quinta-feira, 6 de junho de 2024

Vereda da Poesia = 26 =


Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Ao operar seu nariz
perdeu um olho, o Batista.
Vem outro louco e, então, diz
que o pagamento era... a vista!
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Soneto de Ilhavo/Portugal

DOMINGOS FREIRE CARDOSO

SINTO O SANGUE GELAR-SE-ME NAS VEIAS

José Barreto, in "Cânticos de Paixão e Outras Cores", p, 24

Sinto o sangue gelar-se-me nas veias
Quando no peito morre uma esperança
Ou se solta um cabelo de uma trança
Onde o ouro brilhava sem ter peias;

E quando a luz que havia nas ideias
Se extingue sem deixar qualquer herança
Que no futuro seja uma lembrança
Dos povos que cantaram epopeias.

E o meu corpo minado pelo frio
Ganha a dureza gélida de um rio
A que os polos dão alma de glaciar.

Sou branca massa de água deslizando
Que sobe um mar de mágoa abominando
Onde eu não sou capaz de me afogar.
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Aldravia de Belo Horizonte/MG

LUIZ CARLOS ABRITTA
Cataguases/MG, 1935 – 2021, Belo Horizonte/MG

navegador
solitário
quer
apenas
o
infinito
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Soneto Decassílabo Heróico, de Fortaleza/CE

CABEÇA DE POETA
(Odair Cabeça de Poeta)

SONETO À MULHER

Mulher, te vejo pura, qual criança
Revelando o amor todos os dias,
E ao contemplar estrelas, que alegria!
Eu sinto a tua essência, da esperança.

Mulher és, mais que tudo, temperança,
Ao compartilhar dores com os amigos,
És vício bom, um drible no perigo,
És emoção, és riso, boas lembranças.

O amor, em sua estrutura, é o pilar...
Uma carícia amiga, um despertar
Uma alma, prenhe de paixão, feliz,

E em seu espírito livre, sem ardis
Em meio a tantas pétalas, uma flor
És coração que explode em amor!
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Trova Premiada  em São Paulo/SP, 2010

ANTONIO DE OLIVEIRA 
(Rio Claro/SP)

Erra feio quem calcula
na equação da vida a dois,
que uma mentira se anula
quando há uma jura depois!
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Quadra Popular

A fita do teu cabelo
dá o nó, não chega a laço;
não faças conta comigo,
que eu contigo não a faço.
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Soneto de São João Del Rey/MG

MARIA EUGÊNIA CELSO
(Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça)
São João del Rey/MG, 1890 – 1963, Rio de Janeiro/RJ

MUDANÇA

Li no jornal teu casamento… Um instante
Sinceramente a humana espécie odiei,
Do mundo o horror se me tornou flagrante
E do planeta desertar sonhei.

Veio depois a reflexão calmante…
Do esquecimento obedecendo à lei
– De ti se fez me coração distante,
Com a vida e os homens me reconciliei.

Passou-se um mês… Hoje encontrei-te… O espanto
Fez-me um segundo emudecer, no entanto
Minh’alma logo te reconheceu.

Eras tu mesmo… mas diminuído,
Diverso, feio, gordo, envelhecido.
Mudaste acaso ou mudaria eu?
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Trova de São Paulo/SP

IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

A casa toda quebrada,
e o casal diz numa "boa":
- Mas que furacão, que nada,
foi só uma briguinha à-toa!...
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Poema de Fortaleza/CE

MARIA EVAN GOMES BESSA

PRAIA DE IRACEMA
 
Águas revoltas na ponte metálica
E o mar de um verde estonteante
Brinca com o vento em ondas
Que agitam turistas e visitantes.
 
A linguagem do mar é envolvente
Seduz a todos com seu simbolismo
E se traduz em falas misteriosas
Que inspiram ou provocam imobilismo.
 
Quantas histórias e vidas se passaram
Naquela praia de mares bravios,
Onde os poetas e boêmios viram
Guerreiros deslizarem em seus navios.
 
E a índia Iracema a correr na areia
Branca, esbelta, de pés descalços,
À espera do Guerreiro vive ainda
No inconsciente coletivo do povo.
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Haicai de Magé/RJ

BENEDITA AZEVEDO

O clarão da Lua
ressalta a torre da igreja – 
sombra na pracinha.
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Sextilha de Caicó/RN

HÉLIO PEDRO SOUZA

Bate forte um coração
quando um sonho é bem sonhado,
o caminho é mais florido
fica o céu mais estrelado,
e a lua aumenta o seu brilho
se o sonho é realizado.
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS
(Antonio Augusto de Assis)

A vida é um túnel estreito
que à eternidade conduz.
- Só o amor nos dá o direito
ao desembarque na Luz.
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Glosa de Petrópolis/RJ

GILSON FAUSTINO MAIA

MOTE:
Depois de uma certa idade
fui te esquecendo, meu bem;
chega um tempo em que a saudade
perde a memória também!
José Ouverney 
(Pindamonhangaba/SP)

GLOSA:
Depois de uma certa idade,
querendo a vida entender,
vi que a mente da saudade
pode o passado esquecer.

Sofri e chorei baixinho,
fui te esquecendo, meu bem,
quando eu vi que o teu carinho
desembarcou do meu trem.

Eu não sei se é por maldade,
mas é um fato frequente:
chega um tempo em que a saudade
também se afasta da gente.

Se a gente, por vil destino,
perde, na vida, o que tem,
mais tarde, por dom divino,
perde a memória também!
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Epigrama de Lisboa/Portugal

ANTONIO DINIS DA CRUZ E SILVA
Lisboa/Portugal, 1731 – 1799, Rio de Janeiro/RJ

Quando, Laurindo, sais tão penteado,
Tão nédio, tão gentil e tão rosado,
Da matreira raposa num momento
Logo me vem o dito ao pensamento:
Oh que bela cabeça por Apolo!
Mas que prol! Se não tem dentro miolo

(evocando a fábula da raposa e da máscara) 
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Soneto Alexandrino de São Simão/SP

THALMA TAVARES
(Vicente Liles de Araújo Pereira)

A UM JOVEM SUICIDA
 
Pela porta entreaberta o velho pai assoma.
Olha triste, em silêncio, a família e a casa.
E em soluços explode a dor que ele não doma, 
o mal contido pranto, a lágrima que abrasa.

A todos, de um só golpe, o sofrimento arrasa.
Inconsolável mágoa a casa inteira toma.
Parece que a tristeza, enfim, deitou sua asa
sobre um lar onde a paz era único idioma.

Tempos depois passou a dor e o desconforto.
Mas do pai, que abraçou um dia o filho morto,
como eterno castigo a dor não se apartou.

Ficou-lhe na lembrança – e pela vida inteira – 
a débil voz do filho e a queixa derradeira:
- Estou morrendo, pai!... A droga me matou! 
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Trova Premiada  em Ribeirão Preto/SP, 1997

ERCY MARIA MARQUES DE FARIAS 
Bauru/SP

Que bom se a gente pudesse
fazer tudo que não fez…
e a vida, a chance nos desse,
de ser criança outra vez!…
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Spina de Raul Soares/MG

VERA SALVIANO

ABANDONO

Sentindo agora, abandonada,
retira-se deveras entristecida.
Coisas da vida!

Sem saber o que pensar,
lá foi ela sem entender,
mais que triste, magoada, ferida!
As horas tombam, mortas agora.
Mais uma vez solitária, desiludida.
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Trova de Santos/SP

CAROLINA RAMOS

De esperanças carregada,
velejou por tantos portos;
hoje retorna a jangada,
trazendo meus sonhos mortos.
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Poema de Ribeirão Preto/SP

ELISA ALDERANI

TEMPOS DA INFÃNCIA

No tempo de minha infância,
longe da cidade vivia.
Minha casinha era pobre e pequena,
no verde dos campos sumia...
Milho e pastagem eram exuberantes.
Tinha uma estrada de terra batida,
onde sempre passavam os carros
puxados de dois bois, ofegantes.
Para ir até a escola,
talvez uma carona pegava.
Achava demais divertido
o balanço das rodas fazendo ruído.
Na volta, já de tardezinha
a mãe mandava buscar leite de vaca
no camponês que morava
na casa pequena, ao lado da minha.
Eu esperava ansiosa,
olhando curiosa a vaca leiteira,
que com os pés amarados
mexia o rabo, nervosa.
Maria, a camponesa,
usava saia preta e comprida.
Sentada numa cadeirinha,
com muito cuidado mungia.
Depois, o balde levava
e, devagar o leite ela coava.
Enchia uma xícara,
ainda lembro que era de cor verde,
e com carinho me oferecia.
O cálido leite quentinho
com a espuminha por cima
tinha sabor de carinho, e
matava a fome que tinha!
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Poetrix de Paranavaí/PR

RENATO FRATA
(Renato Benvindo Frata)

FLORES

Sensível, mas perfumada
chora a rosa
lágrimas de espinho.
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ 

RITA MOUTINHO

SONETO DO PROVÉRBIO

Depois da temporada de enlevo,
retorno à condição de submarino.
Ficarei mergulhada, sem relevo,
embalando o silêncio de ser sino.

Sinos só soam em horas muito raras.
São, é certo, instrumentos solitários,
mas plenos, mais plenos que as claras
orquestras que iluminam os cenários.

No recato da sombra, vou vivendo,
sem saber quando o lume se desnubla,
diversa de Penélope, escrevendo.

Sua grande atriz brilha no mundo,
nos bastidores, sou a chã que dubla,
mas, no escuro, o cintilo é mais profundo. 
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Trova de Santos/SP

EDNA GALLO

O meu coração cansado,
nas andanças da emoção,
hoje está triste, ancorado,
no porto da solidão.
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Poema de Maringá/PR

JAIME VIEIRA

CURVATURA

As estrelas se derramam no céu
mesmo quando, sob o peso dos anos,
não se olha mais para cima,
em busca de uma ilusão…

Envelhecidos os olhos,
a limitação humana
com as costas encurvadas
procura em poças d´água
o brilho das estrelas
refletidas no chão…

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