Recordo-me de minha deliciosa infância no sítio de minha família. As variadas plantações de tudo um pouco me levavam a andar muito por todo o imenso terreno. Num determinado momento lá estava eu no meio do canavial, depois corria entre os pés de laranjas-lima, outra hora estava entre carreiras sem fim dos pés de feijão. Mas o dia mais lembrado por mim é aquele em que cansada adormeci entre os tantos pés de abóboras.
Foi assim que aconteceu: eu cansada de tanto andar resolvi, sem mais nem menos, que já era hora de relaxar. Deitei-me então e adormeci olhando para o imenso céu azul, protegida pela cerca viva de cipestres que faziam sombra em mim. Passado o tempo, nem sei quanto na verdade, ouvi ao longe a voz de meu irmão, nascido antes de mim alguns anos atrás. Rapazinho peralta, era meu amado companheiro de loucas aventuras. Junto ao chamado dele eu ouvi também a voz do nosso caseiro. Ambos aparentavam certa aflição ao gritarem meu nome. Ainda sonada levantei-me cambaleante e em poucos instantes ambos acercavam-se de mim querendo saber o que havia me acontecido. – Dormi ! - respondi eu.
Naquela noite, meu pai me aconselhou, assustando-me, dizendo-me que por aqueles pés de abóbora moravam algumas cobras venenosas. Não se faz necessário que eu diga que nunca mais andei por lá. Mas em alguns outros lugares sim, sempre calçada com imensas galochas de borracha que minha mãe me obrigou a usar, dizendo-me sempre que se sentisse sono deveria voltar correndo para a casa grande para me deitar. Conselho que segui a risco.
Numa destas vezes de sono intenso, não tive dúvidas do que deveria fazer. Corri de volta para a casa grande e depois de lavar bem as mãozinhas minúsculas, pegar minha amada chupeta e meu querido travesseirinho, entrei num dos vários quartos da casa, fechei muito bem a janela, já que sempre gostei de dormir no escuro, fechei a porta com a chave e me acomodei naquela imensa e deliciosa cama macia. Não avisei a ninguém que estaria ali. Apenas deitei-me e adormeci.
Apesar do pesado janelão estar fechado, a luz do sol da tarde teimava em entrar pelas frestas existentes. Elas me incomodavam um pouco porque sempre gostei do escuro, mas tratei de virar-me de frente para a parede para não ver a luz do sol. Pela pesada e imensa porta nada passava porque não havia nenhum rastro de sol por ali. Adormeci rapidamente sem precisar sequer pensar em carneirinhos, como gostava de fazer por pura diversão.
Não sei precisar que horas seriam. Ouvi gritos pela casa e passos de várias pessoas pelo imenso salão que comportava todas as portas do tantos quartos existentes ali. Minha mãe dizia sem parar que uma cobra poderia tê-“la “ mordido e “ela” estaria caída pelas plantações. Ou então “ela” poderia ter escorregado na encosta do ribeirão e a estas horas já deveria ter descido rio abaixo. Ou então “ela” estaria perdida na parte de trás do sítio que ainda não havia sido explorado. Minha mãe só dizia coisas ruins para a tal “ela” que eu não sabia precisar quem seria tal criatura que corria tão grande risco de vida assim.
Ouvi meu pai discutindo com minha mãe sobre o fato dela ter deixado que “ela” andasse sozinha por ali. Queria saber onde minha mãe estava que nada viu. Minha mãe deveria estar desconcertada com o vozeirão nervoso de meu pai que falava rápido na frente de outras pessoas que ali se encontravam, embora eu não soubesse quem eram afinal. Ouvi-a dizer que estava na casa de D. Maria, nossa caseira, aprendendo a bordar.
Olhei para a imensa janela daquele quarto e não vi mais a luz do sol espreitando o ambiente. Mas das frestas da porta enorme vi uma luz me espiando e pensei de onde será que ela estaria vindo afinal. Naqueles dias eu não tinha mais do que sete anos. Menos, talvez. Tampouco conseguia armar em meu pensamento um raciocínio simples que me informasse que o sol se fora e as luzes do salão haviam sido acesas. Eu simplesmente continuava sonada, ainda com vontade de dormir mais.
Até que de repente entendi que estavam me procurando; era a mim que queriam saber o paradeiro. Meu irmão então, meu amado companheiro de brincadeiras teve a intuição de gritar meu nome pela casa várias vezes: - Neguinha, Neguinha... onde você está? E assim foi que apressada levantei-me da cama e me dirigi à porta tentando abri-la e para minha surpresa a chave estava presa. Assustada gritei para meu pai por socorro. A gritaria que se seguiu me deixou apavorada e ouvi então batidas fortes na porta que insistia em pemanecer fechada.
Meu pai então me disse para tentar virar a chave novamente e o obedeci. Então não se sabe como a porta se abriu e eu finalmente saí para a sala. Olhei então para todos aqueles rostos incrédulos que pareciam querer me devorar para depois então mostrarem imenso alívio. Meu irmão feliz correu antes de todos para me abraçar, perguntando-me alegre o que foi que aconteceu. Ainda sonada, respondi-lhe assustada : - Eu dormi !
Não sei qual era meu problema, nem mesmo se eu tinha algum, a verdade é que eu dormia demais e sempre nas mais adversas situações. Como naquela vez em que estávamos meus dois primos, meu irmão, a filha do caseiro e eu brincando de esconde-esconde pela imensa casa. Corríamos pra lá e pra cá sem parar, escondendo-nos e encontarndo-nos. Até que num determinado momento escondida debaixo de uma das imensas camas de um dos quartos, vi-me cansada e com sono. Enfiei então minha mãozinha no bolso do meu macacão e peguei minha adorada chupeta e a coloquei na boca sugando-a sem parar, como se pudesse ali me enroscar no ventre de minha amada mãe. Nem preciso contar que adormeci de imediato só indo acordar quando os gritos do meu irmão e do meu pai ecoaram pelo casarão me fazendo acordar.
Com a maior cara de pau saí debaixo da cama e dei-me com meu pai com cara de poucos amigos esperando minha explicação. Sem ter o que explicar para aquele pai enfezado respondi simplesmente a verdade :- Dormi!
Fonte:
Portal Vânia Diniz
Foi assim que aconteceu: eu cansada de tanto andar resolvi, sem mais nem menos, que já era hora de relaxar. Deitei-me então e adormeci olhando para o imenso céu azul, protegida pela cerca viva de cipestres que faziam sombra em mim. Passado o tempo, nem sei quanto na verdade, ouvi ao longe a voz de meu irmão, nascido antes de mim alguns anos atrás. Rapazinho peralta, era meu amado companheiro de loucas aventuras. Junto ao chamado dele eu ouvi também a voz do nosso caseiro. Ambos aparentavam certa aflição ao gritarem meu nome. Ainda sonada levantei-me cambaleante e em poucos instantes ambos acercavam-se de mim querendo saber o que havia me acontecido. – Dormi ! - respondi eu.
Naquela noite, meu pai me aconselhou, assustando-me, dizendo-me que por aqueles pés de abóbora moravam algumas cobras venenosas. Não se faz necessário que eu diga que nunca mais andei por lá. Mas em alguns outros lugares sim, sempre calçada com imensas galochas de borracha que minha mãe me obrigou a usar, dizendo-me sempre que se sentisse sono deveria voltar correndo para a casa grande para me deitar. Conselho que segui a risco.
Numa destas vezes de sono intenso, não tive dúvidas do que deveria fazer. Corri de volta para a casa grande e depois de lavar bem as mãozinhas minúsculas, pegar minha amada chupeta e meu querido travesseirinho, entrei num dos vários quartos da casa, fechei muito bem a janela, já que sempre gostei de dormir no escuro, fechei a porta com a chave e me acomodei naquela imensa e deliciosa cama macia. Não avisei a ninguém que estaria ali. Apenas deitei-me e adormeci.
Apesar do pesado janelão estar fechado, a luz do sol da tarde teimava em entrar pelas frestas existentes. Elas me incomodavam um pouco porque sempre gostei do escuro, mas tratei de virar-me de frente para a parede para não ver a luz do sol. Pela pesada e imensa porta nada passava porque não havia nenhum rastro de sol por ali. Adormeci rapidamente sem precisar sequer pensar em carneirinhos, como gostava de fazer por pura diversão.
Não sei precisar que horas seriam. Ouvi gritos pela casa e passos de várias pessoas pelo imenso salão que comportava todas as portas do tantos quartos existentes ali. Minha mãe dizia sem parar que uma cobra poderia tê-“la “ mordido e “ela” estaria caída pelas plantações. Ou então “ela” poderia ter escorregado na encosta do ribeirão e a estas horas já deveria ter descido rio abaixo. Ou então “ela” estaria perdida na parte de trás do sítio que ainda não havia sido explorado. Minha mãe só dizia coisas ruins para a tal “ela” que eu não sabia precisar quem seria tal criatura que corria tão grande risco de vida assim.
Ouvi meu pai discutindo com minha mãe sobre o fato dela ter deixado que “ela” andasse sozinha por ali. Queria saber onde minha mãe estava que nada viu. Minha mãe deveria estar desconcertada com o vozeirão nervoso de meu pai que falava rápido na frente de outras pessoas que ali se encontravam, embora eu não soubesse quem eram afinal. Ouvi-a dizer que estava na casa de D. Maria, nossa caseira, aprendendo a bordar.
Olhei para a imensa janela daquele quarto e não vi mais a luz do sol espreitando o ambiente. Mas das frestas da porta enorme vi uma luz me espiando e pensei de onde será que ela estaria vindo afinal. Naqueles dias eu não tinha mais do que sete anos. Menos, talvez. Tampouco conseguia armar em meu pensamento um raciocínio simples que me informasse que o sol se fora e as luzes do salão haviam sido acesas. Eu simplesmente continuava sonada, ainda com vontade de dormir mais.
Até que de repente entendi que estavam me procurando; era a mim que queriam saber o paradeiro. Meu irmão então, meu amado companheiro de brincadeiras teve a intuição de gritar meu nome pela casa várias vezes: - Neguinha, Neguinha... onde você está? E assim foi que apressada levantei-me da cama e me dirigi à porta tentando abri-la e para minha surpresa a chave estava presa. Assustada gritei para meu pai por socorro. A gritaria que se seguiu me deixou apavorada e ouvi então batidas fortes na porta que insistia em pemanecer fechada.
Meu pai então me disse para tentar virar a chave novamente e o obedeci. Então não se sabe como a porta se abriu e eu finalmente saí para a sala. Olhei então para todos aqueles rostos incrédulos que pareciam querer me devorar para depois então mostrarem imenso alívio. Meu irmão feliz correu antes de todos para me abraçar, perguntando-me alegre o que foi que aconteceu. Ainda sonada, respondi-lhe assustada : - Eu dormi !
Não sei qual era meu problema, nem mesmo se eu tinha algum, a verdade é que eu dormia demais e sempre nas mais adversas situações. Como naquela vez em que estávamos meus dois primos, meu irmão, a filha do caseiro e eu brincando de esconde-esconde pela imensa casa. Corríamos pra lá e pra cá sem parar, escondendo-nos e encontarndo-nos. Até que num determinado momento escondida debaixo de uma das imensas camas de um dos quartos, vi-me cansada e com sono. Enfiei então minha mãozinha no bolso do meu macacão e peguei minha adorada chupeta e a coloquei na boca sugando-a sem parar, como se pudesse ali me enroscar no ventre de minha amada mãe. Nem preciso contar que adormeci de imediato só indo acordar quando os gritos do meu irmão e do meu pai ecoaram pelo casarão me fazendo acordar.
Com a maior cara de pau saí debaixo da cama e dei-me com meu pai com cara de poucos amigos esperando minha explicação. Sem ter o que explicar para aquele pai enfezado respondi simplesmente a verdade :- Dormi!
Fonte:
Portal Vânia Diniz
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