quarta-feira, 5 de abril de 2023

Amélia Luz (A arte é vida)


A arte é vida em grandeza 
brotando na nossa alma
em fantasia e em calma 
formando a nossa identidade
em total liberdade. 

No singelo, no belo,
no imenso, no profundo, 
nas estrelas incontáveis dos mistérios 
deste mundo colossal e fecundo.

A arte é ritmo na batuta mestra do maestro,
nos acordes e nas sinfonias musicais, em espirais.
No teatro, em drama ou comédia,
 no riso ou na tragédia,
a arte é um caminho iluminado sem fim.

É palco, luzes, ribalta e vida na beleza da dança,
na expressão corporal sublime
que suave delineia e define
o entusiasmo, a emoção, 
a coreografia em explosão
que nos faz sentir a sedução 
dos movimentos leves e compassados.

A arte é fusão de cores, 
tufos de flores em tinta na tela,
arco-íris vivo, colorido, 
que nos mostra com certeza
que Deus é o artista primeiro ao nos fazer
à sua imagem e semelhança.

Escultor primoroso da vida
diante do espetáculo maravilhoso do universo
em que, humilde confesso, 
a arte é o imenso, o desconhecido,
o todo, a cultura, o global, o infinito. 

Na linguagem pura da poesia
na comunicação incontida 
de apreciar, aplaudir, 
viver e sentir o dia que nos espera lá fora,
como a mais perfeita obra de arte
presente grandioso que recebemos a cada manhã
das mãos operosos do nosso Criador.

Fonte:
Poema enviado pela poetisa.

Aparecido Raimundo de Souza (Irritante)

ALFINETE CARDOSO pega o telefone e liga para um número que está sobre a mesinha de cabeceira escrito num papel de guardanapo. Na quinta vez, atende uma voz feminina:

— Bom dia! Pois não?

— Bom dia. De onde fala?

— Que número o senhor ligou?

— O que estou falando com você, perdão, com a senhora.

— Tudo bem, senhor, mas qual o número?

— Minha linda, aí não é do Jóquei Clube?

— O senhor deve ter ligado errado. Aqui é da “Funerária Suba em Paz e Renasça na Eternidade”.

— Credo em cruz. Funerária? Estou fora. Obrigado.

Três minutos depois Alfinete Cardoso tenta novamente. Na pressa, pode, de fato, ter discado um número errado ao invés do correto. Na oitava vez, um homem de voz grossa se faz presente:

— Bom dia?

— Bom dia, meu amigo. Com quem falo, por favor?

— Com quem o senhor pretende, ilustre cavalheiro?

— Com o Durcaine do Jóquei Clube.

— Não, meu amigo. Aqui não é do Jóquei Clube. E nem tem essa pessoa com tal nome. Como é mesmo o patronímico que o senhor mencionou?

— Durcaine.

—  Realmente o senhor se enganou.

— O que funciona aí?

— O açougue do Barbosinha.

Alfinete Cardoso se espanta:

—  Meu Deus, não é possível. Açougue do Barbosinha?

— Sim senhor. Por que a estranheza?

— Por nada, desculpe.

Impaciente, a criatura parte para nova tentativa. Comprime as teclas pausadamente, objetivando não errar. Na segunda vez, atende uma criança:

—  Oi... quem é?

— Sou eu... é vovô?

Alfinete Cardoso apura o rosto num sorriso amarelo. Fala com certa ternura na voz:

— Como é seu nome, meu doce?

— O meu?

— Sim!

A menina, feliz da vida se debulha faceira num enorme contentamento:

— Você sabe, vô. É Lulu. 

— Lulu, que nome bonito. Mamãe está?

— Acho que está!

— Chama ela pro titio.

— É vovô?

— Não, não é o vovô.

— Quem é então?

— Chama sua mãe para o titio.

— É vovô. Vovô por que mudou a voz?

— Não mudei...

— Mudou sim, E você não é meu tio, é vovô. Pai da minha mãe. 

Alfinete Cardoso, irritado, pensa em desligar o telefone:

Todavia, desiste:

— Minha gatinha querida, chama a sua mamãe:

— Me dá um tempo. Vou espiar se ela está no troninho.

Alfinete Cardoso meio sem graça cai numa gargalhada repentina: 

— Era só o que me faltava...

Dois minutos depois a garota retorna à carga:

— Vô, a mãe não está.  

— Meu Deus! E quem ficou aí com você?

— A Ziguinha, vô. Você sabe. Por que pergunta se já sabe que é a Ziguinha e não a mamãe?

— Não sou seu avô, minha linda. E quem é a Ziguinha?

— Vovô, por acaso você bebeu?

Alfinete Cardoso começa a dar sinais de estar às portas de mandar aquela garotinha às favas e encerrar o papo furado: 

— Lulu, Luluzinha, pelo amor de Deus, me chama a sua mãe.

— Vô, ela não está. Serve a Ziguinha?

— Que seja. Pede para vir falar comigo.

— Você vai me comprar a nova bonequinha da Barbie? Ontem você prometeu... 

— Gracinha, já falei: não sou seu avô.

— É sim. Por que está mudando a voz? A mamãe pegou você no flagra beijando a Ziguinha... eu sei de tudo... 

— De tudo o que, como, Lulu?

— Vô, não cansa a minha beleza. A Ziguinha cantou a pedra pra mamãe... sou pequena, mas não sou besta. Mamãe está careca de saber que você tem um caso com a Ziguinha. Vai me dar a nova bonequinha da Barbie?  

Silêncio momentâneo:

— Ei, vô, tá me ouvindo?

A quietude continua...

— Vô... fala comigo... vôôôôôôô...

Alfinete Cardoso se encontra a poucos passos de explodir:

— Estou ouvindo.

— Vai me dar a bonequinha nova da Barbie?

— Se eu der você chama a sua mãe ou a tal da Ziguinha?

— Não. Mas passo o telefone para o meu tio Durcaine. Ele acabou de chegar do Jóquei Clube... 

Durcaine finalmente entra na linha. Sorri bonachão:

— Fala meu amigão Alfinete. Tudo azul?  

Alfinete Cardoso pálido, sem voz, atônito e espantado, interrompe imediatamente a comunicação.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

segunda-feira, 3 de abril de 2023

Vanice Zimmerman (Tela de Versos) 14

 

Silmar Böhrer (Croniquinha) 79

O trabalho dá a sobrevivência prazerosa, mas não podemos deixar de pensar que, se precisamos do mundo, o mundo também precisa de nós. A recíproca sempre foi verdadeira. Se cada um fizer a sua parte na cidade, no bairro, na sua casa, essa vida terá muito mais razão para existirmos. E o mundo será melhor para todos. Os custos serão pequenos, e os resultados, imensos. O comodismo prende, desafia, desarma. Em algum momento podemos ser empreendedores e não o somos. 

E a gente lembra Ralph Emerson: " Nós podemos mais do que fazemos ". 

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

George Abrão (Os mandamentos da amizade)

1° NUNCA SE ESQUEÇA DE UM AMIGO

Pois se um dia você e ele afastarem, por mudança ou outras contingências, se a amizade for verdadeira, vocês sempre estarão juntos em espírito. Tenho alguns exemplos disso e vou citá-los: 

Em minha adolescência e juventude, minha amizade era muito grande com os irmãos Carlos Alberto de Almeida dos Santos Piedade e com seu irmão Walter Jorge. Eles foram morar em São Paulo e ficamos sem nos ver por quase cinquenta anos, um dia nos reencontramos pela Internet e pouco tempo depois pessoalmente, na minha Jaguariaíva, quando do lançamento de um dos meus livros. E foi como se nos tivéssemos visto no dia anterior.

O mesmo aconteceu com os meus amigos Enio de Almeida Faria, Rubens Roberto Blaszezyk e Luiz André Sartori, os quais, depois de também mais de quarenta anos, nos reencontramos também em Jaguariaíva e nossa amizade continuava igual.

Com os meus amigos Chiquinho Woitiski, João Euzebio Delgado Ferreira, Manoel Queiroz Leite, ainda não me reencontrei pessoalmente, mas em nossas conversas pela Internet é como se estivéssemos sempre juntos.

E assim com muitos outros, que peço desculpas por não nominá-los para não parecer repetitivo.

2° SEMPRE MANTENHA O SEU AMIGO E A ELE SEJA FIEL

Pois não existe amor mais puro nem mais sincero do que o amor entre amigos, é uma coisa divina, inexplicável.

3° A VERDADE É PRIMORDIAL ENTRE AMIGOS

Se a verdade não imperar sempre entre amigos, a amizade não existe realmente.

4° NUNCA DEIXE UMA AMIZADE ACABAR POR CAUSA DE FUTILIDADES 

Pois existem coisas que nunca deveriam terminar.

5° RESPEITE SEMPRE AS IDEIAS E O “JEITÃO DE SER DO SEU AMIGO

Pois seu estilo, gosto, ideologias, podem não ser os mesmo que os dele.

6° NÃO CONTE A PESSOA ALGUMA UM SEGREDO QUE LHE FOI CONFIADO PELO SEU AMIGO

Se for algo em que seu amigo está errado: repreenda-o, mas o elogie para as outras pessoas.

7° FAÇA TUDO O QUE FOR POSSÍVEL PARA AJUDAR O SEU AMIGO QUANDO ELE PRECISAR

Às vezes não conseguimos ajudá-lo efetivamente, mas um gesto de carinho, uma palavra, um momento de atenção, sempre ajudam.

8° TRATE O SEU AMIGO COMO TRATARIA UM SEU IRMÃO

Pois um irmão, muitas vezes, pode não ser seu amigo; mas um amigo, sempre será seu irmão.

9° SEMPRE E A QUALQUER HORA OU LUGAR, DÊ A MERECIDA ATENÇÃO AO SEU AMIGO

Atenda-o da mesma maneira que você gostaria que ele o atendesse sempre aos seus chamados, como você gostaria que ele atendesse aos seus.

10° NA MEDIDA DO POSSÍVEL, FAÇA SEMPRE O SEU AMIGO FELIZ

Pois de toda felicidade que você lhe der, a recíproca será certa.

POIS:
“Amigo é coisa pra se guardar, debaixo de sete chaves, dentro do coração” – Milton Nascimento

Fonte:
Ebook enviado pelo autor.
George Roberto Washington Abrão. Momentos – (Crônicas e Poemas de um gordo). Maringá/PR, 2017.

Gislaine Canales (Glosas Diversas) LII


JARDINEIRO...

MOTE:
Sou jardineiro imperfeito,
pois no jardim da amizade,
quando planto amor perfeito
nasce sempre uma saudade...
ADELMAR TAVARES
Recife/PE, 1888 – 1963, Rio de Janeiro/RJ

GLOSA:
Sou jardineiro imperfeito,
mas meu adubo é o amor,
eu amo sem preconceito,
dou a todos, meu calor!

Eu colho muito carinho,
pois no jardim da amizade,
que encontro no meu caminho
existe a felicidade!

Vivo feliz, satisfeito,
espero que o tempo passe...
Quando planto amor perfeito
é um perfeito amor, que nasce!

Mas junto de tantas flores,
às vezes, contra a vontade,
recordando os meus amores,
nasce sempre uma saudade…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = 

MUITO ALÉM DAS ESTRELAS...

MOTE:
As estrelas... na amplidão,
nem todos conseguem vê-las.
Um sonhador põe a mão
muito além dessas estrelas!
ALOÍSIO ALVES DA COSTA
Umari/CE, 1935 – 2010, Fortaleza/CE

GLOSA:
As estrelas... na amplidão,
embelezam o Universo,
e o poeta com emoção,
as retrata no seu verso!

Ficam distante... não perto,
nem todos conseguem vê-las,
mas quem traz o peito aberto
pode, contudo, entendê-las!

Com amor no coração
e a alma, pura estesia,
um sonhador põe a mão
e logo as torna poesia!

Eu quisera ser poeta
para poder concebê-las,
e pôr a minha alma inquieta,
muito além dessas estrelas!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = 

ESPERANÇA...

MOTE:
Esperança é o sol aberto
que meu destino conduz,
deixando o sonho mais perto,
bem menos pesada a cruz.
ALONSO ROCHA
Belém/PA, 1926 – 2011

GLOSA:
Esperança é o sol aberto
que vem dourar o meu dia,
onde feliz eu desperto,
esquecendo a nostalgia!

Esse sol tão envolvente,
que meu destino conduz,
tem um calor diferente,
que vem de vibrante luz!

Nesse meu vagar incerto,
quem me sustenta é a esperança,
deixando o sonho mais perto
aumenta a minha confiança!

E um raio de sol, então,
cheio de brilhos, reluz,
tornando, com emoção
bem menos pesada a cruz.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = 

ILUSÕES

MOTE:
Ferem, sim, mas quero tê-las,
ao longo da caminhada.
Ilusões! Cacos de estrelas,
que enchem de luz minha estrada!
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

GLOSA:
Ferem, sim, mas quero tê-las,
agridoces ilusões,
quero também merecê-las,
sentir suas emoções!

Quero que sigam comigo
ao longo da caminhada,
me amparando, dando abrigo,
enchendo de tudo, o nada!

Quero, em meu peito, acendê-las
e deixá-las crepitar...
Ilusões! Cacos de estrelas,
que não cansam de brilhar!

Seguindo nessa ilusão,
me sentirei muito amada,
com luzes no coração
que enchem de luz minha estrada!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = 

MINHA ALMA GAÚCHA

MOTE:
Do Rio me dou ao luxo
de um abraço terno e doce...
Mesmo eu não sendo gaúcho,
minha alma é como se fosse!
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Nova Friburgo/RJ

GLOSA:
Do Rio me dou ao luxo
de realizar meu desejo,
sou poeta e quase bruxo,
sempre a espera do teu beijo!

Sou o feliz ganhador
de um abraço terno e doce...
que me trouxe o teu calor,
com um gostinho agridoce!

Mas aguentei o repuxo,
me tornei um "taura", forte,
mesmo eu não sendo gaúcho,
joguei o laço na sorte!

Rio Grande eu te bendigo!
Amizade é raiz-doce.
Não sou gaúcho, mas digo:
– Minha alma é como se fosse!
= = = = = = = = = = = = = 

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas. Glosas Virtuais de Trovas XVIII. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. 2004.

Guerra Junqueiro (Qual será rei?)

Morreu uma vez um rei, deixando quatro filhos, e sem ter designado o sucessor. Reuniu-se a corte, e decidiu-se que a coroa devia pertencer, não ao mais velho dos quatro filhos, mas sim ao mais digno.

Resolveram além disso que o cadáver do rei fosse posto de pé contra um muro, e que o príncipe que acertasse melhor com uma flecha naquele alvo, seria o escolhido para sucessor.

Começou o mais velho. Esticou a corda do arco, apontou durante muito tempo, e a flecha foi atravessar a mão esquerda do defunto. O príncipe soltou grito de alegria, cuidando que seus irmãos atirariam pior, e que por conseguinte seria ele quem viria a reinar.

O segundo acertou em cheio na cara do rei, soltando um grito ainda mais alegre do que o outro príncipe.

O terceiro varou o coração de seu pai, e os seus gritos de triunfo quase que chegavam ao céu, porque lhe parecia impossível acertar melhor.

Quando chegou a vez do quarto filho, tiveram de lhe meter nas mãos as flechas e o arco: mas, desde que olhou para o alvo, arrojou as armas longe de si, e desatou a chorar:

- Oh! meu pai! meu querido pai! exclamou ele, como poderei eu jamais consolar-me de ver o teu corpo crivado de flechas pela mão de teus próprios filhos!

Os grandes da corte ouvindo isto proclamaram-no rei, como sendo o mais digno.

Fonte:
Disponível em Domínio Público
Guerra Junqueiro. Contos para a Infância. Publicado originalmente em 1877.

Jaqueline Machado (Aruanda entre nós) 7 – Oxum (continuação)


Oxum é a deusa das águas doces. Esposa do Orixá Xangô. Famosa na cultura Yorubá.

Ela representa a esposa, a mãe. É fiel à  família, no entanto, não faz o tipo submissa. Oxum  é faceira, ama espelhos, batons, joias e doces.

É segura em suas atitudes, sem deixar de ser branda. Sua fala exala candura. E, espontaneamente, todos a respeitam.

Oxum é a dona do ouro, por isso, seus filhos são ricos. Não ricos de bens materiais, ricos das coisas da vida. Quem se deixa conduzir pela força do seu axé, possui sabedoria ao resolver problemas. Ouve seus conselhos e entende que para as águas não há caminhos fechados. Pois a água tem o poder de escorrer entre pedras e espinhos, e por mais confuso que pareça o labirinto, sempre encontra uma saída por onde escorre até alcançar o mar.

Seus protegidos são amantes da alegria, são belos e sensuais. São férteis, porque as águas de Oxum estão sempre a fertilizar o solo dos sonhos.

Essa deusa, Orixá, Entidade, é cultuada no Candomblé e na Umbanda. Chega dançando, cercada de Erês (crianças) ao seu redor.

Seu axé traz o amor desejado e faz a união acontecer.   

Oxum também traz em si, o arquétipo da sereia. É a sereia dos rios. Uma espécie de prima de Iemanjá.  

Suas virtudes são infinitas. E quem mergulha em seus rios, não morre, está sempre a renascer.

CÂNTICO À DEUSA DOS RIOS

Oxum é uma criança
que esqueceu de envelhecer,
mas quando ela dança
seus filhos param de sofrer.
É bela, é muito doce,
cheia de luz e de saber.
Oxum, dona do ouro,
dai-me sustento para viver.
 
Ó Oxum, deusa querida,
das suas águas eu vou beber.
Ser feliz e ter longa vida.
Sua paz quero merecer.
És santa, mulher e deusa,
sangue do bem querer.
Ora iê, iê ô, minha mãe menina,
Ora iê, iê ô, linda flor do amanhecer!

Fonte:
Enviado pela autora.

domingo, 2 de abril de 2023

Dorothy Jansson Moretti (Álbum de Trovas) 22

 

Carolina Ramos (Saudade)

Era o seu encanto aquele neto. Também, o único. E, como tal, soberano absoluto daquele coração cansado.

Morrera cedo a mãe do menino. Ela o criara.

O rosto encarquilhado da velhinha parecia alisar-se de gozo, cada vez que o netinho o tomava entre as mãos, e, a cobri-lo de beijos, segredava-lhe ao ouvido; - "Sabe, vovó, você é a vó mais linda que eu conheço, e é por isso que eu gosto tanto, tanto de você!"

Um dia ... bem, um certo dia, o crupe chegou. Ou difteria, como querem os entendidos. Chegou e agarrou o garoto de surpresa, e não o largou mais. Com suas garras de ferro, estreitou-lhe a gargantinha, pouco a pouco, como a tentar estrangular-lhe a alma!

Ante a tragédia iminente, a velhinha ganhou ânimo de leoa! Cresceu! Avantajou-se! Criou vigor de moça, na luta contra o inimigo implacável!

Com a energia que o desespero concede! Com a clarividência e a coragem que a própria dor empresta!

Tudo inútil! O médico rasgou de um golpe a traqueia obstruída.

A morte ganhou a corrida. E, em vez da golfada salvadora, foi ela quem primeiro atravessou a porta de emergência ...

Olhos esbugalhados de horror, a velhinha sentiu pesar-lhe nos braços o corpo frouxo do neto.

Não chorou uma lágrima sequer. Também, nunca mais sorriu.

Daí para frente, foi ficando cada vez mais pequenina. As costas encurvadas de tanto olhar o chão. Para que olhar à volta, se, para ela não havia mais horizontes?! As mãos sempre frias, trêmulas e côncavas, num desejo mórbido de, antecipadamente, cruzarem-se sobre o peito. Os pés, mais e mais pesados, como a deitar raízes, sempre que parados.

Pela mesma porta em que saíra o caixãozinho branco enfeitado de flores, saiu, não muito depois, um ataúde roxo, quase tão roxo quanto as olheiras e a saudade da velhinha.

Muitos choravam ainda, quando a cova escura engoliu a última flor. Contudo, quem atentasse para a música da brisa, que brincava de fazer dançar o corpo esguio dos ciprestes, teria ouvido, entre risos cristalinos, uma voz meiga de criança que indagava perplexa:

- "E por que choram, vózinha?l Você estava morta ... agora, ressuscitou !..."

E aqueles, cujo privilégio de enxergar além da matéria o permitia, puderam vislumbrar o vulto de duas crianças felizes, uma de cinco anos e outra de quase oitenta, caminhando, mãos dadas, rumo ao sempre.

Fonte:
Cláudio de Cápua. Era uma vez… (coletânea de contos). Comptexto: outubro 1989.

Coletânea Contos de Mistério e Suspense (Participe. Até 10 de abril)


Queremos convidar você e seus amigos a participarem da Coletânea Contos de Mistério e Suspense (Temática sugerida por: Renata Pereira Gonçalves e Equipe PerSe). As inscrições, que já estão abertas há algum tempo, podem ser feitas até o dia 10 de Abril. Veja mais informações abaixo!

Agora em 2023 o livro "Assassinato no campo de golfe" de Agatha Christie completa 100 anos de Lançamento, e em comemoração estamos lançando nossa Coletânea Contos de Mistério e Suspense e para ela buscamos Contos que preferencialmente envolvam situações que poderiam ser consideradas reais... vale releituras de contos existentes (até mesmo de "Assassinato no campo de golfe"), contos existentes com desfechos diferentes, e etc. Esta é uma coletânea eminentemente de Contos.

Importante lembrar que sua participação é Gratuita.

Após recebermos os Textos, faremos uma seleção/avaliação dos melhores e publicaremos um livro com eles. Essa Coletânea ficará à venda na Loja Online da PerSe, com impressão sob demanda, para quem quiser adquiri-la.

Como dissemos, sua participação não terá nenhum custo!

Você encontra todos os detalhes para sua inscrição no link abaixo:

1) Quero enviar meu texto:  

Aguardamos ansiosamente seu Conto... Inscreva-se já!

Forte abraço,
Equipe Apparere

ALTO e IHGM (Programação do ano)


Sessões solenes e especiais da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG e do Instituto Histórico e Geográfico do Mucuri/MG, programadas para o ano de 2023.

20 de maio, sábado:

Sessão Solene para recepção e posse de sócios efetivos e correspondentes do Instituto Histórico e Geográfico do Mucuri e início das comemorações dos 20 anos de fundação da entidade: Jubileu de Porcelana: 2003-2023.

Local: Plenário da Câmara Municipal de Teófilo Otoni, às 19:00 horas.

23 de junho, sexta-feira: 

Edição especial do projeto Sala de Leitura para lançamentos literários.

Local: Auditório da Casa do Estudante, às 19:00 horas

24 de junho, sábado:

Sessão da Saudade destinada a homenagear o acadêmico Humberto Luiz Salustiano Costa e comemoração do Dia do escritor teófilootonense (Lei nº 6.788, de 28 de outubro de 2006) com a outorga do Troféu Jornalista Humberto Luiz aos escritores teófilootonenses e convidados.

Local: Plenário da Câmara Municipal de Teófilo Otoni, às 19:00 horas.

19 de agosto, sábado:

Sessão Solene do Instituto Histórico e Geográfico do Mucuri, em comemoração ao Dia Nacional do Historiador (Lei nº 12.130, de 17 de dezembro de 2009) e, inauguração da Estrada de Rodagem Santa Clara-Filadélfia: primeira estrada de rodagem construída no Brasil, considerada data cívica municipal, pela Lei nº 5.770, de 19 de outubro de 2007. 

Outorga da Medalha de Reconhecimento Reinaldo Ottoni Porto, aos professores de história e geografia que atuaram no ensino das disciplinas, no município e região e, do Prêmio Frei Samuel Tetteroo, conferido a pessoas naturais ou jurídicas que hajam destacado na promoção de estudos e, na difusão de conhecimentos de história, geografia e ciências afins, assim como no fomento a cultura, defesa e preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural do vale do Mucuri e comemoração oficial dos 20 anos de fundação: Jubileu de Porcelana: 2003-2023.

Local: Plenário da Câmara Municipal de Teófilo Otoni, às 19:00 horas.

16 de setembro, sábado:

Sessão Solene da Academia de Letras de Teófilo Otoni em conjunto com o Instituto Histórico e Geográfico do Mucuri, para outorga da Medalha Conselheiro João da Matta Machado (Benfeitor do Município de Teófilo Otoni (Lei nº 5.505, de 06 de outubro de 2015). 

Homenagem aos diversos profissionais das artes plásticas, cerâmica, escultura, xilogravura, desenho e artesanato, com outorga do Diploma e Medalha de Honra ao Mérito Albert Schirmer e homenagens especiais pela passagem dos 170 anos de fundação do Município de Teófilo Otoni.

Local: Plenário da Câmara Municipal de Teófilo Otoni, às 19:00 horas.

03 de novembro, sexta-feira: 

Edição especial do projeto Sala de Leitura para lançamentos literários.

Local:  Auditório da Casa do Estudante, às 19:00 horas

04 de novembro, sábado:

Sessão da Saudade destinada a homenagear a acadêmica Hilda Ottoni Porto Ramos - Dona Didinha com recital e outorga da Medalha de Mérito Cultural Dona Didinha. Celebração do Dia Nacional da Cultura e da Ciência (Lei nº 5.579, de 15 de maio de 1970) e Dia Nacional da Língua Portuguesa (Lei nº11.310, de 12 de junho de 2006) com a entrega da Medalha de Reconhecimento Prof. Patrício Ferreira Gomes, aos professores de língua portuguesa que atuaram no ensino da disciplina na cidade e região, bem como a concessão do Prêmio Isaura Caminhas Fasciani.

Local: Plenário da Câmara Municipal de Teófilo Otoni, às 19:00 horas.

16 de dezembro, sábado:

24ª Noite do Café-com-Letras: lançamento do 21º número da Revista Literária Café-com-Letras com recital, entrega do VIII Prêmio Literário Gonzaga de Carvalho e distribuição de Cestas Literárias a instituições educacionais, sociais e culturais da cidade e região.

Local: Auditório da Casa do Estudante, às 19:00 horas.

OBS: Os lançamentos literários - na Academia de Letras - serão realizados somente no projeto Sala de Leitura: oportunidade para o autor apresentar ao público e convidados a obra e o processo de criação literária. Portanto, estão suspensos os lançamentos literários em sessões solenes.

Fonte:
Wilson Colares da Costa , secretário-geral 

sábado, 1 de abril de 2023

Edy Soares (Manuscritos (Di)versos) – 26: Alvorada

 

Humberto de Campos (O milagre)

Um escritor francês, cujo nome complicado me fugiu, como um pássaro, da gaiola da memória, escreveu seiscentas páginas de prosa cerrada sobre a psicologia do milagre. Acha ele que os milagres são possibilíssimos, esquecendo-se, entretanto, de citar um episódio famoso, que circula, entre nós, com diversas modalidades, nos anais da anedota nacional.

D. Eufrosina estava doente do fígado, e submetia-se, uma tarde, sem o assentimento do marido, ao exame que o Dr. Abdenago Fortuna lhe exigira, quando bateram repentinamente no portão da casa.

- Minha Nossa Senhora! É meu marido! E eu não queria que ele soubesse que eu me submeti a exame médico! Como há de ser, meu Deus?!...

E repetia:

- Como há de ser, minha Nossa Senhora?!!...

As mulheres possuem, felizmente, uma qualidade providencial que falta aos homens: removem com facilidade os obstáculos mais graves, mesmo os que nos parecem, à primeira vista, irremovíveis. E foi essa virtude que socorreu, nessa tarde, D. Eufrosina, a qual, criando ânimo, pediu, aflita, ao jovem esculápio:

- Fuja, doutor! Pelo amor de Deus, fuja! Esconda-se ali, depressa!

E apontou o alto do guarda-vestidos, para onde o médico subiu, trêmulo, afim de evitar um escândalo e uma tragédia.

Dois minutos depois o chefe da casa batia à porta da alcova, onde a mulher o metralhou, logo, com uma saraivada de beijos.

- Meu amor! - exclamava a moça, abraçando-o.

- Meu amor! - plagiava o marido, correspondendo.

Sentados no leito, passaram os dois a conversar, íntimos, sinceros, carinhosos. E discutiam matéria econômica, isto é, as dificuldades financeiras do casal, quando, em certo momento, o marido aludiu a uma letra de vinte contos, que devia pagar naquele mês.

- Coitado! - soluçou a mulher. - Deixa estar, que tudo será arranjado!

E, levantando os olhos para o teto, com a fé no coração:

- Aquele que está lá em cima, lá no alto, há de nos ajudar! Tem confiança!

E assim aconteceu. Para pagamento da letra, o Dr. Abdenago, aquele "que estava lá em cima", entrou com dez!

Fonte:
Disponível em Domínio Público
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925

Lóla Prata (Aborto)

Vera, uma católica, engravidou do sexto filho. Gravidez indesejada, visto que representaria mais despesa na família encalacrada por dívidas, com o marido desempregado, casal morando em casa dos pais. Veio a tentação de abortar, como solução do problema. Conflitos de consciência vieram, fortes e desconcertantes, abafados pela ideia fixa, tudo em surdina, para não atormentar mais o quadro terrível em que se achava o lar. E a tentação foi levada à prática: começou com lavagens vaginais, continuou com a ingestão de chás, pulos de alturas cada vez mais altas, compressas quentes, etc. A paz fugira de seu coração. O tempo passando, e a gravidez se denunciando nos enjoos e azias. Pouco dormia, emagrecia, tinha olheiras e tristeza. Nem percebia mais os outros filhos, também pequenos.

Uma noite, cansadíssima, estava na cama e rezou, imaginem, para que Deus a fizesse perder naturalmente, a criança. Dormiu quando a exaustão chegou ao auge. E sonhou... 

No sonho, seu pai lhe cochichava um conselho:

- Minha filha, pare com isso, senão, quando eu morrer, sairão três caixões de casa: o meu, o seu e o do bebê.

Ao despertar, lembrava-se perfeitamente do conselho e foi ao encontro do pai que estava na cozinha: – Papai, o senhor anda bem de saúde?

- Tinindo... tudo sob controle. E você, Vera, emagrecendo, triste? Alegre-se...

- Vou me alegrar... a partir de agora. Estou esperando outro filho...

- Parabéns! Será bem-vindo!

Vera voltou aos sacramentos; alojou a esperança novamente, em seu coração.

Alguns dias após o acontecido, o pai é vítima de enfarte fulminante. Choque duro para a família que, sofrendo muito, vê o corpo saindo da casa num caixão. A grávida lembrou-se do sonho e ponderou:

- Será que seriam três caixões?

Nunca saberemos!

Fonte:
Maria de Lourdes Prata Garcia (Lóla Prata). Provai e vede como o Senhor é bom! Bragança Paulista: ABR, 2009. Ebook enviado pela autora.

Luiz Poeta (Poemas Escolhidos) – 12 –


MIOLO E CONTEÚDO

O mundo é forte... e o homem tão... fragilizado... 
pobre coitado desse vão super-herói, 
tão de si mesmo... presunçoso e ensimesmado 
que só se iguala quando a solidão lhe dói. 

Quem se acha o máximo, vendo o outro, seu vassalo, 
vai no embalo de uma tola intolerância, 
com arrogância, só quando lhe aperta o calo, 
sente o abalo da insignificância. 

O sonhador, que às vezes parece tão tolo, 
Tem por consolo sua própria consciência 
Sua inocência é conteúdo... e não miolo, 
olha o monjolo e vê, no rio, a sua essência. 

O egocêntrico é o dono da verdade, 
quando a verdade se veste de absoluta, 
em sua gruta, onde repousa a falsidade 
a insanidade que ele tem, nem ele escuta.
 
Ele se grita, qual Narciso ou bruxa má, 
e ao escutar o que o espelho lhe revela, 
destrói a tela e vai galgar seu baobá, 
pequeno príncipe invejando a Cinderela. 

Quem não se basta, olha a casta e discursa, 
para si mesmo, calculista, sem pudor, 
olhando os outros como quem vê uma ursa 
com seus filhotes... e os fita... com pavor. 

Nessa viagem, todo humilde aprendiz 
vive das bênçãos divinais que a vida tem, 
porque semeia o mesmo amor que o faz feliz, 
que só floresce em quem pratica e faz... o bem. 

A humildade é a virtude dos que agem, 
sobrevivendo de maneira natural, 
levando sempre o otimismo na bagagem, 
e dividindo o seu amor com seu igual. 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = 

NA MÃO DA ALEGRIA

Certas pessoas, não há como defini-las 
analisá-las sem ser psicanalista; 
tiram da lista quem sequer pôde feri-las, 
para entendê-las, há que ser malabarista. 

Somos artistas, nosso palco é nossa vida 
curta ou comprida, quem entende o destino ? 
Alguns se curam da sua própria ferida; 
outros se ferem... sem nem ter quem os agrida. 

E cada qual tem um enredo, uma história 
para viver, para contar... repetitiva, 
tempos felizes abastecem a memória, 
mas de saudades há quem diga que não viva. 

Quando ela chega, sempre sem fazer alarde, 
conta segredos silenciosos, traz sorrisos, 
lágrimas tristes... ela nunca chega tarde, 
e traz, consigo, sentimentos tão precisos... 

Cada imagem que vem nela, é nebulosa 
e ao mesmo tempo fotográfica, fiel 
trazendo flashes de uma história majestosa... 
lembrança triste é amargor, saudade.. é mel. 

O ser humano... inumano... se transforma, 
não se conforma com dádivas que recebe, 
bebe silêncios adversos e o que forma 
provém da própria solidão que a si concebe. 

Infelizmente, alguém ruim sempre planeja 
coisas nocivas ao seu próximo e alega, 
de modo falso, mentiroso, que deseja 
tornar feliz o seu igual... mas o renega. 

Porém quem ama, de verdade, o seu irmão, 
não o despreza, abandona ou repudia, 
não o descarta, pois o tem, no coração, 
e a emoção... cabe na mão... dessa alegria. 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = 

POETAS

Alguns poetas morreram de solidão, 
trancafiados na prisão dos sentimentos, 
num abandono contumaz sem solução, 
desapontados com seus próprios pensamentos. 

Alguns exaltam seu legado com emoção; 
outros demonstram nunca tê-los conhecido, 
há até quem diga, que se foram sem razão 
porém, quem ama, se orgulha por tê-los lido. 

Todo poeta tem seu próprio alimento, 
o seu alento é o amor que o inspira, 
se a vida tira-lhe a dor e o sentimento, 
cada momento do amor cura-lhe a ira. 

Os pensamentos de um poeta são diversos, 
há universos profundos que ele transporta; 
quando ele abre as comportas dos seus versos, 
a dor afoga-se no amor que lhe abre a porta. 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = 

SENTIMENTOS VIRTUAIS

Eu nunca dei tantos abraços virtuais, 
beijos , desejos felizes... tanta oração, 
para dizer, do fundo do meu coração, 
que amo os amigos que são tão especiais. 

Nunca pedi a Deus com tanta esperança 
que Ele salvasse os irmãos que não perdi 
e resgatasse novamente essa bonança 
que tantas vezes, no meu coração, senti. 

Nunca escrevi, fugindo de um tema tão triste, 
que o povo insiste em copiar dos pessimistas, 
dos revoltados que agridem, de dedo em riste, 
parlamentares, jornais, tevês... e revistas. 

Não que eu não tenha, como eles, a vontade 
de dar meu brado contra tanta injustiça, 
porém, se a arte complementa a liberdade 
de ser feliz, por que essa areia... movediça ? 

A perda triste dos amigos traz vazios 
tão doloridos e abandonos tão cruéis, 
que é como estar na solidão de um cais sombrio, 
buscando barcos que sumiram nas marés. 

Mas eu insisto nos abraços... a saudade 
é o sentimento mais sincero que visita 
a solidão de um coração... por ser bendita, 
ela habita os ermos da... fraternidade. 

Só Deus consegue ouvir o que a gente pensa 
ou sente, Ele conhece nossos segredos, 
nossos mistérios, nossos tédios, nossos medos, 
Ele é quem monta nossos líricos enredos. 

Minha palavra mais precisa é gratidão 
e meu perdão aos que um dia me magoaram, 
pois os momentos mais felizes que deixaram, 
abençoaram, com amor, meu coração. 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = 

Fonte:
Facebook do poeta. Também disponível no Recanto das Letras.