sábado, 7 de dezembro de 2024

Dicas de Escrita (Como Escrever uma Análise Crítica) – 2, final

por Jake Adams*

ESCREVENDO UMA ANÁLISE

1– Comece dissertando com uma rápida descrição do objeto da análise

Dê todas as informações básicas sobre o trabalho, como o nome do autor, o título, a data da publicação e o que mais for relevante. Fale sobre o que se trata e as intenções. Escreva tudo em duas ou três frases.

 Por exemplo, forneça as informações básicas na primeira frase e descreva o ponto de vista do texto nas duas seguintes.

2– Indique o seu ponto de vista no final da introdução 

– Coloque uma síntese do seu parecer logo após a descrição dos argumentos principais do autor.

- Aponte onde o texto falhou ou foi bem sucedido, dependendo da avaliação que você realizou.

- Escreva algo como: "O artigo faz uma ótima análise dos efeitos que o consumismo provoca no meio-ambiente".

- Por outro lado, se a avaliação for negativa, diga, por exemplo: "O quadro não consegue exprimir de forma consistente a crítica social pretendida."

3– Resuma o trabalho em um parágrafo

Depois de dar a sua avaliação, resuma o texto ou a obra em um parágrafo. Use a síntese que você preparou logo após ler o texto ou escreva algo diferente. Trate apenas dos elementos mais importantes.

- Lembre-se de que esse é o único espaço dedicado ao resumo, porque você tem que escrever a análise nas outras partes.

4– Em cada um dos parágrafos de desenvolvimento avalie um dos argumentos do texto

Após fazer o resumo, comece a demonstrar o seu ponto de vista. Você achou o artigo pouco convincente? Reserve um parágrafo para apontar os motivos. 

Do mesmo modo, se for o caso, guarde um parágrafo para mostrar por que o trabalho o impressionou. 

Elabore uma lista caso você esteja com dificuldade para identificar o que faz o texto ser eficiente. Seguem alguns itens podem ajudá-lo a pensar sobre o que escrever:

- Organização. 
Como o autor organizou a argumentação? A abordagem é boa ou ruim? Por quê?

- Estilo. 
Qual foi o estilo escolhido para sustentar as ideias? Esse aspecto piorou ou melhorou a qualidade do argumento?

- Persuasão. 
O texto consegue convencer o leitor? Por quê?

- Parcialidade. 
O autor foi parcial ou imparcial ao tratar do assunto? O que justifica a sua avaliação?

- Apelo a um público específico. 
O trabalho dirige-se a um público em particular? Em caso afirmativo, diga quem seria esse público e se o autor teria sido bem sucedido.

5– Busque as evidências no próprio texto para deixar a sua análise mais robusta

Você tem que retirar exemplos do artigo, seja com uma citação, uma paráfrase ou um resumo feito com as próprias palavras. Coloque os trechos extraídos entre aspas e indique o número da página toda vez que você fizer uma citação.

Dica: Sobre como lidar com as referências, talvez você precise usar um estilo específico, como o da ABNT.

6– Conclua com um parecer final sobre a argumentação do texto

 Esse é o momento de resumir as ideias principais da análise e dar uma opinião sobre o trabalho em geral. Ou seja, diga se o autor conseguiu ou não fazer o que propôs. Não repita de forma literal a introdução ou outras partes de seu texto. Retome as informações mais importantes usando outras palavras ou discuta as consequências do que você escreveu ao longo da análise.

– Por exemplo, é possível colocar na conclusão que o texto tem algumas partes interessantes, mas que acabou não atingindo os seus próprios objetivos.

– Discuta os motivos em duas ou três frases.

- Não se esqueça de fazer pelo menos uma boa revisão do texto e de corrigir os erros!

REFERÊNCIAS
1. https://www.taconna.uw.edu/sites/default/files/global/documents/library/howtowriteacritic
alanalysis.pdf
2. http://www.tacoma.uw.edu/sites/default/files/global/documents/library/howtowriteacritical
analysis.pdf
3. http://www2.southeastern.edu/Academics/Faculty/elejeune/critique.htm
4. http://www2.southeastern.edu/Academics/Faculty/elejeune/critique.htm
5. https://www.tacoma.uw.edu/sites/default/files/global/documents/library/howtowriteacritic
alanalysis.pdf
6. https://depts.washington.edu/pswrite/Handouts/CriticalAnalysisPapers.pdf
7. https://depts.washington.edu/pswrite/Handouts/CriticalAnalysisPapers.pdf
8. https://depts.washington.edu/pswrite/Handouts/CriticalAnalysisPapers.pdf
9. https://www2.southeastern.edu/Academics/Faculty/elejeune/critique.htm
10. https://www2.southeastern.edu/Academics/Faculty/elejeune/critique.htm
11. https://www2.southeastern.edu/Academics/Faculty/elejeune/critique.htm
12. https://www.tacoma.uw.edu/sites/default/files/global/documents/library/howtowritea
criticalanalysis.pdf
13. https://www2.southeastern.edu/Academics/Faculty/elejeune/critique.htm
14. https://www.tacoma.uw.edu/sites/default/files/global/documents/library/howtowritea
criticalanalysis.pdf
15. https://writingcenter.fas.harvard.edu/pages/ending-essay-conclusions
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*Jake Adams é tutor acadêmico e proprietário da Simplifi EDU, um serviço de tutoria acadêmica online que oferece recursos e aulas pré-vestibular. Com mais de 14 anos de experiência profissional, Jake busca oferecer aos seus clientes a melhor experiência em aulas à distância, fornecendo uma rede de excelentes tutores graduados nas melhores universidades dos Estados Unidos. Jake é formado em Administração Internacional e Marketing pela Pepperdine University.

Fontes: https://pt.wikihow.com/Escrever-uma-An%C3%A1lise-Cr%C3%ADtica
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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Erigutemberg Meneses (Cascata de versos) 03

 

José Feldman (A outra face do Natal)


Numa grande cidade, o Natal se aproximava, e as vitrinas das lojas brilhavam com cores e luzes, como se quisessem ofuscar a realidade dura que se escondia nas sombras. Entre essas sombras, um menino chamado Leandro caminhava pelas ruas, seu pequeno corpo envolto em roupas desgastadas e seu olhar carregado de sonhos.

Ele vivia nas ruas há anos. De manhã, ele coletava garrafas vazias para ganhar algum dinheiro e, à noite, se encolhia em um canto qualquer, tentando encontrar um pouco de calor. Quando avistava as vitrines decoradas, seu coração se apertava. Ele imaginava um Natal repleto de presentes, de risadas e de uma família que o amasse. Mas, para ele, o Natal era apenas um dia como os outros, repleto de solidão e esperança não correspondida.

Naquela noite fria, enquanto caminhava, ele ouviu um som fraco vindo de um beco. Curioso, se aproximou e encontrou um cachorro abandonado, tremendo de frio e com os olhos tristes. Leandro não hesitou, se agachou e estendeu a mão.

— Olá, amigão. Você está sozinho também? — perguntou, acariciando o cão que, após um momento de hesitação, se aproximou e começou a lamber sua mão. Leandro sorriu, sentindo uma conexão imediata. O cachorro, que ele decidiu chamar de Faísca, parecia entender sua dor.

Os dias seguintes foram repletos de calor inesperado. Leandro e Faísca se tornaram inseparáveis. Juntos, enfrentavam a solidão das ruas e encontravam conforto um no outro. Leandro dividia o pouco que tinha com seu novo amigo, e Faísca, em troca, oferecia carinho e lealdade. Eles se aqueciam com o calor de seus corpos, e, pela primeira vez, Leandro sentia que não estava tão sozinho neste mundo.

Na véspera de Natal, a cidade estava envolta em um manto de neve, e as luzes brilhavam mais intensamente. Leandro encontrou um pequeno presente em uma caixa de papelão: um velho cachecol que alguém jogara fora. Ele imediatamente o colocou em Faísca, e o cachorro parecia feliz, sacudindo o rabo em agradecimento. Leandro sorriu, imaginando que, talvez, aquele Natal pudesse ser diferente.

No entanto, o destino tinha outros planos. Naquela mesma noite, enquanto caminhavam pelo centro da cidade, um motorista bêbado perdeu o controle de seu carro e avançou pela calçada. Leandro não teve tempo de reagir. O impacto foi rápido e brutal. Faísca foi atingido e caiu ao lado do menino, gemendo de dor.

Leandro correu até seu amigo, abraçando-o com desespero. Ele sentiu a vida de Faísca se esvair, enquanto o cachorro olhava para ele com os olhos cheios de amor e dor. As pessoas que passavam viraram o olhar, algumas até riram, sem se importar com o garoto e seu amigo. O mundo continuou, indiferente ao sofrimento que se desenrolava.

— Não, Faísca, por favor! — Leandro implorava, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. — Não me deixe, eu preciso de você! 

Mas, enquanto o frio da noite invadia seu coração, Faísca fechou os olhos pela última vez. Leandro sentiu uma dor imensa, como se a própria vida tivesse sido arrancada de seu peito. Ele chorou, e o pranto ecoou na solidão da cidade, mas ninguém ouviu. A magia do Natal, que um dia ele sonhou, se desfez em uma onda de desespero.

Na manhã de Natal, uma forte nevasca cobriu a cidade, e o frio se intensificou. As pessoas saíram de casa para celebrar, mas, ao passar pelo beco onde Leandro e Faísca estavam, encontraram os dois juntos, abraçados. O menino estava imóvel, congelado, seu corpo ainda aquecido pelo amor que nutrira por seu amigo de quatro patas.

A imagem do garoto abraçado ao cachorro emocionou algumas pessoas, mas muitos ainda passaram de forma indiferente, sem entender a profundidade da dor e da solidão que aqueles dois haviam enfrentado. Os olhos de Leandro, que um dia brilhavam com esperança, agora estavam fechados, mas seu coração, ao lado de Faísca, havia encontrado a paz que tanto buscara.

Naquele Natal, a cidade estava cheia de luzes e risos, mas, em um canto esquecido, a verdadeira essência do amor e da amizade se despedia. Leandro e Faísca, juntos na eternidade, provaram que, mesmo em meio à solidão e ao desprezo, o amor sincero é capaz de transcender até mesmo a morte. E, enquanto as luzes brilhavam, um novo tipo de silêncio se instalou, um lembrete de que a verdadeira magia do Natal reside na compaixão e na conexão que formamos com aqueles que amamos.

Fontes: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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Milton Souza* (Uma cadeira vazia)

Simbolizando a ausência do filho que o destino levou para longe, há mais de 10 anos, uma cadeira vazia dava um toque de tristeza nas refeições daquela humilde família do Passo da Caveira, em Gravataí. 

A decisão tinha sido da mãe: o lugar preferido do garoto não seria ocupado até que ele voltasse para casa. Mas o tempo ia passando, passando, e nem notícias do seu eterno “menino”. 

O marido e os outros três filhos menores não concordavam, mas aceitavam a saudade da mãe. Saudade que virava pranto nas madrugadas, quando acordava sonhando com o filho e ficava de joelhos, rosário entre as mãos, mandando orações aos céus para garantir saúde e proteção para o seu “menino”. Nestas horas, relembrava a história do garoto: aos 16 anos, se envolveu com drogas e com amigos bastante suspeitos. Foi parar na delegacia. A vergonha de encontrar o filho enjaulado foi substituída pelo medo, quando ela ouviu as duras palavras do delegado: “Se a senhora não quer ver o seu filho no cemitério, leve ele para bem longe da nossa cidade, pois não vai sobrar ninguém desta quadrilha de traficantes”. 

O delegado estava certo. Os “amigos” do filho começaram a aparecer mortos nos becos da vila. “Desacerto entre traficantes causa mais uma morte”, repetia a manchete do Correio de Gravataí. E a pobre mãe ficava cada vez mais apavorada: o filho poderia ser o próximo. A decisão de mandar o rapaz para morar com uma irmã dela, em Cuiabá, no Mato Grosso, foi conjunta com o pai e aceita pelo o filho, que já estava consciente dos perigos que corria. O embarque aconteceu na noite de Natal, na rodoviária de Porto Alegre. Quando o ônibus iniciou aquela viagem de mais de 40 horas, o coração da mãe disparou. Ela sabia que tão cedo não veria mais o seu “menino”. Nos primeiros meses ainda conseguiu falar por telefone com o rapaz, hospedado na casa da irmã. Um dia, porém, ficou sabendo que ele havia sumido. A história se repetia: o rapaz voltou a usar drogas e trilhar o mau caminho. Quando se sentiu ameaçado, fugiu sem deixar rastros. E ninguém mais soube dele...

Na noite do último Natal, não tinha festa na casinha do Passo da Caveira: o pai, desempregado, não conseguira comprar presentes para os filhos. O que a mãe ganhava com as faxinas dava somente para a comida. Apesar disso, tinham saúde. E jantavam, pelas 11 horas da noite, quando um carro, dirigido por uma mulher, parou no portão da casa. Um Papai Noel, gordo e desajeitado, desceu e foi pedindo licença para entrar. 

A moça explicou que estavam entregando presentes para famílias carentes. O Papai Noel entrou na casa humilde e sentou exatamente naquela cadeira que ficava eternamente vazia. Ela até ia protestar, mas foi impedida pelo marido. Antes de entregar os presentes para cada uma das crianças, o Papai Noel perguntava o nome, idade e outros detalhes. Por alguns segundos, os olhos que estavam por trás da máscara se cruzaram com os olhos daquela mãe sofrida. E ela sentiu um calafrio. 

Foi exatamente naquele momento que o Papai Noel, pegando nas mãos um pacote colorido, chamou pelo seu nome. Quando ela se aproximou, sem nem notar que o “velhinho” sabia o seu nome, o Papai Noel não aguentou mais: retirou a máscara e abraçou, em prantos, a mãe que não via há mais de 10 anos. Choraram juntos, pai, mãe e filho, neste reencontro inesperado. 

Parecia um milagre de Natal. Em poucos minutos, tudo foi esclarecido: a moça que dirigia o carro era a esposa do filho, considerada por ele a responsável pelo seu afastamento do mau caminho. Moravam em São Paulo, estavam bem de vida, e resolveram voltar ao Sul exatamente na noite de Natal, para terminar com aquela longa saudade. Nem foi preciso botar mais água no feijão: o filho trouxera um estoque de comidas prontas para garantir a ceia de Natal. Ainda estavam abraçados, chorando, quando os primeiros rojões subiram aos céus avisando que o Deus Menino estava nascendo nos lares de Gravataí. E que um “menino”, que sempre foi deus no coração daquela mãe, já ocupava o seu lugar na mesa, onde não havia mais nenhuma cadeira vazia…
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* Milton Sebastião Souza nasceu em Porto Alegre/RS, em 1945 e faleceu em Cachoeirinha/RS, 2018.

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Vereda da Poesia = 171


Trova de
GERALDO PEIXOTO DE LUNA
Londrina/PR

Vejo triste, em minha face,
a cada dia que corre,
uma saudade que nasce,
uma esperança que morre.
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Soneto de
EMÍLIO DE MENESES
Curitiba/PR, 1866 – 1918, Rio de Janeiro/RJ

Um crítico cítrico

É, sem tirar nem pôr, um grande jornalista.
Quando erra ou quer errar, erra com matemática.
Faz uma escaramuça e o jogo salta à vista
Mas não há quem resista à formidável tática.

Torce algebricamente a verdade e conquista
O aplauso até de quem tenha traquejo e prática.
Sei-o mesmo por mim que, apesar de trocista,
Nunca deixo de o ler (restrições à gramática).

Mas, em arte, Jesus! Nem se aproveita a cinza.
Como crítico é igual aos outros. Deixa o suco
E, fibra a fibra, toda a bagaceira espinza.

Todo o crítico é assim, mais ou menos, caduco.
Sendo em arte incapaz, na obra alheia é ranzinza.
— O crítico, em geral, é uma espécie de eunuco.
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Trova de
DELCY CANALLES
Porto Alegre/RS

Esperança, este meu ego,
está sempre a te esperar!
Volta depressa, pois cego,
não sei se vai te encontrar!
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Poema de
FLÁVIO SILVEIRA STEFANI
São Sebastião do Paraíso/MG

Outono

Passa-se o tempo, passa-se a aurora
O Sol se põe devagar indo embora.
Os ventos sopram como outrora.

Alguns clamam:
será que é agora?!
Outros pelejam:
será que é a hora?

É tempo de recolhimento
de cultivar verdadeiros sentimentos.
Recolhe-te e trabalha-te por dentro!
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Trova de
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/RN, 1951 – 2013, Natal/RN

Amar… verbo transitivo
que em qualquer conjugação
traz um novo lenitivo
para o nosso coração!
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Soneto de
HILDEMAR CARDOSO MOREIRA 
São Mateus do Sul/PR, 1926  – 2021, Contenda/PR

Meu corpo

Quase um século de vida aqui na terra
Tem o corpo que altivo me sustenta,
E a gene de ancestrais nele descerra
Em várias circunstâncias que ele enfrenta.

Exausto, algumas  vezes se declina,
Mas retorna para a luta cotidiana,
Porque aquilo que eu sou, lhe determina
Cumprir o que, do Alto então se emana.

E relembrando o tempo já vivido
Esse corpo se sente agradecido
Pela alma que dirige os passos seus.

Porque entende que o corpo necessita
De uma alma que o dirija e que reflita
Nos respeitos que devemos para Deus.
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

De volta ao lar que eu não via,
desde a minha mocidade...
Enquanto a emoção crescia,
crescia a dor da saudade!
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/RJ

O corpo cansado

As forças fogem aos poucos e o corpo cansado,
De tantas grandes lutas há muito vencidas,
E o entardecer da vida o dia caminhado
Com a alma ainda forte em busca de guaridas.

A indagação a Deus e o pedido de tempo
Para encaminhar tudo aquilo que sonhou,
O corpo dolorido  pedindo o alimento
Prometendo os cuidados aos quais já deixou.

O embate ao qual o físico já superou
Pedindo ainda tempo ao querer ver crescer
Os filhos que a seus filhos o amor consagrou.

Já quase amanhecendo o remédio atuou
O corpo já sem força ao fim do entardecer
devolve a esperanças a quem acreditou.
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Trova de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Meu diário! Em tuas folhas
morrem desejos sem fim...
Pago o preço das escolhas
que outros fizeram por mim.
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Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Não chores meu amor

Não chores, meu amor, pois tudo passa;
abalos fazem parte do viver...
A vida sem os sustos perde a graça
e o júbilo do riso renascer!

Transtorno, tal e qual a carapaça,
é criação visando proteger
a todos nós, se, quando, uma desgraça
quer liquidar com nosso bel-prazer.

Mas o desgosto ainda tem um jeito
de não deixar o nosso pobre peito
sofrer demais, até à eternidade.

Passado o sobressalto, que alegria!
Pois ela volta e, muitas vezes, cria
na gente até maior felicidade!
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Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Do que te fiz, fiz um laço,
que a minha consciência veste;
só não sei mais o que faço
com tudo o que me fizeste!
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Hino de
APARECIDA DO TABOADO/ MS

Ao encontrar de dois grandes rios
Surgiu além uma linda flor
Aparecida cidade encantada
Berço querido de paz e amor
Em teus campos existe perfume
Em teus lares paz e amor
O pensamento de teus queridos filhos
O lema é trabalho e união

Ai! Ai! Ai! Aparecida do Taboado
Ai! Ai! Ai! Aparecida do Taboado

Foi um humilde carpinteiro
Que te legou à Senhora Aparecida
Cantada em rincão abençoado
És hoje a princesinha mais querida
Ordem, trabalho e progresso
Simbolizam a fé de quem te ama
De uma alvorada levantada
Ao alto pedestal de tua fama

Ai! Ai! Ai! Aparecida do Taboado
Ai! Ai! Ai! Aparecida do Taboado
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Fui juiz de alheios fatos,
Hoje, a vida com razão
me faz réu dos mesmos atos,
que aos outros neguei perdão.
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Recordando Velhas Canções
LEVA EU SODADE 
(toada, 1962) 
Tito Guimarães e Alberto Cavalcanti 

Ô leva eu, 
Minha sodade, 
Eu também quero ir, 
Minha sodade, 
Quando chego na ladeira, 
Tenho medo de cair, 
Leva eu, (leva eu) 
Minha sodade.  
 
Menina tu não te lembra, 
(Minha sodade), 
Daquela tarde fagueira, 
(Minha sodade) 
Tu te esqueces, 
E eu me lembro, 
Ai, que sodade matadeira, 
Leva eu, (leva eu) 
Minha sodade. 
  
Na noite de São João, 
(Minha sodade), 
No terreiro uma bacia, 
(Minha sodade), 
Que é pra ver se para o ano, 
Meu amor ainda me via, 
Leva eu, (leva eu) 
Minha sodade.
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Trova Humorística de
JOSÉ MOREIRA MONTEIRO
Nova Friburgo/RJ

Perguntaram-me: tens caspas 
no teu couro cabeludo?
Eu respondi: não... e entre aspas
– Os piolhos comem tudo!
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Marcos Antonio Campos (A aurora e o crepúsculo)

Um titã chamado Prometeu roubou o fogo do Olimpo. Sem saber o que fazer com ele, entregou-o a Claude Monet. O pintor, ainda, um discípulo na arte, sem o domínio completo da técnica, borrou completamente o céu de Veneza. Os venezianos, encantados com o pôr do sol laranja, correram à Praça de São Marcos para verem o espetáculo, de lá partiram em suas gôndolas, cantando "O Sole Mio". Estava criada a mania de se observar o pôr do sol.

Eu gosto de escrever e hoje fazendo um soneto, comecei a pensar que as pessoas não dão o valor necessário à aurora. A aurora parece os meus poemas, ninguém os lê e quase ninguém a ver. Não é cantada em verso e prosa, mas é ela que dá o primeiro bom dia, quando o galo canta em sua homenagem. É para ela que cantam os passarinhos quando você acorda. É para ela que sorriem as flores e é para ela que o orvalho dança, oscilando pelas folhas e flores, até explodirem em cristais que irrigam e engravidam a mãe terra. O que faz de tão extraordinário o crepúsculo, além de borrar o céu e mergulhar no mar, para merecer tantos olhares?

- Amigo! Você vai encontrar o mesmo problema entre o sol e a lua. Todos a amam. Ela tem menos brilho do que o sol. É volúvel, tem quatro faces e só anda acompanhada de um séquito de estrelas, e quando ela está naqueles dias, não aparece. Ora é gorda, ora é magra, vaidosa e bela como uma mulher. Cantada em verso e prosa é apaixonada pelo mar. O crepúsculo indica o fim do dia e lhe traz o ócio, encanta sua visão e o mais importante, instiga você a amar. Ele ilumina suas veredas, indicando-lhe o caminho de casa ou do bar. Quando o dia amanhece, surge a aurora e o sol lhe apresenta a fatura, você vai pagá-la com seu trabalho e o gosto salgado do suor de seu rosto.

Meus versos são frutos da árvore da vida e em tempos de pandemia eles são perversos no despertar dos sentidos. Não busco apenas o belo, mas o elo que fará sentido. Procuro a persistência da memória e o grito retorcido em ondas sonoras. Procuro a noite estrelada e a tempestade numa casca tênue bailando sobre o mar. A aurora é o início da jornada, mas você só vencerá o dia se chegar ao crepúsculo, quando você meditará sobre a beleza da vida e fará a conexão com sua fé.
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* O autor é de Natal/RN

(esta crônica obteve o Menção Honrosa no Concurso de Crônicas Adulto Nacional “Foed Castro Chamma”, em 2020, com o tema Aurora)

Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. 
Livro enviado por Luiza Fillus.
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Dicas de Escrita (Como Escrever uma Análise Crítica) – 1

por Jake Adams*
Uma análise crítica serve para avaliar a qualidade de um artigo acadêmico ou outro tipo de trabalho. Você precisa fazer uma análise sobre um artigo, um livro, um filme ou um quadro? Comece com uma leitura crítica para identificar e compreender os argumentos do autor e reunir os elementos necessários para formar a sua opinião. Estude o texto com mais atenção e monte a análise. Por fim, redija o trabalho usando a estrutura correta.


FAZENDO UMA LEITURA CRÍTICA

1– Leia o texto com atenção e faça as anotações. 

Estude todo o material que você separou para a análise. Destaque, sublinhe e faça comentários sobre as partes importantes. Marque as palavras, os conceitos e qualquer informação que você não tenha entendido bem.

Talvez você tenha que reler o texto, principalmente se ele for muito denso ou complexo.

Enquanto você faz a leitura, defina o que é importante, útil, inovador, relevante, controverso e válido.

2 – Reconheça as teses do autor

Pergunte a si mesmo: quais são as ideias que ele defende ou ataca? 

Marque ou sublinhe o trecho que caracteriza a tese principal. Geralmente, ela aparece no primeiro ou no segundo parágrafo do texto e consiste em uma única frase que resume o argumento principal.

 É mais fácil encontrar uma tese em um artigo acadêmico do que em uma obra de arte, como um filme ou um quadro. 

Você está analisando um filme de ficção ou que retrata os fatos reais sem o rigor histórico? Identifique os temas mais importantes do enredo. Caso seja uma pintura, procure entender o que as cores e as formas simbolizam.

3– Durante a leitura, escreva as ideias principais do autor

Sublinhe ou destaque os tópicos frasais e os trechos que pareçam ser mais significativos, por exemplo: as explicações ou as evidências fornecidas ao longo do texto que corroborem o ponto de vista adotado. Essas partes do texto são muito importantes porque permitem analisar a estruturar:

Quais são os tópicos frasais de cada parágrafo e seção do artigo acadêmico que você está lendo?

Quais são as cenas e as imagens que reforçam a mensagem principal do filme ou do quadro?

4– Faça um resumo com as suas próprias palavras

Para consolidar o entendimento do que você acabou de ler, escreva uma pequena síntese.

Diga em um parágrafo quais são o tema e o argumento principal do texto.

Faça uma sinopse do filme em um ou dois parágrafos ou descreva o livro, por exemplo.

ANALISANDO O TEXTO

1– Observe como você reage ao texto

Como você se sentiu ou no que pensou ao lê-lo? A maneira como um discurso afeta as emoções das pessoas é chamada de "pathos", que é um componente fundamental da retórica. 

Anote as  primeiras reações, sejam elas boas ou ruins. Tente explicar o motivo de você se sentir assim. Localize as características do texto que provocaram os sentimentos.

– Você ficou nervoso? Qual foi o elemento do texto que o deixou desse jeito?

- Você ficou rindo sem parar? O que é tão engraçado?

2– Leve em consideração a biografia do autor e pense em como ela se relaciona com a obra 

Será que o ponto de vista defendido não tem a ver com os outros trabalhos do mesmo autor sobre o tema? Dar uma olhada nisso pode ajudá-lo na análise crítica. 

Confira o histórico do autor e tente compreender por que ele adotou um determinado ponto de vista. O que ele já escreveu sobre o assunto? Ele segue uma linha ou escola de pensamento?

- Por exemplo, o autor é um entusiasta do ensino á distância? Talvez esse fato explique o viés dos seus artigos sobre a reforma do sistema educacional.

– A formação e a titulação (doutorado ou mestrado, por exemplo) do autor também fazem parte da biografia dele. Esses são os elementos do "ethos": a formação acadêmica e os títulos.

3– Avalie a forma como os conceitos foram empregados

O autor trabalhou com os conceitos de um modo claro e correto? Ou ele usou noções frágeis e inadequadas? Caso a resposta da última pergunta seja "sim", você encontrou um ponto importante para avaliar. Identifique o que está errado ou confuso e como esses aspectos poderiam ser melhorados.

Por exemplo, o texto faz um explicação do efeito estufa longa, confusa e cheia de termos técnicos? Concentre as críticas nessa parte.

Dica: Lembre-se de que você pode dar uma opinião favorável caso o texto tenha uma qualidade positiva. Por exemplo, o autor descreveu o funcionamento do efeito estufa de um modo simples e com uma linguagem acessível? Elogie esse trecho.

4– Avalie como o autor trabalha com as evidências

O texto se baseia em evidências sólidas? Esse é outro ponto muito importante da análise. 

Confira a credibilidade de todas as referências citadas ao longo do trabalho. Veja se elas realmente reforçam o ponto de vista defendido. Em caso afirmativo, considere que o autor fez um bom uso do "logos", ou seja, o aspecto conceitual do texto.

Quando um autor menciona o conteúdo de um site muito tendencioso, o raciocínio fica comprometido. Por outro lado, a argumentação fica mais robusta ao citar fontes mais equilibradas e imparciais.

Não são todos os tipos de trabalho que apresentam evidências. Por exemplo, não tem por que um romance ou uma peça de teatro se preocuparem com comprovações.
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Continua…
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*Jake Adams é tutor acadêmico e proprietário da Simplifi EDU, um serviço de tutoria acadêmica online que oferece recursos e aulas pré-vestibular. Com mais de 14 anos de experiência profissional, Jake busca oferecer aos seus clientes a melhor experiência em aulas à distância, fornecendo uma rede de excelentes tutores graduados nas melhores universidades dos Estados Unidos. Jake é formado em Administração Internacional e Marketing pela Pepperdine University.

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quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

José Feldman (Guirlanda de Versos) * 10 *

 

José Feldman (Sob o prisma de um dia de chuva)


O céu estava carregado de nuvens cinzentas, prenunciando uma tempestade que se aproximava da cidade. Era um dia típico de outono, quando o clima inconstante trazia consigo a promessa de chuva. Na esquina da Avenida Paraná, um grupo de pessoas aguardava o semáforo abrir, suas expressões variando entre impaciência e resignação. A maioria estava com guarda-chuvas em mãos, mas havia quem, como sempre, insistisse em não se deixar levar pelo mau tempo.

Entre eles, estava Laura, uma jovem mulher de cabelos cacheados e um sorriso que iluminava o rosto, mesmo sob a ameaça de chuva. Ela observava a movimentação ao seu redor, notando como a cidade se transformava com a chegada das gotas de água. 

Para Laura, a chuva era uma benção, uma pausa no ritmo frenético da vida urbana. Ela adorava o som da água batendo no chão e o cheiro da terra molhada.

— Olha como as pessoas reagem à chuva! — disse Laura para seu amigo Cido, que estava ao seu lado.

Cido, um homem de olhar sério e pragmático, apenas balançou a cabeça. 

— Para mim, é só um incômodo. Nada como um dia ensolarado, onde as coisas funcionam. — Ele olhou para o céu, já escuro, e suspirou.

Laura riu. 

— Mas você não vê a beleza nisso? As pessoas se apressam, mas a chuva transforma tudo. As cores ficam mais vivas, e há uma certa poesia no caos.

Enquanto conversavam, um grupo de mulheres passou apressado, rindo e se protegendo sob um único guarda-chuva. Laura notou a camaradagem entre elas, a forma como se apoiavam mesmo em meio ao desconforto da chuva.

— Olha só! — Laura apontou. — Elas estão se divertindo, mesmo com o tempo ruim.

Cido fez uma careta. 

— Ou estão apenas tentando não se molhar. A chuva faz com que as pessoas fiquem mais irritadas, não mais felizes.

— Você tem uma visão tão negativa! — Laura retrucou, mas não pôde deixar de notar como as gotas começavam a escorregar pelo rosto de Cido. — Às vezes, é preciso relaxar e deixar a chuva te tocar.

— Relaxar? — ele perguntou, arqueando uma sobrancelha. — E ficar encharcado? Não consigo entender como você consegue ver beleza nisso.

O semáforo finalmente abriu, e eles começaram a caminhar. A cidade, em sua essência, parecia se dividir: os que corriam, os que se protegiam e os que, como Laura, simplesmente decidiam aproveitar o momento. 

Ela observou um homem, provavelmente com uns sessenta anos, que caminhava lentamente, sem guarda-chuva, deixando a chuva molhar seu cabelo grisalho. Ele parecia alheio ao mundo, perdido em seus pensamentos.

— Olha aquele homem. — Laura disse, apontando. — Ele parece estar em paz.

— Ou é apenas imprudente. — Cido respondeu, com um tom sarcástico. — Ninguém gosta de ficar molhado.

— Às vezes, a imprudência é uma forma de liberdade. — Laura insistiu. — Ele deve estar lembrando de algo bom, uma lembrança que a chuva trouxe à tona.

Cido revirou os olhos. 

— Você e suas teorias. Eu só quero chegar seco ao trabalho.

Enquanto continuavam a caminhar, Laura se lembrou de sua infância, das tardes passadas em casa, ouvindo a chuva tamborilar no telhado. Aqueles eram momentos de aconchego, de histórias contadas pelo avô, de chocolate quente e risadas. Para ela, a chuva sempre foi sinônimo de calor humano.

— Você não sente falta de momentos assim? — perguntou Laura, olhando para Cido. — De simplesmente parar e apreciar?

— Não posso me dar ao luxo de parar. — Ele respondeu, com um tom de voz que não deixava espaço para discussão. — O mundo não espera.

Laura não queria discutir mais. Eles chegaram a um ponto onde a calçada estava cheia de poças, e ela decidiu dar um salto. A água espirrou, e Cido a olhou, incrédulo.

— Você é louca! — ele exclamou, mas não pôde evitar um sorriso. — Vai ficar ensopada!

— E daí? — Laura respondeu, rindo. — Às vezes, é preciso se molhar!

Enquanto caminhavam, outros homens e mulheres se juntavam ao caminho, cada um com suas reações à chuva. Algumas mulheres, com seus sapatos de salto, pulavam de maneira cuidadosa para não sujar as roupas. Homens, por sua vez, pareciam mais apressados, com expressões de frustração, tentando evitar as poças.

— Olha a diferença! — Laura exclamou. — As mulheres parecem mais adaptáveis, enquanto os homens estão tão preocupados em manter as aparências.

— Não é bem assim. — Cido argumentou. — A questão é que muitos homens foram ensinados a não demonstrar vulnerabilidade. Para eles, ficar molhado é um sinal de fraqueza.

Laura refletiu sobre isso. 

— E será que isso não é um problema? A pressão para se manter firme e forte pode ser pesada. Eu vejo isso em muitos dos meus amigos.

Cido ficou em silêncio, considerando as palavras da amiga. Enquanto isso, a chuva continuava a cair, e a cidade parecia ganhar vida própria. Os sons da água, os risos, e até mesmo as reclamações se misturavam em uma sinfonia urbana.

Quando chegaram ao destino, Laura estava completamente molhada, mas com um sorriso no rosto. 

— Viu? Sobrevivi! E, no final das contas, a chuva não é tão malvada assim.

— Você é impossível. — Cido disse, balançando a cabeça, mas sem esconder um sorriso. — Você sempre encontra uma maneira de ver o lado bom das coisas.

— E você sempre encontra um jeito de se preocupar demais. — Laura respondeu, com um olhar brincalhão. — Vamos tomar um café e aquecer esses pensamentos pessimistas!

Enquanto entravam no café, a cidade continuava a ser banhada pela chuva, e em cada gota, havia histórias, sentimentos e a beleza de um momento compartilhado. 

Laura e Cido, com suas visões distintas, aprenderam um pouco um com o outro naquele dia, enquanto o mundo lá fora continuava a girar, indiferente e majestoso.

Fonte: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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Marcos Antonio Campos* (Aurora)


É um belo anel, mesmo esquecido pelo tempo dentro de uma caixinha de joias. Ele foi posto lá no exato momento em que teus olhos fugiram de mim. Foste embora nas velas de tua nau à procura de auroras distantes. A saudade não mitigou teu nome em minha lembrança.

Este anel não me foi dado. Foi devolvido quando partiste. Não quis refratar os teus sonhos nem caminhar no teu arco-íris. Eu não queria aventuras, tinha medo de voar e perdi a estrela que estava em minha mão.

Acordo cedo e vou trabalhar, sempre faço o mesmo percurso. Não me aventuro por caminhos desconhecidos. A aurora ainda está acordando e já vai dourando os cachos da acácia, a cor dos teus cabelos. As xananas** ainda estão abrindo suas pétalas para o sol e eu vejo o teu sorriso. Os passarinhos começam a cantar e eu lembro como era melodiosa tua voz.

Atravessar o canteiro central é como ter o coração transpassado por uma flecha. As rosas vermelhas têm a cor de teus lábios, as flores têm o perfume que roubaram de ti e as pétalas têm a maciez de tua pele. 

Além do anel, você deixou-me também a bandeira de seu país, que, na aurora desfraldada, tem a cor do teu cabelo, o azul de teus olhos e o carmim de tua boca. À noite, a bandeira amarrotada cobre-me os olhos para o crepúsculo e acende minha narina com teu perfume. Acordo com os acordes da aurora. Mãos como raios de luz esquentando minha pele. O galo cantando, avisando-me a hora, os girassóis sorrindo para mim, alegrando-me o dia.

Vbu navegar o horizonte, abrir minhas velas, atracar em outros cais. Talvez tu tenhas ido a Macondo, voar com as araras, quem sabe estás nas montanhas de Shangri-lá ou ainda matriculada na Universidade Corânica de Tumbuctu. Certezas não as tenho, mas acredito que tu foste procurar o nascer da aurora, desde a terra do sol nascente ao solar da Bela Vista.

Desejo ardentemente acordar nos braços de minha Aurora, seguir meu caminho livre dessa quarentena. É difícil seguir os passos de minha gazela, principalmente quando meu corcel está a todo galope, por isso comprei uma passagem para Boa Vista.
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* O autor é de Natal/RN

** Xanana = é uma planta da América tropical com potencial ornamental, por suas flores e folhagem atrativas, que ocorre naturalmente em pastagens, pomares, beira de estradas, carreadores e terrenos baldios. Apesar de ser rústica e, provavelmente, exigir tratos culturais simples, ainda não possui informações suficientes que permitam a definição de técnicas visando o seu cultivo.

(esta crônica obteve o Menção Honrosa no Concurso de Crônicas Adulto Nacional “Foed Castro Chamma”, em 2020, com o tema Aurora)

Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. 
Livro enviado por Luiza Fillus.
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