segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

José Feldman (Estrepolias de um insone)

Era uma vez, em uma cidade não muito longe daqui, um sujeito chamado Tico. Ele era conhecido por uma peculiaridade: ele não conseguia dormir. Enquanto a maioria das pessoas se entregava aos braços de Morfeu, ele passava as noites em claro, contando carneirinhos, assistindo a infindáveis maratonas de programas de culinária e fazendo listas de coisas que nunca faria. Com o tempo, a insônia foi se agravando, e ele decidiu que, se não podia dormir, pelo menos poderia se divertir à custa dos que estavam.

Em uma noite particularmente longa, enquanto o relógio marcava 3 da manhã, Tico teve uma ideia brilhante. Ele se vestiu como um ninja (ou, pelo menos, como um ninja que não tinha um bom senso de moda) e decidiu que iria “visitar” seus vizinhos que, ao contrário dele, estavam desfrutando do sono dos justos.

Primeiro, ele foi até a casa da Dona Efigênia, uma senhora que sempre reclamava do barulho na rua. Com um sorriso travesso, ele começou a bater na porta, fazendo imitações de vários animais. Primeiro, ele grunhiu como um porco, depois miou como um gato e, por último, uivou como um lobo. A Dona Efigênia, que estava tendo um sonho maravilhoso com um bolo de chocolate, acordou assustada, pensando que um zoológico tinha se instalado em sua sala. Quando abriu a porta, encontrou Tico agachado, fazendo a pose de um gato.

— O que você está fazendo, Tico? — perguntou ela, com os olhos arregalados.

— Apenas testando se a senhora está sonhando! — respondeu ele, tentando conter o riso.

A Dona Efigênia, com um olhar de quem não tinha a menor paciência para brincadeiras, fechou a porta na cara dele. Mas Tico não estava disposto a desistir. Ele seguiu para a casa do Seu Joaquim, um aposentado que sempre sonhava em voltar a pescar.

Ao chegar lá, decidiu que a melhor estratégia seria imitar o barulho de um peixe fora d'água. Ele se jogou no chão e começou a se contorcer, fazendo ruídos estrondosos. O Seu Joaquim acordou, pulou da cama e correu para a sala, armado com um taco de beisebol que mantinha para "emergências".

— O que está acontecendo aqui? — gritou ele, olhando para Tico se debatendo no chão.

— Estou apenas fazendo uma pesca noturna, Seu Joaquim! — respondeu Tico, gargalhando.

Naturalmente, o Seu Joaquim não achou graça nenhuma. Ele deu uma rápida olhada para Tico e saiu para a rua, murmurando algo sobre “juventude perdida” e “jovens insensatos”.

Com uma sensação crescente de missão cumprida, Tico decidiu que ainda não era hora de parar. Ele se dirigiu para a casa do Luís, o estudante que sempre tirava notas altas, mas que tinha uma aversão a qualquer tipo de perturbação. Tocou a campainha e, assim que Luís abriu a porta, ele começou a fazer uma apresentação de stand-up, mas com piadas completamente sem graça.

— Você sabe por que a galinha atravessou a estrada? Para ir do outro lado! — disse Tico, enquanto Luís, sem paciência, tentava entender o que acontecia àquelas horas da noite.

Luís, que estava prestes a fazer uma prova importante, não achou muita graça e, em um impulso, empurrou Tico para fora de casa, fechando a porta com força. Tico, no entanto, não se deixou abalar. Em vez disso, decidiu que era hora de uma nova abordagem.

Ele foi até o parque, onde alguns jovens costumavam se reunir à noite para tocar violão.  Juntou-se a eles e começou a cantar, mas em vez de músicas conhecidas, ele fez versões paródicas de clássicos, como “Garota de Ipanema” transformada em “Garoto de Insônia”. A letra, que falava sobre coisas totalmente sem sentido, fez com que todos se unissem a ele, rindo e se divertindo.

No entanto, a festa logo atraiu a atenção dos vizinhos, que saíram de suas casas, sonolentos e irritados. A cena era hilária: pessoas de pijama, com cabelos desgrenhados, tentando descobrir o que estava acontecendo. Tico, percebendo que havia criado um verdadeiro show improvisado, decidiu que era hora de encerrar a apresentação.

— Obrigado, pessoal! Espero que tenham gostado! E lembrem-se: a insônia pode ser divertida! — gritou, antes de sair correndo, rindo da confusão que deixara para trás.

Na manhã seguinte, enquanto os moradores da rua tentavam recuperar o sono perdido, Tico percebeu que talvez estivesse indo longe demais. Ele sentiu uma pontinha de culpa ao ver a Dona Efigênia, o Seu Joaquim e o Luís todos com olheiras profundas. Mas logo essa culpa se transformou em uma nova ideia.

— Que tal uma festa do pijama? — pensou, já imaginando a diversão.

E assim, ele começou a planejar um evento que traria todos os vizinhos para uma noite de risadas e histórias, prometendo que, ao menos uma vez, eles poderiam se divertir juntos, mesmo que isso significasse perder algumas horas de sono.

Enquanto isso, ele continuava a infernizar a vida dos que dormiam, mas agora com uma pitada de humor e um convite para a festa do pijama. Afinal, quem disse que a insônia não poderia ser uma bênção disfarçada? Só não se sabe para quem.
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Fontes:
 José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: Plat.Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

domingo, 5 de janeiro de 2025

Luiz Poeta (Nuvens de Sonhos) 06


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Luiz Gilberto de Barros, registrado como Luiz Poeta, nasceu em 1950, no Rio de Janeiro/RJ. Escritor, Poeta, Contista, Cronista, Ensaísta, Trovador, Aldravianista, Sonetista, Músico, Compositor, Produtor Musical, Artista Plástico, Gestor Educacional e Docente Aposentado  de Língua Portuguesa e Literaturas Brasileira e Portuguesa. Destacou-se no meio artístico como produtor fonográfico, violonista, guitarrista, compositor, poeta e artista plástico. Acadêmico da AVLBL membro da UBT, é Verbete do Dicionário de Música Popular Brasileira Antônio Houaiss e detentor de  relevantes títulos acadêmicos. Fundador de diversas entidades culturais Nacionais e internacionais. Autor premiadíssimo em inúmeros concursos no Brasil e no Exterior. Foi Presidente da Academia Pan-Americana de Letras e Artes; do Centro Cultural Leopoldina de Souza Marques, da Faculdade Souza Marques, e Diretor Presidente do Jornal “O Coruja“, de circulação universitária. Membro da Confraria Brasileira de Letras, Academia Luso-Brasileira de Letras; Academia Paulista de Letras; Cerc Universal des Ambasssadeurs de la Paix; Divine Academie Française de Letters y Arts; Associação dos Acadêmicos da Academia Brasileira de Letras; Diretor Cultural da Associação Cultural Encontros Musicais; Inbrasci (Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais, entre outros. Sua obra artística é eclética e engloba mais de 10.000 trabalhos (músicas, poesias, ensaios contos, novelas, textos dramáticos e crônicas – além de telas e trabalhos artesanais ). Tem CDs e DVDs gravados, tendo publicado mais de 100 obras publicadas entre livros-solo, antologias, CDs, DVDs, jornais e revistas.

Eduardo Affonso (Deu bode)

Meu pai era maçom. Nunca soube muito bem o que significava isso. Mas sabia que era como ser de capricórnio – algo que eu nunca seria.

Havia a lenda de que os maçons se reconheciam à distância, como os cachorros. Mas era só um toque de mão, um jeito de cumprimentar, de coçar a orelha, ou três pontinhos ao final da assinatura. Coisas assim, bem mais banais. Como as formigas, batendo as antenas. Abelhas dançando no ar.

Tinham segredos.
Montavam bodes.
Faziam pactos de sangue.
Adoravam o diabo.

Não conseguia ver meu pai fazendo nada disso, principalmente montar um bode. Então nunca levei essas crendices muito a sério.

Mas gostavam, sim, de símbolos.
E de roupas estranhas.
Aventais.
Babadores.
Anéis.

Não conseguia imaginar meu pai de avental, como minha mãe, e de babador, como meu irmão caçula.

Mas isso não queria dizer nada, porque eu tampouco conseguia imaginá-lo fazendo sexo com minha mãe – eu tinha doze anos, já tinham me contado tudo na rua, e, como éramos cinco filhos, eu sabia não apenas que já tinham feito, como que não fora uma vez só.

Mas entre acreditar e conseguir imaginar vai uma boa distância.

Eu via os maçons como uma espécie de templários genéricos, fora de época, sem armadura, sem cavalos, sem jerusaléns a conquistar.

Seu templo era, naquela época, uma série de valetas escavadas no terreno baldio em frente à nossa casa, onde seriam as fundações da sua Loja.

Brincávamos por ali, tentando adivinhar onde era a sala da caveira, o calabouço, a sala do bode.

Só quando começaram a subir a construção é que perceberam que havia um erro no projeto. O engenheiro rabiscara a planta apenas com linhas, sem considerar a espessura das paredes.

Com 50 cm perdidos nas alvenarias externas, mais 15 descontados aqui, 15 esquecidos ali e outros 15 acolá, as salas menores se tornaram corredores.

Alheios às sérias discussões dos adultos sobre como resolver o problema e salvar a Loja, brincávamos do mesmo jeito no corredor da caveira, no corredor do calabouço, no corredor do bode.

Nisso que dava acreditar num Supremo Arquiteto do Universo e contratar um engenheiro na hora de fazer o projeto.
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Eduardo Affonso é arquiteto mineiro de Belo Horizonte, 1950. Colunista do jornal O Globo. Coordena a Oficina Literária Eduardo Affonso, voltada para cronistas. Participa do coletivo literário Flique. Nenhum livro publicado.

Fontes: 
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Eduardo Martínez (Os cunhados e a discórdia)

Laureano, solteirão mais do que convicto, não se dava com Deóclides, o cunhado. Os dois não trocavam palavras, apesar de morarem no mesmo sítio. Aliás, o modo como essa situação se deu é até curiosa e, por isso, vale a pena ser contada.

Deóclides, aos 23 anos, se viu apaixonado por Gilda. A moça pareceu interessada, tanto é que aceitou o pedido de casamento sem esboçar qualquer indício de desapontamento. Talvez fosse boa atriz ou, então, tímida o suficiente para contrariar a aprovação da família, ainda mais porque o noivo apresentava boa procedência, sem contar que era proprietário de bom comércio na cidade e residia em bela propriedade rural.   

O casal, apesar de algumas rusgas, viveu uma vida harmoniosa. Deóclides a tudo aceitava, inclusive o pedido da mulher para que o irmão dela, Laureano, residisse no sítio. Obviamente em um pequeno galpão, logo transformado em moradia. Gilda sabia que o irmão e o marido não se bicavam, mas Laureano, com as finanças às minguas, precisava de um teto. 

O que parecia ser circunstância momentânea se estendeu por décadas. E, durante todo esse tempo, nenhuma palavra foi trocada entre os cunhados. Se precisassem se comunicar, usavam Gilda como intermediária. Mas eis que, por mera distração, Gilda tropeçou numa pedra qualquer de Drummond e bateu a cabeça em outra menos poética. 

O enterro se deu no dia seguinte. Laureano e Deóclides, cada um no seu canto, verteram lágrimas sinceras. Em seguida, voltaram para o sítio, onde se isolaram ainda mais um do outro. É verdade que, diante de tamanha perda, pensaram em se reconciliar, fato que jamais aconteceu. Rabugentos que eram, deixaram de lado qualquer tentativa de aproximação. 

Mais um par de anos, foi a vez de Laureano deixar o plano material. O corpo enrijecido foi encontrado na poltrona. Quem o achou foi Chiquinha, empregada de Deóclides. Não que ele estivesse preocupado com o sumiço do cunhado. Era mais por curiosidade sobre o que havia acontecido com o desafeto.

— Chiquinha, vá ver o que aconteceu com o irmão da falecida.

Assim que retornou, a mulher, cara mais branca do que vestido de noiva intocada, balbuciou:

— Patrão, o homi morreu.

— Desgraça! Agora vou ter que pagar até pelo enterro daquele traste. 

Durante o velório, Deóclides não fez questão de manter as aparências. Tanto é que chegou bem perto do defunto e disse o que estava represado durante mais de 40 anos. Só não cuspiu no rosto do cunhado porque pensou que não valia a pena gastar ainda mais saliva.

Deóclides retornou à noite para o sítio. Sentou-se na cadeira de balanço na varanda e, pensativo, fitou a residência de Laureano madrugada adentro. Acabou adormecendo, sendo despertado pelo canto dos galos no amplo terreiro. Resmungou algumas palavras e ergueu o corpanzil dolorido. 

Quase uma semana após o enterro, Deóclides mandou atear fogo no barraco do desafeiçoado.  Foi momento de puro regozijo. Abriu a melhor garrafa de vinho tinto e a sorveu por inteiro, enquanto as labaredas tomavam paredes, telhado, assoalho e móveis do antigo abrigo do finado.

Livre! Finalmente livre! Deóclides não precisaria mais se preocupar com o cunhado. Ele até imaginou que o desagradável sujeito estivesse tendo uma conversinha com o Demônio em pessoa. 

— O bate-papo deve estar fervendo! 

No dia seguinte, Deóclides foi se certificar de que só havia cinzas. Para seu espanto, percebeu um cofre intacto. Chegou mais perto, pegou o lenço no bolso da calça e limpou o objeto, que estava trancado. Qual o segredo? Tentou pelos próximos dois dias, até que mandou vir o chaveiro.

— Seu Deóclides, faço o serviço.

— Pois faça!

— Hum... Quer o modo ligeiro ou demorado?

— Ligeiro, homem!

Menos de meia hora após, o cofre estava arrombado. Deóclides, precavido, pagou o preço combinado para o chaveiro e, em seguida, mandou o chaveiro ir embora. O dono do sítio observou o profissional entrar no automóvel e sumir na estrada de chão. 

Somente após ter certeza de que ninguém o estava observando é que Deóclides, finalmente, abriu a porta do cofre. Caiu para trás, ofuscado pelos raios do sol refletidos nas diversas barras de ouro devidamente empilhadas. O miserável do cunhado, apesar de ter levado uma vida de favores, era milionário.
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Eduardo Martínez possui formação em Jornalismo, Medicina Veterinária e Engenharia Agronômica. Editor de Cultura e colunista do Notibras, autor dos livros "57 Contos e crônicas por um autor muito velho", "Despido de ilusões", "Meu melhor amigo e eu" e "Raquel", além de dezenas de participações em coletânea. Reside em Porto Alegre/RS.

Fontes: 
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Vereda da Poesia = João Batista Xavier Oliveira


José Luiz Boromelo (Tenha paciência!)

Nessa época atribulada em que as pessoas vivem correndo de um lado para o outro, a falta de paciência é a face mais visível desse novo conceito de vida moderna. No ambiente doméstico casais vivem às turras por deixarem o diálogo e a paciência de lado. Os filhos carecem de paciência para superar a fase quase sempre instável da adolescência. Os namorados brigam por qualquer coisa, por mais ínfima que seja. No trânsito a coisa é pior ainda. Sempre apressados, motoristas, ciclistas e pedestres travam uma batalha diária por um espaço cada vez mais raro em nossas vias públicas. Nos serviços essenciais nossa paciência é colocada à prova a todo o momento. Quem ainda não perdeu a sua, além do tempo precioso diante de uma fila completamente estática nas agências bancárias de nosso país? E o exercício de se manter a estabilidade emocional em dia não para por aí. Tente fazer alguma reclamação, solicitação ou coisa parecida para algum serviço de atendimento telefônico do tipo 0800. Além de esperar por um bom tempo e em alguns casos por horas o cidadão tem que ser dotado de muita paciência mesmo, para não mandar às favas os atendentes e ainda conseguir atingir seus objetivos.

Mas sem paciência não conseguimos nada, inclusive uma senha na madrugada para atendimento no caótico ambiente dos hospitais públicos, mais parecidos com um “front” de guerra. E haja uma dose cavalar dela ao esperar por dias e até meses para se agendar uma cirurgia, por mais urgente que seja. Exercite sua paciência para suportar o aperto nos ônibus, metrô e trens urbanos, comparados a latas de sardinha. Nesse caso específico, a paciência é um equipamento de porte obrigatório, pois a população não encontra alternativas para evitar esse tão importante meio de transporte.

Outras situações também colocam nossa pouca paciência à prova: ao ligar a TV temos a impressão que as emissoras competem entre si para nos brindar com o que há de pior; há que se ter ainda a paciência de Jó ao enfrentar longas filas para depositar nas urnas o nosso voto e outras tantas mais, que requerem uma dose extra dessa incrível capacidade em suportar as adversidades do cotidiano.

 De tanto falar em paciência lembrei-me do saudoso amigo Anacleto, uma pessoa exageradamente tranquila, que não tinha pressa alguma na vida. O que ele mais tinha era paciência. Quando encontrava os amigos, vinha sempre com uma de suas tiradas impagáveis: “Tenha paciência nessa vida, pois tudo é passageiro. Menos o cobrador e o motorista”. Obrigado companheiro, por seu exemplo de como levar a vida com paciência, mesmo que ultimamente eu não tenha seguido à risca seus conselhos. E você leitor, que teve paciência suficiente para ler tudo isto, faça como o Anacleto: no seu dia a dia, tenha um pouco mais de paciência...!
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José Luiz Boromelo, é de Marialva/PR, policial rodoviário aposentado, escritor, cronista e agricultor, colaborador da Orquestra Municipal Raiz Sertaneja.

Fontes:
https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/5253583
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José Feldman (O Encontro no Cemitério)

Era uma noite tranquila em Piracicaba, e a lua cheia iluminava a rua Boa Morte, onde o Leandro, dono da funerária "Pé na Cova", fazia sua última checagem nas flores do altar no cemitério. Ele sempre achou que as flores eram como os clientes: tinham que estar sempre bem apresentáveis, mesmo que a maioria não estivesse mais entre os vivos.

Enquanto isso, Belarmino, um vendedor ambulante que passara os últimos anos viajando pelo Brasil, finalmente decidira voltar à sua cidade natal. Ele carregava uma sacola cheia de bugigangas variadas — desde chaveiros de plástico até garrafinhas de água com a imagem do Cristo Redentor. Seu retorno, no entanto, não era apenas para vender suas quinquilharias, mas também para visitar os túmulos dos pais.

Assim que Belarmino chegou ao cemitério, avistou Leandro, que estava concentrado em arrumar as flores. Um sorriso brotou em seu rosto ao ver o amigo de infância.

— E aí, Leandro! — gritou Belarmino, acenando com a mão. — O que você está fazendo tão tarde aqui? Esperando alguém?

Leandro virou-se, surpreso, e logo reconheceu a figura conhecida. 

— Belarmino! Que surpresa! Você não mudou nada, só adicionou algumas bugigangas a mais! — riu Leandro, enquanto se aproximava.

— É, meu amigo! O mundo é cheio de coisas inúteis, e eu sou o mestre em vendê-las! — respondeu Belarmino, piscando.

— Que bom que você voltou! Estava pensando em quem eu poderia contratar para ajudar na funerária. Você não quer trabalhar comigo? Poderíamos usar alguém com seu talento de vendas.

Belarmino arregalou os olhos, como se Leandro tivesse sugerido que ele vendesse almas.

— Trabalhar em uma funerária? Ah, não, Leandro! Você sabe que eu sou supersticioso! — disse ele, dando um passo para trás, como se afastasse um espírito maligno.

— Supersticioso? E desde quando? Você sempre foi o primeiro a se arriscar em tudo! — provocou Leandro, cruzando os braços.

— Olha, eu já vendi de tudo, de cuia de chimarrão a saquinho de erva-dos-gatos. Mas trabalhar em um lugar que lida com a morte? Isso é de dar medo! — respondeu Belarmino, olhando ao redor como se esperasse ver fantasmas.

Leandro riu e gesticulou dramaticamente.

— Ah, vai! Você não precisa ter medo! Morto não morde! Venha passar um tempinho aqui. Você ia adorar. Podemos até criar promoções! “Compre um caixão e leve um jazigo de brinde!”

Belarmino fez uma careta.

— E se as almas não gostarem da promoção? Já pensou que eu posso atrair uma maldição? — a expressão no rosto era de receio genuíno.

— Maldição? Você já vendeu itens com zumbis e ainda está aqui, vivinho da silva! Olha, a gente poderia fazer um grande evento: “O Dia da Morte com Desconto!” — sugeriu Leandro, rindo.

— Isso é um marketing pesado, meu amigo! — Belarmino balançou a cabeça, tentando se conter. — E se, em vez de clientes, aparecerem só almas penadas?

— Então a gente oferece um pacote promocional: “Traga um amigo e ganhe uma lápide personalizada!” — Leandro se divertia com a ideia.

Belarmino não conseguia mais se conter. 

— Você é maluco, sabia? Mas não posso negar que a ideia é boa! E quanto mais eu penso, mais eu imagino o caos que isso ia causar no cemitério. 

Leandro, agora sério, perguntou:

— Mas, sinceramente, o que você tem contra a morte? Todo mundo vai passar por isso um dia. A diferença é que eu ajudo a tornar a passagem mais tranquila.

Belarmino suspirou, um pouco mais sério agora.

— Olha, eu só não gosto de lidar com essas coisas. É como se eu fosse um vendedor de sonhos e você fosse o vendedor do fim. Não dá! Eu prefiro o lado alegre da vida!

Leandro assentiu, compreendendo a perspectiva do amigo. 

— Tá certo, Belarmino. Mas uma coisa é certa: se precisar de caixão, você sabe onde me encontrar! — disse, piscando.

— E se precisar de bugiganga, é só me contatar! — Belarmino respondeu, estendo a mão com um cartão.

Os dois se entreolharam e, por um momento, a amizade que os unia desde a infância se fortaleceu ainda mais. 

— Então, vamos tomar uma cerveja? — sugeriu Leandro, mudando de assunto. — Para celebrar nossos trabalhos!

— Com certeza! E nada de ultrapassar os limites do cemitério, hein? — Belarmino disse, enquanto os dois caminhavam em direção à saída.

A cerveja que Leandro e Belarmino escolheram era uma artesanal local chamada "Pira Pura". Servida em canecos de vidro gelado, sua cor âmbar brilhante refletia a luz da lua, criando um brilho dourado que parecia dançar entre as bolhas.

Leandro e Belarmino estavam sentados em uma mesa de madeira rústica, com os canecos de "PiraPura" à frente. A conversa começou a fluir naturalmente, acompanhada de risadas. 

Leandro começou a contar casos que ocorreram com ele: “Houve uma vez em que um cliente pediu um caixão "temático", sabia? Ele queria um que parecesse uma guitarra!”

 Ah, claro, lembro vagamente! E você acabou fazendo um caixão que mais parecia um palco de rock! O cara deveria ter sido enterrado com um microfone! (Fingindo ser solene) "Aqui jaz o grande roqueiro, que nunca parou de tocar até o fim!" E o que foi aquele funeral? Todo mundo dançando e batendo cabeça ao som de "Highway to Hell"!

Ambos riram muito.

Leandro abrindo os braços disse: “Foi o primeiro enterro que eu vi ser animado! Aposto que até as almas estavam batendo palmas!  Mas teve uma vez que eu fui fazer uma visita a um cemitério onde um "cliente" pediu para ser cremado com seu gato. Fui até lá e, surpresa! O gato estava mais vivo que nunca!"

— O que você fez? Deu um jeito de convencer o gato a entrar no caixão? - disse, rindo.

— Até que tentei convencer o gato, ele simplesmente se recusou a entrar, deu um miado e sumiu de vista.

— É, gato é um bicho complicado. Eles têm um senso de sobrevivência bem apurado!” – disse Belarmino, rindo. 

— E você, Belarmino? Alguma história engraçada das suas vendas de bugigangas?

— Ah, teve uma vez que eu tentei vender chapéus de palha em uma feira. Um cliente pegou um e disse: "Esse chapéu é tão bonito que me faz parecer rico!" E eu respondi: "Se você comprar dois, eu garanto que você vai parecer um milionário!" 

Leandro rindo: “E o que aconteceu? O cara comprou dois?”

— Não! Ele ficou tão distraído que saiu correndo e deixou o chapéu pra trás!

Leandro se divertindo: “Então você se tornou o primeiro vendedor a vender chapéus invisíveis!” 

— Exatamente! E ainda consegui um novo slogan: ‘Se você não vê, é porque é caro!’

Os dois gargalharam, e a cerveja "Pira Pura" descia suave, acompanhada de histórias que só reforçavam a amizade deles. 

Leandro levantando o caneco: Às nossas aventuras! Que venham mais histórias malucas!

— E que cada caneco venha cheio de boas risadas! Saúde!

Os canecos se chocaram mais uma vez, ecoando na noite, enquanto eles continuavam a compartilhar suas memórias hilárias, cada gole de cerveja trazendo à tona mais risadas e lembranças.

E assim, sob a luz da lua e com risadas ecoando pelo cemitério, Leandro e Belarmino se afastaram, cada um com suas peculiaridades, mas unidos pela amizade que transcendia até mesmo a linha da vida e da morte.
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Fontes:
 José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: Plat.Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Erigutemberg Meneses (Cascata de versos) 06

 
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José Erigutemberg Meneses de Lima nasceu em Fortaleza/CE, radicou-se em Blumenau/SC. Advogado aposentado do Banco do Brasil, com graduação em Ciências Econômicas e Direito pela FURB - Fundação Universidade Regional de Blumenau, dedica-se às letras, escrevendo prosa na forma de crônicas, contos, ensaios, textos jurídicos e poesia, especialmente, sonetos. Publicou “Raptos Líricos” - Sonetos, 2005; Portas da Solidão pela Fundação Cultural de Blumenau, 1996. 

Humberto de Campos (A derradeira "morada")

O administrador do cemitério de S. Geraldo, Alfredo Costa Ximenes, residia, há anos, à rua Real Grandeza, quando, em março último, forçado a mudar de casa, foi alugar um prédio de segunda ordem, de que era proprietário o comendador Augusto Gonçalves Teixeira, que lhe foi dizendo, logo, sem circunlóquios:

- O aluguel da casa é quinhentos e vinte mil réis, fora a pena d'água e a taxa sanitária. Além disso para que eu lhe dê a chave, o senhor terá de pagar-me seis contos de réis de "luvas".

Debalde o honrado funcionário da Morte chorou, suplicou, implorou; o comendador mostrou-se inabalável na sua exigência, e ele teve de arranjar, mesmo, as "luvas", para se não ver, de uma hora para outra, lançado à rua com a família.

Dois meses depois desse episódio, estava o administrador, uma tarde, no seu posto, na secretaria da necrópole, quando parou ao portão, buzinando e rolando, um cortejo funerário. Levada às suas mãos a papeleta fúnebre, o funcionário viu pelo nome, que o morto era, nada mais, nada menos, do que o seu senhorio, o comendador Gonçalves Teixeira e teve, de repente, a ideia de uma represália: chegou ao portão, onde o esquife já repousava, agaloado, na carreta do cemitério, e, recebendo da família a chave do caixão, mandou rodar o ataúde no rumo da sepultura.

Terminadas, ali, entre lágrimas e vertigens, as angustiosas despedidas da praxe, um filho do defunto mandou chamar o administrador, a quem havia dado a chave do esquife, para que fosse identificar o morto, e fechar o caixão.

- Pronto! - apresentou-se Ximenes, apertado na sua sobrecasaca preta. - Que desejam?

- A chave, - explicou um parente do defunto.

- Suspendam a tampa do esquife, - ordenou o administrador.

Um amigo abriu o caixão funerário, onde jazia, inteiriçado, vestido de preto o corpo do desventurado capitalista.

Ximenes passou, meticuloso, a vista sobre o cadáver, e, vendo-lhe as mãos nuas, cruzadas sobre o peito bojudo, reclamou, severo:

- E as "luvas"? Querem, então, que ele desça à derradeira "morada" sem as "luvas"?

E não entregou a chave!
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Humberto de Campos Veras nasceu em Miritiba/MA (hoje Humberto de Campos) em 1886 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1934. Jornalista, político e escritor brasileiro. Aos dezessete anos muda-se para o Pará, onde começa a exercer atividade jornalística na Folha do Norte e n'A Província do Pará. Em 1910, publica seu primeiro livro de versos, intitulado "Poeira" (1.ª série), que lhe dá razoável reconhecimento. Dois anos depois, muda-se para o Rio de Janeiro, onde prossegue sua carreira jornalística e passa a ganhar destaque no meio literário da Capital Federal, angariando a amizade de escritores como Coelho Neto, Emílio de Menezes e Olavo Bilac. Trabalhou no jornal "O Imparcial", ao lado de Rui Barbosa, José Veríssimo, Vicente de Carvalho e João Ribeiro. Torna-se cada vez mais conhecido em âmbito nacional por suas crônicas, publicadas em diversos jornais do Rio de Janeiro, São Paulo e outras capitais brasileiras, inclusive sob o pseudônimo "Conselheiro XX". Em 1919 ingressa na Academia Brasileira de Letras. Em 1933, com a saúde já debilitada, Humberto de Campos publicou suas Memórias (1886-1900), na qual descreve suas lembranças dos tempos da infância e juventude. Após vários anos de enfermidade, que lhe provocou a perda quase total da visão e graves problemas no sistema urinário, Humberto de Campos faleceu no Rio de Janeiro, em 1934, aos 48 anos, por uma síncope ocorrida durante uma cirurgia. Além do Conselheiro XX, Campos usou os pseudônimos de Almirante Justino Ribas, Luís Phoca, João Caetano, Giovani Morelli, Batu-Allah, Micromegas e Hélios. Algumas publicações são Da seara de Booz, crônicas (1918); Tonel de Diógenes, contos (1920); A serpente de bronze, contos (1921); A bacia de Pilatos, contos (1924); Pombos de Maomé, contos (1925); Antologia dos humoristas galantes (1926); O Brasil anedótico, anedotas (1927); O monstro e outros contos (1932); Poesias completas (1933); À sombra das tamareiras, contos (1934) etc.

Fontes: Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925. Disponível em Domínio Público.  
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Vereda da Poesia = 192


Trova de
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
Fortaleza/CE, 1949 - 2020

Nos quatro dias de momo
ante tanta bebedeira,
eu estarei, não sei como,
quando chegar quarta-feira!
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Assim em suas mãos nos troca a vida
(Sophia de Mello Breyner Andresen in "Mar novo")

Assim, em suas mãos nos troca a vida
As sendas que escolhemos percorrer
Só porque ela quer, pode e tem prazer
Em ver a nossa sorte confundida.

Não vale a pena a um sonho dar guarida
Por no peito um desejo de viver
Que a vida tem o modo e o poder
De nos abrir na alma uma ferida.

Impotentes ficamos para dar
Outros rumos ao nosso caminhar
Sujeitos aos caprichos do destino.

Aos ombros carregando cruz tão má
Indo o Homem, por onde quer que vá
Será sempre um eterno peregrino.
= = = = = = = = =  

Trova de
MAURÍCIO FERNANDES LEONARDO
Ibiporã/PR

O pobre muito detesta
se o rico diz por chalaça:
“Arruaça de rico é festa, ...
festa de pobre é arruaça”!
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Prenúncios

Sensível, o olhar
Pousa na fonte
Repleta,
De falhas do plátano,
Sinto a poesia
E solidão do cântaro...

Distancia-se o pensamento,
O venta sussurra teu nome...
E, nas esmaecidas e diáfanas cores
De mais um por do sol -
Prenúncios de Saudade...
= = = = = = 

Trova de
AUROLINA ARAÚJO DE CASTRO
Manaus/AM (1933 – 2004)

Ao reler o livro antigo,
grande emoção me tomou:
deu-me a impressão de um amigo
que de repente voltou.
= = = = = = 

Poema de
CARLOS FERNANDO BONDOSO
Alcochete/ Portugal

Canto à flor

germinam sementes
e outras secam por incúria

nascem trepadeiras e uma flor 
que guardo no espaço
e no tempo
é o cheiro do mundo 
num momento de silêncio

é a flor da buganvília
que cresce sempre primeiro
histórias escritas
e rasuradas
contadas como contos verdadeiros

pinceladas
aquarelas
tintas trabalhadas
com cheiros de verdade

é a flor
que se solta no tempo
com a fúria do temporal
mas que não se quebra
nas asas do vento

é a tristeza e a dor
num canto simples e triste
que se funde na alma
onde só os sonhos podem morar

é este o meu canto à flor 
aqui nesta folha de papel
= = = = = = = = = 

Trova de
CAMPOS SALES
Lucélia/SP, 1940 – 2017, São Paulo/SP

Não gostou de ser cobrado,
no velório o Zé pirou,
foi tapa pra todo lado,
até o defunto apanhou.
= = = = = = 

Poema de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Campo-Santo

Os anos matam e dizimam tanto
Como as inundações e como as pestes...
A alma de cada velho é um Campo-Santo
Que a velhice cobriu de cruzes e ciprestes
Orvalhados de pranto.

Mas as almas não morrem como as flores,
Como os homens, os pássaros e as feras:
Rotas, despedaçadas pelas dores,
Renascem para o sol de novas primaveras
E de novos amores.

Assim, às vezes, na amplidão silente,
No sono fundo, na terrível calma
Do Campo-Santo, ouve-se um grito ardente:
É a Saudade! é a Saudade!... E o cemitério da alma
Acorda de repente.

Uivam os ventos funerais medonhos...
Brilha o luar... As lápides se agitam...
E, sob a rama dos chorões tristonhos,
Sonhos mortos de amor despertam e palpitam,
Cadáveres de sonhos...
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Inimigo do trabalho,
é meu primo, o “Paraíba;” 
seu emprego é no baralho: 
buraco, truco e biriba.
= = = = = = 

Poema de 
MÁRIO JSL LOUREIRO
Ourém/ Portugal

Amo-te como quem ama uma trajetória lunar
como quem mata a sede na areia do deserto
Amo-te como à luz do sol que aquece a terra
sempre terno e empenhadamente marítimo 
E como não haveria eu de amar dos teus lábios
a mais eloquente poesia
Dos teus olhos encantados risos 
e os mais coloridos sonhos de amor
Amo-te nua
sem outra decoração que a do teu coração
Sólida sensual como um axioma que é livre
pedra filosofal da alegria ou de uma lágrima
que repousa funda na verdade que nunca foi dita
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

O pai da moça, que é mau, 
chega em casa e acaba o "baile"...
É que o Zé, "cara de pau", 
tava namorando em..."braile"!!!
= = = = = = 

Poema de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN

Pombos Mensageiros

Transformados em pombos cor de neve,
Entraram-me a cantar pela janela,
A tua carta delicada e leve
E o beijo amigo que envolveste nela.

Ó que alegria para o coração
Onde a Saudade, sempre em flor, renasce!
A carta leve me pousou na mão
E o beijo amigo acarinhou-me a face.

E então, a rir, ó pomba idolatrada!
Eu transformei meu coração em ninho:
Nele repousa a tua carta amada
E canta o beijo a ária do carinho.
= = = = = = 

Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

Morre a flor na flor da idade,
padece a planta de dor;
a ausência deixa saudade,
até na morte da flor!
= = = = = = 

Hino de
RONDONÓPOLIS/MT

Quão rebento brotastes radiantes, 
como estrela de raro fulgor
Tão sonhada na força que emana, 
fruto terno de nosso suor
Neste solo de seiva gigante, 
esta linda cidade floriu
Dando brilho as cores que marcam, 
a bandeira do amado Brasil.

Rondonópolis, Rondonópolis
Surgiste oh... brasão imponente
Praza Deus que em ti paire a graça
Que envolve de amor tua gente

Nas belezas das matas e montes, 
nas entranhas de vales e rios
Na nobreza do denso cerrado, 
foi assim que este sonho seguiu
Brasileiros de plagas distantes, 
cá vieram trazer seu labor
E na luta perene e vibrante, 
construímos solene penhor

Rondonópolis, Rondonópolis
Surgiste oh... brasão imponente
Praza Deus que em ti paire a graça
Que envolve de amor tua gente

Rio vermelho e majestoso, 
lenda viva que a todos encanta
Onde a balsa Rosa Bororo, 
navegou transportando esperança
Foi sustento do índio que viu, 
tudo isso gestar e nascer
E o presente nos passa o comando, 
pra fazer essa terra crescer

Rondonópolis, Rondonópolis
Surgiste oh... brasão imponente
Praza Deus que em ti paire a graça
Que envolve de amor tua gente

Todos que precederam essa história, 
salve, salve a nobre missão
Pois sabiam que a nossa vitória, 
era certa na força do chão
E cantamos tuas maravilhas, 
em memória do marechal
Novos passos teu povo palmilha, 
pelas trilhas do seu ideal.

Rondonópolis, Rondonópolis
Surgiste oh... brasão imponente
Praza Deus que em ti paire a graça
Que envolve de amor tua gente
= = = = = = = = =  

Poema de
CÉLIA EVARISTO
Lisboa/ Portugal

A última vez

Nunca soube
quando seria a última vez
que te beijava,
que te abraçava,
que te tocava.

Nunca soube…
Vivi tudo tão intensamente,
pensando apenas no presente
e nunca num futuro fugidio.
Porque, se soubesse
que seria a última vez,
tudo teria sido diferente.

Mas nunca soube,
nunca me despedi,
levaram-te os ventos,
fiquei sem ti.
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP

Eu juro, mas com loucura, 
minha emoção num relance, 
abre a porta, quebra a jura 
e a ti concede outra chance.
= = = = = = = = = 

Grinalda de Trovas de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

Vive sem paz, meu amigo, 
sem cultivar a harmonia 
sem pressentir o perigo 
quem aos outros calunia. 

Quem aos outros calunia 
sem procurar a verdade, 
tem a vida mais vazia 
por interesse ou maldade. 

Por interesse ou maldade 
é burrice e covardia 
quem age sem humildade 
não pode ter alegria. 

Não pode ter alegria, 
quem vive sem amizade. 
Não há luz, sabedoria, 
nem paz e felicidade.
= = = = = = = = =