MÚCIO SCÉVOLA LOPES TEIXEIRA
Porto Alegre/RS
Ante o chão amplo e fecundo
que nos guarda o teto e o pão,
qualquer queixa contra o mundo
é simples ingratidão.
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Poema de
VIRIATO DA CRUZ
Porto Amboim/ Angola, 1928 – 1973, Pequim/ China
Namoro
Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando
de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas
Sua pele macia - era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce - como o maboque*...
Seus seios, laranjas - laranjas do Loje
seus dentes... - marfim...
Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.
Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou:
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou
Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo, rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigênia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.
Levei á Avo Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.
Esperei-a de tarde, á porta da fabrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficamos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor... e ela disse que não.
Andei barbudo, sujo e descalço,
como um mona-ngamba**.
Procuraram por mim
"-Não viu...(ai, não viu...?) não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.
Para me distrair
levaram-me ao baile do Sô Januario
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso
as moças mais lindas do Bairro Operário.
Tocaram uma rumba - dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim !"
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.
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* Maboque = Fruto do maboqueiro, de tamanho e cor de uma laranja, casca dura e polpa aromática, sumarenta e agridoce. (Dic. Priberam)
** Mona-ngamba = serviçal, moço de fretes. (Infopedia)
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Trova de
SARAH RODRIGUES
Belém/PA
Perguntei para uma estrela
que encontrei à beira-mar:
- O que faço para tê-la
se você pertence ao mar?
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Poema de
EUGÉNIO DE SÁ
Lisboa/ Portugal
Fome de Beijos
Nunca gostei de beijos de rotina
Aqueles beijos fugazes, não sentidos
Que se dão como acenos devolvidos
Sem emoções brilhando na retina
Não! — Os beijos devem vir do coração
Sejam aqueles que trocam as salivas
Ou os castos, que damos a um irmão
Todos são comoções em nossas vidas
Pois que o beijar é um ato de nobreza
De quem faz desse gesto um ponto alto
Para mostrar um querer, sem sutileza
E então o Ser beijado, em sobressalto
Perde a noção de tudo, e em ligeireza
Responde com fulgor ao doce assalto!
Beijos que tornam-se rotina
São beijos de amores mornos
Gosto de beijos ardentes, quentes
Que dão início a prelúdios de amor
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Trova de
CORNÉLIO PIRES
Tietê/SP (1884 – 1958)
Da multidão dos enfermos
que sempre busco rever,
o doente mais doente
é o que não sabe sofrer.
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Poema de
AFONSO FÉLIX DE SOUZA
Jaraguá/GO, 1925 – 2002, Rio de Janeiro/RJ
Canção da Noite Nua
Noite sem alma
Noite sem vozes roucas
assombrando o silencio.
Noite nua.
Passos incertos
duro como o asfalto
e pensamentos leves
guiando-me os passos.
Indiferença do luar.
Na rua triste
paradas súbitas.
No olhar o medo ingênuo
da infância que não morre.
Risos de mulher
atrás da janela fechada.
Desejos rápidos
a apressar os passos...
A memória murmura
confidências,
que o silêncio apaga.
Noite sem véu.
Noite que tem a clara nudez da alma
que sonha no escuro.
Desejos leves de amor a guiar os passos
e essa ânsia incontida de sonhar
que como a infância
não morre nunca.
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
Em cada beijo roubado,
que roubo de ti, meu bem,
sinto o gosto do pecado
que o beijo roubado tem.
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Poema de
ALPHONSUS DE GUIMARAENS FILHO
Mariana/MG (1918 – 2008) Rio de Janeiro/RJ
Canção
O leve vento me leve
Para as praias de além-mar.
O leve vento me leve...
Para em luzes me banhar.
Quero um sopro de inocência
Que afoga os caminhos mortos
Onde estaria a saudade
E treme na luz das velas
Nos velórios de além-mar?
Quero fugir da loucura
Que prende os corpos no mar.
Em tudo que me esperava
Jamais pureza encontrei.
Fui gemido, tédio, noite,
Fui vagabundo e fui rei.
E me buscando no mundo
No mundo não me encontrei.
O leve vento me leve,
Para as praias de além-mar.
O leve vento me leve,
Me deste em praias macias,
Me deste as bocas macias
Nas namoradas do mar.
Quero um sopro de inocência .
Para em luzes me banhar.
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Trova de
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG
Não prometo, em nossa história,
meu amor por toda a vida,
porque a vida é transitória,
e meu amor, sem medida!...
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Poema de
ANTONIO ROBERTO FERNANDES
São Fidélis/RJ (1945 – 2008)
Mas...
E eu que achei que a lua não brilhasse
Sobre os mortos no campo da guerrilha
Sobre a relva que encobre a armadilha
Ou sobre o esconderijo da quadrilha,
Mas, brilha...
Eu achei que nenhum pássaro cantasse
Se um lavrador não mais colhe o que planta
Se uma família vai dormir sem janta
Com um soluço preso na garganta,
Mas, canta...
Também pensei que a chuva não regasse
A folha cujo leite queima e cega
A carnívora flor que o inseto pega
Ou o espinho oculto na macega,
Mas, rega...
Pensei também, que o orvalho não beijasse.
A venenosa cobra que rasteja
No silêncio da noite sertaneja
Sobre as ruínas da esquecida igreja,
Mas, beija...
Imaginei que a água não lavasse
O chicote que em sangue se deprava
Quando de forma monstruosa e brava
Abre trilha de dor na pele escrava
Mas, lava...
Apostei que nenhuma borboleta
Por ser um vivo exemplo de esperança,
Dançaria contente, leve e mansa.
Sobre o túmulo
Em flor de uma criança,
Mas, dança...
Por isso achei que eu não mais fizesse
Poema algum após tanto embaraço
Tanta decepção, tanto cansaço.
E tanta esperança em vão por teu abraço,
Mas, faço...
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Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
Melhor sorrir na pobreza
que ser rico na apatia,
pois fartura sobre a mesa
não enche a vida vazia!
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Hino de
PAUDALHO/PE
Paudalho linda flor da mata
som da serenata que embalou Ceci.
Paudalho recanto ditoso
berço glorioso do imortal Poti.
Paudalho terra dos engenhos,
tem o céus empenhos a te coroar.
Paudalho página de glória
que o livro da história sabe embelezar.
Ah na alma do teu povo
um encanto sempre novo
um requinte de bondade
que tuas portas vão abrindo para a hospitalidade.
Paudalho linda flor da mata
som da serenata que embalou Ceci.
Paudalho recanto ditoso
berço glorioso do imortal Poti.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Não condeno a caminhada
culpo sim, meus passos falhos.
Foi bem larga a minha estrada
fui eu quem buscou atalhos.
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Poema de
ALEXANDRE O’NEILL
Lisboa/Portugal (1924 - 1986)
Há palavras que nos beijam
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
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Trova de
GERALDO PIMENTA DE MORAES
Pouso Alegre/MG
Esperança - bem que enleva
nossa vida, no presente;
- um raio de luz na treva
do incerto amanhã da gente.
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