– SANTINHA, MEU BEM, EU TE AMO. NÃO POSSO viver sem ti, sem teu amor ao meu lado. Creia, no que agora direi: nunca te trai. Nunca! Se o fizesse, estaria enganando, não a mim, mas a Deus.
– Me ama tanto assim?
– Amo!
– Muito?
– Demais. Tu és o amor da minha vida.
– Jura?
– Por tudo quanto é mais sagrado. Decididamente não posso viver sem ti.
– E se eu morresse?
– Com certeza eu sucumbiria de profundo desgosto. Dois caixões seriam enterrados num mesmo dia e hora.
– Você não sente uma quedinha por aquele seu antigo caso?
– Santinha, entenda. Só tenho olhos para ti. Tenho ciúmes até das roupas que usas. Quer saber de um detalhe? Quando te vejo conversando com outros caras, principalmente os mais jovens que eu, penso comigo: “será que ela está querendo me trocar?”. Decididamente serás a última.
– E você o meu derradeiro. A propósito: teria coragem de me bater?
– Nem com uma flor.
– Já beijou outra mulher, ou melhor, outra boca, depois que está comigo?
– Só minha mãe e minhas irmãs. E, mesmo assim, no rosto.
– Nenhum selinho com uma amiguinha mais safadinha?
– Tu és e serás eternamente a minha eterna safadinha. Lembra sempre disso.
– E se uma vagabunda lhe desse bola, no meio da rua, o que faria?
– Chutava...
–... Pra gol?
– Claro que não, Santinha. Tu és, repito, a minha princesa. Com certeza, chutaria, mas para escanteio. O dia que tu faltares, juro, morrerei de tédio. De solidão. De tristeza. Deixarei de comer, de beber... Serei capaz de chegar aos extremos: por fim à vida. Meu amor, por ti, é eterno. Quando estou contigo, a meu lado, “estou nos braços da paz”. Lembra desses versos? É de uma música interpretada pela Maria Bethânia.
– E quando brigamos?
– Mais me apaixono por ti...
–... Me acha chata?
– Chata é a mulher do vizinho.
– Eu engordei além da conta?
– Qual o quê! Mesmo rechonchudinha não te troco por nenhuma magrinha.
– Então, estou certa. Você me acha uma baleia? Eu sabia...
–... Claro que não, minha deusa. Olha que corpinho de sereia, que sorriso, que olhar, que meiguice, que voz suave e macia... Tu és a mulher mais bonita deste mundo. Aliás, a única.
– Só deste?
– E de outros mais que por acaso existirem. Ponha na tua cabeça o que vou dizer e grava bem: Santinha, tu és a paixão da minha vida. O meu sol, o meu vento, o meu tudo... Resumindo: tu és a mulher dos meus sonhos. Sem tua presença constante ao meu lado, sou vazio profundo, caminho sem volta, dia sem sol... Noite sem estrelas...
– Nossa, como você está romântico!
– É o meu amor por ti que me faz ser assim, um eterno carente. Apaixonado, embasbacado. Confesso, amada minha. Fiquei, ou melhor, não fiquei: sou cativo de tua beleza.
– Vem cá. Me beija...
– Não havia reparado em teus cabelos. Puxa! estás maravilhosa, eu diria divina...
Risos.
– Percebi que hoje você fez a barba.
– Só para não te arranhar.
– Cortou o bigode...
–... Para veres melhor meu sorriso estampado e nunca esquecer que esse sorriso só existe porque tu estás aqui. Vamos fazer amor?
– Agora?
– Já.
– Não tomei banho. Eu estava na cozinha fazendo seu papazinho...
–... Que diferença isso faz? Te quero do jeito que estás. Sujinha, suada, cheirando a cadelinha molhada, os pés com chulé...
– Só um banho!
– Depois. Temos a noite toda...
– Preciso lavar a...
–... Nada disso. Quero teu corpo agora e pronto. Me transformarei no teu cachorrinho. Vou abanar meu rabinho, e, em seguida, te lamber da raiz dos cabelos aos dedos dos sapatos. Miau!
– Espere. Isso que você fez aí não é a voz de um cãozinho, mas de um gato. Em qual dos dois vai se transformar, afinal?
– Em ambos. É pra sentires como sou louco e como é grande, grande, muito grande o meu amor por ti.
– Meu Roberto!...
–... Minha Isolina!...
–... O quê? Quem é essa Isolina...?
–... Eu... Eu... Eu...
Fonte:
Aparecido Raimundo de Souza. As mentiras que as mulheres gostam de ouvir. RJ: Editora AMCGuedes, 2013