FABIANA GONÇALVES DA VEIGA
Balneário Camboriú/SC
Eu sinto grande emoção
ao ver o mar, e então, canto
com amor no coração
o mais suave acalanto!
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Poema de
CLARISSE CRISTAL
Balneário Camboriú/SC
Algaravia
Encontrei as chaves perdidas de papai
Estavam lá, estáticas e bem seguras
Na algibeira interna
Do meu sobretudo negro
Agora sou eu que não me encontro mais
Acordo pelo amanhã
E contíguo a mim
Uma angústia
Infinda
De ser uma outra pessoa
Alheia do que fui até a pouco
Desaprendi
A compor em versos com poesia
Desaprendi a contemplar o vago
E o vazio inquebrantável
Do noturno silêncio oblíquo
Em noite perdida no campo santo
Encontrei as outrora chaves perdidas de papai
Agora a luz do dia faina
O meu corpo oco e insípido
Inerte em duas rodas velozes
Encontrei as chaves perdidas de papai
E minha nova paixão
Surge sempre benfazeja
Ao final do expediente
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Trova de
JULIANA APPEL
Brusque/SC
Sua boca tem segredos,
e assim, você me seduz,
revelo então, os meus medos
que nem a noite reluz!
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Poema de
FABIANE BRAGA LIMA
Rio Claro/ SP
Alma de poeta
Meus versos se rasgaram com o tempo,
As minhas mãos calejadas sangraram,
Ao escrever infindos poemas.
Hoje sou o grito intenso das madrugadas,
Sou o silêncio árduo em forma de rimas,
Sou a alma do poeta que derrama lágrimas...
A cada lágrima, nasce uma nova poesia...!
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Trova de
MARIA HELENA CALAZANS DUARTE
São Paulo/SP
Por vingança o centro-avante,
que há muito tempo vai mal,
fez gol contra fulminante
a um segundo do final.
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Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ ES
Amada
Que bom que acreditastes
Na minha volta, paixão
Se magoei teu coração
Perdoa, eis-me aqui
Acabou tua infelicidade
Sou tua Felicidade:
voltei pra ficar.
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
Já pronta e de vela içada
tremulando de ansiedade,
vai para o mar a jangada
carregada de saudade!
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Poema de
SOUSÂNDRADE
Guimarães/ MA 1833 – 1902, São Luís/ MA
Inverno
Salve! felicidade melancólica,
Doce estação da sombra e dos amores-
Eu amo o inverno do equador brilhante!
A terra me parece mais sensível.
Aqui as virgens não se despem negras
À voz do outono desdenhoso e déspota,
Ai delas fossem irmãs, filhas dos homens!
Aqui dos montes não nos foge o trono
Dessas aves perdidas, nem do prado
Desaparece a flor. A cobra mansa,
Cor d’azougue, tardia, umbrosa e dútil,
No marfim do caminho endurecido
Serpenteia, como onda de cabelos
Da formosura no ombro. À noite a lua,
Qual minha amante d’inocente riso,
Co’a face branca assenta-se nas palmas
Da montanha estendendo os seus candores,
Mãe da poesia, solitária, errante:
O sol nem queima o céu como os desertos,
Simpáticas manhãs é sempre o dia.
Geme às canções d’aldeia apaixonadas
Mui saudoso violão: as vozes cantam
Com náutico e celeste modulado.
Chama às tácitas asas o silêncio
Ao repouso, aos amores: as torrentes
Prolongam uma saudade que medita:
Vaga contemplação descora um pouco
O adolescente e o velho: doce e triste
Eu vejo o meu sentir a natureza
Respirar do equador, selvagem bela
De olhos alados de viver, à sombra
Adormecendo d’árvore espaçosa.
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Trova Humorística de
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG
Minha insensata paixão
passou – transpondo barreiras –
das fronteiras da ilusão
para a ilusão sem fronteiras...
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Poema de
EDITH CHACON THEODORO
São Paulo/SP
Ler
Ler.
Ler sempre.
Ler muito.
Ler “quase tudo”.
Ler com os olhos, os ouvidos, com o tato,
pelos poros e demais sentidos.
Ler com razão e sensibilidade.
Ler desejos, o tempo,
o som do silêncio e do vento.
Ler imagens, paisagens, viagens.
Ler verdades e mentiras.
Ler o fracasso, o sucesso, o ilegível,
o impensável, as entrelinhas.
Ler na escola, em casa, no campo,
na estrada, em qualquer lugar.
Ler a vida e a morte.
Saber ser leitor,
tendo o direito de saber ler.
Ler simplesmente ler.
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Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
O espelho não me enganou,
sem disfarce, esse sou eu:
um jovem que não sonhou,
um velho que não viveu!
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Hino de
INDIAROBA/ SE
Era começo do século XVIII
Catecúmenos vieram aqui se instalar
Em incursão entre os bravos silvícolas
Para a antiga "Feira da Ilha" habitar
Sobre as águas do rio que nos banha
Os imigrantes conseguiram aqui chegar
E entre os quais vieram ilustres jesuítas
Com a missão de evangelizar.
Abençoada seja Indiaroba
Recanto amado, hospitaleiro e sacrossanto
Iluminada seja Indiaroba
com a luz do Divino Espírito Santo
Disputaram os dois fortes caciques
capitães-mor: José de Oliveira Campos
e Manoel Francisco da Cruz e Lima
pela posse da Vila do Espírito Santo.
Se seria de Sergipe ou da Bahia,
foi decidido através Decreto-Lei
sendo, pois, a divisa o Rio Real da Praia
Ganhou a posse Sergipe Del-Rei!
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Não lamento o meu passado,
nem mesmo o tempo me ofende.
Viver é um aprendizado
quem mais vive mais aprende.
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Poema de
RAINER MARIA RILKE
Praga/ Tchecoslováquia (1875 – 1926)
O homem que lê
Eu lia há muito. Desde que esta tarde
com o seu ruído de chuva chegou às janelas.
Abstraí-me do vento lá fora:
o meu livro era difícil.
Olhei as suas páginas como rostos
que se ensombram pela profunda reflexão
e em redor da minha leitura parava o tempo. —
De repente sobre as páginas lançou-se uma luz
e em vez da tímida confusão de palavras
estava: tarde, tarde… em todas elas.
Não olho ainda para fora, mas rasgam-se já
as longas linhas, e as palavras rolam
dos seus fios, para onde elas querem.
Então sei: sobre os jardins
transbordantes, radiantes, abriram-se os céus;
o sol deve ter surgido de novo. —
E agora cai a noite de Verão, até onde a vista alcança:
o que está disperso ordena-se em poucos grupos,
obscuramente, pelos longos caminhos vão pessoas
e estranhamente longe, como se significasse algo mais,
ouve-se o pouco que ainda acontece.
E quando agora levantar os olhos deste livro,
nada será estranho, tudo grande.
Aí fora existe o que vivo dentro de mim
e aqui e mais além nada tem fronteiras;
apenas me entreteço mais ainda com ele
quando o meu olhar se adapta às coisas
e à grave simplicidade das multidões, —
então a terra cresce acima de si mesma.
E parece que abarca todo o céu:
a primeira estrela é como a última casa.
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Trova de
RODOLPHO ABBUD
Nova Friburgo/RJ 1926 – 2013)
Aproveita, criançada,
o tempo, alegre, ligeiro,
que dá a uma simples calçada
dimensões do mundo inteiro!
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