Atenção: Na época da publicação deste livro (1919), ainda não havia a normalização da trova para rimar o 1. com o 3. Verso, sendo obrigatório apenas o 2. Com o 4. São trovas populares coletadas por Afrânio Peixoto.
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Dois beijos tenho menina,
que jamais esquecerei;
0 último de minha mãe
e o primeiro que te dei.
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Comer, beber, já não posso...
0 que foi que aconteceu?
A boca não quer perder
o sabor do beijo teu.
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Dois beijos tenho na boca
que jamais esquecerei:
0 primeiro que me deste,
o primeiro que te dei.
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Tenho fome, tenho sede
e você não adivinha;
Tenho fome dum abraço
e sede duma boquinha.
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Na palma de tua mão
dei um beijo certo dia
e vim com a boca cheirando
a aroma de melancia.
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Olhos pretos matadores,
cara cheia de alegria,
um beijo de tua boca
me sustenta todo o dia.
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Meu amor está mal comigo,
pelo beijo que lhe dei;
Beijo não se pede, dá-se,
foi por isso que eu tomei...
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A tua boca de rosa,
dela tem aroma e cor,
quisera que os seus beijos
fossem abelhas dessa flor.
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Bem contra minha vontade
caí do amor nos laços...
Corri, faltaram-me pernas,
resisti, abrindo os braços.
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Os braços de toda gente
querem o mundo abarcar.
Eu não, eu quero somente
os meus pra te abraçar.
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Vai-te, carta, que te mando
ao pé daquele jardim,
ajoelha, pede licença,
dê vinte abraços por mim.
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Quando eu sinto, em tempo frio
o beiço me resfriar,
nos pés das moças bonitas
dou beijos pra me esquentar.
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Lá vai a lua saindo
por detrás da pimenteira...
Já me dói o céu da boca
de beijar moça solteira.
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Cegou-me a luz de teus olhos
enlouqueceu-me teu beijo:
Louco, porém, mais te adoro
e cego, é que mais te vejo.
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Os meus sorrisos perdidos,
os meus prazeres de outrora,
quem me dera tê-los hoje
sabendo o que eu sei agora!
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Se eu quisesse misturar
leite cru e mel de abelha,
teria, meu bem, a cor
que a tua mais assemelha.
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Meu amor é trigueirinho,
todo queimado do sol,
assim mesmo é que o quero:
– Quanto mais preto melhor.
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Esta cor quase da noite,
esta cor que Deus lhe deu,
se os outros não gostam dela,
que importa, se gosto eu!?
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Vinde cá, minha bem feita,
corpo de fita lavrada,
cinturinha de mesura,
rosto de santa louvada!
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Um laço de fita verde
com três dedos de largura...
0 corpo de uma morena
mata qualquer criatura.
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Queria ser costureira
para te fazer um vestido:
Terias todo o teu corpo
nos meus beijos envolvido.
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Morena, minha morena,
corpo de linha torcida,
queira Deus você não seja
perdição de minha vida...
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Se tu fosses uma árvore,
eu quisera ser cipó;
vivia em ti enroscado,
em teu corpo dando nó...
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Morena, minha morena,
sobrancelha de veludo,
não importa sejas pobre,
teu corpo merece tudo!
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Por ser assim pobrezinha.
não tenha inveja a ninguém,
o seu vestido tem mancha
mas o seu corpo não tem.
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Esse teu cabelo louro
é que me faz confusão;
nas franjas deste cabelo
perdeu-se o meu coração.
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Fonte:
Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919.
Disponível em Domínio Público
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