terça-feira, 5 de março de 2019

Contos e Lendas do Mundo (China: Os Três Tigres)

por Xu Fang

Nos últimos anos, nossa aldeia foi infestada por tigres, que devoraram muitas pessoas, mais do que se conseguiria contar. Viajantes que passavam por aqui diziam que isso acontecia também no resto da China.

Segundo muitos, os tigres errantes seriam enviados do céu, encarregados de procurar aqueles que tinham conseguido escapar do seu encontro com uma morte violenta. Outros afirmavam que debaixo da pele do tigre se escondem demônios ferozes, espíritos vingadores no estado de furor extremo. A verdade pode existir nessas duas explicações, mas nenhuma  é tão estranha como a do velho Huang.

O velho Huang morava em Mixi, a alguns quilômetros do distrito de Qiao. Ele tinha três filhos grandes na força da idade. Na primavera daquele ano, ele ordenou que eles fossem lavrar o campo nas colinas e durante muitos dias eles saíam bem cedo e voltavam no fim da tarde.

Um dia um vizinho disse ao Huang:

— Teu roçado está cheio de mato.

— Como pode ser? - respondeu o velho Huang. Meus filhos passam lá, trabalhando o dia inteiro.

— Parece que não! -  respondeu o vizinho.

Intrigado, Huang decidiu seguir seus filhos. Na manhã seguinte, foi atrás deles. Logo que chegaram no bosque, no pé da colina, eles tiraram a roupa e a penduraram em galhos de árvore. Depois se transformaram em tigres, pulando e dando terríveis rugidos.

Aterrorizado, o velho Huang voltou depressa para a aldeia. Ele contou ao seu vizinho o que tinha visto e depois se trancou dentro de casa.

De noite, seus filhos voltaram. Esperaram muito, diante da porta fechada, mas ninguém respondia quando chamavam. No fim, o vizinho saiu e explicou que seu pai os renegava, depois do que tinha visto no bosque.

— O que ele viu foi verdade! -  reconheceram os rapazes. - Mas não fazemos assim por nossa vontade. É o mestre dos Céus que nos obriga.

Em seguida, o mais velho chamou seu pai.

— Pai, como poderíamos ser ingratos com o senhor? Sua bondade para conosco é sem limites. Ficamos desesperados por termos sido escolhidos já há tanto tempo para esse papel funesto. Nos últimos dias corremos por montes e vales, na esperança de encontrar alguém para pegar nosso lugar, porque não aceitamos a sorte que nos foi reservada. Não deu certo. Agora, mesmo com o senhor sabendo o que está acontecendo, não podemos desobedecer as ordens. No bolso de cima do meu casaco, pai, tem uma caderneta. Pega essa caderneta, pai, senão o senhor está perdido, e teremos nós três aqui assinado sua sentença de morte.

O velho Huang pegou a lamparina e procurou no bolso de cima do casaco, de onde tirou a caderneta. Ele leu os nomes de todos aqueles que, no distrito, deviam ser mortos pelos tigres. Seu nome vinha em segundo lugar na lista.

— O que podemos fazer? — gritou, desesperado.

— Abre a porta, respondeu o mais velho. Acho que tem uma saída.

O velho Huang abriu a porta. O filho mais velho pegou a caderneta, e os três filhos, retendo os soluços, inclinaram-se diante do pai. Depois disseram:

— Que seja o destino do Mestre dos Céus. Agora, pai, veste quatro ou cinco calças e camisas, uma por cima da outra, mas não afivela o cinto. E agora, reza ajoelhado. Temos um jeito de salvá-lo.

O velho Huang obedeceu. Nem bem tinha se ajoelhado, seus três filhos já tinham virado tigres e caíram sobre ele com as garras afiadas. Com patadas e dentadas, cada um arrancou uma camada das roupas e foram embora rugindo, com farrapos de roupa na garganta.

Nunca mais eles foram vistos na aldeia, e o velho ainda hoje mora no mesmo lugar.

Fonte:
http://www.capparelli.com.br/contos.php

Andréa Motta (Lançamento de Livro dia 26 de março)

Andréa Motta e Nogue Editora, convidam para o lançamento do livro de poesias Natureza Íntima, no dia 26 de março de 2019, à 17h, no Centro de Letras do Paraná (Rua Fernando Moreira, 370 - Centro. Curitiba-Paraná).

É um livro com poemas curtos, mas profundos.

Será uma imensa alegria, contar com sua honrosa presença.


domingo, 3 de março de 2019

Arthur de Azevedo (A Marcelina)



I
Naquele tempo (não há necessidade de precisar a época) era o Doutor Pires de Aguiar o melhor freguês da alfaiataria Raunier e uma das figuras obrigadas da Rua do Ouvidor. Como advogado diziam-no de uma competência um pouco duvidosa, o que aliás não obstava que ele ganhasse muito dinheiro, – mas como janota – força é confessá-lo – não havia rapaz tão elegante no Rio de Janeiro.

Quando lhe perguntavam a idade, respondia invariavelmente:

– Orço pelos quarenta, – e durante muito tempo não deu outra resposta. Os seus contemporâneos de Academia atribuíam-lhe cinquenta, bem puxados. As senhoras, essas não lhe davam mais que trinta e cinco.

Ele tinha um fraco pelas mulheres de teatro. Consistia o seu grande luxo em ser publicamente o amante oficial de alguma atriz. Não fazia questão de espírito nem beleza; o indispensável é que ela ocupasse lugar saliente no palco, e fosse aplaudida e festejada pelo público.Não era o amor, era a vaidade que o conduzia à nauseabunda Citera dos bastidores.

Essas ligações depressa se desfaziam; duravam enquanto durava o brilho da estrela; desde que esta começava a ofuscar–se, ele achava um pretexto para afastar-se dela e procurar imediatamente outra. Como era inteligente e generoso – muito mais generoso que inteligente, – nunca ficava mal com o astro caído.

Algumas vezes o rompimento era provocado por elas – pelas de mais espírito, – que facilmente se enjoavam de um indivíduo tão preocupado com a própria pessoa, e tão vaidoso suas roupas.

II

No tempo em que se passou a ação deste ligeiro conto, a conquista do Doutor Pires de Aguiar era uma atriz portuguesa, a Clorinda, que viera de Lisboa apregoada pelas cem trombetas do reclame, e cuja estreia,num dos nossos teatrinhos de opereta, o público esperava ansiosamente.

Uma hora antes de começar o espetáculo de estreia, entrou advogado triunfantemente na caixa do teatro, levando pelo braço a sua nova amiga, elegantemente envolvida numa soberba de pelúcia. Ia fazer-lhe entrega do camarim, cujo arranjo confiara liberalmente ao bom gosto e à perícia dos mais hábeis tapeceiros e estofadores.

Ela ficou encantadíssima, a agradeceu com beijos quentes sonoros a dedicada solicitude do amante.

Que belo tapete felpudo! que bonitos quadros! Que papel escolhido! Que delicioso divã! Que magnífico espelho de faces, onde o seu vulto airoso se refletia três vezes por inteiro! E que profusão de perfumarias! E que precioso serviço de toilette!.

Nada faltava também sobre a mesinha da maquilagem, ricamente iluminada por dois bicos de gás.

O Doutor Pires de Aguiar tinha longa prática desses arranjos; não podia esquecer-se de nenhum dos ingredientes necessários camarim de uma atriz que se respeita; o arsenal estava completo.

Dali a nada ouviu-se um – Dá licença?, – e o diretor de cena entrou no camarim, acompanhado por uma mulher já idosa, muito pálida, de aspecto doentio, pobremente trajada.

– Dona Clorinda, aqui tem a sua costureira.

A estrela não conteve um gesto de despeito. O diretor de cena compreendeu-o, e saiu imediatamente, para não entrar em explicações.

– É doente? perguntou Clorinda à costureira.

– Não. senhora. Tive uma doença grave, mas agora estou boa. Saí há dois dias da Santa Casa.

Clorinda trocou um olhar com o advogado, e este disse-lhe, refastelando-se no divã:

– Ma chêre, il faut se contender de cette habilleuse; noos ne sommes pos en Europe.

Ele impingiu a frase em francês, para que não a entendesse a costureira, mas a verdade é que Clorinda também não percebeu, o que aliás não a impediu de responder: – Oui.

Despojada da mantilha e da bela capa de pelúcia, Clorinda sentou-se entre os dois bicos de gás, e começou a pintar-se, dizendo:

– Vamos a isto!

E dirigindo-se à costureira:

– Sente-se. Por que está de pé?

A pobre mulher sentou-se a medo, como receosa de macular a palhinha dourada da cadeira com o seu miserável vestido de chita.

– Sabe que me disseram bonitas coisas a seu respeito? perguntou a atriz ao advogado, olhando-o pelo espelho.

– Deveras?

– Ao que me parece, você tem sido um gajo!

O Doutor Pires de Aguiar teve um sorriso inexprimível. Aquele gajo entrou-lhe pela vaidade adentro como uma grã-cruz.

– Com que então, a sua especialidade são as atrizes?

– Sou doido pelo teatro.

– E há quanto tempo dura essa doidice?

– Há muito tempo. Estou velho, bem vê. Orço pelos quarenta.

– Ninguém lhe dará mais de trinta e cinco.

– São os seus olhos.

– Qual foi a sua primeira paixão no teatro?

– Ah! isso…

O advogado levantou o braço e estalou os dedos.

– … isso é pré-histórico; perde-se na noite dos tempos.

– Como se chamava essa colega?

– Chamava-se Marcelina.

– Que fim levou?

Ele encolheu os ombros.

– Sei lá! provavelmente morreu. Nunca mais ouvi falar dela. Há mulheres que desaparecem como os passarinhos que não foram mortos a tiro nem engaiolados: ninguém lhes vê os cadáveres.

– Gostou dela?

– Foi talvez a paixão mais séria da minha vida.

– Nunca mais a procurou?

– Para quê?

– Tinha talento?

– Talento? Não. Tinha habilidade.

E depois de uma pausa:

– Tinha habilidade e era muito boa rapariga.

– Brasileira?

– Sim. Representava ingênuas em dramalhões de capa e espada, ali, no São Pedro de Alcântara. Um dia – eu já a tinha deixado – um dia patearam-na por motivos que nada tinham que ver com a arte dramática; ela desgostou-se; andou mourejando pelas províncias, e afinal desapareceu. Requiescat in pace!

Entrou o cabeleireiro. Enquanto Clorinda lhe confiou a cabeça, o Doutor
Pires de Aguiar divagou longamente sobre os méritos da Marcelina; depois falou de outras atrizes, desfiando o interminável rosário das suas mancebias.

Clorinda, a costureira e o cabeleireiro ouviam sem dizer palavra .

Terminado o serviço do cabeleireiro, que logo se retirou, Clorinda ergueu-se:

– Agora, meu doutor, há de me dar licença, sim? Vou vestir-me.

– Até logo, disse o advogado. O seu penteado ficou esplendido! Vou aplaudi-la. Bonne chonce!

Deu-lhe um beijo – na testa para não desmanchar a pintura, – e saiu do camarim, cuja porta a costureira discretamente fechou.

III

Minutos depois, Clorinda estava completamente nua.

– A senhora é muito bem feita de corpo, disse-lhe, num tom adulatório, a costureira, enfiando-lhe pela cabeça uma camisa de seda.

– Acha? perguntou desdenhosamente a atriz.

– Ah! eu também já fui bem feita de corpo, mas.. – não tive juízo: fiei-me demais nos homens. Se quer aceitar um conselho, filha, preste mais atenção à sua arte do que a todos esses… gajos, que fazem das mulheres um objeto de luxo e nada mais. Só assim a senhora evitará o hospital e a miséria.

– Ora esta! exclamou Clorinda. Quem é você, mulher, para me falar assim?

– Eu sou… a Marcelina.

Fonte:

sábado, 2 de março de 2019

J. G. de Araújo Jorge (Trovas Sobre Saudades)


1
A saudade é este vazio
que a vida, ao partir, deixou;
rio seco, que foi rio,
porque a água já secou...

2
A saudade, intimamente,
devagarzinho nos rói;
é uma emoção diferente,
como uma dor que não dói.

3
A saudade me atormenta
e pesa como uma cruz,
- é como a sombra que aumenta
quanto mais se afasta da luz...

4
A vida passa e a saudade
passa a ser a vida ausente,
- é uma vaga claridade
de um clarão de antigamente...

5
Ah, saudade se te pego
me vingo sem compaixão:
dou-te esta cruz que carrego
sozinho, no coração!

6
Definir a eternidade
é fácil, já a defini:
é o instante de saudade
e eu vivo longe de ti.

7
Entre as folhas da lembrança
encontrei, de uma outra idade,
a verde flor da esperança
amarela... de saudade...

8
Fere aos poucos: mansa fera...
Maltrata... mas não destrói.
Saudade é dor que ainda espera,
é uma esperança que dói...

9
Já não há chamas... A vida
é invisível combustão...
Saudade: brasa escondida
queimando no coração...
10
Longe o amor, quem pode amar?
Tudo é inquietude, aflição...
A saudade é falta de ar
asfixiando o coração...

11
Louco, aumento esta saudade
aqui sozinho, a sofrer,
só pra poder ter vontade
de voltar para te ver.

12
Misto de pranto e alegria,
sol e chuva, sonho e dor,
a saudade é o sol num dia
de chuva, no nosso amor...

13
Nesse jardim de surpresas,
que foi o amor que me deste,
as violetas são tristezas,
minha saudade, um cipreste.

14
No peito dos marinheiros
nasceu , cresceu, emigrou...
Mas nos porões dos "negreiros"
foi que a saudade... chorou!

15
O tempo tudo desbasta
mas nem a tudo desfaz:
a saudade não se gasta
com o tempo aumenta mais!

16
Ontem, de amor tu morrias...
Hoje, já te sentes farta...
A saudades que sentias
só mata... no fim de carta...

17
Partiu com sonhos de glória!
Ficou com a dor e a tristeza!
Eis afinal toda a história
da saudade portuguesa!

18
Persistente e fina dor,
sombra da felicidade,
ânsia e gemido de amor,
lembrança e espera... Saudade.

19
Por meu coração já frio
uma saudade ainda passa:
- lembra apagado pavio
onde a restos de fumaça...

20
Quando estas longe, querida,
na minha angústia sem fim,
saudade é o nome da vida
que morre dentro de mim...

21
Saudade boa é a que existe
na espera... que há de chegar...
Mas há uma saudade triste
que fica sempre a esperar...

22
Saudade é amor que se sente
no coração inseguro:
é amor passado, presente,
que ainda espera ter futuro...

23
Saudade é fidelidade !
e eis como a imagem se explica:
partem o amor, a amizade,
todos partem... ela fica.

24
Saudade é permanência,
algo de amor que ficou,
que, mesmo longe, na ausência,
só partiu... não se ausentou...

25
Saudade, - estranha ilusão,
que a solidão recompensa,
presença no coração
maior que a própria presença...

26
Saudade: enigma cruciante
que talvez se explique assim:
_ quanto mais te sei distante
mais te sinto junto a mim...

27
Saudade: amor, na lembrança
de quem ficou a esperar.
É uma dor difusa e mansa
que faz sofrer... e sonhar...


28
Saudade: fruto acre-doce,
vem da flor do amor que cai...
Se calor: acidulou-se...
- só dá quando o sol se vai...

29
Sem amor quem pode amar ?
Tudo é inquietude, aflição...
A saudade é falta de ar
asfixiando o coração.

30
Sempre fiel e verdadeira
vigia de nossa dor,
ó saudade, companheira
dos solitários do amor...

31
Sentir saudade, não é
ser infeliz, - pensa bem,
- mais infeliz é quem nunca
sentiu saudades de alguém

32
Vaga do mar sem espuma
ramo verde, sem botão;
noite sem lua, de bruma;
saudade no coração.

33
Vaga em vai-vem, dolorida
a rolar dentro de nós:
Saudade: vida sem vida,
canto ou soluça, sem voz...

34
Vi teu retrato, - revivo
um velho amor que foi meu...
A saudade é um negativo
de foto que se perdeu...

Fonte:
J. G. de Araújo Jorge. Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou. vol. IV. 1a. Edição, 1965. 

sexta-feira, 1 de março de 2019

Vivaldo Terres (Poemas Escolhidos) VI


A MAIS BELA BRASILEIRA

Embrenhei-me na floresta um dia,
Para respirar o ar puro das matas,
Sentir o perfume das flores,
Ouvir o cântico dos pássaros,
E afastar minha melancolia.

Foi andando e respirando
Este ar puro,
Que fui ficando renovado,
À medida que andava, reconhecia,
Que o lugar era sagrado.

Avistei uma clareira ao longe,
E comecei a percorrê-la,
Estava sentindo uma alegria tão grande
Que não sabia o porquê,
Ou de onde vinha,
Só sei que tinha,
Acabado de vez,
Com a melancolia.

Ao fim da clareira,
Junto ao tronco de uma árvore,
Estava encostada, sorrindo,
Toda brejeira,
Com seus cabelos negros e lisos,
Seus olhos castanhos.
A mais linda brasileira.
_______________________

AMOR PURO

Meu amor, tu pensas e até às vezes me dizes,
Que o amor, não sendo puro, em si, não cria raízes.
Foi pensando nesta frase, no teu modo de expressar,
Que acabei acreditando que o amor, não sendo puro...
Não chega a germinar.

Mas o nosso amor querida, tu sabes quanto é seguro,
Nosso amor é o mais belo,
E o maior amor do mundo,

Graças a Deus te encontrei,
Quando mais eu precisava,
Tu vieste em meu socorro,
Quando tudo em mim faltava,
A mim, deste carinho, ternura e compreensão,
Falando coisas tão lindas que alegrou-me o coração.
___________________________

AO LONGE

Ao longe eu percebi,
Tu ias a caminhar...
Com um traje muito simples,
Mesmo assim,
 Tua beleza dava-se para se notar.

Tua simplicidade de moça pobre.
Teus olhos verdes
Cor do mar...
Mesmo assim...
Tua beleza dava-se para se notar.

Teus cabelos encaracolados,
Numa noite linda!
Dum belo luar!
 Mesmo assim...
Tua beleza dava-se para se notar

Se te misturasses!
Com o azul do céu...
Ou com o verde do mar!
Mesmo assim!
Tua beleza dava-se para se notar.
___________________________

BEIJO

Pensando em você, eu pensei no seu beijo!
Nesse beijo gostoso, cheio de prazer!
Que só você sabe dar,
Que só você sabe fazer.

Esse beijo que enlouquece os meus sentidos,
Esse beijo que me enche o coração,
Esse beijo que para mim não tem segredo,
Pois o conheço com bastante exatidão.

Esse beijo que outros não provaram,
Não conhecem e jamais conhecerão...
Esse beijo para mim já é divino,
Como o tango, a valsa e a canção…
___________________________

DECLARAÇÃO

 Ela não sabe que é amada,
E fica a se lamentar...
 Que não tem alguém na vida.
Para lhe proporcionar muito amor e alegria,
Para viver a cantar.

Às vezes fico pensando,
 A ela me declarar.
Mas como somos amigos,
Tenho medo de ela me rejeitar.

E se isso acontecer junto dela e os colegas,
Não poderei mais ficar.
Ela se sente infeliz e diz que não é amada,
E eu sou infeliz por tê-la no coração.
E de me faltar coragem...
De revelar-me fazendo-lhe,
 A grande revelação.
___________________________

MENINA DE PELE ESCURA

Menina de pele escura!
Com seus belos predicados,
Tua pele é divina teus cabelos enrolados...
Após conhecer tantas outras,
Compreendi que por ti desejava ser amado!

Tu és bela e atraente!
O teu coração tem magia!
Quando conversas com a gente...
De ti sai boa energia que nos dá aquela!
Força pra luta do dia a dia.

Sentir-me-ia feliz!
E por sinal muito honrado...
Se um dia te aproximas-te de mim...
Com teu sorriso encantado!
E dos teus lábios saíssem palavras entre outras,
Dizendo: - Venha cá meu namorado!
Juro-te que me sentiria alguém já realizado.
___________________________

ELA LINDA COMO A FLOR

Se o amor que me dedicas é fingido...
E sem valor!
Então nunca, digas a alguém que me amas,
Porque isso é desamor!

Se quando pensares num carinho;
E na mesma hora lembrares,
Que não vale a pena!
Porque esse alguém te feriu, te maltratou...

Presta atenção no que digo;
Porque isso não é amor...
E sim desamor!

Quando tudo estiver pronto...
Ela linda como a flor!
E na ânsia do desejo.
Pronto para fazer amor.
Se ela te negar carinho,
Podes crer que é desamor!
___________________________

VOZ MISTERIOSA 

Vivia eu triste no anonimato,
Sem esperança de reencontrar o amor;
Meu peito coitado de tanto sofrer!
Já se considerava um sofredor. 

Mas eis que entrando em contato telefônico,
Um fio de esperança apareceu,
Só porque uma linda voz!
Uma voz misteriosa me atendeu. 

Esta voz era bela e cativante...
Apesar de ser humana... 
Mas se expressava num tom angelical;
Coisas tão lindas que a mim foram ditas,
Que fizeram de mim o mais feliz mortal. 

Pois amando esta voz, amo a pessoa!
Eu vejo a mulher por outro ângulo;
Ela pode ser feia ou ser bonita,
Da mesma forma continuo amando. 

A beleza da alma é que importa,
É esta beleza verdadeira;
Pois não acredito que alguém se sinta satisfeito,
Em viver com uma mulher bonita,
Mas incompreensiva à vida inteira.

Fonte:
O Poeta

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

José Feldman (Saudade)

Foto por José Feldman

Olivaldo Júnior (Trovas para 30 de janeiro: Dia da Saudade)


Da saudade que me deste,
fiz meus pontos cardeais,
mas do Leste fiz Nordeste
e do Norte um Sul a mais...

Meu retrato da saudade
tem seu rosto em luz banhado
me falando sem vaidade
que inda sou seu bem-amado.

- A saudade até parece
um canteiro triste, torto,
cujas flores viram prece
por um jardineiro morto...

Ao matar tanta saudade,
não fui preso, nem a júri,
esperando que a verdade
da distância inda me cure...

A saudade que me impõe
faz de mim um resistente:
um chorão que sobrepõe
os chorinhos ao presente.

Fonte: O Autor

Olivaldo Júnior (Cartinha ligeira endereçada à Saudade)



Querida Saudade

            Sei que anda sem tempo para este poeta, este ser que lhe escreve meio às pressas, na hora do almoço, entre uma e outra garfada de arroz com feijão, marmita preparada pela mãe, que tanto amo, tanto a marmita quanto a mãe, é claro! Mas, se tiver um tempinho para mim, por favor, me deixe cumprimentá-la em seu dia. Sim, hoje é o Dia da Saudade! Sabia disso, menina? Inventaram um dia para você, só para lembrar que você existe e faz parte da vida.

            Já me nomearam de poeta do adeus há um tempo. Não acho que o seja, mas nomenclaturas e alcunhas são algo que não se escolhe. Assim, ao lado de Vinicius, de Cecília, de Bandeira, de Drummond, de Quintana e de tantos poetas cânones da Poesia dita Brasileira, saúdo você, Saudade, com as letras que aprendi na Escola! Saudade da primeira professora, Dona Zizinha, com quem a aprendi a ler e a escrever. Nem mesmo eu sabia que era poeta.

            Poeta, aliás, de forma geral, Saudade amiga, é amigo de você, que tanto ajuda a gente a ter assunto, afinal, como dizia Cecília, a Meireles, ”De que são feitos os dias? / - De pequenos desejos / vagarosas saudades, / silenciosas lembranças.”. Ê, Cecília, sempre certeira! É isso mesmo. Nossos dias são feitos de reminiscências, retalhos de vida que alinhavamos um no outro, para, ao fim da existência, na “noite da vida”, termos “coberta”.

            Sinto, amiga Saudade, muita saudade do que não fui, não consegui ser. E, além disso, da minha avó materna, dos meus avôs, da minha infância, quando eu não sabia nada de nada, e a vida era um acordar e ir para a escola, voltando para casa recolhendo flores de buganvília, a famosa primavera, só para ofertá-las a minha mãe ao chegar em casa. Saudade... Soluço abafado, lágrima exposta e logo enxuta, mas nunca estanque. Saudade, a grande saudade!

            Meu irmão pequeno, minha vida em cores, meu amigo que não chegou (meu burrinho azul, já que eu sou o menino azul, hehe), noites em que vi uma estrela cadente descendo à Terra, saudade, oh, Saudade, dos sonhos mais puros que não deram em nada! Sopro de ausência sobre todo o presente, você, Saudade, soluça comigo quando os olhos marejam e me perco em mim mesmo, no mar absoluto em que navego e, saudoso, transponho o meu mar.

Com saudade,

de algum lugar do passado,

Olivaldo

Fonte: O autor

Lairton Trovão de Andrade (Panaceia de Trovas) 1



A joana do joão-de-barro
sofreu crime passional;
teve um fim muito bizarro,
por causa do pica-pau.

Aquele gato é baiano,
assim nos diz o Lalau;
ouça o miado do bichano:
"Me-au, me-au, me-au, meau!"

Brada o gaúcho pampeiro:
- "Nos pampas, tchê, só tem macho!...
E o que tem Minas, mineiro?"
- "Uai!... tem macho e fêmea, diacho!"

Depois de muito ovo pôr,
a angola* aguça a matraca
e, festejando com suor,
canta: "tô fraca, tô fraca!"  

Diz a crença popular:
Não há coisa que enlouqueça
mais que a boca a relinchar
de uma mula-sem-cabeça!

É, na internet o namoro
paixão que "dá choque"... e muito:
A cada abraço - um suadouro...
e ao beijar - curto-circuito!

Era boa caipirinha
de esquentar qualquer "moringa"**.
- O que de bom é que tinha?
- "Açúcar, limão e pinga".

Foi assim que aconteceu
entre o meu tio e o Mansur:
- Você, meu filho, é ateu?!
- Não, senhor, eu sou Artur!

Há coisa que não te explico
na desditosa paixão:
Com quem me quer, eu não fico,
com quem quero me diz "não".

- Masculino ou feminino?
Perguntou o frei José;
- "Marculino ou Felisbino
não, não! É Zé que o pai qué"!

Nas matas de Pirapora,
já reinou o curupira;
o curupira é o caipora
do rude interior caipira.

Nos horários de verão,
os galos em trapalhada,
sem saber que horas são,
cantam sempre em hora errada.

No velório do riquinho,
há, no íntimo, festança:
"Choro sim, por meu padrinho
(mas que venha logo a herança)".

Ninguém é tão educado
como o fino do Joaquim;
nas lojas, mesmo calado,
saúda até manequim.

O plagiário é caricato
que no mundo se repete;
é escritor co'a mão do gato
e pintor que pinta o sete.

O pobre incauto eleitor
ficou feliz na procura;
diz que o voto é do doutor
que lhe deu uma dentadura.

O símio, bem natural,
exclama ao réptil, de pé:
"Oh, que boquinha sensual
tem o amigo jacaré!"

Quanta gente cuja obra
é cheia de desatino!
- Tem no cérebro de sobra,
o que é próprio do intestino.

Quem fala de mim é mico.
Minha vida é transparência.
Nasci pobre, fiquei rico...
- Milagre da "Presidência" ...

Só de ver a sucuri,
adoentou-se a saracura;
com licor de licuri***
nada sara, nada cura.
______________
Notas:
* angola: galinha d' Angola
** moringa: orelha, ouvido (expressão regional)
*** licuri: coquinho

Fonte:
Lairton Trovão de Andrade. Perene alvorecer. 2016.
livro gentilmente enviado pelo autor.