terça-feira, 12 de março de 2024

Falecimento do trovador Nilton Manoel Teixeira, em Ribeirão Preto/SP, hoje, 12 de março de 2024


Nilton Manoel de Andrade Teixeira, capricorniano de 3 de janeiro, nasceu em Ribeirão Preto-SP, onde veio a falecer hoje, 12 de março de 2024
.
Professor e contabilista.

Começou nos anos sessenta publicando seus textos no mimeógrafo à álcool e escrevendo para jornais. Com apoio de Luiz Otávio (fundador da União Brasileira de Trovadores) implantou os Jogos Florais em sua cidade e como presidente da seção ubeteana de Ribeirão Preto, realizou eventos locais e nacionais.

Na área da Literatura, esteve no Conselho Municipal de Cultura, por três gestões.

Livros editados:

Trovas da Juventude; 

Cantigas do meu terreiro; 

Caviar, gororoba e sal de frutas, 

Poesia Mágica (haicais) e 

folhetos de Cordel ao estilo tradicional.

Era membro de:

Academia Anapolina de Filosofia, Ciências e Letras.
Academia Brasileira de Trova.
Academia de Letras de Uruguaiana,
Academia de Letras Fronteira Sudoeste do Rio Grande do Sul.
Academia Friburguense de Letras.
Academia Goianiense de Letras.
Academia Internacional de Ciências Humanísticas.
Academia Internacional de Heráldica e Genealogia.
Academia de Letras de Ribeirão Preto.
Academia Petropolitana de Poesia.
Academia Poços-caldense de Letras.
Academia Ribeirãopretana de Poesia.
Academia Santista de Letras.
Academia Virtual Brasileira de Letras.
Casa do Poeta e do Escritor de Ribeirão Preto ( fundador e 1º presidente),
Clube Internacional da Boa Leitura.
Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana.
Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.
Ordem dos Velhos Jornalistas.
The International Academy of Letters of England.
União Brasileira de Escritores.
Usina de Letras etc.

Títulos:

Título de Magnífico Trovador pela Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel;

Mérito Cultural pelo Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana;

Medalha de Ouro, no I Aniversário do Clube dos Trovadores Capixabas;

Honra ao Mérito pela Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel;

Mérito Cultural Pablo Neruda, em 2004.

No portal www.movimentodasartes.com.br assinava a coluna Trovador

ALGUMAS TROVAS

Conduzindo arma sem porte,
foi detido o valentão,
que, da praia, por esporte,
vinha abraçando um canhão.
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Depois dos cinquenta creio
que tudo é lucro e coerência,
homem que não faz rodeio
sabe o que vale a existência.
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Do passado não me queixo;
o tempo tudo desfaz...
Cenários velhos não deixo
que voltem a ser cartaz.
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Dos meus sonhos eu bendigo
as passadas frustrações;
hoje é mais puro o meu trigo
sendo humilde nas ações.
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Fez-se pai o jornalista
e, uma ideia lhe desfralda:
- Batiza a filha, o egoísta,
com o nome de... Jornalda!
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Homem é o que sabe ser
companheiro, amigo e irmão;
Quem preza o Bem, sabe ter
da vida toda a emoção.
= = = = = = = = = 

Humildade comedida
finge alguém tê-la somente,
ao precisar de guarida
para um problema pendente...
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Indo por outros caminhos,
neste mundo, às vezes, rude,
vou fugindo dos espinhos,
pois das mulheres não pude!
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Lágrima que escorre é gota,
que marca  o que vai à vista:
- dores da vida marota!
ou problema de oculista?
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Mãe preta, escreves a história,
com fraternidade pura;
pois na tua trajetória
plantaste amor com ternura.
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Meu lápis beija o papel 
num encontro sedutor; 
e é dessa lua-de-mel 
que nasce a trova de amor.
= = = = = = = = = 

Na caminhada, maduro,
ponho fogo na fornalha,
quero deixar ao futuro,
as lições de quem trabalha.
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Nada mais embriagador
no arrepio das ternuras
que escutar juras de amor
mesmo que sejam perjuras.
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Não dê bola ao rabugento
que desfaz da mocidade,
pois ele vive o tormento
de não aceitar a idade...
= = = = = = = = = 

O meu palácio encantado,
onde o ano todo é natal,
é um quadradinho alugado,
chamado "caixa postal"!
= = = = = = = = = 

O para sempre felizes
das histórias infantis,
traz à vida bons matizes
dando vida ao que o autor quis.
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Orgulho é a bola de neve 
que vai, em diário exercício, 
levando o infeliz de leve 
às bordas do precipício.
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Perdão é a esponja macia
que se passa numa ofensa
por se crer na luz do dia
contra a noite da descrença.
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Por ter dado uma "banana"
pra tia de um delegado,
o Tiãozinho entrou em cana
e saiu bem "descascado"...
= = = = = = = = = 

Quem caminha destemido
com fé na vida que tem,
não faz, nem teme alarido, 
vive apenas para o Bem!
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Quem como eu faz poesia,
sabe que a glória é completa:
- Ninguém aposenta o dia
de trabalho de um poeta.
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Quem tem coração de paz
vive de culpa liberto,
porque faz do bem que faz
um céu de sol mais aberto!
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Quem tem vida vive atento
pelos caminhos que enfrenta;
brinda as farpas do momento
com chocolate e pimenta.
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Saudade é como abacate:
-verde!...  por dentro, o caroço
pesa, na alma  que se abate,
e  o corpo curva  o pescoço.
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segunda-feira, 11 de março de 2024

Daniel Maurício (Poética) 65

 

Geraldo Pereira (A Conta de Luz)

O candeeiro era antigo, bem antigo, vindo de terras potiguares, da casa-grande do engenho Guaporé, no Ceará-Mirim, onde vivera meu pai e sua família, lugar da aristocracia rural, com salas especiais para a música e a leitura ou para as refeições do dia-a-dia. Quando faltava luz, fenômeno mais que frequente naqueles meus tempos da infância e da adolescência, um de nós, designado como voluntário, ia buscar na cozinha a caixa de fósforos e cumpria a missão de acender a velha peça, com todo o cuidado possível, para não quebrar a base de porcelana boa ou a manga de vidro barato. A reserva de velas, porém, era fundamental para se garantir a luminosidade noutros cômodos, para quem fosse se trocar, por exemplo ou para aqueles interessados num lanche ou na ceia, como chamava a minha avó paterna. E o velho candeeiro vai reaparecer, agora, nas cenas do dia-a-dia! 

A iluminação das ruas era bem diferente, as lâmpadas acesas às dezoito horas pendiam dos postes de ferro e eram incandescentes. Todas as tardes, na boquinha da noite, passava o encarregado de ligar a chave e ai toda a extensão urbana visível ficava alumiada. Pela manhã logo cedo, o homem fazia o caminho inverso, isto é, desligava tudo naqueles limites da Boa Vista com o bairro de Santo Amaro das Salinas. Quase ninguém tinha eletrodomésticos em casa, o liquidificador demorou a chegar e era peculiar, tinha o copo de alumínio. Assim a vitamina de banana, rodada no leite em pó misturado à água, não podia ser vista, senão quando estivesse pronta para o benfazejo uso. Geladeira nos meus começos era a do vizinho, para guardar penicilina, sobretudo, antes da picada no glúteo.

Certa vez, minha mãe trouxe do comércio um equipamento moderno, com o nome de turmix, não sei por que essa estranha denominação. Servia para fazer sucos diversos, do mais simples, o de laranja, aos mais complexos, aqueles com tomate e cenoura. Uma delícia esses extratos misturados de frutas e de verduras! E os aparelhos domésticos foram se acrescentando. Um belo dia o meu pai chegou de seus afazeres e comunicou que tinha comprado uma radiola, um aparelho que juntava o rádio e a vitrola. Uma beleza! Além disso, uma coleção de discos, a maior parte em trinta e três rotações – conhecidos como long-play –, mas alguns de quarenta e cinco e até as bolachas enormes que rodavam o conteúdo inteirinho de um só lado. Muitos da música clássica, uns de histórias infantis, como a do macaco sabido e outros cantados por Maysa Matarazzo, dos agrados de minha mãe. E ninguém reclamava da conta! E não se conhecia, também, a palavra racionamento!

A televisão quando apareceu por cá foi uma festa. Eu assistia na casa da professora Dulce Chacon, psicóloga, não exatamente formada, mas suficientemente capaz de diagnosticar com testes os problemas infantis e as questões da juventude, sem esquecer as recomendações do estilo. Comigo mandou que aumentassem a minha mesada e eu ignoro a providência. À custa de muito sacrifício, finalmente, o novo equipamento aportou na sala de visitas e ao mesmo tempo de jantar. Era da marca Cibeal e tinha sido vendida por um quase parente, representante do produto. Preta e branca, como todas as outras, foi posta sobre o móvel da velha radiola e assim formava um conjunto audiovisual. Ali, sentado no sofá, vi os melhores programas da época, a jovem guarda aflorando e Roberto Carlos cantando e mandando todo mundo para o inferno.

O ar-condicionado restringia-se a uma elite diferenciada, como o chuveiro elétrico, inicialmente blindado e da marca Lorenzetti. Foram dispensados o ventilador e a banheira, o vento encanado dos temores de Dona Lila e a chaleira fervente do banho. Anos e anos se passaram para o colorido do mundo aparecer na telinha e mais anos ainda para se usar o controle remoto. Dizem que uma rede poderosa impediu que se mudasse de canal facilmente. Mas, apenas dizem! À distância, então, era possível trocar de estação ou alterar o volume. O videocassete surgiu nas vitrines mais de uma década depois e foi um sucesso, também. Afinal, seria possível assistir os filmes em casa, bem acomodado e sereno, mas o preço não convidava, como todos os outros aparelhos de uso doméstico nos começos. E da conta não se falava!

Hoje, o contador é um ansioso relógio das horas de luz e dos minutos de força. Racionar é preciso, com multa ou sem multa. Não há mais água para as turbinas! Valha-me Deus!
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∗ Texto escrito durante um tempo de racionamento elétrico no Recife, por conta da falta de chuvas nas cabeceiras do rio São Francisco, de cujas cachoeiras a energia provém.

Fonte> Geraldo Pereira. Fragmentos do meu tempo. Recife/PE. 
Disponível no Portal de Domínio Público

George Abrão (O salão nobre)

Em Jaguariaíva (no Paraná), no Colégio Estadual “Rodrigues Alves”, existe um salão para eventos denominado Salão Nobre. Nos anos sessenta, do século passado, época deste relato, o salão era utilizado para festas de aula inaugural, sessões cívicas, formaturas, apresentação de peças teatrais ou de musicais ou de concertos e de soirées, que naqueles tempos eram chamadas de “brincadeiras dançantes” ou simplesmente de “brincadeiras”.

Essas “brincadeiras”, com a anuência da diretoria da escola, davam-se sempre aos sábados a partir das 21h, programadas e realizadas pela comissão de formatura do ano. Avisava-se com antecedência e praticamente toda a juventude jaguariaivense se fazia presente, pois era a principal diversão nos finais de semana. Na maioria das vezes a festa era animada com som mecânico, pois lá existia uma radiola onde se tocavam discos de vinil, e excelentes caixas de som. Os discos executados eram, na maioria das vezes, das orquestras e bandas: Ray Conniff, Tijuana Bras, The Beatles, The Rolling Stones, The Fevers, Glen Miller; e dos cantores: Roberto Carlos, Wanderléa, Erasmo Carlos, Wilson Simonal, Jair Rodrigues, Altemar Dutra (para os mais românticos). Felizmente naquele tempo ainda não existiam os funks, raps e afins, nem a música sertaneja (da qual particularmente não gosto).

E sob a muito usada luz negra ou globo de luzes coloridas, os casais dançavam juntos embalados pelos variados ritmos tocados, ou separados quando era rock and rool ou twist. Mesmo com a música mais romântica, quando dançavam de rosto colado, não haviam excessos, pois ao menor sinal disso, um dos integrantes da comissão de formatura aproximava-se e, sem nada dizer, só olhava para o partner que se recompunha.

Durante a festa sempre havia uma equipe que realizava a brincadeira de salão “correio elegante” que consistia na troca de bilhetinhos entre as moças e rapazes e vice-versa onde as frases eram variadas: “Você é o queijo da minha goiabada! Quer ser meu par?”, “Eu não fiz nada pra esse amor nascer, mas faço tudo pra não se acabar!”, “Beijo vem do verbo beijar que só dois lábios podem conjugar… Quer tentar?”, “Me apaixonei por você pela segunda vez nessa semana. Me perco e me encontro só em você.”, “Não te doem as pernas de fugir dos meus sonhos todas as noites?” e outras, algumas de cunho romântico, outras nem tanto. Dessa brincadeira surgiram muitos namoros que às vezes foram até ao casamento.

As bebidas consumidas durante a festa iam do refrigerante aos coquetéis: Cuba Libre (rum com coca-cola e limão). Hi-Fi (Vodka com Fanta), Samba (cachaça com coca), Gin-Tônica (que ficava azul sob o efeito da luz negra) e outros inventados na hora. Mas não havia excesso nas bebedeiras e nem as costumeiras brigas que atualmente se veem muito por aí.

Por volta das 2hs a festa acabava como o combinado, só que sempre sob protestos, pois todos queriam mais. Então o pessoal que ia para casa na mesma direção saia em grupos, “entregando” as moças em suas respectivas residências que se localizavam no trajeto.

Anos dourados e saudosos! Se hoje fizéssemos uma reunião no Salão Nobre com todos os habitués da época, ela seria engraçada, pois já somos todos sexagenários ou alguns quase chegando lá.

Fonte> George Roberto Washington Abrão. Momentos – (Crônicas e Poemas de um gordo). Maringá/PR, 2017. Enviado pelo autor.

Hinos de Cidades Brasileiras (Garibaldi/RS)


Nesta data gloriosa
De tua emancipação
Nós queremos jubilosos
Te saudar numa oração!
Salve, salve, Garibaldi
Neste dia trinta e um
Salve! Salve!

Imigrantes te construíram, com bravura e destemor
Sacrifícios não mediram, pois te ergueram com amor
Garibaldi tua riqueza, são teus vinhos, teus trigais
Tuas colinas verdejantes, tuas belezas naturais.

O teu povo idealista, é também hospitaleiro
Sente-se em casa o turista nacional e estrangeiro
Tua igreja é das mais lindas, tua praça é um primor
Lá no alto a doce Ermida, testemunha fé e amor.

Tuas crianças, lindas flores, são alegres e sadias,
Com seus risos e folguedos, enchem tudo de harmonia
Tuas escolas são pra-frente, estudante são aos mil
Jovens fortes e briosos, esperança do Brasil.

Aparecido Raimundo de Souza (Sobre gatos e bichanos)

DAÍRA AVISTOU a Lisandra saindo de sua residência no exato momento em que vizinha trancava o cadeado no portão. Ambas moravam na mesma rua. Daíra vivia com a família na casa de número trinta e cinco e Lisandra, na casa de número quarenta e oito, ou seja, as habitações ficavam exatamente uma em frente à outra. Daíra gostava de cachorros, mas não possuía nenhum animal. Apreciava somente de longe, distanciado o máximo possível de seus calcanhares. Já a Lisandra, adorava de paixão, não os cachorros, mas os gatos. Metida a saber tudo, Daíra, assim que viu a amiga, atravessou a rua, e, com aquela voz de taquara rachada, tirada a sabedora, sinalizou que queria trocar algumas palavras com ela. 

Lisandra estancou os passos e mandou um bom dia sem esperar que a confinante lhe respondesse. Conhecia de longa data a fronteiriça. Estudavam na mesma escola, todavia, em salas diferentes. Sabia, de antemão, nessas ocasiões de esbarros e encontrões, a dondoca se fazia totalmente chata e descomedida. Trazia sempre uma pedra escondida na manga e nunca abandonava aquele ar de superioridade infernal. Nessas raras colisões, se fazia acompanhada de uma impostação inconveniente na voz tonitruante e imponente, contudo, propícia a quem se achava a maioral, a superior e, por conta disso, entendia poder pisotear em quem quer que desejasse. Face a esse jeito aparvalhado resolveu, na cara dura, testar a amiga em relação aos seus bichanos com os quais (diga-se de passagem) tinha um cuidado deveras especial.

Daíra:
— Lisandra, você sabe tudo sobre gatos não é mesmo?

A amiga encarou a vizinha. Pensou com seus botões: “lá vem besteira.” 

Lisandra:
— Sim. Por qual motivo a pergunta? 
Daíra:
— Curiosidade...
Lisandra:
— Então vá em frente. Pergunte o que quiser.
Daíra:
— Qual o coletivo de gato?
Lisandra:
— Gatos. 
Daíra:
— Quantos gatos você tem hoje em sua casa?
Lisandra:
— Oito. 
Daíra:
Então, Lisandra, você diria que tem oito gatos englobando todos os oitos num só terminal numerário e coletivo?
Lisandra:
— Sim. Como igualmente poderia responder que tenho um “grupo de oito gatos” ou uma “gataria em número de oito.” Nada me impediria de dizer também que possuo uma “cambada de oito gatos,” como uma “bicharada de oito gatos.” A ordem da nomenclatura ou a terminologia da chamada dos bichanos não alteraria o fator de todos eles miarem, caso resolvessem latir ao mesmo tempo...
Daíra:
— Latir? Oxe! Gato late?
Lisandra:
— No bom sentido, Daíra, no bom sentido, se é que entende o que digo!
Daíra, desconversando:
— E quando alguém fala pra você: “ali naquela casa tem um “bando de gatos” soltos no telhado.””  É correto o uso desse termo?
Lisandra:
— Sim. Corretíssimo. Um “bando de gatos” está no telhado, ou um “bando de gatos” dorme no sofá da sala, ou na porta da cozinha, ou na mesa do café que fica em desuso a noite inteira na varanda...
Daíra:
— E qual a expressão ou a lista mais comum para definir “gatos de rua” que, por algum motivo invadiram as dependências do vizinho?
Lisandra:
— Simples, amiga. Uma “cambada de gatos” vadios adentrou ou ocupou ou granjeou para a casa do vizinho, do seu Paulo, apenas como exemplo, conquistando o precário da sua fragilidade.
Daíra:
— “Bicharada” se adaptaria ou se “adequararia” aos gatos?  — Como seria?
Lisandra:
— Com toda certeza, Daíra. Eu não diria “adequararia,” mas  que adequaria... seria mais bonito e correto...
Daira, completamente sem graça:
— Como você se dirigiria a alguém do nosso conhecimento explicando essa situação?
Lisandra:
— De uma forma simples e até bem corriqueira e usual. Eu falaria: aqui na nossa vizinhança, há “uma bicharada enorme” disputando território. 
Daíra:
— Lisandra, que maneira boba, mas acertada eu poderia usar sem achar que estaria fazendo feio ou dando bandeira ao mencionar “gatos” sem um lugar certo ou distanciados de um ponto de apoio para ficarem?
Lisandra:
— Tenho um exemplo típico aqui perto de nós. Minha avó Totonha, que você conhece tanto quanto eu..., aquela velhinha linda e simpática da casa dois, no começo da nossa rua.  Ela cuida de uma “gataria abandonada” que encontrou à beira da morte na praça do colégio onde estudamos. Lembra disso? Não faz muito tempo... 

Daíra, pra lá de furiosa com as respostas, resolveu tirar dos cafundós da sua arrogância a última cartada. Desta feita, segundo seus pensamentos mirabolantes, derrubaria a amiga presunçosa que se vangloriava de saber tudo sobre esses mamíferos domésticos e carnívoros oriundos da família Felidae. Mandou bala: 
 — Quando você vê um monte de gente que tem a mesma mania que você (mas não a coragem de assumir o amor pelo bicho declaradamente como a sua generosidade) e, por conta, faz entrega de uma porção deles à uma “instituição que acolhe esses animais,” como você os classificaria? Falo especificamente da ordenação desses gatos dentro dessa... dessa vamos colocar, fundação...
Lisandra:
— Essa “instituição” ou “fundação,” como você mesma deixou claro – já existe aqui no bairro próximo ao nosso. Saiba que está a todo vapor. Inclusive, vou lhe fazer um convite. 
Daíra:
— Um convite? Qual, amiga? Que eu aparecesse no seu serviço vestida de gata?
Lisandra:
— Engraçadinha. Você vestida de gata, ainda que de botas, espantaria os filhotinhos. Eu trabalho lá. É uma ONG, ou uma instituição, tipo uma fundação, como entenda melhor. O dia que você resolver aparecer (e fica aqui o convite), se deparará com uma “gatorrada” limpa. Essa seria a “classificação,” ou a graduação. A gente cuida do banho, da higienização, da tosa, do corte dos pelos e das unhas..., observamos se as vacinas estão em dia e o melhor de tudo: temos animaizinhos à espera de um lar, ou seja, de pessoas de corações abertos (como o seu) que buscam por adoção.

Daíra, com essa porrada meio que desferida à luva de pelica, fechou a carranca e empacotou a risada falsa. Voltou irritada e se afastou, catando cavaco. Pensou que daria um chega pra lá em sua amiga. Aconteceu exatamente o contrário. Foi a amiga Lisandra que, sem perder o mavioso do rosto e a ternura da voz, colocou a metida e soberba intocável em seu devido lugar.   

Fonte: Texto enviado pelo autor      

domingo, 10 de março de 2024

Eduardo Affonso (A culpa é do estagiário)

O sujeito que inventou a língua portuguesa deixou algumas partes a cargo do estagiário, e não fez o chequiliste das funcionalidades antes de colocar o produto no mercado.

Isso que temos aí para nos expressar é, claramente, uma versão beta.

Duvida?

“Fulano acabou de ser visto saindo do motel com sua mulher”.

Antes de ir tomar satisfações, a questão que se coloca é: esse “sua” é a sua mesmo (pessoa com que eu faço a intriga) ou a dele (pessoa em cuja vida eu não tinha nada que estar me metendo, já que a mulher é dele e eles vão aonde quiserem)?

São coisas bem distintas ir ao motel com a mulher alheia (falta de decoro) e com a própria mulher (falta de imaginação).

Imagine quantas D.R.s e crimes passionais poderiam ter sido evitados se o idioma fosse um pouco mais profissional. Como o inglês, por exemplo, em que “your” ou “his”/”her” esclarecem tudo.

Outro exemplo: “Temos que manter acesa a chama do amor em nossos corações”.

Como assim “nossos corações”? “Em nossos pulmões” (ou rins), tudo bem, porque temos dois. Mas coração a gente só tem um. Poucas pessoas – as que fizeram transplante, por exemplo – podem usar essa frase sem incorrer em dubiedade.

Por outro lado, dizer “em nosso coração” dá a impressão de termos um coração só, compartilhado.

Um estagiário além do 5º período teria pensado numa fórmula melhor para essas situações – algo como um plural só meu e um plural envolvendo mais gente.

Graças aos bombeiros, nossas vidas foram salvas”, poderiam dizer dois gatos (7 vidas cada um). Mas para duas pessoas, a coisa – mesmo para quem leva vida dupla – soa estranha.

Temos 5 vogais (mais o Y, que parece vogal mas é gênero fluído) e 19 consoantes (mais o H, que é não binário). Dá pra fazer um sem número de combinações, permutações e arranjos. E, no entanto, a preguiça do estagiário fez com que tivéssemos uma penca de repetições.

“Vir” é tanto o infinitivo de um verbo (“Direito de ir e vir”) quanto o subjuntivo futuro do verbo “ver” (“Se eu vir você indo e vindo, você vai ver!”).

“Eu pulo” pode significar que estou polindo ou pulando. Mas se polir, não pule; se pular, não pula.

“Morto” é o particípio passado de “morrer” e de “matar”. É preciso uma análise jurídica e sintática para saber se se trata do réu ou da vítima.

Sem contar que o tal estagiário era adepto da lei do menor esforço. Só isso explica “em cima” e “encima”, “embaixo” e “em baixo”, “senão” e “se não”, “agente” e “a gente”, “acerca” e “a cerca”, “aparte” e “à parte”, “decerto” e “de certo”, “afim” e “a fim”, “haver” e “a ver”, “haja” e “aja”, “hora” e “ora”; e – aí era motivo para justa causa – “por que”, “por quê”, “porque” e “porquê”.

Eu, como qualquer falante do português, contrataria um profissional para revisar o idioma. E não ficar dependendo, como na sentença anterior, de uma vírgula para evitar mal entendidos.

Carolina Ramos (Ramalhete de Versos) – 1


A VIAGEM DOLOROSA

Enfrento, combalida, a jornada que assume
dimensões de montanha e nuvens de incerteza.
A dúvida recobre o intransponível cume.
A vida tumultua a própria correnteza.

Rochas, por toda a parte... e flores sem perfume!
Por todo o lado, a escarpa, o abismo sem beleza!
Por todo o tempo, a noite a se estender sem lume,
tornando negro o verde e o azul da natureza.

Mas, seguirei ferindo as mãos pelos espinhos.
E seguirei cortando os pés pelos caminhos,
sem temer empecilho e sem temer fracassos,

se souber que me espera apenas uma rosa
e esta viagem, por fim, tão triste e dolorosa,
me der repouso e paz, no ninho dos teus braços...
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IDOLATRIA

Se amar fosse pecado, quem seria
livre de culpas neste pobre mundo?!
Mundo que pede amor, dia após dia,
e apenas por Amor se faz fecundo!

Se amor fosse pecado, eu bendiria
esta culpa de amar, de que me inundo
neste amor que se estende à idolatria,
e é tão imenso e puro, quão profundo!

Bem vês, Senhor, quanta sublimidade,
no amor-renúncia envolto na saudade,
que minha alma não sabe mais conter!

Caso o mereça, Teu perdão imploro!
Digo, temendo mesmo Te ofender,
que nem sei mais se a um deus somente adoro!
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MILIONÁRIOS DE AMOR

Vivíamos? - Não sei... nem sabes! A verdade
é que, existir somente, é pouco à criatura.
Ninguém vive sem ter do amor a realidade,
nem transportando ao sonho o anseia de ventura!

Tão distante era a vida! Agora, uma saudade
nossos passos conduz, mas, cessou a procura,
porque vimos de perto o que é felicidade
e o que é provar o amor, em taça de ternura!

Na vitrina do espaço, etérea, inatingível,
qual fugaz ilusão, qual um sonho impossível,
a vida, para nós, era um caro adereço:

- Fascinante rubi, da mais intensa cor!
E essa joia, afinal, milionários de amor,
nós compramos sorrindo... e sem olhar o preço!
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PASMO

Estranha sensação! - Sentir chegar o outono
de rosas perfumado e haurir toda a doçura
do beijo de uma flor, que pende em abandono,
entre botões de sonho e acenos de ventura!

Adormecer feliz, entregue ao próprio sono.
E, de repente, abrindo os olhos, com ternura,
descobrir na amplidão uma estrela sem dono,
que veio iluminar a noite, outrora escura!

Ah! Que emoção imensa em meu peito palpita!
De tal forma a crescer, numa ânsia infinita,
os pensamentos vão se esgarçando, dispersos...

Minha lira emudece... ou cantar não mais sabe!
A cigarra se cala: - a Vida não mais cabe
na estreita dimensão destes meus pobres versos!
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PRESENÇA

Nas horas em que partes para longe,
o mundo se esvazia de repente!
Pesa-me a solidão!... E, triste monge
no exílio, o coração assim se sente!

Chegas! Floresce a vida! E, porta aberta,
ganham fulgor as coisas que eram baças!
O monge, não mais só, a alma liberta,
e cora, ante o calor com que me abraças!
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ROSAS

Eram de terra e pedras os caminhos
que palmilhávamos e o céu, sem lume.
O encontro!... E uma vereda, só de espinhos,
abriu-se aos nossos pés. Flores, perfume

nos prometia, ao fim! E quantos ninhos
nós rejeitamos, quase com ciúme
a cercar de pureza esses carinhos
que o mundo não entende e em mal resume.

Há luz nos céus! Nos olhos meus, nos teus,
há um grande Amor! Há grande crença em Deus!
E sem fugir às sendas espinhosas,

mesmo de pés em sangue e olhos em pranto,
há de chegar o dia, só de encanto,
de sorrindo, afinal, colhermos rosas!
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TEMPO DE AMAR

Amor!... E o que é o Amor? - chama bendita
que nasce, vive, cresce e nos ampara.
E, por vezes, sepulta na alma aflita
o vazio dos sonhos sem seara.

Em qualquer tempo - Amor! - a vida grita.
Amor sublime, o de Francisco e Clara.
Amor Romeu - Julieta, amor desdita...
Amor paixão; Dr. Jivago e Lara!

Pode a neve pratear nossos cabelos
e os minutos fugirem... se retê-los
nos impede o destino, a contrapor,

há os instantes de excelsa magnitude,
que a vida é breve, muita vez ilude,
mas, nunca é tarde para o Grande Amor!
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Fonte> Carolina Ramos. Destino: poesias. São Paulo: EditorAção, 2011.  
Livro enviado pela poetisa.

Silmar Bohrer (Croniquinha) 107

Viver ou ficar esgueirando entre os espinhos do dia a dia?  E a alegria? O riso?  A gargalhada?  O frenesi? Não valem nada ?

A faina diária, sim!  Enfrentar como quem vai bebericando uma sopa quente, com cautela, olhos grandes, em silêncio, pelas beiradas, sem receios, buscando o intento.

Vale a pena brigar por coisas banais, futilidades, muitas vezes em benefício de terceiros de quem pouco ou nada sabemos? Em nome de crenças, ideologias, fanatismos, demônios?

De tudo que construímos e realizamos, nada levamos.  Viver a realidade otimista das horas, dos dias, da vida.  Benesses granjeadas, graciosas, grandiloquentes.     

Fonte> Texto enviado pelo autor 

Arthur de Azevedo (Contos em Versos) Bem feito!

A mulher do Vilella
Não era uma Penélope; os vizinhos
Viam de vez em quando em casa dela
Entrar um moço de altos colarinhos,
Polainas e cartola. Não seria
Caso para estranhar, e aquela gente
À língua não daria,
Se não escolhesse o moço justamente,
Para as suas visitas,
As horas infinitas
Em que o dono da casa estava ausente.

Defronte, um cidadão austero e grave,
Marido e pai de umas senhoras feias,
Que, zeloso, ao sair, fechava à chave,
Sentia o sangue lhe ferver nas veias
Sempre que via aquele sujeitinho,
Desrespeitando a vizinhança honrada,
Em casa entrar do crédulo vizinho.
Por isso, resolveu — coisa impensada! —
Dizer tudo ao marido,
Que não era, aliás, seu conhecido,

E ter com ele foi, um belo dia,
Lá na secretaria
Onde o pobre diabo era empregado.

— Falo ao senhor Vilella? — A um seu criado. —
— Pois, meu caro senhor, fique ciente
De estar aqui presente
Joaquim Belmonte, funcionário honrado,
Há muito aposentado,
Pai de família honesta,
Respeitável, pacífica, modesta. —
Vilella respondeu: — Senhor Belmonte,

De vista já o conheço desde o dia
Em que um prédio aluguei mesmo defronte
De vossa senhoria.
Eu tenho a honra de ser seu vizinho. —
— Bem sei, e é justamente
O que me traz. — Parece que adivinho:
Comigo aqui ter veio,
Muito provavelmente,
Para comigo combinar o meio
De fazer com que a nossa
Municipalidade,
Que tão pouco se ocupa da cidade,
E que às reclamações faz vista grossa,
Mande limpar aquela imunda vala
Da nossa rua, que nos contraria
Pelo cheiro que exala
E há de ser causa de uma epidemia... —

— Não, não venho tratar da vala; eu venho
Tratar de coisa muito mais nociva,
E por cuja extinção muito me empenho,
E hei de empenhar-me creia, enquanto viva,
A coisa não depende
Da Municipalidade,
Mas do senhor, — entende?
— Para falar verdade,
Não entendo, — Meu caro, eu poderia
Escrever-lhe uma carta,
Que não assinaria;
Mas sou digno de haver nascido em Esparta:
Acho as cartas anônimas infames,
E uma infâmia jamais cometeria,
Embora me expusesse a mil vexames. —

Depois desse preâmbulo,
O Vilella ficou pasmado e mudo;
Parecia um sonâmbulo.
O outro continuou, grave e sisudo:
— O senhor é casado,
Ou, se o não é, parece, — pelo menos
Vive na sua casa acompanhado
De uma senhora e de mais dois pequenos. —
— Mulher e filhos meus, disse o Vilella. —
— Abra o olho com ela!
Quando o senhor não está, vai visitá-la
Um janota, e, reflita,
Não é de cerimônia essa visita,
Pois não lhe abrem a sala... —

Vilella deu um pulo
Da cadeira em que estava, e ficou fulo;
Mas o velho puxou-o pelo casaco
E obrigou-o a sentar-se,
Dizendo-lhe: — Vá lá! Não seja fraco!
Ouça o resto, e disfarce...
Naquele bairro inteiro
O escândalo comentam,
E o vendeiro, o açougueiro e o quitandeiro
Mil horrores inventam,
Dizendo que o senhor sabe de tudo,
Mas faz de conta que de nada sabe!
Eu não sou abelhudo,
E outro papel no caso não me cabe
A não ser a defesa do decoro
De minhas filhas, que esse desaforo
Profundamente ofende.
Não pode aquilo continuar, entende?

Disse o Vilella enfim: — Velho maldito,
Se tudo quanto para aí tens dito
Não for verdade, apanhas uma coça!
Livrar-te destas mãos não há quem possa! —
— Faça uma coisa, respondeu tranquilo
O velho: quer saber se é certo aquilo?
Pois amanhã, quando sair, não venha
Para a repartição: em minha casa
Entre, e lá se detenha.
Fique certo de que não perde a vaza.

Escondido por trás da veneziana,
Verá entrar o biltre que o engana,
Está dito? — Está dito! — Lá o espero,
Sou velho honrado. Convence-lo quero. —

Foi-se o Belmonte, e o mísero marido
Ficou estarrecido;
Mas de tal modo disfarçou o estado
Em que o deixara o velho estonteado,
Que, entrando em casa à costumada hora,
Não notou a senhora
Nenhuma alteração, — e, no outro dia,
Posto à janela do denunciante,
Que, fechada, discreta parecia,
Viu entrar o amante,
Que ele não conhecia.

Correu Vilella à casa num rompante,
Antes que o outro lhe embargasse os passos,
Ou lhe pusesse os braços,
E um barulho infernal se ouviu da rua
Subitamente alvoroçada, e cheia
Dessa canalha vil que tumultua
Quando vê novidade em casa alheia.

O corpo do janota pela escada
Rolou como uma bola,
E a luzente cartola
Na rua, encapelada,
Antes do dono apareceu. A vaia

Que ele apanhou foi tal, tão formidável,
Que, viva ele cem anos, é provável
Que da memória nunca mais lhe saia.

Mas, oh, astúcia de mulher, quem pode
Sondar os teus arcanos,
Medir os teus recursos?!
Um Hércules não há que não engode
O ardil dos teus enganos
Ou o mel dos teus discursos!

E o Vilella não era
Precisamente um Hércules, coitado!
A esposa, que ele amava, e por quem dera,
Feliz, entusiasmado,
A vida, se ela a vida lhe pedisse,
A esposa... que lhe disse?
Que o janota não era o seu amante,
Mas o seu mestre de francês; queria
Aprender essa língua, que humilhante
Era viver na roda em que vivia,
Sem saber o francês... Ele, o marido,
Já meio convencido,
Lhe perguntou por que razão queria
Aprender em segredo,
E ela, pondo-lhe um dedo
No lábio inferior, pôs-se a agitá-lo,
Como se fosse um berimbau, e disse:
— Eu queria fazer-te uma surpresa.

Passado o grande abalo,
O bom Vilella, sem que ninguém visse,
Pôs-se na esquina à caça do Belmonte,
E — oh, que não sei de nojo como o conte! —
Deu-lhe uma tunda mestra, e derreado
Dois meses o deixou. Foi coisa nova
Apanhar uma sova
Um grave funcionário aposentado.

Mas, passada tão longa penitência,
Quando se ergueu do leito,
O velho interrogou a consciência,
E a consciência respondeu: — Bem feito!

Fonte> Artur de Azevedo. Contos em verso (contos brasileiros). Publicado originalmente em 1909. Disponível em Domínio Público . Convertido para o português atual por J. Feldman

Hinos de Cidades Brasileiras (Andirá/PR)


composição: Prof. Luiz Faria

Salve, salve, ó Andirá!
Salve, salve, ó cidade progresso!
Teu futuro deslinda o horizonte,
Anseio de liberdade incessante!

No passado, um dia de festa
Desejamos, com amor, exaltar.
Andirá, com orgulho trouxestes
Esta data para celebrar !

Refrão
Andirá - nova estrela
Que hora brilha numa constelação!...
Realidade alcançada
Conquistando um passado de amor!

Campo e indústria - duas colunas...
O comércio para te sustentar...
Seguem avante a saúde e o ensino,
Luz divina para te guiar...

O teu povo laborioso
É exemplo e ensina a fazer,
Construindo esta bela cidade,
Onde, em paz, aprendeu a viver!

Refrão
Andirá - nova estrela
Que hora brilha numa constelação!...
Realidade alcançada
Conquistando um passado de amor !

Celebramos assim,
Numa grande emoção
Esta data feliz
De tua emancipação.

Parabéns, Andirá,
Jovem em seu ardor!
És para o Paraná
Exaltação de amor!

Hans Christian Andersen (O Companheiro de viagem)

Quando o pai de Johannes faleceu, o menino ficou terrivelmente triste. Ele não tinha mãe e agora estava sozinho. É por isso que ele decidiu pegar a estrada no dia seguinte ao funeral de seu pai.

Na primeira noite, ele teve que dormir no feno, mas Johannes não se importou. O tempo estava bom e a lua brilhava forte no céu. 

Naquela noite, Johannes sonhou com uma linda garota com uma coroa de ouro na cabeça. Ele também viu seu pai que lhe disse: ‘Viva sempre bem, Johannes! Veja que linda noiva você terá então.’ 

Na manhã seguinte, Johannes acordou satisfeito e com a intenção de viver uma vida boa e gentil.

Na noite seguinte, o tempo estava péssimo e Johannes não conseguia dormir ao relento. Ele decidiu se abrigar em uma pequena igreja. Sentou-se num canto e adormeceu. 

Por volta da meia-noite, ele foi acordado por vozes. Ao luar viu que havia um caixão no meio da igreja, mas o homem ainda não estava enterrado. Ao redor do caixão estavam dois homens maus que queriam ferir o homem no caixão. 

‘Ei! O que você está fazendo?’ disse Johannes corajosamente. 

‘Este homem nos deve dinheiro, mas agora ele está morto e não recebemos nada. Então, como vingança, vamos expulsá-lo da igreja.’ 

‘Você pode ficar com o meu dinheiro’, disse Johannes, ‘não é muito, mas é toda a minha herança. Mas você terá que deixar o homem em paz’. 

Os dois homens malvados riram, pegaram o dinheiro e foram embora.

Quando Johannes continuou sua viagem na manhã seguinte, ele ouviu uma voz chamá-lo. 

‘Ei amigo, onde você está indo?’ disse o estranho. 

“Estou indo para o mundo inteiro”, respondeu Johannes. 

‘Eu também’, disse o estranho, ‘vamos juntos?’ 

Johannes achou uma boa ideia e logo eles se tornaram amigos íntimos.

O companheiro de viagem revelou-se um homem estranho. Ele não apenas sabia muito sobre o mundo, mas também tinha uma pomada mágica. Com esta pomada ele curou a perna quebrada de uma velha e deu vida aos bonecos de um marionetista. Em troca, ele ganhou três vassouras da velha e uma espada do marionetista. A espada veio a calhar quando se depararam com um cisne morto, o companheiro de viagem quis levar as asas consigo.

Não muito depois chegaram a uma cidade onde morava o rei. Eles ouviram que o rei era um homem bom, mas que sua filha era uma princesa má. Todo homem que quisesse se casar com ela tinha que resolver três enigmas. Se eles não conseguissem, ela os mataria. Muitos homens tentaram, mas nenhum conseguiu.

No dia seguinte, Johannes viu a princesa cavalgando pelas ruas. Ela era tão linda e parecia a garota que ele tinha visto em seus sonhos! Ela não podia ser má, podia? Na hora, ele decidiu que queria se casar com ela. E mesmo que todos tentassem fazê-lo mudar de ideia, ele queria tentar.

Enquanto Johannes dormia, o companheiro de viagem fez um plano. Ele amarrou as asas do cisne nas costas e pegou uma vassoura da velha. Então ele voou para o castelo. Aí ele viu como a princesa voou de sua janela com grandes asas negras. 

O companheiro de viagem se fez invisível e voou atrás dela enquanto a golpeava com sua vassoura. Quando ela chegou a uma grande montanha, ela mergulhou em uma caverna. Um troll feio estava dando uma festa lá. O companheiro de viagem ouviu a princesa dizer ao troll que um novo pretendente havia chegado para pedir sua mão em casamento e o troll respondeu que o pretendente teria que adivinhar o que ela estava pensando. E ela teria que pensar em seus sapatos.

Na manhã seguinte, o companheiro de viagem disse a Johannes que havia sonhado com a princesa e que ela estaria pensando em seus sapatos. Johannes acreditou nele imediatamente. Isso tinha que ser um sinal! Ele foi ao castelo e respondeu sem hesitar à pergunta da princesa. Oh, como ela ficou surpresa quando ele respondeu corretamente.

Naquela noite, o companheiro de viagem fez a mesma coisa e desta vez ouviu que a princesa estaria pensando em sua luva. E novamente Johannes estava certo no dia seguinte. 

Naquela noite, o companheiro de viagem voltou ao castelo novamente. Ele seguiu a princesa, viu como ela estava dançando com o troll e os seguiu quando eles voaram de volta para o castelo. O troll sussurrou: ‘Pense na minha cabeça.’ E quando a princesa voltou para seu quarto, o companheiro de viagem cortou a cabeça do troll feio. Ele o colocou em um lenço e disse a Johannes na manhã seguinte que precisava abrir o pacote na frente da princesa.

Todos ficaram em choque quando viram a cabeça do troll, mas Johannes deu à princesa a resposta certa. 

Naquela noite eles se casaram. A princesa estava muito infeliz, mas felizmente o companheiro de viagem disse a Johannes como acabar com seu feitiço. A partir desse momento, a princesa amou muito Johannes.

No dia seguinte ao casamento, o companheiro de viagem veio se despedir. 

‘Devo ir agora’, disse ele, ‘Paguei minha dívida com você. Eu sou o homem morto cuja dívida você pagou aos homens maus. Muito obrigado.’ 

E com essas palavras ele desapareceu. E Johannes e sua princesa viveram felizes para sempre.

Fonte> Hans Christian Andersen. Contos. Publicados originalmente entre 1835 – 1872. Disponível em Domínio Público