publicado em 26 de junho de 2002 - no Diário de Canoas.

Fontes:
Colaboração de Ialmar Pio Schneider
Imagem obtida no site de Antonio Miranda

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 204)


Uma Trova Nacional

Quem tem coração de paz
vive de culpa liberto,
porque faz do bem que faz
um céu de sol mais aberto!
NILTON MANOEL/SP–

Uma Trova Potiguar

O meu destino de amor
me pôs no rol dos felizes:
fez-me nascer trovador
no mais belo dos países.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Uma Trova Premiada

1992 - Barra do Piraí/RJ
Tema: ONTEM - M/H

Ainda que outras despontem
nesse teu céu de hoje em dia,
hás de lembrar sempre que ontem
eu fui tua estrela guia...
–DIVENEI BOSELI/SP–

...E Suas Trovas Ficaram

Minhas mãos cheias de amor,
plantam amor pelas ruas...
e mais não plantam, Senhor,
porque só me deste duas!...
–JOSÉ M. MACHADO ARAÚJO/RJ–

Simplesmente Poesia

MOTE
Quem consola o choro alheio,
não tem tempo de chorar.

GLOSA:
Sofre também aperreio;
sente a mesma dor vivida
de quem sente a dor sentida,
quem consola o choro alheio.
A tristeza é seu recheio,
revelada em seu olhar;
faz tudo pra suportar
sem exibir aflição,
quem consola a dor do irmão
não tem tempo de chorar.
–RODRIGUES NETO/RN–

Estrofe do Dia


Carícia que nos afaga,
que vem das fibras do peito,
o fogo do amor perfeito
tem chama que não se apaga,
amor com amor se paga,
quem dele for devedor,
não vá pagar com rancor,
ingratidão e seqüela ;
amor, a dívida mais bela,
pra ser paga com amor.
–OLIVEIRA DE PANELAS/PE–

Soneto do Dia


–RAYMUNDO DE SALLES BRASIL/BA–
Devaneio


Eu estive nas nuvens por alguns instantes...
Vaguei por entre as mais belíssimas quimeras...
Cheguei a ver de perto as luzes mais brilhantes
E o perfume senti, de muitas primaveras.

O sonho transportou-me a páramos distantes,
Impossíveis lugares, fictícias eras,
Um privilégio só dos loucos delirantes
Como este que se deu todo a sonhar, deveras.

Sonhar é ver adiante a luz que não existe,
Luz que se apaga e deixa o sonhador tão triste!...
Quem ama sonha, o poeta sonha, sonha o louco.

Devia até ter razão Vinícius quando disse:
(O que aos olhos normais parece maluquice)
“Eterno enquanto dura”! – e como dura pouco!...

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo
Imagem = www.alexuchoa.com.br

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 203)



Uma Trova Nacional

Desato o nó da lembrança
e um facho de luz sem fim,
me traz de volta a criança
que um dia fugiu de mim.
–RITA MOURÃO/SP–

Uma Trova Potiguar

Este amor que nos afaga,
no silêncio de nós dois,
é uma luz que não se apaga,
nem agora, nem depois...
–ULISSES FREITAS JUNIOR/RN–

Uma Trova Premiada

1989 - São Paulo/SP
Tema: SEGREDO - Venc.

Este amor mal disfarçado
em teu olhar de esperança,
é segredo mal guardado
num cofre sem segurança.
–THALMA TAVARES/SP–

...E Suas Trovas Ficaram

De minha alma, nas dobrinhas,
a sua alma se aninhou...
As duas parecem minhas,
no ambíguo que eu hoje sou!
FERNANDO VASCONCELOS/PR–

Simplesmente Poesia

–ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE/RJ–
Pecante

Não importa o quanto pecas.
O que eu quero é sentir o teu calor,
o inebriante perfume do teu corpo,
passear por toda extensão de tuas curvas.

Não importa o quanto pecas.
É irresistível a tua beleza,
o sabor dos teus lábios,
o brilho dos teus olhos.

Tu és divina
Perfeita
Uma obra de arte
Doçura.
Não importa o quanto pecas.

Estrofe do Dia

Canta o galo o pinto pia
toda passarada canta,
a cabocla se levanta
vai lutar durante o dia,
enche o pote de água fria
tira a cinza do fogão,
passa a vassoura no chão
faz o fogo ajeita a brasa,
ferve o leite arruma a casa
faz café cata o feijão.
–OTACÍLIO BATISTA/PE–

Soneto do Dia

–GERALDO AMÂNCIO/CE–
Eu Quero

Eu quero o som de etéreas orações
nas catedrais da fé sedimentada,
e a crença pura em Deus sem ser atada
ao nó ferrenho das religiões.

Vaga-lumes flutuando em procissões
deixando a noite suave iluminada.
Eu quero arco-íris na manhã raiada
bordando a aurora com irradiações.

E depois de escutar pelas campinas
o sussurro das brisas matutinas
quero ouvir a heróica melodia

da canção libertária dos kilombos,
e a placidez de um revoar de pombos
enchendo o céu de paz e de poesia.
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AREIA BRANCA

Areia Branca é um município brasileiro localizado no interior do estado do Rio Grande do Norte, localizado na região da Costa Branca. Na cidade encontra-se a Ponta do Mel, único lugar do mundo onde o sertão encontra o mar.[Por estar na foz dos rios Mossoró, Apodi-Mossoró e Ivypanin, os quais se intercedem nos extremos da cidade e, juntamente ao Oceano Atlântico, circundam-na, Areia Branca caracteriza-se como uma ilha.

Encontra-se a 330km da capital do estado, Natal, e tal qual sugerido pelo seu nome, a cidade de Areia Branca é conhecida pelas suas belas praias paradisíacas de areias brancas, dunas e falésias, além de uma porção territorial dominada pelo sertão, apresentado uma das mais ricas e variáveis formações geográficas do estado do Rio Grande do Norte. Areia Branca também é lembrada pela sua massiva produção de sal, a qual rendeu-lhe o título de "Terra do Sal".

A cidade de Areia Branca é uma ilha, cercada de salinas e gamboas, por todos os lados, situada à margem direita do rio Mossoró. Passando nas Pedrinhas e, ao largo da praia do Upanema, a estrada penetra na cidade pela antiga Ilha, onde se localizavam, outrora, pequenas granjas que recebiam o nome genérico de “cercados’”.

Informam os historiadores que, por volta de 1860/1870, o território da futura cidade ainda era todo coberto por uma espessa mata de imburanas, quixabeiras, espinheiros e outras espécies vegetais. Com a seca de 1877, legiões de flagelados invadiram a ilha e devastaram toda a vegetação, a fim de construir casebres onde passaram a morar.

Com a devastação da mata, o solo ficou exposto à erosão dos ventos que levantava nuvens de pó e as transformava depois em pequenas dunas de areia, que alcançavam às vezes até dois metros de altura. Fenômeno interessante, decorrente dessa ação eólica, ocorria com o morro do Pontal, Localizado à entrada da barra do rio Mossoró. Periodicamente, o morro desaparecia da paisagem, para reaparecer anos depois, como num passe de mágica. Os mesmos ventos que levavam. Traziam-no de volta.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), sua população em 2010 é de 25 263 habitantes. Área territorial de 358 km².

O município foi emancipado de Mossoró através da Lei nº 10, de 16 de fevereiro de 1892.

Limita-se com os municípios de Grossos (oeste), Mossoró e Serra do Mel (sul) e Porto do Mangue (leste). Ao norte é banhado pelo Oceano Atlântico.

O município faz parte do POLO COSTA BRANCA, associação dos Município da Costa Branca AMUCOSTA formada pelos municípios a seguir: Caiçara do Norte, São Bento do Norte, Galinhos, São Rafael, Carnaubais, Assu, Tibau, Grossos, Itajá, Areia Branca, Mossoró, Porto do Mangue, Serra do Mel, Macau, Guamaré e Pendências.

O Polo Costa Branca é uma forma de desenvolvimento do turismo na região.

A ocupação de Areia Branca iniciou-se quando vários pescadores decidiram estabelecer-se nas "Areias Brancas", na ilha de Maritaca, nos idos de 1860.

Durante a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), as Areias Brancas foram utilizadas como abrigo para os que fugiam ao recrutamento militar, para ali enviados por Francisco Gomes da Silva, o "Chiquinho Gomes da Barra", residente na barra do rio Mossoró.

Quem primeiro ergueu casa de alvenaria de tijolo nas Areias Brancas foi Georgino Ferreira de Carvalho, em 1867. Um pouco mais tarde, em 1873, foi erguida a primeira escola e a Capela de Nossa Senhora da Conceição, que permaneceu de pé até ao ano de 1877. Em 1885, oito anos após a demolição, a capela foi reconstruída pelos fiéis.

Em 1872, Areias Brancas constituía-se em distrito de nº 10, de 16 de fevereiro, Areia Branca foi desmembrado de Mossoró e elevado à condição de município.

TURISMO

Areia Branca apresenta cenários deslumbrantes, com imensas dunas, enormes falésias de terra avermelhada, praias belíssimas e vegetação da caatinga com o sertão indo de encontro ao mar. São 42 quilômetros de litoral e de verdadeiro paraíso, como as praias de Ponta do Mel, Cristóvão, Redonda, Morro Pintado, São José, Baixa Grande, Upanema, entre outras.

TURISMO RELIGIOSO

turismo religioso é um diferencial no calendário de eventos de Areia Branca. De 5 a 15 de agosto a cidade se transforma num símbolo de devoção e fé. Uma multidão só comparada a do carnaval participa da festa de Nossa Senhora dos Navegantes, a padroeira dos marítimos. São 10 dias de festejos. Paralelo a programação religiosa, que é intensa, a prefeitura monta uma estrutura semelhante à do carnaval, inclusive no mesmo local, o Largo da Folia. A estimativa de público é superior a 150 mil pessoas em mais de uma semana de programação de palcos com apresentações de grandes nomes da música e shows religiosos e culturais.

Fontes:
MENSAGENS POÉTICAS
Colaboração de Ademar Macedo

AREIA BRANCA
Wikipedia

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XXV – O Veado e o Sapo



Um veado e um sapo queriam casar com a mesma moça. Para decidirem a questão fizeram uma aposta.

— Temos aqui esta estrada compridíssima. Vamos correr — propôs o veado. — Quem chegar primeiro, casa com a moça.

O sapo concordou, e marcaram a prova para o dia seguinte.

O veado saiu dali dando boas risadas. Um pobre sapo ter a pretensão de apostar corrida com quem? justamente com ele, que era o animal de maior velocidade que existe! Ah, ah, ah!...

Mas o sapo usou da esperteza. Reuniu cem companheiros, aos quais contou o caso, combinando o seguinte: de distância em distância, à beira da estrada, ficaria escondido um sapo, com ordem de gritar Gulugubango, bango, lê, sempre que o veado passasse por ele e cantasse Laculê, laculê, laculê. Enquanto isso, o sapo apostador ficaria, no maior sossego, esperando o veado no fim da estrada.

Assim foi. Chegada a hora da corrida, o veado disparou que nem uma bala. Cem metros adiante cantou o Laculê, certo de que o sapo, lá atrás, nem ouviria. Mas com grande assombro ouviu a resposta adiante dele: Gulugubango, bango, lê.

— Será possível? — pensou consigo o veado, e deu maior velocidade às canelas. Voou mais cem metros e cantou: Laculê, laculê, laculê, e ouviu adiante a resposta: Gulugubango, bango, lê.

O veado começou a suar frio. Deu ainda maior velocidade às pernas, avançando mais duzentos metros, rápido como o relâmpago — e cantou o Laculê. Mas ouviu pela terceira vez, adiante, o Gulugubango, bango, lê.

E desse modo até o fim da estrada, onde, mais morto que vivo, com as pernas a tremerem do grande esforço, o veado cantou pela última vez, com voz de quem não agüenta mais: La... eu... lê... Mas ouviu de novo a voz descansada do sapo, que respondia, adiante, sossegadamente: Gulugubango, bango, lê. Fora vencido.

O veado jurou vingar-se. Na noite do casamento foi ao quintal do sapo e encheu de água fervendo a lagoa onde ele nadava. Altas horas o sapo teve saudades da lagoa e veio tomar seu banho. Tchi-bum! — pulou dentro e morreu escaldado. O veado, então, muito contente da vida, casou-se com a viúva.
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— Ora, até que enfim aparece um veado esperto! — gritou Emília.

— Esperto e perverso — disse Narizinho. — ; Bem merecia ser comido pela onça. Pobre sapo!

— Isso não! — contrariou Pedrinho. — Desde que o sapo logrou o veado, o veado ficou com direito de pagar na mesma moeda.

— Mas pagou em moeda diferente — disse a menina. — Se ele se limitasse a enganar o sapo, estava bem. Mas matou-o. Isso foi crueldade.

— Mas também quem manda sapo casar com moça? — observou Emília. — Sa com sa, mo com mo, diz o ditado.

— Que ditado é esse, Emília?

— Sapo com sapa, moço com moça. Sapo que encasqueta casar-se com moça, só mesmo cozinhado em água fervendo.

— E não se casou com ela o veado?

— Bom, isso é diferente. Veado é um animalzinho dos mais bonitos. Mas sapo... — e Emília deu uma cuspida de nojo.
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Continua… XXVI – A Onça e o Coelho
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Ana Elisa Ribeiro (Ler, Escrever e Fazer Contas, Só Que Hoje)



Faço um esforço grande e não me lembro das primeiras lições de leitura. Não tenho mais ideia de como foi meu trajeto em direção a ela (com compreensão). Sequer consigo me lembrar das aulas de letrinhas, sílabas e outras dificuldades. Nem posso dizer que tenham sido fáceis ou frustrantes, já que nem disso guardei memória. Se é assim, pode ser sinal de que não deixou cicatriz. Se tivesse sido sofrido, eu saberia, ao menos vagamente.

Lembro-me com vaguidão do nome da professora. Era Fátima. Lembro melhor da compleição do corpo do que do rosto, que era redondo. A mulher não me parecia dura, nem carrasca. Deve ter dado bons ensinamentos de caligrafia, embora eu os tivesse esquecido em seguida.

Naquela época (terrível esta expressão), aprendia-se a ler em cartilhas. A minha se chamava Acorda, dorminhoca, e só disso é que me lembro. Talvez da capa, meio laranja. E mais nada.

Aprendia-se a ler no pré-primário ou prezinho, como chamam até hoje. Eram oito os anos de ensino fundamental e a alfabetização no pré era privilégio. Estudávamos em jardins privados e tínhamos acesso ao mundo das letras, pelo menos ali, na portinha da entrada. Daí a entrar e passear, são outros quinhentos. Nadar de braçada, então... só pagando para ver.

A "tia" ensinou muitas coisas para a garotada. E me ensinou a ler. Não tenho qualquer memória das lições. Só me lembro de começar a ler outdoors e de pedir ao meu pai para dirigir mais devagar.

Saber decifrar as letras, as sílabas ou os textinhos, no entanto, não era tudo e não significava, de forma alguma, dominar a escrita. Esta foi galgada a passos curtos, letra a letra, em cadernos de pautas diferenciadas. Desenhar o A, o B, o C e o difícil O. Alcançar linhas de cima e de baixo. Não espelhar letras e números. Treinamento árduo. Consolidar uma caligrafia própria, a "minha letra", reconhecível pelos amigos, pelos pais, por mim mesma e pela perícia.

Ter letra, ter estilo, ter tom. Naquela era, completamente tomada pela cultura escrita impressa, o máximo do arranjo profissional era escrever a máquina, com letra "de imprensa".

Da letra manuscrita fartamente treinada, em todos os níveis escolares, até a primeira máquina passaram-se décadas. Ter uma Olivetti ou qualquer outra máquina para datilografar era coisa de quem se metia muito a escrever. Ninguém tinha uma dessas à toa. E minha primeira experiência foi com uma Hermes Baby, modelo portátil (com mala de mão), laranja, curiosamente, com letras que imitavam o manuscrito. Só mais tarde veio a portátil com letra de imprensa, em que eu adorava usar fita de duas cores. Ter uma máquina dessas em cima da mesa significava, de alguma forma, uma proximidade qualquer, íntima, com a escrita.

Mas eis que o computador chega perto (nos anos 1990, junto com o 486 e o Windows) e se mostra um jeito novo de escrever. Apesar das operações para ligar, abrir, arquivar e das novas mediações, todas metafóricas e virtuais, o PC tinha seu charme. A sedução da formatação fácil, quase profissional, transformava qualquer texto em uma obra de gráfico. A parte chata era dispensada, como separar sílabas e calcular, no olho, onde a linha deveria acabar para garantir o alinhamento da mancha. Mais sedutor ainda era poder desfazer, apagar, desistir, recortar e colar sem ter de escrever tudo de novo. Impressionante era só imprimir quando o texto chegava a bom termo (ainda que escapassem uns desacertos). Sem papel amassado e sem lixeira cheia, o escritório parecia sempre pouco sofrido.

A "tia" Fátima nem sonhava em nos ensinar a escrever no computador. Ela se esforçava por nos ensinar a fazer letras redondas, legíveis e a entender como separar palavras. E nós percebíamos que a língua e os textos serviam para fazer muitas coisas na vida.

Como se alfabetiza alguém hoje? Por que caminhos segue uma criança nascida na década dos tablets? Fôssemos nós nascidos dentro de computadores, certamente veríamos neles uma paisagem como qualquer outra. Isso precisa ficar claro e óbvio. Não se trata de que nasçam hoje seres mais espertos e inteligentes. Mas, de fato, nascem seres que têm contato com artefatos dos quais nos apropriamos.

Eu, um ser da década de 1970, nasci vendo TV e joguei videogame muito jovem. Tive alguma notícia do computador quando já era adolescente, mas ele nos parecia uma máquina lendária, intocável, para engenheiros trancafiados em laboratórios secretos. E fomos nos aproximando dessas máquinas (e elas de nós) muito lentamente, de acordo com as necessidades que o trabalho e a escola nos impunham.

As crianças que nascem hoje podem conhecer, bem cedo, as funções de um notebook, de um telefone celular ou de um tablet, normalizando, portanto, sua interação com esses objetos. Não significa, no entanto, que seus pais sejam leitores e escritores contumazes, mas pode ser que sim.

Em trabalhos científicos e mesmo na experiência empírica, é possível observar a beleza das crianças aprendendo a ler e a escrever neste mundo de mais possibilidades (de forma alguma quero dizer que sejam necessariamente melhores). Ao que parece, é bastante precoce aprender as letras no teclado e digitá-las na metáfora da folha que surge na tela. Aprender a deletar surte efeito curioso quando a criança percebe sua dificuldade de apagar em folhas de papel, substância onde as marcas ficam por baixo das outras, o palimpsesto, o gesto de ir e vir da escritura que tem genética.

Crianças gostam de digitar, acham gostoso ver letras bonitas na tela, ficam felizes por terem apenas o trabalho de apertar um botão para ter como recompensa uma letra inteirinha. Aos 5 ou 6 anos, traçar um A ou um O não é brincadeira. Por outro lado, é impossível dispensar o aprendizado da própria letra, do desenho das palavras, porque há situações cotidianas em que o texto precisa existir analogicamente.

Crianças aprendem letras de "imprensa" na tela, lidando com Times New Roman ou com Arial. Encantam-se com tipos mais divertidos e aprendem cedo a formatar. Essas operações tão múltiplas na linguagem, essa verdadeira educação visual para o texto, no entanto, não dispensa a consolidação de um jeito próprio de escrever, de uma letra, uma espécie de identidade.

Lá vai o garoto aprendendo o próprio nome, "fazendo a ficha", descobrindo suas vogais e consoantes, alinhando ao seu os nomes da mãe, do pai, dos avós. Lá vai a menina trocando as letras, refazendo a linha, pensando em como resolver problemas com acentos e nasais. E lá vão eles se indispondo com o computador ou com o lápis. O lápis, dizem eles, é mais rápido. Com ele, é só riscar um traço no papel e pronto. No computador, preciso catar as letras, já que não sou ágil em digitar.

De qualquer desses cenários decorre que é preciso aprender que o texto escrito (e lido) tem poder, função, regras, parâmetros, serventias, segredos. Independentemente da ferramenta usada, escrever bem, por exemplo, é um desafio infinito, que a muitos custa uma vida inteira (e que a maioria abandona bem cedo).

A quantidade dos modos de ler e escrever aumentou significativamente nas últimas décadas. A cultura escrita abriu espaço para diversas tecnologias e as pessoas, a intervalos cada vez menores, vão se apropriando e se seduzindo por esses modos de fazer. Não se engane, no entanto, quem pensa que é a ferramenta que faz o ferreiro. É preciso mais do que caneta ou iPad para ser escritor ou leitor, nas melhores acepções dos termos.

Fontes:
Colaboração de Digestivo Cultural 29 abril 2011.

Imagem = Saber20

Ana Célia Ellero (Olhos Vermelhos)




Depois de rolar várias vezes na cama tentando inutilmente dormir, Lúcia se levantou e foi à cozinha vasculhar o armário procurando encontrar biscoitos doces.

Sem sucesso em sua busca e sentindo seus olhos pesados, dirigiu-se ao banheiro e mirou-se no espelho na intenção de verificar como os mesmos estavam. Assim que a iluminação tomou conta do pequeno cômodo da casa que era composto por um vaso sanitário, um chuveiro exposto sem a proteção de um box e um pequeno jogo de pia e espelho, ela olhou para fora da janelinha que se abria deste banheiro para o telhado da casa vizinha.

Lá estava ele: branco, raquítico, alerta, olhos vermelhos — um gato albino.

O primeiro sentimento que a acometeu foi o de a mais profunda repulsa. A imagem daquele ser lhe era miserável, o resumo da inadaptação, do erro genético, do caminho oposto ao do comovente movimento harmonioso da Natureza.

Lúcia se esforçou para conseguir continuar a encará-lo e ambos permaneceram imobilizados por algum tempo. Depois desse momento de paralisia, o passo, enfim, foi dado pelo mais forte daquele encontro: saltando para o outro lado do telhado, o gato desapareceu.

Diante disso, ainda inebriada pela mescla da imagem bizarra do gato ao estado de insônia que sempre a deixava confusa, Lúcia voltou para seu quarto. Sentou-se na cama e passou supor, então: o gato albino deveria se esconder o dia todo para não ser agredido pela luminosidade do sol. Sairia somente à noite para se alimentar. Caminharia pela madrugada fuçando restos, sempre sozinho para que não tivesse que disputar o lixo com os outros animais fuçadores de lixo. Devido a sua compleição física, teria dificuldades em arranjar comida. Em uma disputa pelo alimento, a desvantagem sempre seria sua, já que não tinha forças para lutar. Difícil era receber a empatia de algum insone ou de um notívago disposto a lhe oferecer comida. Sempre expulso, carregaria pelas ruas escuras da cidade a sua imagem repugnante. Com sorte, após a batalha para adquirir pelo menos o mínimo que o permitiria estabelecer-se em pé, o herói da sobrevivência, voltaria para seu bueiro, com seu pequeno quinhão no estômago, sempre com suas costelas a se destacar, onde permaneceria até que a luz do dia não ferisse mais seus olhos.

Depois de se deixar envolver por essas breves, porém, intensas conjecturas, Lúcia sentiu-se impregnada de algo que lentamente se aproximava de uma manifestação emocional, cuja palavra mais próxima no sentido de descrevê-la seria “empatia”.

Esfregou seus olhos agressivamente, pois a falta de sono fazia com que os mesmos ficassem irritados. Sentiu-os como se os mesmos estivessem vermelhos e, com isso, uma comparação entre ela e o gato albino passou a configurar-se: também ela se considerava inapta diante da vida, também ela era a esquálida diante das pessoas que lhe cercavam. O cotidiano lhe era uma agressão: durante seu trabalho, concentrava-se apenas em realizar o que lhe era solicitado, buscando não se embrenhar em conversas que considerava tolas ou fazer parte da estrutura que exigia a competição selvagemente felina entre os seus.

Acostumara-se a essa sua condição e convivia com uma enorme comiseração por si mesma, todos os dias. Com a sensação de ser um grande blefe da vida, voltava para casa (bueiro?) com o alívio de mais um dia ter chegado ao fim.

Lúcia percebeu, porém, nesse momento que algo fundamental lhe diferenciava do gato albino. Este, em meio a sua luta para manter-se vivo, demonstrou uma solidez em seu ser não físico que pôde transmitir no olhar enviado a ela antes de saltar e ir embora. Olhar contrastante de um ser de pulsão forte em corpo frágil. Lúcia não tinha as estratégias de sobrevivência que pudessem torná-la também uma heroína em seu mundo, transformando sua inconsistência e seu desencanto em algo que a pudesse fortalecer diante da vida.

Ainda hoje, Lúcia busca todas as noites encontrar o gato albino no telhado ao lado de seu banheiro, com a expectativa de quem aguarda uma aparição divina. Pensa que se isso acontecer, ela poderá levá-lo para sua cama e oferecer-lhe leite morno. Poderá abraçá-lo, acariciá-lo, encará-lo em seus olhos vermelhos e aprender com ele.

Ela deseja intensamente que o gato albino volte, mas ele ainda não mais a visitou. Resta a Lúcia a fantasia de que, naquela noite em que se viram pela primeira e única vez, ela o acolheu para sempre como seu.
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Ana Célia Ellero é educadora com graduação e mestrado em Educação pela Unicamp. Já atuou em sala de aula e, trabalha como Assistente na Coordenadoria Setorial de Formação - Departamento Pedagógico, da Secretaria Municipal de Educação de Campinas. Já publicou um conto na Revista da Associação de Leitura do Brasil - ALB, sediada na UNICAMP, denominado “Praga Urbana”.

Fontes:
Projeto Releituras
Webartigos.com
Imagem = Colivre

Pedro Aparecido de Paulo (Poesias Avulsas)




MÃE, O MUNDO ENCANTADO

Sua doutrina Bendita
faz a vida mais bonita
mesmo na dificuldade.
Seu olhar tão meigo e puro
traz o seu filho seguro,
irradia felicidade.

Sua face tão serena,
de uma coisa tão pequena
faz transformação total.
A primeira frase do filho
faz-se seu nome estribilho
e o transforma em festival.

Suas mãos acariciam
seus afagos contagiam
trazendo tranquila paz.
Atrai a felicidade
amor e sinceridade
vejam, do que ela é capaz.

Seu coração envolvente
faz do seu filho inocente
um mar de sabedoria.
Ensina-o a cada passo
defendendo-o do fracasso
com prazer e alegria.

Pode ser uma rainha
ou uma mãe pobrezinha
não importa a diferença.
Se ela não tem riqueza
não sabe o que por na mesa
a Deus pede providência

TESTE DE PINCEL

Em você, o meu primeiro visual,
comecei a pintá-la, tornando-a imortal,
diante de seu corpo desnudo;
curvas e traços confundidos,
qual beleza inigualável em tudo.
Ao iniciar não revisei a tela,
não imaginei uma forma assim tão bela,
pois fora apenas um teste de pincel.
Riscos e cores traçados devagar,
não havia em mim razão para pintar,
pois seria somente em teste, o meu papel.
Aos primeiros traços que foram surgindo,
mudou tudo enfim, que quadro tão lindo,
arrumei a tela com profunda emoção!
Ao ver o seu corpo retratado ali
É indescritível tudo o que senti,
pois pintava alguém em meu próprio coração.
Vi com outros olhos pincéis e tela;
consertei os riscos, deixando-a mais bela.
No quadro, então, moldei-a, enfim.
Completei com júbilo seu corpo sem igual!
Tão rara imagem tornou-se imortal,
tenho essa musa, bem juntinho a mim!

DIÁLOGO DE UM FILHO

Mamãe, onde estará meu pai neste momento,
faz tanto tempo que ele partiu, não mais voltou.
Disse-me ainda que eu era forte e de talento,
enxugou minhas lágrimas e chorando me abraçou.

Foi um momento tão difícil e muito triste,
eu não podia imaginar que fosse assim,
meus cinco anos não me ensinaram ver que existem
coisas que marcam com lembrança tão ruim.

O tempo passa, eu pergunto à mãe querida,
será que papai se lembra ainda que eu existo?
Já completei meus quinze anos de vida,
este meu sonho um dia ainda conquisto.

Quantas vezes vejo minha mãe chorando,
mas ao me ver ela tenta disfarçar,
sei que ela passa também o que estou passando
meu pai querido, volte logo ao nosso lar.

Porém a nossa fé ainda é imensa
e o Pai do Céu vai nos dar essa vitória,
em todo sofrimento haverá a recompensa
um dia com papai, exaltaremos a sua glória.
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Pedro Aparecido de Paulo é técnico em elevadores. Nasceu em Sertanópolis – PR, no dia 21 de julho de 1946. Autor de Um pouquinho de Deus, de ti e de mim; Pedras e pétalas e Crepúsculo de saudade. Ocupa a Cadeira nº. 02 – Patrono: Alberto de Oliveira, da Academia de Letras de Maringá.

Fonte:
Academia de Letras de Maringá