EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Ela engana o marinheiro
que sempre lhe afoga a mágoa.
Também engana o padeiro...
e vai vivendo a pão e água!
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Poema de Porto União/SC
BENJÚNIOR
(Benevides Garcia Barbosa Júnior)
TARDE AZUL
Olhando por esta janela antiga,
Nem mais sei
O que eu sou.
Já não ouço mais
Meus blues,
Nem tenho tempo
Para ver o sol nascer.
Só restam lamentos
Nas minhas tardes azuis,
Uma tristeza profunda,
Vontade de não mais ser...
Como um espantalho
levado pelo vento
vou seguindo a vida,
esquecido dos deuses,
ermo de amores,
carente de pensamentos,
distante de tudo,
crivado de dores...
Sou agora aquele que nunca foi.
Aquele que nunca ousou,
alguém que nunca amou...
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Aldravia de Juiz de Fora/MG
CECY BARBOSA CAMPOS
na
orquestra
da
vida
sons
dissonantes
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Soneto de Vitória/ES
BERNARDO TRANCOSO
(Bernardo Sá Barreto Pimentel Trancoso)
LOUCURAS DE AMOR (I)
Torcer por um amor insano, incerto,
É ser um sonhador, ter peito aberto
Pra suportar a dor, infernizante,
Que a insegurança traz a cada instante.
É ver a alma perdida num deserto,
Sedenta e entristecida; é estar tão perto
De ser feliz na vida e tão distante
Desta felicidade, desta amante.
Passa o tempo e o desejo permanece,
Mas o corpo envelhece. Penso, então,
Que a alegria se encontra em outro plano.
Sabendo disso, um ser novo aparece
E, pretendendo alçar seu coração,
Arrisco um novo amor incerto, insano.
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Trova Premiada em Montes Claros/MG , 2010
OLGA AGULHON
(Maringá/PR)
Mesmo das lutas vencidas,
restou-me tanto cansaço,
que nas armas recolhidas
só vi renúncia e fracasso.
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Poema de Évora/Portugal
POETA SILVAIS
(Manuel Joaquim Frades Carvalhal)
DEDICADO AO MENSAGEIRO
Mensageiro a Poesia
Está-te muito agradecida
E o Poeta dia a dia
Dá-te rimas que são vida
De tristeza já esquecida
Por carinho e simpatia
A pobreza enriquecida
Dá-te amor por cortesia
Do pai da mãe e da tia
Do primo do neto e avô
Quero que siga a “Dinastia”
Desta herança que te dou
O amar a quem te amou
E amanhã quem te amará
Daquilo que não estimou
Nunca nada te dará
Qualquer dia venho cá
E não é pra te agradar
Quem critica ajudará
Tua vida a melhorar
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Quadra Popular de Faro/Portugal
ISIDORO CAVACO
(Antonio Isidoro Viegas Cavaco)
Dando aos sonhos mais diversos,
forma, pureza e encanto,
apenas em quatro versos
os poetas dizem tanto!...
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Soneto de Lisboa/ Portugal
JOAQUIM EVÓNIO
(Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos)
(Funchal/Ilha da Madeira/Portugal, 1938 – 2012, Lisboa)
NOTURNO EM SETEMBRO
Hoje a lua nasce muito mais tarde
Nesta tristeza que trago comigo
Rompe farrapos do céu sem estrelas
Prata que não tange os sinos da aldeia
Dormem os poetas da minha rua
E os cães ladram sem saber porquê
Enquanto mais além é o silêncio
Que governa o tempo e o espaço
E eu observador intemporal
Prisioneiro de minhas verdades
Deitei-me logo a adivinhar
Se mais tarde quando o sol nascer
A lua lhe vai dizer em segredo
A solidão que passou esta noite
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Trova de Natal/RN
JOSÉ LUCAS DE BARROS
(Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN)
Zarpei ao romper do dia,
no meu barco, a velejar,
para "pescar" a poesia
que a Lua escondeu no mar.
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Poema de Alegrete/RS
MARIO QUINTANA
(Mário de Miranda Quintana)
(Alegrete/RS, 1906 – 1994, Porto Alegre/RS)
DATA E DEDICATÓRIA
Teus poemas, não os dates nunca... Um poema
Não pertence ao Tempo... Em seu país estranho
Se existe hora, é sempre a hora extrema
Quando o Anjo Azrael nos estende ao sedento
Lábio o cálice inextinguível...
O que tu fazes hoje é o mesmo poema
Que fizeste em menino,
É o mesmo que,
Depois que tu te fores,
Alguém lerá baixinho e comovidamente,
A vivê-lo de novo...
A esse alguém,
Que talvez nem tenha ainda nascido,
Dedica, pois, teus poemas,
Não os date, porém:
As almas não entendem disso…
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Triverso de São Paulo/SP
CARLOS SEABRA
que flor é esta,
que perfuma assim
toda a floresta?
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Sextilha de Fortaleza/CE
NEMÉSIO PRATA
(Nemésio Prata Crisóstomo)
POEMA DO ESQUECIMENTO...
Quando o tempo passa, a gente
passa a se esquecer "tudo",
uns dizem: "tá é demente!";
discordo..., porém, contudo,
entretanto, todavia...,
já esqueci o que escrevia:
mas comigo é diferente!
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Trova de Mangualde/Portugal
ELISABETE DO AMARAL
(Elisabete do Amaral Albuquerque Freire Aguiar)
A vida é feita de nadas,
enganando muita gente
que julgando águas paradas
vai ao sabor da corrente.
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Glosa de Porto Alegre/RS
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS
AO AMOR
Mote:
Em ternura plena e extrema,
nossos sonhos se cruzaram!
E a noite se fez poema...
E os versos também se amaram!...
FLÁVIO ROBERTO STEFANI
(Porto Alegre/RS)
Glosa:
Em ternura plena e extrema,
nos entregamos os dois,
numa carícia suprema,
sem antes e sem depois.
Nesse momento tão lindo,
nossos sonhos se cruzaram,
vivemos o amor, sorrindo,
por todos que já se amaram.
De amor, então, fiz meu lema.
Em beijos eu li teus versos,
e a noite se fez poema...
Unindo os sonhos dispersos.
Poesia, carinho e amor
abraçados, se irmanaram...
Nos amamos com fervor,
e os versos também se amaram!...
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Epigrama de Portugal
BOCAGE
(Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage)
(Setúbal, 1765 – 1805, Lisboa)
A UMA VELHA MUITO FEIA
Não veio a morte buscar-te
Com o seu chamante robusto,
Porque receia ao encarar-te
Morrer a Morte de susto.
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Soneto de Curitiba/PR
EMÍLIO DE MENESES
(Emílio Nunes Correia de Meneses
(Curitiba/PR, 1866 – 1918, Rio de Janeiro/RJ)
NUMA LÁPIDE
Qual se teu filho fora, eu me acabrunho
E, de mágoa, a falar-te mal me atrevo.
Aceita, entanto, o humilde testemunho
De quanto foste meu sagrado enlevo.
Fosse-me dado, de cinzel em punho,
Talhar o liso mármore em relevo,
E eu daria da pedra o eterno cunho
Às estrofes que em pranto e sangue escrevo:
Sei que não cabem nestes sons dispersos
O pranto em que esta angústia não se acalma,
E o sangue em que tais sons morrem imersos.
Não cabe dentro de votiva palma
Nem na estreiteza de mesquinhos versos
O infinito de dor que tenho na alma.
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Trova Premiada em Nova Friburgo/RJ, 1995
RITA MOURÃO
(Rita Marciano Mourão)
(Ribeirão Preto/SP)
Quando esta lua indiscreta,
me traz lembranças sem fim
eu choro o velho poeta
que morreu dentro de mim.
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Spina de São Paulo/SP
ARTUR JOSÉ CARREIRA
AMORES
Amores são diferentes
Amores são diversos:
Inversos são rancores.
Seus versos rimam meio assim,
Nos perplexos olhares, não sós,
Se prestam pelos seus favores.
Amores são divinos, sem alarde
Apenas pétalas ao chão, flores.
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Trova de São Paulo/SP
ELIAS PESCADOR
(Aparecido Elias Pescador)
Tropeiro da mocidade
galopando a solidão,
foste conquista, e és saudade
que deixa rastro em meu chão...
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Poema de Maia/Portugal
JOSÉ CARLOS MOUTINHO
MURMÚRIOS DISTANTES
Sufocam-me os dias do meu estar,
Aperta-se-me o peito angustiado pelo nada;
Solta-se-me um grito estrangulado
Que voa, pelos vales da esperança,
E é a tua voz, que no eco, me responde,
Palavras de amor e arrependimento;
Mas estão longe, muito longe,
E chegam-me num murmúrio…
Perdem-se na distância dos erros cometidos
E momentos sofridos,
Que nem os místicos luares sararam;
Tampouco as estrelas que nos iluminavam,
Te mostraram a luz do nosso caminho;
Desperdiçaste a felicidade que se te oferecia,
De um coração aberto e uma alma transbordante,
De alegria constante!
Recusaste o sol que aqueceria a tua frieza,
Renegaste até os perfumes que a natureza,
Te colocou na floreira da tua vida,
Na forma de belas rosas vermelhas,
Oferecidas em instantes de êxtase
Agora o Universo gira num desatino,
Descontrolado pela razão da inconsciência,
Que me leva a uma irónica saudade,
Que não faz mais sentido,
Metamorfoseada por outras razões.
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Poetrix do Rio de Janeiro/RJ
LÍLIAN MAIAL
violoncelo plangente
(o arco arranca sustenidos):
sinfonia pelo chão
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Poema de Curitiba/PR
DANIEL MAURÍCIO
Com a porta
entreaberta
Deixei que entrasses
No meu céu.
E no céu da tua boca
A lua procurei.
Mas pra
Surpresa minha,
Quando estava
De olhos fechados,
Estrelas
Tu me fizeste ver.
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Trova de Sorocaba/SP
TAPAJÓS DE ARAÚJO
(Raimundo de Araujo Chagas)
(Sorocaba/SP, 1894 – 1969)
Nesse amor aberto em palmas,
espero encontrar depois
um céu para duas almas
e um sonho para nós dois.
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Triolé* do Rio de Janeiro/RJ
MACHADO DE ASSIS
(Joaquim Maria Machado de Assis)
(1839 – 1908)
FLOR DA MOCIDADE
Eu conheço a mais bela flor:
És tu, rosa da mocidade,
Nascida, aberta para o amor.
Eu conheço a mais bela flor:
Tem do céu a serena cor
E o perfume da virgindade.
Eu conheço a mais bela flor:
És tu, rosa da mocidade.
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* Triolé, pequeno poema de forma fixa. Originário da França (triolet), ao mesmo tempo em que o rondel e o rondó, com os quais é confundido; o triolé tem sua própria estrutura poética. Deschamps, poeta francês medieval, julgava-o igual ao rondel, e assim há quem o considere até hoje. Caiu em desuso (completo) no século XVI e foi reerguido, na metade do século XIX, pelos poetas parnasianos. Dentre os nossos que experimentaram o triolé, destaca-se um nome ilustre, Machado de Assis.
A estrutura do triolé consta do seguinte: uma oitava, ou mais, com duas rimas apenas, de modo que o primeiro verso repete no quarto, e os dois primeiros fecham a estrofe, como o sétimo e oitavo, assim: ABaAabAB (as maiúsculas representam os versos que são repetidos como estribilho).
Consta de estrofes de oito versos, em duas rimas, com a seguinte disposição: abaaabab. O 1.º, o 4.º e o 7.º versos são iguais.
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