sábado, 30 de março de 2024

Teófilo Braga (As águias do norte)

(CONTO POLACO)

Harpa sacrossanta, orvalhada pelas lágrimas dos videntes, que repousam sobre ti frontes encanecidas, banhadas no pranto do cativeiro, quando à tarde abandonada na solidão do exílio, à beira da torrente, a aragem vespertina vinha gemer em tuas cordas, o cântico remoto era como o anseio de um coração opresso, ai, que se perde confundido com o rojar das cadeias.

Inclina-te agora em meus braços, e vibra-me um canto de desespero, insofrido, eterno, para acordar a turba, que dorme sob o peso das gargalheiras*. O vento livre saberá levar a toada longínqua, para achar eco no peito dos desgraçados. Pátria! Pátria! És a túnica inconsútil (sem costura) sobre que rodam os dados do infortúnio.

Polônia! Tu és o peito exangue, ferido pela lança do incrédulo. Pudesse o teu sangue dar a vista ao que te fere com mão obstinada. Ao menos, que o tua última arrancada afaste para bem longe o bando dos abutres selvagens que pairam sobre ti, Prometeu, algemado em terra, mas, que ainda nas convulsões da agonia mostra a animação do fogo divino da liberdade.

Oh! Mas o que vale ao poeta desterrado contemplar a ruína da pátria! Para que há de ele pedir à sua harpa um canto de angústia e saudade, se aqueles que o escutam e se sentem fortes para lutar com um esforço sobre-humano, são depois mártires do sublime entusiasmo?

Que tristeza profunda o lembrar-me que o meu poema a Tentação, exaltando os estudantes da Lituânia para sacudirem os tiranos, fez com que os opressores arrojassem para as estepes e minas da Sibéria a flor da mocidade da Polônia! Pobre Karl; ainda tenho aqui a carta em que ele me conta os trabalhos da jornada para o desterro:

De um estudante de Lituânia ao Poeta anônimo da Polônia

«Em todos os tempos a poesia tem sido a expressão dos sentimentos profundos da humanidade; chora com as suas dores, e é ela que vai ao sepulcro das nações proferir o Surge et ambula (levante-se e ande) à raça suplantada pela pressão dos déspotas. Desde os profetas de Israel, e Tirteu e Calino até Rouget de Lisle, Kerner e Poetefi, a poesia tem dirigido as revoluções; é como a coluna de fogo que leva á terra prometida através do errar no deserto.

Nós éramos crianças, animados dos sentimentos mais puros, que a idade não deixa contaminar; chorávamos de mágoa e despeito, com vergonha de vermos envilecida, sob o jugo obscuro dos czares, esta pobre pátria esmagada por um colosso de inércia e barbárie. Um dia apareceu-nos um poema estranho, novo, um grito ansioso em que se exalava uma alma. Pareceu-nos a voz da Polônia que nos chamava em seu desalento; sentimo-nos fortes no primeiro impulso.

Estudávamos em Lituânia; uma noite reunimo-nos para ler o poema. Brilhava em cada rosto um lampejo de cólera e esperança. Cada estrofe era um sobressalto, a ansiedade do sacrifício. Éramos como aqueles crentes dos primeiros séculos do cristianismo, tínhamos a sede do martírio. A noite da conjuração era tempestuosa como os pensamentos que nos agitavam. Juramos ali, com as mãos sobre as estâncias misteriosas que nos vieram despertar do letargo da opressão, abnegar do amor, da família, da vida, por esta desgraçada Polônia. A lâmpada solitária que iluminava o aposento deixava uma penumbra fantástica e terrível, como em um tribunal whemico*; os olhos coruscavam com brilho de alegrias sanguinárias. O entusiasmo precipitava-nos. Sentíamos forças de Atlante, uma audácia e tenacidade para a luta; mas, via-se ao mesmo tempo em cada rosto a sombra, não sei de que pensamento funesto, de uma aspiração irrealizável. Seria uma desgraça iminente?

Quando nos abraçamos como irmãos na mesma crença, para os transes mais dolorosos, correram as lágrimas, ferventes, como nos momentos rápidos de uma despedida para sempre. Havia um silêncio augusto. Parecia que o céu e a terra escutavam o nosso juramento; que a pátria agrilhoada interrompera os lamentos para escutar a voz consoladora de seus filhos, que esperavam o dia da redenção.

Foi então que ela apareceu, Edwige, a mulher que eu amava, o cabelo destrançado pelo vento da noite, cansada, ofegando, sem cores, assustada. Julguei-a uma aparição angelical, que baixava para trazer-nos a palma do martírio, a anunciar os transes deste horto em que estávamos recordando as agonias da Polônia. Como ela estava bela, radiante; era uma profetisa, altiva como Débora quando proclamava às pessoas a lei, à sombra das palmeiras entre Rama e Bethel, sobre as fronteiras de Benjamim e Ephraim. Ficamos suspensos, esperando o hino que havia romper dos lábios selados por um mistério profundo. Como deixou ela a casa de seus pais, nas sombras da noite medonha? Como soube onde estávamos; quem a trouxe aqui? Fora o amor, esta iluminação da segunda vista. Edwige proferiu, depois de alguns instantes de repouso, com a voz entrecortada e trêmula:

— Ainda é tempo! Os soldados russos vêm em busca de nós; sabem da conjuração, e perseguem-nos; poupemo-nos para a hora suprema do resgate.

Depois ela veio para mim e abraçou-me. Ia começar a falar, quando se sentiu na rua o estrépito de armas, e vozeiro de uma soldadesca brutal e desenfreada. Não me custava a vida; mas tê-la a meu lado, ali! vê-la sujeita à irrisão e maldade dos que vinham para prender-nos! Pobre Edwige; ela abraçou-me e sorriu:

—Tens medo? Vejo-te tão pálido! Receias que eu não tenha coragem para corresponder à tua bravura? Eu sou mulher, é verdade. Era ao suspiro de uma mulher que a liberdade romana acordava sempre. Lucrécia e Virgínia ensinaram-me também a ser forte um dia. Karl! Eu sinto que neste instante nos une um amor mais alto e desinteressado, que nada tem das paixões terrenas. Dá-me o abraço que há de fundir numa só as nossas almas para sempre. Agora já te posso dizer como Árria*, se te visse esmorecer no perigo, o que ele disse levando o punhal ao peito: Paete, non dolet (Peto*, não dói).

O tumulto, o som confuso das armas, o tropear dos soldados, não me deixaram ouvi-la mais. Entraram na sala sombria, como uma onda turbulenta que irrompe derrubando os diques e se precipita como um vértice fremente. As armaduras reluziam, e nos causavam a vertigem do terror. Um frio letal escoou-se por mim; lembrou-me lutar para defende-la.

Reinava um silêncio de morte. Já sabíamos a sorte que nos esperava. Depois vieram lançar-nos as cadeias pesadas, as gargalheiras infamantes da escravidão, ultrajando com risos aquele sentimento puro que nos dava constância para o martírio. Era impossível resistir; todo o esforço seria inútil. Deixei passivamente algemarem-me. Um olhar firme de Edwige inspirou-me uma resignação indizível. Não sei que aparência divina, que irradiação sublime, etérea, envolvera o rosto da minha amada, que os soldados não se atreviam a aproximar-se. Seria esse terror, que fazia cair em terra, fulminados, os que tocavam na Arca sacrossanta? Na serenidade altiva que ela mostrava neste instante, conheci-lhe uma resolução extrema; Edwige queria também ser prisioneira, para sofrer comigo as dores do desterro. Ela lançou mão do poema que estava sobre a mesa, e começou a recitar algumas das estrofes mais arrebatadas, com uma voz profética, no tom misterioso de uma sibila. A magia daquela voz sentida prendia; ficaram imóveis, quedos, escutando-a:

Fragmentos de uma Elegia polaca

— «E lentamente, mui lentamente, por detrás do Homem-Deus, avança deslumbrante de beleza e sem vestígios de morte a minha dileta Polônia. — Ela para sobre os umbrais do Sião prometido a todos os povos, e — destas alturas sagradas sua voz retumba, dirigindo-se às nações reunidas muito longe, lá em baixo, nos términos do espaço.

«A mim, a mim, oh vós, raças fraternas! A última luta do derradeiro combate terminou; — os embustes das traições e das mentiras terrestres estão destruídos. — Subi comigo para o reino da paz.» — E o coro das nações lhe responde: «Benção e glória a ti, oh Polônia! Porque ainda que tenhamos todas sofrido, — tu suportaste mais tormentos que nenhuma de nós, — Pela enormidade das injustiças acumuladas sobre ti, conservavas constantemente o inimigo debaixo do raio de Deus! — No transe do martírio, tiravas de teu coração uma vida mais enérgica que a dos teus opressores, — e pelo teu sacrifício nos salvaste. — Benção e glória a ti, oh Polônia!»

Oh! quantas vezes por uma noite sombria do outono, a voz de minha mãe ou de algum antepassado sai do túmulo, e chega até mim para me falar do futuro. — Eis que a este ruído misterioso, visões estranhas me aparecem. — O canto de triunfo soltando-se do peito de milhões de homens, ressoa em derredor. — Os vencedores passam em falanges inumeráveis, — eu vejo as brancas, resplandecentes figuras das irmãs e dos irmãos libertados da escravidão; — a centelha da imortalidade faísca de todas as frontes. — Mesmo sem asas, eles vogam no ar, como se fossem alados; sem coroas brilham como se fossem coroados. — E eu mesmo prossigo no meio de todos, e me sinto em uma espécie de céu desconhecido, antecipado. E, quem sabe? Talvez que a profecia dos meus sonhos se realizasse já sobre o túmulo da Polônia! E não havia senão eu, eu cadáver, que faltava entre os ressuscitados! Oh, através destas grades e destes muros que me fecham como as tábuas de um féretro, o meu espírito se ilumina e se expande ao longe, transpondo o tempo e o espaço! — Sim, eu vejo: além, por toda a parte miríades de estrelas e flores; — o mundo regenerado celebra suas núpcias com a jovem liberdade! — Na aresta dos Alpes, no cimo dos Cárpatos, o céu resplandece com os raios da mesma aurora, — e todos os povos unidos, confundidos, parecem formar um só oceano, por sobre o qual é levado o espirito de Deus (*1).»

Á medida que ia prosseguindo no canto, Edwige, como a Sulamita dos Cantares, comparada à torre que olha para o ocidente, parecia suspensa; o semblante com a graça diáfana de um serafim. Naquela elevação surpreendente, a comoção embaraçou-lhe a voz; não pôde falar; ficou hirta, lívida, como na concentração violenta do êxtase.

Era o gênio da Polônia encarnado em uma mulher que sofria. Edwige ficou silenciosa; nem um queixume, uma lágrima sequer, quando lhe roxearam os pulsos. Quando tornou a si, e conheceu que ia compartilhar comigo a mesma sorte, sorriu, com a expressão divina da alegria dolorosa e da resignação.

Dias depois leram-nos a sentença. Doze anos de desterro e trabalhos na Sibéria. Edwige escutou impassível. Custava-me tanto vê-la sofrer em silêncio; ela fazia um esforço inaudito para não vergar com as dores excessivas; não queria redobrar o meu sofrimento. Oh meu Poeta! Foi então que me convenci de que o homem é o lobo do homem; pior ainda que o lobo cerval, porque espia os segredos da nossa alma, e antes que nos inflijam as sevícias do corpo, torturam-nos o espírito, insultando os sentimentos mais recatados e santos que nos dão coragem nos desalentos da vida.

Partimos todos na carroça dos desterrados. As rajadas do inverno eram cortantes, e tiravam-nos todo o vigor para avançar; depois, vieram amontoando-se os gelos, e nos obrigaram a prosseguir a pé; a desolação dos estepes, por onde passávamos, despertava-nos não sei que simpatia, talvez porque eram uma semelhança visível do abandono e ruínas em que estavam nossas almas.

Edwige, delicada e frágil não podia caminhar mais, via-a desmaiar pouco a pouco; a lividez do sepulcro no semblante desbotado! Parecia-me a flor mimosa, murcha com as geadas da noite. As pancadas do knut, um látego formado de tiras de couro cru e rosetas de ferro, com que a verberavam para adiantar caminho, esgotaram-lhe as forças.

Eu não sei que haja palavras humanas para exprimir a dor e a raiva que senti nesse instante, porque o coração do homem nunca sofreu tanto, para descobrir uma expressão para este infinito da angústia. Edwige nem se atrevia a olhar para mim; depois vi-a cair transida de frio e cansaço; esgotara o último esforço. Quiseram deixa-la sepultada entre o gelo. A noite vinha a fechar-se aspérrima, atroz; eu não podia sequer lembrar-me que o corpo da minha amada ia ser em breve pasto dos abutres. Via-me também já sem forças. Pedi para leva-la aos meus ombros.

Era a loucura e egoísmo do amor, que fazia com que a conduzisse, para sentir ainda agonias mais violentas que a morte.

—«Oh! antes me deixasses sepultada na solidão dos estepes, exposta às aves noturnas, do que vermo-nos agora separados para sempre!» — Disse-me ela a abraçar-me frenética, louca, quando nos separaram, mal que chegamos às minas da Sibéria.

Os meus companheiros do infortúnio não os tornei mais a ver; Edwige foi condenada ao trabalho das minas de mercúrio, muito longe. Não soube mais dela. A mim, enfiaram-me um capote de feltro e desceram-me por uma corda pelas gargantas da terra, por um boqueirão escuro; à medida que ia baixando, ia sentindo vozes confusas, ruído de enxadas. Então, vi na obscuridade profunda a luz baça e mortiça das lâmpadas de segurança, e uma multidão de homens escaveirados, magros; era uma cidade de múmias. Era aquela a minha habitação para doze anos de existência. Admirava-me de ver ali crianças; filhos dos desgraçados obreiros, raquíticos, pequenos, não conheciam a luz do mundo, a vida resumia-se no trabalho insano. As dores que suportava haviam-me embotado o sentimento, tinha a impassibilidade do idiotismo, a mudez do assombro. Às vezes uma lembrança longínqua de Edwige e de minha mãe, a quem não pude dizer ao menos o extremo adeus, me davam a consciência de que ainda vivia; mas não podia aliviar-me com as lágrimas.

Os que me viam nunca se atreveram a perguntar qual o meu crime. Não sei que esperança me prendia à vida, para que me não despedaçasse contra as rochas que ia arrancando. Estava já acostumado à escuridão. Um dia começou a lembrança de Edwige a ocupar-me a imaginação. Seria uma saudade viva? Algum pressentimento? Lembrar-se-ia ela também de mim nesse instante? Julgava-a já morta, criança e débil como era. Sem Edwige, para que queria eu a vida? Oh! se a visse ainda uma vez morreria contente, resignado, perdoando tudo quanto os que se dizem meus semelhantes me fizeram sofrer.

Era uma loucura esta ideia. E continuávamos silenciosos a romper a mina funesta e funda. Começamos a sentir um eco surdo; eram os trabalhadores de outras minas, que se encontravam. Continuei a trabalhar com mais afã, na direção donde vinham os sons abafados.

Encontramo-nos dias depois. Que alegrias, que abraços íntimos entre aqueles sócios da desgraça. Se estivesse ali Edwige! Que fatalidade! O meu desejo era o pressentimento.

«Já te esqueceste de mim?» Senti um abraço sem vigor; fitei nas sombras o vulto, que me falava e me estreitava a si. Era ela, lívida, desconhecida, com a magreza da tuberculose; o mercúrio penetrara-lhe a parte esponjosa dos ossos. Tive horror do ente que amava, era só a compaixão que me prendia a ela.

—«Lembras-te das palavras de Simeão quando na apresentação do templo viu o Messias em seus braços? Hoje digo-te o mesmo, Karl; já posso morrer.»

E eu continuei a viver para ver prolongados a miséria e os flagelos incríveis, que me cercavam. Já não tinha o amor, que alimentava as horas da minha solidão. Edwige tinha-me expirado nos braços; soltara a alma cândida, acrisolada nas tribulações, no último beijo, que recebeu de mim. Daí por diante a vida pareceu-me mais impossível de suportar; eu não vivia, vegetava como o líquen no fundo de uma caverna escura. A imbecilidade proveniente da atonia e dos pesares indescritíveis prolongara-me a existência vegetativa.

Lembrava-me minha mãe. Se a tornaria a ver ainda! Estaria ela já no sepulcro, ralada com a saudade da ausência, cansada de esperar a volta do cativeiro? Sem sucessos, nem distrações, que me preocupassem a vida, cada momento parecia-me um século de desesperos. Estes doze anos foram uma outra existência. Quando voltei à pátria julguei um renascimento; mas tornava a aparecer à luz do mundo para mais provações e dores, porque minha mãe estava morta; a pátria, o que ainda me fazia palpitar o coração com vida, vejo-a esquecida, inerte sob o jugo prepotente da Rússia. Hoje escrevo-lhe, meu Poeta, porque é a única pessoa, que me resta no mundo, e só me prende à vida o juramento, que fiz de imola-la no altar da pátria.—Karl.»

O Poeta anônimo da Polônia produziu com os seus poemas o mesmo que Mickiewich, o autor do Banquete de Walenrood. Só depois de morto é que se soube o seu nome; era o conde Sigismundo de Krasinski. A liberdade da Polônia fora o único ideal da sua inspiração; é ela sempre que transluz nas maravilhas com que enriqueceu a literatura polaca, nos Salmos do Futuro, no Iridion na Comédia Infernal e na Tentação, a que anda ligado este fato que narramos.
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* Notas
Árria = foi uma mulher na Roma Antiga que se tornou famosa por seu suicídio.
Gargalheiras = Coleira de ferro ou madeira, com que se prendiam, para castigar, os escravos.
Peto = marido de Árria.
Whemico = não consegui encontrar o que seria este tribunal. (JF)

[*1] Estrofes XIX, XX, XXI do poema O Último, do conde Sigismundo Krasinski.

Fonte> Teófilo Braga. Contos Phantásticos. Lisboa: Livraria de Antonio Maria Pereira, 1894. Disponível em Domínio Público. Português atualizado por J. Feldman

sexta-feira, 29 de março de 2024

Carolina Ramos (Redenção)

Se por estas páginas já passaram, cães, gatos, cavalos e até uma borboleta, quem diz que uma águia não pode entrar, sutilmente, no contexto de uma vida, viabilizada por uma página impressa? - Provo que sim, neste miniconto.

REDENÇÃO

A revista chegou-lhe às mãos por acaso, escolhida, entre muitas, numa sala de espera qualquer. O artigo era encimado por apenas uma palavra - Curiosidade. E o que poderá haver de mais oportuno para atrair as atenções do que essa palavra chave?!

Aquela página contava que a águia é uma ave longeva. A mais longeva de todas as aves - chegando a viver cerca de setenta anos! Os primeiros quarenta, representam o seu apogeu, seguido de um período bastante sério que põe à prova o poder de decisão dessa potente criatura.

Chegada ao período crítico, aquela águia sente que suas garras não são mais as mesmas, agora demasiado longas, maleáveis, sem mais lhe oferecerem forças necessárias para segurara presa indispensável à própria manutenção. O bico, agora mais longo, encurvado na ponta, cada vez mais se torna um verdadeiro estorvo, na hora de alimentar-se. E assim, também, as penas volumosas e pesadas – empecilhos evidentes para largos voos.

Da soma de tudo, agiganta-se o impasse revelador: - Deixar-se morrer, ou tentar reverter o problema?!

Bem curto, no entanto, o período de indecisão, antes que a águia se lance ao espaço e ganhe altura, a valer-se, dos parcos recursos que suas asas, já bastante pesadas, ainda lhe oferecem.

Chegada ao alto da montanha, resoluta, a águia bate o bico, forte e seguidamente, contra uma parede de pedra qualquer, até conseguir despedaça-lo. Sem jamais desistir e sem deixar-se abater pela dor lancinante!

- A partir de então, corajosa e dona de uma tenacidade inacreditável, aguarda por cerca de cento e cinquenta dias, até que novo bico torne a crescer, para com ele arrancar, uma a uma, as longas e tortas unhas, permitindo que novas e potentes garras voltem a nascer também, a garantir-lhe defesa e futura subsistência.

Como se isto não bastasse, também as penas velhas e pesadas, que a impediam de voar, são extraídas com estoicismo, complementando a reforma perfeita.

Revigorada, afinal, aquela águia, sem tardança, lança-se ao espaço num autêntico voo de redenção que lhe facultará mais trinta anos de vida intensa e produtiva!

Perplexa, a moça fechou a revista, desinteressada de tudo mais que a mesma pudesse lhe oferecer, além daquele fabuloso artigo.

Ninguém, naquela sala de espera. Ajeitou o corpo cansado na poltrona como em colo de mãe, deixando que as pálpebras descessem devagarinho. Chegava a duvidar daquilo que lera! Seria mesmo possível? Ou... mera ficção?!

Sofrida, por instantes, permitiu que sua vida inteira perpassasse por detrás das pálpebras fechadas, tal como retrocesso de filme de curta mensagem, mostrando-lhe, sem pausas, o quanto vivera e o quanto mais poderia viver se... liberta do peso das asas e das limitações impostas aos próprios voos.

Logo, como num milagre, a nova criatura, meio águia, meio mulher, ergueu-se decidida, atirando-se, de peito aberto, contra as paredes de pedra do seu frágil ego, agora valorizado ante si mesmo.

Arrebentou-se toda! Sofreu o que pensou não suportar!

Mas, estóica, a partir daquele instante, libertou corajosamente aquela ave cativa e triste, há tanto tempo engaiolada dentro dela mesma.

Sem mais sentir nos ombros o peso daquelas tão pesadas "penas", lançou-se no espaço, ao encontro de horizontes promissores, mais amplos, mais ciaros... E muito mais sadios do que aquele que nublava o seu olhar sofrido e que, de-fi-ni-ti-va-men-te, ousava ultrapassar.

Fonte> Carolina Ramos. Meus Bichos, Bichinhos e… Bichanos. Santos/SP: Ed. da Autora, 2023. Enviado pela autora.

Esopo (A Velha e o Médico)

Uma velha, que tinha ficado cega, chamou um médico e disse-lhe:

- Cure-me da minha cegueira e eu pago-lhe bem. Mas se não me curar, não pagarei nada. Concorda?

O médico aceitou. Todas as semanas vinha à casa dela e aplicava-lhe nos olhos um falso remédio sem qualquer valor. Mas, a cada visita, levava consigo alguma coisa da casa da velha. Acabou por levar tudo o que ela possuía.

Algum tempo depois, finalmente, o médico começou a tratá-la a sério e deu-lhe um remédio que a curou.

Quando a velha voltou a ser capaz de ver, viu que a casa estava vazia e que não poderia pagar ao médico. Este, para cobrar a dívida, levou-a a tribunal.

Diante do juiz, a velha declarou:

- Este homem fala a verdade. Concordei que lhe pagaria se recuperasse a visão. E ele concordou que eu não precisaria de lhe pagar se permanecesse cega. Agora ele diz que eu estou curada. Mas eu digo que continuo cega, porque quando perdi a visão a minha casa estava cheia de objetos que agora não consigo ver!

O juiz deu-lhe razão e a velha ganhou a causa.
 
Moral da História: Quem está pronto a ganhar o que não merece, também deve estar pronto a perder.

Fonte> O Livro de Esopo - Fabulario Português Medieval. Lisboa: Imprensa Nacional, 1906. Publicado conforme a um manuscrito do seculo XV. Disponível em Domínio Público em https://pt.wikisource.org/wiki/O_Livro_de_Esopo

Luiz Damo (Trovas do Sul) LIX


Desde a aurora ao fim do dia
a vida floresce e inflama,
esparramando a harmonia
que, de Deus, a luz emana.
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A planta expele dos galhos,
frutos que à flor teve a causa,
não colherá sonhos falhos
quem ao labor não der pausa.
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As luzes que às madrugadas
desfilam no firmamento,
são grinaldas ancoradas
nas águas do pensamento.
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No mastro, um manto sagrado,
que alado ao vento desfralda,
cobre o dorso desgrenhado
no anteparo da grinalda.
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Faze do teu sonho a ponte
que aponte para o saber
e da busca, outro horizonte,
fonte, onde possas beber.
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De um encontro ocasional,
os nativos se encantaram,
quando Caminha e Cabral
na nova terra aportaram.
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Tem o sono a semelhança
da morte, porém sem causa,
no sono existe a esperança
mas à morte não tem pausa....
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Não faças do teu passado
um celeiro de saudade,
nem do sonho fracassado
razão de infelicidade.
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Quem tem às mãos o poder
nem sempre sabe calar,
agindo expressa o seu ser
mesmo com nada a falar.
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Abri meus olhos. Senhor
e as portas do coração!
Para enxergar vosso amor
sob a luz da conversão.
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Não deixe que as diferenças
suplantem as semelhanças,
nem as rudes desavenças
maculem as esperanças.
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Na mansão de uma amizade
pode haver alguém chorando,
com a mesma intensidade
de quem chora caminhando.
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Dos ramos que se aninharam
partiram os passarinhos,
muitos, não mais retornaram,
para reverem seus ninhos.
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A água pura e cristalina
vinda à mão pela chaleira,
passa pela serpentina
de uma cuia hospitaleira.
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Na vida há quem sonhe ilhado
em ser mar, forte e valente,
mas ignora que ao seu lado
tem um grande continente.
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Servindo a vários Senhores,
o homem mostra as evidências,
que ao prestar os seus favores
prioriza as preferências.
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Por impulso o incauto insulta,
com desdém ouve e responde,
revelando a mágoa oculta
que na sua alma se esconde.
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Ao plantares fica esperto,
nunca esperes colher, já,
porque no momento certo
a planta produzirá.
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Quem afirma, não fiz nada.
sem querer erra o conceito,
pois na forma declarada
diz que algo teria feito.
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Nunca aciones o gatilho
para um alvo depredares,
só porque perdera o brilho
pela corrosão dos ares.
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Estão no fundo dos mares
joias raras, sob os lixos,
umas, servindo de altares,
outras, meramente uns nichos.
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Luta sem um vencedor
só tem na literatura,
pois nos campos do labor
quem labuta tem fartura.
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Nunca temas, se o que tens,
pouco tem mudado a vida,
sempre trazes donde vens
muita esperança vivida.
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Há muitas mães esquecidas,
sem lar, semiabandonadas,
outras, tão desconhecidas,
mas todas, por Deus lembradas,
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Mesmo que à vida prescinda
de um duradouro sentido,
nenhuma flor é mais linda
que inteiro, o jardim florido.

Fonte> Luiz Damo. As faces da trova. Caxias do Sul/RS: Ed. Do Autor, 2021. Enviado pelo trovador.

Aparecido Raimundo de Souza (Como cicatrizes silenciosas)

O Beija flor é ave símbolo do Espírito Santo
O TEMPO, esse tempo que não nos dá tempo, que nos tira o tempo, nada mais é que um urdidor invisível e inveterado. Entrelaça as nossas vidas com fios e cordas de lembranças. Hoje, sentado na cadeira que pertenceu a papai, acomodado na varanda, de frente para a rua, tomando café e comendo pão de queijo, observo o mundo à minha frente e me perco nas tramas do que já foi, ou, talvez, que um dia fui. 

Me lembro como se fosse um domingo de sol dessa rua (naquele tempo) estreita, aberta em chão batido, de terra meio que avermelhada, onde as pedras misturadas ao pó pareciam sussurrar segredos de velhos janeiros devorados pelo esquecimento. As casas antigas (desse meu e do outro lado), com suas janelas de madeira e flores coloridas nos parapeitos, guardavam histórias de amores e desencontros. 

As crianças corriam descalças, rindo alto, enquanto os adultos trocavam olhares cúmplices. Um tempo pastoril e bucólico em que as manhãs se desmanchavam bisonhas, as tardes se quedavam longas e o sol, como um menino grandioso (por precisar se esconder) se acanhava devagar, tímido e assustadiço por sinalizar que “estava indo dormir e somente num porvir, horas depois, se faria de novo majestoso e magnífico’. 

E, de fato, assim acontecia. Num repente, ele tingia todo o firmamento de tons alaranjados. As conversas com os domiciliados aconteciam sem pressa. Os abraços se formavam apertados, como se quisessem conter o tempo. Entretanto, o tempo, esse implacável viajante, não nunca se deteve por aqui. Aliás, sequer alguma vez procrastinou. 

Como nos velhos janeiros, seguiu avançando, deixando para trás as risadas, os sonhos, as tardes alegres, as cadeiras postas ao longo das calçadas em frente aos portões. Mesma pancada, as efusividades dos abraços e também, em igual norte, as mãos dadas, os namoros românticos, as barrigas de nove meses, os olhares atentos de pais e mães preocupados com as novas vidas que logo se fariam estupendas. 

As moradias deixaram de ser simples casas. São agora vivendas "dinastiadas" por ocupantes esquisitos e pomposos. Gente fina, de dinheiro nos bolsos e nos bancos. Essas mansões ostentam janelas envidraçadas e portas soberbas cheias de “não me toquem.” As pedras, o pó e o barro avermelhado deram lugar ao asfalto. As crianças que brincavam (com as minhas), cresceram e se espalharam pelo mundo. 

Hoje, a minha antiga rua estreita é apenas um mimo para quem ainda conserva lembranças. Tudo por aqui e não só aqui, em toda a redondeza, as vielas e becos viraram criaturas de peles negras. A maioria ganhou calçadas, árvores e lixeiras espalhadas. A prefeitura plantou em toda a sua extensão, postes, com transformadores e um emaranhado de fios esticados. 

Os rostos (que bem me lembro), se abriam em confraternizações, são apenas sombras difusas bailando no carrossel da minha memória. O passado se dissolveu como as tintas de uma porção de quadros esquecidos num canto ermo de um museu sem registro. Mesmo tapa no rosto, do bonito chamativo e da luminosidade de seus pintores, restaram apenas os contornos borrados em paredes senilizadas. 

Apesar desses entraves, ainda vejo, juro por Deus, ainda enxergo com meus olhos esbugalhados cansados, existir algo de mágico do antigo passado. Verdade. Falo sério! Ele nos envolve como um cobertor quente nas noites frias. Nos mata a sede como a água geladinha guardadas em moringas. As lembranças nos acariciam trazendo em suas bagagens cheiros, sabores, falas e choros, gritos e sensações. 

Por um instante, saio do meu chão e sou transportado de volta à àquela longínqua rua de concepção estreita. Como num passe de mágica, me vejo envolvido nas risadas e nos abraços. Talvez o passado não seja apenas o que ficou no ontem, ou se degringolou no para “não sei onde.” Quem sabe, ele seja um lugar longe da terra, onde eu possa (como agora) regredir, recuar, retroceder sempre que quiser. 

Uma espécie de “refúgio-amparo,” um “abrigo-proteção,” uma “hospedaria-quartel,’ onde, quiçá, as minhas histórias ganhem vida e os semblantes enrugados e decrepitados de uma  existência inteira  (tanto os que se foram, como os que ainda agradecem pelo ar que respiram) se rejuvenesçam e se iluminam novamente. 

Assim, sentado na varanda, em minha cadeira de balanço (presente de papai), tomando meu café e comendo meu pão de queijo, deixo o tempo fluir. Sei que ele leva consigo o que não posso segurar. Todavia, apesar dos contratempos, me homenageia com o deslumbramento da saudade –, essa doce companheira que não me larga nem vai embora. Afinal, o passado não está apenas nas pedras, no pó, ou no barro dessa rua de terra, ou pior, no oco dos pisos sujos das casas “outrorais.” 

Na verdade, ele se faz pulsante em mim. Se condensa, se espalha, se agarra de unhas e dentes, fundido, britado, entupigaitado (confuso) em cada gota das “dádivas-brindes,” e dos “assentamentos-regalados” que fazem parte do meu todo como ser humano. Esse passado. Ah, esse passado!... por tudo quanto é sagrado. Ele vai um pouco aquém: se materializa a cada minuto num turbilhão de “cédulas-presentes,” 

Jorra do profundo mais divorciado do meu âmago e, “em contínuo.” Alimenta com esperanças fartas e abundantes, os elanguescidos fios de Ariadne espalhados por todos os desvãos e reentrâncias dos meus olhos. É o “segredo-pecúlio,” a fórmula que me mantem vivo, como uma reserva benfazeja que tenho avivada dento de mim. Sem falar na plena convicção, que perdurará enquanto o Criador me deixar vivo e em sintonia meridiana com as complacências que transbordam de suas poderosas mãos divinas.

Fonte>Texto enviado pelo autor 

Recordando Velhas Canções (Chove chuva)


(samba, 1963) 
Jorge Ben Jor

Chove chuva, 
chove sem parar,
chove chuva, 
chove sem parar
Pois eu vou fazer uma prece 
pra Deus nosso senhor,
Pra chuva parar de molhar 
o meu divino amor
Que é muito lindo, 
é mais que o infinito,
é puro e belo inocente como a flor

Por favor chuva ruim, 
não molhe mais 
o meu amor assim
Por  favor chuva ruim, 
não molhe mais 
o meu amor assim
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
A Prece Amorosa de Jorge Ben Jor em 'Chove Chuva'

A canção 'Chove Chuva', composta e interpretada por Jorge Ben Jor, é um clássico da música brasileira que mistura elementos do samba com influências do jazz e do soul, criando um estilo único que se tornou marca registrada do artista. A letra da música expressa um desejo simples, mas profundo: a vontade de que a chuva pare de cair para que o amor do eu lírico não seja afetado.

A chuva, neste contexto, pode ser interpretada tanto literalmente quanto metaforicamente. Literalmente, a chuva é um fenômeno natural que pode trazer desconforto e impedir encontros. Metaforicamente, a chuva pode representar as adversidades e desafios que caem sobre um relacionamento, ameaçando a pureza e a beleza do amor descrito como 'mais que o infinito' e 'inocente como a flor'. A prece a Deus para que a chuva cesse reflete a esperança de superar essas dificuldades e proteger algo valioso e delicado.

Além disso, a música incorpora elementos da cultura afro-brasileira, como é evidente na parte que cita palavras como 'sacundim', 'sacundém', 'imboró', 'congá', 'dombim', 'dombém', 'agouê' e 'obá'. Essas expressões remetem a rituais e cantos de origem africana, trazendo uma dimensão espiritual e cultural à canção, e reforçando a ideia de uma prece ou invocação para que a chuva pare e o amor seja preservado.

Silmar Bohrer (Croniquinha) 108

Verão calorento, verão úmido, verão chuvoso.

Chuvas inconstantes.  Ceus azuizinhos, de repente o horizonte aparece escuro, cinzento, medonho.

Trovoadas.  Chuva?  Mais uma das várias da tarde.

E vem com o condão das veraneiras - silenciosa, sem alarde,  sem alarme.  Bom tê-la, bom vê-la, bom senti-la.  A delícia dos ventinhos serenos, embaixo duma árvore frondosa a balançar molemente,  molhando os costados, borrifando pingos. Emanações em bonança, sortilégios do viver.

Momentos amalgamados de doçura!

Fonte>Texto enviado pelo autor 

quinta-feira, 28 de março de 2024

Dorothy Jansson Moretti (Álbum de Trovas) 38

 

Monsenhor Orivaldo Robles (A mãe do padre)

No anedotário esportivo todo árbitro de futebol tem duas mães: a que fica em casa e a que entra com ele em campo. Ele nem botou ainda o pé no gramado, basta apontar no túnel com a bola na mão e já as duas torcidas homenageiam sua genitora. Ninguém dá a mínima para seu nome ou currículo, se ele é principiante ou faz parte do quadro da FIFA. Mas sobre sua mãe todos têm opinião formada.

Felizmente, não é meu caso, nem o dos colegas. O povo ignora se padre tem mãe. Nem dela faz a mínima ideia. Cá entre nós, se é para lembrá-la como a do juiz de futebol, melhor mesmo que a esqueça. Pode parecer estranho, mas há pessoas que levam um susto quando descobrem que padre também nasce de uma mulher igual às outras.

Dizem que mães são todas iguais, só muda o endereço. Não sei se vale para mães de padres. Elas parecem diferentes. Amam o filho, preocupam-se com ele. Mas cada uma a seu modo. Há as (poucas) que só falta brigarem com o bispo por não dar ao filhinho querido um posto à altura de suas “extraordinárias” qualidades. Outras não falam, mas esperam que o filho seja transferido para mais perto delas. A maioria, contudo, compõe-se de mulheres humildes, piedosas, desinteressadas. Mesmo que não aprovem, não palpitam sobre o trabalho do filho. E até de longe, acompanham, como toda mãe, o que o filho faz. Não adianta falar que não: mãe de padre sente um pouco (ou muito) de pena da vida que ele leva. Já comentei sobre uma querida amiga, que confidenciou, há tempo: “Ah, padre, eu rezo para que Deus não escolha nenhum de meus filhos para padre”. Ante minha cara de surpresa, explicou: “Não desejo para eles a vida sacrificada que o senhor leva”.

Muita gente elogia a mãe no seu dia. Diz coisas lindas, preciosas até. Baboseiras também, que nem valem a pena lembrar.

Nesta semana li um texto espanhol sobre a mãe do padre. Nele reencontrei um pouco da minha história. Falava das preocupações que consomem o coração das nossas mães. Da minha e das dos colegas. Porque somos solteiros e vivemos sozinhos, elas sofrem inquietações de que só mães são capazes. Recordei facetas da minha, que faleceu não faz quatro anos. Durante quase 50, ela acompanhou minha vida de padre. Até morrer, com mais de 94 anos, preocupava-se em saber quem limpava minha casa, quem cozinhava para mim, lavava minha roupa, me socorria em caso de doença… Eu ria das providências que sua mente inventava. Como pretender que o pai me fizesse companhia no meu regresso a Paranacity, onde eu trabalhava no início dos anos 70. Eu vinha vê-lo toda semana, porque ele era doente. Na hora de voltar ela queria, por vezes, que ele me acompanhasse. Eu me divertia questionando se ela não me achava capaz de, com 29 anos e saúde de ferro, voltar sozinho para casa. Que ajuda poderia eu receber, se precisasse, de alguém que às vezes passava semanas de cama? Só mãe mesmo para pensar assim.

À minha não preciso explicar mais nada. A alguma ansiosa mãe de colega quero garantir: pode expulsar do coração seus sobressaltos. Se o seu filho se doa por inteiro à comunidade em que ele atua, nada lhe vai faltar. Nem atenção nem cuidado não de uma, mas de muitas mães.

Fonte> Portal do Rigon. 17 maio 2014

Gislaine Canales (Devaneios Poéticos)


AMO 
 
Amo com toda a força do meu ser.  
Amo a beleza, a arte, uma canção. 
Amo o eterno desejo de vencer. 
Amo os versos que vêm do coração. 
 
Amo as flores, é grande meu querer. 
Amo essa amarga e triste solidão. 
Amo os sonhos que estou sempre a tecer. 
Amo o infinito em sua imensidão. 
 
Amo também a morte, dura e fria. 
Amo na morte, toda a ausência e dor. 
Amo meu mundo em meio à fantasia. 
 
Amo a tristeza, e mais, amo a alegria. 
Amo a vida e esse mundo encantador. 
Amo o amor, amo a paz, amo a poesia.
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DESPEDIDA 

O mais duro de todos os momentos, 
que magoa fortemente o coração, 
é quando o pranto escorre com emoção 
cheio de dor, cheio de desalentos! 

A despedida é mais que uma agressão, 
que chega destruindo os sentimentos, 
numa tempestade de fortes ventos, 
como se fosse o adeus, uma explosão! 

Roubando, assim, toda a felicidade, 
sinto no peito, essa cruel verdade: 
As despedidas são violações! 

Dizer adeus é algo que angustia, 
como um mar negro, pleno de agonia, 
onde se afogam tantas emoções!
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EMOÇÕES

Chega a noite sozinha e tão escura, 
e ao se encontrar com minha solidão, 
renasce, de repente, uma ternura, 
que envolve por completo o coração! 

E num sentir bem doce e sem censura, 
traz o calor de uma forte paixão, 
na tepidez de uma amizade pura, 
qual mecanismo de sublimação! 

E a solidão e a noite se abraçando, 
vão, passados amores, recordando 
nesses instantes de divagações! 

Mesclando, assim, tristeza e alegria, 
nasce do pranto e riso, uma poesia, 
que as musas intitulam: emoções! 
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MEU COMPUTADOR TEM CORAÇÃO!

Sim, sou a favor da tecnologia,
pois ela traz, em si, muita emoção,
não é só somente uma máquina fria...
O meu computador tem coração!!!

Ele me traz mensagens de alegria
que dão, a mim, grande satisfação,
termina a solidão e a nostalgia,
verdadeiro Dom Juan, de sedução!

Muitas horas felizes eu passei,
num doce navegar imaterial
que trouxe inspiração a estes meus versos!

Verdadeiros amigos encontrei,
e esse bonito amor virtual-real,
que uniu, então, os nossos universos!
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MEU MAR, MEU PARAÍSO...

Águas azuis, areia, praia, mar
e um lindo sol, surgindo no infinito,
que docemente as águas vem dourar,
deixam meu paraíso, mais bonito!

Feliz, eu lanço ao mar, em meu sonhar,
um barco de esperanças, quase um mito,
e, então, consigo vê-lo navegar,
num pranto de emoção, e alegre, o fito!

Vibra meu coração descompassado,
a boiar nesse mar só de alegria,
onde todo o ruim, foi afastado!

Esse mar, ora azul, ora dourado 
serviu de inspiração a esta poesia
e em seus versos ficou eternizado!
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NOITE TRISTE

Como disse o Poeta, eu poderia,
nesta noite imensa, de tristeza,
fazer um verso triste, sem magia,
sem métrica, sem rima, sem beleza!

Faz-se tão grande, a noite, que angustia
com esta solidão, e esta incerteza,
e eu procuro refúgio na poesia,
querendo embriagar-me de pureza!

Sinto bater mais forte, o coração,
aquecendo meu sangue, antes gelado,
numa tão breve e suave inspiração.

Vejo voltar, a mim, o sonho amado,
inundando minha alma de afeição,
transmutando esta noite em emoção!
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OLHAR DE POETA 

Sei que o olhar do Poeta é fascinante, 
tem o brilho do Sol, tem seu calor; 
possui uma alegria cativante, 
em verdade, é um imenso mar de amor! 

Esse olhar tem um “quê”, de embriagante, 
tem perfume, beleza e tem frescor, 
parece com o olhar quente de amante, 
que, em momentos, se faz conquistador! 

Nasce o poema no seu coração, 
aflora livre no seu pensamento, 
em ondas e mais ondas de emoção! 

Pelas estradas todas do Universo 
o Poeta verseja o sentimento 
poetizando tudo com seu verso!
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PEDIDO

Peço aos irmãos, aos filhos e aos amigos,
que, quando a morte venha me levar,
não coloquem meu corpo nos abrigos
cimentados, gelados e sem ar!

E nem me ponham em belos jazigos! 
Nesses lugares, eu não quero estar!
Tristeza e solidão são os perigos.
Minha alma quer seguir a navegar!

Por isso eu peço a quem me queira bem,
leve meu corpo longe ... até o mar!
Onde haja céu! Onde vente também!

Nesse lugar azul só de beleza,
lancem ao mar o que de mim restar,
quero ser parte dessa natureza!
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Fonte: Enviado pela poetisa.

Contos das Mil e Uma Noites (O cego que se fazia esbofetear)

Desde a minha infância, ó Comandante dos Fiéis, fui condutor de camelos. E graças à minha perseverança, comprei oitenta camelos que alugava para negócios ou peregrinação, aumentando constantemente meu capital. Só tinha um sonho: tornar-me o homem mais rico de minha profissão em todo o Iraque. Um dia, voltando com meus animais de Basra após despachar mercadorias destinadas à Índia, parei perto de um poço para permitir a meus camelos refrescarem-se e pastarem. Enquanto estava lá, vi um dervixe aproximar-se de mim. Cumprimentamo-nos e convidei-o a partilhar comigo o pão e a água, conforme as tradições do deserto. E ficamos a conversar, e falei-lhe de meu sonho. Após ouvir-me sem me interromper, disse: 

“Ó Baba-Abdala, trabalhas e labutas visando a um resultado modesto, quando o destino pode num piscar dos olhos tornar-te não somente mais rico que todos os condutores de camelos do Iraque, como o homem mais rico do planeta. Nunca ouviste falar dos tesouros escondidos embaixo do solo?” 

Respondi que estava a par dessas coisas e sabia que certos dervixes possuíam segredos que podiam fazer do mais pobre o  homem mais rico. O dervixe parou de mexer com a areia e disse: 

“Ó Baba-Abdala, ao me encontrar hoje, encontraste o próprio destino.” 

- Se for assim, estou pronto a aceitar-lhe as dádivas com um coração reconhecido. 

- Então, levanta-te e segue-me. 

Levantei-me e andei atrás dele através de vales e planícies até que chegamos ao sopé de uma montanha íngreme. 

“Este é o lugar”, disse o dervixe, parando diante de um grande rochedo. Acendeu um pequeno fogo, jogou nele incenso, pronunciou palavras que não entendi. E logo, uma coluna de fumaça se elevou no ar e o rochedo abriu-se ao meio, dando passagem a uma caverna. Entramos e achamo-nos numa grande sala repleta de montões de moedas de ouro e de joias. Seguindo o conselho do dervixe, desprezei as moedas de ouro, que dariam uma carga muito pesada, e enchi os sacos com joias, mais leves e mais preciosas, lamentando apenas possuir oitenta camelos em vez de oito mil. 

O dervixe apanhou um pequeno vaso de ouro que continha, ao que me disse, uma pomada para os olhos. Saímos da gruta, e outras palavras incompreensíveis fizeram a rocha fechar-se e retomar seu aspecto normal. 

“Baba-Abdala,” disse o dervixe, “voltaremos agora ao lugar onde nos encontramos e lá partilharemos essas riquezas na amizade e na igualdade.” 

Enquanto andávamos, a ganância fez seu trabalho em minha cabeça: “Com que direito esse dervixe ficará com a metade do tesouro que talvez estivesse escrito em meu nome, e só pudesse ser aberto na minha presença?” raciocinei comigo mesmo. “E com que direito ficaria com quarenta de meus camelos?” 

Quando o momento da partilha chegou, disse ao dervixe: “Ó santo homem, que vais fazer com quarenta camelos e suas cargas, já que tua vida é consagrada a Alá? Não estarás cobrando um preço alto demais por me ter indicado o tesouro?” 

O dervixe não se zangou, mas respondeu num tom ameno: “O que estou levando não é para mim, mas para distribuir aos indigentes e necessitados. Quanto ao que chamas de preço cobrado, esqueces que um centésimo do que te dei faria de ti o homem mais rico de Bagdá?” 

Assim mesmo, aceitou ficar apenas com vinte camelos. Mas mal tínhamos iniciado nossos caminhos, eu para Bagdá e ele para Basra, a inveja e a ingratidão voltaram a apossar-se de mim. Corri atrás dele e convenci-o a ficar apenas com dez camelos. Assim mesmo, não me dei por satisfeito. Minha avidez crescia em vez de diminuir. Voltei a argumentar e solicitar e me humilhar e ameaçar, a fim de convencê-lo a ceder-me todos os camelos. No fim, ele desistiu de qualquer participação e disse-me: 

“Meu irmão, faze bom uso das riquezas que Alá te concedeu e lembra-te, às vezes, do dervixe que encontraste no ponto em que teu destino mudou.” 

Mas em vez de me regozijar por ter ficado com todo o tesouro, fui dominado mais uma vez pela avareza, e me convenci de que o pequeno vaso de ouro com a pomada também me pertencia, pois o dervixe poderia obter tantos vasos iguais quantos quisesse. Usei novamente minhas manhas e solicitações, e mais uma vez o dervixe cedeu. Quis também que ele me revelasse a utilidade da pomada e o modo de usá-la, pensando: “Se ele recusar, sou mais forte que ele, saberei como subjugá-lo e, se for necessário, matá-lo.” 

Mas ele atendeu-me com um sorriso, dizendo: “Se passares esta pomada no teu olho esquerdo, verás todos os tesouros escondidos no mundo e o lugar onde estão escondidos. Mas se a passares no teu olho direito, ficarás cego dos dois olhos.” 

Pedi-lhe aplicar a pomada no meu olho esquerdo para que eu aprendesse como usá-la. E ele, sempre calmo e agradável, atendeu. Depois, disse-me: “Agora, fecha o olho direito e abre o esquerdo.” 

Todas as coisas habituais desapareceram e vi grutas subterrâneas e marinhas, troncos de árvores gigantes com buracos cheios de ouro e mil outros esconderijos transbordando de pedras preciosas, ouro, prata e tudo mais. Fiquei encantado, mas minha natureza perversa prevaleceu sobre mim mais uma vez. Pensei: “Será possível que a mesma pomada aplicada num ou noutro olho possa produzir efeitos opostos? Não será que o dervixe me está enganando? Não será que, aplicada no olho direito, a pomada me permitirá conquistar todos os tesouros que vi com o olho esquerdo?” 

Pedi ao dervixe como último favor que aplicasse a pomada no meu olho direito. Ele teve um movimento de impaciência e disse-me: “Baba-Abdala, não sejas o inimigo de ti mesmo. Se insistires, arrepender-te-ás por toda a tua vida. Separemo-nos antes como amigos, e que cada um siga seu caminho.” 

Mas na minha teimosia e desconfiança, ameacei-o. Ele tornou-se pálido e disse-me num tom duro que não lhe conhecia: “Ficarás cego pelas próprias mãos.” 
 
E aplicou a pomada no meu olho direito. E, de fato, tornei-me imediatamente cego. Estendi as mãos, suplicando: “Salva-me, salva-me, meu irmão.” Mas não houve resposta. Ouvi-o juntar os oitenta camelos, conduzi-los e ir embora. 

Caí no chão, e teria morrido lá de remorso e aflição, não fosse por uma caravana que, tendo pena de mim, trouxe-me até Bagdá. Desde então, eu, que tive nas mãos as riquezas da terra, vivo mendigando o pão de cada dia. Meu arrependimento por ter sido tão ávido, avaro, ingrato e estúpido e por ter estragado assim as dádivas de Alá penetrou profundamente no meu coração. E, para me castigar, jurei que, cada vez que recebo uma esmola, pedirei à mão caridosa dar-me uma bofetada. 

-Ó Baba-Abdala, disse o califa, teu crime foi grande, mas a compaixão de Alá é maior para os que se arrependem. Não te atormentes mais. E para te evitar esta vida de mendicância, mandarei o vizir dar-te uma esmola de quatro dracmas por dia, até o fim de tua vida.

Fonte: As Mil e uma noites. (tradução de Mansour Chalita). Publicadas originalmente desde o século IX. Disponível em Domínio Público.

Recordando Velhas Canções (Samba em prelúdio)


(samba, 1963) 

Baden Powell e Vinícius de Moraes

Eu sem você 
não tenho porquê
Porque sem você 
não sei nem chorar

Sou chama sem luz, 
jardim sem luar
Luar sem amor, 
amor sem se dar

E eu sem você 
sou só desamor
Um barco sem mar, 
um campo sem flor

Tristeza que vai, 
tristeza que vem
Sem você, meu amor, 
eu não sou ninguém

Ai que saudade, 
que vontade de ver renascer nossa vida
Volta querida, 
os teus braços precisam dos meus
Meus abraços precisam dos teus

Estou tão sozinho, 
tenho os olhos cansados de olhar para o além
Vem ver a vida
Sem você, meu amor, eu não sou ninguém
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

A canção 'Samba em Prelúdio', é uma expressão lírica da saudade e da incompletude que o eu-lírico sente na ausência do ser amado. A letra utiliza uma série de metáforas para descrever o vazio deixado pela falta do amor, como 'chama sem luz', 'jardim sem luar' e 'barco sem mar', que evocam imagens de algo que perdeu seu propósito ou beleza essencial.

A repetição do verso 'Eu sem você' enfatiza a dependência emocional do eu-lírico em relação ao seu amor, sugerindo que a vida sem a presença do outro perde seu significado. A música transmite uma sensação de tristeza profunda e um desejo ardente pelo retorno do amado, como se apenas essa volta pudesse restaurar a alegria e o sentido da existência do eu-lírico.

A música também reflete a habilidade do poeta em capturar a essência do sentimento humano através de sua poesia e música. 'Samba em Prelúdio' não é apenas uma canção de amor, mas um retrato da alma apaixonada que se encontra em desalento pela separação, clamando por um reencontro que traga de volta a luz e a cor para a vida que agora se apresenta desbotada e sem direção. 
(https://www.letras.mus.br/vinicius-de-moraes/49283/significado.html)

Jaqueline Machado (“Macbeth”, de William Shakespeare)


Numa floresta misteriosa, três irmãs, uma espécie de bruxas ou pitonisas estranhas, ao ver Macbeth passar fazem reverência e o chamam de rei.

Nessa ocasião, ele acabara de sair vitorioso de uma guerra. Ele, junto de seu amigo, Banquo, pararam para ouvi-las. E elas revelaram ao guerreiro que ele seria o futuro rei da Escócia. E que Banquo seria pai de reis.

O protagonista fica ansioso com a possibilidade de se tornar um grande rei. E começa a pensar como agilizar o processo. Enquanto continua em viagem, decide escrever uma carta à esposa, Lady Macbeth, que é o próprio espírito da ambição em forma humana. Melhor dizendo, sem humanidade alguma, pois logo incorpora à mente do marido, que ele deve matar o rei. E direcionar a culpa para os empregados de casa. 

O marido fica na dúvida, mas sua mulher tenta persuadi-lo e mexer com suas emoções dizendo- lhe coisas do tipo: - Você não é homem suficiente?

Pois mesmo rica, cercada de luxos, tudo o que ela queria era se tornar rainha da Escócia.

O rei Duncan, que também estava em viagem, logo resolve passar a noite na casa dos Macbeth, e é assassinado por seu guerreiro. 

Eles tinham um grau de parentesco e se davam bem. Mas depois da decisão tomada, nada disso serviu de motivo para desistir do crime.

Ao ver o rei ensanguentado, Lady Macbeth imerge na realidade sombria do fato e diz a famosa frase da obra: “Quem diria que o velho tem tanto sangue?...” E a partir daí ela começa a lavar as mãos compulsivamente e perambular sonâmbula pelo castelo.

A ambição era tanta, que não pararam para pensar que o rei tinha filhos, mas estes, fugiram, e o assassino era o que ficou na linha de sucessão. 

Então, até este momento o plano deu certo. Mas Macbeth lembra que as bruxas disseram que Banquo seria pai de reis, então ele também mata o melhor amigo.  

O novo rei dá um banquete. E o fantasma de Banquo aparece para o amigo. e ele se descontrola perante os convidados, que não entendem o que está acontecendo.

Macbeth procura as bruxas em busca de ajuda. Elas enxergam um bebê com manchas de sangue e dizem: “– Ninguém que é parido de mulher será capaz de te matar.”

E ele pensa: “Todo mundo é nascido de mulher. Ninguém vai me matar.“

Depois elas veem uma criança coroada com um raminho na mão. E traduzem o significado da mensagem: - Você vai ser o rei até que a floresta em frente ao castelo esteja caminhando em direção a você.

Ao retornar para casa ele recebe a notícia de que a esposa, que havia enlouquecido, estava morta. 

A obra não esclarece o tipo de morte que deu fim à mulher.

Os outros senhores da guerra, desconfiados, atacam o castelo. Nesse momento, Macbeth começa a enxergar a floresta se mover.

É morto por MacDuff, que nasceu de cesariana. Foi tirado da barriga da mãe por um homem.

Um dos filhos de Banquo vira sucessor, e mais para frente, na linha de sucessão, os netos e bisnetos do antigo rei.  

De que adiantou tanta sede por poder, se o casal não aproveitou nada? Eis a pequena prova Shakespeariana de que o poder pode, além de emburrecer, cegar e enlouquecer. 

Fonte> Enviado por Jaqueline.