domingo, 2 de janeiro de 2022

Ronnaldo de Andrade (Album de Spinas) 3

EM QUESTIONAMENTO

Aumento meus vícios,
destruo meus sonhos,
produzo meus versos

áridos, ásperos, azedos qual limão;
causas da estrada infinita amorosa!
A cabeça pesada, passos dispersos,
sinto-me alucinado, em um labirinto
de dúvidas; gostos vis, controversos.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

NOS PASSOS DO REALISMO

Arrancam as roupas,
transam pelas vielas,
vergonha não existe.

Andam aos gritos, cantarolam bêbados,
propelem pedras contra alguns animais,
enquanto o astro-rei escaldante assiste
às peripécias desses impudentes seres;
nessa desordenância a ordem preexiste!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

O VIAJANTE

Atraque seu barco,
atire-se nas águas,
viva esse instante.

Permita que a sereia cante
às dores de amores findos,
um hino para cada amante.
Depois siga avante. Vá, vá
singrando o mar, ó viajante.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

O VIAJANTE II

Singrando o mar,
furando as ondas,
avisto o barquinho.

Ele some assim, bem devagarinho,
naquele seu sobe, desce contínuo,
livre, semelhante a um passarinho.
Na bandeira levantada está escrito:
"Nenhum homem deverá ir sozinho".
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

O VIAJANTE III

Tentando se libertar
da intensa sensação
de amor tresloucado,

que faz do nosso peito
um hospício; a paz (ah!
a paz) ser rio estourado;
sim, assim vai o homem,
sem o bem mais amado!

Nenhum comentário: