Lobito - Angola (pintura de A. Magalhães)
Parte 1 em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/01/luis-kandjimbo-breve-histria-da-fico.html
Parte 2 em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/01/luis-kandjimbo-breve-histria-da-fico_12.html
Parte 3 em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/01/luis-kandjimbo-breve-histria-da-fico_14.html
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4. O Exercício diferencialista da linguagem, a sátira a ironia e a verdade histórica na geração de 60
Em fins da década de 50 e em toda a década de 60 a prosa de ficção conhece novos impulsos com a afirmação de uma geração constituída por escritores que se nutriam de ecos das vanguardas literárias européias e latino-americanas. A crônica, o conto e o romance são gêneros narrativos que encontram cultores inventivos. Revelam-se nomes como Ernesto Lara Filho cujas crônicas Roda Gigante são publicadas no jornal de Angola, Henrique Guerra (A bola e a panela de comida ), Mário Guerra ( A cubata solitária), Mário António (Farra no fim de semana, Gente para romance, Crônica da cidade estranha) e António Cardoso.
A publicação das obras destes autores deve-se ao esforço de pequenas editoras como as Coleção Imbondeiro do Lubango, animada por Garibaldino de Andrade e Leonel Cosme, a Casa dos Estudantes do Império com a coleção Autores Ultramarinos em Lisboa e os Cadernos Capricórnio de Orlando de Albuquerque no Lobito.
É com a geração de ficcionistas de 60 que se registram os mais profundos e intencionais exercícios diferencialistas da linguagem narrativa, além da introdução de um tipo de personagens que assinalam uma ruptura com as propostas de Assis Júnior e Óscar Ribas.
MANUEL DOS SANTOS LIMA
Manuel dos Santos Lima, nasceu em 1935 na província do Bié. Publica As Sementes da Liberdade (1965), As Lágrimas ao Vento (1976) e Os Anões e os Mendigos( 1984). Com As Lágrimas e o Vento, Manuel dos Santos Lima é o primeiro escritor a construir uma trama que gravita em redor da guerra colonial. A história do último romance decorre em África num país chamado Costa da Prata cujo presidente é Davi Demba. É uma virulenta sátira dos regimes africanos de partido único e do culto da personalidade que reduzem os homens e a sua dignidade humana a meros serventuários de apetites da libido dominandi de ditadores e elites inescrupulosas que ainda abundam em África. Dentre os três romances merece destaque As Lágrimas e o Vento, se realizarmos uma leitura que privilegie a artesania na construção da história. É um dos primeiros romances sobre a guerra colonial angolana.
LUANDINO VIEIRA
Luandino Vieira nasceu em Portugal no ano de 1935, numa localidade chamada Lagoa do Furadouro. Veio para Angola aos três anos de idade na companhia de seus pais que eram colonos portugueses.
Foi preso em 1959. Voltou a ser preso em 1961 e condenado a 14 anos de reclusão.
Aquela intencionalidade de produzir uma linguagem distinta viria ser posta à prova em 1965, quando a Sociedade Portuguesa de Escritores atribuiu o Prêmio de Novelística ao livro Luuanda de Luandino Vieira que já publicara A Cidade e a Infância ( 1957). João Gaspar Simões, um dos críticos portugueses mais categorizados e que integrava o júri, recusou o seu voto. E explica assim a sua posição: “ (…) uma coisa é ser-se autor português, outra ser-se autor angolano, embora de expressão portuguesa (…), o falar dos personagens e o falar regional, o falar de um povo que, como o brasileiro, mais tarde ou mais cedo, independentemente, atingirá diferenciação (…)" Toda a obra de Luandino Vieira posterior a Luuanda está profundamente marcada por essa inquietação. Ao nível da linguagem Luandino Vieira combina a estratégia de invenção da língua do narrador que é diferente da das personagens. Isto acontece pelo fato de o autor pretender transpor deliberadamente para o texto uma experiência lingüística observada,mas não vivida. É por isso que, no nosso entender grande parte dos textos posteriores à A Vida Verdadeira de Domingos Xavier, sem prejuízo das finalidades estéticas prosseguidas, não são facilmente legíveis para o homem comum do meio luandense, em que é suposto decorrerem as ações.
ARNALDO SANTOS
É natural de Luanda onde nasceu em 14 de Março de 1935. Passou a infância e a adolescência no bairro do Kinaxixi, topônimo que ocupa um lugar privilegiado na sua produção narrativa. Aos vinte anos de idade publicou a sua primeira coletânea de contos Quinaxixi. Com o livro de crónicas Tempo do Munhungo, arrebatou em 1968 o Prêmio Mota Veiga, um dos poucos atribuídos em Luanda, na década de 60 e 70.
Arnaldo Santos situa-se ligeiramente num outro nível de tratamento da linguagem. É um preciosista na depuração do texto narrativo curto e de todos os seus recursos e elementos. Daí que a sua ficção narrativa não tenha conhecido até agora variações para além do conto (Kinaxixi), crónica (Tempo do Munhungo) e novela (A Boneca de Quilengues).
No dizer de Jorge Macedo, ele usa “ lexias-kimbundo no interior de um português de luzidia correção”. O seu nome é uma referência incontornável, associada àquele minimalismo narrativo que encontraremos igualmente em Boaventura Cardoso. É um dos poucos narradores que evidenciam elevado sentido de rigor na seleção dos tipos de personagens. Na sua obra inicial, reconhecemos traços característicos de uma perfeita articulação da psicologia das personagens a esse espaço urbano de Luanda que obedece à lógica e história predominantemente autóctones. Tal efeito é alcançado, por exemplo no conto A mulher do padeiro, através de uma conflituosa coabitação entre personagens portuguesas e luandenses. Embora o seu espaço físico e social de eleição seja o Kinaxixi, em Luanda, em A Boneca de Quilengues desloca essa minúcia para Benguela, realizando pela primeira vez a introdução de “lexias-umbundu”.
PEPETELA
Pepetela, pseudônimo de Artur Pestana, é natural de Benguela, onde nasceu em 1941. Realizou os estudos primários e secundários em Benguela e Lubango. Em Portugal frequentou o Instituto Superior Técnico de Lisboa. Após a sua fuga para o exílio, juntou-se ao Movimento de Libertação Nacional. Em Argel, formou-se em Sociologia e integrou a equipa que formou o Centro de Estudos Angolanos. Foi Vice-Ministro da Educação. Grande parte da sua produção foi publicada após a independência, como de resto se passa com uma boa parte dos ficcionistas angolanos.Publicou Muana Puó(1978); As aventuras de Ngunga(197..); Mayombe (1980); O Cão e os Calús(1985); Yaka (1985); Lueji,o Nascimento dum Império (1990); A Geração da Utopia (1992); O Desejo de Kianda (1995); Parábola do Cágado Velho(1996) A Gloriosa Família (1997). A tematização da história imediata, social ou política, e antiga constitui a trama de quase todos os seus romances como Mayombe, Yaka, Lueji,o Nascimento dum Império, A Geração da Utopia, Lueji, A Gloriosa Família.
É no cruzamento que a onomástica e as personagens estabelecem com a História onde vamos encontrar motivos de grandes interrogações sobre o labor ficcional de Pepetela. Em Yaka, um romance em que se conta a saga dos Semedo, uma família descendente de um antigo colono, este autor submete personagens da História de Angola como Mutu-ya-Kevela a um tratamento semântico que suscita alguma perplexidade para o leitor angolano avisado, numa trama que se traduz em inadequada superação das metáforas coloniais. Mutu-ya-Kevela, que é um herói da resistência ao colonialismo, não pode ser reduzido a “ monstro de dentes compridos” funcionando como um horror às crianças, tal como acontece em Yaka. A perplexidade atinge o apogeu, quando a incorporação de personagens-referenciais no romance deixam de satisfazer aquele fim, através do qual se deve reabilitar os heróis passado, da grande narrativa angolana que é a História de Angola. Em tudo isso reside uma inquietação com aquelas coisas que tocam as identidades coletivas e a legitimação do lugar que se ocupa na sociedade. Numa das suas entrevistas publicadas em livro, Pepetela revela as suas grandes preocupações com a formação da nação. E atribuía tal propensão e a recorrência do tema na sua obra ao fato de ter estudado Sociologia.
Com efeito, digno de destaque para aquilo que deve ser o cânone literário são Mayombe, A Geração da Utopia e Parábola do Cágado Velho. Aqui Pepetela revela-se um importante arquitecto para o imaginário angolano.
HENRIQUE ABRANCHES
Henrique Abranches nasceu em Lisboa em 1932. Foi para Angola em 1947 de que adotaria a nacionalidade. Com Pepetela fundou em Argel Centro de Estudos Angolanos onde trabalharam na redação de um manual de História de Angola. Publicou A Konkava de Feti, O Clã de Novembrino, Kissoko de Guerra,Titânia, Misericórdia para o Reino do Congo! e Senhores do Areal.
Três romances deste autor merecem a nossa atenção: A Konkava de Feti, O Clã de Novembrino e Misericórdia para o Reino do Congo!.
No primeiro socorre-se de materiais das tradições orais dos povos do sudoeste de Angola. O segundo narra a história de um naufrágio, gravitando à volta do velho tema da ilha. Os sobreviventes que, são colonos africanos cujo destino era o Brasil. Fundam uma nova comunidade no pedaço de terra para onde são lançados pelas ondas do Atlântico.Numa persistente luta contra as adversidades da natureza constroem uma sociedade cujas bases são constituídas pela cultura das diversas etnias do país de origem. Instituem regras e normas apropriadas à sua situação como, por exemplo, a que diz respeito à regulação das relações entre os homens e as mulheres, devido à escassez destas últimas.
Mas se tivermos em atenção a temática histórica, é sem dúvida o terceiro que melhor situa o autor no panorama ficção narrativa angolana.
Henrique Abranches vai à História de Angola e submete a um tratamento ficcional o chamado movimento messiânico dos antoninos que no século XVII é liderado por Cimpa Vita. O cenário é o reino do Congo, mais precisamente na região do Soyo.
MANUEL RUI MONTEIRO
Manuel Rui Monteiro nasceu na cidade do Huambo em 1941. Publicou O Regresso Adiado , Memória de Mar, Sim, Camarada!, Quem me Dera ser Onda, Crônica de um Mujimbo, 1 Morto & Os Vivos, Rio Seco, Da Palma da Mão.
Parte 2 em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/01/luis-kandjimbo-breve-histria-da-fico_12.html
Parte 3 em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/01/luis-kandjimbo-breve-histria-da-fico_14.html
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4. O Exercício diferencialista da linguagem, a sátira a ironia e a verdade histórica na geração de 60
Em fins da década de 50 e em toda a década de 60 a prosa de ficção conhece novos impulsos com a afirmação de uma geração constituída por escritores que se nutriam de ecos das vanguardas literárias européias e latino-americanas. A crônica, o conto e o romance são gêneros narrativos que encontram cultores inventivos. Revelam-se nomes como Ernesto Lara Filho cujas crônicas Roda Gigante são publicadas no jornal de Angola, Henrique Guerra (A bola e a panela de comida ), Mário Guerra ( A cubata solitária), Mário António (Farra no fim de semana, Gente para romance, Crônica da cidade estranha) e António Cardoso.
A publicação das obras destes autores deve-se ao esforço de pequenas editoras como as Coleção Imbondeiro do Lubango, animada por Garibaldino de Andrade e Leonel Cosme, a Casa dos Estudantes do Império com a coleção Autores Ultramarinos em Lisboa e os Cadernos Capricórnio de Orlando de Albuquerque no Lobito.
É com a geração de ficcionistas de 60 que se registram os mais profundos e intencionais exercícios diferencialistas da linguagem narrativa, além da introdução de um tipo de personagens que assinalam uma ruptura com as propostas de Assis Júnior e Óscar Ribas.
MANUEL DOS SANTOS LIMA
Manuel dos Santos Lima, nasceu em 1935 na província do Bié. Publica As Sementes da Liberdade (1965), As Lágrimas ao Vento (1976) e Os Anões e os Mendigos( 1984). Com As Lágrimas e o Vento, Manuel dos Santos Lima é o primeiro escritor a construir uma trama que gravita em redor da guerra colonial. A história do último romance decorre em África num país chamado Costa da Prata cujo presidente é Davi Demba. É uma virulenta sátira dos regimes africanos de partido único e do culto da personalidade que reduzem os homens e a sua dignidade humana a meros serventuários de apetites da libido dominandi de ditadores e elites inescrupulosas que ainda abundam em África. Dentre os três romances merece destaque As Lágrimas e o Vento, se realizarmos uma leitura que privilegie a artesania na construção da história. É um dos primeiros romances sobre a guerra colonial angolana.
LUANDINO VIEIRA
Luandino Vieira nasceu em Portugal no ano de 1935, numa localidade chamada Lagoa do Furadouro. Veio para Angola aos três anos de idade na companhia de seus pais que eram colonos portugueses.
Foi preso em 1959. Voltou a ser preso em 1961 e condenado a 14 anos de reclusão.
Aquela intencionalidade de produzir uma linguagem distinta viria ser posta à prova em 1965, quando a Sociedade Portuguesa de Escritores atribuiu o Prêmio de Novelística ao livro Luuanda de Luandino Vieira que já publicara A Cidade e a Infância ( 1957). João Gaspar Simões, um dos críticos portugueses mais categorizados e que integrava o júri, recusou o seu voto. E explica assim a sua posição: “ (…) uma coisa é ser-se autor português, outra ser-se autor angolano, embora de expressão portuguesa (…), o falar dos personagens e o falar regional, o falar de um povo que, como o brasileiro, mais tarde ou mais cedo, independentemente, atingirá diferenciação (…)" Toda a obra de Luandino Vieira posterior a Luuanda está profundamente marcada por essa inquietação. Ao nível da linguagem Luandino Vieira combina a estratégia de invenção da língua do narrador que é diferente da das personagens. Isto acontece pelo fato de o autor pretender transpor deliberadamente para o texto uma experiência lingüística observada,mas não vivida. É por isso que, no nosso entender grande parte dos textos posteriores à A Vida Verdadeira de Domingos Xavier, sem prejuízo das finalidades estéticas prosseguidas, não são facilmente legíveis para o homem comum do meio luandense, em que é suposto decorrerem as ações.
ARNALDO SANTOS
É natural de Luanda onde nasceu em 14 de Março de 1935. Passou a infância e a adolescência no bairro do Kinaxixi, topônimo que ocupa um lugar privilegiado na sua produção narrativa. Aos vinte anos de idade publicou a sua primeira coletânea de contos Quinaxixi. Com o livro de crónicas Tempo do Munhungo, arrebatou em 1968 o Prêmio Mota Veiga, um dos poucos atribuídos em Luanda, na década de 60 e 70.
Arnaldo Santos situa-se ligeiramente num outro nível de tratamento da linguagem. É um preciosista na depuração do texto narrativo curto e de todos os seus recursos e elementos. Daí que a sua ficção narrativa não tenha conhecido até agora variações para além do conto (Kinaxixi), crónica (Tempo do Munhungo) e novela (A Boneca de Quilengues).
No dizer de Jorge Macedo, ele usa “ lexias-kimbundo no interior de um português de luzidia correção”. O seu nome é uma referência incontornável, associada àquele minimalismo narrativo que encontraremos igualmente em Boaventura Cardoso. É um dos poucos narradores que evidenciam elevado sentido de rigor na seleção dos tipos de personagens. Na sua obra inicial, reconhecemos traços característicos de uma perfeita articulação da psicologia das personagens a esse espaço urbano de Luanda que obedece à lógica e história predominantemente autóctones. Tal efeito é alcançado, por exemplo no conto A mulher do padeiro, através de uma conflituosa coabitação entre personagens portuguesas e luandenses. Embora o seu espaço físico e social de eleição seja o Kinaxixi, em Luanda, em A Boneca de Quilengues desloca essa minúcia para Benguela, realizando pela primeira vez a introdução de “lexias-umbundu”.
PEPETELA
Pepetela, pseudônimo de Artur Pestana, é natural de Benguela, onde nasceu em 1941. Realizou os estudos primários e secundários em Benguela e Lubango. Em Portugal frequentou o Instituto Superior Técnico de Lisboa. Após a sua fuga para o exílio, juntou-se ao Movimento de Libertação Nacional. Em Argel, formou-se em Sociologia e integrou a equipa que formou o Centro de Estudos Angolanos. Foi Vice-Ministro da Educação. Grande parte da sua produção foi publicada após a independência, como de resto se passa com uma boa parte dos ficcionistas angolanos.Publicou Muana Puó(1978); As aventuras de Ngunga(197..); Mayombe (1980); O Cão e os Calús(1985); Yaka (1985); Lueji,o Nascimento dum Império (1990); A Geração da Utopia (1992); O Desejo de Kianda (1995); Parábola do Cágado Velho(1996) A Gloriosa Família (1997). A tematização da história imediata, social ou política, e antiga constitui a trama de quase todos os seus romances como Mayombe, Yaka, Lueji,o Nascimento dum Império, A Geração da Utopia, Lueji, A Gloriosa Família.
É no cruzamento que a onomástica e as personagens estabelecem com a História onde vamos encontrar motivos de grandes interrogações sobre o labor ficcional de Pepetela. Em Yaka, um romance em que se conta a saga dos Semedo, uma família descendente de um antigo colono, este autor submete personagens da História de Angola como Mutu-ya-Kevela a um tratamento semântico que suscita alguma perplexidade para o leitor angolano avisado, numa trama que se traduz em inadequada superação das metáforas coloniais. Mutu-ya-Kevela, que é um herói da resistência ao colonialismo, não pode ser reduzido a “ monstro de dentes compridos” funcionando como um horror às crianças, tal como acontece em Yaka. A perplexidade atinge o apogeu, quando a incorporação de personagens-referenciais no romance deixam de satisfazer aquele fim, através do qual se deve reabilitar os heróis passado, da grande narrativa angolana que é a História de Angola. Em tudo isso reside uma inquietação com aquelas coisas que tocam as identidades coletivas e a legitimação do lugar que se ocupa na sociedade. Numa das suas entrevistas publicadas em livro, Pepetela revela as suas grandes preocupações com a formação da nação. E atribuía tal propensão e a recorrência do tema na sua obra ao fato de ter estudado Sociologia.
Com efeito, digno de destaque para aquilo que deve ser o cânone literário são Mayombe, A Geração da Utopia e Parábola do Cágado Velho. Aqui Pepetela revela-se um importante arquitecto para o imaginário angolano.
HENRIQUE ABRANCHES
Henrique Abranches nasceu em Lisboa em 1932. Foi para Angola em 1947 de que adotaria a nacionalidade. Com Pepetela fundou em Argel Centro de Estudos Angolanos onde trabalharam na redação de um manual de História de Angola. Publicou A Konkava de Feti, O Clã de Novembrino, Kissoko de Guerra,Titânia, Misericórdia para o Reino do Congo! e Senhores do Areal.
Três romances deste autor merecem a nossa atenção: A Konkava de Feti, O Clã de Novembrino e Misericórdia para o Reino do Congo!.
No primeiro socorre-se de materiais das tradições orais dos povos do sudoeste de Angola. O segundo narra a história de um naufrágio, gravitando à volta do velho tema da ilha. Os sobreviventes que, são colonos africanos cujo destino era o Brasil. Fundam uma nova comunidade no pedaço de terra para onde são lançados pelas ondas do Atlântico.Numa persistente luta contra as adversidades da natureza constroem uma sociedade cujas bases são constituídas pela cultura das diversas etnias do país de origem. Instituem regras e normas apropriadas à sua situação como, por exemplo, a que diz respeito à regulação das relações entre os homens e as mulheres, devido à escassez destas últimas.
Mas se tivermos em atenção a temática histórica, é sem dúvida o terceiro que melhor situa o autor no panorama ficção narrativa angolana.
Henrique Abranches vai à História de Angola e submete a um tratamento ficcional o chamado movimento messiânico dos antoninos que no século XVII é liderado por Cimpa Vita. O cenário é o reino do Congo, mais precisamente na região do Soyo.
MANUEL RUI MONTEIRO
Manuel Rui Monteiro nasceu na cidade do Huambo em 1941. Publicou O Regresso Adiado , Memória de Mar, Sim, Camarada!, Quem me Dera ser Onda, Crônica de um Mujimbo, 1 Morto & Os Vivos, Rio Seco, Da Palma da Mão.
A sua prosa ficção está profundamente marcada por preocupações estéticas de um realismo social que celebra o homem comum. Quando focaliza categorias de personagens da classe média, o faz para produzir caricaturas de comportamentos perversos. É aqui que este autor exibe a sua mestria no tratamento da sátira e da ironia. São recursos de grande eficácia no plano semântico-pragmático. O que pode ser provado pelo número de edições e tiragens de Quem me Dera ser Onda, título que suscitou grande empatia do público leitor. É a história de um porco que habita um apartamento na companhia de uma família cujo chefe é Faustino. Da hilaridade ao patético, a presença do animal vai provocando uma série de transtornos aos moradores do prédio, muitos dos quais pautam a sua conduta por regras e valores do mundo rural, como é este o da domesticação de animais no espaço residencial para a satisfação das necessidades de consumo de carne. É uma sátira mordaz a respeito de fenômenos de mobilidade social de determinadas categorias, do mimetismo dos novos ricos, e do populismo político.
O realismo social, a sátira e a ironia logram níveis de elaboração estética em Rioseco, um romance cuja história decorre numa ilha adjacente à parte continental de Luanda. Um casal de refugiados do sul e leste de Angola, em que o marido e a mulher pertencem a etnias diferentes, vai acoitar-se no mundo insular de pescadores pertencentes a uma outra etnia d norte . Tecem profundas relações sociais de solidariedade, e apesar das suas origens étnicas, acabam todos eles,por construir um mundo diferente em que procuram banir a violência que dilacera o continente. No plano da linguagem, Manuel Rui Monteiro experimenta o recurso à diglossia imprópria, através do qual os discursos das personagens são impregnados de estruturas frásicas e semânticas que vazam das línguas autóctones e de uma psicologia equivalente. Não sendo ainda de desprezar a semântica do antropônimo de uma personagem feminina que é Noíto. Aqui vemos Manuel Rui lançar mão da memória que debita materiais para a ficção, pois trata-se de uma personagem que viveu no Huambo, afamada por ser uma grande quimbanda, ou seja, terapeuta tradicional a quem eram reconhecidos poderes do mundo intangível. E no romance Noíto é, no essencial, uma mulher capaz de decifrar os segredos da natureza e pressagiar infortúnios.
***********************************************
continua... 5. Boaventura Cardoso: A voz representativa da geração de 70
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Fontes:
http://www.nexus.ao/kandjimbo/breve_historia.htm
Pintura = http://amagalhaes.anda.ca
O realismo social, a sátira e a ironia logram níveis de elaboração estética em Rioseco, um romance cuja história decorre numa ilha adjacente à parte continental de Luanda. Um casal de refugiados do sul e leste de Angola, em que o marido e a mulher pertencem a etnias diferentes, vai acoitar-se no mundo insular de pescadores pertencentes a uma outra etnia d norte . Tecem profundas relações sociais de solidariedade, e apesar das suas origens étnicas, acabam todos eles,por construir um mundo diferente em que procuram banir a violência que dilacera o continente. No plano da linguagem, Manuel Rui Monteiro experimenta o recurso à diglossia imprópria, através do qual os discursos das personagens são impregnados de estruturas frásicas e semânticas que vazam das línguas autóctones e de uma psicologia equivalente. Não sendo ainda de desprezar a semântica do antropônimo de uma personagem feminina que é Noíto. Aqui vemos Manuel Rui lançar mão da memória que debita materiais para a ficção, pois trata-se de uma personagem que viveu no Huambo, afamada por ser uma grande quimbanda, ou seja, terapeuta tradicional a quem eram reconhecidos poderes do mundo intangível. E no romance Noíto é, no essencial, uma mulher capaz de decifrar os segredos da natureza e pressagiar infortúnios.
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continua... 5. Boaventura Cardoso: A voz representativa da geração de 70
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Fontes:
http://www.nexus.ao/kandjimbo/breve_historia.htm
Pintura = http://amagalhaes.anda.ca