sábado, 12 de maio de 2012

2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Teoria Literária) Parte 2


2º CIELLI - Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários

Diariamente serão postados 4 Resumos dos Simpósios que serão apresentados em 13 a 15 de junho, até totalizar os 25 a serem apresentados.

O resumo havia sido publicado na UEM em parágrafo único, mas para facilitar a leitura dos leitores do blog, dividi em parágrafos.


5
Neide Luzia de Rezende
Robson Coelho Tinoco
DIDÁTICA DA DIMENSÃO ESTÉTICA DA LEITURA


Em face dos novos paradigmas de leitura literária, que há pelo menos quatro décadas se apresentam como desafio para a escola, a proposta deste Simpósio é reunir trabalhos que se situem no eixo de aprendizagem das práticas sociais de leitura, incluindo além da literatura, também outros universos semióticos, como cinema e teatro. Com a emergência do leitor como instância da literatura desde os trabalhos iniciais da estética da recepção ao final dos últimos anos 60, pontuada na afirmação de Wolfgang Iser “o texto só existe pelo ato de constituição de uma consciência que o recebe” (in O ato da leitura, 1996), a leitura de especialistas se configura não mais como a leitura, mas como uma das possibilidades de interpretação da obra – e é a esse ato que ele denomina “estética”. Essa teoria tem, embora cheia de percalços, permeado as abordagens dos materiais didáticos voltadas para o ensino da literatura e a leitura literária e instaurado a noção interação texto–leitor como uma verdadeira palavra de ordem para as práticas de ensino.

Compreensivelmente, na escola, esse novo paradigma tem propiciado uma verdadeira crise de identidade no ensino de literatura, uma vez que faz emergir como instância da literatura o leitor empírico, com suas “reações pessoais, restritas e parciais, maculadas de erros e confundidas pelo jogo múltiplo das conotações” (Bellemin-Noël, Les plaisirs vampires, 2001).

Assim, enquanto a maioria dos materiais didáticos produzidos para a escola pelas instâncias oficiais (pelas Secretarias de Educação do Estado de São Paulo e do Governo do Distrito Federal, entre outras) propõem o contato efetivo com o texto e sua apreensão estética pelos alunos em vez de considerar como única opção didática a opinião da crítica e a metaleitura do professor (não obstante não se perceba nesses documentos um viés teórico capaz de esclarecer essas propostas), o livro didático voltado para o Ensino Médio (diferentemente daquele dirigido para o Fundamental), por exemplo, resiste às mudanças, restringindo-se ainda à história literária cristalizada e à linha do tempo.

Determinados parâmetros, ultrapassados ou ineficazes, parecem reger a didática desses livros didáticos e a de muitos professores, enquanto os alunos caminham livremente em outra direção, resistindo ao tipo de leitura e conhecimento que recebem na sala de aula. A decantada perspectiva de interação texto-leitor sofre com toda sorte de dificuldade para sua concretização: insegurança do professor em relação a sua própria leitura, falta de tempo para uma leitura mais subjetiva, mais reflexiva, mais propensa à elaboração pelo leitor e, sobretudo, falta de clareza quanto às dimensões de aprendizagem que uma perspectiva como essa requer.

Diante de tal situação, espera-se para este Simpósio colaborações que discutam uma epistemologia da cultura da leitura, também literária, de modo a repensar, para a escola brasileira – cujos alunos estão mergulhados nos meios eletrônicos e na cultura de massa –, novas práticas de ensino.

6
Clarice Zamonaro Cortez
Maria Natália Ferreira Gomes Thimóteo
HISTÓRIA, MITO E PAISAGEM NA LITERATURA PORTUGUESA


A Literatura Portuguesa contemporânea cruza os diversos registros históricos, mantendo um diálogo com o passado, reavaliando-o sob a perspectiva do presente. Na sua produção há uma relação íntima com a problemática político-social portuguesa, dramatizando a condição feminina em uma sociedade vinculada a padrões tradicionais, além de explorar novos caminhos estéticos, sem perder de vista a tradição.

A poética portuguesa contemporânea apresenta uma pluralidade de experiências, favorecendo diversos eixos norteadores que serão contemplados e discutidos neste simpósio. É imprescindível conhecer o resultado mais contemporâneo, com base no processo e nas dinâmicas de consolidação da Literatura Portuguesa desde as suas próprias origens, até o presente século XXI. A literatura, ao captar o “fulgor do real”, faz “girar os saberes”, segundo Barthes, na sua Aula. Esta dança poética de saberes é sentida - e faz girar os seus leitores no espaço e no tempo das cantigas sentimentais dos trovadores do século XIII, do passado histórico e delirantemente engrandecido em Camões, na obra sempre (re)visitada de Pessoa ao caráter mito-poético dos romances de Saramago.

O desenvolvimento do temário permitirá compreender melhor a configuração da Literatura Portuguesa e praticar uma análise comparatista em relação a outras literaturas vizinhas e/ou a literaturas veiculadas na mesma língua. Neste sentido, a Literatura Portuguesa abre caminhos de conhecimento para os estudos de pós-graduação em literatura e literaturas comparadas ou em estudos culturais, de caráter interdisciplinar. Segundo Plutarco (De gloria atheniensuim, III, 346 f – 347 c), Simónides de Céos, poeta que viveu no século V a.C., é o autor do dito aforismático, a pintura é poesia muda e a poesia é pintura falante (AGUIAR E SILVA, 1990, p. 163).

A partir desta afirmativa, pintores e poetas buscavam inspirações para suas composições nos termos literários e tentavam através desta prática expor aos olhos dos leitores imagens que somente as artes visuais adequadamente ofereciam. A Antiguidade Clássica registra uma relação entre as artes. O conceito de mimeses de Aristóteles, oriundo de várias interpretações de sua Poética, norteou o pensamento clássico. Mário Praz, em sua obra Literatura e Artes Visuais (1982, p.1), assevera que “a ideia de artes irmãs está tão enraizada na mente humana desde a antiguidade remota que deve nela haver algo mais profundo do que a mera especulação, algo que se apaixona e que se recusa a ser levianamente negligenciada”. Nesse sentido, não se pode negar a irmandade, o fio condutor que une as obras de arte, observando e respeitando suas características próprias. E. Forster (apud PRAZ, 1982, p.1) afirma que “a obra de arte é um objeto único e justifica porque é o único objeto material do universo dotado de harmonia interna”. O artista, seu mentor criativo, ao produzi-la parte de um conjunto, de suas experiências, sua visão de mundo, entre outros elementos que, junto a sua sensibilidade, culminará na sua produção.

O objetivo deste simpósio é oferecer aos pesquisadores um espaço de discussão da Literatura Portuguesa nos aspectos sincrônico e diacrônico, nos quase mil anos de produção, proporcionando especial atenção aos temas e suas nuances da História, do Mito e da Paisagem na sua produção literária.

7
Renata Junqueira de Souza
Ana Lucia Espíndola
LEITURA LITERÁRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SÉRIES INICIAIS: SUPORTES E GÊNEROS


As reflexões sobre o ensino da leitura e da escrita nos anos iniciais do Ensino Fundamental e na Educação Infantil têm sido permeadas, nos últimos anos, pela discussão sobre a importância da presença de diversos suportes e gêneros literários em sala de aula. Tal presença irá contribuir para o desenvolvimento de diferentes habilidades presentes no ato de ler e que precisam ser fomentadas desde a mais tenra idade. Ao mesmo tempo, a leitura do texto literário na escola, principalmente nos anos iniciais de aprendizagem tem sido tema de várias literaturas.

Houve na última década uma crescente produção de livros para crianças de 0 a 5 anos, como livros brinquedos, livros de pano e de plástico, poesias infantis e livros cartonados. Nas séries iniciais, por outro lado, editores, autores e ilustradores têm ampliado os gêneros literários para tal faixa etária, disponibilizando no mercado livros de contos de fadas, lendas, cordel para crianças, histórias em quadrinhos, poesia, livros em séries para todos os públicos. Se o mercado editorial brasileiro tem se preocupado em ampliar tanto quantitativa, quanto qualitativamente os gêneros literários disponíveis para crianças nos primeiros anos de aprendizagem (0 a 12 anos), as políticas públicas de leitura como o PNBE (Programa Nacional Biblioteca na Escola) também têm selecionado uma diversidade de livros, de vários gêneros literários para compor os acervos de creches, escolas de educação infantil e séries iniciais brasileiras.

Neste sentido, podemos afirmar que temos hoje um número maior de obras que podem ser lidas pelas crianças, seja em casa, com auxilio dos pais, seja em bibliotecas escolares, ou na escola. Entretanto, um problema ainda afeta a leitura da obra literária em espaços escolares, quando esses espaços por meio de seus sujeitos orientam a leitura do texto literário pelo viés da pedagogia, ou seja, fazem desses textos pretexto para o ensino de alguma disciplina curricular, enaltecendo a função de instrumento para outro fim, que não aquele da criação artística.

O uso do texto literário adquire neste caso um caráter didático e tem sua especificidade anulada enquanto arte. Se por um lado isso acontece porque os professores de educação infantil ou séries iniciais não tiveram formação para o uso adequado de gêneros literários na escola, por outro as universidades já oferecem nas grades curriculares de seus cursos a disciplina Literatura Infantil que pode auxiliar futuros professores a compreenderem as características do texto literário evitando assim sua didatização.

Este simpósio tem como proposta reunir experiências de ensino, bem como, de práticas da leitura e compreensão do texto literário abarcando diversos gêneros e tipos (do livro brinquedo aos livros em séries) destinado ao público de 0 a 12 anos, seja experiências em sala de aula, bibliotecas escolares, ou ainda com estudantes que se preparam para ser professores de séries iniciais. Nosso objetivo maior é divulgar experiências de leitura enriquecedoras, em que a literatura se mostre como uma realidade possível, ativadora da imaginação e do conhecimento do outro e de si mesmo.

8
Mirian Hisae Yaegashi Zappone
Célia Regina Delacio Fernandes
LETRAMENTOS LITERÁRIOS: PRÁTICAS DE LEITURA E DE ESCRITA


Leitura e escrita constituem-se como práticas variáveis no tempo e no espaço, tendo, portanto, uma história e uma sociologia (Chartier, 1999). Sendo assim, são influenciadas por inúmeros aspectos entre os quais as tecnologias que envolvem os diversos usos da escrita. Compreendendo o conceito de letramento como o “conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos para objetivos específicos” (Kleiman, 2004, p.19), podemos observar diferentes formas tanto de escrita, de leitura quanto de modos de circulação da escrita, fato que também pode ser notado com relação a textos literários.

Nesse sentido, o conceito de letramento se revela produtivo para os estudos literários, se realizarmos uma modulação fundamental: a restrição do conceito de escrita aos textos que possuem caráter de ficcionalidade, já que esta parece ser uma das características mais gerais da escrita compreendida até hoje como literatura. Assim, poderíamos pensar em letramento literário, ou seja, nas práticas sociais que fazem uso da escrita ficcional. Decorrente do conceito de letramento literário, abrem-se muitas perspectivas de estudos, pois ao considerarmos os diferentes contextos e objetivos envolvidos na produção e recepção de textos ficcionais, as práticas sociais que os envolvem passam a ser variadas.

A perspectiva de se olhar os contextos de tais práticas leva, por exemplo, a considerações históricas, culturais, sociais e materiais importantes no caso da produção de textos ficcionais e de sua leitura. Esses contextos estendem-se desde as práticas observadas em ambiente escolar (as práticas escolarizadas) até as práticas menos visíveis, encontradas em espaços sociais diversos (família, internet, igrejas, vida social etc.). Ao mesmo tempo, tal conceito permite uma expansão do conceito de literatura, na medida em que abarca não apenas as formas ficcionais impressas e verbais, já que o letramento leva em conta as tecnologias envolvidas na produção/recepção da escrita.

Por essa razão, podem ser consideradas formas ficcionais o próprio teatro, a novela televisiva, o videoclipe, a fanfic, a literatura oral, a poesia digital, o cinema, enfim, formas híbridas ou multimodais e outras que superabundam no mundo contemporâneo. Tais formas estão a exigir uma pluralidade de letramentos, gerados tanto pelas materialidades que envolvem a escrita quanto pelos diversos usos que dela se podem fazer, levando à discussão sobre as relações entre práticas letradas de leitura e escrita e outras práticas sociais de uso da escrita ficcional.

Tendo em vista tal panorama, este simpósio pretende agregar trabalhos que discutam aspectos relacionados a três eixos para os quais sugerimos alguns desdobramentos:

1) modos de produção, recepção e circulação de formas ficcionais impressas em diferentes contextos e espaços (imagens de leitura e de escrita na literatura infantil e juvenil, estudos específicos de autores e textos da literatura infantil e juvenil brasileira e estrangeira, estudos sobre recepção de tais textos etc.);

2) modos de produção, circulação e recepção de formas ficcionais em ambientes digitais, produzidos na cibercultura ou em outros contextos (estudos de formas ficcionais multimidáticas ou multimodais; formas multimodais e suas relações com gêneros impressos canônicos; intermidialidades, compreendidas como passagens de uma mídia a outra), literaturas orais e, finalmente,

3) os letramentos envolvidos na apropriação de tais formas ficcionais e sua inserção na cultura (letramentos literários e políticas públicas de leitura, literatura e formação de leitores na escola, materiais didáticos e letramento, práticas de leitura de textos literários em espaço escolar, letramentos em contextos digitais, letramentos escolares, letramentos sociais ou multiculturais).

Fonte:
http://www.cielli.com.br/programacao_geral

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