quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

O. Henry (Namorado de Quatro Vinténs)

Havia 3 000 moças na Grande Loja. Masie era uma delas. Tinha dezoito anos e vendia luvas para cavalheiros. No emprego aprendeu a conhecer duas espécies de seres humanos — os cavalheiros que compram luvas em grandes lojas e as mulheres que compram luvas para cavalheiros menos afortunados. Além desse amplo conhecimento do gênero humano, Masie aprendera outras coisas. Dera ouvidos à consabida sabedoria de 2 999 outras moças e a armazenara num cérebro tão discreto e prudente quanto o de um gato maltês. Quem sabe a Natureza, prevendo que à moça faltariam sábios conselheiros, lhe houvesse juntado à beleza um ingrediente salvador, a esperteza, assim como dotara a raposa prateada, de valiosa pele, com uma argúcia superior à dos outros animais.

Masie era linda. Tinha cabelos de um louro intenso e o porte tranquilo de uma senhora a fazer demonstrações culinárias numa vitrina. Masie ficava a postos atrás do seu balcão na Grande Loja, e quando a gente fechava o punho para tirar a medida das luvas, ao fitar a moça, pensava logo em Hebe; e se a olhava novamente, punha-se a conjeturar em como passara ela pelos olhos de Minerva.

Quando o chefe do departamento não estava prestando atenção, Masie mascava tutti frutti; quando ele a observava, ela erguia os olhos para o céu e sorria pensativamente.

Esse é o sorriso das vendedoras de loja, e suplico ao leitor que o evite, a menos que esteja protegido por calosidade do coração, caramelos ou afinidade com as diabruras de Cupido. Tal sorriso pertencia às horas de folga de Masie e não à loja, mas o chefe deve ter o que lhe cabe. É o Shylock das lojas. Quando vem meter o nariz em algo, já se sabe que é para recolher benefício. Ostenta um olhar meloso sempre que contempla uma moça bonita. Naturalmente, nem todos os chefes de departamento são assim. Há poucos dias os jornais deram notícia de um com mais de oitenta anos de idade.

Certa feita, Irving Carter, pintor, milionário, turista, poeta e automobilista, entrou na Grande Loja. Cumpre dizer que ali não fora por vontade própria. O dever filial o agarrara pelo colarinho e o arrastara até a loja, enquanto sua mãe percorria a seção de estatuetas de bronze e terracota.

Carter dirigiu-se para o balcão de luvas a fim de matar o tempo. Sua necessidade de luvas era legítima; esquecera-se de trazer as suas. Mas seu ato de modo algum carece de justificativa, pois jamais ouvira falar de namoros em balcões de luvas. Ao se avizinhar do seu destino, hesitou, subitamente cônscio dessa desconhecida fase da menos valiosa das atividades de Cupido.

Três ou quatro gajos insignificantes, vestidos espalhafatosamente, inclinavam-se sobre o balcão, batalhando com os intercessivos protetores das mãos, enquanto moças casquinantes serviam-lhes de vivazes segundos no ataque à estridente corda da garridice. Carter deveria ter-se retirado, mas já se adiantara muito. Masie surgiu-lhe pela frente, por detrás do seu balcão, com um olhar inquiridor em olhos tão fria, bela e calidamente azuis quanto os lampejos do sol estival num iceberg a vogar pelos mares meridionais.

Foi então que Irving Carter, pintor, milionário, etc., sentiu um quente rubor subir-lhe às faces aristocraticamente pálidas. Mas não por falta de confiança em si próprio. O rubor era de origem intelectual. Percebeu imediatamente que passara à categoria dos jovens insignificantes que cortejavam as moças casquinantes em outros balcões. Ele próprio debruçou-se sobre o acarvalhado ponto de encontro de um Cupido popular, desejando, no íntimo, conquistar as boas graças de uma vendedora de luvas. Não era melhor do que Bill, Jack ou Mickey. Sentiu então uma certa tolerância para com eles e um desprezo resoluto e corajoso pelas convenções nas quais fora criado, além do firme propósito de conquistar essa criatura perfeita para si.

Depois de pagar as luvas e receber o embrulho, Carter demorou-se ainda alguns instantes. As covinhas nos cantos da boca rósea de Masie se acentuaram. Todos os cavalheiros que compravam luvas demoravam-se daquela maneira. Ela curvou o braço, que, como o de Psiquê, a manga de sua blusa deixava entrever, e apoiou o cotovelo sobre o vidro da montra.

Carter nunca antes se encontrara numa situação que não dominasse completamente. Agora, porém, estava mais atrapalhado do que Bill ou Jack ou Mickey. Não teria oportunidade de encontrar-se com aquela linda moça numa reunião social. Sua mente esforçou-se por recordar a natureza e os hábitos das mocinhas de loja, segundo o que deles soubera por leitura ou conversa. De qualquer maneira, tinha a noção que elas não faziam questão cerrada de uma apresentação formal. Seu coração pôs-se a bater violentamente ao pensamento de propor um encontro não convencional a essa linda e virginal criatura. O tumulto de seu coração, entretanto, deu-lhe coragem.

Depois de algumas observações amáveis e bem recebidas sobre assuntos gerais, colocou seu cartão perto da mão da moça, sobre o vidro.

— Perdoe-me, por favor, se lhe pareço atrevido — disse —, mas ferventemente espero que me dê o prazer de vê-la outra vez. Aqui está o meu nome; afianço-lhe que é com maior respeito que lhe peço a honra de ser um de seus am... conhecidos. Posso ter esperanças desse privilégio?

Masie conhecia os homens principalmente homens que compram luvas. Sem hesitar, encarou o rapaz francamente e disse, com olhos sorridentes:

— Claro. Acho que tem razão. Não saio habitualmente com estranhos. Não fica bem a uma moça. Quando desejaria ver-me de novo?

— Logo que me der licença — declarou Carter. — Se me permite ir buscá-la era sua casa, eu...

Masie deu uma risada cristalina.

— Oh, isso não! — exclamou enfaticamente. — Se visse nosso apartamento! Somos cinco a morar em três quartos. Só imagino a cara que mamãe faria se me visse entrar com um cavalheiro!

— Então, em qualquer outro lugar que lhe seja conveniente — disse o enamorado Carter.

— Olhe — sugeriu Masie, com um olhar radioso a iluminar-lhe a face aveludada —, acho que quinta-feira à noite está bem. Esteja na esquina da Oitava Avenida com a Rua Quarenta e Oito, às sete e meia, sim? Moro ali pertinho. Tenho porém, de estar de volta às onze. Mamãe nunca me deixa chegar mais tarde.

Carter, agradecido, prometeu comparecer ao encontro, e em seguida apressou-se a ir encontrar-se com a mãe, que o procurava para saber-lhe a opinião sobre uma Diana de bronze.

Uma vendedora de olhos miúdos e nariz obtuso achegou-se a Masie, com um amistoso olhar de soslaio.

— Agarrou o grã-fino, Masie? — perguntou, com familiaridade.

— O cavalheiro pediu licença para me visitar — respondeu Masie, dando-se ares, enquanto guardava o cartão de Carter no seio.

— Licença para visitá-la! — repetiu a dos olhos miúdos com um muxoxo. — Falou em jantar no Waldorf e dar um giro de carro depois?

— Ora, cale-se! — replicou Masie, aborrecida. — Você não está acostumada a coisas finas. Ficou despeitada desde que aquele cocheiro de carro pipa a levou a um restaurante chinês. Não, ele não mencionou o Waldorf; mas no seu cartão de visitas há um endereço da Quinta Avenida, e se ele me oferecer um jantar, pode estar certa de que não será onde os garçons usem rabicho!

Ao sair da Grande Loja com a mãe, na sua eletrizante baratinha, Carter mordeu o lábio, com uma dor imprecisa no coração. Sabia que o amor o visitara pela primeira vez nos vinte e nove anos de sua existência. E o fato de o objeto do seu amor ter aquiescido tão prontamente a um encontro de esquina, embora tal encontro representasse passo importante para a realização de seus desejos, o enchia de torturantes apreensões.

Carter não conhecia moças de loja. Não sabia que seu lar é, amiúde, um quarto minúsculo, mal habitável, ou uma casa abarrotada de parentes. Seu locutório é a esquina, o parque sua sala de visitas, a avenida seu jardim; todavia, na maioria dos casos, são tão impolutas e donas de si mesmas nesses locais quanto uma dama em seu aposento cheio de tapeçarias.

Certa tarde, ao crepúsculo, duas semanas após o primeiro encontro, Carter e Masie passeavam de braços dados num pequeno parque mal iluminado. Encontraram um banco retirado, sob uma árvore, e nele se sentaram.

Pela primeira vez, Carter passou gentilmente um dos braços ao redor da moça, que pousou a cabeça brônzeo-dourada no seu ombro.

— Chii! — suspirou ela, grata. — Por que nunca se lembrou disso antes?

— Masie — começou Carter, seriamente —, decerto já sabe que a amo. Peço-lhe, sinceramente, que se case comigo. Já me conhece o bastante para não ter dúvidas sobre mim. Amo-a e quero que me pertença. A diferença de nossas condições não me importa.

— Que diferença? — perguntou Masie, curiosa.

— Bem, não há nenhuma — respondeu Carter apressadamente —, exceto na mente de gente tola. Posso proporcionar-lhe uma vida de luxo. Minha posição social é inatacável e disponho de grandes recursos.

— Todos dizem isso — observou Masie. — É o engodo que oferecem. Suponho que, na realidade, você trabalhe numa mercearia ou nas corridas. Não sou inexperiente quanto pareço.

— Posso dar-lhe todas as provas que quiser — retrucou Carter, gentilmente. — Eu a quero, Masie. Amei-a desde o primeiro dia em que a vi.

— Isso acontece com todos — disse Masie, com um riso divertido —, pelo que dizem. Se eu encontrasse um homem que se embeiçasse por mim só na terceira vez, acho que ficaria caída por ele.

— Por favor, não diga essa coisas — suplicou Carter. — Ouça-me, querida. Desde que lhe fitei olhos pela primeira vez, você se tornou a única mulher do mundo para mim.

— Que brincalhão! — sorriu Masie. — A quantas já disse a mesma coisa?

Carter, porém insistiu. Finalmente, chegou até a pequenina alma, frágil e vibrátil, que existia alhures no âmago daquele seio adorável. Suas palavras penetraram um coração cuja mesma leviandade era sua maior armadura. Masie olhou Cárter com olhos que viam. E um colorido quente subiu-lhe às faces frias.

A tremer, convulsamente, suas asas de mariposa se fecharam e ela pareceu prestes a pousar na flor do amor. Iluminou-lhe a mente um débil clarão da vida, e de suas possibilidades, no lado de lá do balcão da luvaria. Carter sentiu a mudança e aproveitou a ocasião.

— Case-se comigo, Masie — murmurou suavemente. — Deixaremos esta feia cidade em busca de outras, lindas. Esqueceremos o trabalho e os negócios, e a vida será um longo feriado. Sei para onde vou levá-la. Lá já estive muitas vezes. Imagine uma praia onde o verão é eterno, onde as ondas estão sempre a murmurar na areia branca e onde a gente é livre e feliz como crianças. Viajaremos para essas praias e lá ficaremos enquanto você quiser. Numa dessas cidades longínquas há grandes e lindos palácios, e torres cheias de belos quadros e estátuas. As ruas da cidade são de água e nelas viajaremos em...

— Já sei — interrompeu Masie, aprumando-se subitamente. — Gôndolas.

— Isso mesmo — sorriu Carter.

— Logo pensei que fosse isso — declarou Masie.

— Então — prosseguiu Carter — continuaremos a viajar pelo mundo e visitaremos o que quisermos. Depois das cidades da Europa, veremos a Índia e suas velhas cidades, e andaremos em elefantes e conheceremos os templos maravilhosos dos hindus e dos brâmanes, e os jardins do Japão, e as caravanas de camelos, e as corridas de carros na Pérsia, e todas as vistas exóticas de países estrangeiros. Não acha que iria gostar, Masie?

Masie levantou-se.

— É melhor irmos para casa — disse friamente. — Está ficando tarde.

Carter concordou. Aprendera a conhecer-lhe o humor agreste e variável e sabia que era inútil contrariá-la. Sentia-se, porém, algo triunfante e feliz. Por um momento lograra prender, embora com fio de seda, a alma dessa Psiquê bravia, e tinha muita esperança. Por uma vez, fechara ela as asas e pousara a mão fria na sua,

Na Grande Loja, no dia seguinte, a companheira de Masie, Lulu, puxou-a para um canto do balcão.

— Como vai o romance com o seu grã-fino? — perguntou.

— Oh! aquele? — disse Masie, ajeitando os cachos do cabelo. — Tudo acabado. Olhe, Lu, sabe o que o sujeito queria que eu fizesse?

— Que entrasse para o teatro? — arriscou Lulu, sem fôlego.

— Não, não tem tanta classe assim. Queria que eu me casasse com ele e que fossemos passar a lua-de-mel em Coney Island*.
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* Coney Island = grande e famoso parque de diversões de Nova Iorque, onde se encontram réplicas miniaturais dos passeios descritos por Carter.
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O. Henry, pseudônimo de William Sydney Porter, nasceu em 11 de setembro de 1862, em Greensboro, Carolina do Norte/EUA. Ele teve uma infância marcada por várias mudanças, já que seu pai era um médico e sua mãe morreu quando ele era jovem. Em sua juventude, trabalhou em diversas funções, incluindo como balconista e farmacêutico. Em 1896, após ser acusado de desvio de fundos em seu trabalho como caixa em um banco, ele se mudou para a América do Sul, onde começou a escrever. Ao retornar aos Estados Unidos, ele adotou o pseudônimo O. Henry e começou a publicar contos em revistas, ganhando fama por suas narrativas envolventes e reviravoltas surpreendentes. O. Henry teve uma vida pessoal tumultuada, marcada por problemas financeiros e saúde. Ele faleceu em 5 de junho de 1910, em Nova York, mas deixou um legado duradouro na literatura com suas histórias que capturam a essência da vida urbana e a natureza humana. O. Henry é lembrado por seu estilo ágil e por suas histórias que frequentemente apresentam finais inesperados, tornando-o um dos mestres do conto curto na literatura americana.

Fontes: O. Henry. Caminhos do Destino. Contos. Publicado originalmente em 1909. Disponível em Domínio Público.  
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Dicas de Escrita (Como fazer a análise de um conto)

É importante considerar diversos aspectos que ajudam a entender e interpretar a história em profundidade. Vamos apresentar os tópicos que devem estar presentes para uma análise mais abrangente com exemplos em cada um deles:

1. Resumo da História
Faça um resumo conciso da trama, destacando os eventos principais e a sequência cronológica.

Exemplo: Em "A Cartomante" de Machado de Assis, a história segue Vilela, Camilo e Rita, e gira em torno de um triângulo amoroso e uma visita intrigante à cartomante que dá título ao conto.

2. Personagens
Analise os personagens principais e secundários, suas características, motivações, relacionamentos e desenvolvimento ao longo da história.

Exemplo: Em "O Gato Preto" de Edgar Allan Poe, o narrador é um personagem complexo que sofre uma transformação profunda de um amante de animais para um homem tomado pela loucura.

3. Ambiente (Cenário)
Descreva onde e quando a história se passa. Considere como o ambiente influencia a narrativa e os personagens.

Exemplo: Em "O Coração Delator" de Edgar Allan Poe, o ambiente sombrio e claustrofóbico da casa contribui para a atmosfera de tensão e suspense.

4. Tema
Identifique os temas centrais e subtemas do conto. Pense nas mensagens ou questões que a história levanta.

Exemplo: Em "O Alienista" de Machado de Assis, o tema central é a linha tênue entre sanidade e loucura, e a crítica à autoridade e à ciência.

5. Enredo
Analise a estrutura do enredo, incluindo a exposição, conflito, clímax e resolução. Veja como os eventos se desenrolam e como eles são conectados.

Exemplo: Em "A Dama do Cachorrinho" de Anton Tchekhov, o enredo acompanha o romance extraconjugal de Dmitri e Anna, culminando em um encontro emocionalmente carregado que redefine suas vidas.

6. Ponto de Vista (Narrador)
Determine o ponto de vista da narrativa (primeira pessoa, terceira pessoa, onisciente, etc.). Analise como a escolha do narrador afeta a percepção da história.

Exemplo: Em "A Queda da Casa de Usher" de Edgar Allan Poe, o narrador em primeira pessoa testemunha os eventos sobrenaturais, proporcionando uma perspectiva pessoal e subjetiva.

7. Estilo e Linguagem
Observe o estilo de escrita do autor, incluindo o uso de linguagem, figuras de linguagem, diálogos e descrições. Considere como esses elementos contribuem para a atmosfera e o impacto da história.

Exemplo: Em "A Metamorfose" de Franz Kafka, o estilo direto e quase clínico contrasta com a surrealidade da transformação de Gregor Samsa em um inseto.

8. Simbolismo e Metáforas
Identifique símbolos e metáforas utilizados no conto. Analise seu significado e como eles enriquecem a narrativa.

Exemplo: Em "O Morro dos Ventos Uivantes" de Emily Brontë, a casa Wuthering Heights simboliza a natureza selvagem e intempestiva dos personagens e seus conflitos.

9. Conflito
Identifique o conflito central e os conflitos secundários. Considere como eles impulsionam a ação e o desenvolvimento dos personagens.

Exemplo: Em "A Rosa Púrpura do Cairo", de Woody Allen, o conflito entre a fantasia do cinema e a realidade da vida de Cecilia é central para a narrativa.

10. Resolução e Conclusão
Analise como o conto chega à sua conclusão. Veja se a resolução dos conflitos é satisfatória e como ela afeta os personagens e a mensagem do conto.

Exemplo: Em "O Conto da Aia", de Margaret Atwood, a conclusão ambígua deixa o leitor refletindo sobre o futuro da protagonista e a natureza do regime totalitário em que ela vive.

EXEMPLO DE ANÁLISE

Vamos aplicar essas etapas a um conto famoso, "A Cartomante", de Machado de Assis:

1. Resumo da História:
A história segue Vilela, Camilo e Rita, que formam um triângulo amoroso. Camilo e Rita têm um caso, mas Rita fica preocupada com o futuro do relacionamento e consulta uma cartomante. A cartomante prevê um futuro positivo, mas o conto termina tragicamente com a morte de Camilo, assassinado por Vilela.

2. Personagens:
- Camilo: Jovem indeciso e ansioso em relação ao relacionamento com Rita.
- Rita: Mulher apaixonada e supersticiosa.
- Vilela: Marido traído que toma medidas drásticas.

3. Ambiente:
A história se passa no Rio de Janeiro do século XIX, com cenários urbanos que refletem a sociedade da época.

4. Tema:
Superstição versus realidade, amor e traição, destino e livre-arbítrio.

5. Enredo:
A narrativa segue a descoberta do caso amoroso, a consulta à cartomante, e a resolução trágica com o assassinato de Camilo.

6. Ponto de Vista:
Narrador em terceira pessoa onisciente, que proporciona uma visão completa dos pensamentos e ações dos personagens.

7. Estilo e Linguagem:
Machado de Assis utiliza uma linguagem formal e rica em detalhes, com descrições vívidas e diálogos realistas.

8. Simbolismo e Metáforas:
A cartomante simboliza a influência da superstição na vida dos personagens. O destino trágico de Camilo reflete a inevitabilidade das consequências de suas ações.

9. Conflito:
O conflito central é o triângulo amoroso e a tensão entre a superstição e a realidade.

10. Resolução e Conclusão:
O conto termina com a morte de Camilo, deixando uma reflexão sobre a influência da superstição e o poder das ações humanas.

Ao seguir essas etapas, você pode fazer uma análise detalhada e completa de qualquer conto, destacando seus principais elementos e temas.

Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas. Maringá/PR: Copilot – Plat. Poe.  Biblioteca Voo da Gralha Azul..
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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

José Feldman (Guirlanda de Versos) * 17 *



 JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Formado em patologia clínica, não concluiu o curso superior de psicologia. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais; trovador da UBT São Paulo e membro da Casa do Poeta “Lampião de Gás”. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com a escritora, poetisa e tradutora professora Alba Krishna mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, radicou-se definitivamente em Maringá/PR em 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras e de trovas, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras Brasil-Suiça, Academia de Letras de Teófilo Otoni, Confraria Brasileira de Letras, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia Virtual Brasileira de Trovadores, União Brasileira dos Trovadores, etc, possui o blog Singrando Horizontes desde 2007. Atualmente assina seus escritos por Campo Mourão/PR, onde pertence a entidades da região. Publicou mais de 500 e-books. Dezenas de premiações em trovas e poesias. 

Sílvio Romero (O jabuti e o veado)

O jabuti saiu a procurar seus parentes e encontrou-se com o veado. 

O veado perguntou-lhe: “Para onde vai você?”

O jabuti respondeu: “Vou chamar meus parentes para virem me ajudar na caçada grande da anta.” 

O veado falou assim: “Então você matou a anta? Vá chamar todos, que eu fico aqui; quero vê-los.” 

O jabuti disse então: “Eu já me vou; aqui mesmo quero esperar que a anta apodreça, tirar-lhe o couro para fazer uma gaita.” 

O veado falou desse modo: “Você matou a anta, agora quero eu apostar uma carreira com você.” 

O jabuti respondeu: “Espere por mim aqui; vou ver por onde hei de correr.”

O veado disse: “Quando você correr pelo outro lado, deve responder quando eu gritar.” 

O jabuti disse: “Já vou indo.”

O veado falou-lhe: “Agora nada de demoras... Eu quero ver a tua valentia.”

O jabuti falou assim: “Espera um pouquinho; deixa-me chegar à outra banda.”

Logo que chegou ali, chamou todos os seus parentes. Postou-os a todos pela margem do pequeno rio para responderem ao veado tolo. Depois falou assim:

— Ó veado, você já está pronto?

O veado respondeu: — Eu já estou pronto.

O jabuti perguntou: — Quem é que vai na dianteira?

O veado riu-se e disse: — Tu vais mais adiante, jabuti.

O jabuti não correu; enganou o veado e foi colocar-se mais adiante.

O veado estava seguro confiando nas suas pernas.

O parente do jabuti gritou pelo veado. O veado respondeu para quem lhe ficava atrás. Assim o veado falou: — Eis-me que vou aqui, tartaruga do mato!

O veado correu, correu, correu, depois gritou: — Jabuti!

Outro parente do jabuti respondeu sempre adiante. O veado disse: “Eu ainda vou beber água.”

Então o veado ficou calado.

O jabuti gritou, gritou, gritou... Ninguém lhe respondeu.

Disse então: — Aquele macho porventura morreu. Deixa-me ir vê-lo.

O jabuti disse aos seus companheiros:

— Eu vou sorrateiro para espreitá-lo.

O jabuti, quando saiu na margem do rio, disse assim: — Nem sequer cheguei a suar.

Então chamou pelo veado: — Veado!

O veado não deu resposta.

Quando os companheiros do jabuti olharam para o veado disseram: — Verdadeiramente, já está morto.

O jabuti disse: — Vamos tirar o osso.

Os outros perguntaram-lhe: — Para que é que tu o queres?

O jabuti respondeu: — Para eu assoprar por ele e tocar em qualquer tempo.
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SÍLVIO VASCONCELOS DA SILVEIRA RAMOS ROMERO (1851-1914) foi crítico e historiador da literatura brasileira. Fundador da Academia Brasileira de Letras.Pensador social, folclorista, poeta, jornalista, professor e político. Era sócio correspondente da Academia de Ciências de Lisboa. Nasceu na vila de Lagarto, Sergipe, em 1851. Em 1868 mudou-se para o Recife e ingressou na Faculdade de Direito. Polêmico, combativo e contraditório, foi influenciado por seu conterrâneo Tobias Barreto. Juntos, lideravam uma escola que reunia jovens inteligentes e destemidos, que se encarregavam de irradiar as recentes ideias vindas da França. Quando estava no 2º. Ano da faculdade, Sílvio Romero colaborou com vários jornais, entre eles, o Diário de Pernambuco, a República, o Liberal, o Correio de Pernambuco e o Americano. Em 1873 concluiu o curso de Direito. Em 1876 mudou-se para o Rio de Janeiro onde obteve a cátedra de filosofia. Ao defender sua tese, travou uma discussão com um de seus examinadores, o professor Coelho Rodrigues. A agressão resultou em um processo, que não teve consequências. Romero foi também professor da Faculdade Livre de Direito e da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro. Como poeta, Sílvio Romero teve uma breve carreira. O primeiro livro de poemas de Sílvio Romero foi Cantos do Fim do Século, lançado em 1878, em uma tentativa de aderir à poesia filosófica científica que pregava desde 1870 em artigos, mas que não obteve êxito. Em 1883 publicou Últimos Arpejos, seu segundo e último volume de poesia. Desenvolveu intensa atividade como escritor. Escreveu vários livros que abordavam praticamente tudo que se referia à realidade cultural brasileira como: filosofia, literatura, folclore, educação, política e religião. Publicou assuntos ligados à cultura popular revelando-se um grande folclorista. Escreveu sobre filosofia no Brasil e sobre escolas filosóficas diversas. Em 1878 escreveu Filosofia no Brasil, publicado em Porto Alegre. Sua obra História da Literatura Brasileira (1888), em dois volumes, menos uma história literária do que uma enciclopédia de conhecimentos sobre o Brasil, a origem e evolução de sua cultura, suas raízes sociais e étnicas, foi considerada sua obra mais revolucionária. Sílvio deixou uma vasta obra culturalmente valiosa e pioneira em muitos aspectos. Respeitado pela imprensa nacional, conquistou seu lugar como um dos mais importantes críticos e historiadores da literatura brasileira do século XIX. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 18 de junho de 1914.

Fontes:
Sílvio Romero. Contos populares do Brasil. Publicado originalmente em 1883. Disponível em Domínio Público. 
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Vereda da Poesia = Carolina Ramos

 

Estante de Livros ("Nove Vidas: Em Busca do Sagrado na Índia", de William Dalrymple)

William Dalrymple, renomado historiador e escritor britânico, apresenta em "Nove Vidas: Em Busca do Sagrado na Índia" (2009) uma obra fascinante que combina jornalismo, história e antropologia. O livro é um mergulho profundo nas complexas e ricas tradições espirituais da Índia contemporânea, narrado por meio de histórias de nove pessoas, cada uma representando um caminho espiritual único. Dalrymple explora a convivência entre modernidade e espiritualidade, mostrando como as práticas religiosas e culturais tradicionais se adaptam ou resistem às mudanças rápidas da sociedade indiana.

RESUMO DO LIVRO

“Nove Vidas” é estruturado como uma coleção de relatos biográficos, cada um dedicado a uma pessoa cuja vida é moldada por uma tradição espiritual específica. As histórias são baseadas em entrevistas realizadas por Dalrymple ao longo de anos, e cada uma é narrada com uma sensibilidade que combina respeito pela cultura retratada com uma abordagem jornalística objetiva. Abaixo está um breve resumo das nove histórias:

1. O Monge Jainista que Espera a Morte
 A história acompanha um monge jainista que pratica “sallekhana”, um ritual rigoroso de jejum até a morte. Ele reflete sobre renúncia, desapego e a disciplina espiritual extrema necessária para seguir esse caminho.

2. A Bailarina de Templo que Sobreviveu à Extinção do Devadasi
Uma mulher que foi uma "devadasi" (bailarina e serva de templo dedicada a uma divindade) fala sobre o declínio de sua tradição, agora associada a exploração sexual, e como ela tenta preservar o valor cultural e espiritual da dança.

3. O Cantor de Epopeias  
Um cantor de epopeias “rajasthani”* narra a tradição oral de sua comunidade, que envolve performances épicas transmitidas por gerações, mas agora ameaçadas pela modernidade e pela globalização.

4. A Mulher Possuída por uma Deusa  
Uma mulher de uma aldeia é possuída por uma deusa durante rituais religiosos. Sua história explora o papel das mulheres na religião popular indiana e a convivência entre possessões espirituais e a vida cotidiana.

5. O Peregrino Muçulmano que Caminha para a Redenção
A jornada de um homem que realiza peregrinações anuais a um santuário sufi, revelando o lado místico e inclusivo do Islã na Índia e as tensões entre o sufismo e o islamismo ortodoxo.

6. O Estalajadeiro que Era um Tântrico
Um estalajadeiro na Bengala Ocidental é também um seguidor do tantra, uma tradição espiritual envolta em mistério e frequentemente incompreendida. Sua história revela as práticas e crenças do tantrismo.

7. O Escultor de Imagens Sagradas
Um artesão que esculpe ídolos de divindades hindus reflete sobre seu trabalho como um ato de devoção, mas também como um meio de sustento em uma sociedade em mudança.

8. O Monge Tibetano que Escolheu a Guerra  
Um monge budista tibetano relembra como ele deixou a vida monástica para lutar contra a ocupação chinesa no Tibete, apenas para retornar à espiritualidade em busca de redenção.

9. O Baul*: Místico e Vagabundo  
Um cantor itinerante da tradição Baul, do estado de Bengala Ocidental, compartilha sua filosofia de vida, que rejeita convenções sociais e dogmas religiosos em favor de uma espiritualidade livre.

TEMAS CENTRAIS

A obra de Dalrymple é construída em torno de vários temas centrais, que se entrelaçam nas histórias individuais:

Espiritualidade em Transformação: 
O livro mostra como as tradições religiosas da Índia estão sendo moldadas pelas forças da modernidade, globalização e mudanças sociais. Algumas tradições estão desaparecendo, enquanto outras se adaptam às novas realidades.

Conflito entre Tradição e Modernidade: 
Muitas das histórias apresentam protagonistas que enfrentam dilemas ao tentar equilibrar práticas espirituais tradicionais com as pressões da vida contemporânea. Por exemplo, o cantor de epopeias luta para manter viva uma tradição oral em um mundo dominado pela tecnologia.

Diversidade Religiosa e Cultural: 
Dalrymple celebra a diversidade espiritual da Índia, com histórias que abrangem o hinduísmo, o jainismo, o budismo, o sufismo islâmico e tradições populares como o tantrismo e os Bauls. Essa diversidade reflete a riqueza cultural da Índia, mas também suas tensões internas.

Renúncia e Sacrifício: 
Muitos personagens do livro dedicam suas vidas a práticas que exigem sacrifício extremo, como o monge jainista que pratica “sallekhana” ou o escultor de ídolos que vê seu trabalho como um ato de devoção, mesmo enfrentando dificuldades econômicas.

Relação entre Religião e Identidade: 
As histórias mostram como as práticas espirituais moldam a identidade das pessoas, definindo quem elas são em suas comunidades e no mundo.

ESTRUTURA NARRATIVA E ESTILO

O escritor adota um estilo de escrita que é ao mesmo tempo lírico e jornalístico. Ele descreve as paisagens, rituais e emoções com uma riqueza de detalhes que transporta o leitor para o contexto de cada história. Ao mesmo tempo, ele mantém uma abordagem objetiva e respeitosa, permitindo que os protagonistas falem por si mesmos.

A estrutura do livro, com cada capítulo dedicado a uma pessoa, permite que o leitor mergulhe em cada tradição individualmente, ao mesmo tempo em que percebe os paralelos entre as diferentes histórias. Apesar da diversidade dos relatos, há uma coesão temática que une o livro como um todo.

REFLEXÕES FILOSÓFICAS E SOCIAIS

“Nove Vidas” é mais do que uma coleção de histórias espirituais; é também uma meditação sobre as mudanças sociais, políticas e econômicas que afetam a Índia contemporânea:

Impacto da Globalização: 
O livro aborda como a modernidade está afetando tradições antigas. Por exemplo, o cantor de epopeias enfrenta a perda de público e relevância em um mundo onde a cultura oral está sendo substituída por mídias digitais.

Resistência e Adaptação: 
Algumas tradições lutam para sobreviver, enquanto outras encontram maneiras de se adaptar. O tantrismo, por exemplo, continua a existir nas margens da sociedade, enquanto a dança devadasi tenta se reinventar como uma forma de arte culturalmente valorizada.

Questões de Gênero e Poder: 
As histórias de mulheres no livro, como a devadasi e a mulher possuída por uma deusa, destacam as complexidades do papel das mulheres nas tradições religiosas da Índia. Elas enfrentam tanto empoderamento espiritual quanto exploração social.

IMPORTÂNCIA CULTURAL E ANTROPOLÓGICA

Dalrymple oferece uma visão rara e íntima das tradições espirituais da Índia, muitas das quais estão desaparecendo ou sendo transformadas. O livro funciona como um registro cultural e histórico, preservando histórias que poderiam ser esquecidas em um mundo em rápida mudança.

Além disso, “Nove Vidas” desafia os estereótipos simplistas sobre a Índia, apresentando uma visão multifacetada de sua espiritualidade. Dalrymple mostra que a Índia não é apenas o lar de grandes religiões organizadas, mas também de uma miríade de práticas populares, místicas e sincréticas.

CRÍTICA E RELEVÂNCIA

Uma das maiores forças da obra é sua capacidade de humanizar pessoas cujas vidas são frequentemente reduzidas a curiosidades ou exotismos. Dalrymple dá voz a indivíduos que representam tradições espirituais, mas também têm dilemas humanos universais, como medo, amor, perda e esperança.

Por outro lado, algumas críticas apontam que o livro, apesar de sua sensibilidade, ainda reflete a perspectiva de um observador ocidental. Isso pode levar à romantização de certas práticas ou à ênfase em aspectos mais incomuns da espiritualidade indiana.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Nove Vidas: Em Busca do Sagrado na Índia” é uma obra rica e envolvente que combina narrativa literária com investigação antropológica. William Dalrymple oferece um retrato profundamente humano e multifacetado das tradições espirituais da Índia, explorando como elas resistem, se adaptam e às vezes desaparecem diante das mudanças do mundo contemporâneo. O livro não é apenas uma exploração das tradições religiosas da Índia, mas também uma reflexão sobre o que significa ser humano em um mundo em constante transformação.
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* Notas
Rajasthani = é uma língua indo-ariana do Oeste. É falada por cerca de 50 milhões de pessoas no Rajastão e em alguns outros estados da Índia (Gujarat, Haryana, Panjabe) e em algumas áreas do Paquistão, como no Sind e no Panjabe. No total são cerca de 80 milhões de falantes no mundo.

Baul = são um grupo de trovadores da região da Bengala, agora dividida em Bangladesh e Bengala Ocidental. São parte da cultura da Bengala rural. Dizem que eles foram influenciados grandemente pela seita tântrica hindu dos Kartabhajas. Os Bauls viajam em busca do ideal interno, Maner Manush (Homem do coração). A origem da palavra é discutível. Entretanto, é de comum acordo que ela vêem tanto do sânscrito batul, que significa insanidade divinamente inspirada ou byakul, que significa ansiar fervorosamente. A música dos Bauls, refere-se a um tipo particular de música folclórica cantada pelos Bauls. Carrega a influência dos movimentos de Bhakti Hindu tanto quanto shuphi, uma forma de música Sufi mediada por muitas milhas de intercâmbio cultural, exemplificada pelas canções de Kabir.A música Baul celebra o amor celestial, mas faz isso em termos bem terrenos. Com tal interpretação liberal de amor, é portanto natural que a música votiva Baul transcenda a religião, e algum dos compositores baul, tais como Lalon Fakir nasceram muçulmanos.
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WILLIAM BENEDICT HAMILTON-DALRYMPLE nasceu em Edimburgo/Escócia, em 1965, é um historiador, curador, locutor e crítico. Ele também é um dos co-fundadores e codiretores do maior festival de escritores do mundo, o anual Festival de Literatura de Jaipur. Os livros de Dalrymple ganharam inúmeros prêmios. O BBC documentário televisivo sobre a sua peregrinação à nascente do rio Ganges, "Shiva's Matted Locks", um dos três episódios dele na série Jornadas Indianas, que Dalrymple escreveu e apresentou, rendeu-lhe o Prêmio Grierson para Melhor Série Documental em BAFTA em 2002. Em 2018, foi premiado com o Medalha Presidente do Academia Britânica, a maior honra da academia em seu conjunto de prêmios e medalhas concedidos por "serviços notáveis à causa das ciências humanas e sociais. Foi nomeado Comandante do Ordem do Império Britânico (CBE) no homenagens ao aniversário de 2023 por serviços prestados à literatura e às artes. Ele é primo em terceiro grau de Rainha Camila, sobrinho-neto de Virgínia Woolf. Foi primeiro para Deli em 1984, e mora na Índia intermitentemente desde 1989. Os interesses de Dalrymple incluem a história e a arte de Índia, Paquistão, Afeganistão, o Oriente Médio, Hinduísmo, Budismo, o Jainistas e Cristianismo Oriental. Cada um de seus dez livros ganhou prêmios literários. Seus três primeiros foram livros de viagens baseados em suas viagens ao Oriente Médio, Índia e Ásia Central. Suas primeiras influências incluíram escritores de viagens como Roberto Byron, Eric Newby, e Bruce Chatwin. Ele compareceu à inauguração Festival de Literatura da Palestina em 2008, realizando leituras e oficinas em Jerusalém, Ramallah e Belém. Seu livro de 2009, Nove Vidas: Em Busca do Sagrado na Índia Moderna, e como todos os seus outros, foi para o primeiro lugar na lista de best-sellers de não ficção indiana. Após sua publicação, ele excursionou pelo Reino Unido, Índia, Paquistão, Bangladesh, Austrália, Holanda e EUA com uma banda composta por algumas das pessoas apresentadas em seu livro, incluindo Sufis, Faquires, Bauls. Dalrymple escreveu e apresentou a série de televisão em seis partes Pedras do Raj , as três partes Jornadas Indianas (BBC, agosto de 2002) e Alma Sufi (Canal 4, novembro de 2005). A trilogia de Jornadas Indianas consiste em três episódios de uma hora começando com Fechaduras foscas de Shiva que, ao traçar a origem do Ganga, leva Dalrymple em uma viagem para o Himalaia; a segunda parte, Cidade de Djinns, é baseado em seu livro de viagens de mesmo nome e dá uma olhada História de Delhi; por último, Duvidando de Thomas leva Dalrymple para os estados indianos de Kerala e Tamil Nadu, com o qual São Tomé, o Apóstolo de Jesus está intimamente associado.

Fontes:
Biografia: https://en.wikipedia.org/wiki/William_Dalrymple
José Feldman (org.). Estante de livros. Maringá/PR: I.A. Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Luiz Poeta (Nuvens de Sonhos) 09

 

Biografia completa de Luiz Poeta no link

Beatrix Potter (Timmy Ponta dos Pés)

Era uma vez um pequeno e confortável esquilo cinza chamado Timmy Pontas dos Pés. Ele tinha um ninho coberto de folhas no topo de uma árvore alta, e tinha uma pequena esposa esquilo chamada Goody.

Timmy Pontas dos Pés sentou-se, aproveitando a brisa, balançou o rabo e riu: “Olha, Goody, as nozes estão maduras; devemos fazer um estoque para o inverno e a primavera.” 

Goody Ponta dos Pés estava ocupada empurrando musgo sob a palha – “O ninho é tão confortável que dormiremos profundamente durante todo o inverno.” 

– “Então acordaremos mais magros, quando não houver nada para comer na primavera”, respondeu o prudente Timmy.

Quando Timmy e Goody chegaram ao matagal, eles descobriram que outros esquilos já estavam lá.

Timmy tirou a jaqueta e pendurou em um galho, eles trabalharam silenciosamente por si mesmos.

Todos os dias eles faziam várias viagens e colhiam grandes quantidades de nozes. Eles os carregavam em sacos e os guardavam em vários tocos ocos perto da árvore onde construíram o ninho.

Quando esses tocos ficaram cheios, eles começaram a esvaziar os sacos em um buraco no alto de uma árvore, que pertencera a um pica-pau. As nozes chacoalharam para baixo – para baixo – para dentro.

“Como você vai tirá-los de novo? É como uma caixa de dinheiro!” disse Goody.

“Estarei muito mais magro antes da primavera, meu amor”, disse Timmy, espiando pelo buraco.

Eles coletaram grandes quantidades – para não as perderem! Esquilos que enterram suas nozes no chão perdem mais da metade, porque não conseguem se lembrar do local.

O esquilo mais esquecido da floresta chamava-se Cauda Prateada. Ele começou a cavar e não conseguia se lembrar. E então ele cavou novamente e encontrou algumas nozes que não pertenciam a ele, e houve uma briga. Outros esquilos começaram a cavar também – toda a floresta estava em alvoroço!

Infelizmente, nesse momento um bando de passarinhos passou voando, de arbusto em arbusto, em busca de lagartas verdes e aranhas. Havia vários tipos de passarinhos, cantando diferentes canções.

O primeiro cantava: “Quem está desenterrando minhas nozes? Quem está desenterrando minhas nozes?”

E outro cantava: “Pedacinho de pão e sem queijo! Pedacinho de pão e sem queijo!”

Os esquilos seguiram e ouviram. O primeiro passarinho voou para o mato onde Timmy e Goody estavam silenciosamente amarrando suas sacolas e cantou: “Quem está desenterrando minhas nozes? Quem está desenterrando minhas nozes?”

Timmy Ponta dos Pés continuou seu trabalho sem responder; de fato, o passarinho não esperava uma resposta. Estava apenas cantando sua canção natural, e não significava nada.

Mas quando os outros esquilos ouviram aquela música, eles correram para Timmy, o amarraram e arranharam, e derrubaram seu saco de nozes. O inocente passarinho que havia causado todo o mal voou assustado!

Timmy rolou várias vezes e então virou o rabo e fugiu em direção ao seu ninho, seguido por uma multidão de esquilos gritando – “Quem está desenterrando minhas nozes?”

Eles o pegaram e o arrastaram para cima da mesma árvore, onde havia o pequeno buraco redondo, e o empurraram para dentro. O buraco era muito pequeno para a figura de Timmy Ponta dos Pés. Eles o apertaram terrivelmente, foi uma maravilha que não quebraram suas costelas. “Vamos deixá-lo aqui até que ele confesse”, disse Cauda Prateada, e gritou para o buraco:

“Quem-desenterrou-as-minhas-nozes?”

Timmy Ponta dos Pés não respondeu, ele havia caído dentro da árvore, sobre meio pacote de nozes pertencentes a ele. Ele ficou bastante atordoado e imóvel.

Goody pegou os sacos de nozes e foi para casa. Ela fez uma xícara de chá para Timmy, mas ele não veio.

Goody Ponta dos Pés passou uma noite solitária e infeliz. Na manhã seguinte, ela se aventurou de volta aos arbustos de nogueira para procurá-lo, mas os outros esquilos indelicados a afastaram.

Ela vagou por toda a floresta, chamando…

“Timmy Ponta dos Pés! Timmy Ponta dos Pés! Oh, onde está o Timmy Ponta dos Pés?”

Nesse ínterim, Timmy caiu em si. Ele se viu enfiado em uma pequena cama de musgo, bem no escuro, sentindo-se dolorido, parecia estar sob o solo. Timmy tossiu e gemeu, porque suas costelas doíam. Houve um barulho alegre, e um pequeno esquilo listrado apareceu com uma luz noturna, e perguntou se ele estava bem.

Foi muito gentil com Timmy Ponta dos Pés, emprestou-lhe o gorro, e a casa estava cheia de provisões.

O Esquilo explicou que tinha chovido nozes no topo da árvore – “Além disso, encontrei algumas enterradas!” 

Ele riu e riu quando ouviu a história e enquanto Timmy estava confinado à cama, ele tinha vontade de comer grandes quantidades – “Mas como poderei sair por aquele buraco a menos que eu emagreça? Minha esposa ficará ansiosa!” 

“Apenas mais uma noz – ou duas nozes; deixe-me quebrá-las para você”, disse o Esquilo. 

Timmy engordou cada vez mais!

Agora Goody voltou a trabalhar sozinha. Ela não colocou mais nozes na toca do pica-pau, porque sempre duvidou de como poderiam ser tiradas de novo. Ela as escondeu sob a raiz de uma árvore, enfiava para baixo, para baixo, para baixo. Uma vez, quando Goody esvaziou um saco extra grande, houve um guincho decidido, e da próxima vez que Goody trouxe outro saco cheio, uma pequena esquila listrada saiu às pressas.

“Está ficando lotado lá embaixo, a sala de estar está cheia e eles estão rolando pelo corredor, e meu marido, Chippy Hackee, fugiu e me deixou. Qual é a explicação dessas chuvas de nozes?”

“Peço seu perdão; eu não sabia que alguém morava aqui”, disse a Sra. Goody Ponta dos Pés; “mas onde está Chippy Hackee? Meu marido, Timmy Ponta dos Pés, também fugiu.” 

“Eu sei onde Chippy está, um passarinho me contou”, disse a Sra. Chippy Hackee.

Ela liderou o caminho até a árvore do pica-pau, e elas escutaram no buraco.

Lá embaixo ouvia-se um barulho de quebra-nozes, e uma voz de esquilo gordo e uma voz de esquilo fino cantavam juntas:

“Meu velhinho e eu brigamos,
Como devemos resolver este desafio?
Traga o melhor que amamos,
E vá embora, seu velhinho!”

“Você pode se espremer por aquele pequeno buraco redondo”, disse Goody Ponta dos Pés. 

“Sim, eu poderia”, disse a Esquila, “mas meu marido, Chippy Hackee, morde!”

Lá embaixo havia um barulho de nozes quebrando e mordiscando; e então a voz do esquilo gordo e a voz do esquilo magro cantaram:

“Para o dia diddlum
Dia diddle dum di!
Dia diddle diddle dum dia!”

Então Goody espiou pelo buraco e gritou: “Timmy Ponta dos Pés! Oh, Timmy Ponta dos Pés!” 

E Timmy respondeu: “É você, Goody Ponta dos Pés? Ora, certamente!”

Ele se aproximou e beijou Goody pelo buraco, mas ele era tão gordo que não conseguia sair.

Chippy Hackee não era muito gordo, mas não queria sair, ficou lá embaixo e riu.

Assim continuou por quinze dias, até que um vento forte soprou do topo da árvore, abriu o buraco e deixou a chuva entrar.

Então Timmy Ponta dos Pés saiu e foi para casa com um guarda-chuva.

Mas Chippy Hackee continuou acampando por mais uma semana, embora fosse desconfortável.

Por fim, um grande urso veio andando pela floresta. Talvez ele também estivesse procurando nozes, ele parecia estar farejando ao redor.

Chippy Hackee foi para casa com pressa! E quando Chippy Hackee chegou em casa, descobriu que havia pegado um resfriado, e ele estava ainda mais desconfortável.

E agora Timmy e Goody Ponta dos Pés mantêm sua loja de nozes fechada com um pequeno cadeado.

E sempre que aquele passarinho vê os Esquilos, ele canta: “Quem está desenterrando minhas nozes? Quem está desenterrando minhas nozes?” 

Mas ninguém nunca responde!
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HELEN BEATRIX POTTER (Londres, 1866 — Lakeland/Inglaterra, 1943) foi uma escritora, ilustradora, micologista e conservacionista inglesa, célebre por seus livros infantis de grande originalidade e valor intemporal. Sua obra mais famosa é A História do Pedro Coelho. Ela estudou em casa e recebeu das governantas uma educação vitoriana.  O Coelho Benjamim foi uma das primeiras personagens que Beatrix Potter vendeu a uma editora. Beatrix começou por ilustrar contos tradicionais como "Cinderela", "A Bela Adormecida", "Ali Babá e os Quarenta Ladrões", "O Gato das Botas" etc, mas muitas das suas ilustrações incluíam os seus animais de estimação. Beatrix Potter teve bastantes dificuldades em encontrar uma editora que publicasse as suas histórias. Depois de receber várias cartas de rejeição, ela decidiu tratar do assunto sozinha e criou um livro pequeno a preto e branco com a histórias dos quatro coelhinhos e publicou 250 cópias do mesmo que pagou com o seu próprio dinheiro. Frederick Warne & Co, que já tinha rejeitado as histórias de Beatrix, decidiu publicar o que apelidou de "livro dos coelhinhos". A mudança de posição deveu-se ao fato de a editora querer entrar no mercado dos livros infantis de formato pequeno. A História do Pedro Coelho foi publicado em 1902 e foi um enorme sucesso, vendendo 20 000 cópias até ao Natal desse ano. No ano seguinte, foram publicados A História do Esquilo Trinca-Nozes e O Alfaiate de Gloucester. Nos anos seguintes, Beatrix trabalhou com o editor Norman Warne e publicou entre dois e três livros de formato pequeno todos anos, atingindo um total de 23 obras publicadas na sua carreira. Em 1905, Beatrix e Norman Warne, o seu editor, ficaram noivos. O noivado foi mantido em segredo pois a família de Beatrix desaprovava um noivo que vivia de sua profissão de editor, por considerá-lo de classe inferior. Tragicamente, em 25 de agosto de 1905, um mês depois do pedido, Norman morreu de leucemia, quando tinha 37 anos. Isso deixou Beatrix devastada, mas ela fez o máximo para superar esse momento difícil, trabalhando ainda mais do que o costume. Em 1913, aos quarenta e sete anos, Beatrix casou-se com William Heelis, um procurador local, e foi morar em Sawrey. Ela passou a desenhar e a escrever menos, dedicando-se às atividades da fazenda, à criação de carneiros e a comprar muitas terras em Lakeland, para preservá-las. Quando Beatrix Potter morreu, em 1943, deixou mais de 4 000 acres e 15 fazendas para o National Trust, uma organização destinada a preservar lugares de interesse histórico ou de grande beleza cênica, na Inglaterra. Beatrix e William tiveram um casamento feliz que durou trinta anos. Apesar de não terem filhos, Beatrix era um elemento importante da família de William e teve uma relação muito próxima com as suas sobrinhas, que ajudou a educar. Beatrix faleceu em 1943, devido a uma pneumonia e complicações cardíacas em sua residência, chamada Castle Cottage, localizada em Lake District. Os seus restos mortais foram cremados. O seu marido continuou cuidando das propriedades e do trabalho literário e artístico da esposa até à sua morte, em agosto de 1945. Em 2006, a vida de Beatrix Potter foi transformada em um filme, Miss Potter, com Renée Zellweger e Ewan McGregor como protagonistas. 

Fontes:
Beatrix Potter (escritora e ilustradora). O conto do sr. Timmy Ponta dos Pés foi publicado originalmente em 1911 como “The tale of Timmy Tiptoes”. Disponível em Domínio Público, no Projeto Gutemberg.
Biografia =https://pt.wikipedia.org/wiki/Beatrix_Potter
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José Feldman (No Silêncio da Madrugada)

A casa estava mergulhada em um silêncio profundo, interrompido apenas pelo estalo ocasional de uma madeira antiga ou pelo leve sussurro do vento que entrava pelas frestas das janelas. Era uma madrugada como tantas outras, e enquanto o mundo lá fora dormia, eu me encontrava acordado, preso em um ciclo interminável de pensamentos e insônia.

Olhei para o relógio na parede. 3:17 da madrugada. A luz azulada do mostrador parecia zombar de mim, como se dissesse: "Outra vez, você está aqui!!" 

Levantei-me da cama, sabendo que a melhor opção era me mover, mesmo que isso significasse vagar pela casa em busca de um pouco de paz.

Os corredores pareciam mais longos àquela hora. Cada passo ecoava, e a sensação de solidão se acentuava. A cozinha era meu primeiro destino. Abri a geladeira, não por fome, mas pela esperança de que um copo de água gelada poderia trazer algum alívio. O barulho do motor da geladeira ressoava como um mantra, e eu me peguei pensando em quantas vezes, nas últimas semanas, havia me encontrado nesse mesmo ritual.

Depois de um gole de água, caminhei até a sala. A luz da televisão estava apagada, e a escuridão envolvia tudo, exceto pelas sombras projetadas pela luz da rua que filtrava pelas cortinas. Sentei-me no sofá, tentando me distrair com os pensamentos que insistiam em me perseguir. Era como se cada preocupação que eu havia empurrado para o fundo da mente durante o dia tivesse decidido emergir naquelas horas silenciosas.

Lembrei-me de um amigo que sempre dizia que as horas da madrugada eram um campo de batalha. Era verdade. Ali, no silêncio, os pensamentos se tornavam monstros, e eu lutava para não sucumbir a eles. As preocupações financeiras, as inseguranças sobre o futuro, e até mesmo as pequenas frustrações do dia a dia se tornavam gigantes, ameaçando me engolir.

Levantei-me do sofá e comecei a vagar pela casa novamente. Passei pelo quarto de minha irmã, onde ela dormia tranquilamente, alheia à tempestade que se desenrolava em minha mente. Olhei para ela, a respiração calma e serena, e me perguntei como consegui-la dar tanta paz enquanto eu me via preso em um ciclo de ansiedade. O desejo de protegê-la me preenchia, mas também me lembrava das minhas próprias vulnerabilidades.

Segui em frente, indo para o banheiro. O espelho refletia a imagem de alguém que parecia um estranho. O que pouco restou dos cabelos, bagunçados, olheiras profundas que contavam a história de semanas sem dormir direito. Lavei o rosto, esperando que a água fria pudesse me trazer um pouco de clareza. Ao invés disso, só consegui ver a mesma expressão de cansaço e frustração.

Decidi então pegar um livro da estante. A leitura sempre foi um refúgio, uma forma de escapar da realidade. Coloquei o livro na mesa de café, mas as palavras dançavam diante dos meus olhos, sem conseguir se fixar na mente. A insônia transformara minha mente em uma névoa densa, onde a concentração era um luxo que eu não podia me dar.

A cada minuto que passava, a madrugada parecia se estender. Era um paradoxo: quanto mais eu desejava o sono, mais distante ele parecia. Decidi abrir a janela para respirar um pouco do ar fresco da noite. A brisa suave acariciou meu rosto, trazendo consigo o cheiro de terra molhada e o eco distante de risadas que vinham de algum lugar não muito longe, talvez de um bar. O mundo estava acordado de alguma forma, enquanto eu lutava contra a própria sombra.

Olhei para o céu, onde as estrelas brilhavam como pequenos faróis. Pensamentos filosóficos começaram a surgir. O que era a insônia, senão um reflexo de uma mente inquieta? A busca por respostas, a incessante necessidade de entender o que não pode ser entendido, me levaram a refletir sobre a vida e suas complexidades. 

Finalmente, decidi que era hora de tentar novamente dormir. Voltei para o quarto, onde o lençol ainda estava quente, como se tivesse esperado por mim. Deitei-me, tentando relaxar e esvaziar a mente. Fechei os olhos e respirei fundo, mas em vez de encontrar a tranquilidade, a insônia continuava a me abraçar.

E assim, mais uma vez, a madrugada se arrastou, e eu continuei a vagar, não apenas pela casa, mas por um labirinto de pensamentos. Uma luta silenciosa que muitos enfrentam, mas que poucos compartilham. A insônia não era apenas um inimigo, mas um lembrete de que, mesmo na solidão da madrugada, havia uma vida pulsante, cheia de desafios e esperanças.

Quando finalmente o primeiro raio de sol começou a entrar pela janela, eu me sentia exausto, mas algo dentro de mim tinha mudado. Acordar para um novo dia, mesmo após uma noite sem sono, trazia consigo a promessa de novos começos. Afinal, a vida, com todas as suas dificuldades, continuava a fluir como um rio, e eu, apesar da insônia, ainda fazia parte dessa correnteza.

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: A.I.Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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